Você está na página 1de 15

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO BIOMÉDICO
FACULDADE DE ODONTOLOGIA
DISCIPLINA DE ORTODONTIA II

PROTOCOLO PARA ANÁLISE CEFALOMÉTRICA


ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO 1

2. ELABORAÇÃO DO CEFALOGRAMA 4

2.1 Base do Crânio 4


2.2 Estruturas da Face 4
2.3 Dentes 4
2.4 Perfil Facial 5

3.. DEMARCAÇÃO DOS PONTOS CEFALOMÉTRICOS 6

4. LINHAS E PLANOS DE REFERÊNCIA 8

5, ANÁLISE SUMÁRIA 9

5.1 Padrão Esquelético 9


5.2 Padrão Dentário 10
5.3 Padrão Facial 11

6. LOCALIZAÇÃO DOS VALORES ANGULARES E LINEARES NO


TRAÇADO CEFALOMÉTRICO 12

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 13
1

1. INTRODUÇÃO

A cefalometria é a técnica que possibilita a avaliação dento-crânio-facial através

de radiografias cefalométricas de frente e perfil tomadas dentro de um padrão constante que

possibilite a determinação de pontos, linhas, planos e ângulos de referência. Dentre os

principais objetivos da cefalometria, pode-se citar: o estudo de modificações do

crescimento e desenvolvimento normais, o diagnóstico de possíveis desvios e anomalias

dento-crânio-faciais, o planejamento e avaliação de casos tratados ortodonticamente, bem

como a comunicação dos objetivos do tratamento com outros profissionais e com o

paciente1,6. Portanto, a radiografia cefalométrica é um exame que, somado a outros exames,

como radiografias panorâmicas e periapicais, modelos de estudo e fotografias, vai auxiliar

na identificação do diagnóstico e na decisão pelo plano de tratamento mais indicado para o

paciente ortodôntico.

A craniometria, segmento da antropometria especializado no estudo da forma e

do crescimento da cabeça através de medições in vivo e em crânios secos, legou à

cefalometria um importante conjunto de conhecimentos. O anatomista holandês Pieter

Camper, em 1780, foi quem descreveu o primeiro plano utilizado como referência até os

dias de hoje - o Plano de Camper, traçado desde a base do nariz até o centro do conduto

auditivo externo. Já em 1872, Von Ilhering descreveu outro plano, considerado standard

para orientação de estudos do crânio - o Plano Horizontal de Frankfurt, traçado desde a

margem superior do conduto auditivo externo até o ponto mais inferior da órbita.

Em 1895, o físico alemão Wilhelm Conrad Roentgen, enquanto estudava o

efeito das descargas elétricas em tubos de gás, deparou-se com um tipo desconhecido de

radiação, capaz de atravessar os tecidos e sensibilizar o filme fotográfico, radiografando-os.


2

Chamou esses raios de raios X, por desconhecer a sua origem. A partir de então, muitas

pesquisas foram realizadas com intuito de aprimorar a tomada radiográfica, com tentativas

de se padronizar a obtenção das radiografias faciais. Até que, em 1931, Broadbent

introduziu o cefalostato, cujo objetivo era posicionar a cabeça do paciente sempre na

mesma posição durante a tomada radiográfica. Desta forma, ocorreu a padronização da

radiografia, que possibilitou o desenvolvimento de vários estudos sobre o crescimento

dento-cranio-facial. A partir de então, várias análises cefalométricas foram descritas, sendo

as mais utilizadas até hoje a Análise de Downs, descrita em 1948, a Análise de Tweed,

descrita em 1952 e a Análise de Steiner, descrita em 1953.

Em 1965, a cefalometria entrava na era da informática, quando Ricketts

introduziu o traçado cefalométrico computadorizado, no qual os registros e medições eram

executados pelo computador. Esta nova tecnologia foi capaz de fornecer um grande número

de informações, auxiliando ainda mais os ortodontistas a diagnosticar e planejar os seus

casos. Em meados da década de 1980, a tomografia computadorizada volumétrica ou cone

beam foi introduzida nos Estados Unidos, possibilitando a geração de imagens

tridimensionais do crânio. Com isso, muitas análises que avaliam o volume do crânio a

partir dos três planos do espaço vem sendo descritas, com intuito de aprimorar ainda mais o

conhecimento na área de cefalometria.

A interpretação correta das radiografias cefalométricas, depende de um

adequado conhecimento da anatomia radiográfica observada. Tais estruturas anatômicas

devem ser traçadas em papel de acetato como são vistas no filme radiográfico, constituindo

uma cópia fiel denominada de traçado cefalométrico ou cefalograma1.

Os traçados cefalométricos são confeccionados utilizando-se uma folha de papel

de acetato transparente com uma de suas superfícies opaca, fixada com fita adesiva sobre
3

cada radiografia cefalométrica, de forma que a borda superior da folha de acetato fique

paralela ao Plano Horizontal de Frankfurt. Deve utilizar-se uma lapiseira ou lápis de ponta

fina, sendo todos os cefalogramas traçados sobre um negatoscópio. Os valores angulares

são obtidos com o auxílio de um transferidor e os valores lineares com uma régua

milimetrada.

Uma vez que um dos objetivos da cefalometria é o estudo a longo prazo do

paciente, seja para avaliar seu crescimento ou para avaliar os resultados do tratamento

ortodôntico, Steiner sugeriu uma padronização de cores da seguinte forma6:

 Traçado inicial: preto

 Traçado da fase de tratamento: azul

 Traçado final: vermelho

 Traçado da fase de contenção: verde

 Traçado da fase de pós-contenção: marrom

Nas radiografias cefalométricas de perfil, a divergência do feixe de raios X pode ter

como consequência o aparecimento de dupla imagem, no caso das estruturas bilaterais. De

acordo com Salzmann, as imagens das estruturas anatômicas do lado esquerdo encontram-

se mais próximas das imagens radiopacas dos posicionadores auriculares do que as do lado

direito, e devem ser preconizadas no traçado por apresentarem menor distorção. Portanto,

nesses casos, deve-se sempre traçar a estrutura com imagem mais distal e superior6.
4

2. ELABORAÇÃO DO CEFALOGRAMA

2.1 Base do Crânio

1. Osso occipital
2. Dorso da sela túrcica
3. Sela túrcica
4. Plano do osso esfenóide
5. Placa cribriforme do osso etmóide
6. Conduto auditivo externo (posicionadores auriculares do cefalostato)
7. Teto da órbita
8. Asa maior do osso esfenóide

2.2 Estruturas da Face

Região Superior

9. Região anterior do osso frontal


10. Sutura frontonasal
11. Ossos nasais
12. Contorno orbitário
13. Processo zigomático ou “key ridge”
14. Fissura pterigomaxilar

Maxila

15. Palato ósseo


16. Espinha nasal anterior
17. Espinha nasal posterior
18. Pré-maxila

Mandíbula

19. Sínfise
20. Corpo mandibular
21. Ângulo goníaco
22. Ramo mandibular
23. Processo condilar

2.3 Dentes

24. Incisivos centrais superior e inferior


25. Primeiros molares permanentes superior e inferior
5

2.4 Perfil Facial

26. Região acima da glabela


27. Contorno do nariz
28. Lábio superior
29. Lábio inferior
30. Contorno do mento

FIGURA 1 – Localização das estruturas anatômicas no traçado cefalométrico


6

3. DEMARCAÇÃO DOS PONTOS CEFALOMÉTRICOS

 Pório (Po): ponto mais superior do conduto auditivo externo sendo, porém sua

imagem mascarada pela porção petrosa do osso temporal. Portanto, emprega-se na

prática como referência o ponto superior do posicionador auricular do cefalostato;

 Sela (S): ponto localizado no centro geométrico da sela túrcica;

 Násio (N): ponto mais anterior da sutura frontonasal;

 Orbitário (Or): ponto mais inferior sobre a margem inferior da órbita esquerda;

 Ponto A (subespinhal): ponto mais profundo do contorno da pré-maxila;

 Ponto B (supramental): ponto mais profundo do contorno do processo alveolar da

mandíbula;

 Ponto D: ponto situado no centro do contorno da sínfise mandibular;

 Pogônio (Pog): ponto mais anterior do contorno da sínfise mandibular;

 Gnátio (Gn): ponto situado na metade da distância entre Pog e Me;

 Mento (Me): ponto mais inferior do contorno da sínfise mandibular;

 Gônio (Go): ponto médio entre os pontos mais posterior e mais inferior do ângulo

mandibular;

 Ponto Mn: ponto situado na metade da borda inferior do nariz;

 Lábio superior (Ls): ponto mais proeminente do lábio superior;

 Lábio inferior (Li): ponto mais proeminente do lábio inferior;

 Pogônio mole (Pog`): pogônio tegumentar, correspondente ao Pog.


7

FIGURA 2 - Demarcação dos pontos de referência no traçado cefalométrico


8

4. LINHAS E PLANOS DE REFERÊNCIA

1. Linha S-N: linha de união entre os pontos S e N;

2. Linha N-A: linha de união entre os pontos N e A;

3. Linha N-B: linha de união entre os pontos N e B;

4. Linha N-D: linha de união entre os pontos N e D;

5. Plano Horizontal de Frankfurt: união dos pontos Po e Or;

6. Eixo Y: união dos pontos S e Gn;

7. Plano oclusal (Ocl): plano obtido através das médias dos entrecruzamentos de
primeiros molares e incisivos centrais;

8. Plano Mandibular (Go-Gn): plano de união entre os pontos Go e Gn;

9. Longo eixo do incisivo central superior;

10. Longo eixo do incisivo central inferior;

11. Linha S: linha de união entre os pontos Mn e Pog´.

FIGURA 3 – Demarcação dos planos e linhas de referência


9

5. ANÁLISE SUMÁRIA

5.1. Padrão Esquelético

Relação Ântero-posterior

 SNA°: ângulo formado pela interseção das linhas S-N e N-A; Relação da maxila
com a base craniana;
SNA=82°: maxila bem posicionada ântero-posteriormente;
SNA>82°: protrusão maxilar;
SNA<82°: retrusão maxilar.

 SNB°: ângulo formado pela interseção das linhas S-N e N-B; Relação da mandíbula
com a base craniana;
SNB=80°: mandíbula bem posicionada ântero-posteriormente;
SNB>80°: protrusão mandibular;
SNB<80°: retrusão mandibular.

 ANB°: ângulo formado pela interseção entre as linhas N-A e N-B; Relação ântero-
posterior maxilo-mandibular; Diferença entre os ângulos SNA e SNB;
ANB=0° a 4°: classe I esquelética;
ANB>4°: classe II esquelética;
ANB<0° classe III esquelética.
Aumento do ANB°: protrusão maxilar e/ou retrusão mandibular.
Diminuição do ANB°: retrusão maxilar e/ou protrusão mandibular.

 SND°: ângulo formado entre as linhas S-N e N-D; Confirma a relação expressa pela
medida SNB°;
SND°=76/77°:mandíbula bem posicionada ântero-posteriormente;
SND°>76/77°: protrusão mandibular;
SND°<76/77°: retrusão mandibular.

Tendência de Crescimento

 Ângulo do Eixo Y: ângulo formado pela interseção do Eixo Y com o Plano


Horizontal de Frankfurt;
Y=59,4°:tendência de crescimento vertical é proporcional à
horizontal;
Y>59,4°:predominância da tendência de crescimento vertical;
Y<59,4°:predominância da tendência de crescimento horizontal.
10

 GoGn-SN: ângulo formado pela interseção do plano mandibular com a linha S-N;
Expressa o grau de abertura da mandíbula e de altura vertical da sua porção anterior;
É um valioso indicador do crescimento da área condilar - a quantidade de
crescimento que ocorre nesta região é responsável pelo comprimento do ramo
mandibular;
GoGn-SN=32°:indica um ramo normal (crescimento vertical
posterior normal);
GoGn-SN>32°:indica um ramo curto (crescimento vertical
deficiente na região posterior);
GoGn-SN<32°:indica um ramo longo (crescimento vertical
acentuado na região posterior).

 Ângulo Ocl–SN: ângulo determinado pela interseção do plano oclusal com a linha
S-N; Expressa a inclinação dos dentes em oclusão com a base craniana. Seu valor
normal é 14°.

5.2. Padrão Dentário

 1:NA°: ângulo formado entre a interseção do longo eixo do incisivo central superior
com a linha N-A; Expressa a inclinação axial deste dente com a linha N-A;
1:NA°=22°: elemento com inclinação axial normal em relação à
base óssea;
1:NA°>22°: elemento com inclinação axial vestibular em relação à
base óssea;
1:NA°<22°: elemento com inclinação axial lingual em relação à
base óssea.

 1:NA (mm): distância linear entre o ponto mais proeminente da coroa do incisivo
central superior e a linha N-A; Expressa a posição coronal deste dente com a linha
N-A;
1:NA(mm)=4mm: elemento bem posicionado no sentido ântero-
posterior em relação à base óssea;
1:NA(mm)>4mm: elemento projetado em relação à base óssea;
1:NA(mm)<4mm: elemento retraído em relação à base óssea.

 1:NB°: ângulo formado entre a interseção do longo eixo do incisivo central inferior
com a linha N-B; Expressa a inclinação axial deste dente com a linha N-B;
1:NB°=25°: elemento com inclinação axial normal em relação à
base óssea;
1:NB°>25°: elemento com inclinação axial vestibular em relação à
base óssea;
1:NB°<25°: elemento com inclinação axial lingual em relação à
base óssea.
11

 1:NB (mm): distância linear entre o ponto mais proeminente da coroa do incisivo
central inferior e a linha N-B; Expressa a posição coronal deste dente com a linha
N-B;
1:NB(mm)=4mm: elemento bem posicionado no sentido ântero-
posterior em relação à base óssea;
1:NB(mm)>4mm: elemento projetado em relação à base óssea;
1:NB(mm)<4mm: elemento retraído em relação à base óssea.

 1:1 (ângulo interincisal): ângulo formado pela interseção dos longos eixos dos
incisivos centrais superior e inferior; Demonstra o grau de protrusão destes
elementos entre si;
1:1=131°: incisivos com inclinações axiais normais;
1:1>131°: verticalização dos incisivos superior e/ou inferior;
1:1<131°: inclinação vestibular dos incisivos superior e/ou inferior.

5.3. Padrão Facial

 Ls-S e Li-S: distância linear dos pontos Ls e Li à linha S;


Ls-S e Li-S=0: perfil reto;
Ls e Li além da linha S: perfil convexo;
Ls e Li aquém da Linha S: perfil côncavo.
12

6. LOCALIZAÇÃO DOS VALORES ANGULARES E LINEARES NO TRAÇADO


CEFALOMÉTRICO

FIGURA 4 – Localização dos valores angulares e lineares no traçado cefalométrico


13

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ARAÚJO T.M.:Cefalometria, Conceitos e Análises. Tese de Mestrado UFRJ, Rio

de Janeiro, 1983.

2. DOWNS, W.B.: Variations in facial relationship: their significance in treatment

and prognosis. Am.J. Orthod. 1948; 34:812-40.

3. GRABER T.M.: Orthodontics: Principles and Pratice. W.B. Sauders Company,

Philadelphia and London, 1962.

4. STEINER C.C.:Cephalometric for you and me. Am.J.Orthod. 1953; 39:729-55.

5. TWEED C.H. :Clinical Orthodontics, The C.V. Mosby Company, Saint Louis,

1966.

6. VILELLA O.V.:Manual de Cefalometria. Terceira Edição, Guanabara Koogan, Rio

de Janeiro, 2009.

Você também pode gostar