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Formatação: Fanny
BEARD NECESSITIES
WINSTON BROTHERS #7
PENNY REID
Billy Winston
Claire McClure
CLETUS
CLAIRE
CLAIRE
BILLY
BILLY
CLAIRE
1
Ela não sorri comigo. “O que está acontecendo, velha
amiga, companheira? Por que está aqui fora, bêbada, sozinha?
Os meninos já estão dormindo, por mais inacreditável que seja.
Jet e eu seríamos, como Cletus diz? vizinhos de bebida, se
soubesse que estava com vontade de beber. Você nunca bebe.”
“Vizinhos de Bebidas,” cito, rindo novamente. “Cletus
sempre foi um esquisito incrível. Mesmo quando éramos
crianças, tinha uma maneira engraçada de colocar as coisas.”
Eu a ouço mudar ao meu lado. “Você conheceu Cletus
quando era criança?”
“Sim.”
“Não sabia disso, sabia? Juro que a gravidez limpa minha
memória toda vez. Pensei que você e Jethro se conheciam por
causa de seu marido, Ben.”
Não sinto a tensão habitual no estômago ou o medo
opressivo sempre que penso na minha infância. Talvez porque
esteja bêbada? “Não. Conheci Jethro antes de Ben. Nossos pais
eram irmãos MC nos Iron Wraiths.” Falar em frases completas
cobra um pedágio, minha boca parece cheia de chiclete usado.
“Está certo.” Ela estala os dedos ou fez um som parecido.
“Eu sabia disso. Mas seu pai é Razor Dennings e é o chefe de
Darrell? Quero dizer, era o chefe dele. Fico esquecendo que
Razor Dennings é seu pai, mesmo que esteja literalmente em
todo o noticiário.”
“Vou aceitar isso como um elogio,” digo, ignorando a onda
de melancolia que empurra a periferia do meu humor, decidindo
que uma piada está em ordem. “Especialmente vendo como está
atualmente, neste momento...” Fecho meus olhos, trabalho para
pegar o rabo do meu pensamento. “Ele está em julgamento! Pelo
que fez com Simone e Roscoe, e todas aquelas outras pessoas.
Ficaria feliz se todos esquecerem que somos parentes.”
Isso não foi uma boa piada. Isso não é uma piada. Apenas
cale sua boca bêbada.
Um momento depois, sinto a mão de Sienna fechar sobre a
minha e apertar. “Sinto muito, Claire.”
“Por quê? Você assassinou alguém?” Ainda não é uma boa
piada.
Ela aperta minha mão com mais força. “Não consigo
imaginar com o que está lidando agora. Cometi o erro de ler um
jornal no voo, e as coisas que a imprensa diz sobre você me
deixou com muita raiva.”
Dou de ombros, puxo minha mão do aperto dela, colocando
atrás da cabeça e envio uma rápida oração de agradecimento
para cima pelas qualidades entorpecentes de uma boa garrafa
de vinho italiano. “Não penso sobre isso. Crescer com Razor
Dennings como pai, pensar nele... e sua maldade... isso não faz
bem.” O mundo se move para frente e para trás, mas então
percebo que sou eu balançando a cabeça. Então paro. “As
pessoas querem acreditar que pensar em algo faz algum bem.
Pshaw! Conversar, reclamar, xingar e gritar não farão diferença.”
“Claire, seu sotaque está mais grosso? Mal consigo
entender você.”
“Desculpa.” Limpo minha garganta, engulo e me esforço
para fazer minha boca se mover normalmente. “Está melhor?”
“Sim. Posso te entender melhor. Estava dizendo algo sobre
falar não ajuda?”
“Correto! Quanto mais você fala, mas se torna infeliz. Como
cavar um buraco. Se imaginando como chegou ao fundo disso.
É estupido. Não quero ser uma pessoa infeliz. Quero ser uma...
uma... uma dessas, sabe uma pessoa satisfeita.”
“Você quer ser contente?”
“Contente é bom. Vou ser uma pessoa boa e contente, e
assim serei.” Eu me agarro nisso por algum motivo, ou tento.
Sienna fez um pequeno som. “Você parece Jethro, quando
cita sua mãe, exceto bêbado.”
Uma imagem de Bethany Winston se materializa em meus
olhos, sorrindo para mim, dizendo que seria a fada da floresta
dela. Mas então essa imagem é obscurecida por outra, seu rosto
marcado com extrema angústia, seus olhos brilhando com
decepção. Engulo a emoção aguda, trabalho para me distanciar
do eco da vergonha.
“Claire? Você está bem?” A voz preocupada de Sienna
dissipa a lembrança desagradável.
“A mãe dele tinha ótimas palavras, com certeza.” Fungo,
trabalho para organizar minha boca em um sorriso. “Puxa,
gostaria de não ter bebido todo esse vinho.”
“Imagino que se meu pai fosse um serial killer, também
ficaria bêbada em uma colina na Toscana.” Eu a ouço se mexer
no cobertor. “Na verdade, acho que ficarei bêbada em uma colina
na Toscana, mesmo que meu pai só mate com piadas de pai.”
Faço uma careta, viro minha cabeça em sua direção
enquanto ela se vira também.
“Dá um tempo.” Todas as Siennas dão de ombros. “É difícil
fazer assassinato ser engraçado.”
“Nós provavelmente deveríamos parar de tentar.”
“Você está certa. É que gostaria de animá-la e não consigo
pensar em nada hilário para dizer quando é a razão pela qual
está triste é tão deprimente.”
“Meu pai não é o motivo de eu estar triste,” digo, porque
vinho + vinho + vinho + vinho = honestidade. “Quero dizer, sei
quem ele é a vida toda. É a pessoa mais assustadora do mundo!
Se nunca mais o visse, ficaria agradecida. Só de pensar nele, é
difícil.”
“Oh. Eu sinto muito. Não precisamos...”
“Não, Não. Se quisermos ter essa conversa, devemos ter
agora.” Bato no chão com a mão, com muita força. Isso vai doer
mais tarde. “Estou bêbada! E isso ajuda muito. A questão é que
não estou surpresa com o que meu pai fez. Não luto por ele.
Estou muito triste, tão triste, pelas famílias. Estava com medo
de Simone e Roscoe quando ouvi o que aconteceu com eles.
Graças a Deus estão fora de perigo agora. Mas Razor Dennings
não tem nada a ver com o meu humor. Se eu deixasse esse
bastardo impactar meu humor, estaria me escondendo metade
do tempo.” O mundo mexe para cima e para baixo, então paro
de balançar. “Talvez o tempo todo.”
“Sério?” Ela pergunta seu tom me dizendo que não acredita
em mim. “Ele não afeta seu humor?”
“Correto.”
“Então por que está aqui fora no escuro?”
“Você mesma disse que é bonito aqui.” Jogo minha mão
para o céu, depois ela volta e me bate na barriga.
“Então por que está bêbada?”
“Esse vinho é bom, e uma surpreendente tatuagem de bode
me pegou de surpresa. Diria que você deve tomar um pouco,
mas já bebi tudo.”
“Tatuagem de bode?” Ela sorri, mas diz “E ainda assim,
você está triste, Claire.”
Meu peito doí, cortando a névoa da embriaguez. Meu peito
não parou de doer, desde que descobri que Billy chegou. Nossa
interação em seu quarto só intensificou a dor, e é por isso que
estou bêbada no momento. Só quero que isso pare.
Depois que ele me disse para manter distância, o que
entendi, aceitei e farei 100%, a dor tornou-se alternadamente
ardida e quente, e depois monótona e dolorosa. Acabou. Esperei
muito tempo. Fui uma idiota por muito tempo e Billy finalmente,
finalmente seguiu em frente.
Bem então. Bom para ele. Ele merece toda a felicidade.
Merecia toda a felicidade anos atrás e sempre mereceu mais do
que eu. Então, brindei com a felicidade dele quatro vezes, e agora
estou tão bêbada quanto Flo McClure, no Natal que disse a todos
nós que era lésbica.
“Acho que estou triste.” Meu queixo treme. Droga. Estou
feliz por Billy, mas isso não significa que estou feliz por mim.
“Por que você está triste?” Ela se vira, deitada de lado para
me encarar. “Fale com Sienna. Conte-me tudo. Talvez possa
ajudar. É sobre as notícias?”
“Não.” Aceno minha mão no ar. “Não ligue para o que me
chamam. 'Filha do diabo'.” Bufo uma risada fraca. “Fui chamada
de coisa pior.”
“Sei como é que, quando todos se reúnem, pode ser
exaustivo.”
“Não são os jornais, não liga.”
“Se alguém pode ajudá-la a não se importar com o que a
mídia está dizendo, sou eu. Sou uma profissional.”
“Sienna. Não é a mídia. É...” Paro meu rosto enrugado,
então o cubro com a mão.
Ela fica quieta por alguns segundos e sinto sua atenção em
mim. “Sei que acha que falar sobre as coisas não vai ajudar, mas
às vezes ajuda. Às vezes, só precisa de uma pessoa em quem
possa confiar para ouvir, com quem possa se abrir e não precisar
se preocupar com os sentimentos, ou se estão te julgando.”
Balanço a cabeça, pressiono meus lábios juntos. Conversar
com alguém assim realmente parece bom. Parece tão legal que
parece um conto de fadas. Fingir. Faz de conta.
“Eu me preocupo com você,” ela continua. “Jethro se
preocupa com você. Ele disse que Ben costumava ser essa
pessoa para você, mas agora ele é...”
“Ben nunca foi essa pessoa para mim,” solto, e depois
respiro fundo, sentindo-me... Bem.
Eh deixe-me esclarecer isso. Por tudo bem, quero dizer, não
é pior.
Sienna fica quieta novamente, mas desta vez o silêncio
parece diferente. “Claire.”
“É a verdade. Ben me amava, cuidava de mim, me
mantinha em segurança. Eu tinha uma dívida com ele, que
nunca poderia pagar. Mas nunca fui honesta com ele sobre como
me sentia, o que queria ou quem era. E quando tentei ser
honesta, apenas o machuquei. Eu o machuquei tanto. Ele não
queria honestidade, queria que o amasse, e eu não podia. Não
pude. Eu não pude.”
Ah, e agora estava chorando.
Droga de lágrimas. Soluço estúpido, bagunçado, sistema
hidráulico. Cara, odeio chorar. Odeio, e se houvesse uma
maneira de modificar cirurgicamente meus dutos lacrimais
ativos quando triste, faria essa cirurgia.
Sinto a hesitação de Sienna, provavelmente devido ao
espanto, antes que estique a mão, me vire em sua direção e me
puxe para seus braços. Enrolada em seu corpo quente, eu choro.
“Oh, Claire. Querida. Você está bem? O que posso fazer?”
Dou de ombros. “Só estou tentando resolver as coisas,
coisas do meu passado, coisas das quais não me orgulho.”
“Você é um anjo.”
Bato nas minhas lágrimas idiotas. “Não. Não sou nenhum
anjo,” digo e então soluço.
Ela ignora o soluço. “É complicado quando as pessoas
morrem, é fácil se sentir culpado por transgressões imaginárias.
Tenho certeza...”
“Eu o traí,” solto, e então me sinto uma idiota, porque
trapacear não foi exatamente o que Billy e eu fizemos.
Sua mão esfregando círculos nas minhas costas para. “Uh,
o que?”
“No meu coração, eu traí,” tento esclarecer.
“Você disse... traiu corações? Gosta do jogo de cartas?”
“Não, não cartas. Quero dizer...” Não sinto mais a
necessidade de chorar, recuo. Estou murmurando minhas
palavras, e ter meu rosto pressionado contra o pescoço dela
provavelmente fica difícil de ouvir. “Aqui está o que aconteceu,
ok? Estava apaixonada por esse homem naquela época,” jogo
meu braço no ar, “e era casada com Ben. Mas é complicado
porque Ben se casou comigo aos quinze anos, dizendo que era...”
“Quinze?!”
“Espere, deixe-me terminar. Ele fez isso para me manter a
salvo de meu pai, ok? E não éramos casados, casados. Seja como
for, é uma longa história. Mas a parte importante, enquanto
estava secretamente casada com Ben, mas todo mundo pensava
que estávamos noivos, esse homem que eu amava, vamos
chamá-lo de B... Barney, e eu nos encontramos em um hotel e
conversamos, beijamos e... apenas aquele tempo, mas não no
hotel, nós nos curtimos.”
“Santo macarrão!”
“Eu sei! E então Barney queria que eu deixasse Ben. Mas
então eu não... estava com medo, meu pai é um filho da puta
assustador e se não tivesse a proteção da família de Ben, bem,
ia ser cruel. E devia a Ben. Devia a ele, devia a ele e ia fazer o
quê? E mais, de certa forma, eu amava Ben? Era estável, dizia
que poderia ficar melhor, apesar dele também fazer o que
quisesse, sem levar em conta meus sentimentos.” Jogo minha
mão no ar novamente. “Apenas me assumiu e se sentiu no
direito o tempo todo. Quão burro certo? Estava confusa, burra e
com dezenove. Dezenove!”
“Uh...”
“E Barney, o homem que encontrei em segredo, ficou muito
bravo e me tratou friamente e tem um bode no ombro. E eu o
culpo? Não estava com raiva dele. Sabia que era a culpada. Eu
era o problema Sempre sou o problema!”
“Claire, tem certeza de que quer falar sobre isso? Isso
parece muito pessoal. Tem certeza de que não quer esperar até
ficar sóbria?”
“Se esperar até ficar sóbria, ficarei muito covarde, não
quero ser um fardo, para dizer qualquer coisa, e agora você sabe,
então, por favor, pergunte-me sobre isso quando estiver sóbria,
para ser forçada a contar uma versão coerente da história.”
“Estou tendo problemas para acompanhar a história.”
Eu mal a ouço. “Além disso, nem cheguei às piores partes
ainda, que é a mãe descobrindo e me pedindo para ficar longe, e
ela estava certa. Estava tão certa. Eu a deixei triste, a
decepcionei. Fiquei longe. E então Billy, espere, quero dizer,
Barney aparece na minha casa na noite anterior ao meu
casamento 'oficial' com Ben e, depois de me dar um beijo, exigiu
que eu saísse com ele, totalmente estilo de homem das cavernas,
o que causou nossa primeira grande explosão... Luta estridente,
que temos basicamente toda vez que nos vemos desde então.
Fim.”
“Uh, eu...”
“Espere, não. Esse não é o fim. Eu me esqueci de dizer, Ben
morreu e me senti tão culpada e envergonhada tipo,
verdadeiramente me odiando, profundo, insalubre, ilógico, com
lavagem cerebral, que evitei Billy por anos.” Aponto para o céu e
não faço ideia do porquê. “Mas então ele ficou noivo e o evitei por
causa disso também. E então acontece que ele não estava
realmente noivo, mas estava, ou meio que estava, mas é falso,
ou não? E ainda queria ficar comigo no Natal, exceto que mentiu
para mim sobre Duane e Beau serem meus irmãos, ele sabia o
tempo todo! e não sei se posso confiar nele. E a única pessoa
com quem dormi em toda a minha vida foi meu marido, com
quem tenho sentimentos muito conflitantes, porque não estava
pronta para fazer sexo, mas me senti obrigada, e isso é uma
bagunça gigante. Agora, este é o fim. O fim.”
As Siennas estão caladas, aparentemente precisando de
alguns segundos para processar essa enxurrada de informações.
Ou talvez minhas palavras foram tão ilegíveis que pensa que
estou tendo uma convulsão. Ou talvez esteja sonhando com tudo
isso e ainda estou em casa em Nashville, dormindo.
Mas então sento e meio que a vejo respirar fundo antes de
dizer “Por favor, me diga que está em terapia.”
“Sim.”
“Graças a Deus.”
***
“Claire?”
Pisco em volta da mesa, me sacudindo, descobrindo vários
pares de olhos em mim. “Desculpa o que?”
“O frango.” Jethro aponta para o lado do meu braço e olho
para baixo, o prato de frango no meu cotovelo.
“O tio Duane quer que você passe o frango, senhorita
Claire” diz o pequeno Benjamin, juntando tudo para mim.
“Oh, sim, desculpe.” Pego o prato e levanto, colocando nas
mãos estendidas de Jethro. “Aqui está.”
Ele franze a testa, sorri, esse é o rosto que Jethro faz
quando está preocupado, e passa o frango pela mesa para
Duane. Minha atenção se volta para Jess e Duane; ambos me
olham suavemente. Duvido que Sienna contou a Jethro, Duane
ou Jess sobre minha sessão de confissão bêbada. No entanto,
claramente, meu humor introspectivo foi notado.
No outro extremo da mesa, os pais de Jess e Maya não
prestam atenção, concentrados em Andrew, o segundo filho de
Sienna e Jet, que está sentado no colo de Maya, e Liam, que
Janet James segura em seus braços.
Sentindo a atenção persistente de alguém, olho para
Sienna. Ela dá seu sorriso caloroso e compassivo para mim, e
então abaixo meus olhos no meu prato, afundando um pouco
mais na minha cadeira.
Bêbada em uma colina na Toscana, derramei minhas
entranhas na minha elarói (ela + herói) ontem à noite. Tenho
certeza de que me lembro dela dizendo algo sobre eu soltar
babaquice sobre lavagem cerebral. Ou talvez eu disse isso?
Graças a Deus não disse a ela que o homem com quem traí, não
é outro senão Billy Winston. Isso faria o jantar, quando ele
finalmente conseguir descer as escadas, muito estranho.
Não falo com ela desde a sessão de confissão. Não é que
estou com vergonha, evitando-a. Mais como se estivesse
incrivelmente ocupada cozinhando e segurando meu sobrinho e
evitando-a.
A maioria das pessoas me considera uma pessoa
especialmente descontraída, e isso é verdade. Tenho problemas
para me levar muito a sério. Quando você acredita que sua
própria opinião é suspeita, não faz muito sentido dedicar muito
tempo ou energia a ela. Como tal, depois de sair do quarto de
Billy ontem de manhã e chorar na adega, disse a mim para
superar isso.
Construí minha casa de culpa, muita culpa cheia de
cupins, ratos e fundações em ruínas, mas é para isso que serve
a terapia. Estou trabalhando no desmantelamento da minha
casa de culpa e isso é tudo o que posso fazer.
Mas ontem, minhas opções eram ficar na adega e chorar
ou assar algo gostoso, como biscoitos. Assar biscoitos
contribuiria para a felicidade e o bem-estar de todos na casa,
enquanto tenho quase certeza de que ninguém quer provar
minhas lágrimas.
Assim, assei. Cozinhei. Bati, marinei e gelei um bolo e,
hoje, desossei três galinhas.
“Este frango está tão bom, Srta. Claire, nem precisa de
ketchup,” diz Benjamin, e levanto meus olhos bem a tempo de
ver seu sorriso. Ele tem o sorriso do pai, isso é certo.
“Que bom que gostou, querido,” digo.
“Você com certeza é uma boa cozinheira, quase tão boa
quanto mamãe,” ele continua, empurrando um pedaço em sua
boca que seria grande demais para mim. Mas ele mastiga como
um campeão, eventualmente engole em seco antes de dizer:
“Pena que não mora conosco.”
Sienna sorri e olho para ela; compartilhamos um olhar
rápido e divertido.
“Tive pensamentos semelhantes antes de seu pai e eu nos
casarmos, pequeno. Entre você e eu, quase me casei com Claire.”
“Sério?” Benjamin parece considerar seriamente isso,
pesar os prós e os contras, seus grandes olhos castanhos se
movem entre nós.
“Sério?” Jethro pergunta, enviando um sorriso cintilante
para sua esposa. “Agora, eu aqui, não tinha ideia de que gostava
de mariscos.”
Alguém no final da mesa engasga com algo, atraindo todos
os olhos. É o xerife James tendo problemas com a água.
Jethro olha para o xerife, explicando, “Claire tem uma
ótima receita de mariscos.”
“Claro,” o homem mais velho murmura.
Sienna ignora a comoção, dizendo ao marido enquanto
pisca para mim “Geralmente não gosto de mariscos, apenas
mariscos de gengibre quentes como os de Claire.”
Apesar do meu humor meditativo e melancólico, sinto
meus lábios puxarem para o lado.
“Vai ter que me dar essa receita” Jess entra na conversa,
escovando a franja loira para o lado, o rosto e o tom tão
arrumados quanto uma linha. “Amo o gosto do gengibre.”
Agora a Sra. James tosse, mas não olho para ela,
compartilho um olhar de olhos arregalados com Duane.
O dele parece dizer: Ela continua fazendo isso comigo na
frente de seus pais.
Então, tento me comunicar: Sabia como ela era antes de se
casar.
Ao que ele diz: Eu sei, mas me sinto mal pelo xerife e pela
Sra. James.
Ao que respondo: Não. Eles ganharam você como filho.
Com esse sentimento, a boca de Duane se curva em um de
seus sorrisos raramente concedidos e aquece meu coração,
aliviando parte da crueza.
Mas nossa troca silenciosa e interrompida por Jethro.
“Puta merda! Vocês estão fazendo isso? Onde leem os
pensamentos um do outro? Pensei que era apenas uma coisa de
gêmeos.”
Meu irmão faz uma careta, zombando de Jethro. “Do que
está falando? Isso não é real. Somos apenas Beau e eu tentando
irritar Cletus. Na verdade, não podemos ler os pensamentos um
do outro.”
Jethro olha de soslaio para Duane, depois para mim,
depois para Duane, como se suspeitasse. “Você só faz isso para
irritar Cletus?”
“Claro.” Duane revira os olhos, esfaqueando um pedaço de
frango com o garfo e depois me olha bem rápido, como se
dissesse: Continue com o truque!
Jethro bate na mesa com a palma da mão. “Aí. Ali. Você
acabou de fazer de novo.”
Sienna sorri atrás do guardanapo enquanto luto contra o
meu próprio sorriso, revirando os lábios entre os dentes.
“O que eu fiz?” Em tom estridente, Duane come sua
terceira porção de frango e encolhe os ombros a seu irmão, como
se estivesse confuso. “Não fiz nada. Você é louco.”
“Tio Billy!”
Uma nova comoção entra em erupção e o meu interior
também. Movimento e exclamações no final da mesa têm todos
os olhos voltados para o outro lado, até os meus. Especialmente
meu. Mal consigo engolir em seco quando me inclino para frente,
procurando por Billy. E quando o vejo, meu coração fica confuso
sobre bater ou fingir de morto.
Ele parece melhor, mais forte. Graças a Deus.
Mas isso significa que agora pode andar. Bem, merda.
Devoro a visão dele, noto que sua barba está uma bagunça.
Isso não diminui sua atratividade, emprestando-lhe um ar de
beleza casual e que também parece estranhamente agourenta.
Usa jeans, uma camiseta branca, e isso é tudo que posso ver
daqui de longe.
Cumprimenta o xerife e a Sra. James primeiro, seus olhos
parecem aquecer quando se estabelecem na criança em seus
braços.
“O que você acha?” A Sra. James pergunta, levantando o
bebê, sorrindo como uma mulher no meio da felicidade da avó.
“Seu homônimo não é bonito?”
“Ele é lindo, parece com a avó,” diz suavemente, colocando
o grande dedo indicador no punho da mão do pequeno Liam.
Meu coração aperta dolorosamente.
A mulher sorri! Como uma adolescente! “Oh, pare,”
repreende, brincando com ele, mas parece satisfeita. “Não
parece. Se parece com seu pai. Olhe para esses cachos
vermelhos.”
“Posso segurá-lo?” Ele dirige essa pergunta para Janet
James primeiro, e depois para Jess, que olha para ele com um
sorriso sonhador.
“Claro!”
“Absolutamente. Vá em frente.”
Ele aceita a criança enquanto Duane se apressa para
supervisionar. Billy encaixa o pequeno humano na dobra do
cotovelo e dá um beijo na testa de Liam. É quando desvio os
olhos, recostando na cadeira, preciso me concentrar em
qualquer insurreição que meus órgãos estejam organizando. Não
aguento a visão disso. Billy Winston, preocupado com um bebê,
faz coisas estranhas em meu interior, envia uma pontada de
saudade de um canto a outro no meu corpo.
Sou oficialmente ridícula.
Sinto o peso do olhar de alguém novamente, arrisco um
olhar para Sienna. Ela não olha para mim. Como Jess e Janet,
seus olhos sorridentes estão em ação no final da mesa, o homem
de tirar o fôlego, segurando o bebê mais fofo do mundo. Desvio
minha atenção para outro lugar, encontro o olhar de Jethro.
Ele está me estudando. Cuidadosamente. Como se
procurasse algo. Talvez encontrou, não faço ideia, porque ao
descobrir sua inspeção, um alarme toca entre meus ouvidos.
Fico de pé. Pego meu prato. “Vou começar a lavar a louça,”
murmuro, e corro para a cozinha.
Para constar, não me importo em ir para a cozinha, amei
essa cozinha, ela definitivamente se tornou meu espaço seguro.
Grande, mas não muito, o estilo se encaixa na estrutura.
Armários de madeira maciça de oliveira, granito cinza de uma
pedreira antiga em algum lugar da Itália, barra da pia de
azulejos pintados à mão em azul, verde e amarelo, uma pia de
porcelana estilo fazenda grande o suficiente para lavar uma
criança. Jess chama de moderno rústico e essa é uma descrição
adequada.
Coloco meu prato no balcão, percebo que mal toquei no
meu jantar, então coloco um pedaço de frango na boca e jogo o
resto da comida no lixo. Puxo todos os pratos sujos da pia,
liberando espaço para pular a máquina de lavar louça e limpar
tudo à mão. Por que não? Tenho tempo e minhas mãos querem
estar ocupadas.
“Claire?”
Fico tensa com o som do meu nome, aliviada por não estar
segurando um prato quebrável.
“Jethro,” digo brilhantemente, mantendo minhas costas
para ele. “Pode deixar isso ali com o resto. Vou limpar tudo.”
“Você lava, vou secar.” Na minha visão periférica, vejo que
colocou o prato ao lado do meu no balcão e paira no meu ombro,
olhando para mim. Não me importo. Isso nos dará a chance de
recuperar o atraso. “Como você está? Como está o trabalho?”
“O trabalho está bem.” Eu o enfrento, dou-lhe um sorriso
de lábios cerrados, preparada para me comportar como se tudo
estivesse bem e elegante, porque está tudo bem. E bonito. “Eles
me reservaram um estúdio em Roma, para poder terminar o
novo álbum para um lançamento no outono. Isso é bom.”
“Estão lançando no outono? Pensei que disse que estavam
atrasando as coisas por causa da má notícia.” Jethro puxa uma
toalha da terceira gaveta, jogando-a por cima do ombro.
“Oh, bem, sabe. Algum grande executivo anulou essa
ideia.” Dou de ombros, abrindo a torneira e pegando seu prato e
ignoro a pontada de emoção não identificada, fazendo meu peito
parecer muito apertado. “Toda notícia é boa notícia, ou algo
assim. Eles já tentam me fazer passar por uma garota má no
país, e acho que meu novo apelido, 'Filha do Diabo', não muda
nada...” A verdade é que odeio o apelido. Odeio isso.
“Sim, por que fizeram isso? Vestir você com todo esse couro
preto e tal?” Ele aceita o prato molhado que entrego, encostando
o quadril no balcão.
“Não sei. Sexo vende, talvez? Quando assinei com a
gravadora, não percebi que era necessário renovar a imagem.
Mas não devo me importar. E isso meio que torna mais fácil,
sabia?”
“O que quer dizer?”
Eu me sinto tranquila aliviada com a direção benigna da
conversa. Isso é confortável, como nos velhos tempos, quando
ensinava música e teatro na escola e Jethro aparecia aos
domingos. Eu preparava o jantar, ele arrumava a casa e depois
eu o ajudava a estudar, primeiro no GED e depois no AA.
“Bem, se posso usar uma fantasia, e fazer uma cena em
cima no palco, esse papel desprezível que definiram para mim,
algo muito diferente do verdadeiro eu, facilita a separação da
minha vida real da via artística. Faz sentido?”
“Acho que sim.”
Entrego a panela grande que acabei de raspar e pego a
frigideira que usei para fazer as flores de abóbora. “De qualquer
forma, deixá-los ditar a parte da marca significa que me deixam
ditar a parte da música. Todas as músicas que escrevi para este
álbum foram compostas de primeira, e isso não é pouca coisa
com essas pessoas.”
“Também ajuda que seja uma compositora incrível, Claire.
Não se esqueça disso.”
Suprimo o instinto de negar ou desviar sua declaração, em
vez de me forçar a dizer: “Obrigada, Jet. Obrigada.” Olhe para
mim, eu amadureci.
“Oh meu!” Jet recua, sua mão chega ao peito em um
movimento que só pode ser descrito como delicado. “Você
acabou de aceitar um elogio? Claire McClure acabou de aceitar
um elogio? Isso acabou de acontecer?”
Faço uma careta para o meu amigo enquanto esfrego a
frigideira de ferro fundido, tomando cuidado para não usar
sabão. “Bem, não se vai me dar uma merda sobre isso, não vou.”
Ele sorri provavelmente da minha expressão exasperada;
expressões exasperadas com outras pessoas eram suas
favoritas.
“Então não vou te dar merda. Mas quero marcar esse dia
no meu calendário como importante. Só foi preciso um grande
contrato de gravação, um álbum de platina e uma viagem chique
à Itália para começar a colocar pra fora.”
Sorrio também, jogando água em seu rosto com as unhas.
“Fecha essa cara idiota.”
Ele pega meu pulso antes que eu possa espirrar mais água
e puxa para baixo, abaixando a voz para dizer: “Claire isso não
é o que uma dama diz.”
Sorrio mais. Isso é algo que Jethro e eu costumávamos rir.
De vez em quando, Ben me dizia que eu não estava me
comportando de maneira feminina. Isso costumava irritar
Jethro, e por isso zombava de Ben, e isso fazia Ben rir, e todos
nós ríamos.
“Já te disse, adoro quando faz isso?”
“O que?” Ele seca minha mão e a solta, sorrindo para mim.
“Adoro como difundia essas situações com humor,
intervinha com Ben quando eu não tinha as palavras certas.
Obrigado por fazer isso, isso significou muito.”
O sorriso de Jethro diminui seu olhar se volta para dentro,
introspectivo. “É estranho que às vezes eu me sentisse como se
Ben e eu éramos espécies diferentes? Eu o amava, Deus sabe
que sim, mas ele fazia coisas que não faziam sentido para mim.”
Jethro parece se afastar de uma lembrança, o lado de sua boca
se curva de bom humor. “Como quando dizia essa merda para
você, como se fosse seu pai ou sargento em vez de seu noivo.
Costumava me irritar, honestamente.”
“Não, não é estranho. Entendo.” Tiro a água, pego a toalha
das mãos de Jethro para secar a minha. “O desapontamento dele
também me pegava de surpresa. Como, uma vez, eu estava
pintando as unhas dos pés na sala de estar e isso o deixou
louco.”
“Exatamente. Lembro-me de uma vez que ele se sentiu mal
porque pedi um hambúrguer com queijo cheddar em vez de
suíço. Mas então, eu me desculpava, como se fosse enorme, e ele
me perdoava na hora, nem ficava bravo. Como se esperasse isso,
pronto para estender a graça.”
Mordo o interior do meu lábio, estudando as linhas de riso
ao redor dos olhos de Jet, sentindo como se fomos abruptamente
pegos em uma maré crescente de melancolia. Mas pelo menos
estamos juntos... Exceto, estamos? Realmente?
Jethro sente a falta de Ben. Ele ainda sente muita falta de
Ben. Considerando que eu não. Não sinto a dor de uma esposa
perder o marido, e o que isso diz sobre mim?
Lutei por tanto tempo para sentir falta dele. Falava sobre
ele melancolicamente com o pessoal, tentando forçar isso,
dizendo todas as coisas certas. Mas, finalmente, me senti uma
traidora por não sentir mais sua falta, culpada por não estar
devastada, o que no final, me devastou.
Atualmente me inspeciono, assim como ele fazia na mesa
da sala de jantar, como se procurasse alguma coisa, Jethro abre
a boca como se um pensamento estivesse na ponta da língua.
Fico parada, encontro seu olhar, não mais em pânico pelo que
ele procura.
Agora que não estou mais perturbada pela aparição
repentina de Billy, meu alarme anterior parece bobo. Este é
Jethro. Conheço Jethro toda minha vida. Passamos por muita
coisa, e nem uma vez, nem uma vez, ele me fez sentir menos,
como um fardo, como uma fonte de decepção ou infelicidade.
Nem uma vez.
Ele era minha família antes que eu soubesse que tinha
alguma família remanescente, visitando-me em Nashville
quando Ben foi implantado e depois, após a morte de Ben,
quando voltei para Green Valley para ficar perto dos McClures,
cuidou de mim e me deixou cuidar dele.
Eventualmente, ele suspira profundamente e diz “Sabe,
tudo bem amar alguém, além de Ben. Certo?”
Na minha linhagem, deve ter um cervo, porque congelo. As
declarações de Jethro são raios, altos e eu fui pega. Que diabos?
Ele me inspeciona por mais um momento, deve ter notado
a mudança em mim, meu alarme, porque então, usa a voz que
reserva para ocasiões em que é necessário, o máximo de cuidado
e consideração e diz “Como sabe, só me tornei um guarda
florestal no parque, porque era o que pensava que Ben queria
fazer, e queria ser a pessoa que ele via em mim. Queria viver de
acordo com sua esperança para mim, depois que ele morreu.”
Dou um pequeno aceno de cabeça.
“Bem acontece que gostei. Gostava de ficar em casa com
minha mãe à noite, aprendendo a tricotar. Gostava de fazer meu
GED, estudar, ganhar meu AA. Gostava de conhecer meus
irmãos, bem, aqueles que queriam me conhecer, usar o uniforme
de um guarda florestal, trabalhar com Drew e as outras
senhoras e colegas, até aquele Griffin. Gostei e fiquei contente
em fazer isso. Por um tempo. Mas faltava algo.”
“O que?” Pergunto sem fôlego, ainda alarmada. Sienna
contou a ele sobre minha sessão de confissão de embriaguez?
“Gostava de ser um guarda florestal, mas não estava feliz.
Não estava feliz vivendo uma vida como um monumento para
outra pessoa, alguém que eu amava, ainda sinto falta, mas que
se foi. Não era justo para mim, mas também não era justo para
Ben também.”
Isso chama minha atenção, rompe o terrível transe. “O
que? Como assim? Não era justo com Ben?”
“Não percebi isso até minha mãe morrer, mas os vivos
mudam, os mortos não. Quem era uma pessoa no momento de
sua morte é quem tendemos a supor que sempre foi e quem
sempre seria se ainda estivesse aqui. Mas isso não é verdade,
é?”
Faço uma careta, tentando freneticamente acompanhar,
mas sem entender bem o que ele quer dizer.
Felizmente, ele deve ter entendido minha confusão, porque
diz “Tome por mim, por exemplo. Se tivesse morrido enquanto
ainda estava com os Wraith, então as pessoas assumiriam que
era quem eu era e quem sempre seria. Mas essa não é a minha
verdade, nem da minha vida. Eu mudei, cresci, trabalhei para
fazer algo de mim, para ganhar a confiança da minha família.”
“Sim, você mudou,” concordo baixinho, o orgulho
afastando a ansiedade. Estou tão orgulhosa dele.
“Agora veja Ben. Era meu melhor amigo, eu o amava muito.
Estraguei tudo, fiz algo monumentalmente estúpido, e ele me
perdoou várias vezes. Oferecia uma mão em vez de julgamento.
Por tanto tempo, fiquei grato por ele, por sua absolvição
categórica de minhas escolhas de merda. Era quem era quando
morreu. Mas você acha que, se tivesse vivido continuaria
perdoando um amigo que era um idiota?”
Uma risada surpresa sai dos meus lábios quando inclino
meu quadril contra o balcão e cruzo os braços. “Você não era um
idiota, Jet. Você era...”
“Um idiota.”
Sorrio de novo.
“Eu era, e sabe disso. E se Ben vivesse, gostaria que tivesse
mudado, chamado minha atenção, parado de me perdoar e
começado a me chamar de idiota. Amar alguém significa querer
o melhor para essa pessoa, não ceder ao egoísmo. Eu amo meus
filhos, e isso significa que não os mimo ou os deixo brincar com
facas, certo? Às vezes, amar significa chamar outra pessoa de
idiota, mesmo que isso exija uma conversa incômoda e
desconfortável, como esta que estamos tendo agora.”
Cubro a metade inferior do meu rosto com a mão para
esconder meu sorriso triste, olho para meu amigo,
impressionada com a forma como circulou essa conversa de
volta para mim, para nós.
“Claire, Scarlet, seja qual for o seu nome, eu te amo. Não
como uma irmã, já tenho uma dessa e é a melhor. E
definitivamente não como uma esposa, também tenho uma e é
a melhor de todas.”
Meu sorriso cresce e largo minha mão.
“Eu te amo como uma melhor amiga,” diz, seus olhos
brilham para mim. “Eu te amo incondicionalmente, mas você
está sendo uma idiota.”
Minha boca se abre e, sem pensar, bato em seu braço com
as costas dos meus dedos. “Ei!”
“Para você!” Ele agarra o local que bati e me afasta, sem
tentar esconder sua risada. “Está sendo uma idiota para você, e
não negue. Seus sorrisos são forçados, há anos. Nem todos eles,
mas a maioria. Coloca as necessidades de todos os outros em
primeiro lugar. Não teve de um único encontro desde que Ben
morreu, nem um único. Não estou dizendo que precisa de um
homem, mas se fechou para todas as possibilidades.”
Olho para ele, tento lê-lo como fiz com Duane na mesa de
jantar.
“O fato é que, Red, você está vivendo a ideia de vida de
outra pessoa.” Jethro olha de volta para mim, inocentemente,
ainda não revelando seus pensamentos, e acrescenta “E
suspeito que sei de quem.”
CAPÍTULO 6
CLAIRE
BILLY
***
BILLY
CLAIRE
***
CLAIRE
BILLY
***
“Isso é estupido.”
Com considerável relutância, desvio os olhos das costas de
Scarlet e olho para Cletus. “Não force.”
“É claro que vou forçá-lo.” Ele enfia as mãos nos bolsos, o
rosto severo. “Vocês estão se movendo no ritmo de um caracol.”
“Pelo menos estamos nos movendo.”
Ele resmunga. Então grunhe novamente. “Se observar os
eventos de hoje, a única vez em que fez algum progresso foi
quando intervimos e forçamos o problema. Se não insistirmos,
ainda está tentando apenas coexistir com a mulher. "
“Coexistir é um bom primeiro passo.” Olho para frente
novamente, minha atenção se move sobre ela. Andando de
braços dados com Shelly, seu passo leve, Scarlet não parou de
sorrir o dia todo.
Ela sorriu enquanto caminhávamos para o Uffizi. Sorriu
enquanto vagávamos pelo grande museu, apontando coisas que
achava maravilhosas, me perguntando o que pensava. Sorriu
quando, irracional por um momento e dominado pelo brilho de
seu espírito e olhos sorridentes, peguei sua mão e beijei as
costas dela. Também corou.
Então sorriu durante todo o almoço, ajudou Ashley e Drew
com Bethany, entreteve a pequena senhorita enquanto pediam
e usavam o banheiro. Agora estamos voltando para a estação de
trem e ainda sorri. Para mim, é o verdadeiro progresso. Uma
Scarlet feliz e despreocupada é o objetivo final, e farei o que for
necessário para mantê-la feliz.
“Não quero que vocês coexistam. Quero que co-ha-bi-tem.”
Cletus aperta os dedos como se para ilustrar seu significado,
ganhando um olhar rápido de mim. E então, como se seu único
objetivo na vida fosse fazer meu sangue ferver, faz um círculo
com o polegar e o indicador. Paro o outro dedo indicador antes
que ele possa completar o gesto lascivo da mão.
“Cletus. Pare.”
Ele deixa cair as mãos. “Se fosse eu, tentaria carregar o
homem das cavernas novamente. Há um tempo para render e
outro para cobrar, e esse é definitivamente o último. Você
deveria ver como ela olha para você, como se fosse uma das
minhas salsichas.”
“Agradeço seus esforços, Cletus. Mas agora precisa nos
deixar descobrir isso por conta própria.” Não é nada simples.
Talvez avançamos um para o outro, mas ainda existe um
universo inteiro de razões para prosseguir com cautela, entre
elas a investigação do FBI que me espera no Tennessee.
Não acho que tenham o suficiente para me acusar. Se ficar
quieto, não terão nenhum caso, a palavra deles contra o meu
silêncio. E, no entanto, não decidi se ficarei em silêncio ou não,
mesmo que isso signifique desistir da corrida no Senado e tudo
mais. Parte de mim quer confessar.
Mas se Scarlet nos der outra chance... não. Não tomarei minha
decisão como responsabilidade dela.
Cletus dá um breve suspiro. “Não.”
“Não?"
“Não. Nein. Negativo. Nada. Niet. Nee. Voch.”
Faço uma careta, principalmente porque meu quadril doí.
Andei muito hoje.
“Você não pode ser objetivo sobre isso, Billy. Estou lhe
dizendo, jogue essa mulher por cima do seu ombro e tranque-se
em uma daquelas suítes gigantes no andar de cima, ela ficará
emocionada. Por que acha que colocamos vocês naquele andar
juntos? Não acha que eu queria um daqueles quartos grandes e
agradáveis para mim e Jenn?”
“Por que acha que tem uma opinião a dizer sobre isso, não
entendo.”
“Por que acha que não precisa da minha ajuda, não entendo.
Por exemplo...” ele puxa a manga da minha camisa, me fazendo
parar “quando vai dizer a verdade a ela?”
Já paramos, mas a pergunta dele parece entrar em uma
parede. Silenciosamente, nos olhamos, o resto da nossa família
continua no quarteirão, e trabalho para limpar toda a pitada de
medo das minhas feições, substituindo-a por indiferença.
Seus olhos procuram os meus. “Estou falando sobre você
sofrer o castigo dela quando fugiu aos catorze anos e sobre o que
aconteceu com Razor...”
“Eu sei o que quis dizer.” Meu pulso acelera.
Se Scarlet descobrir, essa janela se fechará e serei o único a
fechá-la. Ela pensa que Ben a salvou. Durante anos, construiu
um santuário para ele com tijolos feitos de gratidão, obrigação e
culpa. Mas agora finalmente desistiu e está encontrando seu
próprio caminho. Bom. Ótimo.
Não quero santuários. Só a quero, sem culpa, me querendo.
“Bem?” Ele força, seu olhar procurando. “Quando?”
“Não é da sua conta.”
Seus olhos se estreitam, sua boca uma linha plana. “Não vai
contar a ela, vai? Nunca vai contar a ela.”
Eu me afasto dele, luto para manter o mancar da minha
marcha. “Ela não precisa saber.”
“Billy. Deus sabe que te amo ferozmente. Mas você é tão sábio
quanto burro, e é por isso que precisa da nossa ajuda.”
“Não quero sua ajuda.”
“Bem, que pena. Ela precisa saber quem foi seu verdadeiro
salvador. É como...”
“Escute.” Paro e coloco minha mão em seu peito para detê-lo.
“Apenas me escute. A última coisa que preciso ou quero é que
ela sinta um senso de dever para comigo. Nunca fui seu
salvador, e Ben também não. Fiz o que fiz porque a amava. Eu
a amo. Ela não me deve nada, mas nunca verá dessa maneira,
não é assim que funciona. Tudo para ela é comércio, tudo é uma
dívida a ser paga. Se se sentir endividada, não posso confiar nela
para tomar decisões claras com base no que realmente deseja.
Esta verdade não a libertará. Consegue entender isso?”
Cletus desliza a mandíbula para um lado e olha para mim.
“Tudo o que ouvi foi: Blá, blá, blá, não confio nela. Você disse
mais alguma coisa?”
“Tudo bem,” falo. “Bem. Você disse a Duane, Beau e Ashley.
Preciso saber, para quem mais contou?”
Observando-me com olhos de falcão, Cletus enfia as mãos
nos bolsos, sem dizer nada. Pela primeira vez.
“Cletus. A quem você contou?”
“Bem, pense assim, Billy. Sua bagagem deve ficar muito mais
leve agora que seus encargos estão espalhados por tantas
pessoas.”
A frustração bate como um tambor entre meus ouvidos e me
afasto dele. “Se você ou qualquer outra pessoa disser a ela, isso
não é algo que poderei perdoar.”
Meu irmão fica muito quieto. “Guardando rancores, Billy?
Porque isso funciona muito bem para você.”
“Como o rei reinante do rancor no leste do Tennessee, espero
que entenda.”
“Não, não entendo. E se o julgamento de alguém não pode ser
confiável nisso, é o seu. Você é a pessoa mais honrada e firme
que conheço. Eu te admiro, sempre admirei. Todos nós
admiramos. É destemido, corajoso, altruísta. É o melhor de nós,
exceto…” Ele faz uma pausa, e é um daqueles raros momentos
em que seu olhar está firme, aberto e claro de toda a pretensão.
“Exceto quando se trata de Scarlet. Você se esquece, se perde.”
Ele não entende como é. Não consegue. Não enfaixou os
cortes dela depois que o pai a cortou. Não a ouviu cantar. Não
esteve deitado naquele quarto de hospital. Não foi forçado a
assistir a mulher que amava se casar com outra pessoa, alguém
que a tratava como lixo. E então, ficou de luto pelo bastardo.
E mesmo agora, o pensamento é uma tortura, vê-la com dor,
seu espírito esmagado, odiando-se quando é tudo de bom, gentil
e merecedora. Fui incapaz de fazer qualquer coisa por muito
tempo; não apostava nessa chance de agora.
“Entendo, entendo, sinto o desespero, a sensação de
impotência. E se ela não perdoar você? Acabou de se reconectar,
não quer perder isso. Mas estou lhe dizendo, ela vai perdoar. Vai
te perdoar.”
“Não é sobre isso.” Ele não ouve. Não entende.
“Como concessão do seu excelente progresso hoje, darei a
você o presente do tempo. Beije-a no trem na frente de Deus e
testemunhas, e darei uma semana inteira. Prometo. Mas precisa
contar a verdade antes que ela vá para Nashville ou para Roma.”
“Estou falando sério, Cletus. Não estou de brincadeira.” Falo
entre dentes. “Juro, você sopra uma palavra e nunca vou te
perdoar.”
Algo brilha atrás de seu olhar, algo desagradável, zangado, e
ele abaixa a voz. “Sabe quem você parece, Billy? Parece Darrell.”
O golpe bate e meu estômago aperta, uma lenta descida aos
meus pés, mesmo quando levanto meu queixo e luto para
ignorar seu soco e emitir meu último aviso. “Não fale.”
Cletus me examina como se mexesse no meu cérebro. Uma
pitada de simpatia fratura a severidade de sua carranca e sua
voz implora: “Escute. Já passei por isso. E estou lhe dizendo, se
não confia, não tem nada.” O olhar dele dispara por cima do meu
ombro e depois volta para mim. Aproximando-se, ele diz
rapidamente: “Confie nela. E, ao fazer isso, dê a ela uma chance
de confiar nela.”
“Está tudo bem?” A voz gentil de Jenn interrompe. “Billy, você
está com dor? É o seu quadril? Precisa de ajuda?”
“Estou bem,” digo.
“É o quadril dele. Precisa de ajuda,” Cletus diz.
Cletus e eu falamos ao mesmo tempo e minhas palavras
rendem um sorriso achatado de meu irmão. Viro, preparando-
me para agradecer a Jenn por sua preocupação e garantir que
estou perfeitamente bem quando vejo Scarlet pairar por perto,
uma ruga de preocupação entre as sobrancelhas.
A próxima coisa que vejo é ela dar a volta em Jenn e caminhar
até mim, deslizar o braço em volta das minhas costas e guiar
meu braço em volta dos ombros.
“Aqui, amor. Apoie em mim. Vamos andar juntos.”
Bem.
Meu sangue bombeia espesso por minhas veias com seu
toque inesperado, o peso no peito cai mais baixo e se torna algo
completamente diferente.
“Ok,” concordo automaticamente. Ignoro o sorriso irônico do
meu irmão, concentro-me na visão implausível e inebriante de
Scarlet com meu braço em volta dos ombros dela. Em público.
Na frente da minha família. De propósito. Como se
pertencêssemos um ao outro.
“Vamos pegar seus ingressos. Tome todo o tempo que
precisar.” Jenn sorri para nós dois, as mãos entrelaçadas sob o
pescoço.
“Sim, leve todo o tempo do mundo.” Cletus coloca os dedos
de Jenn em seu cotovelo. “E se precisarem de um tópico de
discussão, ficarei feliz em fornecer vários.” Com mais um olhar
significativo, ele se vira para a estação e seguem em frente.
Nem a ameaça velada de Cletus pode perfurar meu humor
neste momento.
“Vamos?” Scarlet sorri para mim, entrelaçando os dedos em
seu ombro.
Concordo, sem vontade de falar. Agora que ela está ao meu
lado, não quero dizer ou fazer nada que possa fazê-la fugir.
Quero que ela fique. Então não digo nada.
***
BILLY
***
BILLY
***
Ao retornar ao piquenique, Beau anuncia: “Acho que gostaria
de nadar. Quem quer vir?”
E então, quase em uníssono e como se nadar fosse um
codinome para a aquisição de superpotências, todos, exceto
Scarlet, se levantam e saem prontamente, deixando para trás
basicamente tudo.
Enquanto isso, eu permaneço imóvel na beira do cobertor,
fazendo o possível para não parecer notável enquanto Scarlet
olha para minha família que parte, ainda mastigando o restante
do morango que mordeu quando Beau, Jethro e eu fizemos
nossa segunda abordagem.
Ela olha para o cobertor por alguns segundos e depois levanta
o olhar para o meu, um lado da boca se curva para cima. “Acho
que eles realmente querem nadar.”
Estudo-a de perto, tento analisar se está satisfeita ou
desconfortável e pergunto: “Você quer nadar? Vou ajudá-la a
levar tudo de volta.”
Ela inclina a cabeça, agora me estudando. “Quer ir nadar?”
“Não,” respondo imediatamente.
“Que bom,” diz calmamente, e seu pequeno sorriso se torna
um sorriso. Mas seus olhos ficam mais turvos quanto mais ela
olha para mim, como se estivesse perdida em seus pensamentos.
Enquanto isso, olho para ela, observando como suas pernas
dobram e se curvam, a barra do vestido repousa no meio da coxa
e seus pés estão novamente nus.
Meus pensamentos voltam antes que eu possa contê-los e
imagino minhas mãos em sua pele, deslizando a barra mais
acima do quadril enquanto ela se reclina e beijo até o interior de
sua coxa, puxando de lado esse pedaço de tecido entre suas
pernas para dar um beijo de língua nela...
“Morangos,” ela diz, arrancando-me da minha imaginação
rebelde.
“Perdão?” Minha atenção se volta para o exterior.
“Se está com fome, tenho algo para comer.”
“O que seria isso?” Resmungo, me perguntando se falo meus
desejos em voz alta.
Ela levanta o prato novamente. “Estava muito ambiciosa
quando me servi e não há como terminar tudo isso. Tem certeza
de que não quer?”
Engulo a saliva que corre para a minha boca durante minha
fantasia pecaminosa e desvio o olhar dela, um caos ao qual não
estou mais acostumado dificultando a concentração. O que devo
fazer? O que Jethro disse?
Sente-se, uma voz me lembra. Balanço a cabeça,
concordando, e depois me ajeito para sentar. Não aí! Próximo à
ela.
“Isso mesmo,” murmuro e esfrego minha testa. Percorro os
itens de piquenique abandonados, sento no círculo vago de
cobertor adjacente ao dela.
Ela se inclina para um lado enquanto eu me sento, para me
dar espaço, mas não se afasta, virando para mim, seu braço roça
o meu enquanto coloca o prato no colo e pega um morango. Mal
me acomodei, minhas pernas esticam na minha frente e cruzam
no tornozelo, quando ela levanta a fruta na frente do meu queixo,
os olhos na minha boca.
“Aqui. Estão quentes do sol.” Ela sorri suavemente, olhos
brilhantes refletindo o azul do céu, sardas douradas temperando
a pele pálida, a luz do sol brilhando em seus cabelos cor de
cobre. Linda.
Observo ela observar minha boca, abro meus lábios e ela me
dá o pedaço de fruta, seus lábios também se separam, sua
língua espreita enquanto coloco a fruta com os dentes,
segurando-a no lugar, mas sem morder. Ela parece hipnotizada,
atordoada, seu olhar inconfundivelmente quente, intencional,
como se eu comer um morango fosse a coisa mais fascinante do
mundo inteiro.
Pressiono minha língua contra a fruta e mordo. Ela pisca.
Lambo meus lábios com o excesso de suco enquanto seus dedos
se afastam, depositando lentamente o restante frondoso em seu
prato, seu olhar ainda fixo na minha boca e sua mão como uma
pena até pousar na minha perna. Logo acima do joelho.
O peso da palma da mão quente é impossível de ignorar. Nada
nesse toque parece leve. Espero que Jethro e Beau estejam
certos. Espero que ela me tocar assim significa que ela quer que
eu a toque porque minhas mãos já estão se movendo. Nosso
ambiente, por mais bonito que seja, desaparece e só a vejo. Sua
respiração muda e a nebulosidade em seus olhos fica inquieta,
levantando para a minha quando minhas pontas dos dedos se
conectam com sua coxa nua, menos de um centímetro abaixo
da linha rosa rendada.
Talvez seja loucura, mas eu me rendo.
Vou levantar o vestido dela, como imaginei momentos atrás.
A necessidade de agir queima dentro de mim, as chamas
espalham pelos pequenos e ansiosos sopros de ar a cada
ascensão e queda de seu peito.
Eu mal falei com ela desde que estou trancado naquele
quarto. Mas, naquele momento, não consigo ver além do
desespero nela, inquestionavelmente espelhado em mim de fazer
alguma coisa. Qualquer coisa. Fechar o abismo entre nós com
ações da mesma maneira que o fechamos na semana passada
com palavras.
No entanto, por mais frenético que me sinta, deitá-la de volta
e tocar sua pele macia, lamber, provar e sugar sua doce carne,
e realizar todos esses desejos, preciso que ela diga. Nunca,
nunca poderia assumir isso.
“Scarlet, você quer...”
“Sim,” ela diz, parecendo e sentindo como se estivesse com
dor. “Pelo amor de Deus, sim. Sim. Sim. Sim.”
Como se não pudesse esperar mais um segundo, ela agarra
a frente da minha camisa, me puxa para frente e me beija.
CAPÍTULO 14
CLAIRE
***
CLAIRE
CLAIRE
2
Personagem do Filme A Room with a View (br: Uma Janela para o Amor). No início do Século XX, a jovem
inglesa Lucy viaja pela primeira vez para Florença, na Itália. Lá chegando, ela encontra o excêntrico George
Emerson, por quem acaba se apaixonando. Ao retornar a Inglaterra, terá de fazer uma grande escolha em sua
vida: casar-se com seu antigo noivo ou seguir seu coração e procurar o recém conhecido George.
“Depois de alguns segundos, fui atrás dele, pensei que foi
para o quarto, mas não estava lá. Então desci as escadas e
procurei nessa enorme monstruosidade de casa por ele.”
“Então, ele diz que o amor nunca desiste, e sai?” Ela parece
tão confusa quanto eu.
“Sim. Exatamente. Ele me deixa louca e não faz sentido!”
Enceno estrangulá-lo.
“E não conseguiu encontrá-lo?”
“Não. Não, não consegui.” Uma respiração dolorida deixa
meus pulmões e paro meu ritmo frenético. “Não posso. Não
consigo encontrá-lo.”
Minha amiga fica quieta por um momento e depois desliza
do braço do sofá para uma das almofadas. “Conhecendo Billy,
posso acreditar em todas essas coisas. Isso soa como ele. Quero
dizer, ser estupidamente nobre e toma decisões incrivelmente
idiotas com base em avaliações em preto e branco que exigem
nuances e sutilezas. Não entendo por que não contou a verdade
originalmente.”
“No começo, tenho certeza de que ele não sabia onde eu
estava ou como me alcançar. Dado o que agora sei sobre Ben,
estou convencida de que não queria que Billy me encontrasse.”
“Assim... Ben era um idiota?”
Balanço minha cabeça, sinto-me impotente para responder
a essa pergunta. “Não sei. Talvez. Sim. Às vezes. Mas, e não
estou defendendo ele, mas não somos todos idiotas às vezes?
Não era um vilão, mas definitivamente não era um santo.”
“Discordo, mas isso é algo que definitivamente deve
discutir com seu terapeuta. De volta a Billy, por que não contou
a verdade quando você voltou para Green Valley?”
“Ele disse que não me contou porque não queria que eu me
sentisse em dívida com ele.” Reviro os olhos. “Mas o que ainda
não parece entender é que sou louca de amor por ele e estava à
procura de uma razão, qualquer razão em tudo para jogar
minhas promessas fora da janela e saltar em seus ossos!”
“Caramba.”
“Eu sei! Quero dizer, quando disse a Bethany Winston que
ficaria longe do filho dela, não tinha ideia...”
“O quê? Espere o quê? Bethany pediu para ficar longe de
Billy? Quando foi isso?”
“Argh. Apenas esqueça que disse isso. É história antiga. A
questão é Billy e essa situação impossível. Quero estar com esse
homem e ele não confia em mim para ficar com ele sem sentir
que há uma dívida a ser paga. E assim, sinto que nunca vai
confiar em mim sobre o quanto eu o quero, a menos que faça
algo para limpar o balanço patrimonial entre nós e deixá-lo em
dívida comigo.”
“Não faça isso. Então será uma vida inteira mantendo a
pontuação e eu, por exemplo, odeio matemática.”
“E ainda estou brava com ele. Não pediu desculpas! É como
se fosse incapaz de ver isso da minha perspectiva.”
“Você deve seduzi-lo.”
Faço uma careta, certa de que a ouvi mal. “O quê?”
“Seduza-o. Então, no meio das preliminares, explique para
ele. Os homens são muito mais receptivos a admitir que estão
errados quando estão prestes a transar.”
“Sienna.” Coloco uma mão no meu quadril. “Parece que sei
alguma coisa sobre seduzir um homem?”
“Honestamente?” Seus olhos se movem para baixo e depois
para o meu corpo. “Parece que pode escrever um livro sobre o
assunto. Além disso, o que há para seduzir homens? Apenas
fique nua e deite na cama. Todo o sangue sai do cérebro e eles
não conseguem pensar. Ciência.”
Apesar da tristeza da situação, sorrio.
Ou talvez, por causa da desolação da situação, sorrio.
Arrasto meus pés, vou até o sofá e sento ao seu lado. “Não
sei o que fazer. É como se estou sempre batendo minha cabeça
contra paredes de tijolo, querendo coisas que são impossíveis.”
“O que é impossível? O que é que você quer?”
“Billy entender minha perspectiva e se desculpar,
sinceramente. E então quero garantias de que parou de esconder
a verdade. Primeiro, manteve o fato de que Duane e Beau são
meus irmãos em segredo, agora isso. Se houver algum segredo
residual, quero conhecê-lo.”
“Não quer que ele rasteje?” Sienna empurra meu braço
levemente com as pontas dos dedos. “Implore por perdão?”
Dou a ela um olhar lateral. “Billy não implora.”
“Mas seria legal, certo? Se fizer?” Agora ela me dá uma
cotovelada. “Imagine-o, de joelhos, uma rosa em sua boca,
vestindo um daqueles ternos sensuais e bem feitos dele, quem é
o alfaiate, aliás? com as mãos entrelaçadas. Pegue-me de volta,
Claire! PEGUE-ME DE VOLTA!”
Sorrio da imagem que pintou e sua imitação dramática, é
tão absurda. “Honestamente? Não. Não preciso que implore.
Preciso dele comigo. Preciso que fique e converse sobre tudo,
para que possamos construir uma ponte para o outro lado
juntos. Sinto que todos esses segredos entre nós construíram
pontes para lugar nenhum. E depois...”
“E depois?”
Não posso evitar o meu sorriso triste enquanto olho para
ela. “Seria terrível se dissesse muito sexo?”
Agora Sienna sorri, com a cabeça jogada para trás
enquanto bate na perna com a palma da mão. Seu riso é
excepcionalmente amigável, então é claro que também sorrio,
mesmo que minhas bochechas esquentaram com a admissão.
Não estou brincando.
Quando ela para, seus olhos se voltam e avaliam enquanto
se movem sobre o meu rosto. “Nada disso parece impossível.”
Olho para ela. “É, quando nem consigo fazê-lo falar
comigo.”
“Não se preocupe com isso.” Ela dá um tapinha na minha
perna e depois se levanta. “Deixe comigo.”
Observo ela atravessar a sala, pegar seu telefone, destravar
e depois digitar furiosamente.
“Deixar o quê para você?” Meu estômago torce com
desconforto. Uma coisa é ser o destinatário involuntário das
travessuras e piadas da família Winston. Outra coisa é estar em
conflito com eles.
Confirmando meus medos, Sienna sorri e pisca, levanta o
telefone no ouvido. “Ou, mais precisamente, deixe conosco.”
***
BILLY
3
Just dandy: Quando algo está bem. Não pode melhorar.
“Demonstrações Públicas de Afeto. Depois de dezoito anos
de energias reprimidas, pensei que estaríamos encontrando
vocês em armários e atrás de portas. Agora, não estou sugerindo
que faça um show. De fato, por favor não. No entanto, do jeito
que as coisas estavam, Ashley sugeriu que talvez precisássemos
bater panelas antes de entrar em uma sala.”
Como sempre, a tentativa de Cletus de sutileza carece de
sutileza. Ele não precisa me dizer o quanto errei ou o que perdi.
Só o pensamento dela partir, não vê-la por dias ou mais depois
de tê-la tão perto por semanas me faz querer destruir algo. Perdi
o nosso bloco de desbaste4 em casa. Agora é um ótimo momento
para cortar um pouco de madeira.
“Sei que está dando um tempo para Claire, e entendo que
quer ser respeitoso, mas já pensou em fazer um grande gesto?”
Jenn pergunta. “Quando Cletus me pediu desculpas por ser um
tolo, trouxe vinte e dois presentes de aniversário, um para cada
um dos meus aniversários. Não estou dizendo que precisa
comprar algo para ela, de jeito nenhum. É sobre a consideração,
isso que fez a diferença.”
Inclino minha cabeça para frente e para trás em um leve
movimento. Considerei grandes gestos. Passei os últimos três
dias arruinando meu cérebro, tentando determinar o que
poderia dizer ou fazer para expressar a enormidade do meu
arrependimento.
4
Pedaço de tronco de árvore utilizado para apoiar a lenha ao cortá-la.
Exceto que suspeito que Scarlet não quer que me
arrependa mais do que quero que ela se sinta em dívida.
“O que precisa fazer é deixá-la sozinha novamente.” Cletus
coloca um cotovelo no meu ombro, embora eu seja três
centímetros mais alto que ele. “Quando estiver sozinha, agarre-
a.” Ele faz um punho com a mão.
“Ela não é um forte, querido.” Jenn envia ao marido um
olhar afetuoso, parece que acha que ele é fofo.
“Eu disse agarrar, não cercar.”
“Mesmo assim.” Jenn vira seu sorriso para mim, que se
transforma de afetuoso em compreensivo. “Uma mulher só quer
ser conquistada depois de ter conquistado. Resgatada depois
que fez o resgate. Então é uma escolha que ela faz ativamente,
em vez de uma dívida que precisa pagar. Acho que o grande gesto
que precisa fazer é pedir ajuda a ela.”
Fico ereto, pego de surpresa por sua sugestão. Que ideia
interessante.
“Mostre a ela que foi conquistado.” Seu sorriso fica doce e
ela acrescenta, “Quando foi a última vez que pediu ajuda a
alguém, Billy? Ou disse a eles o quanto precisa deles? Talvez
comece por aí.” Com mais um tapinha gentil, ela sai para se
juntar a Ashley e Shelly.
Olho para Jenn. Quando foi a última vez que pediu ajuda a
alguém? Sinceramente não consigo me lembrar.
“Mulher astuta.”
Tremo, percebo que Cletus ainda está perto de mim, com o
cotovelo ainda no meu ombro, a atenção fixa em algum momento
à distância, suspeito sua esposa com base no seu olhar.
“Diga-me uma coisa, querido irmão. É sobre isso que
continuo intrigado: você é extraordinariamente habilidoso com
mulheres, homens, gatos, cães e hamsters quando quer ser. Mas
particularmente as mulheres. Vi você em ação. Pode ser suave.
Quando quer, tem quase tanto carisma quanto Beau e ele é
basicamente considerado uma arma letal na maioria dos
estados. Então, por que desarma o charme com Scarlet?”
Não respondo. A resposta é complicada na melhor das
hipóteses, disfuncional e complicada na pior.
Cletus está certo. Sou bom com mulheres, quando quero e
quando tenho um objetivo em mente. Com minha família,
funcionários, colegas e até eleitores, o objetivo é claro: dou a eles
o que precisam de mim para que sejam bem-sucedidos, qualquer
que seja a coisa. Algumas pessoas precisam de elogios, outras
precisam de limites e disciplina, outras de charme e carisma,
outras ainda querem comunicação frequente.
E, no entanto, com Scarlet, mesmo quando éramos
adolescentes, não sabia como me aproximar dela. No começo,
porque não sabia o que ela precisava de mim para ter sucesso.
Depois que percebi que estava apaixonado por ela, era tarde
demais para descobrir as coisas. Ela já tinha ido. Quando voltou,
minhas tentativas de dar a ela o que pensava que precisava foi
um fracasso colossal após o outro.
O que nos leva a agora.
“Aqui está outro pensamento.” Meu irmão abaixa o cotovelo
para acariciar a barba com o polegar e o indicador. “Talvez
flertar.”
Olho para ele de lado.
“Você deveria flertar.” Ele concorda como se essa fosse a
resposta definitiva para todos os meus problemas. “Nem tudo
tem que ser sangue, suor e lágrimas. Você pode desfrutar da
mulher que ama, fazê-la sorrir, fazê-la se sentir bonita, especial.
O que pode machucar flertar?”
Abro minha boca para responder, mas no instante seguinte
ele me dá um tapa nas costas e diz, “Boa conversa.”
Então anda para Jenn e fica atrás dela, coloca as mãos no
seu quadril e se curva para sussurrar algo em seu ouvido que a
faz rir. Minha atenção volta para Scarlet e Drew. Suas cabeças
estão juntas, sorrisos amigáveis em seus rostos, embora o dela
pareça tenso nas bordas, cansado.
Você deveria flertar.
Drew se parece com um viking na maioria dos dias, ou com
um jogador de futebol profissional, e hoje ela parece
especialmente pequena em comparação a ele. Talvez, reflito com
remorso, parece tão pequena porque também parece esgotada,
como se carregasse um fardo de assuntos pesados.
Nunca pensei em Scarlet tão pequena antes. Seu espírito,
quando está feliz, quando canta, e agora sei quando se perde no
prazer, parece incontrolável para mim. Da mesma forma, seu
corpo é de tirar o fôlego, mas também não pode ser contido pelas
palavras pequeno ou grande, alto ou baixo. Ela é Scarlet, maior
que a vida, bonita da mesma maneira que fogos de artifício
iluminam o céu noturno.
Observo-a agora, me pergunto se essa ideia dela na minha
cabeça faz parte do problema.
Sua pele parece mais pálida do que o habitual; suas
bochechas não têm o típico tom rosado; até as sardas parecem
desbotadas. Pode ter toda a beleza explosiva e o espírito de um
foguete, mas também é apenas uma mulher que luta há muito
tempo. Adicionei coisas as suas lutas. Fui a causa de muitas
delas. Não quero mais fazer isso ou ser mais isso.
Quero ser o motivo pelo qual ela sorri.
Talvez flertar.
Jethro e Beau estavam certos quando disseram que estou
enferrujado, sem prática. Nestes últimos meses, em particular,
evitei todos os compromissos sociais. Tenho que me preparar,
descobrir minha estratégia de paquera enquanto avanço. O
tempo para diminuir essa distância entre nós, essa distância
que criei e seus planos de partir para Roma, é agora ou nunca.
Afasto-me do batente da porta, vou até onde Drew e Scarlet
estão sentados. Na minha abordagem, ela olha duas vezes, mas
depois me dá um olhar que parece mais interessado do que
cauteloso.
“Sc-Claire. Drew.” Aceno para os dois enquanto tropeço no
nome dela, direciono minha próxima pergunta para Drew.
“Imagino que gostaria de dançar com sua esposa?”
O grandalhão olha para mim, com o lado da boca preso
atrás da barba loira. “Imaginou certo.”
Estendo a mão.
Ele olha entre eu e minha mão. Então coloca o braço do
violão na minha palma. “Quando estiverem prontos para dançar,
me avise. Ash e eu podemos assumir.”
“Obrigado. Vamos avisar,” falo, troco outro aceno com meu
cunhado quando se levanta e se afasta para encontrar minha
irmã.
Meu olhar muda para Scarlet e nos observamos por
algumas batidas do meu coração. Planejei dizer, Este lugar está
ocupado?
Mas antes que possa dizer minha fala, ela diz, “Olá,
estranho.”
“Estranho?” Repito, testo a palavra, levanto uma
sobrancelha e depois balanço a cabeça. “Não. Não gosto dessa
palavra.”
Scarlet sorri levemente da minha resposta, seu sorriso a faz
parecer menos cansada, e ela aponta para o banquinho que
Drew acabou de desocupar. “Vai sentar aqui?” Ela pergunta.
“Este assento está ocupado?” Isso. Falo minha linha. Agora
estamos de volta aos trilhos.
“Está agora,” ela responde, como eu queria.
Então me sento no banquinho, faço questão de me
aproximar dela alguns centímetros. Isso me rende um olhar de
suspeita divertida. Não é um começo ruim.
Encontro seu olhar diretamente e, antes que possa pegar o
impulso, pergunto, “Sério, você se importa se eu sentar aqui?” A
última coisa que quero é ser alguém que ela tolera.
“Não, Billy. Não me importo.” Ela bate no meu ombro com
o seu e acrescenta baixinho, “Senti sua falta.”
Ouvir isso me aquece e sei o que quer dizer. Conversamos
de forma breve e intermitente nos últimos dias sobre nada de
importante. Não voltamos à polidez cômoda, mas tive o cuidado
de dar-lhe espaço. O que fiz não é uma coisa pequena a perdoar,
e certamente não me perdoei.
Olho para ela agora, engulo uma pedra de remorso e digo,
“Sinto muito.” Não disse isso desde a nossa conversa no riacho.
Antes de seguir em frente com qualquer flerte hoje à noite, sinto
que preciso dizer novamente, por ela, mas também por mim.
“Sinto muito.”
“Agradeço o pedido de desculpas,” ela diz, com um sorriso
que não reflete em seus olhos. “E eu também sinto muito.”
“Pelo quê?” Agora que estamos perto, a estudo.
Definitivamente parece cansada, e essa conversa só parece
pesar, o que não é meu objetivo.
“Por não lhe contar sobre Bethany.” Seu sorriso forçado
diminui em graus. “Ela realmente estava apenas tentando fazer
a coisa certa e cuidar de você.”
Conhecia minha mãe, conhecia suas intenções e acredito
que a interpretação de Scarlet da situação é verdadeira. No
entanto, isso ainda me irrita seriamente. Ninguém deveria ter
feito Scarlet parecer menos. Nunca.
Independentemente disso, não estou sentado aqui para
falar sobre o passado. Estou aqui para aliviar seu fardo, ajudá-
la a encontrar seu sorriso, então falo, “Obrigado por me dizer, e
você está perdoada.”
Seu olhar me diz que a surpreendi quando olha para mim.
“Realmente? Estou perdoada? Bem desse jeito?”
“Sim.” Aceno. “Jethro recentemente me lembrou algo que
nossa mãe costumava dizer, o que, ironicamente, parece
relevante. Sempre que nós, crianças, perdíamos a paciência um
com o outro, ela dizia, as pessoas só guardam rancores quando
não conseguem se perdoar.” Preciso tocá-la, mesmo que seja
apenas um pouquinho, levanto meus dedos em sua têmpora e
enfio seus cabelos atrás da orelha. “Não quero rancores entre
nós.”
Quando sorri desta vez, parece mais sincera, talvez até
aliviada. “Nem eu.”
“De fato,” murmuro, levanto o violão no meu colo, “Nem
quero roupas entre nós.”
Ela recua. “O que acabou de dizer?”
“Eu disse, não sei como fez aqueles hambúrgueres, para
todos nós.” Minto descaradamente, seguro seus olhos, examino
sua reação à minha ridícula falsidade antes de acrescentar: “O
jantar foi excepcional. Obrigado.”
Scarlet transformou nossas sobras de bolo de carne em
hambúrgueres. Foi bastante impressionante, mas essas
definitivamente não foram minhas palavras e sabemos disso.
Esse trabalho é melhor.
“De nada,” ela diz, hesitante, com a testa enrugada
enquanto sua boca se curva, como se não soubesse o que pensar
de mim.
Deslizo minha mão pelo braço do violão. “Quando posso
fazer o jantar para você?”
Seus olhos se arregalam, dão-me a sensação de que minha
pergunta a surpreende e a encanta. “Hã, quando quiser.”
“Sempre que eu quiser.” Toco um acorde, depois outro, a
barra de abertura de “Fine As Fine Can Be” de Gordon Lightfoot.
“Vou te segurar nisso.”
“Por favor faça.” Ela encolhe os ombros. “Que tal amanhã?”
“Amanhã estaremos em Veneza. Mas depois disso
estaremos em Roma. Farei isso então.”
As sobrancelhas dela se juntam. “Estaremos em Roma?”
“Está certa. Continuo com a intenção de perguntar: nossa
casa terá cozinha?” Considerando que meu coração está na
garganta quando faço a pergunta, fico impressionado com a
tranquilidade do meu tom.
Ela se vira mais completamente para me encarar. “Virá
comigo?”
“Claro.” Também me viro, organizo-me de tal forma que ela
e seu banco estão entre as minhas pernas. Por enquanto, tudo
bem. “Você acabou de me pedir para fazer seu jantar.”
Sua boca se abre e ela suspira por um segundo antes de
dizer, “Não fiz isso! Você ofereceu.”
“Scarlet, está tudo bem.” Toco as notas de abertura de “I
Will Always Love You” de Dolly Parton . “Não me importo. Mas
se quisesse que eu fosse a Roma, poderia ter perguntado.” Meus
lábios querem puxar para o lado em sua expressão incrédula e
adorável, mas consigo manter meu rosto reto.
Sua boca se abre mais e olha para mim como se fosse
louco, balança a cabeça. “Billy Winston, o que está fazendo?”
“Fazendo planos para o jantar.” Dou a ela um pequeno
sorriso e seu olhar cai nos meus lábios. Ela pisca, quando a
visão do meu sorriso também a surpreende.
Quando seus olhos se erguem, parecem mais nítidos.
“Quer vir a Roma comigo?” Ela pergunta.
“Claro que sim. Obrigado por perguntar. Aceito.”
Uma gargalhada explode dela, seus olhos grandes e
incrédulos, mas também inconfundivelmente encantados,
graças a Deus.
Ela empurra meu ombro com as pontas dos dedos. “Sua
cobra!”
“Ei agora.” Pego sua mão antes que possa se retirar e coloco
beijos suaves nas costas dos dedos e depois na parte interna do
pulso. A pele é tão macia e me lembra seus outros lugares
macios. “Se me chamar desse tipo de nome, posso mudar de
ideia.”
“Ah sim?” Ela divide sua atenção entre minha boca e olhos.
“Mudar de ideia sobre o quê? Me enganar e se convidar para
Roma?”
“Ah, não. Não vou mudar de ideia sobre isso. Eu te enganei,
você ofereceu, eu aceitei. Vamos passar uma semana juntos em
Roma.” Abaixo sua mão para a minha perna, inclino mais perto
enquanto pressiono seus dedos na minha coxa. Meu coração
dispara quando ela assume e desliza a mão mais alto.
O sorriso de Scarlet desaparece, mas seu olhar fica quente,
nebuloso, suas bochechas rosadas. “Então sobre o que vai
mudar de ideia?” Ela sussurra.
Abaixo meus olhos nos seus lábios, sua mão se move para
o interior da minha perna enquanto a minha pousa em seu
quadril. Enrosco meu dedo do meio no cinto do seu jeans e um
suspiro quente e curto escapa de sua boca. Meu sorriso
aumenta.
“Posso mudar de ideia sobre o jantar antes ou depois de...”
De repente, alguém estala os dedos entre nossos rostos.
Recuo, sigo o braço até a expressão ranzinza do meu irmão.
“Tudo bem, tudo bem. Maneira de superar, William. Mas
agora não é a hora. Vocês tiveram o dia todo para fazer isso,
coloquem um alfinete nisso.” Cletus coloca a mão entre os
nossos rostos e enfia a outra mão no bolso e retira uma caneta.
“O que vai tocar primeiro? E você aceita pedidos? Nesse caso,
Jethro quer 'La Vie en Rose' por aquela francesa. Se Roscoe
estivesse aqui, saberia como pronunciar corretamente.” Do
outro bolso, pega um pacote de post-its.
Enquanto Cletus fala, Scarlet puxa sua mão de volta e o
encara, pisca furiosamente como se realmente esqueceu onde
estava enquanto conversávamos, quero dizer, quando
flertávamos.
Bom.
Se Scarlet deixou nosso ambiente desvanecer-se para a
periferia, talvez um pouco de seu cansaço, preocupações e lutas
também desapareceram.
“A-acho que podemos atender a pedidos,” Scarlet gagueja,
olha de relance para mim.
Dou a ela um pequeno sorriso que, felizmente, a faz me dar
um segundo olhar. Por mais que aprecie o rubor que floresce
sobre seu pescoço e bochechas, aprecio a doce esperança em seu
olhar ainda mais.
“Aceitaremos pedidos dentro do razoável, Cletus.” Levanto
meu queixo para espiar meu irmão. “Scarlet não precisa cantar
a noite toda. E sem 'Bohemian Rhapsody'.”
“Bem, certo. Lá se vai essa ideia,” Cletus murmura e coça
a testa. Vira e levanta a voz para dirigir-se à sala, “Tudo bem,
escutem. Claire vai cantar e temos Billy no vilão. Billy também
vai cantar.”
“Nunca disse que vou cantar.”
“Como eu disse, Billy vai cantar,” ele diz, como se não falei
nada. “Se tiver algum pedido, tenho um bloco de papel aqui.
Basta anotá-los e nosso dueto ficará feliz em agradecer. Além
disso, Duane, sem se exibir, por favor. Todos sabemos que é o
dançarino, ou seja, sem elevações.”
“Jess acabou de ter um bebê, Cletus.” Duane dá a seus
olhos o começo de um rolar. “Não vou fazer nenhuma elevação.”
“Bom.”
“Mas haverá algumas rodadas e mergulhos,” Duane alerta,
passando o braço pela cintura da sua esposa.
“Bem.” Cletus olha por cima do ombro e fixa seu olhar
distraído em mim. “Decidiu o que vai tocar primeiro?”
Olho para Scarlet. Ela olha para mim. E antes que possa
pensar melhor, sugiro, “'Ring of Fire'?”
“Realmente vai cantar comigo?” Ela pergunta, parece estar
com medo de que puxe o tapete debaixo dela, mude de ideia no
último minuto. Seus olhos cautelosos e excitação cautelosa
fazem algo comigo, fazem meu peito apertar com
arrependimento.
Odeio dar a ela uma razão para me abordar com cautela,
em vez de confiar.
Inclino e falo apenas para seus ouvidos, “Prometo que, se
me quiser, cantarei com você quando ou onde quiser. Mas só
com você, Scarlet. Só quero cantar com você.”
Seus olhos brilham, seu sorriso se alarga e a felicidade
brilha nela, raios de sol, raios de lua e luz das estrelas.
Incontrolável.
Tira o fôlego.
Scarlet.
***
BILLY
***
BILLY
5
Jersey Shore é um reality show produzido pela MTV norte-americana que segue oito pessoas que moram em
uma mesma casa, seguindo seus afazeres diários na costa da Nova Jersey americana.
Depois de tomar um banho quase casto juntos no meio da
noite, voltamos para a cama emaranhados. Não contei a ela
sobre os pesadelos, nenhuma razão para ter que suportar esse
fardo também.
De manhã, Scarlet me acordou com beijos, mas evitou
minhas tentativas de puxá-la de volta para a cama, correndo
para se preparar para a viagem. No entanto, me deixou um rolo
de canela, uma xícara grande de café preto e um poema,
6
André René Roussimoff, mais conhecido pelo seu nome de ringue André the Giant, foi wrestler profissional
e ator francês, naturalizado americano, tinha 2,14 m de altura e pesava 200kg.
É quando sou empurrado da gôndola.
A água está mais fria que a piscina, mas minha mente
ainda está em Scarlet. Levanto para a superfície, procuro
freneticamente qualquer sinal dela e encontro-a imediatamente,
na água a poucos metros de distância, com os olhos arregalados
de choque.
“Você está bem?” Ela nada para mim, segura meu rosto e
procura meus olhos.
“Estou bem. Você está bem?” Afasto o cabelo dela do rosto.
Ela assente, atordoada. “Não entendo. O que acabou de
acontecer?”
Várias gôndolas estão por perto, mas vejo nosso gondoleiro
a uns dez metros ou mais de distância, guiando seu barco pelos
canais com uma velocidade impressionante. “Ele nos queria fora
do seu barco, então nos jogou.” Falo as palavras, embora ainda
não acredite nelas.
Ela balança a cabeça rapidamente. “Por que faria isso?”
“Ah, ei, vocês.”
Viramos para o som de Cletus, encontro ele e Jenn
descansando em segurança em sua gôndola, reclinados em
almofadas de veludo. Jenn segura uma taça de champanhe e
tem a decência de parecer simpática.
“Vocês deveriam nadar para lá,” ela diz, aponta para algum
lugar atrás de nós. “Vejo uma escada saindo da água.”
Mas Scarlet grita sobre ela, sua voz cheia de fúria. “Cletus!
Você fez isso! Contratou aquele homem para nos empurrar para
fora da gôndola. Vou te pegar por isso, nem que seja a última
coisa que faço!”
“Suas acusações são infundadas e francamente
insultantes. E, por favor, peço que modere seu tom. Somos
família, afinal. Ou seremos em breve.”
“Cletus.” A voz de Jethro soa de um barco à nossa direita.
“Quando disse aquilo sobre o cavalo, não sabia que queria
literalmente afogá-los.”
“Ah, eles não vão se afogar, são realmente bons nadadores.”
Ashley, de sua gôndola, é a responsável por essa observação
pragmática, acrescenta, “Agora sabe o que tive que lidar
enquanto crescia, Claire. Sinto muito, não fazia ideia do que
esses hooligans haviam planejado.”
Shelly inclina-se sobre Beau para gritar, “Certifique-se de
chegar a tempo para a reserva do passeio amanhã.”
“Você pode querer se limpar primeiro.” Beau envia um
sorriso brilhante para nós, sua gôndola mais distante. “Não acho
que a água do esgoto seja apropriada para os lugares que você
vai.”
“Então é por isso que queria que usássemos essas roupas.”
Agora tudo faz sentido.
“Beauford Faulkner Winston! Foi ideia sua?” Scarlet
aponta para o ruivo. “Você está no meu último nervo.”
“Isso não é verdade, Claire. Você ainda tem muitos nervos.”
Ele sorri afetuosamente para a irmã, mas claramente se diverte.
“Como essa foi sua ideia, Beau, acho que você tem muita
coragem,” Cletus entra na conversa.
“Você definitivamente foi além com esta, Beau,” acrescenta
Jenn.
Apesar das circunstâncias, apesar de tudo, sorrio do seu
jogo de palavras.
A cabeça de Scarlet vira em minha direção, seus grandes
olhos procuram no meu rosto como se fosse um estranho. “Você
está rindo?”
Paro de rir.
“Vamos lá, pessoal. Por favor. Nadem até aquela escada,”
insiste Jennifer. “Prometo, seu dia vai melhorar.”
Com mais um olhar ameaçador para Beau, Scarlet nada
em direção à escada. Olho em volta para meus irmãos, cada um
por sua vez, e rapidamente a alcanço.
“Você está bem?” Pergunto e já planejo minha vingança
contra os gêmeos.
Ela acena com força. Mas então sorri, fecha os olhos. “Não
acredito no Beau. Não posso acreditar nele.”
“Ele e Duane sempre foram grandes em piadas práticas.
Onde Cletus pode nos trancar no porão por uma hora, Beau e
Duane sempre parecem levar as coisas para o próximo nível. Vou
corrigi-los.”
“Não.” Os olhos dela se estreitam e brilham perigosamente
quando sobe o primeiro degrau da escada. “Deixe-me lidar com
eles.”
Assim que subimos a escada para a calçada, somos
recebidos por um grupo de pessoas gentis com grandes toalhas
que parecem estar nos esperando. Uma mulher dá um passo à
frente e se apresenta como a Sra. Olsen, nossa anfitriã pela
próxima hora. Nos conduz a uma casa antiga próxima e
excepcionalmente boa. Scarlet é direcionada para um lado e
tentam me direcionar para outro caminho.
“Não. Vamos ficar juntos.” Pela segunda vez em quinze
minutos, piso na frente dela, agarro sua mão. Já tive o suficiente
de brincadeiras.
A Sra. Olsen se separa da assembleia novamente e se
aproxima de nós com um grande sorriso. “Ah, talvez esta nota
ajude?”
Ela me entrega um envelope, que abro. Dentro há um
cartão com um endereço rabiscado de um lado, uma chave e
uma nota no rabisco arrumado de Cletus.
***
7
A expressão cabra-da-caxemira faz referência a uma série de linhagens de cabras criadas no entorno da
região da Caxemira, notórios pelo uso de suas pelagens na produção de tecidos.
“Uma fazenda de cabras-da-caxemira?” Sorrio, apesar da
maneira como meu sangue continua bombeando em minhas
veias, grosso e quente. “Conhecendo Jet e Ash, o fio deve estar
envolvido.”
“Está. Mas as crianças também tiveram a chance de
alimentar as cabras.”
Balanço a cabeça, pergunto inexpressivamente, “Você
alimentou as cabras?”
Scarlet faz uma pausa, inclina o queixo para trás quando
seus olhos retornam aos meus. Procura meu rosto, como se essa
fosse uma pergunta complicada.
“Alimentei,” finalmente admite. “Nós as alimentamos com
milho; comeram das nossas mãos. Faz um pouco de cócegas.”
“Não é difícil de acreditar.”
“O quê? Que fez cócegas?”
“Não. Que as teve comendo na palma da sua mão.”
Seus olhos se movem entre os meus, prateados à luz da
lua, e um lento e amplo sorriso reivindica suas feições.
Ela sorri, balança a cabeça e coloca a bochecha no meu
peito. “Ah, você é fofo.”
“Sou fofo?” Não é a palavra que eu esperava.
“Muito. E para constar, gosto desta versão de Billy
Winston. Muito. Ele é divertido.”
Agora estou sorrindo de novo. “Bom saber.”
“A propósito,” seus braços deslizam do meu pescoço para
envolver meu peito “Como foi sua semana?”
“Tudo bem,” respondo honestamente, decido que a
conversa da minha semana vai definitivamente diminuir o fogo
na base da minha espinha. “Recebi várias ligações telefônicas,
tentei encaixar todas antes de partirmos.”
“Como estão as coisas da corrida no Senado?”
Ela não poderia escolher um tópico menos sexy. “Estamos
apenas nas fases iniciais do planejamento agora,” falo, sinto
meu corpo se acalmar. “Angariação de fundos, organização dos
grupos comunitários. Vai aumentar depois do primeiro ano, se
decidir fazer isso de verdade.”
“Você não decidiu?”
“Não.”
Scarlet recosta-se novamente e me inspeciona. “Você
parece irritado com alguma coisa, soa irritado também.”
“Percebeu isso?”
“Percebi. O que há de errado?”
Sinto meus lábios achatarem. “Tenho que lançar a
colaboração de campanha que o partido enviou. Isso é um pé no
saco, mas pode esperar até eu voltar.”
“Isso é um pé no saco? Como assim?” Ela parece realmente
interessada.
“Continuam vendo problemas onde não existem.”
“Como o quê?”
“Ele parece irritado que tenho barba. Quer que raspe.”
Seu rosto fica imediatamente severo. “Você está
brincando.”
“Não estou.”
“Por favor, diga que não está tirando sua barba.” Seus
braços me apertam e uma faísca de algo brilha em seus olhos.
Parece possessividade. “De fato, me prometa.”
Sorrio. “Não sabia que gostava tanto da minha barba.”
“Claro que gosto. Me dá um motivo para tocar seu rosto.”
Como se para demonstrar a verdade de sua afirmação, coça
levemente as unhas. “Gosto de acariciá-la. O que mais é um
problema que realmente não existe?”
Aperto sua mão na minha bochecha por um segundo antes
de levar seus dedos aos meus lábios para um beijo rápido, e
respondo sua pergunta sem pensar, “Ele também diz que não
pode me eleger a menos que eu seja casado.”
Scarlet para de balançar. Na verdade, simplesmente para.
Levo um momento para perceber o que disse. Quando faço, meu
peito se contrai desconfortavelmente, a dor surda lateja para
fora, lembra-me o quanto essa mulher controla todos os
aspectos da minha fisiologia.
“Scarlet...”
“É isso mesmo?” Ela sussurra, sua mão desliza do meu
rosto. “Faz alguma diferença quem é a mulher? Ou qualquer
uma serve?”
“Como eu disse, vou demitir esse cara quando voltar. Ele é
cheio de merda.” Encaro-a atentamente, quero ter certeza de que
vê e entende que estou falando sério.
Mas seus olhos se estreitam, parecem focar para dentro,
como se essa informação lhe dá muito o que considerar. “Eu
acho...” ela começa, para, lambe os lábios e depois me devolve o
olhar. “Você sabe do que estão me chamando nas notícias?”
Sou incapaz de controlar a severidade do meu cenho
franzido ou meu brilho de raiva. Li as notícias. Sei que a
chamam de Filha do Diabo8.
“Eles não deveriam estar te chamando assim. Essas
pessoas são lixo.”
Ela consegue dar um sorriso fraco, seus braços caem
enquanto continuo a abraçá-la. “Billy.”
“Scarlet.”
“Já pensou sobre isso?”
“Sobre o quê?” Grunho. Mesmo sabendo exatamente o que
está prestes a dizer e espero que decida não dizer.
“Realmente acha que pode ganhar uma corrida ao Senado
se você e eu estivermos juntos?” Parte da minha fúria deve ser
visível no meu rosto, porque é rápida em acrescentar, “Quero
dizer, publicamente. Se estivermos juntos publicamente.”
Cuidadoso em manter o volume da minha voz baixo,
pergunto, “De que outra maneira podemos estar juntos,
Scarlet?”
Ela olha para mim, seu olhar procura, seus lábios abrem
como se as palavras estivessem na ponta da língua.
8
No original é Devil’s Daughter em referência ao MC que o pai dela faz parte.
“Não. De jeito nenhum.” Balanço minha cabeça. “Nem
pense nisso.”
“Billy. Se estar comigo publicamente significa...”
Ainda balançando a cabeça, seguro seus dedos e a puxo de
volta para a sala de jantar principal, passo nela até a porta.
Vamos conversar sobre isso, mas não vou fazer isso com vozes
abafadas na varanda de um restaurante.
Como se fôssemos algum tipo de segredo.
CAPÍTULO 20
CLAIRE
9
No original é sugar momma o feminino de sugar daddy.
“O FBI está conduzindo a investigação e, não. Acho que
não, não. É a palavra dele contra o meu silêncio.”
“Mas por que ficar calado? Por que não dizer que não fez
isso?”
Seu sorriso cansado cresce. “Não vou mentir.”
Aperto meus dedos no tecido de sua camisa, frustração
constrói uma nova montanha ao lado do desespero, mas quente
como um vulcão. “Sim. Você vai mentir. Dirá que não fez isso e
então será a palavra dele contra a sua, não o seu silêncio.”
Billy abaixa a testa no meu ombro.
“Por favor. Por favor. Minta. Minta e acabe com isso.”
“Estou cansado, Scarlet,” ele sussurra. “Estou tão
cansado.”
Meu peito dói, tudo dói. Firmo meu lábio e voz antes que
meu queixo possa dar uma oscilação traidora ou minha garganta
entupa de emoção. Levanto meus olhos para o teto, pisco para
parar novas lágrimas.
Claro que está cansado. Carrega tantos encargos sozinho
por tantos anos. Não é de admirar que sua família ache
conveniente interferir. Billy precisa de uma pausa, um oásis, um
lugar seguro. Precisa ser protegido. E resgatado.
“Está bem, está bem.” Empurro meus dedos nos cabelos
curtos na parte de trás do seu pescoço, massageio, toco.
“Conversamos depois. Mas hoje à noite, por enquanto, deixa
para lá. Deixe-me lidar com isso.”
Ele suspira como se a respiração viesse de seus ossos. Suas
mãos deslizam para baixo e me pressionam para a frente,
inadvertidamente passam pelo meu vestido no processo. Não me
importo.
Tudo o que importa é mostrar a ele o quanto eu o amo e
preciso dele, e quão essencial é para mim. Porque agora que nos
encontramos, nunca o deixarei ir.
***
Billy dormiu.
Nós nos beijamos. Ele tirou o paletó, sapatos, meias, cinto,
camisa e gravata. Tantas camadas de roupas. Então nos
abraçamos e nos beijamos. Eventualmente, ele dormiu, enrolado
em volta de mim, suas exalações caindo contra o meu ombro.
Enquanto isso, canalizo meu Cletus interno e planejo.
Ben me disse algumas vezes que eu não entendia a
diferença entre certo e errado como outras pessoas. Talvez
minha infância seja a questão, como fui criada, uma
desconfiança intrínseca da lei. Meu cérebro prioriza honra e
justiça em detrimento da legalidade. As leis variam de acordo
com o local e o horário, a documentação necessária, o devido
processo e a interpretação. Não pode contar com a lei para servir
à justiça.
A honra não precisa ser explicada. Apenas ser. Dentro da
maioria das pessoas existem impulsos honrosos, quer ouçam ou
não. A honra é a razão pela qual a maioria das pessoas torce
pelo oprimido e nunca questiona o porquê.
O que Billy fez não é lícito, mas é justiça, e agora se recusa
a mentir por algum senso de honra insano, um sentimento de
honra que não compartilho. Não neste caso.
Mentirei por ele. Vou salvá-lo.
Ao longo da minha vida, sempre que possível, me
entorpecer era preferível a sufocar o medo. O medo, como
emoção, me fascina, meu relacionamento com ele é um pêndulo.
Para sobreviver, o medo é essencial. Para viver verdadeiramente,
o medo é prejudicial. Mas, nessas últimas semanas com Billy,
percebi que se temer o que não posso controlar, terei medo de
tudo.
A resposta não é me esconder do que mais me assusta, mas
chamar, confrontá-lo, destruí-lo.
Inquieta, me afasto, devagar e com cuidado, dos braços de
Billy e vou na ponta dos pés até o banheiro, paro brevemente
quando vejo a caixa Dela que foi deixada na cama, mas que
deixamos de lado antes. Pego, fecho a porta do banheiro e
acendo a luz. Depois que a tampa é removida, encontro meu
telefone, passaporte e carteira e tomo como um sinal.
Sei o que tenho que fazer.
Também dentro da caixa há uma roupa limpa; os Winston
obviamente pegaram apenas para escondê-la aqui. Usando
minhas roupas íntimas, mapeio meus próximos movimentos, o
que preciso fazer para voar de volta para Nashville o mais rápido
possível, como entrar em contato com Simone Payton, como
acelerar o Cletus sem falar demais e comprometê-lo.
Não quero colocar ele ou qualquer um dos Winston em
risco legal, mas preciso da ajuda deles para que meu plano dê
certo. Nos uniremos, como um time, para resgatar Billy.
Eliminaremos a ameaça do meu pai e usarei o Nashville Music
Festival como uma matéria de capa.
Enquanto puxo as roupas da caixa, paro, observo meu
reflexo no espelho. Especificamente, o conjunto determinado da
minha mandíbula. Não gosto de espelhos. Não gosto de me ver,
uma réplica da minha mãe desinteressada me encara, marcada
com a faca do meu pai.
Billy acha que você é linda.
Minha atenção se volta para o meu estômago e me viro,
olho por cima do ombro as cicatrizes nas minhas costas. Elas
diminuíram, mas ao contrário dos meus braços e pernas, não
responderam à terapia cosmética a laser. Essas marcas são
basicamente invisíveis agora, o suficiente para me sentir
confortável usando roupa de banho e tops. Mas nas minhas
costas nunca desapareceram completamente.
O tempo todo que estive com Ben, ele nunca notou minhas
cicatrizes. Fomos íntimos, mas sempre no escuro. Ele mal me
tocou durante ou depois, e nunca senti o desejo de compartilhar
o fardo do meu passado com ele. Ele não carregava fardos com
graça, não gostava de ser necessário se isso significasse dar mais
do que recebia. Compreendo isso claramente agora.
Mas Billy viu minhas costas. Mudou minhas ataduras
quando tinha catorze anos, e deve tê-las visto novamente ontem
à noite no chuveiro. Billy carrega meus fardos comigo. Todo esse
tempo, os carregou silenciosamente e depois me pediu mais.
Estar com Billy agora é como voltar para casa para mim,
para a pessoa que já fui. Ela tinha cicatrizes, lutou e viveu
tempos sombrios. E, no entanto, sinto falta dela, sua bravura,
sua força feroz, seu senso de justiça. Não percebi o quanto senti
sua falta até o momento, no precipício de enfrentar meus
pesadelos.
Scarlet St. Claire é totalmente sua própria pessoa, é ela
quem Billy vê. É a mulher que considera bonita, e é ela que olha
para mim agora.
Coloco as roupas de volta no balcão, tiro meu sutiã e
calcinha e os coloco de lado. Volto ao quarto, deixo a porta do
banheiro aberta para permitir que a luz preencha o espaço. Subo
de volta na cama e me aproximo o máximo possível do meu
homem bonito. Então me arrasto por alguns minutos, observo-
o dormir, e nem me sinto estranha por isso. É meu com tanta
certeza quanto sou dele. Nós pertencemos um ao outro.
Compreendo isso claramente agora também.
Levanto em meu cotovelo, coloco um beijo prolongado no
canto da sua boca. Então outro. Então um no queixo.
“Scarlet,” ele murmura, mexe-se.
Sorrio, gosto que me associe com beijos, mesmo quando
dorme.
“Preciso de você,” sussurro, beijo seus lábios
completamente desta vez, deslizo minha mão sob sua camiseta
para sentir sua forma sedutora, o cabelo em seu peito, os
músculos sólidos por baixo.
Billy acorda, com os olhos abertos, ainda atordoado pelo
sono. Testemunho o momento exato em que entro em foco. Ele
me alcança, geme quando descobre que estou nua.
“Scarlet,” murmura entre beijos lentos e arrastados. “Se
isso é um sonho, não me acorde.”
“Não é um sonho.”
“Então me toque.” Envolve meu pulso, redireciona minha
palma para a frente da calça, me incentiva a desabotoar seu
zíper e alcançar dentro. Uma emoção corre pelo meu braço com
o contato ousado e meu estômago revira com um calor adorável.
Enquanto me rola de costas, sua boca abaixa para amar meus
seios, sua mão grande acaricia e depois abre minhas pernas, ele
ganha vida na minha mão. Duro e pronto, seu quadril rola,
imitam seus movimentos sedutores da noite passada.
Mas a camiseta dele ainda está e quero sua pele. Quero
tudo seu.
Levanto-me delicadamente da cama e desloco a palma da
mão para o meu peito, de joelhos, agarro a barra da camiseta e
puxo para cima e para fora. Ele permite, mas então está em cima
de mim novamente, me empurra para trás, sobe acima para se
despir de sua calça e boxer.
Apoia-se em um braço, usa o joelho para gentilmente
afastar o meu enquanto desliza a palma da mão do meu quadril,
sobre meu estômago, minhas costelas, mais alto, seus
movimentos lentos, quase como um sonho. Observa sua mão no
meu corpo e minhas respostas instintivas a todos os seus
toques.
Isso é tão diferente da noite passada. A noite anterior foi
um frenesi faminto. Mas agora ele demora a brincar comigo,
move a coxa entre as minhas pernas abertas, aplica fricção e
pressão. Minha necessidade é construída. Minha mão agarra
enquanto ele continua seus toques carinhosos, lambe e chupa
carinhosamente meus seios, meu pescoço, minha orelha, como
se eu fosse um bufê de alimentos finos para serem degustados.
“Preciso de você,” ofego, tremo, meus dedos apontam
reflexivamente, meu corpo tenso com antecipação. “Por favor.”
Sinto seu sorriso no meu pescoço quando recoloca sua
coxa com os dedos, acaricia-me, segura-me. “Adoro quando diz,
por favor. Tão educada.” Ele me morde, acalma o local com uma
lambida enquanto seus dedos imitam o redemoinho de sua
língua.
Ele gosta de mim dizendo por favor? Tudo bem, então.
“Por favor,” repito, tento alcançá-lo. “Por favor.”
Sinto a mudança nele, o enrijecimento de seus músculos
no estômago e nos lados. Finalmente, ele se estabelece entre
minhas pernas abertas, agarra-me e captura minha boca com
um beijo enquanto me enche em um golpe fluido. Estremeço
novamente, empurro minha cabeça contra a cama, minhas
costas arqueiam, estica-me com a invasão vital.
“Diga obrigado.” Sua voz é rouca enquanto se move, seu
quadril rola ao invés de empurrar, esfrega a parte mais crucial
da minha anatomia com cada golpe deslizante.
Gemo em vez de dizer obrigada, ofego, além das palavras.
Só posso sentir a textura de sua pele áspera e quente, seu corpo
duro, sua mão em mim, puxa e rola meu mamilo. A dor quente
e pesada entre minhas pernas se intensifica, enrola-se até que
perco completamente o domínio da posse de mim, espiralando.
Abruptamente, ele fica de joelhos, as mãos entre o meu
quadril e me levanta, seu olhar avidamente se move sobre o meu
rosto enquanto me perco para o prazer disso. Fecho os olhos,
meu corpo curva ao me separar, e ele ainda se move.
Tremores desaparecem, meus cílios se abrem e encontro
seu olhar, atordoado, quente e ganancioso, esperando por mim.
Seus olhos seguem para o meu peito, estômago e, finalmente,
para onde entra em mim. Desliza uma mão para a frente do meu
quadril, esfrega um círculo em volta do meu clitóris com o
polegar, faz minha respiração engatar enquanto meu corpo se
enrola novamente com uma repentina nitidez.
Agarro os lençóis na minha insensatez, procuro por
segurança, desmonto mais uma vez, a dor acompanhada apenas
pelo prazer. Vagamente, estou ciente de que desta vez ele
também se perde, deita em cima de mim, sua boca aperta a
minha enquanto seu quadril estremece, empurra bruscamente,
me enche completamente.
“Eu te amo.” As palavras saem dele quando se recompõe e
me esmaga contra seu peito, rola-nos para o lado. “Casa comigo,
por favor. Casa comigo.”
Ele parece tão perdido, tão vulnerável. Mesmo depois da
minha felicidade, o som do seu apelo aperta meu coração, sóbrio
com a intoxicação do momento e solidifica minha decisão de
resgatá-lo. Empurro contra seu peito para me libertar, capturo
seu rosto em minhas mãos, seguro seu olhar intensamente para
que possa ver a clareza no meu.
“Casarei com você. Será meu marido, serei sua esposa. E
vou mantê-lo seguro.”
Ele pisca, como se minhas palavras o assustassem. Ou
talvez não percebeu que expressou suas esperanças em voz alta.
Então acrescento, “Mas primeiro precisa me perguntar
vinte e quatro horas depois de fazermos amor, quando estiver
convencida de que pensa direito.”
Um sorriso surpreso e alegre divide seu rosto, seu olhar
repentinamente afiado, mas então franze a testa tão de repente.
“Não usamos camisinha.”
Sorrio, balanço a cabeça e beijo seus lábios. “Não. Não
usamos. E posso engravidar. E não conversamos se isso é algo
que você deseja.”
“É. Mas é alguma coisa...”
“Sim. Com você sim.” Coloco beijos leves sobre seus olhos,
mas quando me inclino para trás, ele ainda franze a testa.
“Não quero que se sinta coagida,” ele diz solenemente, seu
olhar procura, seus braços apertam ao redor do meu corpo.
“Você está de brincadeira? Isso é uma piada?”
Uma sugestão de sorriso suaviza suas feições, mas seu tom
fica pensativo. “Continuo dizendo a mim que não há pressa,
devemos tomar nosso tempo, nos conhecermos como somos
agora.”
Incapaz de manter o impulso, inclino-me para frente e
mordisco sua orelha, sussurro, “Como isso é para você?”
“Nada bom.” Sua voz é grave, suas mãos deslizam para o
meu traseiro. “Não sei como ser cauteloso com você.”
Isso me faz sorrir.
“Vamos adicionar isso à lista de itens a serem discutidos.
Volte a dormir.” Viro, aconchego minhas costas contra sua frente
enquanto ele acaricia minha orelha.
“Você conseguiu o que queria e agora me deixa dormir? É
isso?” Pergunta com óbvio humor e carinho.
“Sim. Mas me reservo o direito de acordá-lo se forem
necessários serviços adicionais.”
Ele sorri, um som profundo e estridente, faz cócegas nas
minhas costelas com uma mão e me segura refém com a outra.
“Bom,” ele sussurra calorosamente contra o meu ouvido e
apalpa meu peito. “Vivo para estar em serviço.”
Meu corpo gosta do som disso, e meu coração ama o sorriso
em sua voz. É o meu cérebro que termina a festa, me lembrando
porque preciso que Billy durma.
Ele colocou tudo em risco por mim uma e outra vez,
arriscou sua segurança, sua liberdade, sua saúde, sua alma.
Disse que suas ações e decisões para me salvar de Razor foram
por ele e agora finalmente entendo. Não era uma dívida para
pagar. Ele me amava, e então Billy fez o que foi necessário para
me manter segura.
Não posso deixá-lo ir para a cadeia. O que estou prestes a
fazer é por mim. Eu o amo e farei o que for preciso para mantê-lo
seguro.
“Hora de dormir,” sussurro, forço meu corpo a relaxar.
Ele beija meu ombro, e sinto-o se mover, se posicionando
em uma posição confortável o tempo todo enquanto me segura.
Espero até sua respiração se acalmar. Espero até que esteja
dormindo novamente. E então espero meia hora a mais, ouço-o,
sinto a pressão do seu corpo, memorizo-o.
Então levanto, tomo banho, me visto, pego meu telefone,
passaporte e carteira e escrevo uma nota rápida para Billy antes
de sair.
Querido Billy,
Fui convidada para me apresentar no Nashville Music
Festival, mas estava com muito medo de me comprometer. Você
me fez corajosa, sua força me inspira a ser corajosa, e então
decidi ir. Não consegui dormir e, se quero chegar a tempo, tenho
que sair agora.
Encontro você em Roma no final da semana e retomaremos
exatamente de onde paramos (ou seja, você nu, eu nua, prestação
de serviços etc.). Aqui está um poema para você:
-Amor, Scarlet
CAPÍTULO 21
CLAIRE
“Cletus.”
“Scarlet?”
“Acordei você?" Olho ao meu redor, apaziguada por todos
os assentos vazios ao redor da minha cadeira no aeroporto.
Ainda assim, faço questão de manter minha voz baixa para não
ser ouvida.
“Não. Estava apenas acordando.” Sua voz rouca me diz que
está mentindo.
Mas não tenho tempo para ser educada. “Preciso falar com
você sobre algo muito importante. Preciso de sua ajuda.”
Sem hesitar e soando muito mais alerta, ele diz: “Prossiga.”
“Estou no aeroporto, prestes a voar de volta para
Nashville.” Não quero mentir, mas também não quero expor ele
ou Simone ou qualquer outra pessoa a riscos desnecessários.
“Não sei quantos detalhes sabe sobre a noite em que Billy
resgatou Simone e Roscoe no restaurante, mas o FBI está
investigando Billy por agredir meu pai enquanto estava
inconsciente. Acham que Billy cortou as mãos dele.”
Agora Cletus hesita antes de perguntar: “Billy disse que
cortou as mãos de Razor?”
“Ele te contou?” Rebato.
Ele fica quieto por um instante, como se essa pergunta
fosse um enigma. “Não. Não falou comigo sobre isso e não
perguntei a ele, mas suspeito.” Sua voz me lembra de Billy, tão
severo, resignado. “Falei com Simone sobre isso, no entanto. Ela
me deu um aviso amigável sobre a investigação do FBI. Entre
você e eu, isso está pesando na minha mente.”
“Acho que tenho um plano," sussurro, rastreando um
homem de terno enquanto passa perto de mim.
“Você tem um plano?”
“Eu tenho. Mas preciso da sua ajuda. Preciso que você e
Simone me levem para ver meu pai amanhã, assim que eu
chegar em Nashville.
“Scarlet. Não. Você não será exposta a isso ...”
“Ouça-me, apenas espere um minuto e ouça. Suponho que
Razor não fale com ninguém, certo? Provavelmente nem mesmo
sua equipe jurídica. Mas ele falará comigo.”
Cletus grunhe. “Por que diabos gostaria de falar com ele?”
“Acho que, se Simone me ajudar a vê-lo, posso fazer com
que Razor admita que ele cortou suas próprias mãos.”
“Espere. Você não acredita que Billy cortou as mãos de
Razor?”
Escolhendo minhas palavras com muito cuidado, digo:
“Acho que Razor vai admitir para mim que incriminou Billy.
Acho que posso fazer uma declaração ao FBI jurando isso como
fato. E então acho que desistirão da investigação e seu irmão
não irá para a cadeia. É isso que acredito.”
Ouço um farfalhar, depois o som de passos, depois uma
porta se fecha. “Espero que esteja feliz. Agora estou sentado no
banheiro, no raiar do dia, para que Jenn não possa ouvir seu
plano de cometer perjúrio.”
“Quem disse que é perjúrio?”
“Scarlet.”
“Tem uma ideia melhor?”
“Bem. Bem. Digamos que você vá ver Razor. Digamos que
jure para cima e para baixo, esquerda e direita que ele admitiu
ter incriminado Billy. Não acha suspeito que esteja voando de
volta à cidade apenas para se encontrar com seu pai e inocentar
o homem com quem está em um relacionamento sério, prestes a
se casar, dar à luz uma ninhada de bebês e viver feliz para
sempre?”
Apesar da situação problemática, não posso evitar minha
diversão involuntária. Se der um centímetro a Cletus, ele levará
um ano-luz.
“Não. Porque não estou na cidade para ver meu pai.
Realmente estou indo para me apresentar no Nashville Music
Festival. Ver meu pai é apenas um capricho, uma curiosidade.
Não tenho segundas intenções.”
“Oh sim? Então, que tal estar em um relacionamento com
Billy? Não acha que perceberão sua intenção?”
“Não se não souberem que Billy e eu estamos juntos. Até
agora, ninguém sabe. Billy e eu estaremos em Roma e, quando
voltarmos aos Estados Unidos, tudo estará acabado. O FBI já
terá encerrado o caso, interrompido a investigação.” Dúvidas
razoáveis contam muito. É também por isso que estou pensando
que se Simone puder pedir a um ou mais agentes que de alguma
forma ouçam meu lado da conversa, não será apenas a minha
palavra.”
“Essas conversas entre presos e visitantes são
completamente privadas. Ninguém ouvirá a menos que ele
concorde. Acha que Razor concordará em deixar o FBI ouvir a
conversa dele com você?”
“Ele não precisa. De fato, é melhor que não ouçam o que
ele disser. Mas quero que me ouçam. Quero que ouçam o que eu
disser. Então ninguém estará mentindo.”
“Exceto você.”
“Nunca disse que iria mentir. Eu simplesmente...”
“Certo, certo. Você acha que pode fazê-lo admitir que ele
cortou suas próprias mãos.” Ele resmunga mais uma vez, algo
indistinto, mas depois diz: “Simone fala muito bem daquele
agente Nelson. Ela faria mais sentido.”
Um flash de esperança explode no meu peito e me sento
mais ereta. “Isso significa que vai ajudar?”
“Na escala de uma a dez das coisas ilegais que eu fiz,
desculpe, supostamente ilegal, isso é como três. Talvez até dois
pontos cinco...” ele murmura. “Não podemos deixar ninguém
saber o que planeja. Não estou colocando Simone ou mais
ninguém em risco. Diremos a todos que está lá para o festival,
mas teve um desejo repentino de visitar o velho pai na prisão.”
“Ninguém está em perigo, nem você, nem eu, porque não
estou fazendo nada ilegal.”
Ele ignora minha afirmação. “Billy ficará louco quando
descobrir que deixei você ficar cara a cara com esse monstro.”
“Você não está me deixando fazer nada, Cletus. Esta é a
minha decisão. Só estou pedindo para me ajudar a entrar na
prisão. Isso é tudo.”
“Mesmo assim, Billy não vai gostar disso quando
descobrir.”
“Eu sei," digo honestamente. “Sei que não vai. Mas Cletus,
eu não podia contar. Entende isso, certo?”
“Entendo.” Ele parece cansado. “Melhor que a maioria, eu
entendo que às vezes é melhor pedir perdão do que permissão,
especialmente quando se trata de proteger aqueles que ama.
Mas depois precisa dizer a verdade.”
“Eu vou.”
“Imediatamente. Sem guardar segredos nobres e tristes.
Vou trancar vocês juntos em outro porão.”
“Eu direi a ele. Sem mais segredos. Mas você não acha que
é hora de alguém se aproximar e ajudá-lo? Ele fez muito, não
apenas por mim, mas por você, sua família, por Green Valley,
pelo Tennessee. Alguém tem que colocá-lo em primeiro lugar.
Alguém tem que mantê-lo seguro.”
“Não se trata de pagar uma dívida, não é? Sabe que ele fez
o que fez porquê ...”
“Porque me ama," termino por ele. “E juro, não se trata de
pagar uma dívida. Entre pessoas que se amam, não há dívida,
apenas excedente. Estou fazendo isso por mim.”
“Está voltando para Nashville para conversar com Razor
Dennings. Certo. Parece legítimo.”
“Isso é um sim? Vai me ajudar?”
Meu amigo resmunga alguma coisa, suspira, resmunga
outra coisa, mas acaba dizendo: “Tudo bem. Sim. Eu ajudo.”
***
BILLY
“Não surte.”
Olho por cima do ombro para Cletus, um tanto surpreso ao
encontrá-lo pairando na porta do meu quarto.
“Oh. Está falando comigo de novo?” Verifico meu telefone,
vejo que tenho duas horas até minha próxima ligação. Não estou
ansioso por isso. Karl, o incompetente contato de campanha,
encontrou algo novo para entrar em pânico e quer conversar.
De pé da minha cadeira, cruzo os braços e recosto na mesa.
“Já me desculpei com Jenn.”
Desde que voltei ontem de Veneza, Cletus claramente me
evita. Suspeito que isso seja por alguns motivos. Um, Scarlet não
está comigo. Segundo, deixamos o restaurante em Veneza sem
comer a sobremesa que Jenn preparou. Dos dois, meu irmão
provavelmente considera o último um pecado maior.
Ele é mais fanático pelas sobremesas de sua esposa do que
pela própria salsicha caseira de javali. Para colocar isso em
perspectiva, uma vez recusei uma segunda porção de salsicha e
um padre apareceu à nossa porta no dia seguinte, pronto para
conduzir um exorcismo no demônio que obviamente tomou
posse da minha alma.
“Quando não estava falando com você?” Mãos enfiadas nos
bolsos, ele desce lentamente as duas escadas para o meu quarto.
“Apenas estava ocupado, isso é tudo.”
“Certo.” Estudo meu irmão, tomo nota de como sua atenção
parece estar em todos os lugares, menos em mim, um sinal
revelador de que está desconfortável.
“Este é um quarto agradável.” Ele arrasta um dedo ao longo
da parte superior da minha cômoda. Inspeciona o dedo. “Deveria
espanar.”
“Você já esteve neste quarto antes. O que está pensando,
Cletus?” Passei a maior parte de ontem antes de voltar para à
vila vagando por Florença, observando por conta própria e
pensando nas coisas. Pensei especialmente sobre o momento
logo depois que fizemos amor em Veneza, quando Scarlet disse
que seria minha esposa.
Por isso, quando me encontrei na Ponte Vecchio, uma
quadra cheia de joalherias que fazem a ponte sobre o Arno,
comprei anéis para nós. No mínimo, mesmo que me recuse,
Scarlet aprenderá que nunca blefei.
Pigarreando, Cletus coloca a mão no bolso e balança de um
lado para o outro, dando uma espiada rápida em mim. “Então,
posso ter feito algo, ou concordado com algo, que me preocupa,
por assim dizer.”
“Preocupado como frustrado? Ou preocupado como
ansioso?”
“Ansioso.” Ele franze o cenho, parecendo ansioso. “Não me
arrependo, e confio que, com o tempo verá que foi a decisão certa
para todos os envolvidos, mas uh. . .”
Espero ele continuar. A propensão de Cletus a se preocupar
nem sempre é um motivo para me preocupar. Às vezes se apega
a mirtilos. Às vezes, se apega a alarmante falta de pequenas
colheres na cozinha da casa grande. Por outro lado, às vezes se
concentra em planejar a queda das organizações criminosas.
Basicamente, sua ansiedade pode ser qualquer coisa.
Quando não continua falando, mas continua a lutar
visivelmente, me endireito da mesa, vou até ele e coloco uma
mão gentil no ombro dele. “Ei. Está bem. Diga-me como posso
ajudar.”
“É Scarlet.”
Fico tenso, preocupação faz meu coração gaguejar.
Ela desapareceu no meio da noite, deixando-me uma nota
sobre participar de um festival de música gigante no Tennessee,
mas também me deixou confuso. Queria ser um apoio para ela.
Nunca a seguraria. Então, embora não estou chateado por ela
sair para perseguir seus sonhos, fiquei decepcionado. Gostaria
que me pedisse para ir com ela, eu a seguiria em qualquer lugar.
No entanto, sua promessa de me encontrar em Roma no final da
semana ajudou a acalmar parte da dor.
Mas agora, examinando o perfil ansioso de meu irmão, a
preocupação aumenta. “Scarlet?”
“Ela fez isso para ajudar.”
Fico parado, perguntando baixinho: “O que? O que ela fez?”
Cletus fecha os olhos. “Ela vai lhe dizer quando encontra-
lo, ela me prometeu.”
“Então pode me dizer agora e salvá-la do problema.”
“Ok,” ele concorda imediatamente, como se estivesse
esperando que eu fizesse essa mesma sugestão. Abre os olhos e
encara os meus. “De alguma forma, Scarlet constatou que Razor
o acusou de agressão com sua própria faca enquanto ele estava
inconsciente na lanchonete. Então, ela decidiu voar de volta
para Nashville, visitá-lo na prisão e ver se pode fazê-lo admitir
que está mentindo. E, portanto, fazer uma declaração oficial ao
FBI e limpar seu nome.”
“Ela o quê ?!” Minha mão cai.
Meu irmão estremece com a minha pergunta gritada, com
os ombros contraídos. “Decidiu voar de volta para Nashville,
visitar...”
“Eu ouvi você na primeira vez, Cletus!” Viro as costas para
o meu irmão e passo os dedos pelos cabelos. Conheço meu irmão
o suficiente para saber o que realmente quer dizer. Scarlet voou
para Nashville para visitar Razor para poder mentir para o FBI.
Meu cérebro pega fogo. Meu coração deixa meu corpo. Ando
de um lado para o outro, me sinto enjaulado, impotente. Odeio
me sentir impotente. Não posso... eu não posso... “E você sabia?
Sabia que ela ia fazer isso? O que estava pensando? E que diabos
você estava pensando? Deixá-la ir ver aquele homem? Tem
alguma ideia do que ele fez com ela? Que tipo de inferno a fez
passar?”
“É por isso que estou consertando.”
“Certo, você deveria consertar!”
“Quero dizer, além do confronto com o pai, o plano dela é
sólido.”
“Foda-se o plano!” Paro antes de limpar a mesa do meu
laptop, telefone, vaso e lâmpada e ouvir o barulho da destruição.
“Não. O plano é bom. E isso evita que você vá para a cadeia,
o que...”
Avanço em meu irmão, minhas mãos fechadas em punhos.
“Não me importo em ir para a cadeia, Cletus. Fiz o que fiz e não
sinto muito por isso, e será um dia frio no inferno antes de deixar
Scarlet passar pelo horror de encarar o pai apenas para me
proteger.”
“Ah? Quer dizer como você se colocou diante do horror de
encarar o pai dela apenas para protegê-la?”
Olho para ele. “Isso foi diferente.”
“E por que foi diferente?”
“Porque...” não consigo focar no meu irmão através do
vermelho nublando minha visão. Como ela pôde fazer isso? Por
que se colocou nisso?
“Acho que ela fez isso porque te ama,” Cletus diz, e percebo
que disse pelo menos uma de minhas perguntas em voz alta.
“Ela mentiu para mim. Disse que ia para Nashville para se
apresentar em um show.
Cletus balança a cabeça antes que eu termine minha frase.
“Ela não mentiu para você. Está indo para Nashville para se
apresentar naquele concerto. É amanhã.”
“Sabe o que quero dizer. Ela me enganou.”
“Sim. Provavelmente porque sabia que tentaria detê-la.”
“Muito bem, eu tentaria detê-la. Teria me entregado.
Teria...”
“Ido para a cadeia,” ele termina por mim. “E então ela o
visitaria semanalmente, em vez de visitar o pai apenas uma vez.
Parece um futuro tão bom para todos vocês. Não consigo
imaginar por que ela tomou as coisas, e sua felicidade, em suas
próprias mãos como fez. Que egoísta.”
Com os punhos no quadril, faço uma careta para o meu
irmão e para o absurdo dele. Enquanto faço uma careta e ele
encontra meu olhar enfurecido, suas palavras penetram a
barreira da raiva em volta do meu cérebro.
Relutantemente, aceito que tem razão. Mas não posso
aceitar completamente o argumento dele.
Em um nível visceral, o pensamento de Scarlet ver seu pai
novamente me adoece e me enfurece. A mera ideia é abominável
para todas as partes do meu ser. Mesmo enquanto brigo com
meu irmão, luto para controlar a intensidade violenta da minha
ira fervente.
Odeio o homem. Fui eu quem cortou suas mãos, não
Scarlet. E não me arrependo da decisão, não me arrependo ou
sinto um pingo de contrição até agora, agora que ela pagará o
preço.
“Se ela for pega mentindo por mim, nós dois iremos para a
cadeia,” aponto o óbvio, medo e raiva cobre minha garganta.
Apenas o pensamento dela na prisão, sofrendo pelo meu ato de
vingança, fico louco.
“Então não seja pego,” diz, como se fosse tão simples.
Olho para o meu irmão. E então olho para meu irmão,
percebendo que não parece mais ansioso. Na verdade, quase
parece satisfeito se não considerar a linha severa da boca e o
leve tom de tristeza atrás dos olhos.
Diante de mim, ele dá de ombros como se estivesse
cansado. “Entendo sua raiva e odeio que ela teve que fazer isso.”
“Ela já fez isso?”
Ele concorda.
A angústia enche meus pulmões como um peso de chumbo,
uma dor afunda no meu estômago. A necessidade de estar com
ela, de confortá-la agora, obscurece abruptamente minha
frustração.
“Se houvesse alguma maneira de fazer isso sem enviar
Scarlet para a batalha,” ele continua, “eu faria. Mas ela estava
desesperada para fazer alguma coisa. Como estava inflexível,
achei melhor ajudar do que impedir. Não havia razão para
dificultar as coisas para ela.”
“Poderia pará-la, me dizer o que planejou.”
“Não. Acho que não.” Os olhos dele brilham, mas a linha
da boca permanece firme. “Sei que isso pode ser uma pílula
difícil de engolir, porque foi para mim, mas não pode usar a capa
de herói o tempo todo. Em alguns casos, você é o salvador,
outras vezes é o socorrido. É assim que funciona. E pode ficar
aqui, fervendo em seu caldeirão azedo por não ser o herói desta
vez, ou pode pegar o avião de Sienna de volta a Nashville e
agradecer a sua mulher por salvar sua bunda.”
“Não posso, posso? Depois do que acabou de passar, ela
precisa de mim agora. Teve que passar pelo inferno, enfrentando
Razor. Mas se eu voar para lá e formos vistos juntos, isso minará
sua credibilidade.”
“Está certo. Ela precisa de você, então vá até ela. Esgueire-
se, se encontrem às escondidas. Mais uma vez, apenas não seja
pego.”
“'Apenas não seja pego,' hein? Como se fosse tão fácil.”
“É fácil, Billy. Sabe quantas vezes eu violei a lei e não fui
pego?”
“Não quero saber...”
“Muitas vezes. Se pude fazer muitas vezes, você pode fazer
uma vez.”
“Não é só isso, Cletus.” Aqui vamos nós novamente. “Não
quero que seja assim. Não quero que sejamos um segredo.”
“Comprometa-se um pouco, Billy. Meu contato no FBI acha
que, assim que encerrarem a investigação, definitivamente
permanecerá encerrada, mesmo quando forem a público.
Estamos falando de uma semana, duas semanas no máximo
sendo cautelosos, e a maior parte desse tempo será quando
forem à Roma. Ninguém em Roma se importa com um
congressista do Tennessee e uma estrela da música country
cantando sobre o fettuccine. E Scarlet não apenas fez um
trabalho infernal, como o FBI não está tão interessado em
investigá-lo, para começar. Acha que alguém se importa em
obter justiça para Razor Dennings colocando o homem que o
pegou na cadeia? Não. A justiça pode ser cega, mas não é tão
cega.” Puxando a mão do bolso, ele verifica o relógio no pulso.
“Oh. Acabou o tempo. Se quer confortar sua mulher, precisa ir.
Não há necessidade de fazer as malas, tenho certeza de que sua
fada do terno terá algo para você na chegada em Nashville.”
“Você é um furtivo, Cletus,” digo cansado e pego meu
telefone da mesa colocando no bolso.
“Verdade.” Ele balança a cabeça, pensativo e acrescenta:
“Mas não é mais apenas você carregando o fardo, Billy. Goste ou
não, às vezes a única maneira de vencer é se render.”
***
BILLY
SCARLET
***
FIM.