Você está na página 1de 5

Educação

BRASIL • EDUCAÇÃO

Bullying no Brasil é duas vezes maior que média


internacional
Conclusão é de estudo da OCDE feito em 48 países; cidade dos Estados Unidos quer punir
prática com multas aos pais

Mateus Campos
20/06/2019 - 06:00 / Atualizado em 21/06/2019 - 17:55

Segundo a Talis, 28% dos diretores das escolas brasileiras no ensino fundamental apontaram o bullying como um problema Foto: O
GLOBO / Márcia Campos

Newsletters

RIO — O ambiente das escolas brasileiras é duas vezes mais suscetível ao


bullying do que a média geral das instituições de ensino em 48 países, segundo
dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE). Os números, revelados nesta quarta-feira pela Pesquisa Internacional
sobre Ensino e Aprendizagem 2018 (Talis, na sigla em inglês), mostram que o
educador no Brasil gasta apenas 67% do seu tempo em sala de aula com o
conteúdo didático.

Especialistas e professores concordam que os números indicam que a violência


física e emocional contra estudantes precisa ser enfrentada de novas maneiras
no país. Enquanto isso, iniciativas internacionais são discutidas.

LEIA MAIS:‘Medida é para reincidentes’, diz autor de proposta que multa pais
em caso de bullying

Segundo a Talis, 28% dos diretores das escolas brasileiras no ensino


fundamental apontaram a intimidação ou o bullying como um problema que
ocorre semanal ou diariamente nos ambientes de ensino, enquanto 18% dos
administradores das instituições de ensino médio dizem o mesmo. O percentual
supera em muito as médias da América Latina (13%) e do mundo (14%). A
pesquisa ouviu mais de 250 mil professores e diretores ao redor do mundo. O
problema no Brasil é ainda mais acentuado no sistema público de ensino, onde
os números sobem para 35% (ensino fundamental) e 23% (ensino médio).

LEIA AINDA:Professores brasileiros têm os piores salários


Com sete anos de magistério, a professora Andréa Dutra trabalha em colégios da
rede pública em Duque de Caxias e Belfort Roxo. Ao longo da carreira, precisou
lidar com diferentes casos de bullying em suas salas de aula. Para ela, além de
políticas públicas, as escolas brasileiras não costumam ter a estrutura necessária
para encarar a complexidade do problema.

— Muitas vezes, você chega para dar aula e a escola não tem sequer porteiro,
inspetor ou orientador educacional. Como você vai dar um atendimento especial
a um aluno problemático? Quando eu olho para o ensino público, só vejo ações
individuais e isoladas dos professores para tentar resolver o problema.

Casos internacionais

O documento da OCDE cita bons exemplos de políticas públicas para conter a


prática. No Chile, a Superintendência de Educação criou uma ferramenta para
que cidadãos denunciem casos de bullying para o governo. Na Estônia, foi
implementada uma campanha que começa já nos jardins de infância. Já na
província de Alberta, no Canadá, os professores recebem recursos do Ministério
da Educação para desenvolver políticas específicas contra o problema.

Enquanto isso, uma ideia americana, que não está no relatório da OCDE, ganhou
repercussão nos jornais locais na última semana. O “New York Times” revelou os
planos de uma cidade americana para multar pais de alunos que cometem
bullying. A ideia foi aprovada em primeira votação no conselho municipal de
Wisconsin Rapids na terça-feira e aguarda nova votação no mês que vem.

A medida proíbe o bullying e o assédio na cidade e também visa proteger aqueles


que o denunciaram. A ideia surgiu em fevereiro, quando as autoridades
descobriram que uma estudante cometeu suicídio após receber mensagens
maldosas de colegas. O projeto, inspirado na legislação de uma cidade vizinha,
responsabiliza pais e responsáveis pelos atos de menores de 18 anos. Casos de
alunos reincidentes serão encaminhados à polícia. A família pode receber
notificações por escrito e, no fim das contas, ser multada em até US$ 313.

Acostumada a lidar com crianças e adolescentes vítimas de bullying em seu


consultório, a psicanalista Mônica Donetto Guedes diz não acreditar em
punições como solução. Para ela, políticas públicas que envolvam estudantes e
professoras são mais efetivas do que multas.

— Do ponto de vista social, não vejo o menor sentido. Cabe à escola, como
instituição, lidar com essa situação. Não entendo o dinheiro como punição. O
bullying não é uma questão legal, mas antes de tudo social e cultural.

SAIBA MAIS
BRASIL
‘Medida é para reincidentes’, diz autor de proposta que multa pais em caso de bullying

BRASIL
Medida Provisória sobre educação domiciliar vai proibir prática por pais condenados
criminalmente

BRASIL
Ataques a tiros evidenciam falhas na formação emocional de jovens, dizem
educadoras

O Globo, um jornal nacional: Fique por dentro da evolução do


jornal mais lido do Brasil

MAIS LIDAS NO GLOBO

1. Mario Frias critica banheiro feminino que inclui trans e travestis em secretaria de
cultura do governo de Eduardo Leite
O Globo

Você também pode gostar