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FUNDAMENTOS DA MATÉRIA
Prof. Valéria Spolon Marangoni
Reações
Em alguns casos, o processo de dissolução de um soluto em uma solução pode
levar a uma reação química. Por exemplo, níquel metálico se dissolve quando misturado
com uma solução de HCl:
Ni(sólido) + 2HCl → NiCl2 (aq) + H2 (g)
Ou seja, o que fica dissolvido nesse caso é o NiCl2 e não o Ni metálico. Se
evaporamos todo o solvente, o que resta é apenas NiCl2 (Ni metálico não existe mais).
Isso é diferente do caso do NaCl, por exemplo. Neste caso, se a gente evaporar todo o
líquido de uma solução salina, o que nos resta será NaCl.
Soluções saturadas
O que acontece se você continua adicionando sal a um volume fixo de água?
Chega um momento em que fica difícil de solubilizar, né? Quando a concentração de
soluto é muito alta, a chance de as moléculas colidirem e se reconectarem é grande. Esse
processo, é chamado de cristalização.
A solubilidade de um dado soluto é a quantidade máxima de soluto que podemos
dissolver em um dado solvente em uma temperatura específica. Se estamos nessa
quantidade máxima, dizemos que a solução está saturada. Se estamos abaixo desse limite
não saturada e se, em condições específicas, for possível dissolver mais do que esse limite,
dizemos que a solução é supersaturada.
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Propriedades coligativas
As soluções resultantes possuem propriedades distintas daquelas do solvente puro
e que são dependentes da quantidade de soluto no sistema. Essas propriedades são
chamadas de coligativas, ou seja, dependem do efeito coletivo.
- Diminuição da pressão de vapor
Vamos relembrar: a pressão de vapor corresponde a pressão exercida pelo vapor
(evaporado) em equilíbrio com o líquido em um recipiente fechado, ou seja, taxa de
evaporação igual a taxa de condensação. Uma substância que não possui pressão de vapor
mensurável é não volátil e aquelas que apresentam pressão de vapor são voláteis. Quando
um soluto não volátil está presente, a pressão de vapor da solução será menor que a do
solvente puro. A lei de Raoult afirma que a pressão parcial exercida pelo vapor do
solvente na solução Psolução é igual ao produto da fração molar do solvente Xsolvente
multiplicado pela pressão de vapor do solvente puro Psolvente:
Psolução = Xsolvente Psolvente
Assista os vídeos: https://youtu.be/YZ5vTzUe0yg https://youtu.be/WLceQuRlsPU
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- Osmose
Diversos materiais são semipermeáveis, ou seja, permitem apenas que pequenas
moléculas passem através dos poros, como membranas celulares e membranas de diálise.
Quando uma membrana desse tipo separa soluções com concentrações distintas há um
fluxo das moléculas de solvente do meio mais concentrado para o menos concentrado. A
pressão requerida para parar o fluxo do solvente é definida como a pressão osmótica do
sistema, que pode ser escrita como:
𝑛
Π = ( ) 𝑅𝑇 = 𝑚𝑅𝑇
𝑉
Onde m é a molalidade do sistema, R é a constante dos gases ideais e T é a temperatura
em Kelvin.
A osmose desempenha um papel fundamental nos sistemas vivos e no nosso dia a
dia. Veja abaixo o efeito da concentração salina nas células do sangue.
Figura 1. Efeito da concentração da solução extracelular para as células vermelhas. (a) Células em uma
concentração salina próxima a concentração intracelular; (b) células com uma concentração salina menor e
(c) concentração salina maior que a concentração intracelular.[1]
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Colóides
Entre as soluções homogêneas e misturas heterogêneas, temos as suspensões (ou
dispersões) coloidais. Partículas coloidais possuem normalmente entre 5 e 1000 nm e a
dispersão coloidal parece homogênea até em um microscópio óptico. Alguns sistemas
podem ser grandes o suficiente para espalhar luz, conferindo um aspecto leitoso a essas
dispersões. Esse espalhamento é chamado de efeito Tyndall e depende do comprimento
de onda da luz.
A composição de uma solução pode ser especificada de várias formas. Por
exemplo, a fração molar (x) de uma espécie i é definida como:
𝑛𝑖
𝑥𝑖 ≡
𝑛𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
Já a concentração molar de uma espécie i é definida como:
𝑛𝑖
𝑐𝑖 =
𝑉
Onde V é volume da solução. Em soluções liquidas, a concentração molar de uma espécie
em mols por litro é chamada de molaridade. Não confunda molaridade com molalidade.
Molalidade é o número de mols do soluto por massa do solvente.
Compostos em uma solução podem reagir, resultando em compostos diferentes
dos iniciais. Em meio aquoso, por exemplo, há vários tipos de reações: reações de
precipitação, quando o produto é insolúvel e precipita na solução, reações de
neutralização (entre ácidos e bases), reações de oxidação-redução, etc.
Em uma escala molecular, as taxas de reações dependem da frequência de colisões
entre as moléculas. Para uma colisão levar a uma reação, deve possuir uma energia
suficiente para quebrar as ligações e uma orientação adequada para formar novas ligações.
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r = k[A]
Pela lei de velocidade, sabemos que:
1 𝑑[𝐴]
𝑟= −
𝑎 𝑑𝑡
Portanto:
1 𝑑[𝐴]
𝑟= − = 𝑘[𝐴]
𝑎 𝑑𝑡
Para resolver essa equação diferencial, rearranjamos a equação de modo a separar [A] e
t.
2 2
∫ [𝐴]−1 𝑑[𝐴] = − ∫ 𝑘𝐴 𝑑𝑡
1 1
Portanto, para uma reação de primeira ordem, [A] diminui exponencialmente com
o tempo! De maneira análoga, podemos tratar as reações de segunda ordem e etc. No ano
que vem, vocês vão ver isso em detalhes na disciplina de cinética química.
Equilíbrio químico
Em um sistema particular com reações químicas, o equilíbrio da reação pode ou
não ser atingido. No equilíbrio, as concentrações dos reagentes e produtos não mudam
com o tempo e os reagentes e produtos não podem escapar do sistema. Os cálculos do
equilíbrio químico têm importantes aplicações na indústria, no estudo do meio ambiente,
na bioquímica e na geoquímica. A análise do equilíbrio químico é importante em química
ambiental, por exemplo, no estudo da composição de sistemas hídricos, tais como lagos
e no tratamento da poluição do ar.
O equilíbrio químico ocorre quando as reações em direções opostas possuem a
mesma velocidade, ou seja, a taxa de formação dos produtos a partir dos reagentes é igual
a taxa de formação dos reagentes a partir dos produtos. Consequentemente, as
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concentrações não mudam com o tempo (mas não se esqueça que a reação ainda está
ocorrendo). Por exemplo, vamos considerar a seguinte reação:
N2O4 (g) 2NO2 (g)
Vamos olhar, então, as taxas de cada uma dessas reações separadamente:
Reação 1: N2O4 (g) →2NO2 (g) r = k1[N2O4]
Reação 2: 2NO2 (g) → N2O4 (g) r = k2[NO2]2
No equilíbrio, as taxas são iguais e, portanto:
k1[N2O4] = k2[NO2]2
[𝑁𝑂2 ]2 𝑘𝑓
= = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒
[𝑁2 𝐻4 ] 𝑘𝑟
[C]𝑐 [𝐷]𝑑
𝐾𝑐 =
[A]𝑎 [𝐵]𝑏
Como é possível perceber, a constante depende da estequiometria da reação e não
do mecanismo. E como podemos utilizar Kc? Pense o que acontece quando Kc>>1 ou
Kc<<1. Podemos, portanto, prever a direção e as concentrações dos reagentes e produtos.
Quando os reagentes e produtos na reação química são gases, a expressão de
constante de equilíbrio pode ser expressa em termos das pressões parciais. E quando o
equilíbrio envolve substâncias que estão em fases distintas? Se um sólido puro ou líquido
puro participa do processo, a sua concentração não deve ser incluída no cálculo da
constante de equilíbrio. O sólido ou líquido puro não tem volume constante e, por isso, a
concentração não muda.
Muitas das substâncias que utilizamos no nosso dia a dia são obtidas em reações
que envolvem equilíbrio químico na indústria. Utilizando os valores das constantes de
equilíbrio em diversas situações, é possível otimizar esses processos. Esse é exatamente
o princípio de Le Chatelier: se um sistema em equilíbrio é perturbado por alguma
mudança na temperatura, pressão ou concentração do componente, o sistema irá deslocar
seu equilíbrio de modo a minimizar essa perturbação. Se adicionarmos mais de um dos
reagentes, o equilíbrio é deslocado no sentido de consumir esse excesso para que o
equilíbrio seja restabelecido, portanto a velocidade da reação no sentido dos produtos será
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Equilíbrio ácido-base
Portanto, o ácido ‘doa’ H+ para outra espécie enquanto a base ‘aceita’ o próton. A
substância que recebeu o próton é chamada de ácido conjugado e a que perdeu é a base
conjugada. Essa definição pode ser aplicada a reações que não ocorrem em meio aquoso
como, por exemplo, a reação no estado gasoso do HCl e NH3:
HCl(g) + NH3(g) → Cl-(g) + NH4+(g)
Onde o HCl é o ácido e o NH3 é a base. Algumas substâncias podem agir como ácido em
algumas reações e base em outras e são chamadas anfipróticas.
O que faz o ácido ou uma base forte? A habilidade de doar ou receber os prótons!
Quanto maior a habilidade de um ácido de doar próton, maior a força do ácido. Como
consequência, sua base conjugada recebe prótons menos facilmente (veja a Figura 1). Um
ácido fraco não se dissocia totalmente e, portanto, existe em solução como uma mistura
do ácido e sua base conjugada. O ácido acético é um exemplo:
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Uma das características mais importantes da água é a sua habilidade de agir tanto
como ácido quanto uma base de Brosted-Lowry. A reação abaixo é chamada de
autoionização da água. A taxa dessas reações é muito alta e as moléculas não ficam
ionizadas por muito tempo, por isso a água não é boa condutora de eletricidade.
H2O(aq) + H2O(aq) OH-(aq) + H3O+(aq)
A constante de equilíbrio dessa reação será:
Kc = [H3O+][OH-]
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Ácidos polipróticos
Muitos ácidos possuem mais de um H ionizável e são conhecidos como
polipróticos. É o caso do ácido sulfúrico:
H2SO4(aq) H3O+ + HSO3- Ka1 = 1,7x10-2
HSO3- H3O+ + SO3- Ka2 = 6,4x10-8
É sempre mais fácil remover o primeiro próton do que segundo, que, por sua vez,
é mais fácil do que o terceiro.
Analogamente ao que discutimos para as bases, a constante de equilíbrio da
dissociação de bases é chamada de Kb:
NH3(aq) + H2O(l) NH4+(aq) + OH-(aq)
[𝑁𝐻4 + ][𝑂𝐻 − ]
𝐾𝑏 = = 1,8𝑥10−5
[𝑁𝐻3 ]
Soluções salinas
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Qual é o efeito de um sal no pH? Muitos íons reagem com a água, resultando em
H e OH- (hidrólise da água). No geral, um ânion X- pode ser considerado uma base
+
conjugada de um ácido. Caso o ácido não seja muito forte, ele pode interagir com água
para produzir um ácido fraco e OH-.
Muitos íons metálicos reagem com a água, diminuindo o pH. Esse efeito é mais
pronunciado para cátions pequenos e carregados como Fe3+ e Al3+. Por exemplo, o Ka do
Fe2+ é 3.2x10-10, enquanto do Fe3+ é 6,3x10-10. Isso ocorre, pois a carga positiva dos íons
metálicos é atraída pelos pares de elétrons das moléculas de água e se tornam hidratados.
Quanto maior a carga do íon, maior a atração entre os íons e o oxigênio das moléculas de
água. Quanto mais forte essa interação, mais fraca a ligação O-H se torna, o que resulta
na dissociação do próton H+.
Mas em um sal, que possui tanto cátions quanto ânions, devemos considerar a
ação dos dois para determinar se o sal forma uma solução ácida, básica ou neutra. Assim,
se o cátion e o ânion não reagem com a água, o pH é neutro. Esse é o caso de aníons de
ácidos fortes e cátions dos grupos 1 e 2 da tabela periódica como NaCl, Ba(NO3)2. Se
apenas o ânion reage com água, esperamos que o pH seja básico (NaClO, BaSO 3) e se
apenas o cátion reage com a água, o pH deve ser ácido (NH4NO3, Fe(NO3)3). Se ambos
reagem com água, devemos comparar a habilidade de cada íon.
Oxiácidos
Muitos ácidos, como o ácido sulfúrico, que contém um ou mais grupos OH são
chamados de oxiácidos. Quando o OH está ligado covalentemente a um outro átomo, o
composto é ácido ou neutro. Diferente da ligação iônica das bases (NaOH, por exemplo),
na ligação covalente a densidade eletrônica está menos localizada, enfraquecendo a
ligação OH e favorecendo a libração do H+. Quanto maior a eletronegatividade do átomo
que o OH está ligado, mais facilmente o H+ se dissocia. Portanto, a força de um ácido
aumenta com o aumento da eletronegatividade dos átomos ligados ao átomo central.
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Ácidos carboxílicos
Dois fatores contribuem para o comportamento ácido dos ácidos carboxílicos: o
oxigênio adicional do grupo COOH que desloca a densidade eletrônica e favorece a saída
do H+ e a estabilização por ressonância na base conjugada. Você saberia demonstrar essa
ressonância?
Solução tampão
Você já deve ter ouvido falar da importância dos sistemas tampões no nosso
organismo e na bioquímica. Soluções que possuem um par ácido-base conjugada fraco
resistem a mudanças drásticas no pH quando pequenas quantidades de ácido ou base forte
são adicionados. O tampão, portanto, resiste a mudança de pH, porque contém tanto um
ácido para neutralizar o OH- quanto uma base para neutralizar o H+. Obviamente os ácidos
e bases dos tampões não podem consumir um ao outro em uma reação de neutralização.
Escolhendo os componentes apropriados e ajustando suas concentrações relativas, é
possível preparar soluções tampões em qualquer pH.
Vamos calcular a constante de dissociação do ácido fraco:
HX (aq) H+(aq) + X-(aq)
[𝐻3 𝑂 + ][𝑋 − ]
𝐾𝑎 =
[𝐻𝑋]
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𝐾𝑎 [𝐻𝑋]
−𝑙𝑜𝑔[𝐻 + ] = −𝑙𝑜𝑔 ( )
[𝑋 − ]
[𝐻𝑋]
−𝑙𝑜𝑔[𝐻 + ] = −𝑙𝑜𝑔𝐾𝑎 − 𝑙𝑜𝑔 ( )
[𝑋 − ]
Portanto:=
[𝐻𝑋]
𝑝𝐻 = 𝑝𝐾𝑎 − 𝑙𝑜𝑔 ( )
[𝑋 − ]
[𝑋 − ]
𝑝𝐻 = 𝑝𝐾𝑎 + 𝑙𝑜𝑔 ( )
[𝐻𝑋]
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𝜕𝑉 𝜕𝑉
𝑑𝑉 = ( ) 𝑑𝑇 + ( ) 𝑑𝑃 + ∑ 𝑉𝑖 𝑑𝑛𝑖
𝜕𝑇 𝑃,𝑛𝑖 𝜕𝑃 𝑇,𝑛𝑖
Sugestões de leitura
1. Brown, T.L.; Lemay, H.E.; Bursten, B.E.; Murphy, C.J.; Woodward, P.M. Química
a Ciência Central. Capítulo 13, 15, 16 e 17. 13ª edição, São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2016.
2. Atkins, P. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio ambiente.
Foco 5. 7ed,. Porto Alegre: Bookman, 2018.
Referências
1. https://chem.libretexts.org/Bookshelves/General_Chemistry/Map%3A_Chemistr
y_-
_The_Central_Science_(Brown_et_al.)/13%3A_Properties_of_Solutions/13.05
%3A_Colligative_Properties
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2. Brown, T.L.; Lemay, H.E.; Bursten, B.E.; Murphy, C.J.; Woodward, P.M.
Química a Ciência Central. 13ª edição, São Paulo: Pearson Education do Brasil,
2016.
3. Atkins, P. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio
ambiente. 7ed,. Porto Alegre: Bookman, 2018.
4. https://chem.libretexts.org/Bookshelves/Organic_Chemistry/Organic_Chemistry
_(McMurry)/02%3A_Polar_Covalent_Bonds_Acids_and_Bases/2.07%3A_Acid
s_and_Bases_-_The_Brnsted-Lowry_Definition
5. Lowry, T.M. "The uniqueness of hydrogen," Journal of the Society of Chemical
Industry, 42(3): 43–47, 1923.
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