Você está na página 1de 6

Tendo por base os artigos, e as questões sobre eles colocadas, desenvolve-se o seguinte:

Para Jean Piaget, as crianças não têm a ideia de permanência do objecto antes dos 9
meses, porque é nessa altura que se dá a coordenação dos esquemas sensório – motores.

A experiência levada a cabo por Piaget, permitiu observar, as reacções das crianças para
com objectos escondidos sendo que estas não os procuravam. Segundo os critérios deste
autor, os objectos são, para as crianças, entidades transigentes que deixam de existir
quando não se encontram no campo da óptica e tornam-se existentes novamente quando
se tornam visíveis.

Renée Baillergeon possui critérios um pouco divergentes dos que Piaget refere. No dizer
de Baillergeon, as crianças já possuem a noção de permanência do objecto, contudo são
incapazes de produzir acções coordenadas. Estudos do desenvolvimento da acção citam
que não é aos 9 meses que as crianças começam a coordenar as acções de objectos
separados em significados e sequências. Nestas sequências, as crianças aplicam uma
acção num objecto para criar condições em que elas possam aplicar outra acção em outro
objecto. A descoberta de Baillergeon, assenta no principio que aos 5 ½ meses de idade, as
crianças têm a noção da permanência do objecto claramente inconsciente.

Que mecanismo poderá explicar a presença desta noção na criança de 5 ½ meses ou


menos de idade?

Bower (1967, 1974; Bower, Broughton, & Moore, 1971; Bower & Wishart, 1972) em
resultado de pesquisas a diversos testes, sugerem que por volta dos 2 meses de idade, as
crianças já têm a noção da permanência do objecto. Devido a problemas, essencialmente
metodológicos, associados aos testes de Bower, Baillergeon sugeriu um novo significado
na testagem da permanência de objectos na infância, tendo como base a pesquisa feita por
Bower.

A experiência proposta por Baillergeon, era constituída por crianças de 5 ½ meses,


habituadas a um ecrã rotativo (para trás e para a frente) a 180º, como uma “ponte-

http://campus.sapo.pt
elevadiça”. É colocada uma caixa por de trás do ecrã e são demonstrados às crianças dois
testes. No 1º teste (evento possível) o ecrã roda até chegar a caixa escondida (112º) e
depois regressa à posição inicial. No outro (evento impossível) o ecrã roda até chegar à
caixa escondida, continuando até à plataforma (o ecrã roda até 180º antes de reverter a
direcção e voltar à posição inicial, revelando a caixa estar intacta no mesmo local de
antes).

Para o desenvolvimento do estudo, Baillergeon realizou 3 experiências. A 1ª experiência,


sem critério de habituação definido (omitindo o processo de habituação para eliminar a
possibilidade de confusão da novidade), a 2ª com critério de habituação e uma ultima
experiência de replicação.

Contrariamente ao que Piaget tinha anteriormente postulado, Baillergeon concluiu que as


crianças antes dos 4 meses e meio percebiam que um objecto continua a existir mesmo
estando escondido, já que esperavam que o écran parasse quando chegasse à caixa,
ficando surpreendidas quando isso não acontecia (1ª experiência). Relativamente à 2ª
experiência os resultados sugerem que as crianças entre os 3 ½ meses e os 4 meses,
percebem que um objecto continua a existir apesar de escondido, e que aos 4 ½ meses
(com uma habituação rápida) as crianças continuam a preferir o evento impossível, tal
como na 1ª experiência. Tendo em conta a 3ª experiência (de replicação) é notório que as
crianças que são mais rápidas na habituação, olham relativamente mais tempo para o
evento impossível e compreendem que os objectos continuam a existir mesmo
escondidos, e que o ecrã não se pode mover no espaço ocupado por outro objecto.
Aqueles que são menos rápidos na habituação, olham para os 2 eventos de igual forma.

Como explicar a diferença entre a performance das crianças mais rápidas e menos
rápidas na habituação?

As crianças menos rápidas na habituação precisaram de mais tentativas, só as que


estavam envolvidas completamente, foram capazes de compreender a estrutura do evento.
Assim, o facto de uma criança olhar mais tempo para o evento impossível depende do seu

http://campus.sapo.pt
estado de atenção durante a sessão. À medida que a criança cresce, a compreensão destes
eventos vai-se tornando mais fácil. Os estados de atenção também têm impacto.

Os resultados desta experiência, demonstram que pelos aos 3 ½ meses as crianças já


possuem expectativas sobre o comportamento do objecto no tempo e espaço. Elas
assumem que os objectos continuam a existir quando escondidos e que estes não se
podem mover no espaço ocupado por outros objectos.

Como levar em conta a noção da permanência do objecto em crianças de 3 ½ M ?

A noção da permanência do objecto é inata (e.g., Bower, 1971; Spelke, 1985). As


crianças nascem com a concepção de que os objectos existem continuamente no tempo e
espaço (Spelke, 1985), assim esse mesmo objecto também existe mesmo enquanto
escondido.

As crianças nascem com um mecanismo de aprendizagem que chega a esta noção a partir
de observações pertinentes ou interacções com os próprios brinquedos. Mas apenas aos 4
meses é que as crianças têm a maturação para querer agarrar um objecto (e.g., Granrud,
1986; von Holsten, 1972), as mais novas apresentam uma extensão nos braços na
presença dos objectos (e.g., Bruner & Koslowski, 1972; Field, 1976; Provine &
Westerman, 1979). Nestas extensões as mãos das crianças escondem e são escondidas
pelos objectos. Isto indica que as explicações dadas não podem depender das habilitações
conceptuais e motoras das crianças mais sofisticadas que as explicações válidas para
depois dos 3 meses.

O estudo realizado por Rivera, Wakeley, e Langer, contrapõe, de certa forma, o estudo de
Baillergeon, embora os resultados da experiências se revelem semelhantes.

Para estes autores (Rivera et. Al) as afirmações de Baillergeon, relativamente ao efeito de
ordem, são postas em causa porque questões mais profundas dizem que olhar mais tempo
para eventos impossíveis reflecte uma representação do conhecimento inato nas crianças.

http://campus.sapo.pt
Explicações baseadas somente no pensamento representacional das crianças sobre a
possibilidade física dos eventos, são sem fundamento. Uma critica a este respeito é uma
característica primordial do fenómeno da “ponte”; a caixa não desaparece
permanentemente quando escondida pela rotação do ecrã. É este o caso das duas
tentativas - teste na condição experimental de Baillergeon (1987a) e na replicação de
Rivera, Wakeley, and Langer, na experiência 1. Em vez disso, antes da 1ª aparição, a
caixa apenas desaparece momentaneamente, depois reaparece. As crianças vêem este
desaparecimento e reaparecimento à medida que o ecrã se movimenta para trás e para a
afrente. Assim, isto permite mostrar às crianças que a caixa continua a existir (isto é,
permanente).

Os resultados desta experiência, não suportam a interpretação de Baillergeon, de que é


necessário ter conhecimento representacional sobre os eventos físicos impossíveis da
permanência do objecto, porque a impossibilidade aparente da experiência da “ponte” é
confundida com um maior movimento do ecrã. Os resultados demonstram, não existirem
diferenças nas duas experiências.

http://campus.sapo.pt
INSTITUTO SUPERIOR DE PSICOLOGIA
APLICADA
2000/2001

PSICOLOGIA DA CRIANÇA E DO DESENVOLVIMENTO


Ensaio II – 2º semestre

... A Permanência do Objecto ...

Docente: Discentes:
Dr.ª Sofia Meneres Flávia Ferra n.º 9620
Paula Duarte n.º 9646
Marta Guedes n.º 9752
Carlos Gonçalves n.º 9754
Vera Ribeiro n.º 9913

http://campus.sapo.pt
REFERÊNCIAS:

Baillergeon, R. (1987). Object permanence in 3 ½ and 4 ½ month old infants.


Developmental Psychology, 23, (5), 655 – 664.

Rivera, S. M., Wakeley, A., Langer, J. (1999). The drawbridge phenomenon:


representational reasoning or perceptual preference? Developmental Psychology,35, (2),
427 – 435.

http://campus.sapo.pt

Você também pode gostar