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ATLETAS E JOGOS OLÍMPICOS1

Introdução
O foco desta pesquisa será o Período Arcaico grego, que compreende os séculos VIII a.C.
a VI a.C. e a documentação trabalhada no texto será um vaso chamado psykter, utilizado para
resfriar o vinho 2 . A documentação base para a pesquisa é um receptáculo confeccionado
aproximadamente entre os anos 520 a.C. e 510 a.C., encontrado na região da Ática e atribuído
ao artista Oltos2. Uma das pinturas presentes no vaso representa um atleta de lançamento de
dardos acompanhado de seu paidotribe, a obra também possui inscrições em grego clássico.

Desenvolvimento
Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fábio Lessa, “[...] as
práticas esportivas possuem uma historicidade e apesar disso, elas tanto no mundo antigo
quanto no contemporâneo criam espaços de coesão social, primando simultaneamente pela
ética e pela estética” (LESSA, 2007, p. 4). Com base na fala do autor, é cabível salientar que
o ideal de beleza para os gregos possuía forte ligação com a prática de exercícios físicos, uma
vez que o culto ao corpo estava presente até mesmo em suas competições atléticas, que eram
praticadas por atletas nus. Além disso, as práticas esportivas geravam o fenômeno de coesão
social através da união movida pela paixão das massas. O helenista e filólogo Fernando García
Romero explica na conferência Por que os gregos praticavam esporte 3 que existe grande
dificuldade em analisar documentos gregos antigos e não encontrar menção ao esporte, segundo
o filólogo “estudar o esporte grego antigo é estudar a essência da própria sociedade grega”. O
pesquisador destaca que o cuidado com o corpo é altamente valorizado pelos gregos, sendo
alvo de estudos de médicos e pensadores da época, que aprofundaram suas pesquisas sobre os

1
Este trabalho foi resultado da pesquisa desenvolvido na disciplina de graduação História Antiga ministrada
pela Profa. Dra. Maria Regina Candido.
2
Disponível em: https://www.metmuseum.org/art/collection/search/248306. Acessado em: 2 de janeiro de 2023.
2
Pintor de vasos grego que viveu durante o Período Arcaico, ativo em Atenas de 525 a.C. a 500 a.C., são atribuídas
cerca de 150 obras. Disponível em: https://artsandculture.google.com/entity/oltos/m08gv6d?hl=pt-BR.
Acesso em: 1 de fevereiro de 2023.
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Disponível em: https://youtu.be/GdB9XHIGgac. Acessado em: 2 de janeiro de 2023
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benefícios da prática de exercícios físicos não apenas para a saúde física, mas também para o
desenvolvimento intelectual e promoção de qualidades morais – valores como esforço,
importância da constância e superação de adversidades; por esses motivos, a prática de
exercícios físicos também foi amplamente valorizada nos sistemas educacionais das cidades
gregas.
Nessa mesma conferência, Romero expõe que nos tratados médicos da escola
hipocrática4 existe certa insistência em afirmar que a prática de exercícios físicos é benéfica,
tanto para prevenir doenças quanto para tratá-las, como uma forma de terapia. Na palestra são
apresentados tratados hipocráticos, em um deles chamado Sobre os ares, as águas e os lugares
1, lê-se “alguém que queira estudar corretamente a ciência da medicina deve conhecer o
regime de vida que levam os homens: se são aficionados pela bebida, comedores e não
suportam fadigas ou se gostam de praticar esporte e esforço, comem bem e não bebem.” Sendo
o segundo o ideal de vida saudável.5
Fernando Romero explica na palestra citada anteriormente que a prescrição de atividades
físicas era importante para a escola hipocrática e seus seguidores, a ponto de projetarem
sistemas de exercícios físicos, que prescreviam a seus pacientes de acordo com as condições
de cada indivíduo, incluindo uma série de fatores, sejam eles inerentes ao paciente ou não. Para
que prescrevessem os exercícios físicos, fossem eles com a intenção de manter ou recuperar a
saúde, os médicos gregos tinham em mente que a saúde é o resultado de um equilíbrio: uma
dieta equilibrada e exercícios físicos. A doença surge por uma quebra nesse equilíbrio, gerada
pelo excesso ou pela falta de atividade física e boa alimentação. Para os médicos gregos o
equilíbrio é quebrado quando a prática do esporte se torna um fim e não um meio de manter a
saúde, por exemplo quando se pratica o esporte profissionalmente. São muitos os escritos
médicos gregos que condenam a prática de esportes competitivos de categoria profissional,

4
Carregando o nome de Hipócrates, um dos mais influentes médicos da Antiguidade, a escola possui uma coleção
de tratados chamados hipocráticos, que são registros escritos de teorias e práticas estudados pelos médicos gregos
e foram reunidos de forma coletiva (REBOLLO, 2006, p. 47-49). Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ss/a/V5trSkVBrfFGRMWq7QLRKpb/abstract/?lang=pt. Acesso em: 09/01/2023.
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Disponível em: https://youtu.be/GdB9XHIGgac. Acessado em: 2 de janeiro de 2023.
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pois se supõe sempre um regime de exercícios físicos em demasia, o que seria prejudicial à
saúde.6
Quanto aos pensadores gregos, os nomes que ganham destaque são Platão e Aristóteles.
Ambos acreditavam que a educação possuía papel fundamental na formação da cidade que
idealizavam. Essa educação estará fortemente associada à prática de exercícios físicos. Romero
menciona em sua exposição o fragmento República III 403c, de Platão, no qual o filósofo diz
que “é necessário que os jovens recebam uma educação física escrupulosa desde a infância e
continuem se exercitando ao longo de toda sua vida”. (PLATÃO. República, III, 403c)7.
Na Grécia antiga, os jogos atléticos estavam associados à força e virilidade dos homens,
servindo aos ideais de beleza, virtude e estética gregas, além de estarem relacionadas ao culto
aos deuses. A divindade protetora da pólis ateniense é Atenas. A pólis grega de Atenas se
desenvolveu na região da Ática, península que se estende pelo Mar Egeu (ARRUDA, 1976, p.
143). Em seu livro A Acrópole Ateniense, o arqueólogo e historiador estadunidense Jeffrey M.
Hurwit afirma que a ela eram atribuídas uma série de características, sendo associada aos dons
de tática militar, sabedoria e estratégia. Além disso, à deusa guerreira também se atribuem a
saúde, o trabalho feminino e a habilidade em domar cavalos. (HURWIT, 1999, p. 15) Na obra
História antiga e medieval, o historiador José Jobson de Arruda relata que a religião
influenciava a vida pública das cidades gregas de forma intensa com ritos religiosos que
antecediam cerimônias públicas. Segundo ele, cada cidade possuía grandes festas religiosas, no
caso da pólis de Atenas essas celebrações eram as chamadas Grandes Panateneias, que
aconteciam a cada quatro anos e tinham como intuito honrar a deusa protetora da cidade. O
autor destaca que o evento compreendia desde competições atléticas até concursos de canto e
música. A festa terminava em um cortejo que percorria a via sagrada, finalizando com a oferta
de um luxuoso manto à deusa (ARRUDA, 1976, p. 168). A historiadora Camilla Miranda
Martins relata que além de participarem das procissões, sacrifícios e banquetes dos festivais

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Disponível em: https://youtu.be/GdB9XHIGgac. Acessado em: 2 de janeiro de 2023.
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Disponível em: https://youtu.be/GdB9XHIGgac. Acessado em: 2 de janeiro de 2023.
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atenienses, os campeões das Grandes Panateneias poderiam receber como prêmio as ânforas
panatenaicas contendo azeite das oliveiras sagradas de Atenas (MARTINS, 2018, p. 148).
Lidiane Carolina Carderaro dos Santos e Fábio Vergara de Cerqueira afirmam em seu
texto Concursos musicais juvenis em Atenas nos séculos V e IV a.C., que houve uma
reorganização das Grandes Panatenéias durante o governo de Pisístrato, ainda no Período
Arcaico, esse novo modelo, supõe-se, foi criado tendo como um de seus objetivos rivalizar com
os grandes festivais Pan-Helênicos e de outras pólis, incluindo os jogos Píticos, Ístmicos,
Olímpicos e Nemeus, que estão entre os principais festivais gregos. Apesar das reformas, a
presença de concursos de música esteve presente desde a criação das Grandes Panatenéias e a
imersão dos músicos jovens – epheboi – nos concursos dos festivais, bem como a introdução
de rapazes nas competições atléticas, eram formas de busca por aceitação desses enquanto
cidadãos da pólis (SANTOS. CERQUEIRA, 2018, p. 206-208). Maria Regina Candido informa
que, de acordo com Aristóteles, aqueles que saíam vitoriosos dos concursos de música eram
recompensados com dinheiro e objetos de ouro, aos lutadores eram oferecidos escudos e aos
ginastas e praticantes de hipismo era oferecido o óleo das oliveiras sagradas. A historiadora
complementa que as regalias entregues aos vencedores proporcionavam posição de aclamação
e prestígio por toda a Grécia, além disso, durante a cerimônia pública, os campeões
participavam do cortejo até o altar dos doze deuses, onde era oferecido pelo sacerdote
sacrifícios aos vencedores em agradecimento por suas conquistas (CANDIDO, 2000, p. 243).
Prática milenar, o lançamento de dardo esteve presente ao longo da maior parte da história
humana. O pesquisador Guillermo Faus, em seu livro Lanzamiento de la Jabalina, comenta,
entre outros tópicos, sobre lendas acerca da origem do lançamento de dardos enquanto prática
esportiva. Uma delas afirma que a modalidade tem início onde hoje se localiza a atual Irlanda
e está atrelada à origem dos Jogos Tailteanos. Semelhantes aos Jogos Olímpicos, os Jogos
Tailteanos eram parte da tradição celta. Segundo a lenda de origem dos jogos, Tailte, filha de
um líder da Península Ibérica, se casa com o rei Maghmor, no entanto, o consorte morre antes
que o casal deixasse herdeiros e a rainha, então, adota o jovem Lugh. Com o intuito de honrar
a memória de sua mãe adotiva, Lugh cria os Jogos Tailteanos, celebrados próximo a tumba da
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rainha, que possuía imensa paixão pelas artes e exercícios físicos (FAUS, 1971, p. 5). Dos anos
1829 a.C. até 1169 d.C., os jogos eram realizados todos os anos, quase ininterruptamente, no
mês de agosto. Em importância, os Jogos Tailteanos estavam para os celtas como os Jogos
Olímpicos estavam para os gregos. Eram necessários vários meses de preparação, além disso,
durante os jogos as hostilidades eram deixadas de lado e os melhores atletas de cada tribo,
praticantes de diversas modalidades – entre elas o lançamento de dardos –, eram enviados para
a competição (FAUS, 1971, p. 5-6).
Aline Gomes afirma que o lançamento de dardos é uma modalidade que tem seu
surgimento baseado nos modos de sobrevivência humanos, sendo inicialmente utilizado como
instrumento de caça e guerra na Pré-História (GOMES, 2010, p. 21). A pesquisadora também
cita que existiam duas modalidades de dardos na Grécia antiga: o lançamento de dardo em
alvos pré-determinados e o lançamento de dardo à distância, sendo o primeiro empregado no
treinamento militar básico dos efebos atenienses, enquanto o segundo era a modalidade
predominante na época e estava presente no pentatlo dos Jogos Pan-helênicos (GOMES, 2010,
p. 26-27). Em um salto para a Idade Média, a autora diz que os dardos eram utilizados como
instrumento de guerra pelas cavalarias, a ferramenta era ideal para atingir inimigos a pé ou
fugitivos. A aristocracia exibia combates individuais e coletivos que eram praticados em
momentos de paz com jogos e passatempos. Os eventos chamados “cavalhadas” eram capazes
de reviver os combates de gladiadores romanos, além de serem uma preparação para a cavalaria
(GOMES, 2010, p. 28-29).
Em concordância com Aline Gomes, Faus também relata que o surgimento da
modalidade de lançamento de dardos tenha se dado ainda nos primórdios da humanidade, onde
caçadores usavam suas lanças para adquirir alimento. Outro exemplo dado pelo autor remete
ao uso desse mesmo instrumento em conflitos. Segundo o pesquisador, povos do Oriente, como
persas e turcos já faziam estudos aprofundados do uso do djerid, que seria uma espécie de dardo
feito de madeira fina e dura e que fazia parte da educação militar dos jovens. Além da prática
do dardo, esses jovens também eram introduzidos ao lançamento do martelo e do disco. O
treinamento intensivo dessas modalidades garantia força nos membros superiores, habilidade
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que seria aproveitada em combate. O autor também cita a influência dos finlandeses e suecos
no lançamento de dardo enquanto esporte, sendo os últimos os criadores das regras da
modalidade (FAUS, 1971, p. 6-9).

“Que haya salido de la edad de piedra, como medio de defensa o de subsistencia, que
naciera de los antes citados Juegos Tailteanos de los celtas irlandeses, que fuera un
arma de guerra, después instrumento de juego – los griegos y después los romanos
la lanzaban por medio de una tirilla que imprimía al instrumento un movimiento
rotativo – la jabalina, devenida finlandesa, sigue siéndolo a través de los avatares
del moderno atletismo”8 (FAUS, 1971, p. 8-9).

No mesmo livro, Guillermo Faus discorre sobre a técnica do lançamento de dardo. Ele
começa explicando que o lançamento ideal combinaria a velocidade de impulso (controlada)
máxima com uma posição de lançamento, essa combinação permitiria a aplicação de uma força
máxima sobre a maior distância possível, projetando a ferramenta sob um ângulo ideal. Vale
salientar, que os fatores aerodinâmicos também exercem influência sobre o lançamento de
dardos (FAUS, 1971, p. 23).

GRADE NÚMERO 1 - PSYKER

Referente: Classificação: Vasos


Localização: the metropolitan museum of art
Inventário: 10.210.18
Procedência: Ática, Grécia
Função social: Esfriar o vinho
Data: 520-510 a.c
Período: Arcaico
Pintor: Oltos

Signo plástico: Forma: vaso possuinte de um centro oval


amplo, sustentado em pé por uma base
cilíndrica e estreita
Estilo/cor: Terracota/ figuras-vermelhas
Tamanho: 34,6x28cm
Volume: 13.5/x 11 pol

8
"Que saiu da idade da pedra, como meio de defesa ou subsistência, que nasceu dos já referidos Jogos Tailteanos
dos celtas irlandeses, que foi uma arma de guerra, depois um instrumento de jogo - os gregos e mais tarde os
Romanos eram lançados por meio de uma correia que dava ao instrumento um movimento de rotação – o dardo,
que se tornou finlandês, continua a sê-lo pelas vicissitudes do atletismo moderno” (tradução feita pelo google
tradutor).
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Ancoragem: Smikythos, Antiphanes, Dorotheos com “ele


vai pular”, Battrachos, Kleainethos,
Epainethos, Alketes;
Há ainda suas inscrições referentes ao próprio
vaso: “bebe-me” e “ abro bem a boca”.

Signo figurativo: Reunião de jovens atletas exercendo


dissemelhantes atividades atléticas na
companhia de seus paidotribes

Bibliografia: Disponível em: https://www.metmuseum.org/art/collection/search/248306. Acesso em: 17 de


novembro de 2022.

Significado icônico: Significado de conotação de Conotação de segundo nível(2):


primeiro nível: segundo nível(1):

Objeto: Vaso Reservatório cujo Vaso de nome Psyker Artefato de terracota chamado
objetivo é resfriar o cujo objetivo é psyker, utilizado no resfriamento
vinho resfriar o vinho do vinho servido em banquetes

Centro: Homem despido Homem nu, imberbe e Jovem sem roupa, do Jovem atleta de nome Battrachos
corpulento sexo masculino, praticando o lançamento de dardo
portando um dardo

Direita: Homem vestido Homem de aparência Jovem do sexo Jovem vestindo um quíton,
jovem vestindo um masculino tocando tocando flauta, portando uma
quíton. um instrumento. coroa de louros. Seu nome é
Smikythos

Esquerda: Homem de Homem de aparência Homem adulto Homem adulto barbado coberto
barba madura, vestindo um carregando um dardo por um himition segurando
himation consigo um dardo, leva consigo
uma coroa de louros; um
paidotribes

Cores, formas, composição, textura. Aparentemente, cada objeto estudado pela semiótica
tem seus próprios signos plásticos. A autora, trabalhando com a publicidade, aponta quadro,
enquadramento, ângulo, escolha da objetiva, composição, formas, dimensões, cores,
iluminação e textura como significante plástico de um anúncio. O NEA, ao formular sua
prancha de análise, determina forma, estilo/cor, tamanho e volume como a mensagem plástica
dos vasos gregos. De maneira sintética, os signos plásticos são a parte material, palpável e
visual do objeto. A razão pela qual os significantes plásticos foram escolhidos, os motivos que
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toda a sua estrutura imprime, aquilo que, além de perceptível, é interpretável, isso é o signo
figurativo. Se faz interpretável porque aquele que o interpretou possui uma visão de mundo,
assim, dependendo da sua análise, a mensagem figurativa pode carregar diferentes conotações.
E, por fim, o signo linguístico. Carrega a função de ancoragem, uma espécie de legenda para a
imagem, já que esta apresenta, constantemente características polissêmicas, ou seja, apresenta
significações diversas e variáveis (JOLY, 2012, p.109).
O vaso em questão possui toda sua forma decorada, mas atentaremos ao lado exposto no
quadro para dar precisão ao tema proposto. A partir da prancha, a documentação imagética
torna-se legível à leitura, pois, destrinchando seus elementos e interpretando-os sua
significação vem à tona. Num primeiro momento, quando fixamos o olhar na imagem,
certamente entendemos que se trata de 3 homens: um nú e dois vestidos. Num segundo
momento, os detalhes, tais como as roupas típicas, a forma física do homem desnudo, os
aparatos nas mãos e acessórios. Uma das marcas registradas da antiguidade grega são os jogos
atléticos, citados repetidas vezes em textos históricos, como por exemplo, a bíblia. O apóstolo
Paulo de Tarso, que viajou praticamente toda a Europa, além de partes da Ásia Menor e Oriente
Médio, na primeira carta aos Coríntios faz menção às corridas: "Vocês não sabem que de todos
os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcancem o
prêmio” (Bíblia Sagrada, 1ª Coríntios, cap.9, vers, 24).
A possível interpretação para a imagem retratada é o evento das Panateneias. O artefato
de terracota foi encontrado na região Ática e mostra, além de um lançador de dardos, um
flautista. As Grandes Panateneias - festa religiosa em homenagem à protetora da cidade de
Atenas, ou seja, a deusa Atenas - contava com a participação de atletas, músicos, atores,
dançarinos e filósofos, diferentemente dos jogos de Olímpia que eram prestigiados apenas com
modalidades esportivas. Dadas as explicações acerca do contexto, aprofundaremos, a seguir, a
especificidade da pesquisa: o lançamento de dardos. Buscaremos nos documentos textuais, em
autores como Aristóteles, Stephen G. Miller, Mark Golden e Daniel A. Dombrowski, como o
era praticado e quem podia praticar, tentaremos, também, traçar sua possível origem e
significado, e como é o seu funcionamento nos dias de hoje mostrando sua longevidade.
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Conclusão
O indivíduo que nasce em um lugar faz parte daquele lugar, logo aquele lugar é carregado
de significações pessoais para ele: um homem nascido em Atenas é ateniense, quando cresce
participa do culto da cidade e, quando há guerras, luta por seus deuses. Eis a fórmula para ser
um cidadão grego da antiguidade, exemplificado pelo historiador francês Fustel de Coulanges
em A Cidade Antiga (2004). A questão da cidadania para esses gregos era imbuída de
significados religiosos. A cidade de Atenas proibia a naturalização de cidadãos de outras urbes
como cidadãos atenienses. Cada cidade possuía sua religião, seu deus protetor. Os gregos
acreditavam que aceitar estrangeiros como um dos seus seria insultar diretamente os deuses e
corromper a religião (COULANGES, 2004, pp. 210-213).
Como bem sabemos, as festividades atléticas da antiguidade grega tinham, também, seu
caráter religioso, as Grandes Panatenéias não se opunha a essa regra, apenas aqueles
considerados atenienses podiam competir, pois competiam em honra a deusa protetora de sua
cidade. Levando em consideração o conceito de Marc Augé, podemos dizer que, para esses
atletas atenienses, seus lugares antropológicos foram o ginásio. O ginásio era o espaço onde
aqueles que iam competir passavam parte de seu tempo, pois ali se dedicavam ao aprendizado
das atividades esportivas, além de cuidarem de seus corpos, no objetivo de se tornarem mais
belos e saudáveis: “o ginásio [...] era um lugar socialmente construído, onde os valores
helênicos eram exaltados através das práticas esportivas e das interações sociais” (LESSA;
CODEÇO, 2011, p.38). Dito isso, entendemos que a noção de cidadania dava aos atletas o
sentimento de pertencimento, acolhimento e aceitação para com aquele lugar, o ginásio,
podendo ali exercerem seus livres direitos de competirem e seus deveres de terem seus nomes
prestigiados, garantirem a manutenção de suas honras, lembrando que a sociedade grega era
fundamentada em princípios de vergonha e honra.

BIBLIOGRAFIA

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Coleção filosofia e tradição: estudos clássicos IV. Brasília: Editora Cátedra, 2018.

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