Você está na página 1de 2

Brasil tem histórico de alto índice de violência escolar: veja dados sobre agressão contra

professores
Ataque com faca em uma escola estadual de São Paulo que deixou uma professora morta e
mais quatro pessoas feridas jogou luz sobre violência nas salas de aula do país.
Por g1

27/03/2023 13h52

O ataque a faca em uma escola estadual de São Paulo que deixou uma professora morta e
mais quatro pessoas feridas nesta segunda-feira (27) jogou luz sobre a violência nas salas
de aula do país, que tem histórico de índices elevados de agressão contra docentes.
O agressor era um aluno de 13 anos do oitavo ano na escola. O vídeo acima mostra o
momento em que ele foi desarmado por duas professoras.
Há anos, pesquisas têm indicado a alta incidência de casos de agressão, colocando o Brasil
no topo da violência escolar. Veja os dados mais recentes divulgados:
📈 Topo do ranking em agressões
Levantamento global da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) coloca o país entre os de índices mais altos do mundo no ranking das agressões
contra professores - e que têm se mantido estável nos últimos anos.
Ambiente mais propício ao bullying: estudo divulgado em 2019 apontou que as escolas
brasileiras são ambiente mais propício ao bullying e à intimidação do que a média
internacional. Foram entrevistados 250 mil professores e líderes escolares de 48 países ou
regiões.
Situações de intimidação: 28% dos diretores escolares brasileiros relataram ter
testemunhado situações de intimidação ou bullying entre alunos, o dobro da média da
OCDE.
Abuso verbal: semanalmente, 10% das escolas brasileiras pesquisadas registram episódios
de intimidação ou abuso verbal contra educadores, segundo eles próprios, com "potenciais
consequências para o bem-estar, níveis de estresse e permanência deles na profissão", diz
a pesquisa. A média internacional é de 3%.
Agressividade "normalizada": A OCDE não analisou os motivos por trás desses índices,
mas apontou que o bullying e a agressividade acabaram sendo "normalizados" e
minimizados, com impactos negativos sobre o aprendizado.
Intimidação semanal: Em 2017, estudo semelhante da OCDE mostrou que 12,5% dos
professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação
de alunos pelo menos uma vez por semana. Era o índice mais alto entre os 34 países
pesquisados - a média entre eles é de 3,4%.
📊 Agressão verbal, discriminação, bullying...
Na rede estadual paulista, o Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp)
divulga com frequência estudos sobre o ambiente escolar.
Aumento de casos: A pesquisa mais recente, de 2019, apontou que 54% dos professores já
tinha pessoalmente sofrido algum tipo de violência. Em 2017, eram 51% e, três anos antes,
44%.
Violência mais comum contra professores: Entre elas, as mais frequentes eram agressão
verbal (48%), assédio moral (20%), bullying (16%), discriminação (15%), furto/roubo (8%),
agressão física (5%), e roubo ou assalto à mão armada (2%).
Alunos como alvo: 37% dos estudantes relataram ter sido vítimas de agressão. Em 2017,
foram 39% e, em 2014, 28%.
Violência mais comum contra estudantes: bullying (22%), agressão verbal (17%), agressão
física (7%), discriminação (6%), furto/roubo (4%), assédio moral (4%), e roubo ou assalto à
mão armada (2%).
💥 Briga teria sido o motivo
O ataque na escola estadual de São Paulo teria sido motivado por uma briga entre alunos
dias atrás que foi apartada pela professora que morreu esfaqueada nesta segunda-feira.
Segundo o relato de um estudante, o agressor, há alguns dias, xingou um colega de "preto"
e "macaco", o que gerou uma briga entre eles. A professora Elisabete Tenreiro, de 71 anos,
foi a responsável por separá-los. O agressor, então, a ameaçou de vingança.
Foi assim: chamou o menino de preto e macaco. O outro menino (vítima de racismo) não
gostou e partiu para cima dele. A professora "Beth" separou. Aí hoje esse menino que
chamou o outro de macaco veio com uma faca e esfaqueou várias vezes aqui e aqui (disse
ele tocando na cabeça). Ele já falou que iria fazer isso, mas ninguém acreditava.
📊 Aumento dos casos
Para a pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Betina Barros, ataques
como o desta segunda-feira em São Paulo não eram comuns no Brasil e passaram a
acontecer com mais frequência a partir de 2018.
Na avalição dela, isso é resultado de diversos fatores que se tornaram mais presentes neste
período:
Isolamento social: durante a pandemia, os estudantes tiveram que ficar em casa,
convivendo apenas com a família e dependendo da tecnologia para interações sociais.
Exposição à violência: nos espaços familiares, algumas crianças e adolescentes estiveram
expostos a violência e maus-tratos.
Tecnologia: o acesso à internet sem mediação de um responsável tornou mais fácil o
consumo de fóruns da internet, muitos na deep web, que disseminam ideias e conteúdos
violentos. “Não à toa, muitos grupos racistas, conservadores e neonazistas se proliferam
nestes ambientes”, explica a especialista.
Polarização: no mesmo período, boa parte das relações estremeceram diante da
polarização sanitária, social e política no país, o que pode ter servido como combustível
para ideias mais extremistas.
Tudo isso pode ter influenciado o cenário atual em que os casos de violência no ambiente
escolar acontecem com uma recorrência cada vez maior.
Um caminho para a solução
A especialista avalia que um dos caminhos que podem levar à solução o problema é
interseccional e deve ter trilhado por todos envolvidos na proteção da criança e do
adolescente.
De acordo com ela, devem ser criados mecanismos objetivos de controle destas situações
que permitam identificar onde os casos de ataque estão ocorrendo e por que ocorrem. Além
disso, o bullying deve ser combatido por todos.
“Precisamos entender que qualquer tipo de bullying no ambiente escolar não é aceitável.
Assim como estamos entendendo que violência contra a mulher não pode ser ignorada, a
violência sofrida pelas crianças não é menor e também não deve ser normalizada”, defende
Betina.

Você também pode gostar