Você está na página 1de 5

26 a 30 de maio de 2008

João Pessoa, PB – UFPB/ABZ

PARÂMETROS DE DEGRADABILIDADE IN SITU DA CASTANHA DE CAJU INTEGRAL –


DEGRADABILIDADE DA MATÉRIA SECA E DA PROTEÍNA1

2 3 4
André Guimarães Maciel e Silva , Iran Borges , José Neuman Neiva , Norberto Mario
5 3 8
Rodriguez , Eloisa de Oliveira Simões Saliba , Salete Alves de Morais , Janaina Januario da
6 7 7
Silva , Fernanda Albuquerque Merlo , Tiago D´Alessandro Sabato e Sousa , Lecy Lopes de
7 7 7 7
Magalhães Junior , Nélio Cunha Gonçalves , Vitor Pires Barros , Rafael Cavaca Alves do Valle
1
Parte integrante da tese do primeiro autor, projeto financiado pelo CNPq/Procad e FAPEMIG.
2
Professor Adjunto Faculdade de Medicina Veterinária UFPA – andregms@ufpa.br
3
Professor Associado Escola de Veterinária da UFMG – iranborges@ufmg.br
4
Professor adjunto UFTO
5
Professor Titular Escola de Veterinária da UFMG
6
Doutora em Zootecnia
7
Aluno de Graduação da EV-UFMG
8
Pesquisadora da Embrapa Semi-árido

Resumo: Com o objetivo de avaliar os parâmetros de degradabilidade in situ da matéria seca e


da proteína bruta da castanha de caju integral foram utilizados dois ovinos portadores de
cânulas no rúmen, recebendo dietas a base de feno de tifton-85 e castanha de caju integral.
Observou-se valores elevados de degradabilidade e potencial de degradação da matéria seca
da castanha de caju, sendo que os parâmetros de degradação foram típicos de alimentos
concentrados de elevada disponibilidade no rúmen, da mesma forma para a proteína bruta
foram encontrados valores altos de digestibilidade ruminal, além disso, mesmo com elevadas
taxas de passagem, observou-se elevados valores de proteína degradável no rúmen, mesmo
com taxas de passagem típicas de animais de alta produção. Concluiu-se que matéria seca e a
proteína da castanha de caju são prontamente disponíveis no rúmen e somente em condições
de consumo muito elevados poderia ser uma fonte de proteína sobrepassante no rúmen.

Palavras chave: Digestão, proteína degradável, subproduto, rúmen

IN SITU RUMEN DEGRADABILITY PARAMETERS OF CASHEW NUT – DRY MATTER AND


CRUDE PROTEIN DEGRADABILITY1

Abstract: With the purpose of evaluate dry matter and crude protein ruminal parameters of
cashew nut two sheeps canulated in rumen, receiving diets wuth cashew nut and Tifton-85 hay
were used. There has high degradability values to dry matter, with typical concentrate feed
values, similarly to protein there were hig values of degradability parameters, even with high
passage rates. It was concluded that cashew nut dry matter and protein are readily disponible in
rumen and only in high intake condictions protein fraction can be by pass.

Key words: Digestion, degradable proteins, by product, rumen

Introdução
O conhececimento do potencial de utilização de alimentos alternativos é de grande importância
para a nutrição animal, visto que podem reduzir os custos de alimentação de animais pela
substituição de alimentos tradicionais como milho e soja, por outros com menor valor de
mercado.
O estado do Ceará é o principal produtor de castanhas de caju do país, parte dessa produção
durante seu processamento e classificação torna-se imprópria para consumo humano e é
destinada à alimentação animal.
Uma das maneiras de se avaliar alimentos para ruminantes é pelo estudo da digestão do
mesmo nos diversos compartimentos do trato digestório, especialmente no rúmen, onde
ocorrem diversos processos de degradação do material ingerido, tal estudo torna-se importante
quando havalia-se os diferentes nutrientes contidos no material avaliado.
Por ser um dos nutrientes que agregam maior valor ao alimento é de grande importância o
estudo da degradação da fração protéica, especialmente em produtos com elevado teor de
proteína bruta, como é o caso da castanha de caju.
O objetivo do presente trabalho é avaliar os parâmetros de degradação ruminal da matéria
seca e da proteína bruta em ovinos.

Material e Métodos
Amostras de castanha de caju, e feno de tifton-85, foram moídas em moinho com peneira de 5
mm, colocadas, 3g em sacos de náilon com porosidade de 5mm e incubadas no rúmen de
ovinos recebendo dietas contendo feno de tifton-85 e castanha de caju integral.
Foram empregados dois ovinos fistulados por alimento avaliado, utilizou-se dois sacos por
tempo de incubação até 48 h e três sacos por período de incubação a partir de 72 h.
Os sacos contendo as amostras tiveram sua boca fechada por lacres de plástico e presos a
fios de náilon com 40 cm de comprimento, sendo que antes de serem colocados no rúmen
foram imersos em água e posteriormente introduzidos no rúmen via cânula ruminal.
Após serem retirados nos tempos de incubação devidos os sacos foram imediatamente
imersos em água fria e procedeu-se logo após a lavagem manual dos sacos em água corrente
até que a água de lavagem adquirisse uma coloração límpida, sendo colocados em estufa
o
ventilada a 65 C por 72 h, colocados em dessecador e pesados posteriormente.
Os resíduos de incubação foram moídos em moinho com peneira de 1 mm e utilizados para as
determinações de MS, PB, FDN, FDA, HCEL e CEL de acordo com a AOAC (1995). Os níveis
dessas frações nas amostras juntamente com os pesos dos materiais incubados foram
utilizados para os cálculos dos desaparecimentos das respectivas frações. As frações solúveis
foram determinadas a partir dos mesmos procedimentos, no entanto sem a incubação ruminal.
A degradabilidade foi calculada pela equação sugerida por Merhez e Orskov (1977) e adaptada
por Sampaio (1988) e também pela equação sugerida por Merhez e Orskov (1977):
O tempo de colonização (TC) foi estimado conforme Mc Donald (1981).
Para cálculo da degradabilidade efetiva utilizou-se o modelo de Orskov e Mc Donald (1979).
Conforme recomendações do AFRC (1992) foram estimados os valores de proteína
efetivamente degradada no rúmen (PEDR), proteína não degradada no rume (PNDR), proteína
indigestível não degradável no rúmen (PINDR) e proteína digestível não degradada no rúmen
(PDNDR) segundo os modelos propostos pelo sistema.

Resultados e discussão
Os valores de degradação ruminal da matéria seca (MS) (Tabela 2) encontrados para a
castanha de caju foram superiores aos do feno de tifton, sendo que com 12 h de incubação o
valor encontrado para a castaha (67%) foi maior que o máximo do feno, com 96 h de incubação
(59%). A degradação da castanha começa a se estabilizar a partir de 48 h, visto que a partir
desse ponto as taxas fracionais de degradação por hora tornam-se baixas, 0,08% no período
entre 48 e 72 h e 0,04% no período entre 72 e 96 h, indicando ausência de degradação. No
caso do feno de tifton os valores estbilizaram a partir de 72 h, período com taxa fracional de
0,08%, contra 0,33%, no período entre 48 e 72 h.
No caso da castanha, já com 48 h cerca de 90% da MS foi degradada, indicando alta
disponíbilidade ruminal.
Com relação aos valores de degradabilidade potencial, taxas de degradação, frações solúveis
degradáveis e degradabilidade efetiva da MS, conforme diferentes modelos propostos, a
castanha foi superior ao feno no que tange ao potencial de degradação (A) e à taxa de
degradação (c). A fração solúvel da castanha foi superior à do feno, provavelmente devido à
sua maior puvirulência, que possibilita que partículas mais finas escapem dos sacos de náilon,
além disso, parte da fração lipídica da castanha pode escapar no momento da lavagem das
amostras para obtenção da fração solúvel, sem representar um material realmente fermentável
no rúmen.
Com relação às frações rápida (a) e lentamente (b) degradáveis no rúmen o feno possui uma
fração “a” ligeiramente inferior à da castanha, no entanto sua fração “b” é muito inferior, com
valores 64,95% para castanha e 38,3% para o feno.
As degradabilidades efetivas (DE) foram maiores para a castanha de caju, pelo fato dela
possuir elevado potencial e taxa de degradação, 85 e 8% respectivamente, sua DE não sofreu
redução abrupta como a do feno com a elevação da taxa de passagem, indicando que teria
boa degradação ruminal da matéria seca mesmo em condições de consumo elevado,
condizentes com taxas de passagem acima de 5%/h.
No caso da proteína bruta (PB), a partir de 12 h os valores de desaparecimento foram maiores
na castanha, sendo que já nesse horário suplantou o valor mais elevado encontrado no feno
(59,72%), indicando que é uma fração mais disponível na castanha, que alcançou valores
próximos a 90% com 48 h de incubação, típico de concentrados protéicos de alta
degradabilidade ruminal, como farelo de soja e de algodão (Sampaio 1988).
Os potenciais e taxas de degradação da castanha de caju (85 e 8% respectivamente) foram
elevados e superiores aos do feno (76,37 e 1,2%).
As frações solúveis da PB da castanha foram inferiores às do feno, sendo que no caso da
castanha o valor foi inferior à fração solúvel da MS, indicando que não haveria muito nitrogênio
solúvel em água nesse subproduto, que possui concentrações consideráveis de proteína bruta
(24,61%), tal fato corrobora com a idéia que boa parte da fração solúvel da MS seria a parte
lipídica desse subproduto.
Com relação às frações rapidamente degradáveis da PB a castanha possui proporção menor
em comparação ao feno, entretanto a fração lentamente degradável foi superior. No caso da
DE os valores foram superiores para a castanha em todas as condições de taxa de passagem
avaliadas, indicando que essa pode ser uma fonte de nitrogênio prontamente disponível no
rúmen.
Analisando-se os valores percentuais de proteína degradada no rúmen, proteína indigestível
não degradável no rúmen, proteína digestível não degradada no rúmen e proteína efetivamente
percebe-se que à medida que a taxa de passagem aumenta há uma elevação no escape de
proteína degradável do rúmen, sendo esse mais intenso no feno, principalmente devido á
menor taxa de degradação (1,2%/h) quando comparado à castanha de caju (8%/h), no entanto,
pelo fato da castanha ser um alimento protéico, 24,61% de PB, em situações de consumo
elevado essa proteína que escapa pode ser importante fonte de aminoácidos para absorção
intestinal.
Tabelas
Tabela 1. Composição bromatológica do feno de Tifton-85 e da castanha de caju – matéria
seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em
detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemiceluloses (HCEL,)
celulose (CEL), lignina em detertente ácido (LDA), carboidratos totais (CHO), energia
bruta (EB), cinzas (CZ), expressos em porcentagem da matéria seca
Parâmetro (%) Feno de Tifton-85 Castanha de Caju
MS 91,13 95,04
MO 83,78 91,52
PB 6,21 24,61
EE 1,87 41,33
FDN 77,71 11,77
FDA 38,82 3,93
HCEL 38,89 7,85
CEL 33,35 2,54
LIG 5,47 1,39
CHO 84,61 30,72
EB (kcal/g) 4,20 6,33
CZ 7,36 3,52

Tabela 2. Desaparecimento (%), potenciais de degradação A*, taxas de degradação (c)*,


frações solúveis, valor de B*, frações degradáveis (B1), tempos de colonização (TC) e
degradabilidades efetivas (DE), nas taxas de passagem de 2,0, 5,0 e 8,0%/h,
calculadas a partir do modelo de Sampaio (1988) e fração rápidamente degradada
(a)**, fração lentamente degradável (b)** e taxa de degradação (kd)**, calculadas a
partir do modelo de Ørskov e McDonald (1979), equações de degradabilidade da
matéria seca (MS) e da proteína bruta (PB) e valores percentuais de proteína não
degradada no rúmen (PNDR), proteína indigestível não degradável no rúmen (PINDR),
proteína digestível não degradada no rúmen (PDNDR) e proteína efetivamente
degradada no rúmen (PEDR), nas taxas de passagem 2,0%/h, 5,0%/h e 8,0%/h,da
castanha de caju e do feno de tifton-85 incubados em sacos de náilon no rúmen de
ovinos
Tempo de incubação (h) Castanha de caju Feno de tifton 85
MS PB MS PB
06 43,72 37,90 38,46 33,50
12 67,05 63,84 30,14 22,72
24 69,79 68,63 - 51,82
48 88,91 89,63 49,72 -
72 90,08 93,80 57,25 50,92
96 91,92 94,42 59,13 59,72
Parâmetro
A (%) 85,00 85,00 59,52 76,37
B 64,95 8,0 38,25 1,2
2***
R 0,92 76,91 0,88 51,67
C (%/h) 8,0 0,94 3,5 0,86
S (%) 45,09 4,59 15,97 25,45
B1 (%) 39,91 80,41 43,55 50,92
TC (h) 0,82 -0,56 -3,70 1,21
DE 2,0%/h (%) 76,94 68,92 43,69 44,54
DE 5,0%/h (%) 69,53 54,07 33,90 35,30
DE 8,0%/h (%) 64,92 44,80 29,23 32,09
a 28,65 13,11 21,24 24,69
b 64,95 84,74 51,76
kd 0,050 0,050 0,012
2
R 0,92 0,92 0,86
Parâmetro Castanha de Caju Feno de tifton-85
2,0%/h 5,0%/h 8,0%/h 2,0%/h 5,0%/h 8,0%/h
PNDR 31,41 46,17 55,41 55,18 64,55 67,81
PINDR 0,35 0,35 0,35 0,26 0,26 0,26
PDNDR 26,30 39,59 47,90 48,20 56,64 59,57
PEDR 68,00 53,16 43,88 39,45 30,21 27,00
* Parâmetros para o modelo de Sampaio (1988) para degradabilidade (D): D = A – B*EXP(-c*tempo de incubação); **parâmetros
para o modelo de Ørskov e McDonald (1979) para degradabilidade (D): D = a + b*(-1 EXP(-c*tempo de incubação)); ***
Coeficiente de determinação.

Conclusões
A castanha de caju integral possui elevada degradação da matéria seca e da proteína
bruta.
A fração protéica da castanha de caju integral é altamente disponível no rúmen.
Em condições de elevadas taxas de passagem a castanha de caju integral pode ser uma
fonte de proteína sobrepassante no rúmen.

Literatura citada
AFRC – AGRICULTURAL AND FOOD RESEARCH COUNCIL. Nutritive requirements of
ruminant animal: protein. Nutr. Abs. Rev., n. 9, p. 65-71, 1992.
AOAC - ASSOCIATION OFFICIAL ANALITICAL CHEMISTS. Official methods of analysis. 14
ed. Washington D.C.: AOAC, 101 p. 1995.
Mc DONALD, J. A revised model for the estimation of protein degradability in the rumen. J.
Agric. Sci., v. 96, p. 251-252, 1981.
MEHREZ, A.Z. ; ORSKOV, E.R. A study of the artificial fibre bag technique for determing the
digestibility of feed in the rumen. J. Agric. Sci., v.88, p. 437-443, 1977.
ORSKOV, E.R.; Mc DONALD, I. The estimation of protein degradability in the rumen from
incubation measurements weughted acording the rate of passage. J. Agric. Sci., v. 92, p. 499-
503, 1979.
SAMPAIO, I. B. M. Experimental designs and modeling thechniques in the study of roughage
degradation in rumen and growth of ruminants. Reading, University of Reading, 228 p. PHD
thesis, 1988.

Você também pode gostar