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Roberta de Andrade Pandolfo

DA FORMAÇÃO SERRA GERAL,


BACIA DO PARANÁ

Atlas Visual para Identificação Macroscópica


Para Jesus, minha família e todos os
colegas geólogos.
apresentação

Este atlas visual é resultado Além dos hábitos típicos registra-


da minha atividade de estágio dos na literatura, são abordados
obrigatório no Departamento de aqui alguns menos comuns, mas
Mineralogia e Petrologia da Uni- que eventualmente ocorrem nas
versidade Federal do Rio Grande zeolitas dessa unidade geológica.
do Sul (UFRGS), desenvolvida du- Todas as fontes consultadas estão
rante sete semanas (de 8 de fe- listadas no final deste livro. Todas
vereiro a 26 de março de 2021). as fotografias são de minha auto-
O objetivo é facilitar a iden- ria.
tificação macroscópica de zeoli- Agradeço especialmente ao
tas que comumente ocorrem em Prof. Dr. Heinrich Theodor Frank,
cavidades das rochas basálticas do Departamento de Mineralogia
da Formação Serra Geral, Bacia e Petrologia da UFRGS, pela con-
do Paraná. Embora as amostras cessão das amostras, pela via-
deste atlas tenham sido coletadas bilização da lupa binocular e pela
apenas em pedreiras do Rio Gran- orientação durante o estágio e à
de do Sul, as características aqui Profª Dra. Cassiana Roberta
descritas são válidas para toda a Lizzoni Michelin, do mesmo de-
área de ocorrência da Formação partamento, pela estimulante
Serra Geral. Mais de 100 amostras troca de ideias, pela supervisão e
foram observadas em lupa bino- pela paciência.
cular para produzir este material. Cada detalhe deste atlas foi
Visando aplicação prática, o pensado para que você, leitor(a),
atlas conta com muitas imagens tenha uma experiência agradá-
acompanhadas de comentários e vel.
ilustrações, as quais enfatizam os Cordialmente,
hábitos possíveis desses minerais. Roberta A. Pandolfo

Contato:
betapandolfo@gmail.com
sumário

5 LOCALIZAÇÃO DAS PEDREIRAS

6 ANALCIMA

9 CHABAZITA

11 EPISTILBITA

13 ESCOLECITA

15 ESTILBITA-ESTELLERITA

19 HEULANDITA

22 LAUMONTITA

24 ROTEIRO DE DESCRIÇÃO MACROSCÓPICA

25 REFERÊNCIAS
localização

Todas as amostras incluídas PEDREIRA COORDENADAS


neste atlas resultam de coletas Sultepa 29° 12' 14.54" S
feitas durante décadas em quatro Tainhas 50° 14' 31.99" W

pedreiras do Rio Grande do Sul, Municipal


29° 32' 44.50" S
cuja localização é indicada na (Morro
51° 3' 41.80" W
Reuter)
Figura 1, e são do acervo pessoal
29° 37' 47.50" S
do Prof. Dr. Heinrich Theodor Incopel
51° 8' 46.90" W
Frank.
Municipal
A relação de coordenadas de 29° 38' 52" S
(Novo
51° 7' 33.80" W
Hamburgo)
cada pedreira consta no Quadro 1,
ao lado. Quadro 1. Relação de coordenadas das pedreiras.
Fonte: Frank (2008).

Figura 1. Localização das quatro pedreiras. Fonte: Google Earth (2021).

Zeolitas da Formação Serra Geral, Bacia do Paraná: Atlas Visual para Identificação Macroscópica 5
analcima do grego anakymos, "fraco"

el
op
DADOS GERAIS

c
In
Fórmula química:
Na(AlSi2O6)·H2O

Sistema cristalino:
Triclínico

Brilho:
Vítreo a opaco

Cor: 0,5 mm
Incolor, branco, cinzento
Geralmente forma cristais equantes
Diafaneidade: e euédricos. Este cristal é incolor e
Transparente a translúcido contém inclusões de minerais pretos

Dureza:
5-5,5
I
Clivagem: nc
op
Ruim - vista na face {100} el

Hábitos comuns:
Cristais com faces
trapezoédricas marcadas.
Pode haver a combinação
de cubo, octaedro e
trapezoedro

1 mm

O crescimento de oxidações sobre


a analcima é uma feição frequente

6 ANALCIMA
É muito comum os cristais de
analcima estarem dispostos
como agregados globulares

0,5 mm
Inco

Quando incolor, assume a cor dos


cristais abaixo dela. Repare nos
pel

trapezoedros bem definidos

1 cm

Agregados globulares de
analcima esbranquiçada
com cristalização posterior
de heulandita amarelada

1 mm
pel
o
Inc

Analcima (reconhecida pela face


trapezoédrica) parcialmente
envolta por heulandita

1,5 cm

Zeolitas da Formação Serra Geral, Bacia do Paraná: Atlas Visual para Identificação Macroscópica 7
Desenvolvimento de heulandita
com hábito de sela sobre
analcima euédrica

0,3 mm

0,2 mm

Dois cristais equantes de


Incopel

analcima intercrescidos

As cavidades podem
estar em contato com
diques de areia

2 cm

8 ANALCIMA
chabazita do grego khabázios, "semelhante a granizo"

Su
lt e

DADOS GERAIS

p
a
Ta
inh
as
Fórmula química:
(Ca,Na2,K2,Sr,Mg)[Al2Si4O12]·6H2O

Sistema cristalino:
Triclínico

Brilho:
Vítreo

Cor: 1,5 mm
Incolor, branco, creme, a-
marelado, marrom, aver-
melhado Três pseudorromboedros amare-
lados e intercrescidos. Ao redor, há
cristais diminutos e incolores,
Diafaneidade:
também de chabazita
Transparente a opaco

Dureza:
4-5 el
op
c
In

Clivagem:
Distinta - vista na face {010}

Hábitos comuns:
Cristais pseudorromboédri-
cos, quase cúbicos. Inter-
crescimentos são muito
comuns

0,8 mm

Vários pseudorromboedros esbran-


quiçados intercrescidos. Repare no
brilho vítreo

Zeolitas da Formação Serra Geral, Bacia do Paraná: Atlas Visual para Identificação Macroscópica 9
2 mm
pel
Inco

Pseudorromboedro único dentro de


uma cavidade revestida por quartzo.
Aqui, a chabazita é opaca

1 cm

Su
lte
pa

Ta
in
ha
s
Diminutas bipirâmides de quartzo
cristalizaram posteriormente sobre
a chabazita

I
nc
op
el

0,8 mm

Geralmente é euédrica e se distribui


como cristais isolados ou intercres-
cidos, não tendo sido observada
a ocorrência de agregados

0,3 mm

10 CHABAZITA
epistilbita do grego epi, "próximo", e stilvi, "brilho"

Munici
pal
- No
v o
H
DADOS GERAIS

am
bu
rg
o
Fórmula química:
(Ca,Na2)[Al2Si6O16]·5H2O

Sistema cristalino:
Monoclínico

Brilho:
Vítreo

Cor: 1,2 mm
Incolor, branco, rosado

Diafaneidade: Prisma individual com hábito de


Transparente a translúcido envelope. Nos agregados em feixe,
essa face também é bem marcada
Dureza:
4-4,5 amb
urgo
H
vo
No
-
Clivagem: al
ip

Perfeita - vista na face {010}


c
ni
Mu

Hábitos comuns:
Geralmente, forma agrega-
dos com hábito de feixe.
Massas esferulíticas são
possíveis

0,7 mm

Topo de dois cristais intercrescidos


exibindo o terceiro hábito ilustrado
no quadro à esquerda

Zeolitas da Formação Serra Geral, Bacia do Paraná: Atlas Visual para Identificação Macroscópica 11
Municipal - Novo Hamburgo

1,4 cm 1,5 cm

Três amostras com agregados de


epistilbita incolor com hábito de feixe,
como na ilustração abaixo
Municipal - Novo Hamburgo

Ilustração do hábito "sheaflike"


(feixe), típico dos agregados de
epistilbita
1,1 cm

12 EPISTILBITA
escolecita do grego skólix, "verme"

Munic
i pa
l-
No
vo

DADOS GERAIS

H
am
bu
rgo
Fórmula química:
Ca[Al2Si3O10]·3H2O

Sistema cristalino:
Monoclínico

Brilho:
Vítreo

Cor: 2,5 mm
Incolor, branco, salmão,
cinzento
É comum os agregados serem
Diafaneidade: radiais e delicados, lembrando
Transparente a translúcido fios de cabelo ou tufos

Dureza:
5 el
op
c
In

Clivagem:
Perfeita - vista na face {110}

Hábitos comuns:
Cristais individuais formam
prismas pseudotetragonais
delgados. Agregados radi-
ais ou maciços são comuns

1 mm

Agregado capilar de escolecita de


cor castanho. Há bipirâmides de
quartzo associadas

Zeolitas da Formação Serra Geral, Bacia do Paraná: Atlas Visual para Identificação Macroscópica 13
A coloração marrom na superfície
dos cristais se deve à presença de
impurezas entre eles

mm 3
3 mm

Vários agregados radiais sobre-


pondo-se mutuamente. Na base,
apresenta-se como agregados
maciços

1 cm

Os prismas, nessa amostra,


atingem até 8 cm de comprimento

4 mm

Quando assume hábito


prismático, a espessura dos
cristais chega a 5 mm

2,3 cm

14 ESCOLECITA
estilbita-estellerita
do grego stilvi, "brilho" homenagem a Georg Wilhelm Steller

DADOS GERAIS IMPORTANTE

Fórmula química: Segundo a International


(Ca,Na2,K2)4,5[Al9Si27O72]·29H2O Zeolite Association (IZA) e
Tschernich (1992), estilbita e
Sistema cristalino:
Monoclínico estellerita só podem ser dife-
renciadas por meio de análise
Brilho: química. Não é possível distin-
Vítreo, perolado na gui-las macroscopicamente.
face {010} Portanto, optou-se por utilizar
o termo genérico estilbita-
Cor: estellerita neste atlas. Os
Incolor, branco, rosado, dados gerais referem-se à
alaranjado, castanho estilbita.
Diafaneidade:
Transparente a opaco
s
Dureza: in
ha
a
4-4,5 -T
pa
lte
Su

Clivagem:
Perfeita - vista na face {010}

Hábitos comuns:
Cristais individuais placoides
ou agregados que lembram
uma gravata-borboleta

2 mm

A zonação desse cristal termina em


ponta-de-lança, acompanhando o
hábito do cristal

Zeolitas da Formação Serra Geral, Bacia do Paraná: Atlas Visual para Identificação Macroscópica 15
É possível a confusão com o
agregado em feixe de epistilbita.
Se a terminação for em lança,
como esta, é estilbita-estellerita
Mun
icip
al -
Nov
Hamo
burg
o

1,3 cm
0,4 mm

Cristais zonados são comuns. Os desta


amostra são castanho-dourados no
centro e incolores nas extremidades

3 mm
4 mm

Sultepa
Tainhas 1 cm

16 ESTILBITA-ESTELLERITA
7 mm

pel
Inco

1,2 cm
Duas amostras com muitos agrega-
dos tendendo ao hábito de gravata-
borboleta, mas todos desenvolvidos
de maneira incompleta

Ilustração do hábito "bow tie"


(gravata-borboleta), típico dos
agregados de estilbita
In
co
pe
l

2,3 cm

Zeolitas da Formação Serra Geral, Bacia do Paraná: Atlas Visual para Identificação Macroscópica 17
el
c op
In

Prismas alaranjados e translúcidos,


sobre os quais se desenvolveu
calcita com hábito dente-de-cão

s
ha
a in
T

pa
lte
Su
1 mm

Diminutos agregados radiais de estilbita-


estellerita, formando esferas. Em alguns,
é possível ver o topo pinacoidal

2,5 mm

Minerais esbranquiçados cristalizaram


de modo incompleto sobre a estilbita-
estellerita

3 mm

3 mm

Cristais zonados são muito


comuns. Observe a terminação
plana do cristal
1,1 cm

18 ESTILBITA-ESTELLERITA
heulandita homenagem a Johann Heinrich Heuland

DADOS GERAIS

In
co
pe
l
Fórmula química:
(Ca,Na2,K2,Sr,Ba,Mg)8[Al8Si28O72]·20-24H2O
.
Sistema cristalino:
Monoclínico

Brilho:
Vítreo, perolado na
face {010}
2,5 mm
Cor:
Incolor, branco, amarelado

Diafaneidade: Heulandita incolor, transparente


Transparente a translúcido e euédrica com hábito de caixão

Dureza: urgo
H amb
3,5-4 vo
No
-
al
Clivagem:
pi
ic
un

Perfeita - vista na face {010}


M

Hábitos comuns:
Muitas possibilidades de
prismas. Os cristais tabula-
res em forma de caixão
são típicos

2 mm

Agregados de cristais curvos, de


aspecto similar a porcelana, são
comuns revestindo cavidades

Zeolitas da Formação Serra Geral, Bacia do Paraná: Atlas Visual para Identificação Macroscópica 19
0,3 mm
1 cm
Assume muitas formas distintas.
Heulandita incolor, com o hábito Aqui, vê-se o topo de um cristal
típico de caixão. Nesta amostra, com hábito "blocky" (blocoso)
ocorre junto com ametista

Detalhe do hábito "pointed"


(pontudo). Repare no brilho
perolado na face {010}

1 cm

Cristais de hábito
pontudo atingindo
2,5 cm de comprimento

el
Incop
2,7 cm

20 HEULANDITA
Detalhe do hábito "saddle" (sela), outra
forma frequentemente encontrada. Note
as irregularidades na ponta do cristal

Ilustração do hábito "saddle" (sela)


da dolomita. A heulandita pode
apresentar formas semelhantes a
essa, com faces curvas, lembrando
selas de cavalo

6 mm

In
co
p
el

A heulandita cresceu sobre


quartzo coberto por
argilominerais amarelo-ocre

1 cm

Zeolitas da Formação Serra Geral, Bacia do Paraná: Atlas Visual para Identificação Macroscópica 21
laumontita homenagem a François Pierre Nicolas Gillet de Laumont

el
op
DADOS GERAIS

c
In
Fórmula química:
(Ca,Na2)[Al2Si6O16]·5H2O

Sistema cristalino:
Triclínico e monoclínico

Brilho:
Vítreo ou perolado

Cor: 1 mm
Branco, salmão, vermelho
A cor branca indica a desidratação
Diafaneidade: completa da laumontita, que
Translúcido a opaco originalmente é vermelha

Dureza:
3-4

Clivagem: In
co
Perfeita - vista na face {010} pe
l

Hábitos comuns:
Disposta como agregados
prismáticos e frágeis

1,5 mm

Aqui, a cor salmão dos prismas


revela um estágio intermediário
de desidratação

22 LAUMONTITA
I

nc
op
el
Uma característica diagnóstica
é que, quando desidratada, a
laumontita se esfarela facilmente

nc
op
el
1 mm

Prismas sem orientação preferencial


e em processo de desidratação,
já se esfarelando

1 mm

Agregados prismáticos, já desidra-


tados, desenvolvidos sobre calcita

2 mm
Incopel

1,7 cm

Zeolitas da Formação Serra Geral, Bacia do Paraná: Atlas Visual para Identificação Macroscópica 23
roteiro

I. HÁBITO

II. DIMENSÕES DO CRISTAL

III. GRAU DE EUEDRIA

IV. BRILHO

V. COR

VI. DIAFANEIDADE/TRANSPARÊNCIA

VII. CLIVAGEM

VIII. FRATURA

IX. INCLUSÕES

X. IMPERFEIÇÕES

XI. MINERAIS ASSOCIADOS

24 ROTEIRO DE DESCRIÇÃO MACROSCÓPICA


referências

BONEWITZ, R. L. 2012. Nature Guide: Rocks and Minerals. New York, DK


Publishings, 354 p.

FRANK, H. T. 2008. Gênese e padrões de distribuição de minerais secundários


na Formação Serra Geral (Bacia do Paraná). Porto Alegre, 324 p. Tese de
Doutorado, Programa de Pós-graduação em Geociências, Instituto de
Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

IZA. International Zeolite Association. Index of Natural Zeolite Datasheets.


Disponível em: <http://www.iza-online.org/natural/IZA-NZ_Datasheets.htm>
Acesso em 15 de março de 2021.

KLEIN, C.; DUTROW, B. 2012. Manual de Ciência dos Minerais. Porto Alegre,
Bookman, 23 ed., 716 p.

MANUTCHEHR-DANAI, M. 2009. Dictionary of Gems and Gemology. New


York, Springer, 3 ed., 1029 p.

NESSE, W. D. 2000. Introduction to Mineralogy. New York, Oxford University


Press, 442 p.

TSCHERNICH, R. W. 1992. Zeolites of the World. Arizona, Geoscience Press,


565 p.

Zeolitas da Formação Serra Geral, Bacia do Paraná: Atlas Visual para Identificação Macroscópica 25

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