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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

IAGO GABRIEL DA SILVA

A CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO E SEUS REFLEXOS NO PERFIL DE


APRENDIZAGEM

CURITIBA
2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

IAGO GABRIEL DA SILVA

A CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO E SEUS REFLEXOS NO PERFIL DE


APRENDIZAGEM

Trabalho apresentado à disciplina de


Organização do Trabalho Pedagógico na
Escola, Departamento de Planejamento e
Administração Escolar da UFPR, sob
orientação do professor Dr. Paulo Ricardo
Ross.

CURITIBA
2019
INTRODUÇÃO

O termo avaliação é comumente concebido como a prova ou o exame


realizados pelos alunos e aplicados pelo professor que possui a finalidade de avaliar
a aprendizagem dos conhecimentos ensinados. Essa concepção, ainda
frequentemente considerada, está relacionada a uma pedagogia tradicional que
enxerga o aluno como um objeto passivo do processo ensino-aprendizagem. Dessa
maneira, a avaliação é meramente um instrumento medidor seletivo da quantidade
de informações absorvidas pelo educando (BARBOSA, 2008).
Atualmente, a concepção pedagógica contemporânea expandiu a concepção
de avaliação. Para Luckesi (2000), a avaliação da aprendizagem é um ato acolhedor
e dialógico pelo qual o professor constata o estado de aprendizagem de seus
alunos, estabelece-lhes uma qualificação e, a partir deste ponto, toma uma posição
orientadora. Em outras palavras, a avaliação é um processo constante de
observação e interpretação dos conhecimentos e habilidades dos educandos, das
suas mudanças durante tal processo, que permite ao professor planejar os
caminhos de seu trabalho (BARBOSA, 2008).
Segundo Silva (2002), “a avaliação cruza o trabalho pedagógico desde seu
planejamento até sua execução, coletando dados para melhor compreensão da
relação ensino aprendizagem, e possibilitando, assim, orientar a intervenção
didática [...]”. Com base nessa noção, é possível compreender que a avaliação não
está desagregada da prática educacional, sendo ela intrínseca ao processo
ensino-aprendizagem. Logo, ponderar a respeito da avaliação significa considerar
também a aprendizagem em si (AHLERT, 2002).
Diante do exposto, fez-se necessário discutir avaliação e aprendizagem sob a
perspectiva que a própria escola e seus atores constituintes têm a respeito da
temática. O presente trabalho objetiva, então, analisar a concepção de avaliação
presente no Projeto Político Pedagógico e no Regimento Escolar de uma escola
pública estadual e avaliar seus reflexos no perfil da aprendizagem promovida pela
escola.
O PERCURSO METODOLÓGICO

A pesquisa foi realizada no Colégio Estadual Profª Hildegard Sondahl,


localizado no bairro Cidade Industrial de Curitiba, na cidade de Curitiba, Paraná
(25°29'14.2"S 49°21'10.8"W). As atividades ocorreram durante sete dias de estágio
obrigatório referente à disciplina de Organização do Trabalho Pedagógico na
Escola, presente na grade curricular do curso de licenciatura em Ciências Biológicas
da Universidade Federal do Paraná e orientada pelo Prof. Dr. Paulo Ricardo Ross.
Inicialmente, fez-se a leitura do Regimento Escolar e do Projeto Político
Pedagógico da escola, cedidos pelas pedagogas da instituição. Além da coleta de
informações desses documentos, realizou-se uma entrevista com três professores,
a fim de investigar suas concepções quanto à temática.
Após a reunião de todos os dados, seguiu-se um levantamento bibliográfico
de pesquisas que abordam avaliação e aprendizagem, para que, então, pudesse ser
realizada a discussão deste trabalho.

A CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO SEGUNDO O REGIMENTO ESCOLAR

O Regimento Escolar é um documento elaborado pela comunidade escolar


com o objetivo de regulamentar e estruturar as atividades exercidas por uma
instituição de ensino, sob um formato próprio que apresenta itens obrigatórios
estabelecidos pelo Conselho Estadual de Educação do Paraná (NRE, 2019). Em
seu Regimento Escolar, atualizado em 2017, o Colégio Estadual Profª Hildegard
Sondahl discorre a respeito da avaliação da aprendizagem, especialmente, nos
artigos 139, 140, 142, 144 e 146, da Seção IX “​da avaliação da aprendizagem, da
recuperação de estudos e da promoção”​ .
No Art. 139, o Regimento afirma que “a avaliação é uma prática pedagógica
intrínseca ao processo ensino-aprendizagem, com a função de diagnosticar o nível
de apropriação do conhecimento pelos estudantes”.
O Art. 140 estabelece que “a avaliação é contínua, cumulativa e processual,
com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados
ao longo do período sobre os de eventuais provas finais”. Este artigo apresenta um
parágrafo único que discorre: “Dar-se-á relevância à atividade crítica, à capacidade
de síntese e à elaboração pessoal, sobre a memorização”.
Segundo o Art. 142, “os critérios de avaliação do aproveitamento escolar
serão elaborados em consonância com a organização curricular e descritos no
Projeto Político Pedagógico”. No parágrafo único deste artigo, estabelece-se que “o
sistema de avaliação é organizado de forma trimestral com registro através de nota
0 à 10, conforme critério de avaliação planejado pelo professor. A cada avaliação
haverá uma recuperação. Valerá a nota maior”.
O Art. 144 disserta que “o resultado da avaliação deve proporcionar dados
que permitam a reflexão sobre a ação pedagógica, contribuindo para que a
instituição de ensino possa reorganizar conteúdos/instrumentos/métodos de ensino”.
No Art. 146 é estabelecido que “os resultados das atividades avaliativas serão
analisados durante o período letivo, pelos estudantes e pelos professores,
observando os avanços e as necessidades detectadas para o estabelecimento de
novas ações pedagógicas”.

A CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO SEGUNDO O PROJETO POLÍTICO


PEDAGÓGICO

O Projeto Político Pedagógico da escola teve sua última versão desenvolvida


em 2012. Nela discorre-se sobre a concepção de avaliação sob a ótica da
comunidade escolar, além de um diagnóstico realizado pela própria escola acerca
da aprendizagem promovida por seus professores.
De início, nota-se que a instituição concebe a avaliação como um instrumento
democrático e de caráter não excludente, que propicia o desenvolvimento do aluno
quanto ao entendimento de conhecimentos científicos, tecnológicos e sociais
produzidos historicamente, sendo resultado de um processo diagnóstico. É válido
pontuar que o Projeto Político Pedagógico traz nesta concepção uma citação de
Cipriano Carlos Luckesi, de seu livro “Avaliação da aprendizagem na escola”.
Nesta citação, Luckesi (2003) discorre:

A sala de aula é o lugar onde, em termos de avaliação, deveria


predominar o diagnóstico como recurso de acompanhamento e
reorientação da aprendizagem, em vez de predominarem os exames
como recursos classificatórios.

Ainda fundamentado em teóricos da Educação, o texto se baseia no trabalho


de Perrenoud, “Avaliação: da excelência à regularização das aprendizagens, entre
duas lógicas” (1998) para determinar que, na avaliação da aprendizagem, o
professor não deve permitir que os resultados das provas periódicas, geralmente de
caráter classificatório, sejam supervalorizados em detrimento de suas observações
diárias, de caráter diagnóstico.
Além disso, acredita-se que o professor é capaz de perceber a participação e
a produtividade de cada um de seus alunos ao longo de um trabalho dinâmico que é
desenvolvido ao longo de todo o ano. O texto pontua, ainda, que a prova escrita é
uma formalidade do sistema escolar e deve ser, portanto, elaborada e aplicada com
cautela, já que, de modo geral, a avaliação formal é obrigatória.
O texto termina de conceituar avaliação afirmando que seu objetivo é
repensar a aprendizagem para que ocorra o avanço dos alunos, uma vez que
através desse diagnóstico é possível compreender o quanto os alunos aprenderam
e o que ainda não foi assimilado, para então serem pensadas novas estratégias de
aprendizagem.

UM DIAGNÓSTICO DA AVALIAÇÃO E DA APRENDIZAGEM

O Projeto Político Pedagógico também apresenta uma investigação realizada


pela escola a respeito da aprendizagem viabilizada através do trabalho dos
professores. Apesar deste diagnóstico ter sido realizado em 2012, é pertinente notar
as atribuições da escola na promoção da aprendizagem.
O texto relata que a formação inicial de seus professores, as licenciaturas,
não os preparavam de maneira adequada em relação ao entendimento da fase de
desenvolvimento que seus alunos se encontravam, além de não promoverem
metodologias diferenciadas que motivassem a apropriação dos conhecimentos
pelos alunos.
De maneira geral, os professores aplicavam uma metodologia tradicional que
exigia memorização dos conteúdos, privilegiando a quantidade em detrimento da
qualidade das informações. As aulas, na maioria das vezes expositivas, tornavam o
aluno passivo e receptivo para a simples reprodução do conhecimento, o que
acarreta em uma aprendizagem mecânica.
Por fim, o diagnóstico realizado pela escola atesta que alguns professores
utilizavam métodos pedagógicos mais atuais que buscavam considerar a vivência
dos alunos, criando um conhecimento mais sistematizado em que os alunos
participam e se transformam em sujeitos ativos do processo.
Uma vez que essa investigação da escola está datada, buscou-se incluir
nesta pesquisa entrevistas realizadas com professores sobre suas concepções de
avaliação. Definiu-se como critério a escolha de professores que tivessem formação
relacionada ao curso no qual este trabalho foi desenvolvido. Dessa maneira, foram
entrevistados três professores, sendo um professor de Ciências/Biologia, uma
professora de Química e um professor de Física.
Quando perguntado sobre seus métodos avaliativos, o professor de Ciências
relatou que realiza uma avaliação diagnóstica no início do ano letivo, de modo que é
possível observar o nível de seus alunos. Além disso, aplica avaliações processuais
e cumulativas em formato de trabalhos em sala de aula, bem como atividades
avaliativas cotidianas.
A professora de Química comentou que suas avaliações são conceituais,
práticas, dissertativas e diagnósticas. Na elaboração das avaliações formais,
procura desenvolver situações-problema nas quais os alunos podem aliar opinião e
teoria, prática e conhecimento teórico, o que é fundamental na opinião da
professora.
O professor de Física foi bastante sucinto em suas respostas. Afirmou que
avalia seus alunos através de provas objetivas e discursivas, além de trabalhos em
grupo.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

A partir da leitura do Regimento Escolar foi possível notar uma posição


pedagógica positiva em relação à visão que a comunidade escolar tem a respeito da
avaliação. Apesar de trazer em seus artigos uma face técnica da avaliação, como
seu sistema de notas, a concepção de avaliação nesse documento parece
corroborar com uma ação pedagógica mais atual. Assim como Ahlert (2002), o
Regimento acredita na avaliação como uma prática intrínseca ao processo
ensino-aprendizagem.
Em relação ao Projeto Político Pedagógico, a escola conceitua avaliação a
partir dos trabalhos de dois importantes teóricos da Educação, Cipriano Carlos
Luckesi e Philippe Perrenoud. Baseando-se em suas ideias, a instituição entende a
avaliação como um processo diagnóstico que propicia o progresso dos alunos e
permite ao educador tomar o melhor encaminhamento pedagógico em seu processo
de ensino. Essa ideia também está apoiada no trabalho de Perrenoud (1998),
quando o sociólogo afirma que “a avaliação ajuda o aluno a aprender e a se
desenvolver, ou melhor, participar da regulação das aprendizagens e do
desenvolvimento no sentido de um projeto educativo”.
A investigação feita pela escola a respeito da aprendizagem promovida pelos
professores atestou um despreparo por parte dos educadores quanto a percepção
do estado de desenvolvimento que seus alunos se encontravam. Por negligenciar
essa condição, os professores tornavam o processo ensino-aprendizagem mais
mecânico, característico de uma pedagogia tradicional. Tal postura afeta
significativamente o ato de avaliar, uma vez que sem uma teoria pedagógica
constante e considerativa, a avaliação se torna arbitrária e distante da realidade dos
educandos (LUCKESI, 2000).
Ao comparar o diagnóstico realizado pela escola em 2012 com as atuais
entrevistas aos professores, foi possível constatar que a concepção de avaliação
dos educadores reflete diretamente no perfil de aprendizagem que a escola já
promovia. As respostas dos professores, de modo geral, possuíam um aspecto
positivo em relação à avaliação, quando afirmaram que avaliavam a aprendizagem
a partir de uma ação participativa entre professor e aluno. No entanto, ainda foi
possível notar uma visão pautada na avaliação como mero instrumento regulador,
que afasta o educador do educando e impede a cooperação (PERRENOUD, 1998).
Desse modo, foi possível concluir, a partir da reunião de todos os
documentos e referências que o perfil da aprendizagem promovida pela escola
ainda está relacionada a um processo de ensino tradicional e não afetivo, o qual
leva em pouca consideração o aluno que é alvo desse processo tão importante.
Analisar a concepção que a escola e seus professores têm da avaliação permitiu
perceber que o ato de avaliar é reflexo de uma aprendizagem que, infelizmente, não
compreende o educando como sujeito ativo no processo ensino-aprendizagem.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, J. R. A. ​A Avaliação da Aprendizagem como Processo Interativo:


Um Desafio para o Educador​. Democratizar, v. II, n.1, jan./abr. 2008.

LUCKESI, C. C. ​O que é mesmo o ato de avaliar a aprendizagem?​. Pátio. Porto


alegre: ARTMED. Ano 3, n. 12 fev./abr. 2000.

SILVA, J. F. ​Avaliação do ensino e da aprendizagem numa perspectiva


formativa reguladora​. Equipe de Educação Infanto-Juvenil – 2° segmento –
Formação continuada. 2002.

AHLERT, A. ​A avaliação como um processo interno da prática pedagógica​.


Caderno de Educação Física: estudos e reflexões, Marechal Cândido Rondon, v. 4,
n. 8, p. 119-125, 2002.
PERRENOUD, P. ​Avaliação: da excelência à regularização das aprendizagens:
entre duas lógicas​. Porto Alegre, Artmed, 1998.

NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO. ​Orientações para elaboração do


Regimento Escolar​. 2019. Disponível em:
http://www.nre.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1002

COLÉGIO ESTADUAL PROFª HILDEGARD SONDAHL - E.F.M. ​Regimento


Escolar​. 2017.

COLÉGIO ESTADUAL PROFª HILDEGARD SONDAHL - E.F.M. ​Projeto Político


Pedagógico​. 2012.

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