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13/07/2023 11:45 3º Roteiro de estudo

3º Roteiro de estudo

Site: TCU Moodle Site Impresso por: Fernando Afonso de Nadai


PNPC - Mecanismo da prevenção: Conhecendo a Gestão da Ética Data: quinta, 13 Jul 2023, 11:51
Curso:
e da Integridade
Livro: 3º Roteiro de estudo

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Índice

Apresentação do tópico

3ª Unidade: Prevenção de conflito de interesses e controle de variação patrimonial


3.1 Minicaso
3.2 Referências

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Apresentação do tópico

Assista ao vídeo do Prof. José Neto com a apresentação geral da terceira aula.

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3ª Unidade: Prevenção de conflito de interesses e controle de variação


patrimonial

Vimos anteriormente que a efetiva prevenção à corrupção e a criação de um ambiente organizacional comprometido com a ética passam pelo
estabelecimento de um código de ética, que vai tratar amplamente do tema dentro da organização.

Um dos pontos que esse código precisa definir são os possíveis conflitos de interesses que podem surgir quando seus servidores estão realizando suas
tarefas. 

Mas o que é um conflito de interesses? Por que é importante regular isso?

De forma bem simples, o conflito de interesses é uma situação em que o servidor possui interesses privados que podem estar em contraposição ao
interesse da organização ou ao interesse público em geral.

Conflito de interesses: situação gerada pelo confronto entre interesses públicos e privados, que possa comprometer o interesse coletivo ou
influenciar, de maneira imprópria, o desempenho da função pública. (art. 3º, inc. I, da Lei 12.813/2013) 

Quando o servidor se encontra nesse tipo de situação, o desejo de alcançar seus interesses pessoais pode comprometer a independência e a
imparcialidade que ele deve possuir no exercício das suas funções, de modo que o interesse público fica em segundo plano.

Não é possível definir, a priori, toda e qualquer situação que seria considerada conflito de interesses, afinal isso vai depender muito dos riscos
inerentes a cada organização, próprios da sua área de atuação.

Por exemplo, os riscos específicos de existência de conflito de interesses em uma secretaria de educação podem diferir substancialmente dos
relacionados a uma empresa de saneamento básico. 

Porém, algumas situações são bem genéricas e podemos utilizá-las para exemplificar o que estamos falando.

No âmbito do Poder Executivo Federal temos a Lei 12.813/2013, que dispõe sobre conflito de interesses. Vejamos as situações que essa lei traz e
alguns exemplos de possíveis conflitos:

Conflito de interesses Exemplo

Divulgar ou fazer uso de informação Servidor que trabalhou com a


privilegiada, em proveito próprio ou de reformulação do plano diretor do
terceiros, obtida em razão das atividades município e, sabendo do potencial de
exercidas. valorização que algumas áreas teriam com
a publicação do plano, comprou diversos
terrenos para venda futura.

Exercer atividade que implique a Servidor da secretaria de urbanismo


prestação de serviços ou a manutenção negociou a compra de um apartamento
de relação de negócio com pessoa física com uma construtora que estava
ou jurídica que tenha interesse em decisão aguardando a concessão de alvará de
do agente público ou de colegiado do construção pela secretaria.
qual este participe.

Exercer, direta ou indiretamente, atividade Servidor do Tribunal de Contas da União


que em razão da sua natureza seja prestou consultoria para uma organização
incompatível com as atribuições do cargo cumprir uma determinação expedida pelo
ou emprego, considerando-se como tal, próprio TCU.
inclusive, a atividade desenvolvida em
áreas ou matérias correlatas.

Atuar, ainda que informalmente, como Servidor municipal atuou como advogado
procurador, consultor, assessor ou de cidadão que processou a prefeitura por
intermediário de interesses privados nos causa de enchente que inundou o bairro.
órgãos ou entidades da administração
pública direta ou indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios.

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Praticar ato em benefício de interesse de Servidor participou de comissão de


pessoa jurídica de que participe o agente licitação que julgou vencedora a empresa
público, seu cônjuge, companheiro ou em que a sua esposa possui 50% de
parentes, consanguíneos ou afins, em participação.
linha reta ou colateral, até o terceiro grau,
e que possa ser por ele beneficiada ou
influir em seus atos de gestão.

Receber presente de quem tenha interesse Servidor recebeu, como presente, uma
em decisão do agente público ou de caixa de uísque de um licitante, como
colegiado do qual este participe fora dos forma de agradecimento à condução de
limites e condições estabelecidos em uma licitação em que o licitante foi
regulamento. vencedor.

Prestar serviços, ainda que eventuais, a Servidor da Anac prestou serviço de


empresa cuja atividade seja controlada, consultoria para uma companhia aérea.
fiscalizada ou regulada pelo ente ao qual
o agente público está vinculado.

Conseguiu perceber como o conflito de interesses pode facilmente ocorrer nas organizações públicas?

Às vezes pode ser difícil identificar um conflito, pois esse tipo de situação pode ocorrer mesmo quando: 

- o servidor atua sem a vontade consciente de obter ganhos, ou seja, sem haver necessariamente fraude ou corrupção;

- não há relação já em curso com alguma pessoa ou empresa, como quando o servidor recebe um presente de alto valor sem motivo aparente;

- o servidor não recebe ganhos imediatos, como quando utiliza informações privilegiadas para obtenção de ganhos futuros;

- o servidor não recebe ganho algum, como quando a sua imparcialidade é afetada por ele estar supervisionando/fiscalizando alguma atividade que
ele próprio desenvolveu no passado;

- o interesse do servidor é de outro tipo que não financeiro, como científico, educacional, assistencial, religioso, político, social etc.

O conflito de interesses pode ser configurado até quando o servidor não está no exercício das suas funções habituais, como quando ele está
usufruindo alguma licença ou afastamento, afinal as relações e decisões futuras do servidor podem ser influenciadas após o seu retorno.

Mais ainda, o conflito pode ocorrer mesmo quando o servidor já nem faz mais parte da organização. Em alguns casos, principalmente quando a
função do servidor envolve regulação ou fiscalização, pode ser necessário que ele cumpra uma quarentena (espere um tempo) para poder atuar em
área relacionada com a que ele exercia na organização, já que possui muitas informações privilegiadas.

Enfim, são diversas as situações que podem gerar conflito de interesses, e cada organização deve analisar o seu ambiente de negócios para
verificar seus próprios riscos e tratar os pontos mais relevantes.

Então, o principal motivo por que devemos regular esse tipo de situação é o potencial prejuízo à independência e à imparcialidade dos servidores
em agirem em prol do interesse público. 

Percebam que falamos potencial prejuízo, pois apesar de nem sempre a situação causar um prejuízo concreto, a sua mera existência pode colocar em
xeque a confiança do público em geral na lisura das decisões da organização.

A imparcialidade dos servidores deve, acima de tudo, ser percebida pela sociedade, afinal a confiança nas instituições é um ponto fundamental para
fomentar um ambiente sem corrupção. A coletividade deve ter convicção de que as decisões dos servidores são tomadas em prol do interesse público.
Por isso, sempre dizemos que devemos evitar até o conflito de interesses aparente, quando a mera existência da situação é capaz de gerar dúvidas se
os servidores estão agindo de modo imparcial e em busca do bem público. 

O servidor deve ser independente e imparcial de fato e na aparência. 

Um último motivo para regularmos as situações de conflito de interesses é fornecer maior segurança aos próprios servidores, que terão um guia de
como agir caso se encontrem em alguma situação de possível conflito.

Certo. Já entendi por que é importante regulamentar essas situações, mas por onde eu começo? 

Primeiramente, precisamos lembrar da importância do código de ética, pois lá é o lugar ideal para tratarmos das situações de conflito de interesses.
Mas, se o código não existir, podemos fazer a definição em qualquer ato normativo interno da organização.

O pontapé inicial começa com o mapeamento dos riscos da organização. Precisamos estudar o tipo de negócio da entidade e o ambiente em que
ela está inserida, de modo a levantarmos as diversas situações que podem significar conflito de interesses e suas respectivas consequências.

Aqui, identificamos os cargos, setores e atividades mais expostas à ocorrência de conflitos de interesses. 

Assim, após elencados os principais riscos, podemos prever quais são as situações mais relevantes que configuram conflito de interesses, as quais os
servidores do órgão deverão evitar.
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E, para evitar essas situações, o código deve prever quais as ações que os servidores devem ou não tomar para resguardarem a si e a instituição de
possíveis dúvidas e questionamentos.

Por exemplo, o código pode prever que para determinadas situações o servidor deve: 

- declarar-se impedido, como nos casos em que ele for designado para avaliar um ato que ele próprio praticou no passado;

- publicizar a situação para a organização e a sociedade, como nos casos em que receber remuneração extra para proferir alguma palestra;

- consultar seu superior hierárquico, como para obtenção de autorização para participar de um evento;

- consultar a comissão de ética (caso exista), para obter orientações em caso de dúvidas sobre como proceder; e

- cumprir quarentena por determinado tempo, após encerrado o vínculo com a instituição.

Em relação à consulta à comissão de ética, é importante que o código de ética defina casos em que essa consulta seria necessária, estabelecendo o
rito processual com prazo para análise da comissão e possibilidade de pedido de reconsideração e recurso à instância superior.

Lembre-se: a consulta à comissão de ética dá segurança aos servidores em possíveis conflitos e confere tratamento isonômico a situações
similares. 

O código de ética também pode estabelecer requisitos e restrições para ocupantes de determinados cargos mais suscetíveis a conflito de interesses
(por exemplo, um servidor com acesso a informações privilegiadas ser proibido de comprar ações na bolsa de valores), além de definir qual a unidade
responsável pela fiscalização das situações conflitantes. Geralmente, essa responsabilidade recai sobre a comissão de ética.

Em resumo, o código de ética deve definir todos os procedimentos voltados para identificação, publicação, gerenciamento e resolução das
diversas situações de conflito de interesses identificadas pela organização. 

Acima de qualquer definição que o código traga, o mais importante é fomentar um ambiente ético, em que o próprio servidor está o tempo todo
atento se há alguma possível situação de conflito de interesses. De nada adiantam essas definições se os servidores não dão importância ao tema, se a
chefia não reforça sua aplicação e se a organização não cumpre o que for definido no código de ética.

É por isso que são importantes também ações de conscientização e sensibilização sobre o tema, com treinamentos e divulgação de materiais de
orientação, como cartilhas, guias e manuais.

Vamos agora falar um pouquinho de um tema bastante relacionado à prevenção ao conflito de interesses: o controle da evolução patrimonial dos
servidores.

Por que devo me preocupar com a evolução patrimonial dos meus colaboradores? 

Lembra que falamos que um ponto fundamental na prevenção à corrupção e na criação de um ambiente ético é a confiança que as partes interessadas
depositam nas decisões das organizações, percebendo que não há espaço para fraudes e que os servidores agem com honestidade e imparcialidade?

Pois, então, o que aconteceria se um servidor, do dia para a noite, aparecesse no trabalho dirigindo uma Ferrari, dissesse a todos que havia comprado
um iate e convidasse toda a repartição para o seu aniversário, que contaria com a presença da banda de maior sucesso do país? Você acha que os
colegas de trabalho e os superiores hierárquicos ficariam desconfiados com essa repentina mudança de padrão de vida? E a confiança da sociedade na
atuação desse servidor poderia ser abalada, afinal, em tese, o que ele ganha seria suficiente para tanto patrimônio e tanto luxo? 

Embora, à primeira vista, pareça que tudo se trata da vida privada do servidor, a variação patrimonial incompatível com a sua posição pode ser fruto de
algum conflito de interesses ou mesmo de alguma fraude, o que acaba por minar o ambiente ético da organização e a percepção que a sociedade
possui sobre aquela entidade.

É justamente por isso que devemos ter atenção à evolução patrimonial dos servidores, para certificar-se que a variação não é decorrente de
alguma irregularidade e, acima de tudo, deixar isso claro para todos os colaboradores e a sociedade, quando necessário. 

Lembre-se: os servidores devem ser éticos de fato e na aparência, pois a impressão que terceiros possuem dos seus atos é fundamental para
fomentar o ambiente ético. 

Esse ponto é ainda mais importante a depender da atividade exercida pela organização (por exemplo, se de regulação ou fiscalização) e da posição
hierárquica do servidor (por exemplo, se possui acesso a informações privilegiadas ou tem poder de tomar decisões). Nesses casos, a desconfiança
sobre a lisura da atuação do servidor pode ser ainda maior.

Ok, faz sentido a preocupação com a variação patrimonial, mas como abordo isso na minha organização? 

O primeiro passo é estabelecer no código de ética procedimentos a serem adotados quando a mera atuação da organização puder afetar o
patrimônio do servidor, em aparente conflito de interesses.

Como mencionamos anteriormente, o código deve estabelecer as condições em que o servidor precisa comunicar a situação à comissão de ética, para
que medidas sejam tomadas com o intuito de preservar a credibilidade da organização.

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Exemplo: se o servidor da secretaria de infraestrutura do município possui um lote que pode ser beneficiado com o asfaltamento das ruas de
determinado bairro, pode ser necessário comunicar a comissão de ética e talvez afastar o servidor dos processos de decisão dessa secretaria sobre as
localidades a serem asfaltadas. 

Após definir os procedimentos relativos a potenciais conflitos de interesse pela mera atuação da organização e o patrimônio pré-existente do servidor,
o código de ética deve tratar sobre o controle da evolução patrimonial.

É interessante definir que, caso o servidor tenha uma alteração significativa em seu patrimônio, independentemente da origem do fato, deverá haver
comunicação à comissão de ética, com as devidas justificativas.

Exemplo: recebimento de herança milionária pelo servidor, que afete seu patrimônio de forma relevante. 

Essa atuação proativa do servidor, ao informar a variação antes mesmo de qualquer questionamento, dá ainda mais credibilidade a sua
reputação e a reputação da organização. 

O código de ética deve definir claramente quais os critérios para se considerar que houve variação significativa. Essa definição pode abranger tanto
percentuais quanto a própria natureza da variação.

Veja como o Distrito Federal normatizou, por meio do Decreto 37.297/2016, essas questões que estamos comentando: 

Art. 19. Além da declaração de bens e rendas de que trata a Lei Federal nº 8.730, de 10 de novembro de 1993, a autoridade pública, no prazo de 10
dias contados de sua posse, enviará à Comissão-Geral de Ética Pública - CGEP informações sobre sua situação patrimonial que, real ou potencialmente,
possa suscitar conflito com o interesse público, indicando o modo pelo qual irá evitá-lo.

Art. 20. As alterações relevantes no patrimônio da autoridade pública deverão ser imediatamente comunicadas à CGEP, especialmente quando se tratar
de:

I - atos de gestão patrimonial que envolvam:

a) transferência de bens a cônjuge, ascendente, descendente ou parente na linha colateral;

b) aquisição, direta ou indireta, do controle de empresa;

c) outras alterações significativas ou relevantes no valor ou na natureza do patrimônio;

II - atos de gestão de bens, cujo valor possa ser substancialmente alterado por decisão ou política governamental.

§ 1º É vedado o investimento em bens cujo valor ou cotação possa ser afetado por decisão ou política governamental a respeito da qual a autoridade
pública tenha informações privilegiadas, em razão do cargo ou função, inclusive investimentos de renda variável ou em commodities, contratos futuros
e moedas para fim especulativo, excetuadas aplicações em modalidades de investimento que a CGEP venha a especificar.

§ 2º Em caso de dúvida, a CGEP poderá solicitar informações adicionais e esclarecimentos sobre alterações patrimoniais a ela comunicadas pela
autoridade pública ou que, por qualquer outro meio, cheguem ao seu conhecimento.

§ 3º A autoridade pública poderá consultar previamente a CGEP a respeito de ato específico de gestão de bens que pretenda realizar.

§ 4º A fim de preservar o caráter sigiloso das informações pertinentes à situação patrimonial da autoridade pública, as comunicações e consultas, após
serem conferidas e respondidas, serão acondicionadas em envelope lacrado, que somente poderá ser aberto por determinação da Comissão.

Art. 21. A autoridade pública que mantiver participação superior a 5% (cinco por cento) do capital de sociedade de economia mista, de instituição
financeira, ou de empresa que negocie com o Poder Público, tornará público este fato.

Além dessa atuação proativa do servidor, a organização pode exercer o controle sobre as variações significativas por meio das declarações de bens e
rendas apresentadas anualmente.

A Lei 8.429/1992 exige os agentes públicos apresentem anualmente a declaração do imposto de renda à respectiva organização.

Embora esse controle tenha um viés mais de detecção do que de prevenção, o código de ética (ou qualquer outro normativo) deve estabelecer
critérios objetivos para dar tratamento às informações recebidas por meio das declarações de bens e rendas.

Além dos critérios para caracterizar a variação relevante, já mencionados acima, o código deve estabelecer todo o fluxo do procedimento relativo a
essa avaliação, como unidade responsável pela análise, passos para notificação do colaborador para apresentação de justificativas, possibilidades de
decisão da unidade, possibilidades de recursos e respectivos prazos.

Importante: sempre lembrar de tratar com sigilo todas as informações patrimoniais prestadas pelos colaboradores. 

Mas, e na prática, como faço esse controle? O quanto ele deve ser sofisticado? 

Tudo vai depender do porte e da complexidade do negócio da sua organização.

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Para algumas unidades, suscetíveis a relevantes conflitos de interesse e riscos de corrupção, talvez faça mais sentido estabelecer sistemas robustos que
auxiliem na análise das informações patrimoniais. Para unidades menores e mais simples, talvez o custo-benefício não justifique estabelecer um
controle muito forte.

Podemos criar um sistema ou manter pastas de arquivos (eletrônicas ou não) para registrar as informações prestadas pelo servidor, dando publicidade
às informações que não forem consideradas sigilosas (por meio do próprio sistema ou em local de fácil acesso).

Caso a organização seja complexa e necessite de controles mais robustos, pode ser criado um sistema eletrônico que cruza automaticamente
informações de diversos bancos de dados, verificando automaticamente situações potencialmente irregulares e emitindo alertas para as áreas
responsáveis pela verificação.

Exemplo: cruzamento das informações prestadas pelo servidor com dados do Detran (informando a propriedade de automóvel de luxo) ou dados de
cartório (informando imóvel acima de determinado valor). 

Lembre-se: atuações robustas como a exemplificada acima somente valem a pena para situações críticas, senão o custo do controle pode ser muito
maior ao eventual prejuízo de não controlar as variações patrimoniais significativas.

Para situações mais simples, uma mera planilha do Excel, por exemplo, é capaz de fazer esse controle. A organização pode manter controle dos bens
mais relevantes e verificar variação acima de determinado percentual, o que seria calculado automaticamente pela planilha.

Uma prática simples e que pode alertar os colaboradores para a necessidade de informar as eventuais variações patrimoniais significativas é a
assinatura de um termo de compromisso de informação à comissão de ética quando da ocorrência de uma das situações que impliquem em variação
patrimonial acima do limite definido pelo código de ética.

Independentemente dos controles adotados, o mais importante é criar um ambiente que favoreça a ética em sua organização, incutindo nos seus
colaboradores a importância do tema para uma cultura organizacional que preza a integridade.

Falando nisso, na próxima aula abordaremos dois assuntos que têm tudo a ver com a manutenção desse ambiente ético: a regulamentação do
recebimento de presentes e da participação em eventos. Até lá.

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3.1 Minicaso

Um tipo de organização muito suscetível a conflitos de interesses são as agências reguladoras, que estabelecem normas e regulam a prestação de
serviços específicos. Suas decisões geralmente afetam muitas empresas prestadoras de serviços e alteram significativamente as relações econômicas
dessas empresas com os usuários dos serviços, de modo que qualquer variação na matéria decidida provoca impactos econômicos e financeiros
significativos.

Diante dos elevados riscos à independência e à imparcialidade dos servidores responsáveis pela tomada de decisões no âmbito das agências, a Lei
13.848/2019 alterou a Lei 9.986/2000 e estabeleceu alguns requisitos para evitar conflitos de interesse nas agências reguladoras federais.

Trazemos aqui alguns trechos desses requisitos da atual Lei 9.986/2000:

“Art. 8º Os membros do Conselho Diretor ou da Diretoria Colegiada ficam impedidos de exercer atividade ou de prestar qualquer serviço no setor
regulado pela respectiva agência, por período de 6 (seis) meses, contados da exoneração ou do término de seu mandato, assegurada a remuneração
compensatória. (...)

Art. 8º-A. É vedada a indicação para o Conselho Diretor ou a Diretoria Colegiada:

I - de Ministro de Estado, Secretário de Estado, Secretário Municipal, dirigente estatutário de partido político e titular de mandato no Poder Legislativo
de qualquer ente da federação, ainda que licenciados dos cargos;  

II - de pessoa que tenha atuado, nos últimos 36 (trinta e seis) meses, como participante de estrutura decisória de partido político ou em trabalho
vinculado a organização, estruturação e realização de campanha eleitoral;

III - de pessoa que exerça cargo em organização sindical;   

IV - de pessoa que tenha participação, direta ou indireta, em empresa ou entidade que atue no setor sujeito à regulação exercida pela agência
reguladora em que atuaria, ou que tenha matéria ou ato submetido à apreciação dessa agência reguladora;   

V - de pessoa que se enquadre nas hipóteses de inelegibilidade previstas no inciso I do caput do art. 1º da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de
1990;  

VI -  (VETADO);  

VII - de membro de conselho ou de diretoria de associação, regional ou nacional, representativa de interesses patronais ou trabalhistas ligados às
atividades reguladas pela respectiva agência.   

Parágrafo único. A vedação prevista no inciso I do caput estende-se também aos parentes consanguíneos ou afins até o terceiro grau das pessoas nele
mencionadas.   

Art. 8º-B.  Ao membro do Conselho Diretor ou da Diretoria Colegiada é vedado:   

I - receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas;   

II - exercer qualquer outra atividade profissional, ressalvado o exercício do magistério, havendo compatibilidade de horários;   

III - participar de sociedade simples ou empresária ou de empresa de qualquer espécie, na forma de controlador, diretor, administrador, gerente,
membro de conselho de administração ou conselho fiscal, preposto ou mandatário;   

IV - emitir parecer sobre matéria de sua especialização, ainda que em tese, ou atuar como consultor de qualquer tipo de empresa;   

V - exercer atividade sindical;

VI - exercer atividade político-partidária;   

VII - estar em situação de conflito de interesse, nos termos da Lei nº 12.813, de 16 de maio de 2013.”

Você consegue identificar a razão de ser para cada um dos requisitos mencionados acima? Tenha em mente sempre as possíveis situações de conflito
de interesses que poderiam ocorrer caso o requisito não existisse.

Caso queira consulta a Lei 9.986/2000 na íntegra, clique no seguinte link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9986.htm

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3.2 Referências

Brasil. Decreto 1.171, de 22 de junho de 1994

Brasil. Lei 8.429, de 2 de junho de 1992

Brasil. Lei 12.813, de 16 de maio de 2013

CGU. Guia de Integridade Pública: Orientações para a administração pública federal: direta, autárquica e fundacional. Controladoria-Geral da União.
Brasília, 2015

Distrito Federal. Decreto 37.297, de 29 de abril de 2016

OCDE. Managing Conflict of Interest in the Public Service: OECD guidelines and country experiences. Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico. Paris, 2003.

TCU. Resolução-TCU 330, de 1º de setembro de 2021

TCU. Referencial de Combate à Fraude e Corrupção: Aplicável a Órgãos e Entidades da Administração Pública. 2. ed. Brasília: TCU, 2018

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