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Modulo 1.história Da Filosofia Antiga
Modulo 1.história Da Filosofia Antiga
O pensamento dos principais filósofos da Grécia Clássica acerca da melhor forma de se organizar
em sociedade, a partir do nascimento da democracia, em Atenas.
PROPÓSITO
Compreender, no modelo ateniense de democracia, a partir da contribuição dos filósofos clássicos
– Sócrates, Platão e Aristóteles – e seus contemporâneos, o papel dos governantes e governados
naquela sociedade.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o estudo deste tema, é importante ter à mão um bom dicionário de teoria política
ou mesmo de filosofia. Sugerimos o Dicionário de Filosofia, de Abbagnano, e o Dicionário de
Política, de Bobbio, Matteucci e Pasquino.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Por volta dos séculos V, IV A.E.C., houve, na cidade-Estado de Atenas, na Grécia, um fenômeno
que entrou para a história da civilização ocidental: a criação da democracia. Não era exatamente
como este sistema que hoje nós chamamos pelo mesmo nome. Se por um lado excluía parcela
considerável da população das decisões políticas, por outro apresentava aspectos até mais
ousados do que a que vivemos atualmente (como a participação do cidadão comum nas decisões
estatais).
Não deve ser coincidência, por exemplo, que três dos maiores nomes da filosofia de todos os
tempos – Sócrates, Platão e Aristóteles – tenham vivido exatamente nesse período e nesse lugar,
sem contar no florescimento do teatro e de outras escolas do pensamento, como a sofística. Em
comum, todos os três grandes filósofos pensavam em como a ética é indispensável no trato da
coisa pública, que os governantes devem ser os mais bem qualificados para lidar com a
comunidade, e que as leis podem até não ser perfeitas, pois não conseguem lidar com as
imprevisibilidades da vida, mas são propostas razoáveis para se criar estabilidade nas sociedades.
Isso nos leva a pensar que, mesmo com a enorme distância do tempo, ainda temos muito a
aprender com os antigos gregos.
A.E.C.
Ao se referir a datas históricas, muitas vezes, usamos as abreviações a.C. e A.D. (ou d.C.)
junto com o ano (por exemplo, 2012 A.D.). A.C. se refere a “Antes de Cristo” e A.D.
representa Anno Domini , que é “Ano do Senhor” em latim (equivalente a d.C. = “Depois de
Cristo”). Esse sistema foi concebido por um monge no ano 525. Um sistema mais recente
usa A.E.C., sigla para “Antes da Era Comum”, e E.C. para “Era Comum”. Esse novo sistema
é amplamente utilizado nos dias atuais como uma forma de expressar os mesmos períodos
a.C. e A.D., porém sem a referência cristã. De acordo com esse sistema, contamos o tempo
para trás Antes da Era Comum (A.E.C.) e progressivamente na Era Comum (E.C.). Fonte:
Khan Academy.
PLATÃO
Do grego platos , que significa “largura”. Esse era o apelido do filósofo de ombros largos e
porte atlético. Seu nome verdadeiro era Arístocles.
MÓDULO 1
Identificar a originalidade da democracia ateniense e sua influência no florescimento do
pensamento filosófico
NOÇÃO DE POLÍTICA NA GRÉCIA CLÁSSICA
Na crise econômica mundial, iniciada em 2008, a Grécia foi pressionada a pagar dívidas
adquiridas com os bancos da União Europeia. Nessa época, surgiu na internet a piada: e se
tivéssemos que pagar royalties sobre todas as palavras que importamos dos gregos – e,
consequentemente, os conceitos daí derivados? A conclusão do raciocínio era óbvia: o mundo
ocidental é muito mais devedor dos gregos que os poucos bilhões de euros que constavam
naquele deficit . Só que o valor não é cobrado na mesma moeda!
Se quisermos comprovar isso, basta começar por uma noção geral e abstrata que perpassa todos
os lugares como “política” (a junção de polis com tékhnē ). O segundo termo (tékhnē ), “o ato de
fazer ou cunhar algo”, é a origem, com algumas variações de interpretação, da técnica como nós a
conhecemos atualmente. Já o primeiro (polis ) era associado às independentes cidades-Estados
localizadas próximas à península do Peloponeso, banhadas pelo mar Mediterrâneo, cujos
habitantes falavam variações do grego antigo. Mas não apenas isso.
O termo também caracterizava a própria população, fazendo com que um grego dessa época se
pensasse, primeiramente, como um “animal político”, ou zoon politikon , como escreveu
Aristóteles (384 A.E.C.-322 A.E.C.), antes de ser um indivíduo. Aliás, a própria noção de
“indivíduo”, como a conhecemos – de alguém isolado do seu entorno, da sua comunidade, vivendo
uma vida “privada” –, deveria soar bastante estranha para um grego da época de Sócrates (469
A.E.C.-399 A.E.C.) e Platão (428/427 A.E.C.-348/347 A.E.C.).
Para esses homens comunitários, todas as ações eram políticas, “públicas”, por assim dizer. Não
haveria, portanto, uma divisão tão clara entre a política, como a conhecemos hoje, e a ética. Por
isso, quando Platão, no diálogo Górgias , coloca Sócrates, seu mestre e protagonista da maioria
de suas obras, como o verdadeiro político, apesar de sua aversão às práticas mais comumente
associadas na atualidade com o fazer político – como não participar de organizações ou
associações, por exemplo –, tal afirmação não parecia um absurdo completo para seus
conterrâneos.
Mesmo que não fizesse parte das assembleias, Sócrates poderia ser visto ainda como um bom,
belo e verdadeiro exemplo de político?
ASSEMBLEIAS
A palavra “assembleia” tem origem no termo grego ekklesia , que também deu origem à
palavra “igreja”. As ekklesiai eram ocasiões em que os cidadãos atenienses se reuniam
para decidir sobre os assuntos da cidade-Estado – o que se considerava a ação política por
excelência (aqui no sentido mais restrito do vocábulo) para os contemporâneos de Sócrates.
VEJAMOS!
CONDIÇÕES HISTÓRICAS
Fonte: Shutterstock.com
Parthenon, na acrópole da cidade de Atenas, na Grécia.
Para explicar a importância de um Sócrates político, devemos voltar um pouco no tempo e mostrar
a excepcionalidade do lugar e do tempo em que ele viveu. Por volta do século V a.C., ou talvez no
século seguinte – ninguém sabe ao certo a data de nascimento –, aconteceu, na região do
Peloponeso, provavelmente um fenômeno único na história: os habitantes de determinada cidade-
Estado, chamada de Atenas, decidiram que a melhor maneira de se organizar como sociedade era
distribuir os poderes de decisão sobre as questões comunitárias por todos os cidadãos. Eles
chamaram essa forma de governo de “democracia” (dêmos = povo + kratía = poder), e criaram
mais uma palavra-conceito que influenciaria todo o mundo ao longo dos séculos e milênios.
Heródoto (485 A.E.C.-425 A.E.C.) sugere que houve, sim, um criador da democracia, conhecido
como o pai da História, por ser seu “inventor”, isto é, aquele que tentou, pela primeira vez,
escrever fatos históricos de maneira mais próxima de como ocorreram – apesar de todas as
liberdades que tomou. Heródoto credita essa façanha a Clístenes (565 A.E.C.-492 A.E.C.),
membro de uma proeminente família da região.
Mas uma filha tão complexa e diversa assim não tem apenas um pai.
Outros relatos mostram como responsáveis pela criação da democracia os seguintes nomes:
Efialtes, líder ateniense que supervisionou as reformas que visavam reduzir o poder do Areópago,
bastião do conservadorismo na Atenas pré-democrática.
A perfeição do corpo...
Fonte: Shutterstock.com
TESEU
Apesar de alguns relatos apontarem Teseu como um dos criadores da democracia, esse
nome não é levado exatamente em consideração pelos estudiosos mais sérios.
O provável é que, para atingir seu auge no quarto século A.E.C., exatamente quando viveu Platão,
a democracia ateniense tenha sido alimentada por todas essas vertentes e outras ainda não
catalogadas: a partir das reformas empreendidas por Sólon, como consequência das modificações
implantadas por Clístenes; após as revoltas populares da época; por conta das transformações
introduzidas por Efialtes; ou pela liderança de Péricles (495 A.E.C.-429 A.E.C.), o famoso estadista
e general, em cujo governo (entre 460 A.E.C. e 430 A.E.C.), logo após os atenienses liderarem os
gregos na guerra que derrotou os persas, Atenas teria tido seu auge.
Havia, ainda, vários outros recursos burocráticos para assegurar o máximo de participação dos
atenienses nas coisas públicas (ou “república” – res = coisa + pública – palavra de origem latina).
Por exemplo, o Conselho dos 500, uma espécie de câmara alta, tal como um Senado na
atualidade, e os tribunais, onde os réus eram julgados.
Embora tenha um grau de organização incomum, até para os dias atuais, a democracia ateniense
também recebeu muitas críticas a respeito de sua estrutura, a começar pela própria noção de
participação popular. Segundo estudiosos, a presença e a assiduidade no conselho eram
consideradas baixas. Uma das razões, segundo dizem, é que, geralmente, as pessoas preferiam
atender a seus próprios negócios a ter de resolver os assuntos de Estado – algo mais distante da
urgência cotidiana.
De acordo com os historiadores, ainda havia problemas de instabilidade política. Com tantas vozes
podendo apontar as direções que a cidade deveria tomar, era difícil se chegar a um caminho único
e em linha reta em pouco tempo. A morosidade, às vezes, acabava se tornando imobilidade, o que
atrapalhava em um período de constantes guerras, invasões, e governos fortes e autoritários.
OLIGARQUIA
Palavra de origem grega que significa “governo exercido por um pequeno número de
pessoas”.
ATENÇÃO
Cabe questionar se, de fato, a comparação entre a organização burocrática da sociedade
ateniense e nossos Estados-nações atuais é fraca. Basta lembrarmos de que o voto feminino, no
Brasil, apenas foi alcançado em 1934, ou, em pior situação, na França revolucionária, apenas em
1945. Será que um país, atualmente, de população em sua maioria negra e feminina, e, ainda
assim, com baixíssimo número de políticos afrodescendentes e mulheres, poderia criticar a Grécia
Clássica?
Na atualidade, ela nos força a pensar sobre nossa própria maneira de nos estruturar como
sociedade – as distribuições de poder, a participação popular, a representação de todos os
estratos e segmentos populacionais na tomada de decisão, a partilha dos direitos e deveres civis,
a divisão dos recursos econômicos. Ao olhar para o exemplo grego, fica difícil não se perguntar se
o que vivemos nos dias atuais, apesar de sustentar um nome homônimo, seria verdadeiramente
uma democracia.
Quem era eloquente e, ainda assim, bastante proativo acabava, pela lábia, exercendo cargos hoje
políticos, mesmo sem precisar ser eleito – caso, inclusive, de Péricles, citado anteriormente. Por
conta disso, alguns jovens atenienses endinheirados recorriam a um grupo de professores
chamados de sofistas (algo como “sábios”) para que estes lhes ensinassem as manhas da fala em
público.
Diferentemente dos filósofos (philo = amigo + sophia = saber), os sofistas não se preocupavam
com o mundo supralunar, como Aristóteles chamaria o espaço sideral. Além disso, diferentemente
dos pensadores originais (também conhecidos como pré-socráticos), eles não queriam saber da
origem do mundo nem tentavam entender a physis (em uma tradução aproximada, tudo o que é
a “natureza”). Estavam mais preocupados diretamente com as questões morais e políticas, isto é,
os temas mais pragmáticos da vida pública. Em vez de olhar para o alto e divagar, miravam o
pequeno, o próximo, aquilo em que podemos influir diretamente. Em vez de tentar explicar o
mundo de uma vez só, como os pré-socráticos, esforçavam-se para dar conta, buscavam o melhor
jeito de influir na vida de sua própria sociedade. Ou seja, em vez da abstração, pregava-se a
materialidade.
Os sofistas afirmavam que “o homem é a medida de todas as coisas”, como famosamente disse
Protágoras de Abdera, um dos mais famosos sofistas. Tal frase – uma espécie de resumo da
filosofia sofista – já demostra que o diálogo sofista era mais concreto. Há, ao menos, duas
formas – uma quase antagônica à outra – de interpretá-la, e ambas reforçam esse aspecto mais
“pé no chão”. Em primeiro lugar, mostra a tentativa de se criar um conjunto de regras pessoais (daí
o homem ser a medida) para a tomada de decisões, para fazer escolhas, para, enfim, viver.
Seguindo esse raciocínio, essas normas seriam baseadas em uma visão mais próxima do
humano, sem a necessidade da descoberta de um âmbito superior ou secreto, algo que fosse
alcançável apenas por procedimentos complicadíssimos. Era uma proposta mais acessível,
portanto, e que, além do caráter mais democrático , poderia ser ensinada. Isto é, a verdade na
qual estamos apoiados não seria algo distante e imóvel no tempo e no espaço, como sugere, por
exemplo, o filósofo pré-socrático Parmênides, mas poderia ser entendida a partir de uma leitura
pessoal, imanente, “humana”.
Aliás, não é de se espantar que o teatro, com seus diálogos e suas encenações públicas, tenha
florescido na mesma época da democracia ateniense. A audácia de colocar em questão mesmo os
fundamentos mais tradicionais da própria sociedade estava incluída, mesmo que
inconscientemente, na proposta democrática. O teatro, com seus debates no meio da praça da
cidade, com várias vozes que se inter-relacionavam, era a atmosfera perfeita para a época.
Foi aproveitando essa pretensa liberdade de expressão que Sócrates, segundo os escritos
deixados por Platão – visto que ele mesmo nunca escreveu nenhuma linha –, destacou-se: ele
queria tentar criar parâmetros ideais que não dependessem apenas do homem.
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Estátua de Sócrates na Academia de Atenas, esculpida por Leonidas Drosis, 1880.
Veterano da guerra contra Esparta, onde salvou a vida do futuro político Alcibíades (450
A.E.C.-404 A.E.C.) e de seu futuro discípulo e escritor Xenofonte (430 A.E.C.-355 A.E.C.),
defensor da lei ateniense para julgar mesmo generais antipopulares, corajoso para enfrentar
tiranos que tentaram sequestrar adversários políticos, Sócrates não era uma figura exatamente
desconhecida em Atenas, mesmo antes de se tornar mestre de uma geração. Entretanto, apesar
das glórias acumuladas, ele não considerava nenhum desses acontecimentos como o mais
importante de sua vida.
Na Apologia de Sócrates, o filósofo-mor conta que foi outro o fato que mais marcou sua vida: a
declaração do oráculo do deus Apolo, localizado na famosa cidade de Delfos, bem no centro da
Grécia, de que ele, Sócrates, seria o homem mais sábio de todos.
Essa sua ignorância era o sinal de sua sabedoria, porque fazia com que ele, ao menos, soubesse
de algo: de que nada sabia. Daí vem a famosa frase: “Só sei que nada sei” (que não foi dita
exatamente assim, mas o sentido é esse mesmo). A partir desse momento, Sócrates entendeu
que sua tarefa era revelar a seus concidadãos a ignorância de todos. Começava, assim, sua
missão. O “mais sábio entre todos os homens” queria fazer com que as pessoas se conhecessem,
se encontrassem, fugissem de pseudoverdades, não acreditassem em falsas ideias ou meras
opiniões. O importante era se descobrir, mergulhar dentro de si, racionalmente, e perceber o que
era a verdade.
Ao contrário dos sofistas, Sócrates não cobrava por seus ensinamentos, pois se imaginava em
uma tarefa com inspiração divina, uma vez que teria sido iniciada pelo oráculo de Apolo. Isso
causou diversos problemas de relacionamento em Atenas para Sócrates.
Se os sofistas mantinham, de certo modo, o status quo (no estado em que encontravam antes),
dado que só ensinavam quem já tinha dinheiro, o filósofo ateniense chegou a conversar sobre
Matemática até mesmo com um escravo. A atitude audaciosa, ainda que não abertamente
intencional, não deixava de ser um jeito de demonstrar certo desprezo pelas regras da democracia
ateniense, que mantinha os homens não livres como o ponto mais baixo que se poderia descer na
escala social.
APOLOGIA DE SÓCRATES
ATENÇÃO
É importante lembrar que quando falamos de “homens não livres” (ou escravos), nesse contexto
da Antiguidade, e especialmente na cidade-Estado de Atenas, não estamos nos referindo ao
mesmo tipo de escravidão ocorrida, no continente americano, por exemplo, durante o período
colonial (séc. XVI-XIX). Na Antiguidade, a escravidão acontecia, geralmente, sob duas condições:
ou se era um prisioneiro de guerra, ou alguém que estava endividado. Em ambos os casos, o
escravo exercia a mesma função/profissão que tinha em sua nação de origem (ou antes do
endividamento). Condição inconcebível, como sabemos, no Colonialismo, quando o escravo era
considerado “ser humano de espécie inferior” em relação a seu dono.
O confronto entre a filosofia socrática e a retórica dos sofistas era uma constante. O diálogo
platônico Górgias (famoso sofista) é um exemplo disso. Na obra, contada – ressalte-se – do
ponto de vista socrático, há o choque entre a integridade moral, que seria uma característica dos
filósofos, e a busca por poder político, imputações feitas aos sofistas.
Sócrates acusa os sofistas de serem amorais, sem se importar com as necessidades de buscar o
que seria o certo e evitar o errado, sem se interessar em distinguir o que é nobre do que é
vergonhoso.
Os sofistas, por sua vez, dizem que a filosofia seria uma retórica inferior, um brinquedo lógico. Na
melhor das hipóteses, um jeito de educar os jovens, jamais uma ferramenta decente para os
adultos.
Sócrates rebatia dizendo que a retórica, técnica oratória ensinada pelos sofistas, era, no máximo,
um truque para agradar as pessoas, e que apenas a filosofia produzia uma verdadeira tékhnē
que busca a bondade nas almas. Seu objetivo seria, por fim, produzir bons cidadãos.
O embate entre as duas escolas de pensamento no diálogo é tamanho que sobra para a
democracia ateniense, vista ali como impossível de ser boa. Mas não para por aí!
A política, continua o incansável Sócrates, deveria ser confundida com a filosofia e produzir bons
cidadãos, que “conhecem a si mesmos”, como estava escrito no oráculo de Delfos e como o
filósofo repetia sempre. Aqueles que não são comedidos, não são racionais, não se entendem,
são incapazes de ter amizades e, assim, de viver em comunidade.
Para responder à pergunta levantada no início deste módulo, Sócrates, e não os retóricos sofistas,
poderia e deveria ser visto como um bom, belo e verdadeiro exemplo de político, porque ele era
um filósofo.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
E) Ter baixa participação dos atenienses, que preferiam cuidar de seus próprios negócios.
2. QUERENDO CRIAR UMA MANEIRA DE PENSAR QUE ELE APELIDOU DE
FILOSÓFICA, SÓCRATES COMBATIA DIRETAMENTE O GRUPO DOS
SOFISTAS, CONSIDERADOS ADVERSÁRIOS INTELECTUAIS. ASSINALE A
SEGUIR A ALTERNATIVA QUE MAIS BEM DEFINE A FILOSOFIA, SEGUNDO
SÓCRATES.
GABARITO
2. Querendo criar uma maneira de pensar que ele apelidou de filosófica, Sócrates combatia
diretamente o grupo dos sofistas, considerados adversários intelectuais. Assinale a seguir
a alternativa que mais bem define a filosofia, segundo Sócrates.
Enquanto acreditava que os sofistas só se preocupavam em ensinar jogos retóricos a quem lhes
pudesse pagar, Sócrates via na filosofia um caminho oposto, moral. Era por meio dela que se
podia alcançar o bem supremo.
MÓDULO 2
Descrever o investimento político das obras platônicas
A PRODUÇÃO POLÍTICO-FILOSÓFICA DE
PLATÃO
Apesar de viver no auge do período democrático da cidade de Atenas, na Antiguidade, Platão não
estava convencido de que essa fosse a melhor forma de governo. Muito de sua má vontade se
justificava exatamente porque seu mestre Sócrates – “o homem mais sábio de todos” – tinha sido
condenado à morte por essa mesma democracia.
Todos os seus escritos foram produzidos após a morte de seu professor e depois de o filósofo
também tentar uma carreira política. Portanto, esses escritos carregaram, de um jeito ou de
outro, certo posicionamento político.
A partir dessa sua formação e observando de perto toda a sua literatura, até seria possível dizer
que toda – ou, ao menos, grande parte – de sua produção filosófica pode ser, no fundo, lida como
um pensamento político em constante amadurecimento. Isso, claro, não no sentido mais simples e
amplo do termo, de tratar diretamente de questões organizacionais do Estado, mas conforme
citado no módulo 1: a política como uma preocupação também ética com a criação de um homem
que estivesse interessado em ser correto, não corrompido pelas idiossincrasias (peculiaridades)
dos tempos, ou, nos termos platônicos, um homem livre que buscasse as formulações eternas
sobre o belo, o verdadeiro e o bem.
Por duas vezes Platão foi convidado a ir à Siracusa, colônia grega na ilha da Sicília, para
atuar como conselheiro dos tiranos que governavam a cidade. Primeiro, durante o governo
de Dionísio I, de cujo cunhado, Dion, Platão havia se tornado amigo, e, a seguir, quando
Siracusa passou às mãos de Dionísio II. No entanto, em ambas as tentativas, Platão deixou
a Sicília sem conseguir instituir nenhuma reforma política significativa.
Fonte: Shutterstock.com
Edifício da Academia de Atenas, construído no centro da cidade pelo Ministério da Educação
da Grécia, em 1926. Ornamentam a entrada do prédio principal estátuas de Sócrates (à direita) e
de Platão (à esquerda).
A tarefa inicial do diálogo mais famoso de Platão é criar uma polis perfeita que sirva como ideal
ou paradigma para todas as cidades. O fato de representar “apenas” um modelo é um dos pontos
mais importantes na leitura e interpretação da obra A república , pois protege Sócrates (e Platão)
de algumas – mas não todas – controvérsias que a envolvem.
JUSTIÇA INDIVIDUAL
Platão acreditava que, por analogia, há traços de referência entre o corpo político de uma
cidade e o corpo humano, com todas as suas próprias contradições. Ao falar sobre justiça
individual , ele criou a argumentação para se abordar a noção de justiça em geral. E o
inverso é igualmente verdadeiro: a construção da cidade ideal é, também, uma maneira de
tentar analisar a justiça na própria alma. Esse é um mecanismo que sempre utiliza ao longo
de toda a obra A república , com maior ou menor assiduidade.
Em sua cidade bela, justa e verdadeira, é preciso garantir a maior produtividade dos indivíduos,
sem desvio de atenção para coisas “supérfluas”, como a arte narrativa, teatral ou pictórica que
mostra a história de confrontos raivosos, traições, vinganças, sentimentos que atrapalham a
harmonia e o equilíbrio. Nesse caso, sobra para os poetas, rapsodos, atores, coristas,
empresários e artífices, sobretudo os que produzem “adereços femininos” – em suma, toda essa
laia artística. Estes, ele quer fora da cidade ideal.
RAPSODOS
Trabalhador, operário, artesão que produz algum artefato ou que professa alguma das artes.
Em vez deles, para povoar tal cidade, Sócrates sugere uma série de profissões mais “úteis” para o
bem de todos e a felicidade geral. E a mais útil de todas, de acordo com o filósofo, é a do
guardião, porque, além de proteger a cidade de ataques externos, é dessa classe que sai,
também, o legislador, que poderá produzir as melhores leis do povoado. O problema se resume,
então, a como se forma essa classe social.
Em vez disso, Sócrates sugere como pedagogia o treinamento físico e o ensino da Matemática e
da música – arte que ele salva explicitamente. O “homem mais sábio de todos” defende a música
“porque o ritmo e a harmonia penetram mais fundo na alma e afetam-na mais fortemente, trazendo
consigo a perfeição” (PLATÃO, 2001) – repetindo um argumento também presente no diálogo
Protágoras .
Sócrates até aceita que sejam contadas certas ficções, algo como mentiras nobres, na criação das
crianças que serão os futuros guardiões. Ele propõe, por exemplo, inventar que os habitantes da
cidade ideal são autóctones, isto é – na tradução da palavra grega que ele quer usar –, nasceram
literalmente de dentro da terra, sem mãe nem pai humanos. Assim, todos os habitantes de tal
cidade seriam irmãos. A sociedade inteira, por consequência, estaria unida em uma única família,
o que nos leva a entender onde se encontra sua proposta de abolir a família nuclear – essa em
que haveria uma mãe e um pai para cada pequeno grupo social formado com os filhos.
Continuando dentro dessa nobre mentira, as diferentes classes corresponderiam apenas aos
distintos tipos de metal de que cada um dos estratos era formado. Por isso que aqueles feitos de
ferro ou bronze, aptos a ser fazendeiros ou artesãos, não poderiam ser guardiões. Todos, contudo,
nasceriam da mesma terra. O ponto principal, portanto, fica inalterado: criar um profundo
sentimento de pertencimento em todos os habitantes dessa cidade à terra em que ou, segundo
essa “versão”, de que nasceram.
A justiça, nessa localidade, aparece como uma consequência desse cuidado mútuo. Todas as
pessoas se percebem como iguais e pertencendo ao mesmo lugar. Há um sentimento de harmonia
social (a analogia social e individual aparece aqui outra vez). A justificativa para se usar ficção
nesse trecho, e não anteriormente, quando expulsam os poetas da cidade, fica para o fato de que
Sócrates não acredita que possa haver tal harmonia social sem que as pessoas verdadeiramente
creiam em seu íntimo que essa é a ordem natural das coisas. Sem moldar as almas, diria
Sócrates, não se constrói ou se muda uma sociedade.
Fonte: sancastro/Shutterstock.com
Réplica da estátua do imperador Marco Aurélio, na Piazza del Campidoglio, em Roma. Marco
Aurélio, que governou Roma entre 161 e 180 d.C., também era filósofo, tendo recebido forte
influência do pensamento grego. Além disso, é considerado um dos mais bem-sucedidos
imperadores romanos.
POLITEIA
Termo grego com múltiplas possibilidades de leitura, que faz referência à constituição, ao
sistema político ou, ainda, ao ordenamento da estrutura política.
Era o título original do clássico platônico, rebatizado com o termo latino “República” a partir
da tentativa do pensador romano Cícero (106 A.E.C.-43 A.E.C.) de emular Platão,
escrevendo o livro De re publica . Mas o grande Cícero não foi o único a querer copiar
Platão. É o caso, por exemplo, de Utopia , do inglês Thomas Morus (1478-1535), que usa o
termo grego que quer dizer “não lugar” para reforçar essa proposta de imaginação de outra
cidade.
A relevância era dada para a felicidade da cidade inteira, não de uma classe em especial, talvez
do indivíduo. Sócrates ainda tenta contra-argumentar: dentro de uma estrutura de pensamento
como a proposta pela obra A república , os guardiões certamente seriam felizes.
Se não bastasse essa falta de liberdade, as técnicas de especialização dos cidadãos e,
principalmente, a proposta eugênica para a produção de uma raça “superior” arrancam calafrios
pela desconfortável semelhança com as propostas nazifascistas, sem falar na propaganda política
como modo de lavagem cerebral de seus cidadãos. E o que dizer de toda a relação misógina, que
era o padrão do período em que viveu Sócrates?
Mesmo que nas obras de alguns filósofos – como em A república , de Platão – haja uma explícita
proposta de equiparação de atuação de homens e mulheres na vida pública, não podemos
esquecer que a vida social de determinada época não é espelho de sua literatura.
SAIBA MAIS
O papel das mulheres em A república de Platão (livro V): utopia no feminino ou tópicos para uma
reflexão propedêutica sobre Direitos Humanos , de Susana Mourato Alves-Jesus.
Mas há de se pensar que os tempos eram outros, e julgar um momento histórico com as regras de
outro é o pecado mais repudiado pelos historiadores. Tal falta grave recebe o nome de
anacronismo (aliás, outro termo que vem do grego!). No entanto, não há muita escapatória quando
se fala da crítica feita por Aristóteles – quase contemporâneo de Sócrates. Para o estagirita, essa
obsessão por unidade na polis perfeita seria a ruína, não a salvação da cidade.
A importância da obra platônica para o pensamento político não pode ser, de maneira nenhuma,
descartável, principalmente porque o filósofo faz uma sugestão que coloca em questão todo o
pensamento de teoria política desde aquela época até os dias atuais.
Criticando Atenas por ser uma sociedade “democrática” – e que, apesar de todas as ressalvas já
levantadas, tinha muito mais participação popular que outras cidades da época –, Sócrates propõe
outra forma de organizar os agrupamentos populacionais. Em vez do poder de muitos
(democracia), portanto, de gente pouco especializada – e que podia condenar inocentes, como no
caso socrático –, ou de poucos e ricos (oligarquia); ou em vez de o poder ficar na mão de apenas
uma única pessoa – e essa pessoa querer todo o poder para si (tirania); o poder deveria ser
entregue para uma única pessoa, sim, mas alguém extremamente especializado, como acontecia
com todas as coisas em “sua” cidade.
Segundo Platão, era necessária uma compreensão racional da eterna realidade da verdade, que
poderia ser incentivada por uma educação especial em todas as ciências matemáticas. É nesse
momento que aparece a mais famosa alegoria da história da filosofia.
O MITO DA CAVERNA
GLAUCO
Assim, Sócrates narra, em um dos momentos mais metafísicos e metafóricos da obra, a ascensão
do homem comum rumo à verdade eterna e, consequentemente, sua transformação em um
filósofo.
É a partir dessa passagem que Sócrates defende que a única chance de se construir uma
sociedade ideal seria fazer com que ela fosse governada por um filósofo ou tornar seus
governantes, por meio de um programa educacional apropriado, filósofos. Apenas os filósofos
escapariam da degradação moral das coisas corriqueiras.
Mesmo que eles não queiram, a princípio, assumir o cargo, posto que teriam de abdicar de seus
outros afazeres, vivendo nessa cidade ideal, eles acabariam por assumir tal função por uma
questão de justiça, para desempenhar sua função específica e apropriada nessa sociedade
“perfeita”.
Observe a explícita intenção de Platão de reforçar a importância de uma ética interna forte para a
produção de um governante ideal, que, por consequência, produziria uma cidade politicamente
estável, unida e harmônica.
Mais que um processo analógico (de comparação), o que Platão está fazendo é uma relação de
interligação e interdependência, até mesmo de interface e igualdade, entre a esfera privada e a
pública. Por isso, no fim do livro, Sócrates insiste em dizer que a harmonia psíquica, que, como
vimos, é uma das formas de felicidade para o filósofo, é a politeia da alma, ou, em outros termos,
o ordenamento político do espírito.
A cidade ideal não necessariamente é possível – talvez nem se queira que seja. Porém, como diz
Sócrates, ela pode ser “um modelo no céu, para quem quiser contemplá-la e, contemplando-a,
fundar uma para si mesmo” (PLATÃO, 2001).
POLÍTICO
Segundo a datação mais comumente utilizada, A república é uma das primeiras obras escritas
por Platão, em que o protagonismo de Sócrates, tanto como personagem quanto como influência
sobre o pensamento platônico, aparece mais realçado.
Em outro escrito, com Sócrates como personagem menor (em ambos os sentidos mencionados
anteriormente), podemos ver outra vez como Platão encara o problema da melhor maneira de
governar uma sociedade – dessa vez, com uma tentativa mais forte de conciliar os aprendizados
práticos com suas idealizações teóricas. O nome da obra, escrita, de acordo com alguns
estudiosos, após sua segunda passagem pela Sicília, é, simplesmente, Político .
O título se consolidou apesar de alguns intérpretes verem uma diferença na obra entre o político,
em si mesmo, e o estadista. Categorizar alguém como político seria uma maneira de chamá-lo de
sofista – isto é, em uma leitura mais frouxa, algo como falso, dissimulado, hipócrita. Pode-se
perceber que as disputas entre filósofos e sofistas eram violentas.
HIPÓCRITA
Outra palavra de origem grega, mas que tinha outros sentidos, como o de “ator”.
Aliás, tanto Político quanto Sofista – outros dos diálogos platônicos – se passam no mesmo
“dia”, com os mesmos personagens, como se um (Político ) fosse a continuação do outro
(Sofista ). Há informações de que Platão teria intenção de escrever um terceiro diálogo para
fechar essa trilogia, que se chamaria, não por acaso, Filósofo , e retornaria o protagonismo de
Sócrates, mas tal obra foi abandonada.
Fonte: Ackland Museum, Chapel Hill, North Carolina, United States of America/Wikimedia
commons/Domínio público
A espada de Dâmocles , Richard Westall, 1812. Dâmocles era cortesão de Dionísio de
Siracusa, a quem bajulava e afirmava ser um homem verdadeiramente afortunado. Segundo a
anedota, popularizada por Cícero, o governante, para demonstrar como era aflitiva a situação
daqueles que detêm o poder, convidou Dâmocles a tomar o lugar principal em um banquete, mas
mandou pendurar sobre sua cabeça uma espada, sustentada por um fio de crina de cavalo.
O certo é que, após as experiências frustradas de tentar transformar o tirano Dionísio de Siracusa
em um rei filósofo, o ideal máximo platônico de governante, tendo ficado, inclusive, retido por
Dionísio, na Sicília, e precisado fugir, Platão acreditava que era importante dar atenção às
dificuldades de governar que apareciam no cotidiano. O mundo não existe apenas na abstração; é
necessário encarar a realidade, com suas contradições e seus vetores de forças, nem sempre
“justos” ou “verdadeiros”.
Por isso, uma das principais sugestões da obra é a tecedura (ato de tecer algo): um estadista é
aquele que consegue não apenas saber o momento apropriado (em grego, a palavra usada é
kairós ) de aplicar seus conhecimentos específicos, mas também aquele com a capacidade de
entremear os diferentes elementos da sociedade para que ela se torne única.
Apesar de a preocupação com a realidade ser claramente maior nesse escrito, tal político é
construído, mais uma vez, como um paradigma, como é comum nos escritos platônicos,
exatamente como foi o rei filósofo de A república .
Segundo Platão, devemos nos aproximar ao máximo desse ideal, mas sabendo que,
provavelmente, nunca o atingiremos. Ele teria experiência em comandar, obtida por meio dos
estudos, mas seria o mais difícil e o mais importante tipo de conhecimento a se adquirir.
Na ausência de um político ideal como esse (ou de um rei filósofo), Platão sugere que fiquemos
mesmo com a legislação, de maneira a conservar o ensinamento deixado no passado, uma vez
que as leis são “imitações da verdade executadas o mais perfeitamente possível sob a inspiração
daqueles que sabem” (PLATÃO, 1930), como diz o Estrangeiro.
ESTRANGEIRO
Personagem sem nome que provém de Eleia – mesma cidade dos pensadores pré-
socráticos Parmênides e Zenão.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. AO COMEÇAR A “POVOAR” NA IMAGINAÇÃO SUA CIDADE IDEAL,
PLATÃO, POR MEIO DE SÓCRATES, “EXPULSA” POETAS, DRAMATURGOS
E OUTROS ARTISTAS. QUAL É O ARGUMENTO PARA SE PROIBIR ESSAS
ARTES?
A) São úteis demais, criando uma dificuldade de imaginação além delas próprias.
B) Inflam nos escravos a vontade de lutar por suas liberdades, o que atrapalharia a economia
grega.
C) Demonstram como as mulheres são iguais aos homens, o que contrariaria o senso comum da
época.
D) Era uma maneira de acabar com as diferenças de classe entre cada um dos moradores dessa
cidade idealizada.
E) Ele estava defendendo a própria profissão e querendo arranjar uma fonte de renda fixa, uma
vez que não recebia nada por suas aulas.
GABARITO
1. Ao começar a “povoar” na imaginação sua cidade ideal, Platão, por meio de Sócrates,
“expulsa” poetas, dramaturgos e outros artistas. Qual é o argumento para se proibir essas
artes?
Com Homero e Hesíodo em mente, poetas famosos de sua época e muito usados para educar as
crianças, Sócrates queria evitar que houvesse perturbações emocionais entre os futuros cidadãos
de sua cidade ideal. Ele os considerava poetas que criavam histórias, mesmo que pudessem ser
verdadeiras, imorais, pois não miravam a temperança, o equilíbrio.
2. Sócrates defendia que a única forma de construir uma sociedade ideal seria fazer com
que fosse governada por um filósofo ou tornar seus governantes filósofos, porque:
No mito da caverna, Sócrates narra a história de um homem que se desvencilhou dos grilhões da
escuridão e conseguiu chegar à luz – é o filósofo. Os demais habitantes do mundo continuariam
vendo sombras sem enxergar as verdades eternas. Portanto, apenas o filósofo seria capaz de
guiar uma cidade, por não se contaminar com as misérias do dia a dia.
MÓDULO 3
Reconhecer a preocupação de Aristóteles quanto à associação entre a ética e a melhor
forma de organização social em prol do alcance do bem viver
ARISTÓTELES × PLATÃO
Fonte: serato/Shutterstock.com
Escola de Atenas, Rafael Sanzio, início do século XVI. Afresco no Vaticano.
No início do século XVI, quando pintou a Escola de Atenas , Rafael Sanzio (1483-1520) escolheu
para colocar bem no centro do afresco os dois principais filósofos que o Renascimento estava
ajudando a consolidar como os mais importantes da Antiguidade. Nenhum dos dois é Sócrates,
que, no painel de quase sessenta figuras históricas, aparece apenas em um canto, conversando
com seus alunos, como era seu costume.
Na área com mais destaque da pintura de mais de 5 metros de altura por quase 8 metros de
largura, que fica atualmente no Vaticano, perto da Capela Sistina, estão Platão e Aristóteles.
Caracterizado como o muso da época Leonardo da Vinci, Platão segura um tomo de sua obra
Timeo , que aprofunda alguns dos temas levantados por A república e vai além: em linhas
gerais, trata de uma explicação cosmológica da origem do mundo. Para mostrar onde estão os
fundamentos em que ele se baseia, “Platão da Vinci” aponta para o céu, deixando explícito de
onde vinha sua noção de bem.
A seu lado, Aristóteles apresenta os traços do artista toscano, mestre da perspectiva Bastiano da
Sangallo, cujo apelido era exatamente Aristotile (como se escreve em italiano), por conta de seu ar
grave e meditativo, que lembraria o do estagirita. “Dizemos que as coisas sérias são melhores do
que as risíveis”, teria dito, certa vez, o filósofo.
Aristóteles segura com a mão esquerda sua Ética a Nicômaco e está com a direita espalmada,
estendida à frente, como se quisesse deixar clara a sua oposição ao colega da filosofia.
Opostamente ao pensamento associado a Platão, Aristóteles sugeriria que o mundo a se
preocupar era este, aqui e agora. Em vez de tentar buscar alguma explicação no céu, temos de
nos importar em como viver – e bem – nas cidades em que nascemos, crescemos, criamos laços
e vamos morrer, não com as idealizadas.
Apesar da grande bagagem platônica que Aristóteles carregou ao longo da vida, por ter estudado
cerca de vinte anos com o mestre Platão na famosa Academia de Atenas fundada por ele, o
estagirita tentou ao longo de sua vasta produção intelectual distanciar-se do professor.
A obra de Aristóteles, com quase duas mil páginas que chegaram até nós, pode ser considerada
um misto de continuação e variação dos textos platônicos: continuação por revisitar os temas
levantados pelo antecessor, e variação por tentar dar um caráter menos relacionado aos
idealismos platônicos e mais aos sentidos, à realidade.
OBRA DE ARISTÓTELES
A quase totalidade dos escritos clássicos da Grécia ou de Roma foi completamente perdida.
As cópias possuem séculos de distância entre os originais. As 49 cópias das obras de
Aristóteles possuem uma distância de 1.400 anos; as únicas 7 cópias de Platão, 1.200 anos;
as 10 cópias de Guerra Gália , de Júlio César (Roma), 1.000 anos. Curiosa exceção se faz
com a Ilíada , de Homero, com mais de 600 cópias e 500 anos de distância; e os livros do
chamado Novo Testamento , com mais de 5.600 cópias no idioma original, e a maioria com
apenas 30 anos de distância.
O grego comum daquela época achava que ambos os aspectos (o âmbito do que é certo e do que
é errado, e o âmbito da reflexão sobre a melhor maneira de se governar as cidades-Estados)
deveriam estar bem entrelaçados – por mais que essa sobreposição possa soar algo estranho a
certos ouvidos da atualidade.
Aristóteles escreveu livros para os mais variados assuntos específicos possíveis. Pense em um
tema. Provavelmente, ele já o abordou, ao menos de passagem. Em geral, a cada obra, ele
escolhia um tema em separado (biologia, zoologia, antropologia, psicologia etc.) e o explorava até
o fim.
Em Ética a Nicômaco , entretanto, texto que foi pensado para ser uma espécie de primeiro de
dois volumes, ele aborda em sua completude a “filosofia sobre os assuntos humanos”
(ARISTÓTELES, 2017). O segundo tomo assume exatamente a estrutura de um novo livro,
chamado de A política (ARISTÓTELES, 2011), onde dá continuidade àquela mesma reflexão.
Ambos os livros se mencionam e, certamente, complementam-se.
Não se sabe ao certo quando Aristóteles escreveu sua mais famosa ética . Ele também compôs
uma Ética a Eudemo , mas muito menos impactante. Há, ainda, outras obras que abordam o
tema, supostamente escritas por Aristóteles, mas suas autorias são contestadas.
Também não se tem certeza sobre quem seria o Nicômaco a quem a ética é “dedicada”. Pode
ser tanto o pai de Aristóteles – médico na corte da Macedônia que muito o influenciou em sua
formação – quanto o filho de Aristóteles – que também tinha o mesmo nome do avô e, especula-
se, teria sido o responsável por editar essa obra.
O que é certo é o tema da obra: mais do que tratar de deveres e obrigações, a ética aristotélica
quer fazer com que nós encontremos nada mais, nada menos, que a felicidade. Em grego, a
palavra é eudaimonia (que traduzimos por felicidade ) e quer dizer algo como “ter um bom
daimon ”, que, por sua vez, é o nome grego com uma tradição filosófica forte, citada de Platão a
Nietzsche – antípodas (contrários) do pensamento ocidental.
A melhor forma de entender o vocábulo é, talvez, pensar naqueles seres que aparecem na
mitologia árabe como “gênios” e saem das lâmpadas nas histórias de As mil e uma noites ou nos
desenhos da Disney. É uma versão aparentada do que nós chamaríamos de “anjo da guarda” ou
“santo” particular – seres sobrenaturais que acompanham cada pessoa a todo momento.
Mas a felicidade, para Aristóteles, não tem nada de sobrenatural nem de banal. Ele tenta construir
uma argumentação e uma profunda reflexão para tentar escapar das pegadinhas de confundir
felicidade com sentimentos mais imaturos ou com prazeres momentâneos, ou, simplesmente, com
a mera satisfação de um desejo. Felicidade, para ele, é algo que demonstra a excelência
específica humana, sua virtude (areté , em grego).
Filósofo alemão e crítico da cultura ocidental. Seu trabalho hermenêutico visa mostrar como
a racionalidade e a moralidade ocidentais são sempre o preconceito, o erro ou a mera
sublimação de impulsos vitais.
De acordo com Aristóteles, para ser feliz – esse tipo de felicidade virtuosa –, é necessário viver
bem como um ser humano. E, como sempre estamos dentro de algum tipo de comunidade,
vivendo gregariamente, o bem viver tem sempre relação com a organização desse agrupamento
de pessoas, o que reforça o argumento de que ética e política são duas partes da mesma
preocupação.
Mas, para Aristóteles, virtude não é um termo vinculado a uma aleatoriedade, algo com o que
nascemos, bastando sermos sortudos. É um traço de nossa personalidade, um meio pelo qual
conseguimos atingir algo, no sentido que ficou preservado na expressão “em virtude de”. Pode-se
dizer que somos felizes em virtude de sabermos utilizar, ao máximo possível, as potencialidades
que são características nossas. Ou seja, seremos felizes se conseguirmos alcançar o que é o
“bem” humano. Esse seria o objetivo de toda vida humana – e, se não houvesse esse objetivo, a
vida seria vazia e sem sentido.
Todavia, dizer que ser feliz é explorar ao máximo nossas virtudes ou alcançar o que é o bem
humano não explica muito a questão.
A começar, ele explica que, muitas vezes, o “bem” é um problema social: é determinado pela
comunidade em que você está inserido. O que é bom para um grupo pode ser visto como ruim
para outro, e vice-versa. Esse, inclusive, é mais um argumento para a interconexão entre ética e
política, mas ainda não soluciona nossa questão.
Para ajudar a explicar o que seria esse bem, que, por sua vez, seria a finalidade da vida,
Aristóteles passa uma boa parte do livro investigando as virtudes humanas por meio de suas
atividades características, como coragem, generosidade, justiça etc. Ele repara em quais virtudes
o bem é associado e percebe que são as pessoas corajosas, generosas e justas aquelas
chamadas de boas.
Contudo, ficamos ainda na dúvida sobre o que é exatamente o bem. O que dá para suspeitar é
que haveria uma associação virtuosa entre algo bem vivido (ou feito) e a finalidade da vida. “Na
medicina, é a saúde; na estratégia, a vitória; na arquitetura, uma casa”, escreve Aristóteles,
tentando explicar esse objetivo final ou teleológico, como se diz em filosofês . Talvez um exemplo
(que não é dado por Aristóteles) funcione para clarear as ideias.
O objetivo de “vida” de um martelo não é ter sido construído para, digamos, bater um prego – isso
qualquer objeto com alguma solidez conseguiria, mal ou bem –, mas ser capaz de bater esse
prego, salvo falhas de quem o empunha, bem . Isso significa que, além de ser capaz de bater um
prego, como qualquer pedra seria, tem de empurrar o prego para dentro da parede de maneira a,
por exemplo, não destruir a superfície em que o prego é inserido ou com o menor esforço possível
de quem está martelando, ou, ainda, impedir que não se martele o próprio dedo.
Ao fim do primeiro tomo (são dez ao todo), Aristóteles (2017) sugere, então, que haveria três tipos
de vidas que poderiam ser consideradas bem vividas: uma vida de prazeres, uma vida política e
uma vida devotada à contemplação e ao estudo filosófico.
No décimo tomo, após tratar de justiça, amizade e outros temas, ele descarta uma vida só de
prazeres (ao menos alguns deles), considerando que deveríamos nos preocupar com assuntos
mais “importantes”, segundo seu ponto de vista (ARISTÓTELES, 2017).
É só um pouco antes de terminar a obra que Aristóteles conclui que a razão é a “a melhor coisa
que existe em nós” e, portanto, nada mais justo que considerá-la o caminho para saber o “fim” do
homem, o que traria mais felicidade a ele. Além disso, a razão é completamente autossuficiente,
não depende de nada nem de ninguém, é pura, não poder ser contaminada e tem uma
durabilidade razoavelmente independente de fatores externos: com a devida tranquilidade, pode
se entreter com os próprios pensamentos em muitos lugares e muitas situações (ARISTÓTELES,
2017).
Por conta disso, Aristóteles (2017) arremata, bem ao estilo do homem que foi chamado de O
filósofo pelos medievais: o objetivo último da vida humana, portanto, sua felicidade, é a atividade
intelectual mesma, porque a “sabedoria filosófica é reconhecidamente a mais aprazível das
atividades virtuosas”.
AS DIFERENTES CONSTITUIÇÕES
Segundo os comentadores de Aristóteles, a Ética para Nicômaco teria sido escrita para
legisladores e estadistas. Portanto, não deveria espantar a preocupação em terminar a obra com a
sugestão de se investigar os diferentes sistemas políticos que, porventura, fossem conhecidos à
época para se saber qual seria a melhor forma de governar um povo. E é possível já dizer ainda
na Ética : assim como Platão, Aristóteles também era contrário à democracia, ao menos da
maneira como era feita por Atenas.
Além de achar que a democracia era o mau governo da maioria, que beneficiaria apenas alguns,
em vez de focar em todos os cidadãos, em um bem comum, Aristóteles também tinha uma
motivação pessoal para se colocar contrariamente ao sistema ateniense. Assim como Sócrates,
antes dele, o estagirita foi igualmente perseguido na mais famosa cidade-Estado grega, em um
momento em que os atenienses estavam se revoltando contra todo macedônio e, principalmente,
contra qualquer pessoa relacionada a Alexandre Magno. Aristóteles não somente tinha crescido na
corte da Macedônia (onde seu pai atuou como médico), mas também tinha sido um professor de
Alexandre.
Diferentemente de seu “avô” intelectual, que, condenado à morte, aceitou a pena e tomou cicuta
oficialmente, Aristóteles fugiu da cidade, com o argumento de que não iria “permitir que os
atenienses pecassem duas vezes contra a filosofia”.
Ainda de acordo com alguns estudiosos da obra aristotélica, o filósofo teria escrito um pequeno
livro sobre a história política de Atenas, ao qual deu o nome de A constituição dos atenienses . A
autoria do livro é controversa por diversas razões – por exemplo, ele se mostrar mais favorável à
democracia que em outros escritos. O que se pode considerar como mais provável é que nesse
texto, como em outros aristotélicos, o estagirita teria recebido ajuda de alunos de seu Liceu. O
livro consiste em um exame de 158 constituições diferentes da cidade.
Além da abordagem teórica das diferentes formas de governo do passado, há, também, na
segunda metade do livro, uma tentativa de interpretação de como era o governo ateniense no
período em que Aristóteles vivia lá. Ele fala desde como era feito o recenseamento até como
eram escolhidos os magistrados. Trata-se de um trabalho historiográfico exaustivo e
importantíssimo para entender como funcionava o primeiro sistema de governo no Ocidente (ao
menos o primeiro conhecido) a dividir entre seus cidadãos o poder das decisões sobre todos
(ARISTÓTELES, 2015).
Em A política , livro dedicado a teorizar sobre organizações sociais, Aristóteles criticou muito a
democracia ateniense, considerando-a demagógica e um caminho inevitável em direção à tirania –
esta, ainda, a pior forma de governo possível por concentrar em apenas uma pessoa os benefícios
de toda a sociedade.
Suas críticas à democracia, junto a seu costumeiro racismo, sua frequente xenofobia, seu
machismo e sua defesa da predominância masculina no poder e, por fim, a justificativa da
escravidão fizeram com que esse tratado político fosse malvisto até, de modo razoável,
recentemente na história da filosofia.
CICUTA
Suco extraído da cicuta-da-europa, espécie rica em conicina, um dos venenos mais letais
que existem, usado na Grécia Antiga para executar condenados.
LICEU
Espécie de primeira universidade do mundo montada por Aristóteles, em Atenas, logo após
Alexandre conquistar a cidade.
RECENSEAMENTO
Arrolamento dos indivíduos que estão nas condições previstas por lei de fazer certos
serviços, desempenhar cargos ou exercer funções.
O inglês Thomas Hobbes (1588-1679), autor de Leviatã – um dos maiores clássicos das Ciências
Políticas –, chegou a dizer que, improvavelmente, encontraríamos texto mais repugnante que A
política de Aristóteles. Assim como aconteceu com Platão, Aristóteles também foi visto como
totalitário por alguns intérpretes da atualidade – e, novamente, precisamos nos atentar para os
anacronismos!
A política – mesmo para Hobbes e liberais como John Locke (1632-1704) ou comunistas como
Karl Marx (1818-1883) – é vista até os dias atuais como uma obra incontornável na história da
teoria política, apesar de seus problemas e de ter, em certos aspectos, envelhecido mal.
Também não é uma concessão a Aristóteles, por conta do tamanho de seu nome, mas uma
constatação de que há abordagens do livro que podem ainda na atualidade funcionar. Muitos de
seus principais temas permanecem atuais, e continuam a reverberar e fazer sentido, tais como:
A justiça e a lei.
O estatuto do cidadão.
A educação pública.
A felicidade humana.
Na obra, Aristóteles mostra como o homem é um animal político. Ele tenta propor a melhor
maneira de organização social possível, indaga a respeito de quem poderia governar sobre os
outros e sobre que bases se apoiaria. Aristóteles faz, em geral, uma defesa de uma constituição –
ou seja, certa organização dos habitantes de um Estado – que beneficie o bem comum, em vez de
priorizar apenas algumas pessoas, como os próprios governantes. Para tanto, o filósofo lista seis
possibilidades de governo:
No início do livro A política , Aristóteles afirma que a melhor forma de governo seria a monarquia
ou a aristocracia. No meio da obra, ele muda de opinião e diz que, para a maioria das cidades-
Estados, o melhor mesmo seria uma constituição mista, que fizesse um agrupamento da
aristocracia com a politeia . Por fim, ele fala de uma cidade dos sonhos, em que todos os
cidadãos governariam.
O que fica dessas reviravoltas é a tentativa de não se fazer um único receituário que possa ser
aplicado a qualquer localidade, em qualquer condição. É importante entender as particularidades
de cada sociedade para que se encontre as respostas mais adequadas aos problemas daquele
lugar específico. Aqui, aparentemente, a crítica é direcionada a Platão, que costumava olhar para
cima e criar cidades imaginárias, e não enxergava os problemas à sua frente.
Qualquer pensamento ou razão deve ser encarado como, na pior das hipóteses, etapas para a
prática, o planejamento para se ir às ruas. Elas miram a ação e não apenas o entendimento. Deve-
se fazer, agir, não esperar “cair do céu” ou aguardar que um ou outro político faça por você.
No fim de Ética a Nicômaco , quando volta a falar sobre qual seria, afinal, a natureza da
felicidade, Aristóteles reforça que a eudaimonia não pode ser uma disposição, ou seja, não é
algo que estará conosco independentemente do que fizermos. Ele continua: “[...] se o fosse,
poderia pertencer a quem passasse a vida inteira dormindo e vivesse como um vegetal”
(ARISTÓTELES, 2017).
De volta à obra A política , é perceptível que o estagirita nos mostra o quanto não conseguimos
não ser políticos. Para fazermos bem nossa natureza política, devemos observar, analisar e
avaliar as possibilidades políticas que se nos apresentam, a fim de influir e transformar a
organização política que nos submete a algo que verdadeiramente tem como fim o bem de todos:
todos. Uma verdadeira democracia, enfim!
Chegou a hora de aprofundar um pouco mais os conceitos de Política, Ética e Felicidade no
pensamento aristotélico.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
C) Como somos animais gregários, o bem viver tem sempre relação com a forma de organizar as
pessoas.
B) Ter um rei filósofo como líder do governo para evitar a degradação moral.
D) Optar por uma monarquia ou uma aristocracia – as formas mais elitizadas de mando.
E) Evitar, a todo custo, uma tirania ou uma monarquia, que é quando todo o governo fica nas mãos
de uma pessoa só.
GABARITO
1. Diferentemente dos dias atuais, Aristóteles, como os gregos de sua época, acreditava em
um entrelaçamento entre ética e política. Assinale a alternativa a seguir que mostra as
razões pelas quais as duas noções deveriam estar entrelaçadas.
Assim como para seus contemporâneos, para Aristóteles, não haveria uma divisão dos âmbitos
privados e do que é de natureza estritamente pública. Para ser feliz, devemos lidar com todos os
aspectos de nossa vida. Isso inclui, certamente, a forma como nos organizamos na localidade em
que moramos.
Das seis formas de governo que cita, Aristóteles sugere que as melhores são aquelas que têm
como objetivo o bem comum e não priorizam determinados grupos sociais, mesmo que esses
grupos se intitulem como a maioria.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A obra A política sai de uma proposta teórica de apenas “organizar” uma coletividade de pessoas
para algo em que todos os cidadãos se preocupam e estão sempre inseridos. Mais que algo que
você pode escolher – ou não – participar, é parte da vida, como se alimentar ou arranjar uma
ocupação.
Pode ser que Platão e Aristóteles tenham caído de diversos cadafalsos (palanques) ao propor
alternativas à democracia. Mas, em geral, havia, no meio dos pitacos filosóficos, certa
preocupação em fazer o melhor para o bem comum, como chegou a deixar claro Aristóteles: que
todos fossem representados, todos pudessem atuar em suas atividades, todos pudessem
prosperar até seu objetivo final – a felicidade. E que ninguém, absolutamente ninguém, fosse
condenado por pensar de modo diferente dos governantes!
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. A política. Introdução de Ivan Lins. Tradução de Nestor Silveira Chaves. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de António de Castro Caeiro. São Paulo: Forense,
2017.
PLATÃO. A república. Introdução, tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.
EXPLORE+
Leia a obra No palácio do rei Minus, do grego Nikos Kazantzákis, que apresenta a figura de
Teseu no contexto da mitologia.
Assista ao filme Sócrates , de Roberto Rossellini, que mostra os últimos momentos em vida
do filósofo.
CONTEUDISTA
Ronaldo Pelli Junior
CURRÍCULO LATTES