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Universidade Federal de Santa Maria

Centro de Ciências Sociais e Humanas


Comunicação Social - Jornalismo
Jornalismo Impresso I
Rogério Koff

NOTÍCIA: “Aumento dos casos de Leishmaniose Visceral na


cidade de Santa Maria preocupa moradores”

GRUPO 7:
Andreina Possan da Rosa
Camilly dos Santos Barros
Giovana Zago
Karla Giovana Essy
Milene Aparecida Eichelberger

Santa Maria, RS
2021
Aumento dos casos de Leishmaniose Visceral na cidade de
Santa Maria preocupa moradores

João Vilnei- Acervo da prefeitura Municipal de Santa Maria

Com o aumento de casos de Leishmaniose Visceral em animais e os dois


registros históricos de infecção da doença em humanos - sendo um deles fatal -
a comunidade de Santa Maria enfrenta um período de tensão em razão da
doença. A prefeitura iniciou, apenas no final do mês de junho, investigações
para identificar novos casos, sem a realização de campanhas de conscientização
efetivas que abarquem a população em maior escala.

Segundo o doutor em epidemiologia pela Universidade de São Paulo


(USP), Luis Antonio Sangioni, atualmente professor Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM) no departamento de Medicina Veterinária Preventiva do
Centro de Ciências Rurais (CCR), “a leishmaniose é uma doença causada pelo
protozoário Leishmania, transmitido pelo mosquito Flebotomíneo,
popularmente conhecido como mosquito-palha. Existem várias espécies de
protozoário e duas formas da doença, uma chamada Tegumentar, que vai
ocasionar principalmente úlceras (feridas) na pele e desconfigurações no
tabique nasal (cavidades do nariz), em cartilagens. E também, a forma Visceral,
que vai causar o aumento do fígado e, dependendo da onde se instalar, pode
gerar outras doenças, afetando o baço e a medula óssea”.
Alguns dos sintomas apresentados da doença, em animais, são marcados
por alterações na pele e nas unhas, emagrecimento e perda parcial na
mobilidade dos membros inferiores. Há casos em que os animais não possuem
sintomas. Já em humanos, os sintomas podem aparecer por meio de febre, perda
de peso, sensação de fraqueza, aumento do fígado e do baço e anemia. Se não
diagnosticados na fase inicial e tratados adequadamente, os quadros podem
evoluir e levar à morte.

Relatos de casos:
Em entrevista, a estudante de Teatro na Universidade Federal de Santa
Maria, Sara Lourenço, relata como foi o enfrentamento da doença com o
cachorro que resgatou da rua, que já possuía a leishmaniose visceral. "Eu
encontrei ele na vila onde eu moro, [...] ele estava sem vontade nenhuma de
fazer nada. Eu também dei ração pra ele, ele não comeu, estava muito magro,
fiquei até com medo que ele tivesse quebrado algum osso, porque a situação
dele era realmente deplorável”.

Lourenço comenta que o custo para o tratamento do seu cachorro passou


de um mil reais, devido a internação que o Will (nome que foi dado ao seu pet)
enfrentou e ao alto custo dos medicamentos. Pelo quadro avançado e
irreversível da doença, optou-se pela realização da eutanásia.

Will. Arquivo pessoal: Sara Lourenço.

“Não se vê nada sobre isso na cidade. A Prefeitura está sendo totalmente


negligente com a ‘chuva’ de casos que está tendo de Leishmaniose, eu não vi
nenhuma nota de prevenção, nenhuma publicação (nas redes sociais da
prefeitura) [...] o mosquito, ele vem por causa de muita sujeira. Então, como
está sendo a vigilância sanitária desses lugares? Como saber quantos animais
já estão infectados?”, comentou Lourenço. Apurou-se que no segundo trimestre
de 2021 não houve nenhuma postagem nas redes sociais da prefeitura
referindo-se aos casos, apenas um informativo no site.

Outro relato vem de Alina Nunes, também moradora de Santa Maria, que
teve seu cachorro, Dodi, acometido pela doença em maio deste ano. Com os
mesmos sintomas do Will, ela também teve que optar pela eutanásia, tendo em
vista o quadro terminal de Dodi. Sobre a atuação da prefeitura municipal, Nunes
comenta: "eu acho que a Prefeitura só tomou uma atitude (de prevenção à
doença) porque ocorreram infecções em humanos. [...] Eu penso que a
Prefeitura não considerou que essa seria uma uma medida sanitária a ser
adotada porque, aparentemente, seriam só em animais”.

Os casos aos quais Nunes se refere aconteceram no mês de janeiro e abril.


O primeiro registro ocorreu em um jovem de 20 anos, morador do bairro Nossa
Senhora da Medianeira, que se recuperou após o tratamento e o segundo registro
foi em um senhor de 58 anos, morador do bairro Divina Providência, que
faleceu após complicações no seu quadro, o homem já sofria de alcoolismo.

Dodi, Arquivo pessoal: Alina Nunes


Notificação dos casos:

Entrou-se em contato com seis clínicas veterinárias da cidade: CentralVet,


Clínica Veterinária Santo Antônio, Clínica Veterinária Santa Maria, CrisVet, Latimia
e VetCenter. Entretanto, apenas a Clínica Santo Antônio, localizada no bairro Boi
Morto, retornou com o levantamento de registros de casos de Leishmaniose
Visceral, informando um aumento em 70% no número de casos no primeiro
semestre deste ano, em comparação com o ano de 2020.
As outras clínicas que foram contatadas não responderam ou não
souberam responder quando perguntadas a respeito do levantamento de casos.

Sangioni conta que foi elaborado um aplicativo, o C7LVC, disponível na


loja de aplicativos para android “Play Store”, que visa auxiliar as clínicas
veterinárias na notificação dos casos de Leishmaniose. Criado em 2018 pelo
Laboratório de Geomática da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o
aplicativo já é utilizado pela vigilância sanitária da cidade. Sangioni explica:
“Nós desenvolvemos um aplicativo (C7 LVC), o qual facilita essa notificação
pelo veterinário ou então pelo laboratório clínico, que, porventura, venha fazer
o exame e detecta esse agente, após isso é encaminhado para o município, com
base nesses casos notificados, ou seja, o serviço irá vai fazer esse
monitoramento - o que a gente chama de busca ativa. Então, a vigilância
sanitária irá até o local, realizará os testes laboratoriais e, para aqueles
animais positivos, será sugerido que se coloque a coleira repelente”.
captura de tela do site C7 LVC

Outras medidas de prevenção devem ser adotadas pela população para


evitar a proliferação do mosquito transmissor. Deve-se fazer a limpeza do
quintal de casa, retirando toda a matéria orgânica em decomposição, destinar
adequadamente o lixo orgânico e limpar adequadamente e com frequência a
casinha dos animais de estimação.

Medidas tomadas pela prefeitura:

Em matéria publicada em seu site oficial, em 22 de junho deste ano,


consta que a prefeitura iniciou um inquérito sorológico canino para
identificação de novos casos da doença. Segundo o órgão, desde 2011 é
realizado a busca ativa de casos de Leishmaniose no município, com visitas às
residências que possuam animais infectados, para coleta de amostras e envio
para análise. Na matéria, ainda relata-se o número de casos detectados este ano -
de 107 coletas, 10 apresentaram resultado positivo.

Também é abordada a forma de transmissão da doença, seus sintomas em


animais e humanos e as formas de prevenção, usando informações do Ministério
da Saúde. No entanto, nas redes sociais da prefeitura, que possuem um maior
alcance, não há informativos sobre a doença, como citado anteriormente. Ao ser
contatada, a assessoria de comunicação da prefeitura não retornou o pedido de
possíveis nomes para entrevista sobre o tema, apenas direcionou para a matéria
citada.
Sangioni comenta que os números de casos são incertos: “o que pode ter
causado o surto da doença é o desenvolvimento desse meio ambiente favorável
à presença desses mosquitos. Em um verão bastante quente, algumas medidas
favorecem a disseminação, como a presença de matéria orgânica na localidade
e a presença desses hospedeiros, tanto definitivo quanto intermediário - o
hospedeiro definitivo é o homem e o hospedeiro intermediário são esses outros
animais. Aqui em Santa Maria não existe um levantamento concreto de quantos
animais foram infectados”.

Ele também cita alguns bairros com maiores índices de contaminação,


como o bairro Itararé, bairro Perpétuo Socorro, onde Lourenço reside, e outras
áreas localizadas na Zona Norte da cidade.

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