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Educação Matemática com as Escolas da Educação Básica: interfaces entre pesquisas e salas de aula

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NA TERCEIRA IDADE: COMO


ASSIM?

Luciano Feliciano de Lima1

Resumo
O presente texto objetiva sugerir um trabalho educativo envolvendo matemática com pessoas
idosas. Atividades educativas de matemática com pessoas idosas podem incentivar o uso do
pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica na seleção de
procedimentos e verificação de sua adequação por meio de tentativas e erros, experimentações,
testes das hipóteses levantadas, defesa de ideias, dentre outros. Tarefas matemáticas podem
estimular as capacidades cognitivas por meio da: observação, comparação e avaliação,
classificação e ordenação, quantificação e mensuração. A educação pode ser um meio de
viabilizar a inserção social de idosos, podendo contribuir para que esses indivíduos aproveitem,
positivamente, essa fase da vida e, até mesmo, aprendam a superar desafios que lhes são impostos.
Estímulo cognitivo e a possibilidade de conhecer pessoas e de interagir com elas, são importantes
contribuições que podem derivar de uma ação envolvendo matemática e pessoas idosas.

Palavras-chave: Educação Matemática; Educação Matemática na Terceira Idade; Estímulo


cognitivo para idosos; Interação social de pessoas idosas.

1. Introdução

O título deste trabalho faz referência ao estranhamento da maioria das pessoas,


com as quais dialoguei, no desenvolvimento de uma pesquisa que tratava das
potencialidades de um trabalho envolvendo matemática com pessoas idosas. Com o
intuito de minimizar algum estranhamento, ainda persistente, no presente texto busco
expor um possível caminho ao trabalho envolvendo matemática com pessoas idosas.
Além de tratar de possíveis contribuições aos participantes.

Atividades educativas de matemática com pessoas idosas podem incentivar o uso


do pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica na seleção
de procedimentos e verificação de sua adequação por meio de tentativas e erros,
experimentações, testes das hipóteses levantadas, defesa de ideias, dentre outros.
Defendem-se tarefas matemáticas, na perspectiva de D’Ambrósio (2011), ou seja, em que
as pessoas participem ativamente do processo, estimulando as capacidades cognitivas por

1
Universidade Estadual de Goiás; e-mail: 7lucianolima@gmail.com
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meio da: observação, comparação e avaliação, classificação e ordenação, quantificação e
mensuração.

Atividades matemáticas de cunho investigativo ou exploratório que viabilizam a


argumentação podem estimular as capacidades dos participantes em recordar informações
verbais para expressar algum assunto matemático que rememora ou sobre um
procedimento, ou conclusão, que chegou durante discussões com colegas em trabalhos
em grupo, por exemplo. A abordagem investigativa contribui para que os envolvidos
levantem hipóteses, testem-nas e as compartilhem. Compartilhar as ideias e conclusões
constitui um momento importante, permitindo uma discussão do conceito estudado,
visando à compreensão do mesmo.

Um estímulo adicional a um trabalho de matemática com idosos é a utilização de


recursos. Por exemplo, o Tangram viabiliza aos participantes identificar padrões ora em
uma figura geométrica específica ora a relacionando com figuras semelhantes quando
estão tentando montar algo com o quebra-cabeça. O sujeito é ativo neste processo porque
demanda-se dele experimentar, por meio de manipulações, tentativas. Quando o
participante se engaja na ação ele pode descobrir múltiplas possibilidades de tratamento
e de significação, sobre o objeto estudado, dependendo de sua criatividade. Cabe a quem
propõe a atividade estimular o diálogo e a argumentação Matemática por meio de
perguntas para incentivar os compartilhamentos de ideias.

A apresentação das tarefas aos participantes idosos pode ser feita oralmente e/ou
por escrito. No convite para a realização das mesmas, é importante deixar claro o que se
quer, a fim de que todos compreendam, incluindo possíveis pessoas que não sejam
alfabetizadas. Muitas variáveis influenciam, de forma decisiva, no processo de
aprendizagem, a saber: desejos da pessoa, bagagem cultural, experiências anteriores,
relacionamentos com professores e colegas, além de elementos que servirão de
sustentação ao processo de aprendizagem. Por isso, ao convidar os senhores e as senhoras
para a realização de atividades matemáticas é importante apoiar a todos, fornecendo
recursos que lhes auxiliem na produção de conhecimentos com fichas, recursos visuais e
material manipulável, perguntando durante um possível trabalho em grupo, ou individual,
se compreendem o objetivo da tarefa, se precisam de auxílio, quais conclusões estão
levantando. Na sequência, evidencia-se o entendimento de um diálogo para favorecer um
trabalho educativo de matemática com pessoas idosas.
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2. Perspectiva de diálogo para um trabalho de matemática com pessoas idosas

Para estabelecer um ambiente confortável onde as pessoas se sintam à vontade


para se expressar é importante assumir uma postura dialógica não “de A para B ou de A
sobre B, mas de A com B, mediatizados pelo mundo. Mundo que impressiona e desafia a
uns e a outros, originando visões ou pontos de vista sobre ele” (FREIRE, 2011, p. 116).
Esse tipo de diálogo favorece a participação de pessoas idosas porque evidencia um
respeito ao outro como sujeito com conhecimentos a serem compartilhados.

Nesse sentido, em ações educativas envolvendo matemática com pessoas na


terceira idade é importante considerar as expressões trazidas pelos participantes. Suas
palavras evidenciavam seus pontos de vista, suas compreensões ou, ainda, suas incertezas
sobre algo, esses posicionamentos dependem da sensibilidade de quem conduz o encontro
para derivarem em discussões sobre o objeto de estudo.

Isso é importante no desenvolvimento da atividade porque viabiliza um


compartilhar de ideias e de experiências. Possibilita um momento de discussão de ideias,
num processo de criação e recriação, a partir de diferentes perspectivas para a
compreensão de algo. Fazer isso implica em produzir conhecimentos, não como uma
reprodução ou repetição de coisas ditas por outros e sim na ação de construir percepções,
elaborar outros sentidos, situar-se de modo novo diante das coisas e dos outros. Como
afirma Boufleuer (2010), conhecer constitui uma ação de incorporação, da qual resulta,
necessariamente, uma nova performance do sujeito aprendente, o que só é possível mediante sua
cumplicidade, mediante seu engajamento.

Entender o conhecimento dessa forma implica assumir uma postura de


colaboração com o outro para a produção de novos sentidos sobre algo. Isso contribui
para a saída de um estado de acomodação, em que o envolvimento se torna um processo
contínuo de ação e de reflexão. Ação que “transforma a relação eu-tu, A com B, para a
construção processual do nós, do coletivo.” (ALMEIDA; STRECK, 2010, p. 299). Dessa
maneira, os homens se reconhecem como seres criadores e transformadores e “em suas
permanentes relações com a realidade, produzem, não somente os bens materiais, as
coisas sensíveis, os objetos, mas também as instituições sociais, suas ideias, suas
concepções.” (FREIRE, 2011, p. 128)

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É muito importante levar em conta que o diálogo pode contribuir para que os
participantes se percebam como seres que podem produzir, coletiva e colaborativamente,
conhecimentos sobre os mais variados assuntos. Diante disso, um trabalho com os idosos
teria mais condições de sucesso ao adotar uma concepção de diálogo como a de Freire
(2011), que enuncia três fundamentos para que uma ação dialógica seja possível, quais
sejam: amor, humildade e fé. O amor, entendido como fundamento do diálogo, também
é diálogo, pois é compromisso de sujeitos preocupados com a criação e com a recriação
de um entendimento do mundo. É um ato de coragem que ao envolver-se assumidamente
“com a liberdade, não pode ser pretexto para a manipulação, senão gerador de outros atos
de liberdade. A não ser assim, não é amor” (p.111).

Freire (2011) trata de uma situação de opressão em que pessoas estão sendo
coisificadas, desumanizadas. Com um sentido parecido, pode-se pensar em pessoas
idosas como indivíduos que, geralmente, são consideradas um peso para a sociedade,
frequentemente, percebidas como gente improdutiva e onerosa, coisas que atrapalham.
Em um sentido oposto, a valorização dos conhecimentos e das vivências de idosos, de
sua capacidade de reflexão e de produção de conhecimentos pode contribuir para recriar
e criar uma relação mais humana com essas pessoas.

Humildade também é condição para o diálogo, porque a arrogância e a


autossuficiência inviabilizariam qualquer possibilidade de abertura para ouvir as
contribuições do outro. Conduziria a um medo insensato da superação por entender o
outro e seu saber como coisas menores, insignificantes. Contrariamente, a humildade
torna possível um encontro com o outro e permite o reconhecimento de que “não há
ignorantes absolutos, nem sábios absolutos: há homens que, em comunhão, buscam saber
mais” (FREIRE, 2011, p. 112).

Para que haja essa comunhão, viabilizando uma produção coletiva, é necessária
uma postura humilde de reconhecimento das próprias limitações. Sem essa atitude, “como
posso dialogar se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, nunca em mim?”
(FREIRE, 2011, p. 111). O reconhecimento do sujeito como um ser inconcluso é um
incentivo em caminhar no processo de ser mais e é por meio dessa permanente procura
que o ser humano “aventura-se curiosamente no conhecimento de si mesmo e do mundo.”
(ZITKOSKI, 2010, p. 369).

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Além do amor e da humildade, Freire (2011) considera a fé nos homens outra
condição para o diálogo. Não uma fé ingênua, mas aquela que acredita na capacidade do
ser humano de criar e de recriar, em seu poder de fazer e de refazer, de buscar ser mais,
de reconhecer-se inconcluso. Assim, a fé nos homens é um dado a priori para o diálogo.
Nela, estabelece-se uma confiança entre os sujeitos dialógicos que se tornam
companheiros na produção de conhecimentos do mundo.

Num trabalho envolvendo matemática com pessoas na terceira idade, esses


fundamentos podem contribuir para um estar com o outro, a fim de produzir,
conjuntamente, um entendimento coletivo sobre o assunto proposto. Esse caminho de
ação e de reflexão conjunta, fundamentada em amor, em humildade e em fé tem maior
probabilidade de promover “uma relação horizontal, em que a confiança de um polo no
outro é consequência óbvia.” (FREIRE, 2011, p.113)

Adotar essa perspectiva dialógica pode favorecer o estabelecimento da confiança


dos participantes, como consequência contribui para uma participação ativa dos
envolvidos na discussão do tema abordado. Nesse processo, a postura de quem sugere a
atividade precisa oferecer apoio aos participantes para que eles, em uma ação coletiva de
reflexão, auxiliando-se mutuamente, superassem as dificuldades de entendimento da
situação proposta. Para Paulo Freire, a “curiosidade, compensada e gratificada pelo êxito
da compreensão alcançada, se mantém [...] estimulada a continuar a busca permanente
que o processo de conhecer implica.” (FREIRE, 1998, p.134)

A curiosidade pode ser estimulada com a criação de um ambiente em que os


participantes possam dizer o que pensavam sobre o tema analisado, por meio de
questionamentos feitos pelo pesquisador, para dar encaminhamento ao assunto
trabalhado. Entende-se isso como uma condição necessária para um engajamento na
atividade. Além disso, ao mobilizarem seus conhecimentos, expondo e defendendo suas
ideias sobre o objeto de estudo, os participantes percebem que seus conhecimentos e
pontos de vista, também, eram fontes para um entendimento da situação estudada (ALRØ;
SKOVSMOSE, 2006).

O compartilhamento de ideias colabora para uma produção coletiva de


conhecimentos sobre o assunto matemático, porque, nesse movimento, ideias são ora
aceitas ora refutadas sem causar constrangimento entre os envolvidos. Há uma abertura

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em ouvir o outro. Em ambientes assim, a possibilidade de aprendizado não se restringe
aos participantes, quem sugere a atividade tem a oportunidade de aprender com o grupo,
pois, ao dar atenção ao outro, ao escutá-lo, aprendo a falar com ele e aprendo com ele.

Ao escolher um conteúdo matemático para o trabalho com idosos é extremamente


relevante considerar anseios, dúvidas, esperanças ou aos temores dos participantes. Por
este motivo, os temas sugeridos precisam levar em conta as propostas das senhoras e
senhores envolvidos na ação educativa. De início, pode ser que não contribuam com
sugestões de assuntos matemáticos; contudo, podem ser estimulados a externar suas
opiniões a partir de conversas informais. O importante é ser sensível durante a conversa
a fim de perceber possíveis temas por meio de dúvidas e/ou de considerações sobre algo.

Outro ponto relevante é um cuidado na escolha de temas que possam despertar o


interesse e que contribuam com um entendimento do conteúdo como algo possível de ser
discutido, em que nem sempre há uma única resposta certa para dada situação. Por isso,
é importante evitar um trabalho, exclusivamente, com exercícios “considerados prontos
e acabados e que têm uma e somente uma resposta correta.” (ALRØ; SKOVSMOSE,
2006, p. 134). Cabe sugerir situações para serem experimentadas com recursos variados,
problemas para serem discutidos a partir de diferentes pontos de vista. Outro cuidado a
se tomar é o de não fazer exposições detalhadas de um assunto matemático, visando,
exclusivamente, à resolução de listas de exercícios. Isso pode desestimular as senhoras e
os senhores a se envolverem no trabalho. Trabalhar um problema pode ser mais
interessante, ou seja, despertar a curiosidade dos participantes porque “não dispõem de
um método que permita a sua resolução imediata” (PONTE, BROCARDO; OLIVEIRA,
2005, p. 23).

Trabalhar com problemas demanda interações dialógicas o que pode tornar o


ambiente mais convidativo à reflexão. É possível problematizar o conteúdo a ser
trabalhado por meio de recursos como notícias jornalísticas escritas, recortes de
reportagens de TV, jogos, dentre outros. Associado a um assunto interessante, o uso de
materiais manipuláveis, calculadoras, computador e projetor multimídia também
contribuem para o envolvimento na atividade e com compartilhamentos sobre o que se
está fazendo.

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No trabalho educativo com idosos, se as pessoas tiverem diferentes escolaridades
é importante incentivar o trabalho em grupo para que se possa dar atenção aos grupos
com maior dificuldade, e para que os participantes se auxiliem mutuamente. Vejamos
alguns cuidados para o planejamento de atividades com idosos.

3. Planejamento de atividades de matemática para pessoas idosas

O trabalho educativo com idosos difere daquele que envolve crianças, por
exemplo, pelo fato de que são pessoas mais experientes são sujeitos com uma longa
vivência que buscam, por vontade própria, integrar-se socialmente, manter suas
capacidades físicas e mentais para tomar decisões sobre a própria vida. Para isso, é
necessário um ambiente que possibilite refletir sobre a complexidade do mundo moderno,
por meio de atividades prazerosas, que viabilizem diálogos sobre o assunto estudado para
uma produção de conhecimentos junto a pessoas de outras gerações.

Nos planejamentos cabe levar em conta, ao escolher o assunto a ser trabalhado: os


procedimentos pedagógicos a serem utilizados; recursos que podem promover maior
participação e facilitar a compreensão do tema estudado; adaptação de recursos para
pessoas idosas, bem como a organização do espaço físico. É importante criar um ambiente
em que sejam valorizadas “as experiências acumuladas e que torne o idoso um agente de
seu próprio aprendizado” (CACHIONI, 2003, p. 41). O planejamento pode ser
aperfeiçoado quando se reflete sobre acontecimentos relacionados ao seu
desenvolvimento com os participantes idosos.

Para planejar um trabalho educativo para pessoas idosas é relevante, segundo


Cachioni (2003), ter um conhecimento básico sobre a velhice. Por exemplo, pode-se
refletir sobre a velhice a partir de informações como da adaptação do questionário
Palmore-Neri-Cachioni que visa avaliar conhecimentos acerca do envelhecimento,
quadro 1.

Quadro 1 - Conhecimentos básicos sobre a velhice

1. A proporção de pessoas de mais de 65 anos que apresentam problemas cognitivos


severos é de uma em dez;
2. Todos os sentidos tendem ao enfraquecimento na velhice;

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3. A maioria dos casais acima de 65 anos perdem o interesse por sexo;
4. A capacidade pulmonar nos idosos saudáveis tende a declinar;
5. A satisfação com a vida entre idosos é maior do que entre os jovens;
6. A força física em idosos saudáveis tende a declinar com a idade;
7. O número de acidentes em motoristas com mais de 65 anos é menor em
comparação com os de 30 a 40 anos;
8. É grande a proporção de pessoas de 60 a 70 anos que se mantêm ativas;
9. É pequena a flexibilidade entre pessoas de 60 a 70 anos para adaptar-se a
mudanças;
10. A capacidade de aprender de pessoas de 60 a 70 anos é menor em comparação
com os jovens;
11. Em comparação com os jovens, os velhos têm maior propensão à depressão;
12. Em comparação com os jovens, a velocidade de reação das pessoas de 60 a 70
anos é menor;
13. Em comparação com os jovens, os velhos valorizam mais as amizades
chegadas/próximas;
14. A proporção de pessoas de 60 a 70 anos que vivem sozinhas é pequena;
15. A maioria dos idosos brasileiros tem rendimento mensal de até 1 salário mínimo;
16. A maioria dos idosos são, socialmente, produtivos; mas, economicamente,
inativos;
17. A religiosidade tende a crescer com a idade;
18. Com a idade, a maioria dos idosos torna-se, emocionalmente, mais seletiva;
19. Em comparação com as velhas gerações, as próximas gerações de idosos serão
mais educadas;

Fonte: Adaptado do Questionário Palmore-Neri-Cachioni in Cachioni, 2003.

Conhecer a respeito do envelhecimento contribui para se pensar nas tarefas a


serem sugeridas aos idosos. Sempre com a preocupação de que os participantes se sintam
envolvidos na discussão sobre assuntos matemáticos, confiando na “capacidade criadora
de todo ser humano [por meio da] ação que é interação, comunicação, diálogo.” (FREIRE,
2011, p. 12)

Para minimizar possíveis dificuldades dos participantes, se possível, é bom visitar


previamente o local em que serão realizados os encontros para facilitar o acesso. Afinal,
na terceira idade pessoas com problemas de locomoção podem ser mais frequentes. Para
diminuir prováveis dificuldades de ordem visual, cabe aumentar o tamanho da fonte das
fichas de atividades, pois uma atividade com letra reduzida pode dificultar a leitura,
prejudicar o entendimento e, consequentemente, a participação. A entonação da voz é
outro cuidado a se tomar, um tom muito baixo, provavelmente, não será ouvido o que
prejudicará o envolvimento dos participantes. Outros cuidados a se ter, colocados por
Zimerman (2000) são: respeitar as individualidades; evitar generalizações; não
infantilizar os participantes; não tratar idosos como incapazes; preservar sua
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independência e autonomia; ajudá-los a desenvolver aptidões; ter paciência, pois o tempo
deles é outro, eles são mais lentos (ZIMERMAN, 2000).

Por isso, nos planejamentos, precisa haver uma preocupação com o tempo de
resposta dos participantes, tanto na compreensão da atividade a ser realizada quanto em
seu desenvolvimento. O cérebro do idoso reage mais lentamente e leva mais tempo para
armazenar, para recuperar e para processar informações. Os idosos, por mais inteligentes
que sejam ou por mais intactas que estejam suas memórias, não se comparam aos jovens
em testes mentais que envolvem o processamento de informações desconhecidas. Mas a
precisão da memória e a fluência verbal não diminuem com a idade. Com tempo
suficiente, o cérebro velho saudável, em geral, recupera informações tão bem quanto os
cérebros jovens, apesar de não ser tão rápido (LIMA, 2001).

Se o objetivo do planejamento é estimular a participação do aprendiz, reforça-se


a importância em oferecer condições para que o aluno construa o próprio conhecimento
do objeto de estudo. Para que isso aconteça entende-se, com Freire (1998) a importância
do estabelecimento de um diálogo entre professor e alunos, visando à promoção de um
espírito crítico e investigativo, fundamental para a construção da autonomia do sujeito
‘aprendente’. Para ele, em um ambiente dialógico, tanto os alunos quanto o professor,
aprendem constantemente, pois o último aprende ao ensinar e os primeiros ensinam ao
aprender. Esse autor considera o ato de aprender como um processo ativo, um movimento
de superação da curiosidade ingênua, associada ao senso comum, para uma curiosidade
crítica. Isso fica evidenciado quando define o que é aprender: “aprender para nós é
construir, reconstruir” [grifo do autor] (FREIRE, 1998, p. 77).

Segundo Freire (2011), essa construção e reconstrução ocorrem nas interações entre
professor e alunos, mediadas pelo diálogo, de modo que se promove o pensamento crítico.
“Sem ele, não há comunicação e sem esta não há verdadeira educação.” (FREIRE, 2011,
p. 98). O diálogo potencializa que ocorram aprendizados mútuos e, por meio de uma
abordagem investigativa, pode-se contribuir para que não ocorra somente uma
reprodução e repetição de conceitos matemáticos.

De acordo com Ponte, Brocardo e Oliveira (2003), a investigação matemática é


uma possibilidade para a produção de conhecimentos, não só para os matemáticos, mas
também para os alunos. Para esses autores, a postura ativa do pesquisador matemático é

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um exemplo que pode ser utilizado em aulas de Matemática. Eles entendem que o
processo de investigação realizado pelo matemático, para resolver um determinado
problema, não raras às vezes, é mais relevante que uma possível resposta ao problema
inicial. Afinal, a busca pela solução de um problema pode gerar teorias que contribuem
para o desenvolvimento de outras áreas da própria Matemática.

Por isso, entende-se que a abordagem investigativa em ações educativas de


matemática com idosos, podem ser um meio para promover a aprendizagem
potencializando uma participação ativa. Assim, nesse ambiente, os participantes agem
como matemáticos e experienciam as etapas de uma investigação. Seguindo tal ideia,
mesmo que alguns não consigam encontrar uma possível solução ao problema
investigado, ainda assim, envolveram-se com assuntos e conceitos matemáticos. Esse
processo supera a memorização de técnicas para a solução de exercícios rotineiros porque
permite ao participante ser protagonista de seu processo de aprendizagem.

4. Possíveis contribuições de uma ação educativa de matemática com pessoas idosas

A educação pode ser um meio de viabilizar a inserção social de idosos, podendo


contribuir para que esses indivíduos aproveitem, positivamente, essa fase da vida e, até
mesmo, aprendam a superar desafios que lhes são impostos. Afinal, “quando o idoso tem
oportunidades adequadas, ele pode adquirir novos conhecimentos, aprimorar
capacidades, ampliar ou manter relacionamentos sociais significativos, demonstra
entusiasmo e melhora sua percepção de bem-estar.” (SANTOS; SÁ, 2000, p. 98)

A pesquisadora Freire (2000) considera que uma velhice satisfatória depende da


interação do indivíduo em transformação, vivenciando uma sociedade que também está
em transformação. E, segundo ela, há algumas estratégias para se alcançar essa satisfação
na velhice, dentre elas estão: o cultivo de novos hábitos mentais e o aperfeiçoamento de
habilidades sociais. Uma ação educativa de matemática com idosos pode viabilizar o
desenvolvimento de novos hábitos mentais com a realização de tarefas matemáticas,
discussão de temas variados envolvendo matemática, manipulação de materiais
manipuláveis, discussão de ideias distintas, dentre outros.

Dias (2010) considera que situações que viabilizem interações sociais colaboram
para que pessoas, na terceira idade, sintam-se valorizadas, pois se sentem pertencentes a
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um grupo para o qual podem contribuir de maneira significativa por meio de suas
experiências e de seus conhecimentos. Nesse sentido, podem se sentir valorizadas ao
auxiliar os colegas no desenvolvimento das atividades. Frequentar espaços
socioeducativos, segundo Zanon (2010), evita a segregação de idosos, pois esses locais
permitem o contato com diferentes pessoas. As interações sociais, não raro, diminuem à
medida que se ingressa na velhice (Giglio, 2001). Por isso, concorda-se com Schenkel
(2009) ao considerar que a participação de idosos em atividades socioeducativas pode
diminuir a exclusão dos mais velhos.

Participar de ações desse tipo pode ser uma maneira de estimular o raciocínio, a
lembrança, a atenção dentre outras funções cognitivas. Yassuda et al. (2006) realizaram
um treino de memória com 69 idosos, considerados saudáveis, com informações sobre
memória e sobre envelhecimento, instrução e prática em organização de listas de
supermercado e grifo de ideias principais em textos. Essas pesquisadoras consideram que
os participantes do treino passaram a utilizar mais as estratégias aprendidas. Consideram
ainda que as quatro sessões do treino foram suficientes para que os envolvidos utilizassem
as estratégias, contudo não possibilitaram que estratégias automatizadas se convertessem
em melhor desempenho.

Nesse sentido, considera-se que tarefas matemáticas possam contribuir como


estímulo e/ou manutenção de habilidades cognitivas, auxiliando na concentração,
organização e no desenvolvimento de tarefas cotidianas. Afinal, resolver uma atividade
do dia-a-dia pode-se assemelhar com a resolução de uma tarefa de Matemática em que se
busca entender o problema, levantam-se e testam-se ideias/estratégias para resolvê-lo.
Baraldi (2001) acrescenta que trabalhar com Matemática possibilita que pessoas na
terceira idade continuem progredindo no raciocínio lógico-matemático, um elemento
essencial para a manutenção da memória com coerência e organização.

Ao refletirem sobre atividades matemáticas pessoas idosas podem, conforme


LIMA (2015), ter contribuições como melhorar o raciocínio, lembrar de assuntos
aprendidos anteriormente, concentrar-se, prestar mais atenção nas coisas, ser mais ativo.
Isso está de acordo com ideias como em Apóstolo et al. (2011) de que a estimulação
cognitiva melhora a condição cognitiva de idosos, esses pesquisadores aconselham a
implementação de atividades, nesse sentido, como componente do cuidado de idosos em
contexto comunitário. Considera-se que trabalhos com tarefas matemáticas também
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podem ser utilizados como forma de estímulo cognitivo a pessoas idosas. Souza et al.
(2009) acrescentam que atividades de estimulação cognitiva para idosos contribuem com
a manutenção de capacidades dos participantes como, por exemplo, na comunicação com
outras pessoas.

Estímulo cognitivo e a possibilidade de conhecer pessoas e de interagir com elas,


são importantes contribuições que podem derivar de uma ação envolvendo matemática e
pessoas idosas.

5. Considerações Finais

O trabalho educativo, envolvendo matemática e pessoas idosas, pode contribuir


para favorecer uma velhice satisfatória, à medida que haja meios para que uma pessoa
idosa, com disposição, consiga enfrentar os desafios que lhe são impostos. Nesse sentido,
concorda-se com Freire (2000) ao afirmar que “a velhice satisfatória não é apenas uma
qualidade da pessoa, mas o resultado da interação do indivíduo em transformação vivendo
numa sociedade também em transformação” (p. 29). Como professores, podemos sugerir
estratégias para melhorar o bem-estar dessa parcela da população.

Independentemente da idade, são sujeitos em transformação, pois embora tenham


diminuído suas opções de coisas para fazer, não precisam se restringir ao espaço da
própria casa. Para isso, precisam ter espaços acolhedores para interação com outras
pessoas e, como na sugestão deste trabalho, conversavam e realizavam as tarefas
matemáticas que lhes contribuam com a manutenção e desenvolvimento da cognição,
assim como com interações sociais.

6. Referências

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