Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Adsorção
O fenômeno da adsorção pode ser resumido como o acúmulo de substâncias em uma
interface. Ela ocorre devido a interações intermoleculares de tipos diversos, como as forças de
van der Waals. Pode haver também dessorção. A quantidade de substâncias adsorvidas é
determinada pelo equilíbrio dinâmico entre as taxas de adsorção e de dessorção. Na
adsorção, chamamos:
A quantificação do fenômeno pode ser obtida tratando o excesso superficial como uma
função de P,T obtida experimentalmente. Veja:
• 𝚪 = 𝐟(𝑷, 𝑻)
• [𝚪] = 𝒎𝒐𝒍/á𝒓𝒆𝒂
Fissorção Quimissorção
Interações físicas influenciam no fenômenos Interações químicas influenciam no
mais do que interações químicas fenômenos mais do que interações físicas
Mais graus de liberdade, a molécula
Menos graus de liberdade , o adsorbato não
adsorvida está relativamente livre para se
difunde e é imóvel
difundir e/ou rodar na superfície
Existência de uma barreira de energia
O equilíbrio é atingido rapidamente (energia de ativação) necessária para
alcançar o equilíbrio
Superfície sólida não se altera, a não ser que
seja molecular como gelo, parafina ou Superfície é modificada permanentemente
polímeros.
Sem presença de sítios específicos Existem sítios específicos de interação
Redução da pressão estimula a dessorção Dessorção praticamente não ocorre
Energia de sublimação 20-40 kJ/mol Energia de sublimação 100-400 kJ/mol
Fen. Superfície e Eletroquímica (por Rafael Ratier)
A adosrção, em ambos os casos, sempre causa perda de graus de liberdade das
moléculas ∆𝐒 < 𝟎 , e ∆𝐇 < 𝟎 . Quanto mais forte a interação, mais negativo é a variação de
entalpia. Um bom parâmetro para caracterizar a adsorção é o tempo de adosrção, que é o
tempo no qual uma molécula permanece adsorvida. Unindo as definições abaixo:
• 𝑣̅⁄ = ̅̅̅
𝑣𝑥
3
1 3
• 𝑚𝑣̅ ² = 2 𝐾𝐵 𝑇
2
2 ∆𝑥
• 𝜏= ̅𝑣̅̅𝑥̅
• 𝜏 = 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑒𝑟𝑚𝑎𝑛ê𝑛𝑐𝑖𝑎
• 𝑣𝑥 = 𝑣𝑒𝑙𝑜𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙
̅̅̅
• 𝐾𝐵 =
𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝐵𝑜𝑙𝑡𝑧𝑚𝑎𝑛𝑛 =
𝑅
= 1,38. 10−23 J/K
𝑁𝑎
• 𝑇 = 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎
• 𝑚 = 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑡í𝑐𝑢𝑙𝑎
• 𝑣̅ = 𝑣𝑒𝑙𝑜𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
• 2∆𝑥 = 𝑑𝑖𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑝𝑒𝑟𝑐𝑜𝑟𝑟𝑖𝑑𝑎,
2𝑥 𝑎 𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑡í𝑐𝑢𝑙𝑎
𝟐 ∆𝒙
𝝉𝒐 =
√𝑲𝑩 𝑻⁄𝒎
𝑸 𝑸
⁄
𝝉 = 𝝉𝒐
⁄
. 𝒆 𝑲𝑩 𝑻 𝟐 ∆𝒙. 𝒆 𝑲𝑩 𝑻
𝝉=
√𝑲𝑩 𝑻⁄𝒎
Fen. Superfície e Eletroquímica (por Rafael Ratier)
Em ambos os casos, um tempo de permanência elevado significa que a
molécula está adsorvida. Chamamos Q de calor de adsorção.
𝑻𝟑 − 𝑻𝟏
𝜶=
𝑻𝟐 − 𝑻𝟏
• 𝑇1 = 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑎 𝑚𝑜𝑙é𝑐𝑢𝑙𝑎 𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑑𝑎 𝑐𝑜𝑙𝑖𝑠ã𝑜
• 𝑇2 = 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑎 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓í𝑐𝑖𝑒
• 𝑇3 = 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑎 𝑚𝑜𝑙é𝑐𝑢𝑙𝑎 𝑎𝑝ó𝑠 𝑎 𝑐𝑜𝑙𝑖𝑠ã𝑜
Esse coeficiente, medido pela letra alfa, é uma medida de quanta energia é
trocada antes da dessorção de uma molécula. Se uma molécula fica muito tempo
adsorvida, a temperatura da superfície e da molécula tornam-se iguais, e o coeficiente
passa a ser 1. Se a colisão é elástica, a velocidade da molécula não muda antes e
depois da colisão e portanto também não muda sua temperatura, tornando o
coeficiente nulo.
Linear
𝚪 = 𝑲𝑯 𝑷
Fen. Superfície e Eletroquímica (por Rafael Ratier)
Freundlich A existência de superfícies heterogêneas
causam isotermas assim. Os sítios de
maior afinidade são ocupados primeiro e
mais rapidamente, e os sítios de menor
afinidade requerem maior pressão para
serem ocupados. Pode haver ainda
repulsão lateral de moléculas adsorvidas,
dificultando a entrada de novas
moléculas.
𝚪 = 𝑲𝑭 𝑷𝒒
𝑞 𝑒𝐾𝐹 = 𝑐𝑡𝑒
𝑲𝑳 𝑷
𝛉=
𝟏 + 𝑲𝑳 𝑷
𝚪
𝛉=
𝚪𝒎𝒐𝒏
𝑲𝑳 𝑷 𝚪
=
𝟏 + 𝑲𝑳 𝑷 𝚪𝒎𝒐𝒏
Chamamos θ de cobertura relativa e Γmon
é a quantidade máxima adsorvida, que no
caso é de uma monocamada. Perceba
que para P∞, a primeira equação da
cobertura relativa tende À 1 e portanto
Γ Γmon
Fen. Superfície e Eletroquímica (por Rafael Ratier)
Sigmoid
BET
BET
Step Isotherm
Existe um patamar aqui. O primeiro
patamar diz respeito ao processo de
formação de monocamadas em toda a
superfície de um adsorvente poroso. A
adição de novas moléculas acaba por
preencher os poros. A segunda saturação
, em pressões elevadas, é causado pela
redução da área superficial efetiva do
adsorvente uma vez que os poros estão
preenchidos.
Termodinâmica de Adsorção
Para definir o calor de adsorção, valor de Q este que já analisamos
anteriormente a relação entre sua magnitude e o tipo de adsorção, precisamos levar
em consideração alguns parâmetros termodinâmicos do processo de adsorção.
𝒈
∆𝒂𝒅 𝑼𝒊𝒏𝒕 𝝈
𝒎 = 𝑼𝒎 − 𝑼𝒎
𝒈
∆𝒂𝒅 𝑯𝒊𝒏𝒕 𝝈
𝒎 = 𝑯𝒎 − 𝑯𝒎
𝒈
∆𝒂𝒅 𝑺𝒊𝒏𝒕 𝝈
𝒎 = 𝑺𝒎 − 𝑺𝒎
𝒅𝒊𝒇 𝒅𝑼𝝈 𝒈
∆𝒂𝒅 𝑼𝒎 = | 𝝈
| − 𝑼𝒎
𝒅𝑵 𝑻,𝑨
𝒅𝒊𝒇 𝒅𝑯𝝈 𝒈
∆𝒂𝒅 𝑯𝒎 = | 𝝈 | − 𝑯𝒎
𝒅𝑵 𝑻,𝑨
𝒅𝒊𝒇 𝒅𝑺𝝈 𝒈
∆𝒂𝒅 𝑺𝒎 = | | − 𝑺𝒎
𝒅𝑵𝝈 𝑻,𝑨
𝑸 = ∆𝒂𝒅 𝑼𝒊𝒏𝒕
𝒎 .𝑵
𝝈
𝑸 = − ∆𝒂𝒅 𝑯𝒊𝒏𝒕
𝒎 .𝑵
𝝈
∆𝒂𝒅 𝑮𝒎 = 𝝁𝝈 − 𝝁𝒈 = 𝟎
Estamos afirmando que no equilíbrio as moléculas em fase gasosa e as adsorvidas
tem o mesmo potencial. Um valor muito negativo representa um processo de
adsorção muito espontâneo, uma vez que o sistema sempre evolui da região de maior
potencial para a de menor. Se o potencial químico das moléculas adsorvidas for muito
pequeno, quer dizer que a superfície tenderá a adsorver mais moléculas.
Fen. Superfície e Eletroquímica (por Rafael Ratier)
Modelos de Adsorção
Langmuir
Nesse modelo proposto, supõe-se que existam um certo número de sítios de
interação/ligação entre adsorvente e adsortivo por unidade de área, logo:
𝑁º 𝑑𝑒 𝑠í𝑡𝑖𝑜𝑠 𝑚𝑜𝑙
[𝑆] = =
á𝑟𝑒𝑎 á𝑟𝑒𝑎
𝑆 = 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑠í𝑡𝑖𝑜𝑠
𝑆 = 𝑆1 + 𝑆𝑜
𝑉𝑎𝑑𝑠 = 𝐾𝑎𝑑𝑠 𝑆𝑜 𝑃
𝑉𝑑𝑒𝑠 = 𝐾𝑑𝑒𝑠 𝑆1
𝑆1 𝐾𝑎𝑑𝑠 𝑃
=
𝑆 𝐾𝑑𝑒𝑠 + 𝐾𝑎𝑑𝑠 𝑃
A constante de Langmuir tem unidades de pressão-1 a não ser que se trate de soluções. Nesse caso, P é
substituído por uma concentração molar “c” e a constante passa a ter unidade de volume por mol.
𝟏 𝟏 √𝑲𝑩 𝑻⁄𝒎
− (𝑸⁄𝑲 𝑻)
𝑲𝒅𝒆𝒔 = = .𝒆 𝑩 = 𝑸
𝝉 𝝉𝒐 ⁄
𝟐 ∆𝒙. 𝒆 𝑲𝑩𝑻
𝝈𝑨 𝑷 𝝈𝑨 𝝉𝒐
𝑻𝒙𝒄𝒐𝒍 = 𝑲𝒐𝑳 =
√𝟐𝝅𝒎𝑲𝑩 𝑻 √𝟐𝝅𝒎𝑲𝑩 𝑻
𝝈𝑨 𝑸
⁄
𝑲𝒂𝒅𝒔 = 𝑲𝑳 = 𝑲𝒐𝑳 . 𝒆 𝑲𝑩 𝑻
√𝟐𝝅𝒎𝑲𝑩 𝑻
𝑻𝒙𝒄𝒐𝒍 = 𝑲𝒂𝒅𝒔 . 𝑷
Onde
𝑸⁄ 𝑵𝑨 𝝈𝑨 𝝉𝒐
𝑲𝑳 = 𝑲𝒐𝑳 . 𝒆 𝑹𝑻 𝑲𝒐𝑳 =
√𝟐𝝅𝑴𝑹𝑻
Fen. Superfície e Eletroquímica (por Rafael Ratier)
∆ 𝑮𝒎 𝒐
𝑷 (− 𝒂𝒅 )
𝜽= e 𝑲𝒂𝒅𝒔 = 𝒆 𝑹𝑻
𝑲𝒂𝒅𝒔 + 𝑷
1
Chegamos também à conclusão que 𝑲𝑳 = se compararmos esse resultado
𝑲𝒂𝒅𝒔
com a equação normal da cobertura relativa. Podemos ainda acrescentar no modelo
de Langmuir interações laterais entre as moléculas. Dessa forma podemos reescrever
a equação de Langmuir para
𝜽
𝑲′𝑳 𝑷 =
𝟏− 𝜽
Sendo 𝐾′𝐿 a constante de Langmuir nesse modelo modificado onde existem
interações. Assim, podemos modificar à constante de Langmuir também para.
𝑸+𝒏𝑬 𝜽 𝒏𝑬𝑷 𝜽
( 𝑹𝑻 𝑷 ) ( 𝑹𝑻 )
𝑲′𝑳 = 𝑲𝒐𝑳 .𝒆 = 𝑲𝑳 . 𝒆
𝑸
(𝑹𝑻+ 𝜷)
𝑲′𝑳 = 𝑲𝒐𝑳 .𝒆 = 𝑲𝑳 . 𝒆(𝜷)
𝒏𝑬𝑷 𝜽
𝜷=
𝑹𝑻
A equação de K’L em função de KL e ß é comumente chamada de Isoterma FFG
(Frumkin – Fowler - Guggenheim). O valor de EP corresponde à energia de ligação
adicional relacionada à interação de um par de moléculas vizinhas e n seria o número
de sítios de ligação vizinhos.
Fen. Superfície e Eletroquímica (por Rafael Ratier)
Para valores de ß>4 vemos uma curva estanha onde uma mesma pressão pode
nos fornecer 3 valores de cobertura relativa, o que não faz sentido fisicamente. A única
explicação possível para isso é a presença de um sistema de equilíbrio entre 2 fases.
Está ao mesmo tempo adsorvida na superfície moléculas únicas e clusters de
moléculas. Com ß maior, uma pressão menor leva a uma superfície mais coberta por
conta do “plus” de energia. Perceba que KL mede quão prontamente uma
monocamada é formada, e K’L é maior que KL. No outro gráfico, vemos um outro efeito
comum de qualquer adsorção: a diminuição da quantidade adsorvida com o aumento
da temperatura.
BET
A isoterma de Langmuir descreve adequadamente a saturação de uma
monocamada. A isoterma de BET funciona no caso como uma expansão da teoria de
Langmuir, assumindo uma adsorção de Langmuir para cada camada formada. Para isso
foi assumido que:
𝒏 𝑷 𝑪
= .
𝒏𝒎𝒐𝒏 𝑷 𝑷
(𝟏 − 𝑷 ) [𝟏 + 𝑷 (𝑪 − 𝟏)] 𝑷𝒐
𝒐 𝒐
Onde
Se
1 𝑖
𝑃 . 𝑘𝑎𝑑 𝑃 . 𝑘𝑎𝑑
𝛼= 𝑒 𝑄1 ⁄𝑅𝑇 𝛽= 𝑒 𝑄𝑖⁄𝑅𝑇
𝑎1 𝑎𝑖
Então
𝛼 𝑛 𝐶𝛽 𝑃
𝐶= = 𝛽=
𝛽 𝑛𝑚𝑜𝑛 (1 − 𝛽)[1 − 𝛽 + 𝐶𝛽] 𝑃𝑜
𝑑𝜇 = −𝑆̅𝑑𝑇 + 𝑉̅ 𝑑𝑃𝑥 + 𝑑𝑈
̅
𝟏 𝟑 𝑪
𝚪= . [√ − 𝑫𝒐 ]
̅̅̅𝑳
𝑽 𝑷𝒐
𝑹𝑻 𝒍𝒏 ( )
𝑷
Onde:
𝝅𝝆𝑩 𝑪𝑨𝑩 𝑨𝑯
𝑪= =
𝟑 𝟑𝝅𝝆𝑨
𝑨𝑯 = 𝝅²𝝆𝑨 𝝆𝑩 𝑪𝑨𝑩
Onde:
Surfactantes e micelas
Surfactantes são agentes ativadores de superfície. São moléculas anfifílicas que possuem a
capacidade de reduzir a tensão superficial de uma interface. Geralmente são constituídos de
uma parte hidrofóbica (usualmente uma cadeia carbônica) e uma hidrofílica. O principio da
detergência vem da capacidade dessas moléculas de se ligar tanto à água quanto à gorduras,
imiscíveis na ausência de surfactantes.
A maioria dos surfactantes usados são aniônicos, seguido de não iônicos. Catiônicos são
ambientalmente problemáticos e anfóteros são caros.
A linha reta pontilhada e paralela ao eixo X indica a adição teórica de uma substância não
tensoativa, isto é, a adição de uma substância que não interferi-se na magnitude da tensão
superficial. A isoterma do pentanol é típica de moléculas liofóbicas (que não interagem muito
bem com a fase dispersante) e expressa a tendência da maior parte das moléculas orgânicas
em soluções aquosas. Perceba que, apesar de o pentanol não ser um surfactante, ele age
como tensoativo. A isoterma para LiCl tem uma tendência semelhante às isotermas de outros
íons em água e o efeito de aumentar a tensão superficial é sempre sutil.
Cada micela possui um número médio de moléculas agregadas nela, logo nem todas as
micelas tem a mesma quantidade de moléculas em sua estrutura. Existe uma polidispersão
significante que faz que, em determinado momento do processo de adição de surfactante,
umas micelas tenham mais ou menos surfactantes do que as outras. Podemos esquematizar
essa dispersão graficamente:
Surfactantes não iônicos tendem à ter um caráter inverso: com o aumento da temperatura, a
solubilidade cai.
Fen. Superfície e Eletroquímica (por Rafael Ratier)
̅̅̅̅̅̅
∆𝑮 𝒎𝒊𝒄 = 𝑹𝑻 𝒍𝒏([𝑪𝑴𝑪])
A equação não vale para surfactante iônicos porque para estes deve-se levar em
consideração a variação da energia livre de Gibbs associada ao processo de dissociação de
cargas.
CMC’s costumam ser abaixo de 1M, o que faz a variação ser negativa e portanto o
processo ser espontâneo. Existem basicamente dois fatores que competem entre si no
processo de formação da micela
Na formação de micelas, uma cadeia grande significa que muitas moléculas de água
que solvatavam uma molécula de surfactante, que antes estavam bem organizadas, terão
que desfazer sua interação para que as cadeias carbônicas interajam entre si e portanto
formem as micelas. Portanto o aumento da cadeia de carbonos faz com que o processo de
formação de micelas tenha uma variação de entropia mais positiva.
Vale ainda citar que com CMC muito elevado em um sistema água + surfactante, existe
uma tendência à formação de uma micela com bicamada pois ter água no interior de uma
micela com cadeia carbônica voltada pro interior é energeticamente desfavorável.
Fen. Superfície e Eletroquímica (por Rafael Ratier)
O efeito hidrofóbico é sensível à variação de temperatura pois interações podem ser
atenuadas ou intensificadas tanto no aquecimento quanto no resfriamento
O efeito da repulsão lateral é por vezes tão intenso que permite a cadeia hidrofóbica
das micelas ter contanto direto com a água, diminuindo seu caráter hidrofílico na superfície.
Esses dois efeitos competem termodinamicamente. Enquanto o efeito hidrofóbico aumenta
entropia e entalpia, a repulsão lateral diminui entropia e entalpia.
𝑉𝐶
𝑁𝑆 =
𝐿𝐶 𝜎𝐴
Membranas biológicas
Todas as membranas biológicas são bicamadas lipídicas, assim como a figura da
vesícula. Elas são assim porque sua estrutura impede a difusão de moléculas polares e
principalmente de íons para a região interior.
O motivo desse efeito tem a ver com a constante dielétrica do meio. Apesar de em
vesículas termos uma fase aquosa tanto no interior quanto no exterior, íons para entrarem
precisam passar por uma região de hidrocarbonetos primeiro.
𝒆² 𝟏 𝟏
∆𝑮 = ( − )
𝟖𝝅𝜺𝒐 𝑹 𝝐𝒇 𝜺𝒊
Acima, a equação da variação da energia livre de Gibbs no processo de transferência
de íons de uma região inicial “i” para outra final “f”. A região final seria a região rica em
hidrocarboneto, que possuem constante dielétrica baixa (lembrando que constante dielétrica
mede a polaridade do meio). Essa região seria o meio da membrana, onde a cadeia carbônica
dos surfactantes se encontra. A região inicial tem constante dielétrica maior e consiste no
exterior da vesícula , ou seja, é uma fase aquosa. O valor da variação da energia livre de Gibbs
nesse processo é positivo indicando que a transferência dos íons não é espontânea e
praticamente não ocorre.
Isoladamente, vale a pena citar que cargas interagem entre si em regiões de baixa
constante dielétrica mais intensamente. Veja a região onde as cargas se encontram como um
meio que impede a interação e a constante dielétrica como uma medida de resistividade da
mesma. Constante dielétrica nula seria o vácuo absoluto, onde as cargas teriam interação
maximizada.
Emulsões
Definimos emulsão como uma dispersão de dois líquidos imiscíveis onde a
Macroemulsões Microemulsões
Cineticamente estável Se mantém devido
ao fornecimento de energia cinética ao Termodinamicamente estável se formam
sistema. Sem isso, eventualmente as fases se espontaneamente
separarão.
Gotas 0,1 – 10 µm Gotas de 2-50 nm
Alta polidispersão maior variabilidade de
Baixa polidispersão
tamanho das gotas
Opaco Translúcido
Macroemulsões
Macroemulsões não são estáveis e portanto, por mais que demore, sem a adição de
energia (geralmente cinética, agitação) fases se separarão eventualmente. Para reduzir a
tensão superficial e estabilizar a emulsão, surfactantes são adicionados. Com isso, as gotas
conseguem se manter, sem fundirem uma nas outras e separar de fase, isto é, desemulsificar.
Para separar gotas maiores em duas menores, um gradiente de pressão externa tem
que ser aplicado. Esse gradiente possui a seguinte proporcionalidade:
∆𝑷𝒆𝒙𝒕 𝟐𝜸
∝
∆𝒙 𝑹²
Fen. Superfície e Eletroquímica (por Rafael Ratier)
Perceba que gotas menores precisão de pressões maiores para se dividir e como a
adição de surfactantes diminuí a tensão superficial, a pressão necessária para se dividir gotas
torna-se menor (o que comprova que sua adição facilita a formação de macroemulsões)
Partículas coloidais:
Eletrólitos Inorgânicos
Alguns eletrólitos inorgânicos como KSCN se dissociam na fase aquosa, formando ions
que podem ser adsorvidos na interface. Portanto, as gotas ficam carregadas e todas
carregadas com o mesmo sinal. Existe portanto uma repulsão eletroestática que dificulta a
fusão das gotas e aumenta a barreira de energia da coalescência.
Surfactantes
Para emulsões do tipo óleo em água, o contato da parte polar do surfactante com a
fase contínua aquosa gera hidratação. Para a fusão de gotas, a cabeça dos surfactantes deverá
se desidratar e existe certa repulsa energética para esse processo, o que acaba por dificultar a
coalescência e estabilizar a emulsão.
Surfactantes carregados
Efeito Descrição
Repulsa Eletroestática Cargas iguais próximas geram repulsões,
existe uma barreira de energia para gerar a
aproximação
Resistência à desidratação Barreira de energia considerável à ser
superada para quebrar tais ligações.
Resistência à dessorção Alta afinidade dos agentes emulsificantes
pela interface gera uma barreira de energia
para a retirada dos mesmos
Impedimento estérico de aproximação Aproximação gera queda de entropia e de
graus de liberdade e por questões espaciais a
aproximação fica dificultada, gerando uma
barreira de energia pra esse processo
Efeito Descrição
Repulsa Eletroestática Lateral Cargas iguais próximas geram repulsões,
espaço médio dos surfactantes elevado.
Queda da tensão superficial menos elevada.
Aumento do excesso superficial menos
acentuado
Interação salina Íons dissociados dos sais blindam cargas,
permitindo que a distância média dos
surfactantes diminua devido à queda do
efeito de repulsão lateral. Assim, novas
moléculas de surfactante podem ser
adsorvidas. Diminui a tensão superficial.
Saber a configuração da emulsão é simples se usarmos a regra de Bancroft, que diz que a
fase contínua será aquela cujo o surfactante é mais solúvel (pois ele é solúvel em ambas)
De forma geral, um surfactante com baixa polaridade (alta apolaridade) será mais
solúvel na fase de óleo. Logo ela será a contínua e a configuração será água em óleo, com
Ns>1. O inverso também se aplica logo
↓ 𝑷𝒐𝒍𝒂𝒓𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 ↑ 𝑷𝒐𝒍𝒂𝒓𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆
≡ 𝑵𝑺 ↑ ≡ 𝑵𝑺 ↓
↑ 𝑨𝒑𝒐𝒍𝒂𝒓𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 ↓ 𝑨𝒑𝒐𝒍𝒂𝒓𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆
Cinética de desemulsificação
Já vimos o que estabiliza uma macroemulsão. Agora entenderemos que a sua estabilidade está
relacionada ao seu tempo de vida, pois por mais que esteja estabilizada, demorando segundos
ou anos, o seguinte processo vai ocorrer:
Fen. Superfície e Eletroquímica (por Rafael Ratier)
Chamamos de floculação o efeito de formação de clusters de gotas, mas que não
alteram sua identidade (suas características). É na verdade uma interação entre as gotas sem a
fusão das mesmas, causada por forças atrativas de van der Waals que acabam por
desestabilizar a emulsão (no caso ilustrado anteriormente). Num gráfico de energia x tempo,
representa um segundo mínimo. Veja:
𝟒 𝑲𝑩 𝑻
𝒗= − 𝒄² , logo 𝒗 = − 𝒌𝒇 𝒄²
𝟑 𝜼
− 𝑬∗
𝒗 = − 𝒌𝒇 . 𝒆𝑲𝑩𝑻 . 𝒄²
Fen. Superfície e Eletroquímica (por Rafael Ratier)
Como já vimos várias vezes, surfactantes estabilizam emulsão. Portanto se estabiliza,
natural entender que o segundo mínimo do gráfico de energia com a presença de surfactante
é menor do que sem a presença, e que a queda do patamar representado pela emulsão cai
ainda mais com o aumento da concentração de surfactante. Como resultado, a barreira de
energia tende a aumentar com o aumento da concentração de surfactante. Veja:
Microemulsões
São termodinamicamente estáveis o que significa dizer que não deixam de existir
com o tempo e tendem a se formar espontaneamente. Além disso, diferente de
macroemulsões, qualquer perturbação de seu estado de equilíbrio é reversível.
Supondo que todo surfactante vai para a interface das emulsões e que uma
quantidade negligenciável está solúvel e que todos estão orientados de forma perpendicular à
cada ponto de contato com a superfície da gota, chegamos às seguintes equações:
Fen. Superfície e Eletroquímica (por Rafael Ratier)
𝟒𝝅
𝑽 𝒅 = ∅𝒅 𝑽 = 𝒏 𝑹²
𝟑
𝑽𝒄 = ∅𝑽
𝑽𝒔 = ∅𝒔 𝑽 = 𝟒𝒏𝝅𝑹²𝑳𝒔
Onde:
• 𝑉 → 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 • ∅𝑠 →
• 𝑉𝑐 → 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡í𝑛𝑢𝑎 𝐹𝑟𝑎çã𝑜 𝑣𝑜𝑙. 𝑑𝑜 𝑠𝑢𝑟𝑓𝑎𝑐𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒
• 𝑉𝑑 → 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑑𝑖𝑠𝑝𝑒𝑟𝑠𝑎 • 𝑅 → 𝑟𝑎𝑖𝑜 𝑑𝑎 𝑔𝑜𝑡𝑎
• 𝑉𝑠 → 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑠𝑢𝑟𝑓𝑎𝑐𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 • 𝑛 → 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑔𝑜𝑡𝑎𝑠
• ∅ → • 𝐿𝑠 →
𝐹𝑟𝑎çã𝑜 𝑣𝑜𝑙. 𝑑𝑎 𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡í𝑛𝑢𝑎 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑑𝑎 𝑐𝑎𝑑𝑒𝑖𝑎
• ∅𝑑 → 𝑐𝑎𝑟𝑏ô𝑛𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑜 𝑠𝑢𝑟𝑓𝑎𝑐𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒
𝐹𝑟𝑎çã𝑜 𝑣𝑜𝑙. 𝑑𝑎 𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑑𝑖𝑠𝑝𝑒𝑟𝑠𝑎
𝟑 𝑳𝒔 ∅𝒅
𝑹=
∅𝒔
Uma conclusão direta da interpretação da fórmula é que quanto mais surfactante
tiver, menor o raio das gotas na fase dispersa. Essa equação é uma condição necessária para
uma emulsão ser termodinamicamente estável.