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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES
PROF. DR. RONY PETTERSON GOMES DO VALE
RONYVALE@ UFV.BR

LET 102 – LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL I

AULA 05 – CONHECIMENTO PRÉVIO:


INFERÊNCIAS E ATIVAÇÃO DE ESQUEMAS E
SCRIPTS
OBJETIVOS DA AULA:

 Conhecer aspectos do processo de leitura;


 Apresentar alguns fatores importantes no processo de leitura;
 Discutir algumas estratégias perceptuais envolvidas no processo de
leitura
Experiência 1

Desenvolva paráfrases das sentenças abaixo:

1) Três meninos comeram duas pizzas


2) Todo homem ama uma mulher
3) Nesta sala, todos os alunos leram dois livros
Antecipação => hipóteses sobre o significado/sentido dos textos a
partir de pistas linguísticas e discursivas

Guimarães (2012) faz uma lista delas, a saber: veículo/suporte, imagens


e elementos gráficos, autoria, tema, abordagem, ponto de vista, grau de
confiabilidade, data, lugar, gêneros textual etc.
Experiência 2

(?) qual o significado da sentença abaixo?

Este medicamento não possui contraindicação


Experiência 3

Este medicamento não possui contraindicação

(?) qual o sentido do enunciado acima nas situações abaixo:

St.01 – pronunciado por médico que faz pesquisas patrocinadas pela


fabricante do remédio
Experiência 4

Este medicamento não possui contraindicação

(?) qual o sentido do enunciado acima nas situações abaixo:

St.02 – pronunciado por médico que faz pesquisas para uma agência
independente.
Experiência 5

Este medicamento não possui contraindicação

(?) qual o sentido do enunciado acima nas situações abaixo:

St.03 – pronunciado por uma dona de casa que toma o remédio há


muitos anos.
Logo...

A capacidade inferencial é de tal forma inerente à compreensão


da linguagem que o leitor, quando memoriza as informações
recebidas, incorpora a esse elenco também a informação
inferida, sem mesmo perceber que essa informação não estava
explícita no texto. Esse dado inferido, que na verdade é
construído pelo leitor, entre na memória com se fizesse parte do
texto, do mesmo jeito que as informações literais 1.

1
Cf. LIBERTO E FULGÊNCIO (2009, p. 34-35).
Expectativas na leitura

[...] uma palavra evoca na mente do leitor muito mais do que


os seus traços definitórios, e ativa uma área cognitiva mais
ampla, que inclui também saberes enciclopédicos
relacionados ao conceito mencionado 2.

2
Cf. LIBERTO E FULGÊNCIO (2009, p. 37).
Experiência 6

(?) qual o significado da sentença abaixo?

João e Maria se casaram...


Expectativa  inferência  sentido

As inferências que construímos na leitura têm como base as


nossas expectativas, quer dizer, o que a gente espera que
aconteça ou seja verdadeiro em cada situação 3.

 esquemas
 scripts

3
Cf. LIBERTO E FULGÊNCIO (2009, p. 37).
Esquema  rede de informações interligadas + nódulo central +
expectativa (inferências)

Figura 1 - fonte: Liberato & Fulgêncio (2009, p. 38)


Daí...

A casa da Bianca foi assaltada. Ela está pensando em comprar um


cachorro.
Scripts

A interpretação da maior parte dos enunciados supõe, [...], o


conhecimento de sequências de ações estereotipadas, verbais
ou não verbais, relativas a um domínio de atividades, o qual
é apreendido de um certo ponto de vista 4.

p.ex.: o script “tomar um avião”, do ponto de vista do viajante supõe a


compra da passagem, o deslocamento ao aeroporto, o registro de
bagagens etc.

4
Cf. Maingueneau (2006, p. 127-128).
O conhecimento de um script permite compreender num texto as
relações temporais entre as diversas ações, definir atores e os objetos
que elas implicam. Podemos, assim, fazer antecipações e preencher as
lacunas do texto. Para isso é preciso:
1) reconhecer o script pertinente;
2) identificar, com relação a esse script, as ações indicadas no texto;
3) preencher as etapas ausentes 5.

5
Cf. Maingueneau (2006, p. 127-128).
Script  inclui uma lista de detalhes que caracterizam um evento e que
se se liga normalmente a uma dada situação (Liberato; Fulgêncio, 2009)

1) João matou Maria


[=> João cometeu um crime/ João foi preso]

2) João matou a barata


[=>

3) O urso polar matou Maria


[=>
Retornando à experiência 1:

Desenvolva paráfrases das sentenças abaixo:

1) Três meninos comeram duas pizzas


2) Todo homem ama uma mulher
3) Nesta sala, todos os alunos leram dois livros
Experiência 7

Desenvolva um esquema e um script para os termos abaixo:

 Médico
 Consulta médica
Experiência 8

Discuta as expectativas criadas a partir das pistas linguísticas e


discursivas presente nos textos a seguir:
O doente e o médico

─ Como vais? – perguntou o médico a seu doente.


─ Suei demais – respondeu o doente.
─ Isso é bom – disse o médico.
Perguntado uma segunda vez sobre o seu estado, o doente respondeu que
tinha sentido violentos calafrios.
─ Isso é bom – disse o médico.
Uma terceira vez, o médico apareceu e perguntou ao doente com ele ia.
─ Agora estou com diarreia – respondeu o doente.
─ Isso também é bom – disse o médico.
Quando um de seus parentes perguntou ao doente sobre sua saúde, ele
disse:
─ Estou morrendo de tanto ir bem.
O médico e o doente

Um médico cujo paciente morrera disse aos que o


carregavam para o cemitério:
─ Ali vai um que, se tivesse largado a bebida e tomado
lavagens, não teria morrido.
Alguém replicou:
─ Excelência, de que serve falar isso se não tem mais jeito? O
senhor devia ter dito isso quando ele podia ainda ouvir seus
conselhos.
O médico inexperiente

Um médico sem muita experiência acompanhava um doente. Diferentemente de seus


colegas que prognosticavam um final feliz, embora distante, para a doença, ele disse a seu
paciente para tomar as providências, deixando-o com essas palavras: “Não passarás de
amanhã”. Algum tempo depois, o doente melhorou e foi à rua. Estava pálido e caminhava
com dificuldade. O médico o encontrou e perguntou-lhe:
─ Bom dia, com vão os que estão debaixo da terra?
O doente respondeu:
─ Estão bem, pois beberam a água do Letes. Mas, há pouco, a Morte e Hades faziam
terríveis ameaças contra os médicos porque eles não deixam os doentes morrer. Fizeram
uma lista com o nome deles. Queriam incluir o seu nome mas me lancei aos pés deles se
supliquei; jurei que o senhor não era um médico de verdade e que não tinham como acusá-
lo.
Moral: “Envergonhados sejam todos os médicos ignorantes e estúpidos
cuja arte se resume só a belas palavras.”
Referências bibliográficas

ESOPO. Fábulas. Porto Alegre: L&PM, 2018.


HARTMANN, S. H. G.; SANTAROSA, S. D. Práticas de leitura para
letramento no ensino superior. Curitiba: InterSaberes, 2012.
KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3 ed. 1
remp. São Paulo: Contexto, 2010.
LIBERATO, Y.; FULGÊNCIO, L. Um modelo de descrição da leitura
In: LIBERATO, Y.; FULGÊNCIO, L. É possível facilitar a leitura. 2
ed. São Paulo: Contexto, 2009, p. 13-30.
MAINGUENEAU, D. Scritp. In: MAINGUENEAU, D. Termos-chave
da análise do discurso. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006, p. 127-
128.

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