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Unidade 7: Técnicas para produção de textos argumentativos

Como foi dito na unidade anterior, o texto argumentativo defende uma tese, ou seja, toma
uma posição diante de um tema e apresenta argumentos que justifiquem esta posição.
Nesta unidade, veremos técnicas que podem ser utilizadas para se compor um bom texto
argumentativo.

1) Técnica de argumentos favoráveis e contrários:

Muitas vezes, deparamo-nos com temas que, por serem muito polêmicos, dividem opiniões
de tal modo que dificilmente chegamos a um posicionamento capaz de satisfazer a maioria das
pessoas.
Analisemos o fragmento a seguir produzido por um ex-aluno do curso de Red II, em que ele
começa sua redação mostrando duas possíveis visões acerca do ato de dar esmola. Veja que ele
ainda não tomou uma posição a respeito do tema.

“Dar esmola pode trazer um enorme prejuízo à sociedade, já que o número de pedintes só
tende a aumentar. Mas, por outro lado, pode ser a única forma de se ajudar a quem precisa.”

Diante de um tema tão controverso, percebemos que as opiniões se dividem: se por uma
lado, muitos encontrariam argumentos favoráveis ao ato de dar esmola; por outro, inúmeras pessoas
poderiam posicionar-se contrariamente a isso.
Tal divisão ocorre pelo fato de que todo tema polêmico é composto por duas faces: uma
positiva e outra negativa. Com isso, há a possibilidade de o escritor expor esses dois lados, se
manifestando, num primeiro momento, de modo imparcial, ou seja, provendo argumentos
favoráveis e contrários à tese.
Dessa maneira, teríamos, inicialmente, um texto expositivo, que objetiva apresentar uma
visão global do problema, abordando os diferentes aspectos da questão, para, na conclusão, ser
exposto o posicionamento do autor. No entanto, caso você não tenha uma posição definida, essa
informação deve ficar clara no seu texto.

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Vejamos o texto que segue:

Eutanásia

A eutanásia é uma prática muito questionada e proibida em diversas partes do mundo. A


divergência entre o grupo de pessoas contrárias e favoráveis encontra em argumentos relevantes e
lógicos a resposta para um ou outro posicionamento.
Aqueles que acham a eutanásia um ato necessário em situações extremas apresentam
argumentos a favor da sua aplicação. Estes acreditam que a eutanásia é um modo de fugir ao
sofrimento quando da falta de qualidade de vida e em fase terminal. Também pensam que ao morrer
de uma forma pouco dolorosa é significado de morte digna.
No caso dos países que permitem esta prática, cada pessoa tem autonomia para decidir por si
próprio pela aplicação ou não de tal método. Estes alegam que a eutanásia não apoia nem defende a
morte em si, apenas faz uma reflexão de uma morte mais suave e menos dolorosa que algumas
pessoas optam por ter, em vez de viveram uma morte lenta e sofrida.
O indivíduo, ao escolher a prática da eutanásia, deve decidir de forma consciente, pois há a
impossibilidade do arrependimento. É preciso analisar os diversos elementos sociais que o rodeiam,
incluindo também componentes biológicos, familiares e econômicos.
Por outro lado, há aqueles que têm objecções a essa prática, apoiando-se em argumentos de
base religiosa, ética e/ou política. No caso da religião, a principal objecção é o facto de
considerarem que a eutanásia é tida como uma usurpação do direito à vida humana, vida essa que
foi criada por Deus, sendo ele, então, o único com o poder de tirá-la. Ou seja, “A Igreja, apesar de
estar consciente dos motivos que levam a um doente a pedir para morrer, defende acima de tudo o
carácter sagrado da vida.” (Pinto, Susana; Silva, Florido,2004, p.37).
Outro grupo de seguidores desse argumento da vida como algo sagrado é o dos médicos. São
profissionais que assumem a chamada perspectiva da ética médica, apoiando-se, assim, no
juramento de Hipócrates, o que considera a eutanásia uma espécie de homicídio. Neste contexto,
cabe à eles, cumprindo seu juramento, assistir o paciente, fornecendo-lhe todo e qualquer meio
necessário à sua subsistência.
Sendo assim, podemos concluir que a existência de uma opção para aqueles que se
encontram num quadro crítico de sobrevivência depende da sociedade em que o doente está
inserido. No entanto, ainda que este pertença a uma sociedade pró eutanásia, a opção consciente
pela prática da mesma não pode deixar de ser pensada como a opção pelo assassinato ou homicídio,
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práticas que atentam contra a vida, ou seja, criminosas.
(http://eutanasia11a.wordpress.com/argumentos-a-favorcontra/ adaptado)

Nestes texto, fica claro a presença da oposição na construção da argumentação. O texto é


organizado de forma a conter na introdução a exposição do fato e o esclarecimento quanto à
existência dos dois grupos de posições opostas; na argumentação, dois parágrafos para cada
perspectiva – positiva e negativa – e na conclusão, a posição assumida pelo autor.

Temos, então, como planejamento desse texto o esquema abaixo:

Introdução:
- A eutanásia é uma prática muito questionada e proibida em diversas partes do mundo.
- Há duas correntes divergentes tratando desse assunto.

Favorável:
- A eutanásia é um modo de fugir ao sofrimento quando da falta de qualidade de vida e em
fase terminal.
- A eutanásia traz uma morte mais suave e menos dolorosa.

Contra:
- A eutanásia é tida como uma usurpação do direito à vida humana
- Cabe ao médico, cumprindo seu juramento de Hipócrates, assistir o paciente, fornecendo-
lhe todo e qualquer meio necessário à sua subsistência.

Conclusão:
- A existência de uma opção depende da sociedade em que o doente está inserido.
- A opção consciente pela prática da eutanásia é a opção pelo assassinato ou homicídio.

Veja, agora, o planejamento redacional dessa técnica argumentativa:

Introdução Apresentação da
divergência existente
referente ao tema

Desenvolvimento Análise dos aspectos


favoráveis

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Desenvolvimento Análise dos aspectos
contrários
Conclusão Posicionamento pessoal em
relação ao tema +
observação final

Observação: O desenvolvimento pode ser composto por dois parágrafos ou pode ser
ampliado para mais, caso haja mais argumentos favoráveis e/ou contrários. Além disso, a estrutura
acima é um modelo, uma estruturação padrão, podendo ser feitos parágrafos em que são mesclados
argumentos favoráveis e contrários (alternância), desde que haja coerência.

É importante ressaltar que essa técnica é apenas uma das diversas formas de se compor um
texto. Através dela, é possível perceber a ideia da não obrigação da construção de uma tese já na
introdução. Isto é, podemos ter uma introdução apenas expositiva, mesmo que o objetivo do texto
seja argumentativo. Numa composição desse tipo, a tese pode aparecer, então, no meio ou no fim.

2) Técnica causa e consequência:

Outra maneira que se tem de estruturar um texto argumentativo é utilizando a técnica de


causa e consequência. Por meio dela, procura-se encontrar a(s) causa(s) e a(s) consequência(s) de
uma tese proposta. Vale ressaltar que nem todos as teses fornecem a possibilidade de se usar essa
técnica.
A causa é o fato que provoca ou justifica o que está expresso na ideia principal. Já a
consequência é o fato decorrente do que está exposto na ideia principal. Observe a tese que se
segue:
“Constatamos que, no Brasil, existe um grande número de correntes migratórias que se
deslocam do campo para as pequenas ou grandes cidades.”
Para encontrar a causa, formulamos a pergunta “por que?” à proposição acima. Dentre as
possíveis respostas, poderíamos citar os seguintes fatos: “A zona rural apresenta inúmeros
problemas que dificultam a permanência do homem no campo.”
No sentido de encontrar uma consequência para o problema enfocado no texto acima, cabe a
seguinte pergunta: “o que acontece em razão disto?”, uma das possíveis respostas seria:
“As cidades encontram-se despreparadas para absorver esses migrantes e oferecer-lhes
condições de subsistência e trabalho.”

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Observemos o artigo que segue:

A face da violência urbana: questões atuais


Por: Caio César Santos Gomes

A violência se personifica de diversas formas e pode ser caracterizada igualmente: violência


contra a mulher, violência moral, violência sexual, violência contra a criança e o idoso, entre outras.
Cabe salientar que essas diversas formas de violência podem ser observadas em vários espaços,
sendo o meio urbano o mais propicio para o desencadear destes atos. Destarte, todo esse conjunto
de violências pode ser inserido no âmbito da violência urbana.
Fenômeno disseminado em grandes cidades, a violência urbana é determinada por valores
culturais, sociais, econômicos, políticos e morais de uma sociedade. De forma mais específica,
pode-se associar alguns problemas e práticas que contribuem como o crescimento da violência
urbana: desestrutura familiar, desemprego, tráfico de drogas, discussões banais, entre outros. Hoje,
a violência urbana não é uma preocupação exclusivamente brasileira, mas sim uma questão que
preocupa tanto os países em desenvolvimento como os desenvolvidos.
Todavia engana-se quem acredita que o fenômeno da violência urbana está restrito aos
grandes centros. Esse problema pode ser observado também em pequenos centros urbanos, em todo
o país, onde recentemente as manchetes dos jornais mostram um aumento no número de assaltos,
homicídios e outros atos de violência, o que deixa as populações locais apreensivas. Isso comprova
que a violência tem tomado proporções gigantescas e atualmente é configurada como um “morbus
social” que carece de uma solução urgente.
Como consequências da violência urbana, podemos citar inúmeros exemplos de atrocidades
cometidas diariamente, noticiadas pelas redes de televisão, rádios, jornais e revistas, como:
sequestros e assaltos nas grandes metrópoles, estupros de crianças, assassinatos em série, entre
outros, que causam pavor na sociedade. Alguns exemplos são o caso do garoto João Hélio,
(ocorrido em 2007) que foi arrastado vivo por um carro na periferia do Rio de Janeiro e até hoje
causa indignação na população e mais recentemente os casos do assassinato da menina Isabela
Nardoni pelo pai e madrasta, e o caso do sequestro de Eloá que teve sua vida interrompida pelo
namorado agressor.
Além da consequência social, cabe salientar ainda a consequência econômica que a
violência urbana gera aos cofres públicos, uma vez que, na tentativa de amenizar os problemas
resultantes da violência, investimentos que poderiam ser aplicados em políticas de promoção do
bem-estar social, acabam sendo “aplicados” em segurança.
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Na tentativa de descortinar a face da violência urbana e suas causas e consequências,
percebe-se que este é um problema que nos últimos anos têm transbordado os limites dos grandes
centros urbanos, e atinge cada vez mais, pequenas cidades do interior do país. Cabe lembrar
também que o problema da violência urbana não é uma exclusividade do Brasil ou dos países
subdesenvolvidos, ou seja, até mesmo nos países com melhores padrões econômicos e com
melhores indicadores sociais a violência urbana é uma realidade que ganha cada dia mais espaço. A
solução para o problema da violência urbana envolve não apenas a questão da segurança pública,
mas também questões como melhoria do sistema de educação, moradia, oportunidades de emprego
entre outros fatores e requer uma grande mudança nas políticas públicas e na sociedade como um
todo.
(http://www.meuartigo.brasilescola.com/atualidades/. Acessado dia 05/09/10)

Neste artigo, fica evidente a construção do texto com base na técnica da causa e
consequência.
O autor Caio César introduz seu texto definindo os tipos de violência e os locais onde
costumam ocorrer, se utilizando, para isso, de dois parágrafos de introdução – “...o meio urbano o
mais propicio para o desencadear destes atos”.
Dentro, ainda, dessa organização, na defesa da tese de que “Hoje, a violência urbana não é
uma preocupação exclusivamente brasileira, mas sim uma questão que preocupa tanto os países em
desenvolvimento como os desenvolvidos”, o autor delimita as possíveis causas dessa violência –
“desestrutura familiar, desemprego, tráfico de drogas, discussões banais, entre outros” – e, então,
segue seu texto falando das consequências geradas por ela – “podemos citar inúmeros exemplos de
atrocidades cometidas diariamente”.
Já na conclusão, o historiador ressalta que o problema não é apenas do Brasil ou de países
subdesenvolvidos, mas mundial, o que inclui os países ricos. O mesmo salienta ainda que “A
solução para o problema da violência urbana (…) requer uma grande mudança nas políticas
públicas e na sociedade como um todo”, ou seja, termina a composição reafirmando seu tema e
fazendo uma observação final.
Assim, para fazer um texto argumentativo com base nas relações de causa e consequência,
pode-se fazer o planejamento redacional da seguinte maneira:
Introdução Apresentação da tese

Desenvolvimento Causa

Desenvolvimento Consequência

Conclusão Reafirmação da tese


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(posição pessoal)
+observação final

EXERCÍCIOS:

01. Há, a seguir, algumas teses referentes a temas polêmicos. Indique dois argumentos favoráveis e
dois contrários a cada proposição dada:

a) O aumento vertiginoso do índice de criminalidade, em nossos dias, deve-se basicamente às


péssimas condições de vida da maioria do povo brasileiro.

Argumentos favoráveis
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Argumentos contrários
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b) Muitos acreditam que a televisão deixa de desempenhar um papel educativo na difusão da arte e
da cultura nacionais.

Argumentos favoráveis
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Argumentos contrários
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02. Indique a(s) causa(s) e a(s) consequência(s) de cada uma das teses a seguir:

a) As novelas brasileiras passam a exercer uma profunda influência nos hábitos de hoje e na
maneira de pensar da maioria dos telespectadores.
Causa:
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Consequência:
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b) O cinema nacional está atingindo grande aprimoramento técnico e alto nível artístico.
Causa:
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Consequência:
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Prática de Texto

“Democracia ("demo+kratos") é um regime de governo em que o poder de tomar importantes


decisões políticas está com os cidadãos (povo), direta ou indiretamente, por meio de representantes
eleitos — forma mais usual. Uma democracia pode existir num sistema presidencialista ou
parlamentarista, republicano ou monárquico.”
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia)

Democracia
(Tom Zé)
Democracia que me engana
na gana que tenho dela
cigana ela se revela, aiê;
democracia que anda nua
atua quando me ouso
amua quando repouso.

É o demo o demo a demó


é a democracia
é o demo o demo a demó
é a democracia.

Democracia, me abraça
com tua graça me atira
desfaz esta covardia, aiê;
democracia não me fere
mira aqui no meio
atira no meu receio.

Democracia que escorrega


na regra não se pendura
na trégua não se segura, aiô;
democracia pois me fere
e atira-me bem no meio
daquilo que mais eu mais receio.
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Democracia, não me deixe
sou peixe que fora d'água
se queixa, morre de mágoa, aiê;
democracia não se dita
maldita seja se dura,
palpita pela doçura.

Com base na definição de “democracia” e na letra da música “Democracia” de Tom Zé,


escreva um texto argumentativo sobre o tema “É possível dizer que vivemos numa democracia em
nosso país?”. Faça uso de uma das técnicas discutidas nesta unidade da apostila. Execute, em sua
apostila, a primeira etapa da produção textual: o planejamento. Posteriormente, em folha separada,
redija a versão final. Lembre-se, sempre, de fazer uma última leitura antes de entregar seu texto.
Assim, você poderá fazer pequenos ajustes.

Planejamento (esqueleto)
Tese:
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Argumentos:
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Conclusão:
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