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MOMENTO DA PATOLOGIA – AULA 31: TIPOS DE FISSURAS EM

REVESTIMENTOS

 Sugestão de bibliografia:
o Trincas em Edifícios: causas e prevenção. Ércio Thomaz. Oficina
de Textos
o Dissertação de Mestrado do Prof. Renato Sahade (2005): Avaliação
de Sistemas de Recuperação de fissuras em Alvenaria de Vedação
 Não existe prescrição normativa nacional que discorra sobre a padronização da
classificação conforme o tamanho das aberturas (fissuras). Existem normas
que citam algumas nomenclaturas correspondentes a determinados tamanhos
de aberturas. Logo a utilização é livre, obviamente desde que faça sentido.
 Salienta-se que quando existem fissuras as mesmas se manifestarão nos
revestimentos, inevitavelmente.
 Existem, também, classificações propostas em algumas literaturas e em alguns
documentos técnicos de órgãos especializados como a contida na NORMA DE
VISTORIA CAUTELAR DO IBAPE-MG (INSTITUTO BRASILEIRO DE
AVALIAÇÕES E PERÍCIAS DE ENGENHARIA) do ano de 2014, a qual se
encontra transcrita a seguir:

 Além da “classificação” das fissuras pelo TAMANHO das aberturas existem


outras classificações relacionadas com a sua ATIVIDADE, MANIFESTAÇÃO E
VARIAÇÃO DA ABERTURA. O fluxograma a seguir, retirado da dissertação do
Prof. Renato Sahade (2005), nos mostra com clareza outros tipos de
classificação das fissuras:
 Classificação quanto a FORMA DE MANIFESTAÇÃO:
o FISSURAS GEOMÉTRICAS: Apresentam conformações
PADRONIZADAS não necessariamente verticais e horizontais. São
conformações de INTERFACE originadas por movimentações térmicas
entre materiais distintos. São lineares e geralmente manifestam-se
entre a estrutura e a alvenaria.

o FISSURAS MAPEADAS: Apresentam conformações ALEATÓRIAS


(para todos as direções). Um exemplo desse tipo de conformação são
as FISSURAS DE RETRAÇÃO.

 Classificação quanto a ATIVIDADE (movimentação):


o FISSURAS ATIVAS: Apresentam movimentação
o FISSURAS PASSIVAS: Não apresentam atividade, não se
movimentam
 Classificação quanto a VARIAÇÃO DA ABERTURA:
o FISSURAS SAZONAIS: Estão relacionadas com a sazonalidade.
Apresentam movimentação de “vai e volta”.
o FISSURAS PROGRESSIVAS: São aquelas que estão em atividade
constante e sempre com aumento da abertura. Não se caracteriza
como regra classificar uma abertura mais acentuada como mais crítica
(SEVERIDADE) em comparação com uma conformação cuja a abertura
seja menor. Um exemplo de fissuras progressivas são aquelas
originadas de recalques constantes e incessantes. Neste caso, a
severidade é mais acentuada já que o avanço da atividade de recalque
pode incorrer em problemas na estabilidade global da estrutura, ou
seja, podem provocar graves problemas estruturais, podendo levar e
estrutura ao seu colapso total ou parcial. As primeiras manifestações
patológicas originadas por recalques diferenciais a serem constatadas e
claramente observadas são as fissuras nas vedações devido às
tensões de cisalhamento impostas nas mesmas.

 Técnicas para monitorar a ATIVIDADE DAS FISSURAS:


o Acompanhamento com o Fissurômetro;

o Utilização de SELO DE GESSO e LÂMINA DE VIDRO

o Levantamentos topográficos
 Um correto DIAGNÓSTICO proporciona maior eficácia na indicação das
medidas de tratamento da manifestação patológica.
 Para verificação da sazonalidade de uma fissura recomenda-se realizar o
monitoramento no mesmo horário, porém em dias diferentes.
 A seguir alguns exemplos de fissuras nas suas mais diversas conformações:

o ISSURAS POR RECALQUES DIFERENCIAIS:


>> Trata-se de uma fissura GEOMÉTRICA, onde observa-se o padrão na
conformação da mesma indicado pelas setas e linhas de cor vermelha.
>> Pode-se verificar a Regra da Mediatriz comprovada pelo Prof. Drikran Berberian
onde ao se traçar uma linha mediatriz (seta na cor preta) a fissura verificada tem-se a
indicação do ponto recalcado. Neste caso o recalque encontra-se no pilar no canto
esquerdo da imagem da direita. Através da imagem da esquerda (parte externa)
verifica-se o abaulamento no piso logo abaixo do pilar o que comprova a existência de
recalque nesse ponto.
>> Logo, fissuras/trincas provocadas por recalques são GEOMÉTRICAS.
>> Como tratar trincas de recalque? A profilaxia dependerá da atividade da abertura
(Ativa ou Passiva). Cabe ressaltar que uma FISSURA ATIVA PROGRESSIVA pode se
tornar uma FISSURA PASSIVA. Nos casos de recalques é justamente o que se
verifica. De maneira geral para FISSURAS PASSIVAS utilizam-se materiais mais
RÍGIDOS e para FISSURAS ATIVAS, PROGRESSIVAS ou não, recomenda-se
produtos de base mais FLEXÍVEL.
>> A grande maioria dos materiais fissuram, principalmente, por esforços de tração e
cisalhamento em casos específicos. Quando as tensões de tração superarem a tensão
de resistência a tração de um material qualquer haverá a formação de fissuras.
o FISSURAS EM REGIÕES COM PRESENÇA DE ELEMENTOS
ESTRUTURAIS EM BALANÇO

>> Nem todas as fissuras a 45 o são provenientes de processos de recalque. Os


modelos teóricos e real da imagem acima é um exemplo dessa afirmação.
>> Normalmente as fissuras mostradas na figura são provocadas pela DEFERMAÇÃO
DE ELEMENTOS ESTRUTURAIS EM BALANÇO que podem estar ocorrendo além
dos limites previstos em normas. Assim o monitoramento dessas fissuras deve ser
realizado com intuito de verificar a atividade das aberturas e guiar o diagnóstico e as
possíveis medidas corretivas.
>> Atenção deve ser dada a idade do edifício. Edifícios novos que apresentam fissuras
com esta conformação tendem a deformar um pouco mais, por mais um tempo e um
tratamento realizado precocemente pode ser em vão, visto que as fissuras ressurgirão.
Sendo assim, o monitoramento constante deve ser realizado afim de se comprovar o
estado de passividade da fissura para então realizar as medidas corretivas. Já
edificações mais antigas as deformações nos elementos em balanço já estão mais
consolidadas/estacionadas. Nesses casos o tratamento ideal consiste em retirar toda a
camada de reboco e posteriormente utilizar tela eletrossoldada galvanizada de
abertura de 25 x 25 mm e fio de 1,24 mm (tela fachadeira).

o FISSURAS POR MOVIMENTAÇÃO TÉRMICA

>> É uma FISSURA GEOMÉTRICA


>> Trinca de interface ESTRUTURA X ALVENARIA
>> Observa-se nessa imagem claramente as fissuras nas interfaces Viga X Alvenaria
e Pilar X Alvenaria. Interessante observar também o não surgimento de fissuras junto
as juntas de movimentação em especial no fundo das vigas. Aliás recomenda-se que
as juntas de movimentação coincidam com os fundos das vigas horizontalmente. O
fundo das vigas trata-se de uma região extremamente importante já que é nela que se
verifica a interface do elemento estrutural com a alvenaria. Essa região de interface
crítica pois é nela onde as tensões impostas pela deformação do elemento estrutural
serão “descarregadas”, logo essa interface não deve ser enrijecida, caso contrário
haverá fissuração intensa nesta região. Assim, a ideia da junta é permitir a
movimentação do revestimento e ela é executada na mesma linha do encunhamento,
o qual deve ser flexível para também evitar fissuração.
>> As fissuras por movimentação térmica podem ser diagnosticadas também através
da utilização da TERMOGRAFIA INFRAVERMELHA. A região delimitada acima
evidencia a fissura na interface estrutura x alvenaria.
>> Nas interfaces estrutura x alvenaria, com exceção a do encunhamento utiliza-se a
tela fachadeira (tela eletrossoldada galvanizada de abertura de 25 x 25 mm e fio de
1,24 mm)
>> Essa tela é comercializada em rolos e possuem largura de 50 cm. A colocação da
tela deve transpassar 25 cm para cada lado (estrutura/alvenaria), sendo fixada com
pistola fincapino.
>> Processo executivo da tela fachadeira:

 Condições iniciais: Alvenaria encunhada/Projeto de revestimento de


fachada e chapisco executado a 72 horas;
 Estender a tela sobre uma mesa e bater na mesma com uma barra de
aço para promover a maior extensão;
 Medir o local onde a tela será fixada para posterior corte da tela;
 Promover o corte com: Serra circular, Tesoura ou discos de corte;
 Em cada pedaço de tela, fixar os espaçadores nas diagonais com 1m
entre eles;
 Posicionar a tela bem estendida nos encontros estrutura x alvenaria,
sendo 25cm para cada substrato;
 Com o auxílio do fincapino, fixar o pino (com arruela) em locais
próximos aos espaçadores a cada 1m;
 Aplicar a camada de argamassa de emboço a fim de garantir a
passagem da mesma através da tela de modo a atingir o substrato;
>> Para revestimentos com espessuras elevadas:

 Nos locais onde a espessura do revestimento ultrapassou as definidas


em norma, sendo necessária a estruturação do revestimento, fixar
arames na fachada com pinos a cada 70cm (vertical e horizontal);
 Esticar os arames para frente e proceder com a aplicação da primeira
camada da argamassa;
 Aguardar intervalo entre demãos conforme o PQO ou aquele indicado
pelo fornecedor da argamassa;
 Aplicar a segunda camada de argamassa posicionando a tela na
superfície do revestimento. Nas regiões de emendas, realizar um
transpasse de 15cm;
 Pressionar a tela contra a argamassa, de forma a penetrar na camada e
fixar com os arames;
 Aplicar a última cheia garantindo um espessura mínima de 1cm de
argamassa sobre a tela;
>> A seguir mais um detalhe de projeto:
>> A tela fachadeira além de figurar como uma ação preventiva (fissuras) também
pode ser utilizada para o tratamento das fissuras de interface (tratamento=prevenção).
>> Existem outras alternativas para o tratamento de fissuras.
>> Uma alternativa para os casos onde não haja disponibilidade ou não seja possível
a utilização da tela fachadeira seria a criação de uma JUNTA DE MOVIMENTAÇÃO.
>> Outra região extremamente crítica, onde surgem fissuras de interface por
movimentação térmica são as PLATIBANDAS:

>> As platibandas configuram-se como uma solução construtiva muito comum para
esconder telhados embutidos tanto em edifícios verticais e edificações térreas.
>> Mas porque acontecem tantas trincas na interface platibanda x estrutura? A região
de interface nessa situação é bem crítica. Para a execução da platibanda são
necessários a inserção de pilaretes distanciados entre 1,5 a 2,5m e cintas de
amarração inferior e superior com o intuito de dar rigidez a mesma. Diante disso deve-
se promover a inserção de telas nessa região.
>> A seguir detalhe executivo para telas fachadeiras em platibandas:
 FISSURAS EM REGIÕES DE ENCUNHAMENTO

>> As trincas em regiões de encunhamento apresentam conformação paralela as


vigas, porém podem também surgirem na diagonal nas extremidades do encontro viga
x pilar.
>> Os materiais utilizados para a realização dos apertos dependem das condições de
contorno e da tipologia estrutural.
>> Para a tipologia convencional os materiais mais utilizados são:

 O encunhamento com argamassa (mais flexível). Argamassas mais rígidas


devem ser evitadas visto sua alta resistência e consequentemente sua
capacidade de movimentação reduzida;
 Encunhamento com argamassa expansiva;
 Não se recomenda o encunhamento realizado com tijolinho maciço disposto
a 45o devido à alta rigidez imposta por esta disposição construtiva. Ainda é
muito comum observarmos encunhamentos realizados dessa forma, em
especial em edificações mais antigas que apresentam uma maior robustez
estrutural e consequentemente um superdimensionamento. Como
característica, essas edificações apresentam uma menor capacidade de
movimentação, impondo a região de aperto uma menor solicitação dos
esforços de tração. Nos dias atuais observa-se que as edificações são mais
esbeltas, mais flexíveis e por conseguinte mais suscetíveis a
movimentações/deformações, então é imprescindível suas vedações
apresentem a capacidade de absorção das tensões/deformações impostas
pelas movimentações excessivas, o que demanda, para os apertos a
utilização de materiais mais flexíveis.

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