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SÃO PAULO
2021
KLEBER DE NICOLA BISSOLATTI
SÃO PAULO
2021
Bissolatti, Kleber de Nicola.
A recuperação judicial do “Grupo Oi” e os créditos públicos da Anatel : uma
análise sobre o tratamento conferido aos créditos de natureza pública e
tributária na recuperação judicial / Kleber Bissolatti. - 2021.
104 fls.
CDU 347.736
Ficha Catalográfica elaborada por: Isabele Oliveira dos Santos Garcia CRB SP-
010191/O
Biblioteca Karl A. Boedecker da Fundação Getulio Vargas – SP
KLEBER DE NICOLA BISSOLATTI
Banca Examinadora
Dedico esse trabalho, meus esforços e toda energia e amor aqui empreendidos à Deus e
minha família.
Aos meus pais, Salete e Azuil Lopes, que por vezes renunciaram aos sonhos pessoais
para que eu pudesse realizar o meu, fazendo dessa conquista, uma vitória, não só́ minha, mas
nossa. Tudo o que consegui, só́ foi possível graças ao amor, apoio e dedicação que vocês sempre
tiveram por mim. Sempre me ensinaram agir com respeito, simplicidade, dignidade,
honestidade e amor ao próximo. E graças à união de todos, os obstáculos foram ultrapassados,
vitórias foram conquistadas e alegrias divididas. Dedico a vocês esse trabalho de conclusão de
mais uma etapa de nossas vidas.
À minha amada esposa, Soraya Bissolatti, que tanto me ajudou nessa jornada inóspita
de afazeres acadêmicos, de noites em claro lendo, de jarras de café, agradeço todo seu carinho,
apoio e dedicação, em tempos de isolamento social, de dificuldades múltiplas, agradeço seu
carinho e cuidado com nossos filhos Henrique Bissolatti e Victor Bissolatti, com nossa união,
sua paciência e compreensão em minha jornada acadêmica.
Que Deus nos ilumine e proteja para que possamos seguir em frente!
Muitíssimo obrigado!
AGRADECIMENTOS
Antes e acima de tudo agradeço a Deus, por ter abençoado todos os dias da minha vida,
por iluminar meu caminho e me dar forças para seguir sempre em frente. A possibilitar cuidar
de minha família e contribuir para essa sociedade em que convivemos.
Esse trabalho cuida do debate sobre a possibilidade ou não de créditos públicos serem sujeitos à
recuperação judicial, a partir do caso concreto de maior relevância nacional até hoje e das relações entre
as Recuperandas e a agência reguladora do setor de telecomunicações (Agência Nacional de
Telecomunicações – ANATEL), a hipótese da recuperação judicial do Grupo OI e as relações
processuais e extraprocessuais com a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), em
especial, no debate da classificação concursal dos créditos relacionados à ANATEL.
This work takes care of the debate about the possibility or not of public credits to be subject into recivership
(“judicial recovery”), based on the concrete case of greater national relevance until today and of the
relations between the Recovering Companies in judicial rehabilitation and the regulatory agency of
telecommunications (ANATEL), the case in judicial reorganization of Grupo OI and the procedural and
extra-procedural relations with the ANATEL, in particular, the debate on the competitive classification of
credits related to ANATEL.
KEYWORDS: Judicial recovery. Public credits. Divergence of Credits. Anatel Credit. Judicial
rehabilitation.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................................................................................9
1. NOÇÕES PRELIMINARES .................................................................................................. 12
1.1 DIREITO COMERCIAL E EMPREENDEDORISMO ..................................................................................... 12
1.2 EMPRESA E IMPORTÂNCIA DO EMPRESÁRIO ........................................................................................ 13
1.3 BREVE HISTÓRICO DOS ATOS DE COMÉRCIO À TEORIA DA EMPRESA ................................................. 20
1.3.1 CORPORAÇÕES DE OFÍCIO................................................................................................................ 21
1.3.2 CÓDIGO COMERCIAL ........................................................................................................................ 22
1.3.3 NOVO CÓDIGO CIVIL........................................................................................................................ 23
2. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: CONCEITOS E ASPECTOS ESSENCIAIS ..................................... 26
2.1 O QUE É UMA RECUPERAÇÃO JUDICIAL? ............................................................................................. 26
2.1.1 BREVE HISTÓRICO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ................................................................................ 26
2.1.2 DIREITO FALIMENTAR E RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS ...................................................................... 28
2.2 HISTÓRICO GERAL DO “GRUPO OI” ..................................................................................................... 41
2.2.1 A RECUPERAÇÃO JUDICIAL DO “GRUPO OI” ................................................................................... 42
2.2.2 RITO E FASES DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL PELA LEI Nº 11.101/05 ................................................... 43
2.2.3 JUÍZO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL LEI Nº 11.101/05 ........................................................................ 45
2.2.4 AS INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI Nº 11.101/05 .............................................................................. 48
2.3 PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL DO GRUPO OI............................................................................. 54
2.3.1 ADMINISTRADOR JUDICIAL DO “CASO OI” ....................................................................................... 54
3 O CRÉDITO DA AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES (ANATEL) ................ 57
3.1 CRÉDITOS SUJEITOS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL E SIGNIFICADO DE EXISTÊNCIA DO CRÉDITO ........... 57
3.2 OS CRÉDITOS QUE NÃO SOFREM OS EFEITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ......................................... 59
3.3 CRÉDITOS QUE NÃO SE SUBMETEM AO JUÍZO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ......................................... 60
3.4 CRÉDITOS E CLASSE DE CREDORES ..................................................................................................... 61
3.5 DIVERGÊNCIA DE CRÉDITO PELA ANATEL ........................................................................................ 62
3.5.1 PRELIMINAR DA ANATEL ................................................................................................................. 63
3.5.2 PEDIDO DA ANATEL .......................................................................................................................... 64
4 ANÁLISE CRÍTICA ............................................................................................................ 66
4.1 QUESTÕES ENFRENTADAS NO CASO “GRUPO OI” ............................................................................... 66
4.1.1 SÍNTESE DA MANIFESTAÇÃO DO ADMINISTRADOR JUDICIAL DO GRUPO OI ........................................ 66
4.1.2 DIVERGÊNCIA DE CRÉDITO ............................................................................................................... 66
4.1.3 FORO COMPETENTE ......................................................................................................................... 68
4.1.4 FORO COMPETENTE E REQUISITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ....................................................... 70
4.1.5 COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL - CRÉDITOS DA ANATEL ............................... 71
5 LIÇÕES E PRÓXIMOS PASSOS (CONCLUSÃO) .................................................................. 99
REFERÊNCIAS......................................................................................................................... 102
9
INTRODUÇÃO
1
SERASA EXPERIAN. Número de recuperações judiciais bate recorde histórico em 2015, revela Serasa
Experian. In: Serasa Experian. Disponível em: <http://noticias.serasaexperian.com.br/numero-de-recuperacoes-
judiciais-entre-janeiro-e-agosto-bate-recorde-revelaserasa-experian/>. Acesso em: 20.mai.2020.
2
SERASA EXPERIAN. Número de recuperações judiciais aumenta 7,6% em agosto de 2019, revela Serasa
Experian. In: Serasa Experian. Disponível em: https://www.serasaexperian.com.br/sala-de-imprensa/numero-de-
recuperacoes-judiciais-aumenta-76-em-agosto-de-2019-revela-serasa-experian. Acesso em: 20.mai.2020.
10
social, impactando diretamente na economia. Assim, dois fenômenos principais puderam ser
verificados dentro deste contexto.
O primeiro deles reside no fato de que novas questões, antes não enfrentadas, emergiram
através de problemas concretos que ainda não tinham sido tratados pela doutrina ou
jurisprudência, trazendo dúvidas e controvérsias em vários pontos e teses seguem não
pacificados gerando instabilidade a credores e a devedores, já que tanto juristas como o próprio
poder judiciário não estavam prontos para lidar com uma situação como o cenário que hoje se
apresenta não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.
Outro fenômeno interessante é que muitos profissionais que não estavam acostumados
a lidar com o tema passaram a atuar nessa área; assim, advogados, magistrados, promotores,
contadores, administradores, mediadores e tantos outros passaram a atuar nesse que aqui
denominaremos “contencioso recuperacional”. Este nosso cenário econômico tomado pelo
processo da globalização e pelos avanços tecnológicos, é importante destacar a crescente
influência e participação da empresa como coração da sociedade contemporânea, estando ela,
sem dúvida, no centro da economia moderna, constituindo a célula fundamental de todo o
desenvolvimento industrial, econômico e social.
Existe total envolvimento direto com as áreas de concentração da pesquisa proposta, na
medida em que a atuação nesta seara tributária e em recuperações judiciais e falências é a área
de principal atuação do exercício profissional deste pesquisador no âmbito nacional, incluindo
ainda a administração judicial em casos de expressão nacional e internacional, lidando
diretamente com litígios na seara tributária e regulatória.
Atuando diretamente em processos de recuperação judicial e falência, nos deparamos,
regularmente, com o desequilíbrio na forma de cobrança e recebimento de créditos por parte
das Fazendas Públicas em face aos créditos privados. Os credores privados (com exceção
àqueles previstos no Art. 49, da LRF3), eis que seu crédito está sujeito aos efeitos dos processos
3
Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não
vencidos.
§ 1º Os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os obrigados,
fiadores e obrigados de regresso.
§ 2º As obrigações anteriores à recuperação judicial observarão as condições originalmente contratadas ou
definidas em lei, inclusive no que diz respeito aos encargos, salvo se de modo diverso ficar estabelecido no plano
de recuperação judicial.
§ 3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador
mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de
11
de recuperação judicial, não podendo por isso ferir o concurso de credores, devendo receber
seus créditos na forma do plano de recuperação aprovado e homologado.
Já as Fazendas Públicas, não medem esforços para lograr receber seus créditos, lançando
mão de todos os meios jurídicos para tanto como, por exemplo, o bloqueio “online” (BACEN-
JUD) das contas bancárias, leilões de bens, entre outros. E isso ocorre porque as ações de
execução fiscal, que são o veículo processual utilizado para cobrança de créditos públicos,
sejam tributários ou não, não são suspensas pelo deferimento do processamento da recuperação
judicial, permitindo então a constrição legal de bens do executado ainda que em recuperação
judicial. Essa experiência é bastante útil para repensar as relações entre as recuperandas e a
Administração Pública no tocante a cobrança dos créditos públicos, bem como a relativização
de exigências, como a apresentação de certidões negativas para participar de certames e
licitações públicas.
São diversas as nuances possíveis de análise dentro das questões atinentes à recuperação
judicial e seus desdobramentos nas muitas searas do direito, desde o direito comercial e
falimentar até mesmo nas relações trabalhistas e tributárias, ocasionando situações de
interessantes análises, como esta a que nos propomos realizar nas linhas que se seguem,
especificamente como nosso tema, aquelas acerca do Grupo OI e sobre o processo do pedido
de recuperação judicial.
1. NOÇÕES PRELIMINARES
4
Cf. MENDONÇA, José Xavier Carvalho de. Tratado de Direito Comercial Brasileiro - Vol. 1. Campinas:
Bookseller, 2000, p. 630.
13
empregado, tornando-se necessário estender seu âmbito de aplicação para disciplinar essas
novas relações que não envolviam única e exclusivamente os comerciantes. Assim,
desenvolveu-se o sistema objetivista do direito, que desloca o centro do direito comercial para
os chamados “atos de comércio”, isto é, não focados na pessoa do comerciante, mas sim nos
atos por ele praticados. Tal sistema foi adotado pelo de Código Comercial Napoleônico, o qual
influenciou diretamente a elaboração do nosso Código Comercial, de 1850, posteriormente
complementado pelo Regulamento 737, também de 1850.
É na modernidade, contudo, que surge uma nova concepção que qualifica o direito
comercial como o direito das empresas, orientação maciçamente adotada na doutrina pátria
atual, apesar de ainda existir alguma resistência5. Nesta fase histórica, o direito comercial
reencontra sua justificação não na tutela do comerciante, mas na tutela do crédito e da circulação
de bens ou serviços a partir da orientação para o empreendimento com atividade que visa lucro,
mudando novamente sua órbita de atuação.
O Direito Comercial não deixou de ser ramo do direito privado, mas pode ser definido
para além da teoria dos “atos de comércio” como o conjunto de normas disciplinadoras da
atividade negocial do empresário e de qualquer pessoa física ou jurídica, destinada a fins de
natureza econômica, desde que habitual e dirigida à produção de bens ou serviços que visam
resultados patrimoniais ou lucrativos e que a exerça, com a racionalidade própria de "empresa",
ou seja, podemos definir como o corpo de normas, conceitos e princípios jurídicos que, no
domínio do Direito Privado, regem os atos, fatos e as relações jurídico comerciais.
5
Cf. MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1998, p. 29.
6
CAVALLI, Cassio. Empresa, Direito e Economia. Rio de janeiro: Editora Forense, 2013, p. 11.
7
Cf. CAVALLI, Cassio. Empresa. Ob. Cit. Rio de janeiro: Editora Forense, 2013, p. 12.
14
Marx, o capital, o trabalho e a natureza voltados para a realização de uma atividade econômica.
Fábio Nusdeo afirma que a "empresa é a unidade produtora cuja tarefa é combinar fatores de
produção com o fim de oferecer ao mercado bens ou serviços, não importa qual o estágio da
produção"8, ou seja, economicamente a empresa é a organização dos fatores da produção, como
o capital e o trabalho, com a finalidade específica e especial de obter ganhos.
A partir de tal acepção econômica é que se desenvolve o conceito jurídico de empresa,
o qual não nos é dado explicitamente pelo direito positivo, nem mesmo nos países em que a
teoria da empresa foi positivada inicialmente. Por se tratar de um conceito originalmente
econômico, alguns autores pretendiam negar importância a tal conceito, enquanto outros
pretendiam criar um conceito jurídico completamente diverso. Todavia, os resultados de tais
tentativas se mostraram insatisfatórios, tendo prevalecido a ideia de que o conceito jurídico de
empresa se assenta na verve econômica, pois o fenômeno é mesmo não somente econômico,
como igualmente sociológico, religioso ou político, apenas formulado de acordo com a visão e
a linguagem da ciência jurídica. A elaboração do conceito jurídico de empresa, portanto, nos
traz, a partir do marco teórico econômico, a identificação de qual a finalidade normativa
preponderante orientadora da doutrina comercialista ao enfrentar o tema, na esteira temática de
Cassio Cavalli9, obra referência na área e onde o autor problematiza com todo esmero as
diferenças entre o atual conceito de empresa, em especial a noção jurídica mater de empresa e
o anterior direito comercial, embasado nos atos de comércio e nos detalha as formas e origens
dos conceito econômico e jurídico de empresa.
Fato é que adotamos em nosso ordenamento um conceito normativo, ou melhor, o
conceito positivista-normativo partindo da teoria da norma e do ordenamento, isto é, essas
relações jurídicas estão sujeitas ao regime das normas jurídicas em geral e, em especial, hoje,
da teoria da empresa embasada em nosso Código Civil de 2002, cuja finalidade normativa
remonta à própria gênese legislativa pelos codificadores do século XIX10.A delimitação do
âmbito do Direito Comercial terá, pois, de se basear nas próprias normas jurídicas positivas,
nomeadamente, nas chamadas normas qualificadoras que são as que se caracterizam como
comercial em certa matéria e da empresa em outra, dizendo que pessoas são comerciantes e que
negócios são comerciais como complemento da teoria da empresa. O fato de tratar-se de ramo
8
NUSDEO, Fábio. Curso de Economia: Introdução ao Direito Econômico. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 1997, p. 285.
9
Cf. CAVALLI, Cassio. Ob. Cit. Rio de janeiro: Editora Forense, 2013, p. 27.
10
Cf. CAVALLI, Cassio. Ob. Cit. Rio de janeiro: Editora Forense, 2013, pp. 55 e 83.
15
11
O conceito econômico é elaborado pelos juristas com o intuito de lhes evidenciar a estrutura, isto é o conjunto
de elementos que integram o conceito, assim temos que o conceito econômico de empresa é formado pelos seguinte
elementos: (a) organização dos fatores de produção, (b) ser voltada à obtenção de um produto destinado a troca
em mercado, isto é, voltado à satisfazer necessidades alheias (d) sob o risco do próprio empresário, (e) que colhe
os resultados da sua atividade a título de lucro.
16
uma vez que não parece haver consenso jurisprudencial e doutrinário quanto ao tema, à despeito
de sua incrível relevância e necessidade.
No entanto, com frequência, a existência de créditos públicos, dada a sua importância,
é decisiva para o desenrolar dos processos de recuperação de empresas. De um lado, situa-se o
interesse público a ser tutelado cuja intensidade se acentua ou atenua conforme seja a natureza
do crédito; doutro, encontra-se o interesse na recuperação da empresa, que pressupõe que se
encontre adequada solução para o endividamento com entes públicos. Nesse sentido, todos os
envolvidos no processo de recuperação judicial (devedora, credora e a própria sociedade) na
maioria das vezes, acabam sendo frustrados, eis que a administração pública obtém maiores e
mais rápidos benefícios do que os demais credores. A ausência de sistematização da disciplina
normativa a ser dispensada a créditos públicos em processos de recuperação judicial gera
insegurança jurídica para todos os atores desses processos.
A presente pesquisa, então, explora as relações jurídicas entre sociedades privadas em
recuperação judicial e credores públicos, principalmente no tocante ao tratamento a ser
conferido à tais créditos públicos (sejam eles de natureza tributária ou não) no âmbito do
processo de recuperação judicial, buscando a interpretação das melhores práticas de direito,
visando o equilíbrio social entre o soerguimento da empresa em dificuldades financeiras e
econômicas e a reestruturação das dívidas com o ente da administração pública, buscando o
adimplemento dos créditos públicos, abordando-se então o tratamento conferido aos créditos
públicos nos processos de recuperação judicial da empresa devedora, que podem ter natureza
tributária ou não. A análise das diferenças e semelhanças entre esses dois tipos é matéria
essencial para o estudo ora proposto, a saber, a diferença para fins da recuperação judicial entre
tributo como gênero, que abarca as espécies: impostos, taxas, contribuições sociais,
contribuições de melhoria, empréstimos compulsórios, e as sanções aplicadas ao
descumprimento de uma obrigação principal ou acessória, multas “tributárias”, multas
decorrentes de processos de fiscalização por órgãos públicos e agências regulatórias,
indenizações por danos ambientais, bem como ao consumidor, e créditos decorrente de acordos
de leniência. Incluem-se também na análise as obrigações “acessórias” impostas pela agência
reguladora a empresas que atuam em setores regulados.
Claudio Renato do Cato Farág, diferencia tributo e multa, demonstrando que os tributos
são decorrentes de lei e incidentes sob fatos jurídicos previstos em lei e lícitos, enquanto as
multas, por sua vez, são sanções incidentes por descumprimento de leis ou contratos, ou seja,
incidentes sobre atos ilícitos, vejamos:
17
Na mesma linha, João Dácio Rolim e Maria Inês Caldeira Pereira da Silva diferenciam
multa e tributo desta forma: “A multa é toda prestação pecuniária compulsória incidente em
decorrência da prática de um ato ilícito legal ou contratual, instituída em contrato a favor do
12
FARÁG, Cláudio do Canto. Multas Fiscais Regimes Jurídico e Limites de Gradação. São Paulo: Editora
Juarez de Oliveira, 2001, pp. 37-8.
13
BECKER, Alfredo Augusto. Teoria Geral do Direito Tributário. São Paulo: Lejus, 1998, p. 261-2.
14
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. São Paulo: Malheiros Editores, 1992, p. 33.
18
particular ou do Estado. Diferencia-se do tributo pelo fato deste decorrer de um fato lícito, em
conformidade com a lei”15. E continua no sentido de que podemos anotar que existe uma
diferença na essência econômica entre tributos e multas. A tributação incide na atividade
econômica como um instituto legal que, qualificando a atividade empresa, estabelece a
transferência de riqueza do particular para o Estado.
Na mesma linha de raciocínio são as palavras de Carlos. M. Giuliani Forrouge:
As sanções fiscais oferecem acentuado particularismo, que justifica a sua
consideração independente, porém essencialmente têm caráter sancionatório,
para prevenir e reprimir as transgressões e não reparar qualquer dano, como
muito bem entendeu um tribunal argentino de maneira que, em sua essência,
são de natureza penas – com a condição de ser entendida esta expressão em
sentido genérico e não circunscrita à ilicitude contemplada pelo código penal.
Não se regem pelas normas deste, nem tampouco pertencem se chamou de
“direito penal administrativo” ou “direito penal econômico” cuja autonomia
é, para nós, inadmissível.16
De outro lado, a natureza econômica da multa não se refere a taxação dos bens e riquezas
e sua transferência ao Estado, consistindo, economicamente, como despesa para o contribuinte,
devendo assim, ser escriturada contabilmente. Sendo assim, podemos definir multa fiscal como
a penalidade pecuniária compulsória imposta ao sujeito passivo da obrigação tributária
principal pelo não pagamento do tributo na data prevista para o vencimento da obrigação ou
pelo descumprimento de qualquer outro dever instrumental, possuindo economicamente
natureza de despesa e juridicamente natureza de sanção. Com isso, notamos que a natureza
jurídica do tributo é determinada pelo fato gerador, de acordo com a legislação tributária em
vigor no Brasil17.
Partiremos, então, de um caso concreto de maior relevância nacional e de grande
exposição nacional e internacional, qual seja, o caso da recuperação judicial do Grupo OI à luz
das relações havidas entre as Recuperandas e a agência reguladora do setor de telecomunicações
(Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL). Nossa pesquisa, modelo e método
qualitativo, realizada mediante pesquisa bibliográfica especializada, pesquisa e discussão do
15
ROLIM, João Dácio; SILVA, Maria Inês Caldeira Pereira da. A Dedutibilidade ou não das Multas Moratórias
Perante o Imposto de Renda. In: Revista Dialética de Direito Tributário. nº 11, pp. 72-79, ago./1996, p.73.
16
FONROUGE, Carlos M. Giuliani. Conceitos de Direito Tributário. São Paulo: Lael, 1973, p. 239.
17
Art. 4º A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo
irrelevantes para qualificá-la:I - a denominação e demais características formais adotadas pela lei;
II - a destinação legal do produto da sua arrecadação.
(BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional). Fonte: Planalto. Disponível
em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 05.mai.2020).
19
18
Trazemos a ênfase na construção de soluções a partir de abordagem multidisciplinar do tema empresarial em
nossa sociedade moderna, ultradinâmica e digital.
20
na busca da equalização desse passivo, sendo que tais empresas apresentam o plano de
reestruturação da dívida privada, quita “em tese” tais dívida privadas, mas acabam fadadas ao
fracasso devido ao elevado passivo fiscal que não recebeu o tratamento adequado no momento
oportuno, não se encontrando devidamente equalizadas, gerando um prejuízo à sociedade pela
perda da atividade empresarial e de todos os benefícios oriundos de sua função social, bem
como pela agressividade da cobrança por parte da Administração Pública que, muitas vezes,
coloca em risco a manutenção da atividade empresarial por buscar a satisfação de seu crédito
de forma mais gravosa sem considerar os interesses que permeiam o concurso de credores
estabelecido pela recuperação judicial.
O Código Comercial Brasileiro datado de 1850 (ainda na época do Império) foi o único
que tivemos e ainda possui as ideias de Napoleão, cuja base fundamental é a referida Teoria
dos Atos de Comércio que considerava comerciante aquele que praticasse atos de comércio
desde que com habitualidade, profissionalismo e finalidade lucrativa. Como vimos, esse critério
já superava o objetivo da simples matrícula na Corporação de Ofício e, apesar de não ser a
ideal, essa teoria perdurou por bastante tempo.
Desde 1850, a atividade relevante da prestação de serviços e seu papel econômico
começou a crescer desenfreadamente, assim como o desenvolvimento da atividade comercial,
o desenvolvimento e avanços tecnológicos e as novas aspirações socioeconômicas fizeram com
que essa atividade se desenvolvesse exponencialmente e tornou-se da maior importância
econômica em todas as sociedades capitalistas, especialmente após a Revolução Industrial
(Século XVIII) e a invenção do tear mecânico.
Com o crescimento das prestações de serviços, o avanço e a importância econômica da
teoria dos atos de comércio foi tornando-se insuficiente e obsoleta, criando-se uma dificuldade
a ser enfrentada por algumas categorias de prestadores de serviços que não estavam incluídos
no ramo do Direito Comercial, mas sim sujeitos ao Direito Civil. Isso os impedia de se socorrer,
por exemplo, da regra que ampara o comerciante para se recuperar em caso de dificuldades
23
19
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária
ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa.
(BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). Fonte: Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 05.mai.2020).
24
consequências foram, sem dúvida, de grande monta, a iniciar pela radical mudança estrutural
tradicional do Direito Comercial, alcançando inclusive sua própria denominação, que hoje não
trata esse direito como comercial, mas sim como "direito de empresa" ou "direito empresarial",
que possui abrangência de significação muito maior, em que o conceito econômico do
empresário, um status profissional, necessariamente contém o elemento da “atividade
organizativa-diretiva”20 que em nome próprio exerce além de outras, as atividades de organizar
fatores de produção, que juridicamente, nos trouxe a definição normativa de pessoa natural que
exerce em nome próprio, atividade empresária.
20
CAVALLI, Cassio. Ob. Cit. Rio de janeiro: Editora Forense, 2013, p. 111.
26
21
Art. 8º O comerciante que, sem relevante razão de direito, não pagar no vencimento obrigação líquida, deve,
dentro de trinta dias, requerer ao juiz a declaração da falência, expondo as causas desta e o estado dos seus
negócios, e juntando ao requerimento:
[...]
1º Tratando-se de sociedade em nome coletivo, de capital e indústria, em comandita simples, ou por cotas de
responsabilidade limitada, o requerimento pode ser assinado por todos os sócios, pelos que gerem a sociedade ou
têm o direito de usar a firma, ou pelo liquidante. Os sócios que não assinem o requerimento, podem opor-se à
declaração da falência e usar dos recursos admitidos nesta lei.
§ 2º Tratando-se de sociedade por ações, o requerimento deve ser assinado pelos seus representantes legais.
§ 3º O devedor apresentará, com o requerimento, os seus livros obrigatórios, os quais permanecerão em cartório
para serem entregues ao síndico, logo após o compromisso dêste.
Art. 9º A falência pode também ser requerida:
I - pelo cônjuge sobrevivente, pelos herdeiros do devedor ou pelo inventariante, nos casos dos arts. 1º e 2º, nº I;
II - pelo sócio, ainda que comanditário, exibindo o contrato social, e pelo acionista da sociedade por ações,
apresentando as suas ações;
III - pelo credor, exibindo título do seu crédito, ainda que não vencido, observadas, conforme o caso, as seguintes
condições:
a) credor comerciante, com domicílio no Brasil, se provar ter firma inscrita, ou contrato ou estatutos arquivados
no registro de comércio;
b) o credor com garantia real se a renunciar ou, querendo mantê-la, se provar que os bens não chegam para a
solução do seu crédito; esta prova será feita por exame pericial, na forma da lei processual, em processo
preparatório anterior ao pedido de falência se êste se fundar no artigo 1º, ou no prazo do artigo 12 se o pedido tiver
por fundamento o art. 2º;
c) o credor que não tiver domicílio no Brasil, se prestar caução às custas e ao pagamento da indenização de que
trata o art. 20.
(BRASIL. Decreto-Lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945 (Lei de Falências). Fonte: Planalto. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del7661impressao.htm>. Acesso em: 04.abr.2020).
28
Com isso, vale ressaltar as lições dos autores Rubens Requião22 em conjunto com
Miranda Valverde e Waldemar Ferreira23, entendendo que a natureza jurídica da sentença
declaratória da falência é constitutiva, compreendendo que a sentença, com efeito, é mais do
que uma simples declaração de um estado de direito: ela declara ao mesmo tempo que cria a
massa falida objetiva e a massa falida subjetiva, constituída respectivamente pelos credores e
pelo patrimônio do falido, dando-lhe nítido status jurídico. O devedor, por sua vez, passa, ainda
em consequência da sentença falimentar, a ser impedido de exercer sua profissão comercial.
Por fim, para que possamos tratar melhor da atuação do Juiz dentro do processo recuperacional,
bem como todo o funcionamento do instituto da recuperação judicial, necessário antes entender
o conceito de Poder como fenómeno da relação social e do próprio Poder Judiciário na figura
do Estado-Juiz.
Para continuar o estudo do caso em tela, fundamental trazer alguns itens sobre as formas
legais e procedimentais de nosso regulamento e tratar, primeiramente, de alguns institutos sobre
o tema que regem e definem as situações que serão analisadas mais a fundo no próximo
capítulo, assim iniciaremos com os estudos gerais sobre Direito das Empresas.
O Brasil ocupou sempre uma posição colonial em relação ao Estado Português e teve o
direito consubstanciado nas Ordenações do Reino cuja primeira foi a Ordenação Afonsina
(1446-1512) e depois de revista por D. Manoel, passou a se conceituar como Ordenações
Manuelinas (1512-1603). Nela predominavam os princípios do Direito Romano, reproduzindo,
através da falência, o direito estatutário italiano, o qual submetia o devedor a rigor excessivo.
As Ordenações Afonsinas revistas por ordem Del Rei D. Manuel, em 1521,
passando a se denominar Ordenações Manoelinas, regulavam também o
concurso de credores, que ocorria quando o patrimônio do devedor não
bastava para solver todos os seus débitos. Prevalecia, entretanto, ainda o
22
Cf. REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Falimentar - Vol. I. São Paulo: Editora Saraiva, 1995, p. 108.
23
Cf. VALVERDE, Trajano de Miranda. Comentários à Lei de Falências: Decreto-Lei n. 7.661, de 21 de junho
de 1945. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1999.
29
24
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Falimentar. São Paulo: Editora Saraiva, 1991.
25
Cf. LOCKE, John. Dois Tratados Sobre o Governo. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1998.
30
também a Lei das Nações Civilizadas e o Código Napoleônico do ano de 1806. Logo após, já
no ano de 1850, foi promulgado o nosso Código Comercial, que dedicou a sua terceira parte
aos procedimentos de falência, denominados “quebras”, inaugurando assim, a primeira fase
histórica desse instituto no direito brasileiro e que se estenderia até o advento do regime
republicano.
Com a transição da Monarquia para a República, em 1889, surgiu a necessidade de
elaborar nova regulamentação sobre esse instituto da falência e, talvez, essa necessidade se
deveu aos novos anseios morais trazidos no bojo do regime republicano, principalmente pelas
influências liberais. Isto posto, o Governo Provisório da República do Brasil optou por revogar
as disposições sobre falências do Código Comercial através do Decreto nº 917 de 24 de outubro
de 1.890, que imprimiu razões mais liberais ou mesmo protecionistas, demonstrando que nesse
momento o estado de falência passou a ser caracterizado por atos ou fatos previstos
expressamente na lei e na impontualidade do pagamento da obrigação mercantil líquida e certa.
Essa nova espécie legislativa trouxe esperanças de conter a corrupção recorrente no âmbito
mercantil, sendo considerada um marco para o direito comercial em matéria falimentar e já
introduziu meios preventivos à decretação da falência, como a concordata preventiva, a
moratória, a cessão de bens e o acordo extrajudicial.
Seguindo a marcha das mudanças sensíveis testemunhadas no período Pós-Primeira
Guerra Mundial (1914-1918), surgiu a necessidade de revisar alguns pontos da Lei nº
2.024/1908 que não se adequavam à evolução comercial que ocorrera e estava em chamas
naquele momento. Nesse contexto, foi promulgada a Lei nº 5.746/1929, de autoria do professor
Waldemar Ferreira e em 21 de outubro de 1.943, um novo anteprojeto foi apresentado, agora
elaborado por uma comissão composta pelo Ministro da Justiça, Alexandre Marcondes Filho
que seria o futuro e já mencionado Decreto-Lei nº 7.661, de 21 de junho de 1.945. Essa nova
legislação teve como novidade, dentre outras, a extinção da figura do liquidatário, o fim da
subordinação da concessão da concordata preventiva à vontade dos credores, a abolição das
Assembleias dos Credores, diminuindo a influência destes, reforçando os poderes dos
magistrados; e as concordatas tanto a preventiva como a suspensiva que deixaram de ter a
natureza jurídica de contrato e passaram a ser consideradas benefícios concedido pelo Estado
ao devedor, através do Juiz que presidia o feito. Foi nessa época que se instaurou também a
marcha paralela do processo falimentar com o processo criminal.
O Decreto-Lei nº 7.661/1945 sofreu, posteriormente, muitas alterações, principalmente
no que concerne às concordatas e à classificação dos créditos e recursos cabíveis, sendo que a
falência deixou de ser um mero instrumento de liquidação com o encerramento das atividades
31
empresariais com a clara preocupação maior com a função social da empresa frente à sociedade,
o que já apontava para a criação de mecanismos novos e mais eficazes para preservar a empresa
e reconstruí-la, sem deixar, contudo, de proteger o direito de crédito. Por fim, rendendo-se à
tendência natural, influenciada pela nova revolução comercial resultante da Segunda Guerra
Mundial de manter ativa a fonte produtora e os postos de trabalho, bem como contribuir para o
aquecimento da economia nacional, promulgou-se, em 09 de fevereiro de 2005, a Lei nº 11.101,
legislação falimentar atualmente vigente.
Desde sua origem a falência é coberta de um caráter executivo e nosso Direito concursal
é claro no sentido de que se o devedor está sujeito à falência não cabe o concurso de preferência
no juízo da execução exclusiva ou ordinária. Assim, a falência e a vis atractiva desse juízo
falimentar substitui todos os outros concursos de juízos possíveis. O patrimônio realizável do
devedor é liquidado e o produto distribuído em pagamento aos credores em determinada ordem
de recebimento e, em não havendo bens, cessa a falência por falta de objeto. Uma vez cessada
a falência sem o pagamento integral dos credores, o direito de executar singularmente o devedor
é readquirido, a qualquer tempo, pelo saldo dos créditos e esses credores podem optar pela via
extraordinária ou coletiva para tanto. Um aspecto interessante a ser colocado aqui é que a
falência é remédio conservatório de direitos e tema da função de tutela preventiva contra a
fraude do devedor, impedindo assim a dilapidação ou dissipação do patrimônio em prejuízo dos
credores e o mesmo se estende à recuperação judicial.
Em um sistema econômico capitalista, cujas características principais são a garantia do
direito de propriedade e a liberdade de iniciativa e de competição, deve ser primordial o
exercício de atividades econômicas pelos agentes da iniciativa privada, com fundamento no
princípio da livre-iniciativa. Essas atividades econômicas são desempenhadas principalmente
pelo empresário e pela sociedade empresária ao exercerem, profissionalmente, atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços como, nos traz a
própria Lei Civil no bojo do Art. 966. Em nosso sistema econômico capitalista a regra é: a
atividade empresária é vital para a economia brasileira, de modo que nossa Lei Maior, em seu
Art. 17026, ao cuidar dos princípios gerais da atividade econômica, coloca a livre-iniciativa
26
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
32
podemos observar, de forma anacrônica, o instituto da falência. Foi na época em que existia a
figura do escravo por dívida como pena ao mau-devedor, ou seja, havia a obrigação de pagar
as suas dívidas sob pena de privação de liberdade, tornando-se escravo do credor e pagando até
mesmo de forma perpétua ou com a própria vida a depender do tamanho desta dívida.
Diante dessa situação legítima e legal da época, na qual os devedores eram submetidos,
assim como a própria escravidão era reconhecida, sobreveio a edição da Lex Poetelia Papiria28,
em 428 a.C., de modo que a prática, proveniente dos credores, de atos que ferissem ou
renunciasse a liberdade do devedor ou de um membro da família como forma de pagamento da
dívida foi banida. Essa referida lei veio a percorrer um sentindo contrário à pena de
responsabilidade pessoal, passando então a ser responsabilizado o patrimônio do devedor, o
que configurou uma evolução das penas no direito mercantil da época. Mas mesmo após a sua
edição sobraram vestígios e questões sensíveis ao seu cumprimento e ao cumprimento do dever
de pagar ou restituir, como quando o devedor que não possuísse patrimônio suficiente para
saldar o débito realizaria o pagamento e cumprimento da obrigação.
Já no período da Idade Média, diante do nascimento e a inicial construção de um direito
comercial, o ordenamento jurídico criou determinadas regras, as quais foram identificadas pela
doutrina, para a execução desses devedores insolventes. Em seguida, numa linha do tempo, foi
elaborado o Código Napoleônico (por alguns autores conhecido como Code de Commerce),
que provocou o surgimento de dois ramos autônomos e independentes reguladores do
mercantilismo da época, quais sejam: de um lado, o direito civil como instituto de direito
privado, aplicável em praticamente todas as relações jurídicas privadas; doutro, o direito
comercial, um direito especializado aplicável às matérias relacionadas as atividades mercantis
e aos futuros atos de comércio.
Assim, de forma resumida, o direito falimentar passou a não mais se preocupar com a
responsabilidade pessoal do devedor insolvente, criminalizando sua conduta, mas sim e
principalmente com a preservação da empresa, razão em que o legislador, ao editar as leis
falimentares e “recuperacionais”, preocupou-se em tentar recuperar a empresa, visto que, em
muitos casos, é relevante a sua atuação perante a sociedade. Em uma sociedade mercantil, o
patrimônio é uma garantia dos credores e quando o empresário ou sociedade empresária se
28
Nota do Autor: A Lex Poetelia Papiria foi uma lei da República Romana que aboliu o nexum, ou seja, o acordo
pelo qual um devedor dava como garantia de um empréstimo a escravidão de si próprio em nome do credor em
troca da extinção do débito.
35
encontra em crise financeira e seu patrimônio já não é mais suficiente para saldar as dívidas
contraídas, inevitavelmente, deixará de honrar pagamentos de dívidas assumidas.
A falência é um processo de execução coletiva do patrimônio desse devedor empresário,
que organiza a distribuição proporcional do resultado do patrimônio entre todos os credores.
Nesse sentido, a falência promove o afastamento do devedor de suas atividades, isto é, o
devedor deixa de gerir a atividade empresarial visando preservar a utilização produtiva de bens
e recursos, de modo que esses credores que têm créditos vencidos ou que estão prestes a vencer
terão maior chance de escapar da inadimplência do devedor, uma vez que os outros credores
estão impedidos de cobrá-lo antes do vencimento da obrigação.
Com a edição do Código Civil Italiano e a formulação da teoria da empresa, o direito
comercial deixou de ser, como tradicionalmente o foi, o direito do comerciante (período
subjetivo das corporações de ofício) ou o direito dos atos de comércio (período objetivo da
codificação napoleônica), para ser o direito da empresa, fazendo-o abranger uma gama muito
maior de relações jurídicas e, para haver harmonia ao novo regime legal, os diversos institutos
comerciais, como a Falência e a Recuperação Judicial, deverão ser interpretados à luz dessa
nova teoria, vetorizada pelos novos princípios, o que ampliará a incidência das normas
comerciais para diversos setores da economia.
Consubstanciado no intento de evitar a injustiça do não-pagamento dos credores, pois
os primeiros cobradores receberiam a integralidade de seus créditos, desfavorecendo os demais
credores que muito pouco ou talvez nada receberiam, o instituto da falência foi criado para
assegurar a igualdade de oportunidades aos credores de um empresário ou sociedade empresária
insolvente e insuscetível de recuperação judicial. O princípio conditio creditorum é
consubstanciado na igualdade de condição aos credores, isto porque, com exceção das
preferências impostas por lei, todos os credores, de forma igualitária, concorrem à distribuição
proporcional do ativo do devedor, decorrente da venda judicial dos bens verificados e
arrecadados, configurando um processo de execução coletiva ou concursal no qual todo o
patrimônio de um empresário declarado falido – pessoa física ou jurídica – é arrecadado. Esse
expediente visa o pagamento da universalidade de seus credores, de forma completa ou, ao
menos, proporcional. Trata-se de um processo judicial complexo que compreende a arrecadação
dos bens, sua administração e conservação, bem como a verificação e o acertamento dos
créditos, para posterior liquidação dos bens e rateio entre os credores, além da punição de atos
criminosos praticados pelo devedor.
36
Durante o curso da ação de recuperação judicial, alguns efeitos decorrem desse instituto,
efeitos estes que ora tem origem no texto legal, com ocorrência obrigatória, ora são
provenientes da aplicação das considerações legais ao caso concreto, com a ponderação de
princípios, objetivos e finalidades do arcabouço legal que rege o tema. Necessário considerar,
ainda, que os efeitos da recuperação judicial também se dividem de acordo com o período de
seu nascimento: alguns são oriundos de um primeiro momento processual, o deferimento do
37
29
Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o processamento da
recuperação judicial e, no mesmo ato:
(BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 (Lei de Falências). Fonte: Planalto. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm>. Acesso em: 10.fev.2020).
30
Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do devedor cujo plano não
tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei ou tenha sido aprovado pela assembleia-geral de
credores na forma do art. 45 desta Lei.
(BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 (Lei de Falências). Fonte: Planalto. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm>. Acesso em: 10.fev.2020).
31
Art. 95. Dentro do prazo de contestação, o devedor poderá pleitear sua recuperação judicial.
Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei, não será decretada se o requerido
provar:
[...]
VII – apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação, observados os requisitos do art. 51
desta Lei;
(BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 (Lei de Falências). Fonte: Planalto. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm>. Acesso em: 10.fev.2020).
32
COELHO, Fábio Ulhôa. Comentários à Lei de Falências. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 96.
38
Outro ponto relevante da suspensão ora examinada é sobre quais ações ela recai, isto é,
quais ações, excepcionalmente, não se suspendem em face do deferimento do processamento
da recuperação judicial do devedor. O inciso III, do Art. 52, da Lei nº 11.101/05 é bastante
pontual ao estabelecer as exceções a este feito da recuperação judicial. Não são suspensas,
portanto, as ações que demandam quantias ilíquidas (Art. 6º, §1º), as ações trabalhistas até a
fixação do valor devido (Art. 6º, §2º), as execuções fiscais (Art. 6º, §7º) e as execuções
promovidas por credores absolutamente não sujeitos à recuperação judicial, quais sejam, os
titulares de créditos derivados de antecipação aos exportadores, o proprietários fiduciários, o
arrendador mercantil e o vendedor ou promitente vendedor de imóvel ou bem cujo contrato
33
COELHO, Fábio Ulhôa. Ob. Cit. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 96.
34
BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de Recuperação de Empresas e Falência Comentada. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2008, p. 166.
39
Ainda que não exista nenhuma previsão legal nesse sentido, resta, logicamente evidente,
que também faz cessar esse efeito a aprovação e homologação do plano de recuperação judicial,
uma vez que, a partir deste momento, opera-se a novação dos créditos sujeitos à recuperação
judicial (outro efeito que adiante será tratado de forma mais detida), cessando a sua
exigibilidade e, portanto, levando à extinção das ações e execuções neles fundadas. Todavia,
não obstante a preocupação do legislador em enfatizar o caráter improrrogável do prazo de
35
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso
da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do
sócio solidário.
§ 1º Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que demandar quantia ilíquida.
§ 2º É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de créditos
derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o
art. 8º desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será
inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença.
[...]
§ 7º As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial, ressalvada a
concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação ordinária específica.
[...]
Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não
vencidos.
[...]
§ 3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador
mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de
irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de
venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os
direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva, não se
permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada
do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.
§ 4º Não se sujeitará aos efeitos da recuperação judicial a importância a que se refere o inciso II do art. 86 desta
Lei.
(BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 (Lei de Falências). Fonte: Planalto. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm>. Acesso em: 10.fev.2020).
40
suspensão das ações e execuções contra a recuperanda, o Superior Tribunal de Justiça vem
mitigando a aplicação do Art. 6º, § 4º, da Lei 11.101/05, com suporte no princípio da
preservação da empresa, sempre que a sociedade obedecer aos comandos impostos pela
legislação e não estiver, direta ou indiretamente, contribuindo para a demora na aprovação do
plano por ela apresentado. Outro efeito da recuperação judicial, este decorrente da homologação
do plano de recuperação judicial, é a novação dos créditos anteriores ao pedido recuperatório.
Tal efeito tem previsão legal expressa no Art. 59, da Lei nº 11.101/0536.
Acerca do instituto, incluído no título do Código Civil referente ao adimplemento e
extinção das obrigações, seu Art. 360 determina que ocorre novação, dentre outras hipóteses,
quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior37. A
novação, instituto de nosso Direito Civil, é uma interessante modalidade de extinção de
obrigações em virtude da constituição de uma nova obrigação que venha ocupar o lugar da
primitiva. Nesta espécie de pagamento indireto, percebemos que em único ato, uma nova dívida
assume a posição de outra, que desaparece. Via de consequência, a novação envolve a ideia de
substituição de uma obrigação, pela intenção das partes de novar, manifestada mediante acordo,
cessando o vínculo anterior com a aquisição de novo direito de crédito. O mesmo ato jurídico
que ceifa uma obrigação é o gérmen para o brotar de outra.
A priori, todos os credores anteriores ao pedido recuperatório se sujeitam aos termos do
plano de recuperação judicial homologado em juízo e, por consequência, são atingidos por esta
novação. Nesse contexto, note-se que ainda os que se opuseram ao plano e votaram pela sua
rejeição em assembleia geral de credores devem acatar os termos aprovados pela maioria dos
credores, que substituirão àqueles originalmente pactuados com o devedor. A novação, termo
e instituto do direito civil trazido das obrigações, estabelecida na legislação falimentar é
limitada em seus efeitos, haja vista que não se estende aos coobrigados, fiadores e demais
obrigados de regresso do devedor, nos termos do Art. 49, § 1º, da lei nº 11.101/05. Observe-se
36
Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor
e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1º do art. 50 desta Lei.
(BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 (Lei de Falências). Fonte: Planalto. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm>. Acesso em: 10.fev.2020).
37
Art. 360. Dá-se a novação:
I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior;
II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor;
III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este.
(BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). Fonte: Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 05.mai.2020).
41
a tal posição é reiterada pelo Art. 59, da mesma Lei de Falências, quando faz ressalva expressa
ao mencionar que a novação se dá “sem prejuízo das garantias”.
Outra característica peculiar da novação que ocorre nesta hipótese é sua
condicionalidade. Nessa direção são as lições de Fábio Ulhôa Coelho:
As novações, alterações e renegociações realizadas no âmbito da recuperação
judicial são sempre condicionais. Quer dizer, valem e são eficazes unicamente
na hipótese de o plano de recuperação ser implementado e ter sucesso. Caso
se verifique a convolação da recuperação da recuperação judicial em falência,
os credores retornam, com todos os seus direitos, ao status quo ante.38
Em linhas gerais, o Grupo OI teve origem na junção de duas gigantes nacionais no setor
de telecomunicações, a TNL e a Brasil Telecom S.A. (“BRASIL TELECOM”), em 2009. Essas
sociedades nasceram a partir da privatização do sistema TELEBRÁS, em 1998. O Grupo OI
iniciou suas atividades com a prestação de serviços de telefonia fixa e incorporou ao seu
portfólio serviços de telefonia móvel, internet, TV por assinatura, dentre outros, passando a ser
um dos maiores provedores de serviços de telecomunicações do país com presença nacional
integrada em uma só marca, oferecendo uma variedade de produtos sob a marca “Oi” e que
hoje está presente em quase a totalidade dos 5.570 municípios brasileiros, atendendo
38
COELHO, Fábio Ulhôa. Ob. Cit. São Paulo: Editora Saraiva, 2008, p. 105.
39
Cf. COELHO, Fábio Ulhôa. Ob. Cit. São Paulo: Editora Saraiva, 2008.
42
como determina o Art. 21 da referida lei. A partir desse momento ocorre a suspensão, pelo
prazo de 180 dias, dos processos contra a empresa em recuperação – é o denominado “stay
period”, do Art. 6º, caput e § 4º, da Lei nº 11.101/2005. Segue-se então à publicação de edital
com a 1ª relação de credores sempre a partir da lista inicial apresentada pela ora denominada
“recuperanda”, conforme o disposto no Art. 52, § 1º, da Lei nº 11.101/05 e, então, dentro do
prazo de 15 dias a partir da publicação desse referido edital, segue-se a apresentação, perante o
administrador judicial, de divergência em casos onde o credor entenda que os valores ou classe
de créditos constantes do edital não estão corretos ou a habilitação de créditos que não constem
da relação inicial apresentada pela recuperanda.
Importante ressaltar que não existe sucumbência quanto a essas peças, como dispõe o
Art. 7º, § 1º, da Lei nº 11.101/05. A publicação de Edital com a 2ª relação de credores (Art. 7º,
§ 2º) é necessária dada a universalidade do juízo, relação essa apresentada pelo Administrador
Judicial, trazendo então a sua resposta a respeito de cada uma das divergências ou habilitações
apresentadas pelos credores. A partir da publicação desse 2º edital, em 10 dias, perante o juiz,
pode ocorrer impugnação e acontece a discussão quanto à presença, ausência, valor ou classe
de um crédito constante desta segunda listagem de credores, que será autuada em apartado e,
após contraditório e eventual dilação probatória, terá uma decisão do juiz. Nesse caso, há a
possibilidade de condenação nos ônus da sucumbência (Art. 8º), sendo que da decisão que
julgar a impugnação cabe agravo de instrumento (Art. 17).
Após as decisões de impugnações pelo juiz, será publicada a 3ª e última relação de
credores, ou seja, o quadro geral de credores, consoante Art. 18, da Lei nº 11.101/05. Em
paralelo temporal à apuração dos créditos corre o prazo para a apresentação do plano de
recuperação judicial pela recuperanda, que tem o prazo de 60 dias contados da publicação do
deferimento da Recuperação Judicial, como nos traz o Art. 53, do dispositivo legal. Os credores
terão o prazo de 30 dias para apresentarem objeção ao Pedido de Recuperação Judicial, prazo
esse contado a partir da publicação do 2º edital de credores, de acordo com o Art. 55. Caso
ocorra a apresentação de alguma oposição, será designada a Assembleia-Geral de Credores para
que decida acerca do pedido de recuperação judicial, aprovando ou rejeitando de forma
fundamentada, pelas diversas classes de credores (Art. 35, I, "a" e Art. 56, ambos da Lei nº
11.101/2005). Detalhe que essa Assembleia-Geral de Credores não é realizada em juízo, não
contando com a presença do juiz, sendo presidida diretamente pelo Administrador judicial.
Assim, uma vez aprovado o plano na Assembleia-Geral, o juiz deverá homologá-lo de
forma a conceder a recuperação judicial. Uma vez homologado, haverá a fiscalização de seu
cumprimento pelo juízo da Recuperação pelo prazo de 2 anos, findo o qual ocorrerá a extinção
45
dessa Recuperação Judicial e a empresa prosseguirá com sua atuação, na forma do Art. 63 da
Lei nº 11.101/05.
juiz não examina o conteúdo do plano aceito; assim como não examina o
conteúdo dos acordos que ele homologa frequentemente no processo.40
Seguindo basicamente a mesma linha, alguns outros autores entendem que, quanto à
deliberação da assembleia-geral de credores, os poderes do magistrado são limitados à
verificação de formalidades, cuja compreensão paira sob a seguinte alegação:
[...] dentre as regrais gerais sobre as assembleias de credores que merecem ser
ressuscitadas estão: a) o juiz as presidirá, mantendo o respeito e a ordem das
discussões, resolvendo de pronto as dúvidas que suscitarem (poder de polícia
do juiz); b) este poder, porém, não o autoriza a ingerir-se no mérito das
discussões e deliberações, salvo quando contrárias à lei; c) a intervenção do
juiz é meramente formal e serve para a documentação dos resultados da
assembleia.41
40
MOREIRA, Alberto Camiña. Poderes da Assembleia de Credores, do Juiz e Atividade do Ministério Público.
In: PAIVA, Luiz Fernando Valente de (Org.) Direito Falimentar e Nova Lei de Falências e Recuperação de
Empresas. São Paulo: Editora Quartier Latin, 2005, pp. 248 e ss.
41
SIMIONATO, Frederico Augusto Monte. Tratado de Direito Falimentar. Rio de Janeiro: Editora Forense,
2008, p. 101.
48
recuperação judicial mesmo diante de decisão contrária tomada na assembleia geral de credores,
desde que preenchidos os requisitos do Art. 58 e seguintes, da referida lei42.
Há sempre a necessidade do controle jurisdicional, em matéria processual pública, cujas
extensão e profundidade interferem diretamente em decisões tomadas pelos credores acerca do
plano de recuperação judicial em assembleia geral de credores, sempre com base na sua
competência jurisdicional e no estrito cumprimento do dever legal, observado ainda a faculdade
do juízo, conforme o Art. 58, § 1º, da Lei nº 11.101/05, exceção em que poderá conceder a
recuperação judicial com base em plano que não obteve aprovação na forma do Art. 45, da
referida lei, desde que seja obedecida de forma cumulativa as regras contidas no Art. 58, caput
e incisos, da Lei nº 11.101/05.
Com o passar do tempo com o debate acadêmico e jurisprudencial as alterações dos
posicionamentos acerca do tema são naturais pois o dinamismo das empresas, meios e
tecnologia proporcionam novos parâmetros a cada dia, sem perder de vista o farol
principiológico que traz a moldura e o vetor de interpretação no sentido da superação da crise
econômico-financeira da empresa e sempre será dado aos credores e à recuperanda a
possibilidade de negociar os meios de superação de crise da empresa, na mesma em que o Juízo
possui o poder-dever de supervisão, objetivando a satisfação de todos os envolvidos dentro dos
ditames legais que é sua possibilidade e necessidade de atuação.
Os tributos constituem a principal fonte de receitas do Estado. Com o uso adequado das
receitas, o Estado cumpre uma de suas funções primordiais, que é a da busca do bem comum,
conjunto de todas as condições de vida social que favoreçam o desenvolvimento integral da
personalidade humana e de sua sociedade. O Código Tributário Nacional (CTN) define tributo
42
DIREITO EMPRESARIAL. PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. APROVAÇÃO EM ASSEMBLEIA.
CONTROLE DE LEGALIDADE. VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA. CONTROLE JUDICIAL.
IMPOSSIBILIDADE.
1. Cumpridas as exigências legais, o juiz deve conceder a recuperação judicial do devedor cujo plano tenha sido
aprovado em assembleia (art. 58, caput, da Lei n. 11.101/2005), não lhe sendo dado se imiscuir no aspecto da
viabilidade econômica da empresa, uma vez que tal questão é de exclusiva apreciação assemblear.
2. O magistrado deve exercer o controle de legalidade do plano de recuperação - no que se insere o repúdio à
fraude e ao abuso de direito -, mas não o controle de sua viabilidade econômica. Nesse sentido, Enunciados n. 44
e 46 da I Jornada de Direito Comercial CJF/STJ.
3. Recurso especial não provido.
(SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REsp nº 1.359.311/SP (2012/0046844-8). Quarta Turma do Superior
Tribunal de Justiça. Rel. Min. Luís Felipe Salomão. Julgado em: 09/09/2014).
49
como “toda prestação pecuniária compulsória” (Art. 3º). No entanto, apesar de o tributo ser
uma prestação compulsória, é considerável o fato de muitos se furtarem desse dever por meio
da sua sonegação ou do simples inadimplemento.
Assim, devido ao déficit arrecadatório que o descumprimento de tal obrigação acarreta,
toda a sociedade arca com o ônus de serviços estatais deficitários, já que, ao menos, na teoria,
a qualidade dos serviços públicos está diretamente relacionada a uma arrecadação eficiente que
dá suporte financeiro ao Estado no exercício de suas atividades. Nesse quadro de sonegação ou
de inadimplência de tributos, o Estado se utiliza de meios administrativos para coagir os
contribuintes ao cumprimento da prestação tributária. Porém, nos casos em que o contribuinte
resiste à pretensão estatal, o crédito tributário é inscrito em dívida ativa, surgindo, então, um
título executivo. A Certidão de Dívida Ativa (CDA), título executivo extrajudicial, instruirá a
petição inicial da execução fiscal, regida pela Lei nº 6.830/80.
Por sua vez, a Lei nº 11.101/05 trouxe importante reforma no ordenamento jurídico
brasileiro, seja com nova roupagem dada ao processo falimentar, seja com a introdução do
procedimento de recuperação judicial das empresas. Tal reforma enfatizou a necessidade de
preservação da empresa por força de sua função social, segundo o Art. 187, de mencionada
lei43. A norma exclui, do processo de recuperação judicial, somente o crédito tributário; não há
referência à dívida ativa tributária. Nesse ponto, a Lei nº 11.101/2005, em seu Art. 1º, é expressa
em estabelecer que as disposições contidas naquele texto legal são destinadas ao empresário e
à sociedade empresária, ou seja, àqueles que exercem atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou serviços, nos termos dos Arts. 966 e 982, ambos do Código
Civil. Em outras palavras, portanto, a Lei nº 11.101/05 vem disciplinar a insolvência
empresarial, com o objetivo primordial de tornar possível a manutenção das atividades da
empresa em crise e viabilizar o seu reerguimento.
Anteriormente ao advento do atual texto legal, durante o trâmite do Projeto originário
da Câmara dos Deputados (PL 4.376/93) e por ocasião de sua passagem pelo Senado Federal
(no qual recebeu o nº PLC 71/2003), foram elencados no Relatório trazido pelo Relator do
Projeto na Comissão de Assuntos Econômicos, Senador Ramez Tebet (PMDB), doze princípios
43
Art. 187. Intimado da sentença que decreta a falência ou concede a recuperação judicial, o Ministério Público,
verificando a ocorrência de qualquer crime previsto nesta Lei, promoverá imediatamente a competente ação penal
ou, se entender necessário, requisitará a abertura de inquérito policial.
(BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 (Lei de Falências). Fonte: Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm>. Acesso em: 15.jan.2020).
50
norteadores da análise do projeto e das propostas de modificações em relação ao texto que havia
sido aprovado na Câmara dos Deputados.
Tais princípios, desde o início já elaborados e trabalhados aqui, traduzem a busca da
adequação do texto ideal à realidade atual, pari passu ao momento em que se encontra a
economia nacional, o desenvolvimento das atividades empresariais, a necessidade de
preservação das empresas e os efeitos de caráter social, bem como na viabilidade do
recebimento dos créditos por parte dos respectivos credores. Estes princípios foram assim
dispostos, e aqui os nomearemos, novamente, de forma sucinta, do ponto do vista interno do
procedimento e são eles: Princípio da Preservação da empresa; da Separação dos conceitos de
Empresa e de Empresário; da Recuperação das sociedades e empresários recuperáveis, da
Retirada do mercado de sociedades ou empresários não recuperáveis; da Proteção aos
trabalhadores, da Redução do custo do crédito no Brasil; da Celeridade e eficiência dos
processos judiciais; da Segurança Jurídica; da Participação ativa dos credores, da Maximização
do valor dos ativos do falido; da Desburocratização da recuperação de microempresas e
empresas de pequeno porte (EPP) e do Rigor na punição de Crimes Falimentares à Recuperação
Judicial.
Assim, com esse embasamento principiológico, foi possível estabelecer condições para
o conteúdo da nova Lei, ora em análise, no sentido de ser efetivado os objetivos pretendidos,
com a ressalva de que o atendimento de todos os enunciados propiciou, na prática, conflitos
entre alguns deles. A proporcionalidade aqui foi alcançada na superação desses conflitos, pelo
maior alcance e pela busca do equilíbrio aplicados nas modificações da redação aprovada pelo
Senado Federal. Quanto aos eventuais conflitos na utilização dos aludidos princípios, o Relator
Senador Ramez Tebet (PMDB) assinalou com propriedade o esclarecimento necessário para
permitir a evolução das discussões e propostas de alteração no texto, ao asseverar que nesses
casos é necessário sopesar as possíveis consequências sociais e econômicas e buscar o ponto
de conciliação, a configuração mais justa e que represente o máximo benefício possível à
sociedade.
Além disso, deve ser destacado que o novo direcionamento para o sistema falimentar
brasileiro trazido pela Lei nº 11.101/05 há muito já era idealizado e proposto pelos mais ilustres
doutrinadores, que defendiam uma legislação capaz de gerar progresso econômico e social,
reestruturando as empresas em crise e não as liquidando. Já em 1974, Rubens Requião44
44
Cf. REQUIÃO, Rubens. Ob. Cit. São Paulo: Editora Saraiva, 1998, p. 249.
51
alertava para a necessidade de transformações que garantissem aos credores a par condicio
creditorum45, mas que, principalmente, trouxessem mecanismos de sobrevivência da empresa,
em prol do interesse social e dos próprios credores da empresa. Dessa forma, o enfoque legal
passaria das causas da falência ou dos bens que responderiam pelo passivo para as
possibilidades de recuperação da empresa. Rubens Requião entendia que:
[…] o escopo final do instituto falimentar não é outorgar ao Estado a função
de assegurar a realização da par condicio creditorum entre os credores, como
sustentava o pensamento clássico. Mais do que a igualdade entre os credores
na liquidação falimentar do patrimônio do devedor, muito mais do que a
segurança do crédito – pontos de vista respeitáveis na doutrina antiga -, é o
saneamento da atividade empresarial que constitui a finalidade primeira
do instituto da falência, nas concepções modernas de atuação judicial do
Estado.46 (grifo nosso)
Em 1991, ante a crise econômica que assolava o mundial, o Brasil teve seu crescimento
freado, de modo que constatamos que o caminho para erguer nosso país era aquele que evitasse
a falência e preservasse as empresas e empresários, como fonte geradora de renda, emprego,
impostos e divisas. A manutenção dos postos de trabalho asseguraria o poder de compra da
população, movimentando a economia nacional e pondo fim à crise.
Todavia, o mecanismo consagrado pelo diploma falimentar anterior – a concordata –
havia passado a funcionar como ato preparatório da falência, utilizado pelo empresário de má-
fé para protelar a declaração de “quebra” e conseguir tempo para desviar bens e fraudar
credores. Entendemos que quando uma empresa está precisando de ajuda para uma eficaz
administração econômica devido a problemas financeiros ou, por outro lado, quando passa por
dificuldades gerenciais em virtude da sucessão de controlador ou de incompatibilidade entre
sócios, ou mesmo as técnicas de aquisição e fusão, que em inglês literalmente significa “união
de risco”, a ajuda na sua recuperação por procedimentos próprios, apontam para a saída para a
crise. Quando esse empresário não pode mais se autofinanciar, quer pelo aporte de recursos dos
próprios sócios, quer pela capitalização através de novas ações ou debêntures; quando uma
empresa não mais consegue financiamento bancário, por representar um grande risco, somente
o auxílio estatal pode salvá-la e novos mecanismos foram criados para essa administração
45
Nota do Autor: É o princípio que informa o direito falimentar buscando posicionar de forma privilegiada alguns
tipos de crédito, dar eficácia às garantias legais e contratuais e dispensar tratamento igualitário aos credores da
mesma posição.
46
REQUIÃO, Rubens. Ob. Cit. São Paulo: Editora Saraiva, 1998, p. 250.
52
47
Art. 141. Na alienação conjunta ou separada de ativos, inclusive da empresa ou de suas filiais, promovida sob
qualquer das modalidades de que trata este artigo:
[...]
II – o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do
devedor, inclusive as de natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes de acidentes
de trabalho.
(BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 (Lei de Falências). Fonte: Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm>. Acesso em: 15.jan.2020).
48
Art. 168. O direito de pleitear a restituição extingue-se com o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados:
I - nas hipótese dos incisos I e II do artigo 165, da data da extinção do crédito tributário;
(BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional). Fonte: Planalto. Disponível
em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 15.jan.2020).
53
Foi acrescentado, ainda, com a edição daquela espécie legislativa, os parágrafos 1º, 2º e
3º ao Art. 133, do Código Tributário Nacional49, estipulando novas regras sobre empresas em
processo de falência ou de recuperação judicial. Com estas alterações o investidor terá mais
segurança para adquirir ativos de determinada sociedade em alienação judicial, sem que possa
ser, futuramente, responsabilizado por dívidas fiscais existentes. A negociação que ocorre no
âmbito da recuperação judicial ou falência não se vislumbra em relação aos créditos de
titularidade do Estado, que não pode por em risco seu crédito. Nesse contexto, a Lei
Complementar nº 118/05 incluiu os Arts. 191 e 191-A, ambos no Código Tributário Nacional,
que assim estabelecem:
Art. 191. A extinção das obrigações do falido requer prova de quitação de
todos os tributos.
Art. 191-A. A concessão de recuperação judicial depende da apresentação da
prova de quitação de todos os tributos, observado o disposto nos artigos.151,
205 e 206 desta Lei.
Não obstante ser inconteste a importância evolutiva que podemos atribuir a essas novas
regras e meios de favorecimento ao reerguimento do empresário e sociedade empresária em
crise, as modificações que tornaram a Lei nº 11.101/05 deveras inovadora se referem aos
institutos da Recuperação Judicial e da Recuperação Extrajudicial de empresas, sendo aquela
tratada de maneira mais detida nos próximos capítulos do presente trabalho.
49
Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título, fundo de
comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a
mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo ou
estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato:
[...]
§ 1º O disposto no caput deste artigo não se aplica na hipótese de alienação judicial:
I – em processo de falência;
II – de filial ou unidade produtiva isolada, em processo de recuperação judicial.
§ 2º Não se aplica o disposto no § 1º deste artigo quando o adquirente for:
I – sócio da sociedade falida ou em recuperação judicial, ou sociedade controlada pelo devedor falido ou em
recuperação judicial;
II – parente, em linha reta ou colateral até o 4º (quarto) grau, consanguíneo ou afim, do devedor falido ou em
recuperação judicial ou de qualquer de seus sócios; ou
III – identificado como agente do falido ou do devedor em recuperação judicial com o objetivo de fraudar a
sucessão tributária.
§ 3º Em processo da falência, o produto da alienação judicial de empresa, filial ou unidade produtiva isolada
permanecerá em conta de depósito à disposição do juízo de falência pelo prazo de 1 (um) ano, contado da data de
alienação, somente podendo ser utilizado para o pagamento de créditos extraconcursais ou de créditos que
preferem ao tributário.
(BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional). Fonte: Planalto. Disponível
em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 15.jan.2020).
54
Usam como fundamento legal do pedido o Art. 52, da Lei nº 11.101/05, seguindo o seu
tramite regular que será aceito quando concedida a recuperação judicial. Como consequências
logicas e teleológicas dos pedidos e causas de pedir, pelo rito identificado, pedem ainda a
nomeação do Administrador judicial, a dispensa de apresentação de certidões negativas naquele
sentido de que as recuperandas exerçam suas atividades (incluindo certidão negativa de débitos
referentes as receitas administradas pela ANATEL e certidão negativa de distribuição de
pedidos de falência e recuperação judicial), além da suspensão de todas as ações e execuções
existentes contra as autoras do pedido e intimações de praxe.
Por esse motivo o Administrador Judicial recebe o pedido feito pela Anatel como
divergência de crédito em sede de recuperação judicial. Antes, porém, de passar ao exame das
questões de fundo, referido administrador deixa claro sua posição sobre a possibilidade de
submeter créditos não-tributários à recuperação judicial. Começa essa posição explicando que,
na Recuperação Judicial do Grupo OI, existem diversos órgãos públicos titulares de créditos
relacionados e que não se insurgiram quanto a isso. Cita, por exemplo, diversos Municípios,
Estados e autarquias federais e estaduais, além, é claro, dos Estados Federativos membros.
Assim, deixa claro que existem credores públicos que não discordam da presença do seu nome
no rol de credores do Grupo OI, isto é, credores públicos que entendem que o crédito não-
tributário pode e deve ser submetido ao processo de recuperação. Fato é que o administrador
judicial desse caso já decide antecipadamente que esses credores públicos têm razão. Com isso,
já́ se adianta em sua posição de que sim, o crédito não-tributário pode e deve ser submetido ao
processo de recuperação.
A alegada impossibilidade de transigir ou de participar de assembleia-geral de credores,
afirma o Administrador Judicial, é uma questão interna da ANATEL e deixa à agência a
competência de resolver a questão. Uma vez submetido, bem entendido, por força de lei, o
crédito público ao processo de recuperação judicial, em que a transação é inerente, cumpre ao
respectivo órgão tomar as providências devidas para tal fim. É um assunto que extrapola a
esfera do processo de recuperação e que não é levado em consideração pelo administrador nesse
56
processo. Dessa forma, continua o parecer, cabe ao Estado preparar-se para essa nova realidade,
pois o processo de recuperação pressupõe a transigência em relação a todos os credores
submetidos, posição com a qual concordamos.
57
50
Art. 187. A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de credores ou habilitação em falência,
recuperação judicial, concordata, inventário ou arrolamento.
Parágrafo único. O concurso de preferência somente se verifica entre pessoas jurídicas de direito público, na
seguinte ordem:
I - União;
II - Estados, Distrito Federal e Territórios, conjuntamente e pró rata;
III - Municípios, conjuntamente e pró rata.
(BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional). Fonte: Planalto. Disponível
em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 15.jan.2020).
58
51
ARRUDA, Pablo Gonçalves e. A Trava Bancária na Recuperação Judicial. In: Migalhas (04.dez.2015).
Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/depeso/268578/a-sujeicao-ou-nao-de-creditos-iliquidos-a-
recuperacao-judicial-e-os-poderes-politicos-dos-credores>. Acesso em: 17.jul.2017.
59
cambiário, contanto que tenha nascido por fato anterior ao pedido de recuperação, pouco
importando que eventual sentença condenatória seja posterior ao pedido”52.
52
AYOUB, Luiz Roberto; CAVALLI, Cássio. A Construção Jurisprudencial da Recuperação Judicial de
Empresas. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2017, p.37.
60
recuperação judicial dos créditos decorrentes da cessão fiduciária de direitos creditórios futuros
oferecidos em garantia na obtenção de empréstimos bancários. O cerne da questão está na
operação de mútuo bancário garantida pela comumente chamada “trava bancária”, utilizada
maciçamente pelas instituições financeiras, assunto de grandes debates, por hora deixados de
lado pois fora de nosso escopo.
53
Cf. COELHO, Fábio Ulhôa. Ob. Cit. São Paulo: Editora Saraiva, 2008.
62
prevalência dos interesses daqueles credores de maior volume creditório em detrimento dos
demais, o que é evitado pelo atual sistema, considerando que o plano deve ser aprovado em
todas as classes – ressalvada a hipótese de “cram down”54.
O que queremos dizer é que os interesses de um credor com garantia real, por exemplo,
nem sempre são conciliáveis com os de um credor quirografário, principalmente se for
considerado que no caso de falência este provavelmente não receberá seu crédito e, por isso,
tende a se comportar de maneira mais maleável durante as deliberações assembleares. Dessa
forma, caso os credores não fossem divididos em classes e um credor com garantia real
detivesse crédito expressivo na recuperação, a aprovação do plano seria mais difícil,
prejudicando o interesse de outros credores, para os quais a falência não seria interessante.
Considerando a coerente finalidade desta distribuição de credores, parta da doutrina,
encabeçada por Fábio Ulhôa Coelho55, desfere duras críticas à inclusão dos credores
quirografários e dos titulares de privilégios numa mesma classe. Segundo o autor, este credores
deveriam pertencer à mesma classe dos credores com garantia real, tendo em vista que possuem
preferência na falência que por ventura se siga e, por isso, tendem a ser menos receptivos à
alterações, novações ou renegociações de seus créditos no âmbito da recuperação judicial.
Vale ressaltar, por zelo, que a divisão da assembleia-geral de credores em classes é
medida que serve apenas ao momento do cômputo de votos. Isso posto, entendemos que durante
a deliberação sobre os temas que compõem a pauta da assembleia, qualquer credor e a qualquer
tempo possui direito a voz, ainda que a matéria discutida não deva ser votada pela classe de
credores à qual pertence e foi categorizado. Existem, ainda, aqueles créditos que, por
determinação legal, não se submetem aos efeitos da recuperação judicial, não se inserem no
concurso de credores para o recebimento do que lhes é devido. Esse crédito a doutrina
denominou “extraconcursal”.
54
Nota do Autor: Previsto pelo §1º, do artigo 58, da Lei nº 11.101/05, o instituto do “Cram Down” consiste em
uma faculdade dada ao juiz em aprovar o plano de recuperação judicial rejeitado por alguma classe de credores,
observados determinado requisitos formais que condicionam a atuação do magistrado
55
Cf. COELHO, Fábio Ulhôa. Ob. Cit. São Paulo: Editora Saraiva, 2008.
63
Alegou em preliminar que o juízo estadual é incompetente para decidir sobre a inclusão
e classificação do crédito da ANATEL, por ser ela um ente público federal. Em sede de
preliminar, a ANATEL levantou a questão da incompetência do Juízo da recuperação judicial,
a autarquia entende que é titular de crédito público federal. Afirma que: “há risco de que haja
pronunciamento judicial, no âmbito estadual, cujo teor pode rebaixar o crédito público federal,
devidamente inscrito em divida ativa e em processo de execução fiscal, a crédito
quirografário” e deduz, com respeito a entendimentos contrários, que nem a Justiça Estadual
nem a Justiça Federal podem rebaixar o crédito da ANATEL. A tanto não se equipara a
submissão a determinado regime jurídico, previsto em lei, que é o de que se cuida. O correto
enquadramento jurídico da questão pode e deve ser feito pela Justiça competente, que é a Justiça
Estadual.
A base legal da ANATEL, invocada em sua peça processual de contestação do crédito
em sede preliminar de competência, traz em seu bojo de sustentação o Art. 109, I, da
Constituição Federal56 e precedente do Sodalício Superior Tribunal de Justiça, que sustenta seja
aplicável à espécie. Não questiona a competência da Justiça Estadual na hipótese de falência;
rejeita-a para a recuperação judicial, “nos termos dos princípios da legalidade e da
indisponibilidade e do Art. 29, da Lei nº 6.830/1980 e Art. 6º, § 7º, da Lei nº 11.101/05”. A
competência, no entender da autarquia, é da Justiça Federal para julgar questões a respeito dos
seus créditos, a saber:
56
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de
autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça
Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
(BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Fonte: Planalto.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em:
20.nov.2018).
64
4 ANÁLISE CRÍTICA
Importante destacar que existiram, dentre as multas aplicadas, grande parte decorrem de
fiscalizações e descumprimento de obrigações para com a ANATEL. Além disso existem
valores decorrentes aos processos que se transformaram em Termos de Ajuste de Conduta –
TAC’s e, posteriormente, inseridos na lista de credores da referido processo de recuperação
judicial. Outrossim, durante o processo e as negociações para a aprovação do Plano de
Recuperação, a ANATEL declinou que os valores das multas inseridos na lista de credores,
fossem objeto de novo TAC, cujo objeto seria a conversão da dívida pública em investimentos
no setor de telecomunicações.
57
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico
e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas,
observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às
contribuições a que alude o dispositivo.
(BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Fonte: Planalto.
Disponível: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em:
20.nov.2018).
58
Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:
I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor,
e os decorrentes de acidentes de trabalho;
II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas
tributárias;
IV – créditos com privilégio especial, a saber:
a) os previstos no art. 964 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia;
d) aqueles em favor dos microempreendedores individuais e das microempresas e empresas de pequeno porte de
que trata a Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006;
V – créditos com privilégio geral, a saber:
a) os previstos no art. 965 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei;
c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
VI – créditos quirografários, a saber:
a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento;
c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do
caput deste artigo;
68
Judicial. Os credores que nunca participaram da gestão da empresa em recuperação judicial não
podem ser impactados em seu recebimento por créditos decorrente de multas, juros, encargos e
demais, eis que tais créditos públicos não têm natureza tributária.
Entendemos que os referidos créditos públicos são sujeitos aos efeitos da recuperação
judicial, devendo ser incluídos na lista de credores, na Classe III, dos credores quirografários.
Nesse caso, os pagamentos dos credores trabalhistas nunca seriam impactados por cobrança de
dívidas decorrentes de penalidade operada pelos administradores das empresas em recuperação
judicial.
VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as
multas tributárias;
VIII – créditos subordinados, a saber:
a) os assim previstos em lei ou em contrato;
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.
§ 1º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem objeto de garantia real a
importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do
bem individualmente considerado.
§ 2º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento de sua parcela do capital
social na liquidação da sociedade.
§ 3º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações neles estipuladas se
vencerem em virtude da falência.
§ 4º Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários.
(BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 (Lei de Falências). Fonte: Planalto. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm>. Acesso em: 10.fev.2020).
69
entende que o Poder Judiciário pode interferir nas decisões das assembleias para que promova
um controle quanto à licitude das providências59.
Entendemos então que o exercício pelo magistrado do controle de legalidade é de
significativa importância, pois, embora não haja possibilidade de manifestar-se acerca da
viabilidade econômica do devedor – constituindo uma limitação –, o responsável pela condução
do processo possui legitimidade para intervir e evitar possíveis fraudes e abusos de direitos no
plano de recuperação judicial – sendo esta uma competência.
59
O Sodalício Superior Tribunal de Justiça, em julgamento de Recurso Especial interposto por empresas que
incluíram cláusula no plano de recuperação judicial favorecendo parte dos sócios e prejudicando outros, durante a
realização de uma Assembleia Geral de Credores, assim definiu em conformidade ao voto da Senhora Ministra
Nancy Andrighi, de acordo com seu ementário:
RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. APROVAÇÃO DE PLANO PELA ASSEMBLEIA DE
CREDORES. INGERÊNCIA JUDICIAL. IMPOSSIBILIDADE. CONTROLE DE LEGALIDADE DAS
DISPOSIÇÕES DO PLANO. POSSIBILIDADE. RECURSO IMPROVIDO.
1. A assembleia de credores é soberana em suas decisões quanto aos planos de recuperação judicial. Contudo, as
deliberações desse plano estão sujeitas aos requisitos de validade dos atos jurídicos em geral, requisitos esses que
estão sujeitos a controle judicial.2. Recurso especial conhecido e não provido. [...]
(SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REsp. 1.314.209/SP (2012/0053130-7). Terceira Turma do Superior
Tribunal de Justiça. Rel. Min. Nancy Andrighi. Julgado em: 22/05/2012).
71
A ANATEL, por sua vez, invocou o disposto no Art. 109, I, da Constituição Federal,
para tentar estabelecer a competência do juízo federal para processamento e julgamento do seu
pedido quanto ao crédito em face do Grupo OI.
E, como não há expressa menção à recuperação judicial como exceção à regra
constitucional de competência, o Grupo OI argumentou que a Justiça Federal conservaria
competência para julgar disputas relacionadas a seu crédito. Invocou também o disposto no Art.
29, da Lei 6.830/80 e o Art. 6º, § 7º, da Lei 11.101/05. Em que pese a argumentação da
ANATEL, o Administrador Judicial entendeu que é do juiz da recuperação judicial, isto é, o
juiz estadual, a competência para disputas relacionadas a multas administrativas e, por
consequência, do crédito da ANATEL.
Para reconhecer a competência do juízo estadual, o Administrador Judicial invocou o
precedente o acórdão emanado do Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, nos autos do
Agravo de Instrumento nº 670.247.4/3-00, proferido pelo Rel. Des. Manoel Queiroz Pereira
Calças, da Câmara Reservada à Falência e Recuperação, em 26/01/2010, e que teve votação
unânime no seguinte sentido:
Cumpre ressaltar inicialmente que a competência do Juízo (Estadual) da
Recuperação Judicial para apreciar os atos emanados de autoridades federais
que atinjam empresas em recuperação decorre do art. 109, inciso I, da
Constituição Federal”. É que, consoante anotou o Des. Pereira Calças,
"Apesar de a Carta Federal excepcionar a competência da justiça federal nas
ações em que a União ou autarquia federal sejam partes ou interessadas
quando se tratar de falência, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e
do Superior Tribunal de Justiça tem entendido que, em se tratando de
recuperação judicial, instituto criado pela Lei n" 11.101/2005, que revogou a
antiga Lei de Falências (Decreto-lei n° 7.661/45), que também tem natureza
de concurso de credores, deve-se centralizar no Juízo da Recuperação Judicial
a competência para as decisões que interfiram no cumprimento e na execução
do plano de recuperação.” Ademais, "União Federal e Anac devem cumprir o
princípio constitucional da preservação da empresa que decorre da função
social da empresa (art. 170, III, CF).
julgado em 12/08/2015, com o Ministro João Otávio de Noronha como Relator, em votação
unânime que assim decidiu:
Os valores quantificados em procedimento administrativo perante órgão
regulador da atividade econômica da empresa, geralmente derivados de
obrigações anteriores à data do pedido de recuperação judicial, quando objeto
de liquidação, devem ser recebidos dentro do procedimento recuperatório em
igualdade com todos aqueles oriundos de credores da mesma espécie.
Por fim, no caso do Grupo OI, o Administrador Judicial competente remeteu ao disposto
no Art. 45, I, do Código de Processo Civil que trazemos aqui para melhor enquadramento do
tema vergastado:
Art. 45. Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos
ao juízo federal competente se nele intervier a União, suas empresas públicas,
entidades autárquicas e fundações, ou conselho de fiscalização de atividade
profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, exceto as
ações:
I - de recuperação judicial, falência, insolvência civil e acidente de trabalho;
74
Nunca é demais nos atentarmos para a natureza jurídica dos tributos, para, a partir daí,
reconhecermos, entendermos e classificarmos determinados atos, fatos e negócios jurídicos.
Assim, a título de esclarecimento, os tributos são valores devidos aos entes públicos,
constituídos em lei, por força dos Arts. 145, 146, 148, 149, 150 e 154, todos da Constituição
Federal. Tais dispositivos constitucionais, regulados pela Lei nº 5.172/1966 (recebida com
manto de Lei Complementar), determina, com a mais absoluta clareza, o que é tributo, bem
como o diferencia dos encargos cuja natureza jurídica não são tributárias, por exemplo as
multas, conforme predispõe o Art. 3º, do Código Tributário Nacional.
Por sua vez, os demais encargos acessórios cobrados, serão cobrados dos contribuintes
(sujeitos passivos da relação tributária) caso os tributos em si não sejam pagos na data aprazada
e prevista em lei específica. Tais encargos, quaisquer que sejam, multa, juros, correções
monetárias e etc., não possuem natureza tributária, eis que somente existem em razão do
descumprimento da obrigação tributária principal, que é justamente o pagamento do tributo,
que incide somente sobre fatos fenomênicos que não sejam constituídos por atos ilícitos.
Portanto, os Tributos, em regras gerais, não estão sujeitos aos efeitos de uma Recuperação
Judicial, conforme previsão legal conscrita nos Arts. 186, 187, 188, todos do Código Tributário
Nacional e Arts. 29 e 31, ambos da Lei de Execuções Fiscais, porém todos os valores acessórios,
75
devidos por atos ilícitos, como por exemplo a falta de pagamento do próprio tributo, estão
sujeitos aos efeitos do processo recuperacional ou falimentar.
Contudo, observamos contradição no próprio Código Tributário, eis que, em seu Art.
133, §§ 1º, 2º e 3º, fica clara a participação e a submissão do crédito tributário aos efeitos do
Plano de Recuperação Judicial aprovado, posto que o resultado da venda de ativos (Unidade
Produtiva Isolada, contida no Art. 60, da Lei nº 11.101/05), pois a Fazenda Pública somente
terá seu crédito extinto pelo pagamento após o pagamento de créditos extraconcursais e
daqueles que preferem ao tributário.
Assim, uma vez que os referidos créditos públicos não têm natureza tributária, devem
ser incluídos na lista de credores de uma recuperação judicial na classe dos créditos
quirografários e, por sua vez, serem pagos na forma do Plano de Recuperação Judicial aprovado
em assembleia-geral de credores. Os mesmos argumentos utilizados para inclusão dos créditos
públicos decorrentes de penalidades e demais encargos, desde que não sejam tributos, conforme
depreende-se do Art. 83, VII, da Lei nº 11.101/5, deve ser aplicada aos casos atinentes à
Recuperação Judicial.
Veja-se ainda que os credores que nunca participaram da gestão da empresa em
recuperação judicial não podem ser impactados em seu recebimento por créditos decorrente de
multas, juros, encargos e etc., eis que tais créditos públicos não têm natureza tributária.
Entendemos que os referidos créditos públicos são sujeitos aos efeitos da recuperação
judicial, devendo ser incluídos na lista de credores, na Classe III, dos credores quirografários.
Nesse caso, os pagamentos dos credores trabalhistas nunca seriam impactados por cobrança de
dívidas decorrentes de penalidade operada pelos administradores das empresas em recuperação
judicial.
Dívida ativa é composta pelo valor do tributo devido, bem como da correção monetária,
multa, juros e demais encargos previstos em lei ou contrato. Importante observar que em toda
a norma constante da Lei nº 6830/1980 (Lei de Execução Fiscal), que regula a cobrança judicial
dos tributos e seus encargos, sempre há, para fins de cobrança, a divisão entre tributos e os
demais encargos, cuja natureza jurídica não é de tributo, conforme Art. 2º, §§ 2º e 5º, II, Art.
8º, Art. 9º, Art. 19, II e Art. 34, § 1º, todos de referida lei:
Art. 2º - Constitui Dívida Ativa da Fazenda Pública aquela definida como
tributária ou não tributária na Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, com as
76
Da simples leitura dos dispositivos acima, sempre que temos uma Dívida Ativa, o
legislador separa, claramente, o tributo dos demais encargos, comprovando, mais uma vez que
o tributo não tem a mesma natureza jurídica dos demais encargos cobrados na mesma Dívida
Ativa!
O crédito exigido pela ANATEL no caso da Recuperação Judicial do Grupo OI é
realmente e como no mais das vezes, é composto de verbas mistas como assevera o
Administrador Judicial, sendo que cada uma delas possui uma natureza jurídica própria.
Examinar o mérito do protesto trazido pela ANATEL exige a interpretação conjugada e
sistêmica de várias normas. Assim, apresentamos a seguir as naturezas jurídicas específicas
de cada verba trazida à tona pela questão da ANATEL.
77
a. CRÉDITO TRIBUTÁRIO
60
Súmula 565/STF
A multa fiscal moratória constitui pena administrativa, não se incluindo no crédito habilitado em falência.
78
Assevera referido Administrador Judicial que o mesmo ocorreu com a inclusão dos
créditos decorrentes do encargo legal a que se refere o Art. 1º, do Decreto-Lei 1.025/6961 e, no
caso da ANATEL, o Art. 37-A, § 1º, que substituiu a condenação do devedor em honorários
advocatícios, decorrentes do exercício das cobranças de dívidas da autarquia.
Ora, não estamos, então, diante de um tributo cujas hipóteses estão previstas no Art.
145, da Constituição Federal de 1988. Nem mesmo de taxa, porque esta pressupõe o exercício
do poder de polícia ou a utilização de serviços prestados em benefício do contribuinte. Já a
cobrança do encargo legal decorre de um serviço prestado no interesse exclusivo da arrecadação
tributária. Assim, trata-se de crédito igualmente sujeito ao processo de recuperação judicial e
que deve figurar na classe de créditos quirografários, não dos trabalhistas, pois não tem por
destinatários diretos os servidores, mas um fundo, cuja função é fazer face não apenas a
honorários advocatícios, mas a despesas diversas decorrentes das atividades exercidas por
servidores que integram as carreiras jurídicas da União, suas autarquias e fundações, como já
foi reconhecido pelo Sodalício Superior Tribunal de Justiça em termos de Recursos Repetitivos
e de Repercussão Geral62.
Mais uma vez a questão que vem à tona aqui versa sobre quando o crédito tributário
inadimplido é acrescido de multa. No caso, o crédito titularizado pela ANATEL, nascido da
multa moratória, não ostenta a mesma natureza jurídica tributária da obrigação principal. A
61
Art. 1º É declarada extinta a participação de servidores públicos na cobrança da Dívida da União, a que se
referem os artigos 21 da Lei nº 4.439, de 27 de outubro de 1964, e 1º, inciso II, da Lei nº 5.421, de 25 de abril de
1968, passando a taxa, no total de 20% (vinte por cento), paga pelo executado, a ser recolhida aos cofres públicos,
como renda da União. (Vide Decreto-lei nº 1.407, de 1975) (Vide Decreto-lei nº 1.569, de 1977) (Vide Decreto-
lei nº 1.645, de 1978) (Vide Decreto-lei nº 1.893, de 1981) (Vide Decreto-lei nº 2.163, de 1984) (Vide Decreto-lei
nº 2.331, de 1987) (Vide Lei nº 7.450, de 1985).
(BRASIL. Decreto-Lei nº 1.025, de 21 de outubro de 1969. Fonte: Planalto. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1025.htm>. Acesso em: 15.mai.2019).
62
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL.
ENCARGO DE 20% PREVISTO NO DECRETO-LEI 1.025/69. MASSA FALIDA. EXIGIBILIDADE.
PRECEDENTES DA PRIMEIRA SEÇÃO. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO
543-C DO CPC E RESOLUÇÃO 8/STJ.
1. Hipótese em que se discute a exigibilidade do encargo de 20% previsto no Decreto-Lei 1.025/69 nas execuções
fiscais propostas contra massa falida, tendo em vista o disposto no artigo 208, § 2º, da antiga Lei de Falências,
segundo o qual "A massa não pagará custas a advogados dos credores e do falido".
2. A Primeira Seção consolidou entendimento no sentido de que o encargo de 20%, imposto pelo artigo 1º do
Decreto-Lei 1.025/69 pode ser exigido da massa falida. Precedentes: EREsp 668.253/PR, Rel. Ministro Herman
Benjamin; EREsp 466.301/PR, Rel. Ministro Humberto Martins; EREsp 637.943/PR, Rel. Ministro Castro Meira
e EREsp 448.115/PR, Rel. Ministro José Delgado.
3. Recurso afetado à Seção, por ser representativo de controvérsia, submetido ao regime do artigo 543-C do CPC
e da Resolução 8/STJ.
4. Recurso especial provido.
(SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REsp. nº 1.110.924/SP (2009/0016196-2). Primeiro Turma do Superior
Tribunal de Justiça. Rel. Min. Benedito Gonçalves. Julgado em: 10/06/2009).
79
Esse entendimento era e ainda é válido para as falências decretadas sob a égide do
Decreto- Lei 7.661/45, que excluía, do processo falimentar, as “penas pecuniárias por infração
das leis penais e administrativas”. A discussão que se estabeleceu foi sobre a natureza jurídica
da multa decorrente do inadimplemento de tributo, discussão essa que foi pacificada com a
edição da Súmula 565, do Pretório Excelso acima citada.
Com a entrada em vigor da Lei nº 11.101/05, essas multas passaram, expressamente, a
ser incluídas no passivo falimentar, conforme o já descrito Art. 83, VII, da Lei 11.101/05.
Notamos aqui que a nossa lei concursal vigente discrimina, claramente, o crédito tributário que
é a obrigação principal da multa por inadimplemento, que está abaixo dos créditos
quirografários. Foi respeitada, evidentemente, a natureza jurídica dessa multa, estabelecida na
Súmula 565/STF, jurisprudência essa que cristalizou a noção de que multa por não-pagamento
de imposto não tem caráter tributário. A multa é, portanto, de diversa natureza jurídica, externa
e posterior à obrigação tributária e ao fato gerador.
A discussão sobre o caráter punitivo ou indenizatório da multa moratória não exerce,
atualmente, influência sobre a natureza do crédito dela decorrente. Essa discussão só tinha
relevância na vigência do Decreto-Lei nº 7.661/45, que excluía, da falência, o crédito que
representasse pena pecuniária por infração da lei administrativa, conforme dispunha o Art. 23,
80
parágrafo único, III63. Saber, então, se a multa tributária tinha caráter punitivo era relevante.
Agora, não é mais.
Vale consignar, apenas, que a lei dispensou, à multa, o mesmo tratamento processual
dado ao crédito tributário, não equiparando de forma alguma, substancialmente, crédito de
multa com crédito de tributo. Não houve, enfim, alteração da natureza jurídica da multa por
infração à obrigação tributária, seja na vigência da Constituição Federal de 1988, seja na
vigência da Lei nº 11.101/05. O que se deu, na lei vigente, foi, apenas, a expressa inclusão da
multa no passivo falimentar, o que antes estava excluído. Dada a natureza não tributária da
multa punitiva, à luz do quanto exposto, tem-se que crédito dessa natureza está submetido ao
processo de recuperação judicial.
63
Art. 23. Ao juízo da falência devem concorrer todos os credores do devedor comum, comerciais ou civis,
alegando e provando os seus direitos.
Parágrafo único. Não podem ser reclamados na falência:
[...]
III - as penas pecuniárias por infração das leis penais e administrativas.
(BRASIL. Decreto-Lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945 (Lei de Falências). Fonte: Planalto. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del7661impressao.htm>. Acesso em: 05.nov.2018).
81
64
BRASIL. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Fonte: Planalto. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm>. Acesso em: 05.nov.2018.
82
65
XAVIER, Alberto. Do Lançamento: Teoria Geral do Ato, do Procedimento e do Processo Tributário. Rio
de Janeiro: Editora Forense, 1997, p. 403.
66
Cf. PORTELLA, André. Comentários ao Código Tributário Nacional. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008,
p. 503.
Cf. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de Execução Fiscal. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 37.
83
Nesse sentido e como muito bem colocou o Administrador Judicial do Grupo OI, a
justificativa na distinção pretendida pela ANATEL sobre o crédito integrar ou não a dívida
ativa, sendo esta apenas um instrumento de organização financeira dos entes públicos que,
inclusive, contempla a distinção entre créditos tributários ou não tributários.
Não é o fato de estar ou não inscrito em dívida ativa que torna o crédito negociável ou
não, sujeito ou não à recuperação judicial. É, antes, a natureza do crédito público: se tributário
ou não. Tanto assim que o Art. 38, parágrafo único, da Lei de Mediação67, cujo inciso I a própria
ANATEL invoca para justificar a tese da intransigibilidade de créditos inscritos na dívida ativa
prevê as competências como, por exemplo, justamente a de "desistir, transigir, acordar e firmar
compromisso nas ações de interesse da União, nos termos da legislação vigente".
Por esses motivos, os créditos de natureza não-tributária participam e não podem ser
excluídos, ao menos com o fundamento da ANATEL, da recuperação judicial, e seguem na
mesma linha os precedentes do Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo68. AI 2207236-
67
Art. 38. Nos casos em que a controvérsia jurídica seja relativa a tributos administrados pela Secretaria da Receita
Federal do Brasil ou a créditos inscritos em dívida ativa da União:
I - não se aplicam as disposições dos incisos II e III do caput do art. 32;
II - as empresas públicas, sociedades de economia mista e suas subsidiárias que explorem atividade econômica de
produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços em regime de concorrência não poderão exercer
a faculdade prevista no art. 37;
III - quando forem partes as pessoas a que alude o caput do art. 36:
a) a submissão do conflito à composição extrajudicial pela Advocacia-Geral da União implica renúncia do direito
de recorrer ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais;
b) a redução ou o cancelamento do crédito dependerá de manifestação conjunta do Advogado-Geral da União e
do Ministro de Estado da Fazenda.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não afasta a competência do Advogado-Geral da União prevista nos
incisos VI, X e XI do art. 4º da Lei Complementar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993, e na Lei nº 9.469, de 10 de
julho de 1997.
(BRASIL. Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015 (Código de Processo Civil). Fonte: Planalto. Disponível:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13140.htm>. Acesso em: 20/11/2018).
68
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. Indeferimento de pedido para que os créditos decorrentes das multas
administrativas sejam habilitados no processo de recuperação. Multa administrativa aplicada pelo PROCON.
Natureza não-tributária. Inteligência do artigo 49 da Lei n. 11.101/05. Inaplicabilidade da restrição do artigo 187
do CTN. Possibilidade de prosseguimento da recuperação com a habilitação dos créditos do PROCON. Recurso
provido.
84
INDENIZAÇÃO
Execução fiscal também pode cobrar crédito decorrente de indenização; como nada a
respeito será encontrado no Código Tributário Nacional, tem-se que se trata de crédito
submetido ao processo de recuperação, pois a suspensão não se operará. O artigo 6º, § 7º, da
Lei 11.101/05 é claramente endereçado às execuções fiscais destinadas à cobrança de tributo,
somente, que não são suspensas. Por elementar interpretação a contrário sensu, que se afeiçoa,
por sua vez, com o comando oriundo da Lei Complementar que é o Código Tributário Nacional,
suspendem-se as execuções fiscais destinadas à cobrança da dívida ativa não tributária. E a
razão da suspensão é uma só́ : a dívida ativa não tributária submete-se ao processo de
recuperação judicial.
É importante considerar, neste ponto, que o instrumento utilizado pela Fazenda Pública
para cobrar em juízo o seu crédito, que é a execução fiscal, ou seja, uma execução por quantia
certa contra devedor solvente com algumas particularidades procedimentais, não é o fator
estruturante de sua posição jurídica. A ferramenta processual denominada execução fiscal, nada
ou pouco diz sobre a situação do crédito público na recuperação judicial. E não é à toa que a
jurisprudência vem reconhecendo a submissão do crédito não tributário da Fazenda Pública ao
processo de recuperação judicial. O Tribunal de Justiça de São Paulo reconheceu a submissão
de multa administrativa, por descumprimento da legislação sanitária, ao processo de
recuperação judicial.
Como se sabe, nos termos do Art. 39, § 2º, da Lei nº 4.320/1964, os créditos inscritos
em dívida ativa podem ser tributários ou não. Os créditos tributários constituem a Dívida Ativa
Tributária e abrangem os tributos, adicionais e multas. Os créditos que não sejam tributários
formam a Dívida Ativa não-Tributária.
Nessa linha de raciocínio e considerando que a natureza do crédito se sujeita à
recuperação judicial, nos termos do Art. 49, da Lei nº 11.101/2005, não se enquadra o caso em
tela na exceção prevista nos §§ 3º e 4º, desse mesmo artigo.
Foi decisiva, para a conclusão do v. acordão, a natureza jurídica do crédito, já tratada
no capítulo anterior, que é o critério necessário e suficiente para o bom desfecho da
controvérsia. As proclamadas garantias e privilégios do crédito tributário, que procuram
86
assegurar a sua satisfação, não têm o condão de alterar a natureza jurídica do crédito público.
É o próprio Código Tributário Nacional que assim estatui, conforme seu Art. 18372.
O precedente acima referido, que admite a submissão do crédito não tributário ao
processo de recuperação judicial, segue exatamente o critério preconizado pelo Código
Tributário Nacional, de que a natureza jurídica do crédito é inalterável. Ainda que com
argumentação distinta, mas em essência idêntica, e igualmente correta, isto é, levando em
consideração a natureza do crédito, a partir do exame do Art. 83, VII, da Lei nº 11.101/05, já
tendo decidido o Tribunal de Justiça de São Paulo sobre o assunto73, ao verificar que a natureza
do crédito relativo a multa titularizada pelo ente público e, então, reconheceu a submissão ao
processo de recuperação judicial.
Voltemos, então, ao Art. 187, do Código Tributário Nacional, inspiração do Art. 29, da
Lei 6.830/80. Apesar de pretender ser norma protetiva da Fazenda Pública, pois quer afastar o
crédito tributário dos processos concursais, autorizando o prosseguimento da execução fiscal
contra entidade em recuperação judicial ou falida, essa proteção já foi alvo de acomodação
jurisprudencial importante, que cumpre destacar. Com efeito, a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça é firme no entendimento de que a falência superveniente do devedor não
tem o condão de paralisar o processo de execução fiscal, nem de desconstituir a penhora
realizada anteriormente à quebra. Outrossim, o produto da alienação judicial dos bens
penhorados deve ser repassado ao Juízo universal da falência para apuração das preferências.
E assim de fato o é, segundo a jurisprudência consolidada do STJ, pouco ou nenhum
significado prático tem o tal privilégio instituído pelo Código Tributário Nacional e reproduzido
na Lei de Execução Fiscal. O prosseguimento da execução fiscal não resulta em seu benefício,
senão que, sendo o produto entregue ao juízo universal, o montante servirá para pagar os
credores trabalhistas e eventuais credores extraconcursais; essa era a antiga proposta de Rubens
72
Art. 183. A enumeração das garantias atribuídas neste Capítulo ao crédito tributário não exclui outras que sejam
expressamente previstas em lei, em função da natureza ou das características do tributo a que se refiram.
Parágrafo único. A natureza das garantias atribuídas ao crédito tributário não altera a natureza deste nem a da
obrigação tributária a que corresponda.
(BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional). Fonte: Planalto. Disponível
em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 22.dez.2019).
73
AGRAVO DE INSTRUMENTO – Recuperação Judicial – Multa administrativa – Decisão que classifica o
crédito como extraconcursal – Pretensão das recuperandas à sujeição a recuperação judicial – Cabimento (LREF,
art. 83, VII) – Decisão singular reformada – Agravo provido neste ponto.
AGRAVO DE INSTRUMENTO – Recuperação Judicial – Multa administrativa – Decisão que classifica o crédito
como extraconcursal – Divergência quanto aos valores – Ausência de análise no Juízo Singular – Determinação
de verificação na origem para evitar supressão de instância.
(TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. AI 2047000-40.2015.8.26.0000. 2ª Câmara Reservada de Direito
Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo. Rel. Des. Ricardo Negrão. Julgado em: 17/02/2016).
87
Requião, que acabou por se consagrar na jurisprudência. Exatamente por isso a doutrina explica
que:
[...] deva haver habitação do crédito cobrado na execução fiscal naquele juízo,
para que se proceda à sua classificação, sob pena de tal crédito não ser
satisfeito quando da realização dos pagamentos. A necessidade da habilitação
decorre justamente da obrigação de entrega do produto arrecadado ao juízo
falimentar, para que sejam observadas as preferências legais.74
74
ALVES, Renato de Oliveira. Execução Fiscal - Comentários à Lei 6.830/80. Belo Horizonte: Editora Del Rey,
2008, p. 224.
75
Art. 191-A. A concessão de recuperação judicial depende da apresentação da prova de quitação de todos os
tributos, observado o disposto nos arts. 151, 205 e 206 desta Lei.
(BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional). Fonte: Planalto. Disponível
em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 15.mai.2019).
88
76
Art. 3º. Na cobrança executiva da Divida Ativa da União, a aplicação do encargo de que tratam o art. 21 da lei
no 4.439, de 27 de outubro de 1964, o art. 32 do Decreto-lei no 147, de 3 de fevereiro de 1967, o art. 1o, inciso II,
da Lei no 5.421, de 25 de abril de 1968, o art. 1o do Decreto-lei no 1.025, de 21 de outubro de 1969, e o art. 3o do
Decreto-lei no 1.569, de 8 de agosto de 1977, substitui a condenação do devedor em honorários de advogado e o
respectivo produto será́ , sob esse título, recolhido integralmente ao Tesouro Nacional. (Vide Decreto-lei no 1.893,
de 1981) (Vide Decreto-lei no 2.331, de 1987).
Parágrafo Único. O encargo de que trata este artigo será́ calculado sobre o montante do débito, inclusive multas,
monetariamente atualizado e acrescido dos juros de mora.
(BRASIL. Decreto-Lei nº 1.645, de 11 de dezembro de 1978. Fonte: Planalto. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/del1645.htm>. Acesso em: 15.dez.2019).
90
A norma em tela não inova, pois a jurisprudência, desde o antigo TRF, já entendia que
o encargo legal substitui os honorários advocatícios, e, nesse panorama, com diversas leis se
sucedendo no tempo, volta-se à questão central da análise deste crédito: qual a natureza jurídica
do encargo legal?. Nos parece realmente oscilante, a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, que ora vê̂, no encargo legal, o caráter tributário (ainda que com pouca clareza), e ora
o vê̂ como substitutivo de honorários de sucumbência, ou como receita de um Fundo Contábil.
Faremos, por amor à argumentação um exame breve das vertentes. O encargo legal não pode
ser tributo, não obstante o artigo 1o do Decreto-Lei 1.025/69 faça expressa referência a taxa, e
taxa, tal como prevista na Constituição Federal, pressupõe:
77
A doutrina afirma tal característica. Nesse sentido: “Daí afirmar-se que a taxa é a contraprestação de serviço
público, ou de benefício feito, posto à disposição, ou custeado pelo Estado em favor de quem a paga, ou por este”.
(BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1986, p. 325).
78
Neste sentido: “No caso dos impostos, o fato que desencadeia a aplicação da norma de incidência tributária é
necessariamente uma atividade realizada pelo contribuinte, sem que para tanto seja necessária a intervenção de
sujeitos ou entidades públicas. O contribuinte atua como um agente econômico, seja auferindo renda, detendo a
propriedade, comprando ou vendendo produtos, entre outros atos de mercado”. (PORTELA, André. Comentários
ao Código Tributário Nacional. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008, p. 59).
79
ATALIBA, Geraldo. Sistema Constitucional Tributário Brasileiro. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
1968, p. 139.
92
80
SEGUNDO, Hugo de Brito Machado. Código Tributário Nacional. Anotações à Constituição, ao Código
Tributário Nacional e as Leis Complementares 87/1996 e 116/2003. São Paulo: Atlas, 2009, p. 143.
81
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. AI 0060928-15.2003.8.26.0000. 11ª Câmara de Direito Privado
do Tribunal de Justiça de São Paulo (Extinto 1° TAC). Rel. Des. Urbano Ruiz. Julgado em 11/09/2003.
93
O custo administrativo com a inscrição na dívida ativa deve ser suportado pelos
impostos, e não pode ser cobrado do particular. A inconstitucionalidade dessa cobrança foi
notada há muito tempo. Todavia, o Administrador judicial, enquanto auxiliar do Juízo, no
âmbito de atividade administrativa, não goza da prerrogativa de deixar de aplicar a lei sob o
argumento da inconstitucionalidade. Por isso, na apreciação da divergência de crédito da
ANATEL, apesar da inconstitucionalidade, o Administrador Judicial entende que o crédito, a
título de encargo legal, deve ser incluído no passivo da recuperação judicial. Resta saber em
que classe deve ser alocado o respectivo crédito.
A ANATEL relaciona ainda outros créditos decorrentes de multa, em valores que ela
mesmo chama de “estimados”. Esses créditos, no valor total de R$ 4.583.085.046,45, decorrem,
diz a Agência, de multas em PADOS admitidos em TACs. Narra ainda a existência de
procedimentos recentes, que podem ensejar sanção pecuniária. As rubricas a esse título são: a)
qualidade, universalização e ampliação do acesso; b) direitos e garantias dos usuários (DGU);
c) interrupção; d) fiscalização e irregularidades técnicas. Desta feita, para as recuperandas, a
dívida relativa ao item “a” é de R$ 901.422.785,63, valor esse já́ incluído na declaração inicial.
Em relação aos demais itens, afirma que são objeto de tratativas, ainda não aprovadas pela
Diretoria da ANATEL. Reconhece apenas dois créditos, no valor, cada, um de R$ 50.629,60 e
outro de R$ 104.038,40, na posição de sucessora da Amazônia Celular Ltda. E, como são
créditos decorrentes de multas, aplica-se o entendimento exposto no item III.2 da manifestação
do Administrador Judicial. Entretanto, explica o administrador, é descabida a inclusão de
crédito ainda pendente de apuração, não obstante, pelo disposto no artigo 49 da Lei 11.11/05,
sejam créditos submetidos ao processo de recuperação judicial, pois nascidos antes da data da
distribuição do pedido de recuperação.
Retifico, portanto, o valor dado à presente impugnação para que passe a ser
R$ 4.559.656.053,12, diferença entre os R$ 15.653.029.720,25, montante que,
de acordo com a ANATEL, corresponde ao mínimo que lhe seria devido pelas
recuperandas, e os R$ 11.093.373.667,13 que constam do edital do AJ.
Ocorre que, ao mesmo tempo que estão sendo criados meios inovadores para o
adimplemento do passivo em cobro pelo Fisco, não sendo ainda possível de mensurar ainda sua
eficácia, estes meios também trazem maiores desconforto e preocupação a empresa celebrante,
como por exemplo, o previsto no inciso IV do §4º do artigo 10-A que altera a Lei 10.522 de
2020, prevê a faculdade de a Fazenda Nacional requerer a convolação em falência caso ocorra
o rompimento do parcelamento.
A situação acima abarcada traz duas grandes preocupações; a primeira é que a Lei nº
10.522 de 2020, refere-se apenas ao parcelamento no âmbito federal e por este motivo a
faculdade de pleitear a convolação em falência é unicamente e exclusiva da Fazenda Nacional,
82
COSTA, Daniel Canio. Comentários à Lei de Recuperação De Empresas E Falências. 1ª ed. – Curitiba:
Juruá, 2021.
97
a questão que paira é se após a criação pelos estados e municipalidades de lei que estabelece o
parcelamento especial para empresas a recuperação judicial, estas também poderão se assim
entenderem pleitear a convolação em falência da empresa recuperanda.
A segunda preocupação é no sentido de que, mesmo que a empresa esteja cumprindo
devidamente o plano de recuperação judicial se, por algum motivo, seja por falta de caixa ou
até se por um lapso deixar de adimplir com o parcelamento e este vier a romper, mesmo estando
em dia com as obrigações previstas na Lei de Recuperação Judicial e Falência, estará suscetível
a possível convolação em falência. Um exemplo prático é o da recuperação judicial da OI, que
após vasta discussão aderiu a transação individual para adimplir os créditos proveniente de
multa da ANATEL, mesmo que a empresa esteja em dia com suas obrigações, caso venha por
qualquer motivo ser excluída, estará vulnerável ao pedido do fisco de pleitear sua convolação
em falência.
Ocorre que, com a alteração prevista no PL nº 4458, de 2020, o Fisco continua não se
sujeitando a recuperação judicial e mesmo assim pode pleitear a convolação da recuperação
judicial em falência, tornando-se desproporcional os poderes a este concedido, anti-isonômico
inclusive causando enorme dano aos credores sujeitos a Recuperação Judicial.
Não obstante a todas as preocupações trazidas pelo PL nº 4458, de 2020, que aguarda
apenas sanção ou veto presidencial83, ainda encontra-se em discussão no Supremo Tribunal
Federal a exigência da apresentação de CND para empresas em recuperação judicial
(Reclamação nº 43.169), anteriormente dispensada pelo Superior Tribunal de Justiça, em
decisão liminar do Ministro Luiz Fux, este entendeu pela necessidade de apresentação da
certidão, sendo revogada pelo Ministro Dias Tofolli ao assumir a relatoria do processo após o
Ministro Fux tornar-se presidente da Corte. Em que pese a revogação da decisão liminar que
exigia a apresentação de CND, esta ainda não causa segurança, visto que o fundamento aplicado
pelo Ministro Tofolli para revogar a decisão anterior fora que a matéria é infraconstitucional,
devendo ser apreciada pelo Superior Tribunal de Justiça, sem adentrar ao mérito da discussão.
Todos os institutos aqui elencados possuem o intuito de adimplir o crédito devido ao
fisco, porém além de não haver comprovação de que este é suficiente para quitação do passivo
sem inviabilizar o caixa da empresa em recuperação, que precisa pagar os credores sujeitos a
recuperação, comprar matéria prima para o desenvolvimento da atividade, pagar seus
83
SENADO FEDERAL. Projeto de Lei n° 4.458, de 2020. Disponível em:
<https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/144510>. Acesso em: 20.nov.2020.
98
funcionários, dentre outras despesas necessárias, ainda a coloca em grave risco, visto que
qualquer erro que enseje no rompimento seja do parcelamento ou negociação por meio de
Transação ou ainda Negócio Jurídico Processual, torna a empresa vulnerável ao pedido de
convolação em falência.
99
Diante de todo o exposto, resta claro que, a legislação de insolvência é boa e deve ser
aplicada. Contudo, para que seus efeitos sejam devidamente obtidos, mesmo com suas lacunas,
devemos nos apoiar em magistrados corajosos, que dão a melhor interpretação aos seus artigos
em face de cada situação a ser conhecida e interpretada pelo nosso Poder Judiciário.
Ora os tributos vencidos e vincendos, são uma barreira a ser vencida pelas recuperandas.
Veja, durante muitos anos, as recuperandas, mesmo antes da pandemia – COVID-19, vêm se
alavancando financeiramente no tocante a falta de pagamento dos tributos devidos. Ocorre que
a atual recuperação judicial resolve todos os “problemas” com os credores privados ante a
aprovação do plano de pagamentos dos créditos sujeitos aos efeitos do citado PRJ. Contudo, os
créditos tributários (sejam vencidos ou vincendos) se tornarão um monstro a ser tratado após a
concessão da Recuperação Judicial – Não obstante a apresentação de Certidão Negativa ou
Certidão positiva com efeitos de negativa de Créditos Tributários.
Quando falamos em “monstro” a locução não é errada, eis que aos créditos tributários
vencidos, não há qualquer tratamento satisfatório que se coadune ao soerguimento da empresa
em recuperação judicial quanto aos créditos tributários e créditos públicos. Ora, mesmo que
aprovado ao plano de recuperação judicia, os créditos tributários (erroneamente) não estão
sujeitos aos efeitos do processo de recuperação judicial na legislação vigente, portanto,
mantêm-se livres para continuar seu rito de ataque aos ativos da empresa recuperanda.
Assim a melhor interpretação da norma recuperacional é no sentido de evitar a que o
ônus da dívida sujeita (ou não) aos efeitos da recuperação judicial sejam suportado por apenas
uma das partes, sejam elas credoras ou devedoras. A corroborar com este entendimento está a
Teoria da Divisão Equilibrada de Ônus, Superação do Dualismo Pendular e Gestão
Democrática de Processos, criada pelo professor Daniel Carnio Costa. “Tem-se, portanto, que
a boa aplicação dos institutos trazidos pela Lei no 11.101/05 somente será alcançada através da
interpretação de seus institutos pela teoria da supe-ração do dualismo pendular, entendendo-se
a eficiência de resultados como elemento integrante dos processos de falência e a recuperação
judicial. Deve o magistrado conduzir as soluções de forma ágil e democrática, aplicando
modelo de gestão processual diferenciado e cuidando para distribuir equilibradamente os ônus
que cada um dos agentes atuantes nesses processos de insolvência deve suportar, de modo a
garantir o sucesso da prestação jurisdicional em benefício do interesse público e social.
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