Você está na página 1de 11

PLANIFICAÇÃO E GESTÃO DE PROJECTOS

PARTE II - AVALIAÇÃO DE PROJECTOS NA ÓPTICA FINANCEIRA

DOCUMENTOS ESSENCIAIS

Para a materialização de qualquer projecto é importante que o investidor tenha a sua disposição
todas as ferramentas essenciais que o ajudarão a tomarem a melhor decisão possível sobre a
aplicação de recursos escassos e limitados.

Assim sendo, constituem documentos necessários para a tomada de decisão de investir os


seguintes:

1. Mapa de Investimentos;
2. Mapa de Exploração;
3. Mapa de Origens e Aplicação de Fundos (MOAF1);
4. Balanço Previsional.

Mapa de Investimentos

É um documento onde são especificados de forma detalhada toda informação sobre o projecto do
ponto de vista das aquisições ou compras de imobilizados ou mobilizados que se esperam fazer
ao longo da vida útil do projecto.

1
Veremos este Mapa no módulo de Gestão Financeira

Página 1 de 11
Mapa de Investimentos

Ano_____ Ano______
Mercado Impor Total Mercado Impor Total
Nacional tação Nacional tação
Imobilização
Estudos e projectos iniciais;
Terrenos e respectivos arranjos de infra-
estruturas de água, energia, entre outros;
Edifícios e Construções;
Máquinas e equipamentos e respectivos
encargos de compra e montagem
Veículos e material de transporte e
respectivos encargos de aquisição;
Móveis e utensílios e equipamento de
escritórios
Outras despesas até ao arranque;
Juros até ao arranque
Capital Circulante
Stock a constituir
Créditos normais sobre clientes menos
débitos a fornecedores
TOTAL

Mapa de Exploração

Também designado por conta de exploração, é um documento previsional muito importante para
a tomada de decisão de investir. Nele estão previstas todas as receitas (ganhos) e as despesas
(custos) que o projecto espera ao longo da sua vida útil e também permite a quantificação de
resultados previsionais do projecto

Página 2 de 11
Mapa de Exploração

ANO
RUBRICAS ANO 0 ANO 1 ANO N
Proveitos totais
Receitas de vendas (pronto pagamento e a crédito)
Receitas de prestação de serviços
Descontos e devoluções
Valoração de trabalhos prestados pela própria empresa
Outros proveitos
Custos Operacionais totais
Custos das matérias consumidas e vendidas
Remunerações e encargos sociais
Subcontratos
Fornecimento e serviços de terceiros (electricidade,
combustíveis)
Amortização e reintegração
Impostos directos e indirectos
Outros custos
RAJIAR2 = 1-2
AR3
RAJI4 = 3-4
Juros Financiamento
RAI5 = 5-6
Imposto sobre os Rendimentos
Lucro liquido = 7-8

2 Resultados Antes dos Juros, Impostos, Amortizações e Reintegrações


3 Amortizações e Reintegrações
4 Resultado Antes de Juros e Impostos
5 Resultados Antes de Impostos

Página 3 de 11
Balanço Previsional

É o documento que resume todos os anteriores por forma a apurar os saldos finais de todas as
contas (Activos e Passivos) e Situação Liquida (Situação Patrimonial)

Classe RUBRICAS ANO 0 ANO 1 ANO 2


ACTIVO
1 Meios Circulantes Financeiros
Caixa e Bancos
Clientes
Devedor Estado
Outros Devedores
Antecipações activas
2 Meios Circulantes Materiais
Existências
3 Meios Imobilizados
Construções
Equipamentos
Outros Meios Básicos
Grandes Reparações
Imobilizações
Amortizações
Total Activo

PASSIVO + SITUAÇÃO LIQUIDA


4 Credores
Credores a Curto Prazo
Créditos bancários
Fornecedores
Credor Estado
Outros Credores
Antecipações passivas
Créditos a Médio/Longo Prazos
Sub Total do Passivo
5 Fundos Próprios
Capital Social
Reservas
Provisões
Lucros ou prejuízos acumulados
Sub Total Situação Líquida
TOTAL PASSIVO + SITUAÇÃO LIQUIDA

Página 4 de 11
CASH-FLOWS DE UM PROJECTO

Consideram-se cash-flows operacionais aqueles que resultam das entradas e saídas, isto é,
relacionado de forma directa com o processo da produção (venda dos produtos e serviços da
empresa). Esses fluxos, excluem as vendas a crédito e os custos ainda por pagar.

Os cash-in-flows são por meio de vendas à vista; recebimento, desconto recebidos ou realizadas
pela empresa.

Os cash-out-flows surgem devido as compras de matérias-primas, salários e ordenados com os


encargos, custos indirectos de fabricação, despesas administrativas e despesas com vendas.

Os cash flows de investimento associam-se com as compras e vendas de activos imobilizados e


participações societárias.

Os cash flows extra-operacionais são aqueles que surgem através de ingressos e saídas de itens
não relacionados com a actividade principal do projecto.

ELEMENTOS QUE INFLUENCIAM O CASH-FLOW

 Transacções que aumentam o cash-flow

-Entrada do capital de sócios ou accionistas;

-Empréstimos bancários e financeiros;

-Venda de activo da empresa;

-Vendas à pronto pagamento;

-Entradas como tais como: juros recebidos, dividendos recebidos, indemnizações de seguros,
descontos, entre outras.

Página 5 de 11
 Transacções que diminuem o cash-flow

-Pagamento de dividendos aos accionistas;

-Compra do activo;

-Compras à pronto pagamento e pagamento de fornecedores;

-Pagamento de custos gerais, operacionais e administrativos (matéria-prima, água, energia,


salários e outras remunerações, compra do material de escritório, entre outros).

 Transacções que não influenciam cash-flow

-Depreciação, amortização e exaustão6 por se tratar de reduções de activo que não afectam o
caixa;

-Provisão para devedores duvidosos. Projecção de prováveis prejuízos com clientes desde que
isto não representa o desembolso ou encaixe;

-O pagamento do juro de financiamento

DECISÕES DE INVESTIMENTO

A tomada de decisão de investimento em um determinado projecto constitui uma etapa


importante e crucial para o proponente, o analista e o financiador do projecto, e é nesta etapa que
“um projecto de investimento só deve ser empreendido se, no mínimo, proporcionar uma
rentabilidade idêntica à de outras alternativas com o mesmo risco existentes no mercado”.

No presente texto de apoio serão abordados apenas os indicadores do segundo grupo a saber:
Payback time, Valor Presente Líquido (VAL) e Índice de Lucratividade (IL).

6
É o registo do desgaste resultante do consumo de recursos naturais extractivos (recursos minerais, faunísticos,
florestais, pesqueiros, entre outros).

Página 6 de 11
1.1. Payback time

Também designado por Período de Recuperação de Investimento (PRI) é o tempo médio


necessário para recuperar o capital inicial investido no projecto.

Suponha que no quadro abaixo estejam representados os cash-flows previsionais do projecto


“Xibalakatsa” durante o tempo da vida útil do projecto que é de 4 anos.

Projecto “Xibalakatsa”

(valores em milhões de Meticais)

Ano CF CFA
0 (1,000.00) (1,000.00)
1 700.00 (300.00)
2 900.00 600.00
3 1,400.00 2,000.00
4 1,500.00 3,500.00

O Payback time é um indicador fácil de calcular. Bastando para tal que se faça uma acumulação
sucessiva dos cash-flows esperados durante todos anos da vida útil do projecto. O objectivo desta
acumulação é obter o tempo (ano) em que ocorre a mudança de sinal negativo (cash out flow)
para positivo (cash in flow). Na tabela acima, na colina CFA estão representados os cash flows
acumulados e é possível observar que a mudança de sinal ocorre entre o 1º e 2º anos e recorrendo
a cálculos pode-se concluir que o Payback time deste projecto é de 1 ano e 4 meses.

Este indicador é o preferido não só pela facilidade de cálculo como ainda capacidade de indicar o
tempo médio que recuperação de investimento, elemento importante para casos de empresas que
queiram investir em países com níveis elevados de instabilidade política, social, assim como
económica. É esta capacidade que faz com que se considere como indicador de liquidez e risco.
Em dois ou mais projectos considera-se com maior liquidez àquele cujo período de retorno de
capital investido é menor.

Página 7 de 11
Todavia, o payback não está isento de críticas. É muito criticado pelo facto de não ter em conta
os cash-flows gerados pelo projecto após o período de recuperação do capital inicial, não ter em
conta, ainda o valor do dinheiro no tempo, ignorar de custos necessários para a manutenção de
investimentos e por último, considera-se como um indicador que apenas olha para a liquidez do
projecto de forma isolada e não da empresa com um todo.

1.1.1. Payback Descontado ou Actualizado

Este indicador surge para corrigir a últimas críticas do indicador anterior. Incorpora no seu
cálculo o factor de desconto, assumindo que valor do dinheiro varia de acordo com tempo.

Projecto “Xibalakatsa”

(Valores em milhões de Meticais)

Ano CF CFD CFA


0 (1,000.00) (1,000.00) (1,000.00)
1 700.00 636.36 (363.64)
2 900.00 743.80 380.17
3 1,400.00 1,051.84 1,432.01
4 1,500.00 1,024.52 2,456.53

A coluna CFD (Cash Flows Descontados) representa os cash flows descontados e o factor de
desconto é (1  10%)n onde n é o ano. Ainda de acordo com a tabela é possível verificar-se que na
coluna CFA (Cash Flows Acumulados) estão representadas as somas sucessivas dos CFD’s e o
payback time é de 1 ano e 6 meses.

Página 8 de 11
1.2. Valor Actual Liquido7

O Valor Actual Liquido (VAL) é método de avaliação das propostas de investimento de capital
em que se encontra o valor presente dos fluxos de caixas futuros líquidos, descontados ao custo
de capital da empresa ou à taxa de retorno exigida”.

Segundo da definição acima, conclui-se que VAL não foge muito a lógica de Payback
Descontado. É calculado recorrendo à fórmula:

N
VAL   1CF c
t 0
t
t (1)

Onde: t é o tempo, c representa o custo de capital ou a taxa de retorno exigida pelo accionistas e
CFt é o Cash- Flows no período t.

Embora este seja o indicador mais fiável de todos é desaconselhado o seu uso para comparar 2
ou mais projectos com horizontes temporais (período de vida útil) ou com volumes de
investimentos diferentes.

1.2.1. Critérios de decisão

De acordo com este indicador serão aceites todos os projectos cujo VAL > O, pois, permitem
que os seus proponentes recuperem integralmente o seu capital, aumentem a riqueza dos seus
accionistas e cubram os riscos económicos e financeiros relacionados com o projecto.

O projecto será rejeitado se VAL < O pois os seus resultados são opostos aos indicados no ponto
anterior.

Para casos em que VAL = O, o projecto pode ser interessante em determinados casos, pois
permite que os accionistas obtenham uma remuneração desejada dos seus capitais próprios e
cubram os riscos, todavia recomenda-se uma avaliação exaustiva.

Exemplo 1: Projecto com investimento no período zero.

7
Na literature inglesa denomina-se Net Present Value (NPV)

Página 9 de 11
Uma empresa pretender implementar um projecto de investimento que inclui a aquisição de um
equipamento no valor de $400.000. O investimento tem um período de vida de cinco anos e gera
os cash-flows descritos na tabela I.

Tabela 1: (Unidade:10^3 $)

Ano 0 1 2 3 4 5

Cash flows (400) 140 160 160 200 200

Para uma taxa de actualização de 15%, temos o seguinte valor actual líquido dos cash-flows:

𝐶𝐹1 𝐶𝐹2 𝐶𝐹3 𝐶𝐹4 𝐶𝐹5


𝑉𝐴𝐿 = −𝐼 + + + + +
(1 + 𝑡)𝑛 (1 + 𝑡)𝑛+1 (1 + 𝑡)𝑛+2 (1 + 𝑡)𝑛+3 (1 + 𝑡)𝑛+4

140 160 160 200 200


𝑉𝐴𝐿 = −400 + 1
+ 2
+ 3
+ 4
+
(1 + 0.15) (1 + 0.15) (1 + 0.15) (1 + 0.15) (1 + 0.15)5

𝑉𝐴𝐿 = −400 + 121.74 + 120.98 + 105.20 + 114.35 + 99.44

𝑉𝐴𝐿 = 161.71

1.3. Índice de Rentabilidade do Projecto

Este indicador como sendo o ganho marginal gerado por cada unidade monetária investida no
projecto. O índice de rentabilidade, apresenta aos investidores a rentabilidade efectiva por

VAL
unidade de capital investida, e calcula-se através da seguinte fórmula:
IL 
Invest
(3)

Chama-se atenção para a fórmula (3) que em casos de projectos cujo investimento ocorre em
mais de um ano, é preciso actualizar o valor referente a este usando o custo e capital.

Página 10 de 11
5.1. Critérios de decisão

Se IRP>1 tendo em conta que o VAL>O, o projecto pode ser aceite porque uma unidade
monetária adicional investida gera mais do que uma unidade monetária de retorno;

Se IRP<1, o projecto não deve ser aceite por razões opostas aos ponto anterior;

Se IRP=1 a aceitação do projecto depende da aprovação de outros ponderadores (indicadores).

O IRP é considerado melhor indicador quando estamos perante dois ou mais projectos
independentes e é desaconselhável se os projectos forem mutuamente exclusivos

REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICA

1. Araújo, A. (2003). Manual de Analise de Projectos de Investimento (2a ed). Editora


Reis dos livros
2. Barros, H. (1991). Análise de Projectos de Investimentos. Lisboa: Edições Silabo
3. BRIGHAM, E. (2007). Fundamentals of Financials Management. Dryden Press
International
4. Brigham, E. & Houston. R. (2003). Fundamentals of Financials Management. USA
5. Da Costa, J. C. (2006): Elaboração. Análise e Gestão de Projectos, Faculdade de
Economia-UEM. Maputo, Moçambique
6. Fabozzi, F. & Peterson. P. (2003). Financial Management and Analysis (2nd ed).
John Wiley & Sons Inc, New Jersey USA
7. Marques, A (2000). Concepção e Análise de Projectos de Investimentos. Lisboa:
Edições Sílabo
8. Meneses, Caldeira (1988). Análise Financeira. Lisboa – Editorial Presença.
9. Mitha, Omar, (2009). Análise de Projectos de Investimento. Maputo: Escolar Editora
10. Soares, J.; Fernandes, A.; Marco, A. & Marques, J. (1999). Avaliação de Projectos de
Investimento na Óptica Empresarial. Lisboa – Edição Silabo.
11. Weston, J. F. & Brigham, E. (2000). Fundamentos da Administração Financeira
(10a ed). São Paulo – Makron Books

Página 11 de 11

Você também pode gostar