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RESUMO
O Salmo 96, que pertence ao chamado livro IV do saltério e, geralmente, é trabalhado a partir
do sintagma ְַי ְהוָה ָמל, inicia com uma conclamação a “cantar para YHWH um cântico novo”
(Sl 96,1a). O substantivo hebraico ( שִׁירcanto) ocorre no saltério com sentido positivo e em
contexto religioso. Já o adjetivo חָדָ שׁtem como significado geral o “novo”, aquilo que ainda
não foi usado e é inédito. O sintagma שִׁיר חָדָ שׁocorre em cinco Salmos e tem paralelo direto
com Is 42,10. Sozinho, חָדָ שׁtem emprego significativo no Dêutero-Isaías (Dt-Is), assim como
em outros profetas próximos ao exílio. No Dt-Is, חָדָ שׁse refere à novidade que tem origem em
YHWH: não é uma simples reedição do êxodo, mas o ato salvífico pleno, um novo início. Do
mesmo modo, o Sl 96 exprime uma novidade irrepetível, a ação salvífica de YHWH, e
também apresenta um conteúdo escatológico, seja através da orientação universal expressa no
Salmo pelo uso das várias imagens que denotam a totalidade, seja pela expectativa
apresentada principalmente na última seção (cf. Sl 96,11-13). A novidade deste “cântico
novo” não está apenas no conteúdo comunicado, mas também na apresentação daqueles que o
cantarão: todos os seres humanos (cf. Sl 96,1b).
ABSTRACT
Psalm 96, which belongs to the so-called book IV of the Psalter and, usually, is studied from
the syntagma ְַי ְהוָה ָמל, begins with a call to “sing to YHWH a new song” (Ps 96,1a). The
Hebrew noun ( שִׁירsong) occurs in the Psalter with a positive sense and in religious context.
The adjective ָחדָ שׁ, in turn, has the general meaning of the “new”, that which has not been
used, without debut. The syntagma שִׁיר חָדָ שׁoccurs in five texts of the Psalter and has direct
parallel with Isa 42,10. Alone, חָדָ שׁhas significant employment in Deutero-Isaiah (Dt-Isa), as
well as other prophets next to exile. In Dt-Isa חָדָ שׁreferring to the news that originates in
YHWH: it is not a simple reissue of the exodus, but the full salvation’s act, a new beginning.
Similarly, Ps 96 expresses an unrepeatable novelty, the YHWH’s saving action, and also
revels an eschatological content, either through universal guidance expressed in Psalm by the
use of multiple images which denote the totality, or the expectation presented mainly in the
last section (Ps 96,11-13). The novelty of this “new song” it's not just the content
communicated, but also in the presentation of those who sing: all humans (cf. Ps 96,1b).
1 Introdução
2 Tradução e segmentação do Sl 96
Julgará os povos com retidão. 10e שׁ ִ ֽרים׃ ָ י ִָד֥ין ַ֜ע ִ֗מּים ְבּמֵי
Exultarão os céus 11a שּׁ ַמי ִם
ָ שׂ ְמח֣ וּ ֭ ַה ְ ִי
e gozará a terra. 11b וְתָ ֵג֣ל ה ָ ָ֑א ֶרץ
Trovejará o mar e tudo o que ele contém, 11c ִי ְֽר ַע֥ם ַ֜ה ָ֗יּם וּ ְמֹאֽוֹ׃
Festejará o campo e tudo o que há nele. 12a ר־בּוֹ
֑ שׁ ֶ שׂדַ י ְוכָל־ ֲא ָ ֭ יַעֲֹ֣ ז
Exultarão, então, todas as plantas do bosque 12b אָ ֥ז ְ֜י ַרנְּנ֗ וּ כָּל־ ֲעצֵי־ ָיֽעַר׃
diante de YHWH pois vem, 13a ִלפ ְֵנ֤י י ְה ָו֙ה׀ ִ֬כּי ָ֗בא
pois vem para julgar a terra, 13c שׁ ֪פּ ֹט ָ֫האָ ֶ֥רץ ְ ִכּ֥י ב ָ֘א ִל
julgará a orbe com justiça e os povos 13d שׁפֹּֽט־תֵּ בֵ ֥ל בּ ֶ ְ֑צדֶ ק ֜ ְו ַע ִ֗מּים ֶבּ ֱאמוּנָתֽ וֹ׃ ְ ִי
na verdade dele.
Admite-se no livro dos Salmos a divisão vertical em cinco livros: 1–41; 42–72; 73–89;
90–106; 107–150, que cria como que o “Pentateuco da oração”, embora seja uma divisão que
diz respeito mais à técnica que ao conteúdo,1 já que o agrupamento dos salmos a partir de
argumentos como autor, títulos, temas e fontes é bastante irregular, sem grande relevância.2
Cada bloco (coleção) é marcado por doxologias (cf. Sl 41,14; 72,18-20; 89,53; 106,48),
possivelmente fruto de intervenções redacionais de diferentes redatores, mas possuidoras de
um sentido teológico.3
Os Salmos também podem ser reunidos de modos distintos, considerando aspectos
como os títulos, autoria, prevalência do Tetragrama Sagrado, ocorrência do sintagma י ְ ֨ה ָו֤ה
ְ ָמ ָ֗ל, expressão do credo histórico (cf. Dt 26,5-9), acrósticos e outros.4 E como esta ainda é
uma discussão aberta, serão consideradas as proporções, mas esta comunicação partirá da
inclusão do Sl 96 no tradicionalmente chamado “livro IV” do Saltério (cf. Sl 90–106), no
interior do qual há um grupo coerente onde predomina o tema do reinado de YHWH (Sl 93–
100)5.
À respeito da estrutura do Sl 96 não há consenso entre os estudiosos.6 Contudo, esta
comunicação segue uma rigorosa proposta, identificando neste Salmo uma estrutura em três
seções distintas: a) vv. 1-6; b) vv. 7-10; c) vv. 11-13; além das suas distintas subseções.
Na primeira seção (vv. 1-6), cada um dos segmentos dos vv. 1-3 trazem um imperativo,
na posição 1. Os vv. 4-6 formam uma subseção, sendo que os vv. 4-5 são diretamente ligados
aos primeiros (vv. 1-3) pela conjunção ( ִכּ֥יcom função explicativa), e o v. 6 se une aos
precedentes através da sequência de substantivos que continuam a descrição da grandeza de
1
Cf. KRAUS, H.-J., 2009, p. 21-22.
2
Cf. ALONSO SCHÖKEL, L; CARNITI, C., 1996, p. 75-76.
3
Cf. WEISER, A., 1994, p. 10-11; ALONSO SCHÖKEL, L., CARNITI, C., 1996, p. 74-75; ZENGER, E., 2013,
p. 25
4
Cf. RAVASI, G., v. II, 2008, p. 14-15.
5
Cf. HOWARD, D. M. Jr., 1997, p. 21-22.
6
Para uma verificação panorâmica e sintética é indicada a obra de T. Mascarenhas (2005, p. 144), que apresenta
a proposta dos principais estudiosos, que consideram no Sl 96: duas, três ou quatro estrofes, ou apenas duas
seções. O próprio autor apresenta uma proposta que se diferencia das demais por considerar o v.1 como uma
introdução proléptica.
4
YHWH. Nota-se que vários personagens e elementos são citados (v.1b – terra inteira; v.3 –
nações e povos; vv.4c.5a – deuses; v.5b – céus; v.6 – santuário), mas toda a série está
centrada em YHWH, citando o seu nome ou pronome pessoal de 3ª pessoa em todos os
segmentos.
Na segunda seção (vv. 7-10) há uma sequência de oito verbos no imperativo masculino
plural, finalizando com três verbos no yiqtol. Permanece a centralidade em YHWH, com o
uso do Tetragrama Sagrado ou do pronome pessoal de 3ª pessoa. Nos vv. 7-9 os verbos
empregados parecem estar relacionados a um contexto litúrgico. O v. 10a inicia com um
imperativo, que sugere continuar a dinâmica dos vv. 7-9. Contudo, este imperativo atua com
uma introdução ao v. 10b que marca o clímax, momento da primeira grande afirmação acerca
de YHWH com uma oração x-qatal: YHWH reina – ְי ְ֨ה ָו֤ה ָמ ָ֗ל.7
A terceira seção (vv. 11-13) apresenta uma sequência de cinco verbos no modo qal
yiqtol (vv.11-12ab), e mantém o caráter da universalidade proposta pelos elementos “céus e
terra” (v.11ab), “o mar e sua plenitude” (v.11c), “o campo e tudo o que há nele” (v.12ab),
“todas as plantas da floresta” (v.12c). De modo geral, há como que um esquema ritual ou
litúrgico, onde são chamados a se reunir em círculos concêntricos: Israel8 (vv. 1-6), os povos
(vv. 7-10) e toda a criação (vv. 11-13) para o julgamento de YHWH.
O objeto de discussão deste trabalho, o sintagma שִׁיר חָדָ שׁ, abre a primeira seção do Sl
96. Por isso, seguir-se-ão algumas considerações sobre o adjetivo חָדָ שׁpara, em seguida,
procurar o sentido da expressão no próprio Salmo.
4 SIGNIFICADO DE חָדָ שׁ
O Sl 96 inicia com a conclamação “cantai para YHWH um cântico novo” (Sl 96,1a). De
modo geral, o verbo e o substantivo שׁירocorrem, no saltério, em contextos cultuais,
religiosos.9 Porém o foco desta comunicação recai sobre o sentido do sintagma שִׁיר חָדָ שׁ, que
ocorre apenas no Saltério e no Dt-Is.10
No Antigo Testamento, a raiz חדשׁsignifica (no piel) tornar novo, restaurar, reafirmar,
contrastando com velho, antigo, e o adjetivo חָדָ שׁtambém se refere ao estado de ser novo, ou
àquilo que não existia11. Também chama a atenção o uso do adjetivo em textos proféticos do
exílio ou muito próximos a ele12, pois somente neste contexto se fala de algo “novo” na
história de YHWH com Israel.13
Além da versão do Cronista (cf. 1Cr 16,23-33), o Sl 96 também possui paralelos com
Salmos considerados mais antigos (cf. Sl 29; 33; 93). Contudo, inspira atenção as muitas
semelhanças léxicas e teológicas com o Dt-Is e o Tr-Is (Trito-Isaías), principalmente acerca
da exaltação cósmica de YHWH (cf. Sl 96,11; Is 44,23; 49,13), da polêmica anti-idolátrica
7
Cf. HOSSFELD, F.-L.; ZENGER, E., 2005, p. 464.
8
Nesta dinâmica, entender-se-ia o substantivo #r,a, com sentido de Israel.
9
Cf. FICKER, R. “ ”חָדָ שׁIn: JENNI, E.; WESTERMANN, C., 1997, p. 1639; BRUNERT, G.; KLEER, M.;
STEINS, G. “ ”שִׁירIn: BOTTERWECK, G. J.; RINGGREN, H., v. IX, 2009, p. 201.
10
Cf. Sl 33,3; 40,4; 98,1; 144,9; 149,1; Is 42,10.
11
Cf. Dt 20,5; 1Sm 6,7; 1Rs 11,29; 1Rs 11,29.
12
Cf. Jr 31,31; Ez 11,19; 18,31; Is 42,9; 65,67.
13
Cf. WESTERMANN, C. “ ”חָדָ שׁIn: JENNI, E.; WESTERMANN, C., 1997, p. 527-529.
5
(cf. Sl 96; Is 40,17-20; 41,29), da vinda de YHWH (cf. Sl 96,13; Is 40,10; 59,19-20; 60,1;
62,11), e da novidade anunciada pelo profeta, assim como é anunciada na abertura do Sl 96,1
(cf. 42,9-10; 43,19; 48,6).14
E justamente no campo da novidade anunciada por Isaías é que se encontra sintagma
( שִׁיר חָדָ שׁIs 42,10), onde o “cântico novo” é uma reação à intervenção de YHWH (Is 42,13),
que “como valente sairá; como o homem de guerras despertará seu zelo. Clamará, assim
gritará; sobre o seu inimigo mostrará força.” Em termos gerais, o “cântico novo” anunciado
pelo profeta Isaías é uma resposta do ser humano a uma nova ação de YHWH.15
Em Isaías o adjetivo חָדָ שׁé empregado em virtude das “coisas novas”16 anunciadas pelo
profeta, aquelas que tem origem divina: é YHWH que faz surgir “coisas novas” (cf. Is 42,9;
43,19; 48,6); ele pronuncia o “nome novo” da cidade (cf. Is 62,2); ele cria “novos céus e
novas terras” (cf. Is 65,17; 66,22). E esta visão de חָדָ שׁem Isaías tem muito a dizer para a
reflexão no Sl 96, principalmente pelo fato de considerar a origem do Sl 96 posterior ao Dt-
Is.17
No Saltério, a primeira ocorrência do sintagma שִׁיר חָדָ שׁse dá no Sl 33,3 – um Salmo
de louvor ao criador e Senhor do universo.18 Nos Salmos, o adjetivo חָדָ שׁsempre é
empregado na função atributiva formando o sintagma “ – שִׁיר חָדָ שׁcântico novo”. חָדָ שׁtem
seu sentido mais próximo àquilo que tem elevada qualidade, e não tanto ao que é
quantitativamente distinto ( אַחֵרapresenta esta noção). Denota, portanto, “algo sem uso, sem
estrear, do qual ainda não se tem experiência (Dt 20,5; 24,5) e que, por isso mesmo, é mais
apto para o uso ritual (1Sm 6,7; 2Sm 6,3) ou para ser apresentado como oferenda (Lv 23,16;
Nm 28,26).”19
Tendo presente estas considerações gerais sobre o adjetivo חָדָ שׁ, passa-se a
compreensão de שִׁיר ָחדָ שׁno contexto do Sl 96.
Acredita-se que os Salmos tenham uma base cúltica e o Sitz im Leben do seu gênero
esteja relacionado com o festival da Aliança.20 Segundo esta perspectiva, entende-se a
conclamação “cantai para YHWH um cântico novo” (Sl 96,1) diretamente relacionada com a
renovação da Aliança – ou renovação da salvação na ação litúrgica. A salvação se renovava
na festa do Ano Novo e se expressava como cântico novo nos lábios da comunidade que,
tendo escutado e vivenciado a história da criação na leitura proclamada na celebração,
personificava o “mundo inteiro/toda a terra” (cf. Sl 96,1b). Assim, a comunidade teria o papel
de proclamar a salvação de YHWH e todos os seus feitos (cf. Sl 96,2-3).21
Por outro lado, pensa-se não ser possível determinar precisamente o rito onde o Sl 96 se
encaixa, embora não se possam negar os elementos cúlticos deste Salmo que seria recitado no
14
Cf. RAVASI, G., v. II, 2008, p. 995-996.
15
Cf. WESTERMANN, C. “ ”חָדָ שׁIn: JENNI, E.; WESTERMANN, C., 1997, p. 529.
16
Cf. Is 42,9; 43,19; 48,6; 62,2; 65,17; 66,22.
17
Cf. KRAUS, H.-J., 2014, p. 375.
18
Cf. KRAUS, H.-J., 2009, p. 573-574.
19
BLUNDA, J. M., 2010, p. 99-100.
20
Cf. WEISER, A., 1994, p. 12-20.
21
Cf. WEISER, A., 1984, p. 63-64; 693.
6
segundo templo. Negando, portanto, alguns rituais como a festa de entronização de YHWH
Rei, a festa de transposição da Arca da Aliança para Sião, além de outras festividades,22 esta
tese se revela contrária ao pensamento de autores que defendem a existência de um festival
israelita como base para o nascimento e transmissão de grande parte dos Salmos.23
Contudo, ambos os pensamentos se aproximam quando propõem a conclamação “cantai
um canto novo” como a resposta do salmista à ação de YHWH. Sendo assim, mesmo que não
seja possível determinar o evento concreto do “canto novo” do Sl 96, o salmista canta o
controle de YHWH sobre toda a criação e os acontecimentos históricos.24 Canta muitas
verdades relativas a YHWH que: é o salvador e libertador (cf. Sl 96,2c); é o criador de tudo
(cf. Sl 96,5b); é superior a todos os seres e reina (cf. Sl 96,4-5.10b); é santo (cf. Sl 96,9a); é o
responsável para estabilidade da orbe (cf. Sl 96,10cd); julgará o mundo com justiça e na sua
verdade (cf. Sl 96,10e.13cd). Em termos gerais, canta o canto novo da salvação de YHWH
propiciada ao ser humano.
No Dt-Is há um evento salvífico que se constitui em fundamento do sintagma שִׁיר חָדָ שׁ:
um evento que não é uma simples reedição do êxodo, mas é o ato salvífico pleno, o novo
início. E esta seria esta a marca do adjetivo חָדָ שׁ. Por isso, pela proximidade com o Dt-Is,
pode-se afirmar que o Sl 96 também exprime uma novidade irrepetível e com qualidade
escatológica.25 O שִׁיר חָדָ שׁdo Sl 96 mostra um salmista agindo com o mesmo espírito do Dt-
Is – que revelava verdadeiras “novidades” para os desterrados (cf. Is 42,9-10; 43,19; 48,6).26
O aspecto escatológico descrito no Sl 96 é destacado por praticamente todos os
estudiosos. Até mesmo a orientação universal do Sl 96, própria dos Salmos que cantam a
realeza de YHWH, revela este cunho escatológico.27 De fato, os substantivos ( כּ ֹלcf. Sl
96,1b.3.4b.9b.12ab) e ( ְמֹאcf. Sl 96,11c) denotam o desejo de que todos participem da festa e
do louvor, menos os deuses, pois estes são vazios (cf. Sl 96,5a).
Pensando assim, entende-se o Sl 96 como o canto escatológico que rompe as categorias
do espaço e do tempo e tudo abarca. Canta a majestade de YHWH exaltada acima de todo o
mundo: ele é o criador e juiz, e todos os que são submissos devem exaltá-lo.28
O contexto das ocorrências do sintagma שִׁיר חָדָ שׁnos demais Salmos29 conduz a uma
imagem consistente desta novidade escatológica: YHWH vem fazer justiça sobre a terra (cf.
Sl 149,7); continuar e concluir a obra da criação (cf. Sl 33,6); fazer o céu e a terra regozijarem
(cf. Sl 96,11); revelar sua salvação aos confins da terra (cf. Sl 98,3.8).30
Percebe-se, nos mesmos Salmos, que o povo reage a uma ação libertadora de YHWH e,
por isso, expressa o “cântico novo”. Por um lado, o salmista conclama toda a terra (cf. Sl
96,1b) para cantar um canto novo para YHWH (cf. Sl 96,1-2), proclamando a salvação por ele
propiciada e todas as suas maravilhas (cf. Sl 96,2-3). Por outro lado, a última seção (cf. Sl
22
Cf. RAVASI, G., v. II, 2008, p. 996.
23
Cf. ASENSIO, V. M., 2008, p. 366.
24
Cf. DAHOOD, M., 2011, p. 357.
25
Cf. RAVASI, G., 2008, p. 1002.
26
Cf. ALONSO SCHÖKEL, L; CARNITI, C., 1998, p. 1209-1210.
27
Cf. BRUNERT, G. “ ”שִׁירIn: BOTTERWECK, G. J.; RINGGREN, H.., v. IX, 2009, p. 211.
28
Cf. KRAUS, H.-J., 2014, p. 376-377.
29
Cf. Sl 33,3; 40,3; 96,1; 98,1; 144,9; 149,1.
30
Cf. NORTH, R. “ ”חָדָ שׁIn: BOTTERWECK, G. J.; RINGGREN, H., 2002, p. 820.
7
96,10-13) apresenta uma forte tensão escatológica marcando a vinda de YHWH que “julgará
a orbe em justiça e os povos na sua verdade” (Sl 96,13d).
Comentou-se a impossibilidade de não se conseguir definir facilmente qual ação divina
estaria na origem da expressão “cântico novo”.31 Assim, pensar שִׁיר חָדָ שׁreferindo-se a uma
canção nova em virtude de um novo evento ou uma nova ação salvífica de YHWH pode não
ser suficiente, do mesmo modo que compreendê-lo somente na sua dimensão escatológica
pode restringir o seu escopo, pois há, de fato, um aspecto caleidoscópico no contexto da
ocorrência de שִׁיר חָדָ שׁque, embora aponte para um evento concluído (cf. Sl 96,5a.10bc),
também sugere uma novidade escatológica (cf. Sl 96,10c-13).32
Contudo, reascende-se a dúvida sobre o motivo pelo qual o salmista invita a cantar um
“cântico novo”. E, neste sentido, uma proposta relevante é entender, primeiramente, que se
trata de uma novidade motivada pelo conteúdo deste cântico. O hebraico חָדָ שׁ, conforme Is
42,9-10 tem a nuance de algo que nunca foi demonstrado. E no Sl 96 manifesta a novidade
que tem origem divina e que rompe todas as fronteiras de tempo e espaço, com forte caráter
universal. Denota a justiça e a salvação de YHWH que não conhecem fronteiras. Em termos
gerais, שִׁיר חָדָ שׁpode ser entendido como a prolepse daquilo que o Sl 96 tem como
conteúdo.33
Além disso, considera-se outro aspecto: é um “cântico novo” não só pelo conteúdo
comunicado, mas também por causa dos que são chamados a cantá-lo: toda a terra, (cf. Sl
96,1b), ou seja, todos os seres humanos34. Ainda que haja a discussão acerca do alcance de
sentido do sintagma ( כָּל־הָאָ ֶֽרץcf. Sl 96,1b), este pode ser compreendido como sinônimo de
todos os seres humanos. Entretanto, caso se insista em considerar ( כָּל־הָאָ ֶֽרץcf. Sl 96,1b)
como sinônimo de Israel, mesmo assim o conjunto do Sl 96 apresenta material suficiente para
se afirmar uma novidade universal em termos de comunicação, pois toda a criação é chamada
a proclamar o reinado de YHWH e sua vinda salvífica.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sintagma שִׁיר חָדָ שׁque abre o Sl 96 aponta para algo novo no sentido de inédito, sem
uso e que tem origem em YHWH. Isso leva o leitor a observar aspectos de um acontecimento
em curso (cf. Sl 96, 10bcd), mas que também tem carga escatológica (cf. Sl 96,11-13).
Diante destes aspectos e de toda a verdade sobre YHWH comunicada no Sl 96, esta
artigo considerou que a expressão שִׁיר חָדָ שׁtambém pode ser compreendida na sua função
31
T. Mascarenhas (2005, p. 201) apresenta a conclusão de alguns estudiosos sobre o motivo deste cântico novo.
Cita: Herkenne, Castellino, Cursi, e Kalt, para os quais seria uma alusão ao contexto da volta dos exilados e à
reconstrução do templo, eventos que revelariam que YHWH não havia abandonado seu povo nem esquecido da
promessa; Briggs, que pensa se referir a alguma transformação no mundo, fruto de uma intervenção divina,
provavelmente a queda do império Persa por Alexandre Magno; Tate, que fala de uma possível celebração de
uma vitória militar; Longman, que também relaciona a um contexto de guerra.
32
Cf. MASCARENHAS, T., 2005, p. 171-173; NORTH, R. “ ”חָדָ שׁIn: BOTTERWECK, G. J.; RINGGREN, H.,
2002, p. 820.
33
Cf. MASCARENHAS, T., 2005, p. 172; BLUNDA, J. M., 2010, p. 99.
34
Cf. ALONSO SCHÖKEL, L; CARNITI, C. Salmos (73–150): tradução, introdução e comentário. São Paulo:
Paulus, 1996. p. 1210.
8
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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_____. Salmos (73–150): tradução, introdução e comentário. São Paulo: Paulus, 1998.
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RAVASI, G. Il libro dei Salmi: commento e attualizzazione. v. II. Bologna: Dehoniane, 2008.
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