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conceitos
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Estado-Nação, Poder e Modernidade:
revisitando conceitos
Por sua vez, é por meio dos discursos oficiais que o Estado exerce esse poder
criador e impÕe sobre o mundo os seus sistemas de classificação sob a aparência
legítima das taxonomias oficiais. Desse modo, o mundo social em que os agentes
interagem é instituído pelas políticas públicas.
O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e
fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e, deste modo, a ação
sobre o mundo, portanto o mundo. (...) Ele se define numa relação determinada
- e por meio desta - entre os que exercem o poder e os que lhe estão sujeitos,'
quer dizer, isto é, na própria estrutura do campo em que se produz e se reproduz
a crença. O que faz o poder das palavras (...), poder de manter a ordem ou de
subvertê-la, é a crença na legitimidade das palavras e daquele que as pronuncia,
crença cuja produção não é da competência das palavras. (Bourdieu, 2005: 15)
O poder administrativo penetra agora cada vez mais nas minúcias da vida diária
e nas mais íntimas ações pessoais e relações. Em uma época cada vez mais
invadida pelos modos eletrônicos de armazenamento, coleta e disseminação de
informação, as possibilidades de se acumular informação relevantes à prática do
governo são quase infinitas. (...) A vigilância é a condição necessária do poder
administrativo de Estados, quaisquer que sejam os fins a que esse poder se dirija.
(Giddens, 2008: 320)
O u t r o d i s p o s i t i v o e m p r e g a d o p e l o d i s c u r s o o fi c i a l é o d a m í m i c a c o l o n i a l ,
que tem a virtude de instaurar entre os grupos minoritários colonizados processos
d e i m i t a ç ã o e d e r e p e t i ç ã o d o s c o s t u m e s e h á b i t o s d o c o l o n i z a d o r. C o m o u m a f o r m a
de diferença, a mímica colonial tem na reforma do Outro o seu objetivo, por isso ela
A o v e i c u l a r o s s a b e r e s o fi c i a i s d o E s t a d o q u e o p e r a m c o m e s t e r e ó t i p o s
e com o dispositivo da mimese colonial, as políticas públicas contribuem para a
produção de sentidos e de relações de poder que articulam as diferenças em uma
o r d e m h i e r á r q u i c a c o l o n i z a d o r a . À c i ê n c i a c a b e o i m p o r t a n t e p a p e l d e j u s t i fi c a r e
legitimar essas hierarquias instituídas pelos governos modernos e coloniais. "É no
território dessa coexistência que as estratégias de hierarquização e marginalização
são empregadas na administração de sociedades coloniais" (Bhabha, 2005:127-128).
E n t r e t a n t o , o s s í m b o l o s c o l o n i a i s p r o d u z i d o s p e l o s d i s c u r s o s o fi c i a i s , a o
deslizarem pelas fronteiras das diferenças culturais e serem apropriados pelos
grupos minoritários colonizados, à medida que passam a compor outros contextos
discursivos, assumem novos sentidos e valores. A hibridização dos discursos surge,
assim, como efeito do poder colonial que produz as diferenças de acordo com as
q u a i s s ã o d e fi n i d o s o s t e r m o s q u e p a u t a m a s r e l a ç õ e s d e a l t e r i d a d e .
P o r t a n t o , é o e s p a ç o f r o n t e i r i ç o q u e c o n fi g u r a a s r e l a ç Õ e s c o l o n i a i s m a n t i -
d a s e n t r e o E s t a d o - n a ç ã o e a s p o p u l a ç õ e s s u b o r d i n a d a s . E s s e e n t r e l u g a r, q u e e s v a z i a
o c o n t e ú d o s e m â n t i c o o r i g i n a l d o s í m b o l o o fi c i a l , p o s s i b i l i t a a s u a e m e r g ê n c i a c o m o
um híbrido cultural. O objeto híbrido está articulado "com uma série de saberes e
posicionalidades diferenciais, que tanto afastam sua 'identidade' como produzem
n o v a s f o r m a s d e s a b e r, n o v o s m o d o s d e d i f e r e n c i a ç ã o , n o v o s l u g a r e s d e p o d e r "
(Bhabha, 2005: 173). Nesse caso, é importante observar com atenção os diferentes
s i g n i fi c a d o s v e i c u l a d o s p o r s í m b o l o s a p a r e n t e m e n t e s e m e l h a n t e s , m a s q u e i n f o r -
mam experiências culturais diversas e fundam novos locais de cultura ao serem
reinscritos em contextos sociais particulares. Aqui, o híbrido surge como símbolo
deslocado que não deixa de trazer algo do seu lugar de origem.
G i d d e n s ( 2 0 0 8 ) d e fi n e c o m o " d i a l é t i c a d o c o n t r e l e " a h a b i l i d a d e d o s g r u p o s
subalternos de criarem contraestratégias e esferas de autonomia próprias frente
aos mecanismos de poder utilizados pelo Estado-nação. Essa dialética do controle
só se faz possível porque o poder, de fato, é um atributo dos agentes sociais: ser
um agente é ter poder.
Todas as formas de domínio têm 'aberturas' que podem ser utilizadas pelos que
estão em posições subordinadas para influenciar as atividades daqueles que
detêm o poder sobre eles. Uma das consequências disso é que as tecnologias de
poder - em outras palavras, procedimentos formalizados de domínio - raramente
funcionam, se é que isso ocorre, com a "firmeza' que, diante dos fatos, eles parecem
possuir. (Giddens, 2008: 37)
implica converter em enfermidade toda uma série de episódios vitais que são parte
dos comportamentos da vida cotidiana dos sujeitos e que passam a ser explicados
e tratados como enfermidade quando previamente só eram acontecimentos
cotidianos. Este processo implica não só que os sujeitos e grupos sociais assumam
tais acontecimentos cotidianos em termos de enfermidade (...) mas sim que passem
a explica-los e atendê-los, em grande medida através de técnicas e concepções
biomédicas. (Menéndez, 2003: 193)
A n o ç ã o d e d i a l o g i c i d a d e , p o r t a n t o , é c e n t r a l n a d e fi n i ç ã o d o c o n c e i t o d e
discurso, pois remete às relações que os enunciados mantêm uns com outros no
contexto das relaçÕes interdiscursivas - os produzidos anteriormente e os que ainda
serão proferidos por destinatários reais ou virtuais em resposta ao enunciado do
locutor. Até mesmo "enunciados longamente desenvolvidos, ainda que emanem
de um interlocutor único (...) são monolÓgicos apenas em sua forma exterior, mas
em sua estrutura interna, semântica e estilística, são essencialmente dialógicos"
(Volochinov apud Charaudeau & Maingueneau, 2006: 161).
O conceito de formação discursiva desenvolvido por Foucault (2005) tam-
bém remete à dimensão dialÓgica como constitutiva do discurso ao reafirmar que
os enunciados estão sempre relacionados a outros já proferidos:
Seja para repeti-la, seja para modificá-las, seja para se opor a elas, seja para
falar de cada uma delas; não há enunciado que, de uma forma ou de outra, não
reatualize outros enunciados. O enunciado se delineia em um campo enunciativo
onde tem lugar e status, que lhe apresenta relações possíveis com o passado e
que lhe abre um futuro eventual. (...) Sempre um enunciado faz parte de uma
série ou de um conjunto desempenhando um papel no meio dos outros, neles se
apoiando e deles se distinguindo. (Foucault, 2005:111)
As organizações internacionais surgem no início no século XX, com a criação da Liga das Na-
çÕes em 1918 (Encontro de Versalhes), e têm rápida ascensáo a partir da la Guerra Mundial
(Giddens, 2008).
O a r m a z e n a m e n t o e l e t r ô n i c o d a s i n f o r m a ç Õ e s - fi t a s , C D s , D V D s e t c . - é u m d o s p r i n c i p a i s
fenômenos relativos aos Estados modernos, já que expandem a variedade dos modos de re-
gistro e de armazenamento disponíveis (Giddens, 2008: 39).
3 Giddens (1991) reconhece dois mecanismos de desencaixe que contribuem na formação das
organizaçÕes modernas: as fichas simbólicas, por exemplo, o dinheiro; e os sistemas peritos,
que se constituem em sistemas de excelência técnica e competência profissional.
Greene (1998) estabelece uma diferença entre recursos biomédicos - serviços, produtos, bio-
tecnologias; medicina biomédica, científico-ocidental, sustentada sobre o paradigma biológico
- e p o d e r b i o m é d i c o - i n fl u ê n c i a p o l í t i c a i n t e r n a c i o n a l b i o m e d i c a m e n t e o r i e n t a d a ( p o l í t i c a d e
saúde, organização e pesquisa).
Menéndez (2003) entende por modelo de atenção rodas as atividades dos grupos sociais re-
lacionadas à atenção aos padecimentos em termos intencionais, isto é, que buscam prevenir,
t r a t a r, c o n t r o l a r, a l i v i a r e / o u c u r a r u m p a d e c i m e n t o d e t e r m i n a d o .