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engenharia elétrica acerca do funcionamento do mercado da transmissão de energia

elétrica.
Além disso, visa fornecer às transmissoras já atuantes no mercado de
transmissão, um projeto consolidado e de fácil entendimento dos principais desafios e
demandas necessárias para que uma linha de transmissão de energia possa operar
comercialmente.

1.2. Motivação

O projeto foi motivado pela falta de referências ou documentações específicas


sobre a implantação de uma linha de transmissão. As dificuldades são principalmente
relacionadas à extrapolação de prazos por desconhecimento de informações. Desse
modo, a consolidação desse material será capaz de auxiliar os agentes de transmissão
em sua elaboração detalhada de projetos de implantação de linhas de transmissão,
principalmente referente a aspectos regulatórios.

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2. O Setor Elétrico do Brasil

2.1. Histórico

O setor elétrico brasileiro sempre foi composto por concessionárias de geração,


transmissão e distribuição controladas pelos Governos Federal e Estaduais. Antes da
década de 1990, os recursos para construção de usinas, linhas de transmissão e os
sistemas de distribuição eram provenientes de financiamentos públicos, o que gerava
escassez de investimentos no setor elétrico [1].
O aumento da demanda por energia decorrente do forte crescimento econômico
impôs a necessidade de mudar o modelo até então adotado. Sendo assim, desde a década
de 1990, o Governo Federal tem tomado diversas medidas para reestruturar o setor
energético. Essas medidas visam o crescimento do investimento privado e a eliminação
das restrições a investimentos estrangeiros, aumentando desta forma a concorrência no
setor energético. Algumas dessas medidas foram [1]:
• Criação do Programa Nacional de Privatização, visando a transferência
para o setor privado de certas empresas anteriormente controladas pelo
governo;
• Autorização de investimento estrangeiro no setor de geração de energia
através de emenda constitucional, pois antes todas as concessões de
geração pertenciam a pessoas físicas brasileiras ou pessoas jurídicas
controladas por pessoas físicas brasileiras ou pelos Governos Federal ou
Estaduais;
• Criação de um órgão regulador, a Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL);
• Criação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), entidade
privada sem fins lucrativos responsável pelo gerenciamento operacional
das atividades de geração e transmissão do Sistema Interligado Nacional
(SIN);
• Estabelecimento de processos licitatórios para concessões que visam à
construção e operação de usinas de energia e de instalações de
transmissão.

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A desverticalização do setor de energia elétrica, implementada no Brasil em
1995, através da Lei do Novo Modelo do Setor Elétrico, envolveu todas as empresas do
setor elétrico que atuavam de forma verticalmente integrada e teve como objetivo a
segregação das atividades de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. O
processo de desverticalização teve como objetivos [1]:
• Evitar a existência de subsídios cruzados entre as atividades de geração,
transmissão e distribuição de energia elétrica, isto é, evitar que as receitas
de um setor subsidiassem um setor diferente;
• Efetivar e estimular a competição no setor elétrico, nos segmentos nos
quais a competição seria possível (geração e comercialização), bem
como aprimorar o sistema de regulação dos segmentos nos quais havia
monopólio natural de rede (transmissão e distribuição), pois sua estrutura
física torna economicamente inviável a competição entre dois agentes em
uma mesma área de concessão.
No início dos anos 2000, como consequência da insuficiência de investimentos,
do aumento da demanda e do desequilíbrio dos reservatórios, o setor elétrico sofreu uma
grave crise de abastecimento que obrigou o país a adotar programas emergenciais de
racionamento de energia nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Este fato
culminou na adoção de alterações regulatórias com o objetivo principal de garantir a
continuidade do fornecimento de energia elétrica, o equilíbrio entre oferta e demanda, a
modicidade tarifária e a inserção social. A necessidade de mudanças estruturais
identificadas com a crise foi sanada por meio da implantação do Novo Modelo Elétrico
Brasileiro, introduzido a partir de 2004 [2].
O Novo Modelo Elétrico foi formado por novas regras que redefiniram o papel
do governo e das agências reguladoras no setor. Foram criados novos agentes
institucionais, como a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), empresa responsável
pelo planejamento da expansão do setor elétrico, o Comitê de Monitoramento do Setor
Elétrico (CMSE), responsável por avaliar permanentemente a segurança do suprimento
de energia elétrica do país, e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE),
com a atribuição de organizar as atividades de comercialização de energia no país.
Destaca-se também, a importância do Conselho Nacional de Políticas Energéticas
(CNPE), conselho interministerial consultivo da Presidência da República, que tem

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como principais atribuições a definição de diretrizes e a aprovação das políticas
energéticas formuladas e propostas pelo Ministério de Minas e Energia (MME).
A atual estrutura de funcionamento do setor elétrico foi concebida sob um ideal
de equilíbrio institucional entre agentes de governo, agentes públicos e privados, desse
modo, existem agentes de governo responsáveis pela política energética do setor, sua
regulação e operação centralizada, ou seja, o CNPE, o MME e o CMSE. As atividades
regulatórias e de fiscalização são exercidas pela ANEEL. Já as atividades de
planejamento, operação e contabilização são exercidas por empresas públicas ou de
direito privado sem fins lucrativos, como a EPE, o ONS e a CCEE [3]. As geradoras,
transmissoras, distribuidoras e comercializadoras devem seguir as atividades permitidas
e reguladas por esses órgãos, conforme ilustra a Figura 2.1.

Figura 2.1 - Mapeamento organizacional do setor elétrico nacional [3]

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2.2. Leilão de Transmissão de Energia

O sistema de transmissão brasileiro, composto por linhas de transmissão e


subestações com tensão nominal acima de 230 kV, é denominado Rede Básica de
Transmissão. O papel da Rede Básica é garantir a integração entre fontes remotas de
energia aos centros de carga, representados pelas subestações terminais para
atendimento às distribuidoras ou atendimento direto a grandes clientes, como aeroportos
e indústrias, os quais têm necessidades específicas e demandam média tensão para
operar.
Além disso, a Rede Básica é fundamental para a operação energética do sistema,
posto que estabelece a integração elétrica entre diferentes bacias hidrográficas e entre
regiões do país. Desse modo, permite constantes intercâmbios energéticos que otimizam
os custos de operação do parque gerado e de operação em complementação térmica,
através da substituição de geração térmica de alto custo por geração hidráulica. De
acordo com a EPE, o Brasil possui aproximadamente 125,8 mil quilômetros de linhas de
transmissão da Rede Básica ligados ao SIN [4], conforme ilustra a Figura 2.2.

Figura 2.2 - Sistema Interligado Nacional (SIN) [5]

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Excluindo-se 2001, ano do racionamento de energia elétrica, e 2007 em que a
expansão foi significativamente reduzida, no geral, nos demais períodos, o acréscimo à
Rede Básica foi superior a 2.000 km por ano, com destaque para 2003, com 4,9 mil km.
Além disso, é possível observar um aumento considerável na implantação das Linhas de
Transmissão a partir de 2013 [6], devido à conclusão de empreendimentos que estavam
em atraso, como ilustra o Gráfico 2.1.

Linhas de Transmissão Implantadas (km)

8000,0

6000,0

4000,0

2000,0

0,0
2001
1999

2000

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014
Gráfico 2.1 - Quilometragem de linhas de transmissão implantadas por ano [6]

Até 1999, a rede de transmissão era operada pelas companhias verticalizadas,


com ativos de geração, transmissão e, em alguns casos, distribuição, ou pelas
companhias resultantes de sua cisão para fins de privatização e ainda controladas pelo
Estado. A partir desse ano, a ANEEL iniciou o processo de expansão do SIN, com base
em leilões de transmissão. Este tinha como finalidade a seleção de um grupo
empreendedor responsável pela construção, montagem, operação e manutenção da rede,
os quais os agentes poderiam participar e dar lances a fim de arrematar lotes desses
leilões. O vencedor seria o candidato que apresentasse a menor tarifa a ser praticada.
Esse sistema de leilão é utilizado atualmente [7].
Para que um ativo de transmissão faça parte do leilão de energia, é necessário
que este seja apontado nos seguintes documentos: Programa de Expansão da
Transmissão (PET), elaborado pela EPE, e Plano de Ampliações e Reforços (PAR),
elaborado pelo ONS. Estes documentos indicam as obras (linhas e subestações)
necessárias para a adequada prestação dos serviços de transmissão de energia. Os

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empreendimentos definidos pelo Governo Federal são incluídos no Programa Nacional
de Desestatização (PND), que determina à ANEEL a realização e o acompanhamento
dos processos de licitação das respectivas concessões.
Os editais de licitação permitem a participação de empresas nacionais e
estrangeiras, públicas e privadas, que podem concorrer isoladamente ou em consórcio,
assim como fundos de investimentos em participação registrados na Comissão de
Valores Mobiliários (CVM). Porém para que uma empresa ou consórcio participe do
leilão, é necessária que seja comprovada a experiência da mesma na área de
transmissão, ou pelo menos parte do consórcio. De acordo com o modelo atual, os
leilões são realizados com inversão da ordem de fases, ou seja, a habilitação jurídica,
técnica, econômico-financeira e fiscal é realizada apenas após a realização do leilão e
apenas para as vencedoras [6].
A ANEEL disponibiliza em seu site os editais dos leilões com antecedência
mínima de um mês em relação à data do leilão. Um mesmo lote pode compor linhas,
subestações e equipamentos de compensação ou transformação. De acordo com os
ativos disponibilizados em um determinado lote, a ANEEL estabelece um valor de
referência da Receita Anual Permitida (RAP) para cada lote. A RAP consiste no valor
em que o agente de transmissão receberá a cada ano, durante toda a concessão do
contrato. Este valor é pago mensalmente, e é conhecido como Pagamento Base (PB).
Nos leilões de energia, vence quem oferecer a menor tarifa, ou seja, a menor RAP para
prestação do serviço público de transmissão. Os deságios verificados resultam em
benefícios ao consumidor, uma vez que a tarifa de uso dos sistemas de transmissão é um
dos componentes de custo da tarifa praticada pelas distribuidoras. Essa diferença
também contribui para maior competitividade do setor energético nacional.
Além do edital, a Agência Nacional de Energia Elétrica disponibiliza os
respectivos anexos técnicos ao edital, juntamente com os relatórios R1, R2, R3 e R4,
cujos teores dos relatórios estão apresentados na Tabela 2.1.

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Tabela 2.1 - Relatórios de Estudo de Engenharia e Planejamento

Relatórios de Estudo de Engenharia e Planejamento


R1 Relatório de Estudos para a Licitação da Expansão da Transmissão
– Análise Preliminar Técnico-Econômica das Alternativas
R2 Relatório de Detalhamento da Alternativa de Referência
R3 Relatório de Caracterização e Análise Socioambiental
R4 Relatório de Caracterização das Instalações Existentes

Os relatórios R2, R3 e R4 são elaborados previamente por um agente


determinado pela ANEEL por possuir a concessão de ativos correlacionados aos
referidos no lote, e após a realização do leilão, o agente responsável pela elaboração dos
relatórios é ressarcido pelo agente vencedor do leilão. Este valor é conhecido
previamente através do edital. Já o relatório R1 é elaborado pela Empresa de Pesquisa
Energética (EPE), de acordo com a demanda de geração e/ou distribuição.
Quando os agentes de transmissão têm acesso aos relatórios (R1, R2, R3 e R4)
eles podem iniciar os estudos para verificar a viabilidade econômica do
empreendimento. Nesse momento, são realizados estudos mais aprofundados para
encontrar novas soluções para os relatórios R2, R3 e R4, elaborados pelos agentes, de
modo a otimizar a viabilidade do negócio. Nesta etapa, são considerados os locais dos
lotes, verificando através da sinergia entre os ativos que já estão em operação e os ativos
pleiteados pela transmissora maior exequibilidade do empreendimento, além de
verificar as principais dificuldades relacionadas às atividades de regularização fundiária
e com órgãos de meio ambiente. Concomitantemente, são avaliados possíveis parceiros
para o empreendimento, através de consórcios, construtoras, fundos de investimento e
empresas prestadoras de bens e serviços, além de possibilidades de financiamentos.
Com um dossiê detalhado com todos os documentos, é realizado um estudo final
com as áreas internas a fim de realizar um Modelo de Negócios, de modo a verificar a
possibilidade de captação de recursos e a Taxa Interna de Retorno (TIR), que consiste
em uma taxa de desconto hipotética, que quando aplicada a um fluxo de caixa, faz com
que os valores das despesas, trazidos ao valor presente, seja igual aos valores dos
retornos dos investimentos, também trazidos ao valor presente. Em outras palavras, em
quanto tempo o investimento passaria a ser rentável.

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Outro fator determinante para o empreendimento é o prazo para entrada em
operação comercial, que consiste em quanto tempo após a assinatura do contrato de
concessão os ativos devem estar operando. Juntamente com o valor da RAP, este é um
fator extremamente importante para atestar a viabilidade técnico-econômica do
empreendimento e, posteriormente, para realização do cálculo da Taxa Interna de
Retorno.
Munida de todas essas informações, a transmissora pode finalmente, alinhada
com seus acionistas, tomar a decisão final de investimento sobre a possibilidade de dar
lances no lote do leilão de transmissão e de até quanto pode oferecer de deságio para,
ainda assim, ter uma boa rentabilidade.
O leilão de transmissão é realizado em sessão pública, conduzida pela
BM&FBOVESPA, no recinto da mesma, em São Paulo. A proposta financeira é
entregue em envelope fechado sendo declarada vencedora de cada lote, a proponente
que ofertar o menor valor de Receita Anual Permitida para exploração da concessão do
serviço público de transmissão, desde que os valores propostos pelas demais
proponentes sejam superiores a 5% da menor oferta financeira. Caso contrário, a sessão
do leilão prossegue com lances sucessivos efetuados a viva-voz até que seja atingida a
menor oferta por uma das partes.
Cerca de noventa dias após serem declarados os vencedores do leilão, as
transmissoras assinam o contrato de concessão com a ANEEL, que estabelece regras
claras a respeito de tarifa, regularidade, continuidade, segurança, atualidade e qualidade
dos serviços e do atendimento prestado aos consumidores. Da mesma forma, define
penalidades para os casos em que a fiscalização da ANEEL constatar irregularidades.
Finalmente, o agente de transmissão está apto a iniciar a construção do
empreendimento.

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3. Implantação

3.1. Planejamento da Implantação

Para que o projeto seja conduzido da melhor forma, é necessária, antes de tudo, a
definição da matriz de responsabilidades. Essa matriz tem como principal objetivo a
atribuição de funções e responsabilidades dentro dos processos que compõem o projeto.
As atribuições de responsabilidades e funções devem ser formalizadas e documentadas
a fim de evitar dúvidas e conflitos entre os membros da equipe. Estas definições devem
estar intimamente ligadas à definição do escopo da implantação.
Independentemente de onde ficarão estas informações, é fundamental que
estejam disponíveis para toda a equipe e acessível ao longo do projeto, pois é
impensável gerenciar um projeto sem que os membros da equipe tenham o devido
conhecimento das suas responsabilidades. E, para garantir que todos os processos
correrão bem, é importante mapear todas as partes envolvidas, como as áreas
relacionadas ao meio ambiente, fundiário, financeiro, regulação e engenharia.

3.1.1. Planejamento Financeiro

Já com a viabilidade econômica consolidada, o projeto de implantação da linha


de transmissão deve ter um controle financeiro de modo a minimizar as chances de
aditivos e pleitos posteriormente pelas empresas prestadoras de serviço. Desse modo, é
importante mapear os custos orçados não só do ponto de vista da engenharia, mas
também de outras áreas como ambientais, regulatórios, fiscais, administrativos,
financeiros e jurídicos que são extremamente relevantes à construção da linha de
transmissão [8].
Nesse momento, é importante verificar a relação dos recursos disponíveis para a
implantação, com a elaboração de estudos detalhados ao nível de engenharia,
planejamento do investimento, controle da execução, negociações e contratações com a
realização de solicitações e adjudicação de propostas, aquisição de equipamentos,
organização da inspeção e fiscalização geral. Ainda nesta etapa, o contrato de
construção é celebrado e as autorizações e licença de instalação (LI) devem ser obtidas.

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De modo comparativo, a ANEEL [9], disponibiliza uma estimativa de custos
para subestações, conforme Gráfico 3.1.

Divisão de Custos em Subestações

Engenharia
19%
29% Canteiro de Obras
3%
Obra Civil

Montagem
23%

26% Administração Local e


Comissionamento

Gráfico 3.1 - Divisão de custos para subestações, segundo a ANEEL [9]

Há também uma estimativa de custos para linhas de transmissão, conforme


Gráfico 3.2. Sendo assim, a transmissora pode apurar seus gastos e comparar, buscando
uma melhor distribuição de custos.

Divisão de Custos em Linhas de


Transmissão
3% Inspeção
4%
10%
Serviços Técnicos

15%
Engenharia

3% Canteiro de Obras
2%
6% Construção de Acessos

57% Obras Civis

Montagem

Gráfico 3.2 – Divisão de custos para linhas de transmissão, segundo a ANEEL [9]

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Como no setor elétrico a Receita Anual Permitida (RAP) só começa a ser
recebida após a liberação comercial do empreendimento, a transmissora precisa buscar
alternativas para ajudar no investimento. Desse modo, devem ocorrer negociações com
instituições financeiras, potenciais financiadores do projeto e com o governo a fim de
obter os respectivos incentivos. Dentre as alternativas, uma das mais utilizadas é o
financiamento fornecido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES).

3.1.2. Contratação

Com a matriz de responsabilidades definida, pode-se então, elaborar o Termo de


Referência (TR) para contratação de uma ou mais empresas para construção. Em alguns
casos, há a contratação de uma empresa para auxiliar na gestão da construção,
conhecida como engenharia do proprietário (EP), dependendo da quantidade de pessoas
disponíveis, por parte da transmissora, para se dedicar ao projeto, da demanda requerida
e do escopo do projeto. O TR é um documento no qual uma instituição contratante
estabelece os termos pelos quais um serviço deve ser prestado ou um produto deve ser
entregue por potenciais contratados. Este precede a assinatura do contrato e tem como
função principal informar potenciais contratados sobre as especificações do serviço.
Quando o contrato é celebrado, o TR se torna parte integrante do contrato. Com o
documento em mãos, as empresas prestadoras de serviços (EPS) podem elaborar seu
orçamento da melhor forma possível.
Além dos termos de serviço, o TR precisa informar a estrutura contratual que
será adotada e, para defini-la para construção e implantação de um projeto, é importante
determinar como será a alocação de riscos entre as partes e a mitigação desses. Tal
alocação, em geral, é feita considerando a estrutura de financiamento, o estágio de
maturidade e desenvolvimento do projeto e os recursos internos existentes na empresa,
dentre outros. Quanto mais detalhado for o planejamento prévio, maior será a segurança
na alocação dos riscos e no dimensionamento dos custos e prazos pelas partes. De modo
geral, para implantação de projetos, os contratos podem ser do tipo preço unitário, por
administração, ou Engineering, Procurement and Construction Contracts (EPCs) [10].
Em geral, as empresas de transmissão optam por uma modalidade de contrato
conhecida como EPC lump sum turn key. Nesse modelo, a empresa realiza um contrato
para o projeto, a construção, a montagem e a compra de equipamentos, de acordo com o

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qual a contratada será responsável pela execução do projeto, a preço fixo e prazo
determinado. Nesse caso, há menor flexibilidade da contratante, já que esta negocia com
uma parte só e eventualmente deixa de obter benefícios que seriam possíveis em
negociações individuais com diversas partes. Por outro lado, a demanda na organização
interna da contratante é menor e há uma mitigação maior de problemas e riscos que
podem surgir durante o projeto visto que a responsabilidade é toda da contratada.

3.1.3. Licenciamento Ambiental

Para que a construção do empreendimento possa iniciar, é necessária a obtenção


da liberação por parte dos órgãos ambientais, como Ibama (Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e Iphan (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional), pois de acordo com a legislação brasileira, todo
empreendimento considerado potencialmente poluidor deve realizar o licenciamento
ambiental para a definição de sua localização, instalação e operação junto ao órgão
competente (Federal, Estadual ou Municipal) [11]. Para realização desta atividade, o
Relatório ANEEL R3 contém as informações pertinentes.
Nos processos de licenciamento ambiental conduzidos por órgão ambiental
federal, estadual ou municipal, o Iphan deverá ser consultado preventivamente. A
manifestação do Instituto é imprescindível para que um empreendimento ou atividade
em processo de licenciamento não venha a impactar ou destruir os bens culturais
considerados patrimônio dos brasileiros, protegidos por tombamento [12].
O estudo ambiental que norteia o licenciamento ambiental de atividades ou
empreendimentos potencialmente poluidores em consonância com a resolução
CONAMA 01/1986 é o Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Além do EIA, deve ser
elaborado o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), que é um documento que possui
como finalidade apresentar de forma objetiva e adequada o empreendimento ou
atividade para compreensão do público em geral. Estes documentos devem ser
elaborados pela empresa contratada.
O EIA tem como objeto o diagnóstico das potencialidades naturais e
socioeconômicas, os impactos do empreendimento e as medidas destinadas a mitigação,
compensação e controle desses impactos. Já o RIMA oferece informações essenciais
para que a população tenha conhecimento das vantagens e desvantagens do projeto e as
consequências ambientais de sua implementação.

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Estudos de viabilidade ambiental e locacional são de extrema importância para
novos empreendimentos, pois esses estudos avaliam as particularidades e características
das áreas escolhidas para a instalação de um novo empreendimento ou de uma nova
empresa [13].
Diversos fatores devem ser avaliados durante a escolha de um local para
implantação de um empreendimento, tais como: impeditivos ambientais, comunidades
do entorno, leis regionais, aspectos socioeconômicos, entres outros.
O Relatório Ambiental Simplificado (RAS) foi instituído formalmente pela
resolução CONAMA nº 279/2001, de forma complementar a resolução CONAMA nº
006/1987, e tem por objetivo oferecer, por meio de procedimento simplificado,
elementos para a análise da viabilidade ambiental de empreendimentos ou atividades
consideradas potencial/efetivamente causadoras de degradação do meio ambiente.
A instituição do RAS é oriunda de demanda específica gerada no contexto do
setor elétrico para empreendimentos com impacto ambiental de pequeno porte, julgados
indispensáveis ao incremento da oferta de energia elétrica no País, como no caso de
sistemas de transmissão de energia elétrica, através de linhas de transmissão e
subestações.
A Licença Prévia (LP) deve ser solicitada na fase preliminar do planejamento da
atividade. É ela que atestará a viabilidade ambiental do empreendimento, sua
localização e concepção e, definirá as medidas mitigadoras e compensatórias dos
impactos negativos do projeto, bem como as medidas potencializadoras dos impactos
positivos. Sua finalidade é definir as condições com as quais o projeto torna-se
compatível com a preservação do meio ambiente. É também um compromisso assumido
pelo empreendedor de que seguirá o projeto de acordo com os requisitos determinados
pelo órgão ambiental. A licença prévia não autoriza o início das obras, limitando-se
apenas a comprovar a viabilidade ambiental do projeto [14].
Para que o empreendedor seja autorizado a efetivamente iniciar as obras de
instalação do empreendimento, é necessária a obtenção da Licença de Instalação (LI),
que é concedida após o cumprimento das condicionantes da LP. A emissão da LI é uma
confirmação do órgão ambiental para com o empreendedor, que as especificações
constantes dos planos, programas e projetos ambientais apresentados atendem aos
padrões de qualidade ambiental estabelecidos em normas ambientais vigentes. Em geral,
a demora dos órgãos ambientais na concessão das licenças é uma das principais causas
de atraso na implantação das obras, conforme ilustra o Gráfico 3.3.

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