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PR. PAULO CÉSAR DINIZ DE ARAUJO, DR.

TEOLOGIA BÍBLICA
TEOLOGIA BÍBLICA:
ANTIGO TESTAMENTO
ANTIGO TESTAMENTO
EMENTA
▸ Apresenta um panorama teológico da história da redenção
no Antigo Testamento. Inclui investigações acerca do
método, relevância e história da disciplina, com ênfase nos
pactos bíblicos, pela perspectiva reformada.
OBJETIVO
▸ Apresentar um panorama teológico da história da
redenção no Antigo Testamento. Inclui investigações
acerca do método, relevância e história da disciplina, com
ênfase nos pactos bíblicos, pela perspectiva reformada.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
▸ Unidade 1 - Breve história da teologia bíblica

▸ (HOUSE E MERRILL)

▸ Unidade 2 - As questões metodológicas da teologia bíblica

▸ (Bruce waltke e house )

▸ Unidade 3 - A natureza e o método da teologia bíblica na perspectiva


reformada

▸ (GEERHARDUS VOS 1 )

▸ Unidade 4 - A natureza, a extensão, a unidade e a diversidade das


alianças divinas (PALMER ROBERTSON 1-4)

▸ Unidade 5 - O mapeamento do campo da revelação. (GEERHARDUS


VOS 2 )

▸ O conteúdo da revelação especial pré-redentora


CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
▸ Unidade 6 - A aliança na criação (PALMER ROBERTSON 5)

▸ Unidade 7 - O conteúdo da primeira revelação especial redentora. A


aliança com Adão. (PALMER ROBERTSON 6)

▸ Unidade 8 - A revelação e a aliança no período noaico. (PALMER


ROBERTSON 7) (GEERHARDUS VOS 5 -6 )

▸ Unidade 9 - A revelação no período patriarcal. A aliança com Abraão.


(PALMER ROBERTSON 9) (GEERHARDUS VOS 7 )

▸ Unidade 10 - A revelação e a aliança no período mosaico (PALMER


ROBERTSON 10) (GEERHARDUS VOS 8 )

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
▸ Unidade 11 - A aliança com Davi (PALMER ROBERTSON 11)

▸ Unidade 12 - O período profético da revelação

▸ (GEERHARDUS VOS P2.C1 -C5)

▸ Unidade 13 - O conteúdo da revelação profética


(GEERHARDUS VOS P2. C6 )

▸ Unidade 14 - Dispensacionalismo: uma análise crítica

▸ Unidade 15 - Tradições de Israel: uma análise crítica


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PAULO CÉSAR DINIZ


DE ARAÚJO

A E I G I O LT TEOLOGIA BÍBLICA:
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ANTIGO TESTAMENTO
UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

MÉTODO TEOLÓGICO BÍBLICO APROPRIADO


(1) Aquele que não tem idéias preconcebidas a respeito da
verdade bíblica;

(2) Aquele que se recusa a ler idéias teológicas extrínsecas no


texto; e

(3) Aquele que deixa a Bíblia falar por si mesma em cada estágio
de seu desenvolvimento, tanto do ponto de vista canônico como
histórico.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

ATENÇÃO ESPECIAL AO CÂNON E À HISTÓRIA


Cânon sugere algo xo e estático, quer dizer, algo sincrônico, ao passo que história,
obviamente progre siva por de nição, deve ser entendida como diacrônica.

O cânon do Antigo Testamento consiste de uma coleção de textos sagrados


julgados divinamente inspirados pelo judaísmo e pela igreja e, por isso, autorizados,
mas uma coleção que permanece plana, por assim dizer, sem nenhum sinal óbvio
de movimento ou direção, apenas uma coleção per se.

Não obstante, a leitura atenta desses textos revela que eles estão longe de não ter
vida e de serem estáticos. Eles não podem, pela própria natureza de sua condição
de textos revelados, ser expand dos nem diminuídos — nesse sentido, eles são
in exíveis — mas eles, do início ao m, transmitem um uxo histórico dinâmico.

O Antigo Testamento, em um exame atento, trai-se pelo que realmente é, uma


narrativa vibrante e tran formadora de vida que tem um início, uma trama, um
desenlace e uma co clusão (pelo menos, uma tentativa de conclusão).

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

HISTÓRIA DO MOVIMENTO DA TEOLOGIA BÍBLICA


A história de um movimento é algo notoriamente difícil de documentar.

Esse fato é bastante distinto no caso de um evento ou até mesmo de uma


tendência, uma vez que estes têm algum ponto inicial discernível ou, pelo
menos, localizável em algum tipo de conexão de causa e efeito que lhes
dá nascimento, já que esse efeito deve ter deixado sua marca na história.

Os movimentos são mais indistintos, parecendo surgir de lugar nenhum e


sem pontos de nidos de origem.

Isso é claramente verdade em relação à história da teologia bíblica,


embora certas datas, nomes e circunstâncias sejam usualmente
mencionados como ma cas, se não como o início do movimento, pelo
menos, em suas guinadas cruc ais.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

HISTÓRIA DO MOVIMENTO DA TEOLOGIA BÍBLICA


Para começar, os escritos posteriores do Antigo Testamento
“teologizam” os escritos anteriores;

A literatura judaica extra-canônica faz a mesma coisa com a


literatura canônica; e o

Novo Testamento, em certo sentido, é uma teologia do Antigo


Testamento.

Todos os escritos pós-bíblicos (doravante sugerindo pós- Antigo


Testamento) que tocam o Antigo Testamento de alguma forma, em
especial, em termos de exposição e de interpretação teológicas,
podem, pelo menos em certo sentido mais amplo, ser considerados
teologia bíblica.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72

UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

JOHANN P. GABLER - DISTINÇÃO TEOLOGIA BÍBLICA E DO MÁTICA


É lugar-comum iniciar a argumentação com um jovem estudioso
da Universidade de Altdorf, Alemanha, que, como parte de seu
teste de admissão para a faculdade dessa instituição, fez um
discurso inaugural f moso, intitulado

“Sobre a Distinção Apropriada entre Teologia Bíblica e Dog-


mática e o Objetivo Especí co de Cada Uma Delas” (30 de
março de 1787).

Por teologia dogmática, Johann P. Gabler referia-se ao que


usualmente hoje chamamos de teologia “sistemática”.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72



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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

JOHANN P. GABLER- DISTINÇÃO TEOLOGIA BÍBLICA E DO MÁTICA


O impulso e a preocupação centrais de Gabler eram a distinção entre teol gia bíblica e
dogmática, tendo claramente favorecido a primeira delas. Ele apr senta a matéria desta
maneira:

”Existe realmente uma teologia bíblica, de origem histórica, que transmite o que os
escritores santos sentiam em relação aos assuntos divinos;

Existe, por sua vez, uma teologia dogmática, de origem didática, que ensina o que cada
teólogo losofa racionalmente a respeito das coisas divinas, depe dendo de sua
habilidade ou de sua época, idade, nacionalidade, facção, escola e outros fatores similares.

A teologia bíblica, como é apropriado a qualquer argumento histórico, está sempre em


concordância consigo me ma quando considerada por si mesma — embora até mesmo a
teologia bíblica, quando elaborada por uma das disciplinas, possa ser modelada de uma
forma por alguns e de outra forma por outros.

Todavia, a teologia dogmática está sujeita a uma multiplicidade de mudanças juntamente


com o resto das disciplinas humanas; a observação perpétua e constante ao longo de
muitos séculos demonstra que isso é mais que su ciente."

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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JOHANN P. GABLER - DISTINÇÃO TEOLOGIA BÍBLICA E DO MÁTICA


Assim, para não interpretar erroneamente a Gabler, em especial como lho do
século iluminista, é importante observar que, com o uso de expressões como
“origem histórica” e “o que os escritores santos sentiam em relação aos
assuntos divinos”, ele não quer negar a obra de inspiração divina, mas, antes,
está focando o fato de que a boa teologia deve ser fundamentada na história
e baseada apenas nos ensinamentos dos profetas.

Todavia, Gabler, em um óbvio exagero, acusa a teologia dogmática de ser


deturpada por todos os tipos de in uências losó cas e culturais externas ou
até mesmo de ser vítima delas. Sem dúvida, sua ardente adesão aos métodos
da teologia bíblica alimenta seu retrato caricato e injusto de qualquer outra
abordagem. No entanto, suas observações anunciadas aqui —
independentemente de quão simplistas sejam — foram bem-sucedidas e
deram nascimento ao movimento teológico bíblico mais que qualquer outro
fator.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72
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JOHANN P. GABLER - DISTINÇÃO TEOLOGIA BÍBLICA E DO MÁTICA


Todavia, Gabler foi de fato um lho de sua época e inalou o ar losó co e teológico dela.

O Iluminismo estava bem estabelecido na época em que ele lançou seu ensaio; e ele, na verdade, demonstra
estar ciente da nova forma de pensamento por meio de várias alusões a alguns porta-vozes do Iluminismo.

A principal premissa do Iluminismo era que as instituições, as tradições e as cosmovisões assimiladas não
deviam ser consideradas sacrossantas apenas por que eram comumente abraçadas.

E a epistemologia subjacente, a que poderia desa ar o antigo e abraçar o novo, era o racionalismo, a noção
de que só se pode acreditar no que é crível.

A observação atenta da citação de Gabler apresentada acima mostra que ela re ete esse espírito racionalista
em seu ataque frontal a formas consagradas pelo tempo de desenvolver teologia e de pensá-la.

No mu do pré-Iluminismo, reinava a teologia dogmática; agora, com a liberdade a quirida por meio da
inquirição racional, o dogmatismo foi destronado e substituído pelas novas formas de fazer teologia, estas
não estavam fundament das na tradição eclesiástica.

Uma dessas formas era a teologia bíblica. Ironic mente, a exata abordagem que poderia explorar e
esclarecer as riquezas da revelação de Deus, de formas dantes nunca imaginadas, torna-se um subproduto
de um ceticismo racional que incluía em seu programa uma diminuição do método teológico tradicional
(dogmático).

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JOHANN P. GABLER - DISTINÇÃO TEOLOGIA BÍBLICA E DO MÁTICA


Ao mesmo tempo, um subproduto da comoção intelectual que varria a Europa, e
especialmente a Alemanha, foi o fato de a Bíblia, como literatura e também como
texto religioso, estar se tornando alvo de análise crítica quanto a sua autoria e
datação/ Apenas 24 anos antes do discurso de Gabler, Jean Astruc, secular
francês, apresentou a idéia para um romance no qual Moisés, embora tenha
escrito o livro de Gênesis, usou vários documentos pré-existentes para escrevê-lo
e de que, nem sempre, esses documentos estavam em harmonia uns com os
outros. J. G. Eichhorn e outros críticos seguiram essa linha e expandiram a
hipótese documentária a ponto de a autoria de nenhum dos livros do Pentateuco
ser atribuída a Moisés, sendo todos considerados um trabalho posterior de juntar
fragmentos de tradições editados por redatores pós-exílicos.

Um séc lo depois de Gabler, Julius Wellhausen deu os retoques nais na


hipótese, hip tese essa que ainda exerce enorme in uência no estudo do Antigo
Testamento.

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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

JOHANN P. GABLER - DISTINÇÃO TEOLOGIA BÍBLICA E DO MÁTICA


Devemos apresentar o ponto aqui de que a bibliologia (a questão da
origem e da natureza da Bíblia) não pode ser separada da teologia,
ponto a ser mais elaborado sob o título “Pressuposições”.

Por enquanto é su ciente observar que Gabler foi impactado pelo


racionalismo de sua época e que boa parte de sua iconoclasia vis-à-vis
a teologia dogmática deve ser entendida à luz de seu cetici mo em
relação à natureza da Bíblia como a Palavra de Deus.

Além disso, ele teve mentores igualmente afetados pelo racionalismo


da época e aos quais era agrad cido, e ele reconheceu essa gratidão
em seu ensaio. Apenas poucos deles pr cisam ser mencionados no
esboço histórico apresentado a seguir.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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JOHANN P. GABLER - DISTINÇÃO TEOLOGIA BÍBLICA E DO MÁTICA


Talvez o principal entre esses mentores tenha sido S. F. N. Morus (1736- 1792),
descrito por Gabler como “esse homem excelente” que “nos ensinou que devemos
ter cautela na interpretação da relação entre os sentidos da mesma p lavra”.

Essa cautela precedeu um argumento similar nos tempos modernos, desenvolvido


de forma mais contundente por James Barr.

Gabler, continua do seu elogio de Morus, dessa vez por sua renúncia à exegese
alegórica e excess vamente gurativa que era comum no século XV11I, fala dele
como “um homem extraordinário cuja reputação é seu monumento”.

No entanto, a expressão de apreço por Morus mais efusiva de Gabler concernia ao


método teológico dele, método esse que argumentava a favor da noção de que os
textos bíblicos ind viduais devem ser examinados por suas idéias universais
enquanto, ao mesmo tempo, devem ser lidos à luz de seu próprio cenário
contextual e histórico

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72





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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

JOHANN P. GABLER - DISTINÇÃO TEOLOGIA BÍBLICA E DO MÁTICA


Embora Gabler mencione freqüentemente Morus em seu discurso, o est do atento dos
métodos e das conclusões dele mesmo não deixa sombra de dúv da de que sua dívida maior
era com G. T. Zachariá (1729-1777).

Zachariã, racionalista moderado, defendia a inspiração das Escrituras e praticava um método


exegético que tinha o cuidado de expor essa verdade.

Gabler, ao apresentar seu próprio método, apresentou três pontos principais:

(1) deve haver uma clara distinção entre a Escritura divina e a humana;

(2) deve haver distinção entre a teologia bíblica e a dogmática;

(3) “nossa loso a” (isto é, teologia dogmática) deve ser construída sobre a fundação da
religião (ou seja, teologia bíblica).

“O falecido professor Zachariae tornou isso possível”, disse ele, “mas não prec so lembrá-lo do
fato de que ele deixou algumas coisas para os outros consertarem, de nirem mais
corretamente e expandirem.”15 Gabler, no restante de seu e saio, fez exatamente isso,
embora ele mesmo nunca tenha escrito uma teologia completa.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

JOHANN P. GABLER - DISTINÇÃO TEOLOGIA BÍBLICA E DO MÁTICA


Em relação a Zachariá, ele, como também seu contemporâneo mais jovem W. E
Hufnagel (1754-1830), estava entre os que primeiro criticaram abert mente a
abordagem dogmática da teologia e que argumentaram por uma teol gia
baseada na exegese, tese já baseada em obra anterior de J. S. Semler
(1725-1791) e j. A. Ernesti (1707-1781) que enfatizava uma interpretação pur
mente histórica e gramatical da Bíblia em contraposição à que impunha uma
grade interpretativa do texto bíblico construída loso camente.

Zachariã ch gou até mesmo a a rmar que textos probatórios — a matéria-prima


comum da maior parte da teologia dogmática — devem estar subordinados ao
conjunto da tendência do ensino bíblico mesmo que isso faça com que o ensino
ortodoxo que enfraquecido!

O que ele pretendia era que se o ensino “ortodoxo” estivesse baseado em


leituras e interpretações errôneas dos textos bíblicos, então, a nal, o ensino não
era de fato ortodoxo, mas apenas um dogma com orientação los ca.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72
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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

C. E VON AMMON - ESBOÇO TEOLOGIA BÍBLICA ABSOLUTA


Os sucessores teológicos de Gabler executaram os princípios
metodológ cos dele, mas a partir de um ponto de vista cada vez
mais racionalista e anti-supernaturalista. C. E von Ammon, em sua
obra Outline o f a Pure Biblical Theology (Entwurfeiner reinen
biblischen Theologie) [Esboço de uma teologia bíblica absoluta],
publicada em 1792, sustenta que o único teste de revelação válido é
a racionalidade da Bíblia.

Além disso, para von Ammon, o Novo Testamento é


incomensuravelmente superior ao Antigo. Em termos do uso que
Fez de textos comprobatórios, ele representava o retorno à
hermenêutica pré-Gabler, traindo, assim, um dos princípios-chave
da nova teologia bíblica.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72

UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA


G. L. BAUER (1755-1806) - ESBOÇO TEOLOGIA BÍBLICA ABSOLUTA
G. L. Bauer (1755-1806) fez uma ruptura radical entre o Antigo e o Novo
Testamentos, negou a realidade do sobrenatural e arranjou toda a teologia em
torno da teologia apropriada e da antropologia.

G. L. Bauer (1755-1806) traçou uma clara linha demarcatória entre a teologia bíblica
e a história da religião de Israel, uma i portante percepção conforme se con rmou
depois. Bauer, como aluno do f moso crítico do Antigo Testamento, J. G. Eichhorn,
integrou sua teologia na emergente análise do Antigo Testamento hoje conhecida
como método crítico- histórico.

Esse método, quando aplicado com rigor, rearranja os materiais bíbl cos de acordo
com a suposta autoria e com a ordem cronológica, tornando, desse modo, o Antigo
Testamento um livro bem diferente daquele da tradição antiga.

Uma teologia fundamentada em uma compreensão tão diferente das origens e do


desenvolvimento da Escritura está fadada a ser uma teologia disti ta da teologia
típica da era pré-crítica.
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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

G. P. C. KAISER - ESBOÇO TEOLOGIA BÍBLICA ABSOLUTA


G. P. C. Kaiser era o representante mais extremo do novo ceticismo
e, em sua obra mais importante, publicada em 1813, ele negou a
possibilidade da revelação divina e a tentativa de distinguir no
Antigo Testamento as idéias, un versais, dos conceitos inferiores,
peculiares à vida de Israel e à época.

Kaiser, emprestando pesadamente das mitologias e das tradições


religiosas das culturas circunvizinhas de Israel, terminou sendo um
universalista consumado, nega do, por essa razão, qualquer tipo
de mensagem única e de lugar de honra à Bíblia.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72




UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

W. M. L. DEWETTE (1780-1849) - DGMÁTICA


Como era de presumir, começou uma reação contra o radicalismo
teológ co do m do século XVIII, reação essa liderada por moderados
como W. M. L. DeWette (1780-1849), C. P. W. Gramberg (1797-1830) e
D. G. C. von Cõlln (1788-1833).

DeWette, em sua obra Dogmatics [Dogmática] (1813), tenta ama gamar


fé e piedade com uma abordagem racionalista e, ao fazer isso, tornou-
se o primeiro estudioso digno de nota a impor um sistema losó co
particular (no caso dele, o kantismo) à teologia bíblica.

Um resultado do método dele foi a bifurcação entre a religião hebraica


e o judaísmo, a segunda não sendo nada além de “uma reinterpretação
infeliz do hebraísmo”.20Tal atitude incorporou uma corrente de anti-
semitismo que, no m, levou aos horrores acontecidos no século XX.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72

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C. P. W. GRAMBERG (1797-1830) - DOGMÁTICA


Gramberg tentou escrever uma história objetiva do
desenvolvimento da religião de Israel sem compromisso prévio
com a dogmática nem com o racionalismo cético.

No sentido mais estrito, o que ele produziu não foi de modo


algum uma teologia, mas uma história da religião de Israel, não
obstante, uma história que leva o Antigo Testamento a sério como
o registro dessa história.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

D. G. C. VON CÕLLN (1788-1833). - DOGMÁTICA


Von Cõlln, por sua vez, argumentava que a teologia bíblica devia
ser desenvolv da genética e historicamente baseada apenas na
Bíblia.

Infelizmente, ele abraçou os princípios do evolucionismo religioso


de sua época que se ajustavam como uma luva às várias hipóteses
crítico-histórico que também ganhavam aceitação.

Assim, a religião de Israel não teve origem real na revelação,


certamente não na revelação mosaica, mas evoluiu de forma
gradativa de um primitivismo puro até alcançar sua forma plena
nos períodos exílico e pós-exílico.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72



UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

HEGEL (1770-1831)- DOGMÁTICA


Entrementes, inúmeros lósofos, sendo Georg Hegel o principal entre eles,
começaram a causar impacto na teologia bíblica. Hegel (1770-1831) estabel ceu o
fundamento para uma irrefutável (aos olhos dele) explicação da origem e do
desenvolvimento da religião de Israel no contexto do fenômeno religioso universal.
Ele sugeriu que esse desenvolvimento teve três estágios:

1. A religião da natureza — Deus é uma matéria natural.

2. A religião da individualidade espiritual — Deus é um sujeito (judaísmo).

3. A religião absoluta (cristianismo).

A estrutura dialética de Hegel reabilita o Antigo Testamento no sentido de que o


Antigo Testamento pode ser entendido como essencial no resultante surg mento da
religião mais elevada do Novo Testamento.

Essa percepção deu novo ímpeto ao estudo teológico do Antigo Testamento, foi um
empurrão no mov mento que corria o risco de car paralisado.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72

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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

J. K. W. VATKE (1806-1882)
Apoderando-se da interpretação de Hegel da história, em especial da
história de Israel, J. K. W. Vatke (1806-1882), estudioso com quem
Wellhausen, co forme este a rmou posteriormente, aprendeu mais e
melhor, desenvolveu sua própria posição teológica, que promovia três
idéias-chave:

1. A teologia bíblica deve mostrar o desenvolvimento da religião e da


ética na consciência de Israel.

2. A revelação é indispensável, mas só pode ser reconhecida e avaliada


de acordo com linhas desenvolvimentistas (leia-se “evolucionárias”).

3. A loso a evolucionária deve assegurar uma interpretação da


história e da religião do Antigo Testamento.
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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

J. K. W. VATKE (1806-1882)
Essa forma evolucionária de ver o desenvolvimento da religião de Israel era
compatível com as abordagens modernas do estudo do Antigo Testamento,
como crítica da fonte e da redação.

Na verdade, ca claro que esta e a crítica posterior encontram seu caráter e


princípio organizador em uma compreensão evolucionária do desenvolvimento
do pensamento do Antigo e do Novo Test mentos.

O resultado disso para a teologia foi ela ser forçada a se amoldar ao molde
prescrito pelo modelo evolucionário e, assim, não poder mais re etir a
abordagem que fora objeto de grande simpatia por Hegel.

O aspecto diacrônico da teologia que entendia a teologia nascendo de Moisés e


dos patriarcas dos tempos antigos foi substituído por um no qual Moisés tinha
um papel menor ou nenhum papel e que entendia as grandes idéias mosaicas
como produtos de desenvolvimento religioso posterior.
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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

J. K. W. VATKE (1806-1882)
Essas formas radicais de entender o Antigo Testamento não
podiam car sem contestação e, por volta do meio do século XIX,
diversos paladinos da ort doxia começaram a dar voz a sua
oposição.

Felizmente, essa reação não veio apenas como uma resistência ao


radicalismo da crítica bíblica, mas também por meio do
reconhecimento de que a teologia bíblica não era per se
incompatível com a fé ortodoxa.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

ERNST W. HENGSTENBERG (1802-1869)


Um dos primeiros proponentes do renascimento conservador foi Ernst W.
Hengstenberg (1802-1869) que, em sua sólida obra Christologie desAlten
Test ments [Cristologia do Antigo Testamento], rea rma a inspiração da
Escritura, rejeita o método crítico-histórico com seus adornos
evolucionários e, conforme o título de sua obra sugere, vê, do começo ao
m do Antigo Testamento, uma teologia messiânica totalmente
desenvolvida.

Todavia, a abordagem dele diminui muitíssimo o princípio da revelação


progressiva e, assim, também o elemento longitudinal, ou diacrônico,
essencial para a verdadeira teologia bíblica.

Hengste berg retornou a uma abordagem teológica dogmática pré-


bíblica que não podia favorecer a produção de uma verdadeira teologia
bíblica.
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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

J. C. F. STEUDEL (1779-1837)
J. C. F. Steudel (1779-1837), por sua vez, adotou o método teológico bíblico de Gabler,
mas sem as pressuposições negativas defendidas pela maioria dos teólogos da época.24
Steudel, primeiro, lidou geneticamente com o Antigo Testamento (isto é, como uma
revelação progressiva) e, depois, sistematicamente, um método seguido desde essa época
pela maioria dos estudiosos conservadores.

Método “sistemático” representa apenas a organização dos dados bíblicos em categorias


de idéias similares ou idênticas, matéria a ser continuada mais tarde (veja “Método”).

Para Steudel e seus seguidores, a revelação progressiva era e tendida como essencial para
a interpretação apropriada da Escritura. H. A. C. Hãvernick também rejeitou as mais altas
hipóteses críticas e seu subjetivismo e, em uma importante obra, publicada em 1848,
argumentou que o objetivismo instruído pela compreensão espiritual e pelo princípio
orgânico (o “genético” de Steudel) do desenvolvimento religioso do Antigo Testamento
levaria à teologia bíblica apropriada.

Ele entendia que havia necessidade de tratar a teologia do Antigo Testamento em termos
de seu contexto histórico.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

G. F. OEHLER (1812-1872)
G. F. Oehler (1812-1872), aluno de Steudel, produziu o que muitos est diosos
(conservadores) consideram ser a mais extraordinária teologia do Antigo Testamento do
século XIX.

A principal obra dele (Theologie des Alten Testa- ments [Teobgia do Antigo Testamento]-,
de 1873) insiste no princípio do cresc mento orgânico da revelação do Antigo Testamento,
princípio esse que ele admitiu ter emprestado de Hegel e dos lósofos da escola da
história da religião, mas que ele “organizou” a m de evitar os aspectos humanistas da
cosmovisão hegeliana.

Para Oehler, a essência da verdade bíblica em torno da qual tudo o mais é ornamentado e
ampliado é o Espírito divino quando, por m, é cumpr do em Cristo no Novo Testamento.
Essa idéia (isto é, o Espírito) tem de ser descoberta (embora seja um dado objeto de
revelação especial) por meio da aplicação do método histórico-gramatical.

A combinação de Oehler do princ pio da revelação progressiva (baseado na leitura bíblica


da história) e do método exegético apropriado estabelece o fundamento para uma
teologia bíblica sólida e sensível.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72

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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

POR VOLTA DO FIM DO SÉCULO XIX…


Por volta do m do século XIX, a teologia do Antigo Testamento foi ecli sada
pelo intenso interesse na história da religião de Israel, uma virada dos even-
tos que deve ser atribuída ao impacto contínuo da historiologia hegeliana
ligada à abordagem crítico-histórica em relação aos estudos bíblicos.

Apenas depois da Primeira Guerra Mundial, a teologia bíblica foi


redescoberta, e esse fato deveu- se largamente a seguintes fatores:

(1) a perda geral da fé no naturalismo evol cionário;

(2) a reação contra o positivismo histórico (a percepção de que a verdade


histórica pode ser igualada à objetividade puramente cientí ca); e

(3) o retorno à ênfase da Reforma em relação à relevância, religiosa e


espiritual, do Antigo Testamento para a fé cristã.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

POR VOLTA DO FIM DO SÉCULO XIX… EDUARD KÖNIG


A primeira nova obra foi de Eduard König que oferecia uma polêmica
contra a abordagem da história das religiões que, por várias décadas,
arruinara obras sérias de teologia do Antigo Testamento.

König contestou as hipóteses evolucionárias que fundamentavam o


método da história das religiões e insistiu na importância da
revelação objetiva e especial em contraposição às analogias
religiosas comparativas externas à Bíblia.

König, ao mesmo tempo, rejeitou a usual espiritualização do texto


praticada em alguns círculos e a rmou a necessidade do método
exegético histórico-gramatical.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA


POR VOLTA DO FIM DO SÉCULO XIX…OTTO EISSFELDT (1887-1973)
Otto Eissfeldt (1887-1973) sugeriu que a teologia do Antigo
Testamento deve diferir da história da religião de Israel, uma vez
que a primeira tem a fé religiosa como seu singular instrumento de
conhecimento. Além disso, ele su tentava que a teologia do
indivíduo é determinada pelas pressuposições de seu credo.

Ou seja, a bagagem que o indivíduo traz para sua tarefa de fazer


teologia afeta as conclusões teológicas a que ele chega.

Para Eissfeldt, a história é um objeto de conhecimento, a revelação


é um objeto de fé.

O impacto do barthianismo ca bastante evidente aqui.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA


POR VOLTA DO FIM DO SÉCULO XIX…OWALTHER EICHRODT (1890-1978)
Indiscutivelmente, o maior teólogo bíblico do século XX foi Walther Eichrodt
(1890-1978), cuja principal obra apareceu primeiro na Alemanha, em 1933.

Eichrodt defendia a união básica do pensamento da religião do Antigo Test mento ao


longo da história do seu desenvolvimento e, ao contrário de Eissfeldt, não via
necessidade de separar a fé da história.

Eichrodt sustentava que o método da teologia do Antigo Testamento deve ser


impírico-histórico e, todavia, insistia que isso não poderia ser feito sem levar em
consideração o Novo Testamento.

Eichrodt, como princípio central ou organizador, propôs que o Antigo Testamento gira
em torno da idéia de aliança, e a rubrica desta é a existência de um Deus nacional que
revelou a si mesmo como o Deus do mundo e dos indivíduos.

No desenvolvimento desse ponto central, Eichrodt sugeriu uma abordagem cruz da


(isto é, sincrônica) que evidencie a estrutura interna da religião do Antigo Testamento.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72




UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA
POR VOLTA DO FIM DO SÉCULO XIX…OWALTHER EICHRODT (1890-1978)
Outros dois importantes teólogos do período entre as duas Guerras Mun-
diais foram Ernst Sellin (1867-1945) e Ludwig Köhler (1880-1956).

Sellin tenta preencher a lacuna entre a história da religião de Israel e a


teologia do Antigo Testamento, construindo teologia sobre a plataforma
da história. Nesse aspecto, ele herdou muito do método abraçado por
Gustave Oehler no século XIX.

Sellin centrava sua obra na santidade de Deus e dizia que o teólogo


cristão só poderia escrever uma teologia do Antigo Testamento a partir da
perspe tiva do evangelho.

Köhler entendia o tema do Antigo Testamento como o senh rio de Deus e


interpretava o Antigo Testamento através das lentes de uma hermenêutica
cristã.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA


DEPOIS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL…O. J. BAAB (1896-1958)
Depois da Segunda Guerra Mundial, com as duras sublevações sociopolíticas e
chamado à séria introspecção teológica, a “escola da história da religião de
Israel” quase se extinguiu em favor de uma teologia que levasse a sério a unidade
da revelação divina e que, em grande parte, localizasse o cumprimento dela em
Cristo e no Novo Testamento. O. J. Baab (1896-1958), estado-unidense, resta-
beleceu a teologia do Antigo Testamento como uma disciplina totalmente separ
da da abordagem da religionsgeshichtlicheP

O. J. Baab (1896-1958) achava que a tarefa do teólogo era explicar a consciência


religiosa de Israel, que se centrava em uma experiência única e predominante de
Deus.

Para Baab, a continuidade histórica era o princípio uni cador da teologia do


Antigo Testamento. Ele defendia a independência da teologia do Antigo
Testamento do Novo Testamento e ainda argumentava que a teologia do Antigo
Testamento só poderia ser desenvolvida de forma apropriada por um cristão.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72

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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA
DEPOIS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL…OTTO PROKSCH (1874-1947)
Otto Proksch (1874-1947) escreveu que a teologia do Antigo
Testamento deve ser uma “teologia da história” que encontra seu
cumprimento em Cristo — “toda teologia é cristologia”.

Otto Proksch (1874-1947) , como Baab, a rma que teologia só


pode ser desenvolvida por pessoas de fé (cristã). O aspecto da
“história da religião” é importante, diz ele, mas deve estar
subordinado à teologia per se.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA


DEPOIS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL…OTTO PROKSCH (1874-1947)
É importante apenas como o fundamento sobre o qual se
desenvolve o pensamento lógico e sistemático.

T. C. Vriezen (1899-1981)rejeita, no todo, a abordagem da história


da religião porque, para ele, a preocupação apropriada de uma
teologia do Ant go Testamento é o próprio Antigo Testamento
canônico, e não a reconstrução hipotética e imaginativa do
desenvolvimento da religião de Israel.

Edmond Jacob, estudioso francês, propôs que o sujeito que é


matéria da teologia é Deus, e não as instituições; a cristologia, e
não a teoria.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72



UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

DEPOIS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL…GERHARD VON RAD ( 1901-1971)


Gerhard von Rad ( 1901-1971) compara-se a Eichrodt em sua estatura e in uência. Ele, em oposição
a Eichrodt, resiste à chamada abordagem do “corte oblíquo”; antes, defende o que pode ser
chamado de método “longitudinal” ou “diacrônico”.

Para von Rad, a preocupação da teologia não é o que realmente aconteceu na história, mas a
compreensão, interpretação e proclamação de Israel do que aconteceu.

Os dois tipos de história não precisam necessariamente ser coincidentes.

No cerne do pensamento de von Rad está a idéia de que o hexateuco (o Pentateuco mais o livro de
Josué), na verdade, é uma con ssão cultual que pode ser reduzida a breves asserções de credo de
que Deus, por meio de uma série de atos salvadores, libertou seu povo e concedeu-lhes uma terra.

Vários temas de aliança (como a revelação do monte Sinai), de promessas patriarcais e de histórias
primevas (Gn 1— 11) foram acrescentadas mais tarde a m de su tentar o credo no cerne da
tradição hexateuca.

Uma avaliação justa de sua obra é que von Rad produziu na atualidade uma história de tradições,
em vez de uma teologia no sentido usual, e que ele é extremamente cético em relação à história
sobre a qual se fundamenta a tradição.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA


TEOLOGIAS BÍBLICAS DO SÉCULO X X…GEERHARDUS VOS-PRINCETON
Qualquer pesquisa de importantes teologias bíblicas do século X X seria negl gente se
não incluísse a obra do grande estudioso de Princeton, Geerhardus Vos, obra essa que
in uenciou profundamente o pensamento desse escritor.

O tale to da abordagem de Vos é seu reconhecimento da natureza orgânica da revelação


de Deus à medida que ele expunha seus propósitos para o reino ao longo da história.

Vos leva a sério a interpretação da história feita pelo Antigo Testamento e, como Oehler
antes dele, a vê como o veículo por meio do qual a mensagem salvadora pode ser levada
adiante, da criação à escatologia.

Por m, seria útil examinar rapidamente alguns teólogos contemporâneos, não só para
poder avaliar a contribuição deles, mas para fornecer um pano de fundo por meio do
qual julgar a necessidade desta obra.

Infelizmente, a revisão aqui deve ser muitíssimo seletiva tanto por causa de espaço para
as considerações como pelo excesso de literatura teológica que foi produzida nos
últimos vinte e cinco anos ou por volta disso.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72
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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

TEOLOGIAS BÍBLICAS DO SÉCULO X X…WALTER C. KAISER JR.


Walter C. Kaiser Jr., em sua obra seminal sobre a teologia do Antigo Test mento,
centra sua atenção em torno do tema da promessa, tema esse que ele descreve
como “derivado do texto”.

Walter C. Kaiser Jr., rastreia seus temas ao longo das épocas bíblicas, dos
períodos pré-patriarcal ao pós-exílico.

O método dele claramente toma o testemunho do Antigo Testamento para o


próprio desenvolvimento histórico por seu valor de face e não o fundamenta em
alguma reconstrução da história de Israel derivada de hipóteses crítico-históricas.

Kaiser, como evangél co, é sensível ao fato de que a teologia do Antigo


Testamento não pode ser desenvolvida sem levar em consideração o Novo
Testamento, mas ele também insiste que a revelação do Novo Testamento não
deve ser lida contra o pano de fundo do Antigo Testamento de forma que
distorça a mensagem única do A tigo Testamento.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72



UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

TEOLOGIAS BÍBLICAS DO SÉCULO X X…ELMER A. MARTENS


Elmer A. Martens organiza sua teologia em torno do conceito de
formação de uma grade para a mensagem do Antigo Testamento,
conforme enunciada em Êxodo 5.22— 6.8.36

Elmer A. Martens, como Kaiser, traça seu escopo historicamente


ao lo go do Antigo Testamento, encontrando quatro elementos
em cada era: a sa vação, a comunidade da aliança, o
conhecimento de Deus e a terra.

Sua fé evangélica também o impulsiona em direção a Cristo e ao


evangelho, assim, ele vê no Novo Testamento (especi camente no
evangelho de Mateus e na epístola para os Romanos) o mesmo
padrão de desígnio divino do Antigo Testamento.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

TEOLOGIAS BÍBLICAS DO SÉCULO X X…WILLIAM J. DUMBRELL


A teologia mais próxima no escopo e no método da que será
desenvolvida aqui é a do evangélico australiano William J. Dumbrell.

A obra mais impo tante dele a respeito do assunto, Convenant and


Creation [Aliança e criação], organiza sua teologia em torno da
ordem da criação de Gênesis 1.26-28, ordem essa que, a despeito
da di culdade de implementação por causa do pecado e da queda
da humanidade, continua em vigor e assim continuará até a grande
co sumação dos propósitos do Reino de Deus no m dos tempos.

Esse tratame to, embora limitado ao Antigo Testamento, lança um


olhar adiante, para um cumprimento na obra expiatória e redentora
de Jesus Cristo.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72



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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

TEOLOGIAS BÍBLICAS DO SÉCULO X X…BREVARD S. CHILDS


Brevard S. Childs é um dos mais relevantes e in uentes pensadores teológ cos do nal do
século XX.

Suas duas principais obras, Old Testament Theology in a Canonical Context [Teologia do
Antigo Testamento em um contexto canôn co e Biblical Theology o f the Old and New
Testaments [Teologia bíblica do Antigo e do Novo Testamentos], argumentam em favor de uma
teologia dia- crônica que tira sua matéria-prima do cânon hebraico, e só de lá, da forma que
saiu das mãos dos redatores nais do texto sagrado.

Childs, conforme é possível perceber pelo título do segundo volume, está convencido de que
a teologia bíblica só pode ser desenvolvida com a inclusão do Antigo e Novo Testame tos.

Ao descrever essa tarefa, ele diz que a teologia bíblica deve “explorar a relação entre esses
dois testemunhos [o Antigo Testamento e o Novo Testamento], ao passo que a tarefa da
teologia do Antigo Testamento é re etir teologicamente a respeito apenas de uma porção do
cânon cristão, mas como Escritura cristã”.

Essa distinção útil fundamentará, em grande extensão, nosso próprio esforço em desenvolver
uma teologia apenas do Antigo Testamento.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72

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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

TEOLOGIAS BÍBLICAS DO SÉCULO X X… WALTER BRUEGGEMANN


Nossa breve história do movimento da teologia bíblica chega ao m com uma sucinta visão
geral da criativa e provocativa percepção teológica de Walter Brueggemann, especialmente
conforme enunciada na Theology o fthe Old Test ment [Teobgia do Antigo Testamento], sua
magnum opus, obra-prima.

Bruegg mann institui um modelo forense no qual Iavé, em certo sentido, está em julgamento, e
o Antigo Testamento é a transcrição dos procedimentos da corte.

Estes começam com o testemunho central de Israel no qual Iavé é descrito por seus vários
atributos e características. A seguir, segue-se um contra-testemunho que parece diminuir alguns
desses aspectos positivos ou, pelo menos, questioná-los.

A nação de Israel, embora inquieta a respeito de determinadas questões relativas ao lado


a rmativo do testemunho, alinha-se com Iavé, como parceira, testemunhando, por assim dizer, a
integridade dele.

Brueggemann conclui sua teologia adequadamente delineando os meios pelos quais Iavé
testemunha por si mesmo — por meio da Torá, da monarquia, dos profetas, do culto e dos sábios.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

TEOLOGIAS BÍBLICAS DO SÉCULO X X… WALTER BRUEGGEMANN


A parte mais útil do esforço de Brueggemann é o fato de trazer à
luz o dilema apresentado para a teologia clássica e por ela como o
lado negativo ou obscuro de Deus e de sua conduta com suas
criaturas.

Esse é particularmente o caso na literatura de sabedoria e em


muitos dos salmos. Ver esses escritos, muitas vezes, como um
questionamento da justiça e até mesmo do caráter de Deus,
embora eles permaneçam revelação inspirada, é de imenso valor
teológico.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

DEFESA DE UMA NOVA TEOLOGIA BÍBLICA


A avaliação histórica prévia do movimento da teologia bíblica, embora muito breve, é
su ciente para mostrar como seus contribuidores foram fecundos, especialmente desde a
década de 1970.

Isso dá causa a uma questão razoável, a saber, como se pode justi car uma nova obra nessa
área?

O que uma nova publicação pode acrescentar a uma já esmagadora produção de literatura
teológica que, de um lado, não seja uma mera repetição do que já foi escrito e, de outro
lado, faça uma contribuição relevante?

Toda obra de um autor — como a de um compositor, de um artista ou de um escultor — tem


um Sitz im Leben, um cenário, ou matriz, que gerou interesse no sujeito e impeliu esse
interesse em tomar um aspecto formal.

Algumas produções podem ser feitas no início da vida ou da carreira da pessoa; outras
requerem muita experiência e muitos anos de re exão antes que o autor (artista ou
compositor) tenha habilidade e temeridade su cientes para livrar-se do que quer que tenha
ocupado seus pensamentos ao longo dos anos.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72
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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

DEFESA DE UMA NOVA TEOLOGIA BÍBLICA


Uma teologia do Antigo Testamento é esse tipo de empreendimento porque ela, graças ao extenso
material e a sua natureza, pressupõe uma gama de disciplinas de estudo que só podem ser
dominadas, mesmo que minimamente, depois de muitos anos de cuidadoso estudo. É impensável
que um teólogo empreenda a tarefa sem ter competência na(s) linguagem(s) do texto original e
com pouco, ou nenhum, conhecimento do mundo cultural, histórico e religioso da Bíblia.

Acre cente-se a isso uma sensibilidade para as qualidades literárias da Palavra escrita e habilidades
exegética e hermenêutica necessárias para compreender e expor a me sagem bíblica. Isso sem
falar da necessidade de ter um domínio básico do estudo do Novo Testamento e de, acima de
tudo, reconhecer a importância da dependê cia do Espírito de Deus, que, a nal, inspirou o texto
sagrado.

Portanto, depois de três décadas de leitura profunda de literatura relevante e de ensinar a matéria
da teologia do Antigo Testamento na graduação, parece o momento certo de oferecer esta obra
como outra tentativa de se engal nhar com a importante e reconhecidamente ardilosa matéria
tratada neste livro.

Além dessa apologia, talvez a seguinte análise lógica também possa esclarecer o ímpeto e a
motivação do autor.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72



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DEFESA DE UMA NOVA TEOLOGIA BÍBLICA


O campo da teologia do Antigo Testamento, até a publicação da obra de Walter
Kaiser, em 1978, foi largamente dominado nos séculos anteriores pela erudição
que defendia ou a perspectiva que não aceitava de forma alguma a Escr tura
como a Palavra inspirada e autoritativa de Deus ou, na melhor das hipóteses, a
posição da crítica moderada que reconhecia o caráter revelador da Bíblia em
alguns aspectos ao mesmo tempo em que aderia a uma metodologia crítico-
histórica que invalidava todo “valor visível” do Antigo Testamento, a
historicidade genuína ou a integridade de autoria e de unidade dele.

Desde essa época, Kaiser e inúmeros outros evangélicos têm feito a rmações de
peso nesse campo, mas, mesmo assim, em número comparativamente menor.

Claramente, ainda temos necessidade de uma teologia que abrace uma


percepção elevada da Escritura, como também uma metodologia sólida e uma
discussão abrangente e profunda.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72

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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

DEFESA DE UMA NOVA TEOLOGIA BÍBLICA


A teologia evangélica difere nitidamente de outras, no mínimo, no fato de levar a
sério as próprias a rmações da Bíblia como suas origens e natureza e, além disso, de
con ar na credibilidade histórica e cultural da Bíblia — ou seja, os aspectos factuais
do testemunho bíblico.

Conforme já sugerimos e demonstraremos de forma mais extensa, uma teologia do


Antigo Testamento não pode estar divorciada da bibliologia do Antigo Testamento.

A forma como o indivíduo entende a Bíblia como um objeto em si mesmo,


inevitavelmente, modela a teologia fundamentada nisso e derivada disso. Assim, o
presente esforço não pretende ir em direção a uma abordagem tabula rasa que
professa receptividade a todos os tipos de opiniões a respeito do caráter mesmo da
Bíblia.

Esta obra, como suas predecessoras evangélicas, fundamentar-se-á em um texto


autoritativo e em uma distância predefmida, em si mesma, das obras que evitam
essa postura ou, no mínimo, a fazem parecer desnecessária.
MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72
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DEFESA DE UMA NOVA TEOLOGIA BÍBLICA


Sendo esse o caso, por que existem teologias evangélicas que não são
adequadas?

Sem entrar em especi cidades nesse ponto, propomos as seguintes ob-


servações a respeito das publicações recentes:

1. Muitas delas, embora não possam ser apropriadamente chamadas de teolo-


gias “sistemáticas”, não obstante, abraçam pelo menos uma forma de
sistematiz ção que impõe ao texto algum tipo de estrutura ou grade
preconcebida.

Algumas dessas obras defendem suas grades como derivadas do texto, mas a
análise atenta delas sugere que estão perigosamente próximas de um alicerce
procustiano no qual os materiais bíblicos são forçados a se encaixar em um
molde no qual nunca se pretendeu que se encaixassem.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72



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2.Outras teologias estão sujeitas a um princípio central, ou organizador, que é ou
tão amorfo e geral que é de pouca valia prática ou tão estreito que é reducionista a
ponto de convidar a grade sugerida acima.

Ou seja, elas não p dem dar conta de todas as linhas diversi cadas e multifárias da
revelação bíblica sem trazer essas linhas, contra a vontade delas, a uma
conformidade forçada.

Ou, ainda pior, elas simplesmente deixam grandes partes do cânon fora da dis-
cussão exatamente porque eles (os centros) não podem acomodá-las.

Alguns, reconhecendo o dilema, optaram por não ter nenhum centro, uma opção
que, embora honesta, parece promover a noção de que a narrativa do Antigo Test
mento não tem enredo e, por isso, não tem linha de pensamento nem objetivo que
a una e forneça a linha central da narrativa. Esperamos mostrar como isso é
improvável e inexeqüível (veja a seção “A rmação dos pressupostos” abaixo).

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72



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DEFESA DE UMA NOVA TEOLOGIA BÍBLICA


3. Muitas teológicas evangélicas contemporâneas, na verdade, são
pesquisas, resumos ou até mesmo esboços teológicos.

Elas são incapazes ou relutam em investir o tratamento profundo e


necessário para lidar à exaustão com a vastidão
das riquezas teológicas da revelação bíblica.

Esse comentário não pretende ser uma critica, pois existe todo
tipo de limitações em empreender um projeto desse tipo.

No entanto, essas insu ciências convidam a justi cação para um


exame e apresentação mais sintéticos.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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4.Por m (e, de alguma forma, alinhado com o ponto 1), algumas teologias
recentes estão tão presas ao credo formal ou informal ou às tradições
eclesiá ticas confessionais que, na verdade, tornam-se um esforço subjetivo
de escorar essas tradições, evitando assim, a objetividade que está no cerne
do autêntico método teológico bíblico.

Na verdade, claro que é impossível se despojar de sua herança eclesiástica e


ser verdadeiramente objetivo no trato com os dados do Antigo Testamento.

Sem dúvida, esta obra será acusada de seguir essa mesma tendência, ou
pré-compromisso, e algo parecido.

Todavia, deve-se fazer um e forço para se envolver na tarefa com tapa-


olhos, por assim dizer, para que o produto nal possa ser considerado
bíblico, e não dogmático.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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O projeto empreendido aqui se propõe a levar a sério os seguintes
objetivos a m de se livrar do ônus de um empreendimento
preconcebido e pré-acondicionado ou da legítima acusação de não
lidar com as difíceis questões de pre suposição e de metodologia.

1. Temos de tratar o testemunho do Antigo Testamento com


seriedade tanto em termos de seu testemunho que valida a si
mesmo como de sua natur za como revelação divina e seu conteúdo
de caráter inerente e intencionalmente teológico. Na verdade, esse é
confessional, mas, conforme argumentaremos a seguir (veja a seção
“A rmação dos pressupostos”), essa postura é inevitável se
for para, de algum modo, desenvolver teologia.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72


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DEFESA DE UMA NOVA TEOLOGIA BÍBLICA


2. Todo esforço direciona-se a um método teológico bíblico
apropriado, um método sensível ao caráter mesmo da própria
disciplina, como também conscient mente distinto do que Gabler
chamava dogmático.

Estamos perfeitamente con cientes da impossibilidade de seguir


esse curso de forma rígida e consistente, mas estamos igualmente
convencidos de que se deve fazer o esforço para isso.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72




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3. O método incorporará o compromisso com o modelo canônico
abraç do por Childs e outros (mas com diferentes suposições
críticas) ao mesmo te po em que será constantemente
direcionado pelo princípio da revelação progressiva e do
desenvolvimento histórico.

Em outras palavras, seremos sin- crônicos no sentido de que o


cânon testemunha a última con ssão de fé de Israel e a
compreensão dessa nação de si mesma, mas será diacrônico no
sentido de traçar a história dessa revelação que culmina em sua
forma nal, uma forma que não pode ser redigida.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72



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DEFESA DE UMA NOVA TEOLOGIA BÍBLICA


4. Por m, proporemos um centro teológico, um que acreditamos
ser e treito o su ciente para encapsular as declarações
proposicionais comunicativas e amplas ou abrangentes o bastante
para levar em consideração a rica diversidade do cânon do Antigo
Testamento (veja a seção “Método teológico” abaixo).

Se isso acontecerá ou como acontecerá é algo que deve ser


demonstrado, e não apenas declarado.

MERRILL,Eugene. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:SHED, 2009. pgs. 11-72



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PAUL R. HÜUSE

PAULO CÉSAR DINIZ


DE ARAÚJO
TEOLOGIA BÍBLICA:
ANTIGO TESTAMENTO
UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

BARREIRAS AO ESTUDO TEOLOGIA BÍBLICA


Primeira Históricas = Conhecer Contexto Histórico;

Segunda Literárias = Conhecer as Narrativas, Poéticos e Profetas;

Terceira Teológicas = Conhecer a Teologia Bíblica e sistemática ;

Quarta Falta de Familiaridade do AT = Ler e Conhecer a Bíblia;

Quinta Acadêmicas = Procurar ter uma unidade de Raciocínio


Reformado ;

HOUSE,Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:VIDA, 2005. pgs. 11-72


UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

UM APANHADO DO ESTUDO DA TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


É bem difícil escolher o ponto de partida para a descrição do estudo da teologia do
AT.

Uma possibilidade é começar pelo AT propriamente dito, pois existem muitos


lugares onde o texto é in uenciado pela passagem anterior ou refere-se ao que “está
escrito” em outra parte das Escrituras.

Também é possível iniciar com a descrição do tratamento dado pelo NT ao AT. Esta
abordagem também é válida, pois os escritores do NT fazem amplo uso do AT. A nal,
era a Bíblia que possuíam. Começar por aqui é, no entanto, pôr os carros à frente dos
bois. Os autores do NT conheciam as Escrituras hebraicas em profundidade e
esperavam que seus leitores estivessem igualmente familiarizados com elas.

Hoje em dia a maioria dos leitores precisa examinar a totalidade do AT e assimilar


seu conteúdo teológico antes de empreender o estudo do relacionamento e tre os
Testamentos. Certo conhecimento bem como habilidades especí cas são necessários
para poder avançar nesta linha de abordagem.
HOUSE,Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:VIDA, 2005. pgs. 11-72

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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

UM APANHADO DO ESTUDO DA TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


Outro ponto de partida em potencial é examinar como os antigos pais da igreja,
intérpretes medievais e líderes da Reforma entendiam a teologia do AT. Brevard
S. Childs descreve clara e concisamente essas abordagens, d monstrando a
riqueza e variedade que sempre tem acompanhado a teologia bíblica.

João Calvino e Martinho Lutero são exemplos notabilíssimos de personagens


da história da igreja que interpretaram o AT como um doc mento teológico
intimamente ligado ao N T

O problema com essa abord gem é que nenhum desses indivíduos jamais
produziu um volume sequer especi camente dedicado à teologia do AT. Suas
idéias têm de ser colhidas em meio a literalmente dúzias de sermões,
comentários e outras obras. E bora essa seja uma tarefa enriquecedora, aqui
também um volume inteiro ou uma série de volumes seria necessário para
completar a tarefa.

HOUSE,Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:VIDA, 2005. pgs. 11-72


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UM APANHADO DO ESTUDO DA TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


E preciso mencionar ainda outro ponto inicial. Estudiosos rabínicos vêm
comentando sobre as Escrituras hebraicas a partir do momento que o AT foi
completado.

Assim, alguns escritores contemporâneos a rmam que a tradição da sinagoga é por


onde se deve começar quando se avalia a teologia do AT.5 Esta abordagem é, com
certeza, legítima e esclarecedora.

Apesar disso ela enfrenta as mesmas limitações de quando se tenta reunir os vários
comentários produzidos ao longo da história da igreja. Dentro da tradição rabínica
acerca das Escrituras hebraicas como um todo, há um pequeno número de obras
condensadas.

Mas o judaísmo e o cristianismo discordam quanto ao valor de uma Bíblia com dois
Testamentos e quanto à natureza e obra de Jesus Cristo. Desse modo, pode-se e
deve-se tratar de questões comuns às duas religiões, mas sem passar por cima de
diferenças concretas.
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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

CARACTERÍSTICA DA TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


Primeiro, o propósito de cada obra é examinar teologia do Antigo
Testamento. Antes deste período as declarações teológicas do AT eram
organizadas com declarações neotestamentárias com o objetivo de
descrever a doutrina crista. Algumas vezes os textos bíblicos eram parte
de um amplo sistema bíblico-teológico, como nas Institutas de Calvino.
Em outros tempos eram parte de um sistema losó co e bíblico, como é
o caso da Suma teológica de Tomás de Aquino. Nas obras de Calvino e
Aquino o AT contribui para um esquema teológico mais amplo, mas não
aparece como uma voz teológica à parte. Os pione ros da teologia do
AT buscaram analisar e explicar o que o AT ensinava por si só. Então
procuraram incorporar tais ensinos a uma teologia bíblica ou sistemática
mais ampla. Os estudiosos que os seguiram têm mantido esse modelo.

HOUSE,Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:VIDA, 2005. pgs. 11-72


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CARACTERÍSTICA DA TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


Segundo, teólogos devotados especi camente ao AT dão bastante ate ção a
dados históricos. Ou seja, esforçam-se por identi car o que as decl rações de
cada autor bíblico signi caram em seu contexto remoto. Ente dem que esse
compromisso é fundamental para a aplicação acurada dos textos para hoje, pois
acreditam que “um texto não pode signi car o que ele nunca signi cou”.8 Essa
ênfase rompe com o método alegórico de i terpretação, cujo expoente mais
conhecido foi Agostinho. E claro que os especialistas do AT quase nunca
concordam quanto ao pano de fundo de cada livro, parágrafo ou sentença da
Bíblia. Os teólogos do AT têm, na verdade, participado dessas disputas. Às vezes
têm proposto reconstruções históricas tão radicais que as declarações de uma
passagem se perdem em grande parte.9Assim mesmo, o esforço para
estabelecer um contexto hi tórico deve prosseguir. Os autores das Escrituras
escreveram em situações históricas concretas para pessoas reais. O valor
contínuo da Bíblia surge em parte de sua habilidade de continuar a falar para
pessoas reais em meio à vida cotidiana.
HOUSE,Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:VIDA, 2005. pgs. 11-72
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CARACTERÍSTICA DA TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


Terceiro, embora haja notáveis exceções a esta generalização,10 a mai ria
dos teólogos do AT procura relacionar a mensagem do AT com a igreja.
Alguns assim o fazem ao mostrar como o AT conduz naturalmente até o NT.
Outros indicam partes do AT não mais aplicáveis à doutrina cristã, mas
considerando como valioso para a igreja o máximo possível das Escr turas
hebraicas. Ainda outros tratam o AT como um documento que de creve parte
da história da religião de Israel. Esses escritores tendem a e cluir de qualquer
parte da doutrina cristã certos elementos do AT, como sacrifícios de animais e
guerra religiosa, ao mesmo tempo em que a rmam que verdades universais,
como os Dez Mandamentos, ainda são válidas para a fé cristã. Qualquer que
seja a abordagem desses autores, eles crêem que o AT sempre foi Escritura da
igreja e deve, portanto, ser incorporado à sua doutrina e prática. Como fazê-lo
é o desa o que enfrentam.

HOUSE,Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:VIDA, 2005. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

CARACTERÍSTICA DA TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


Conforme já assinalei, mesmo esses pontos comuns fundamentais
não conseguem ocultar as diferenças que dividem teólogos do AT.
Eles conco dam que o AT merece ser ouvido como uma voz
teológica independente, contudo não a ouvem da mesma
maneira, pois suas obras nem sempre têm o mesmo formato.
Embora creiam que a análise histórica é vital para seu trabalho,
nem sempre conseguem chegar a um acordo sobre o pano de
fundo histórico real ou o que esse pano de fundo lhes ensina.
Apesar de crer que o AT é parte da Bíblia cristã, não são unânimes
quanto ao que o AT ensina para a igreja.

HOUSE,Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:VIDA, 2005. pgs. 11-72



UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

CARACTERÍSTICA DA TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


Ou, expressando de um modo simples, a história desta disciplina é
bem desorganizada, não re etindo uma concordância perfeita ou
uma co tínua e harmoniosa unidade cristã. Em outras palavras, é
um pouco como o próprio cristianismo mundial: imperfeito e
turbulento, mas ao mesmo tempo movendo-se na direção de um
alvo digno. A breve história esboç da abaixo demonstrará as
discordâncias, concordâncias e potencial da di ciplina. Destacam-
se quatro períodos, cada um fazendo a teologia do AT mover-se
para um plano novo e desa ador. Nem todo estágio aperfeiçoa a
disciplina, mas cada um a modela.

HOUSE,Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:VIDA, 2005. pgs. 11-72



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PAUL R. HÜUSE

PAULO CÉSAR DINIZ


DE ARAÚJO
TEOLOGIA BÍBLICA:
ANTIGO TESTAMENTO
UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

PRIMÓRDIOS: DE GABLER A WELLHAUSEN (1787-1878)


Os primórdios da disciplina teologia bíblica são comumente associados à
apresentação, por Johann P. Gabler, da palestra “Discurso sobre a devida
distinção entre teologia bíblica e dogmática, e os objetivos especí cos de
cada uma”, em 30 de março de 1787 na Universidade de Altdorf (Alem nha).
Antes disso, a teologia bíblica era incluída na teologia sistemática
(dogmática). Johann P. Gabler declarou que a teologia bíblica difere da
dogmática em sua origem e propósito.

Escreveu que "existe de fato uma teologia bíblica, com origens históricas,
descrevendo o que os escritores sagrados sentiam a respeito de assuntos
espirituais; por outro lado, existe uma teologia dogmática, de origem didática,
ensinando o que cada teólogo racionalmente losofa sobre as coisas
espirituais, de acordo com a medida de sua capacidade ou com o período, a
época, o local, a con ssão religiosa, a escola e outros fatores semelhantes.

HOUSE,Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:VIDA, 2005. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

PRIMÓRDIOS: DE GABLER A WELLHAUSEN (1787-1878)


Segundo Gabler, a origem da teologia bíblica acha-se na própria
B blia, enquanto a teologia dogmática se origina de teólogos
individuais já engajados em posições losó cas e eclesiológicas.
O propósito da teologia bíblica é expor em que os escritores
bíblicos realmente criam. O alvo da teologia dogmática é
perpetuar um ponto de vista preestabelecido. Sendo naturalista,
Gabler particularmente queria eliminar da teologia todas as
abordagens pré-condicionadas.12

HOUSE,Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:VIDA, 2005. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

PRIMÓRDIOS: DE GABLER A WELLHAUSEN (1787-1878)


Para examinar-se a teologia bíblica, Gabler propôs uma abordagem em três etapas.

Primeiro, os intérpretes devem reunir dados sobre “cada um dos períodos do AT e NT. cada
um dos autores, e cada uma das maneiras de falar que cada um dos autores empregou
como re exo do tempo e do lugar”.1

Segundo, tendo ajuntado esse material histórico, os teólogos devem empreender “uma
comparação cuidadosa e ponderada das várias partes atribuídas a cada Testamento”.14
Deve-se comparar as idéias dos autores bíblicos até que “ que claramente visível em que
os autores co cordam sem quaisquer problemas ou em que discordam entre si”.15

Te ceiro, a m de determinar as “noções universais” que vêm à tona, deve-se anotar e


analisar devidamente os pontos de concordância e discordância.16 Gabler não oferece
quaisquer critérios especí cos para determinar o que constituem noções universais, exceto
quando cita a “lei mosaica” como exemplo do que não mais se aplica aos cristãos.17 Ele
simplemente fez distinção entre o que se aplicava apenas à época dos autores e o que tem
valor mais duradouro.1

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PRIMÓRDIOS: DE GABLER A WELLHAUSEN (1787-1878)


Por trás da abordagem de Gabler achava-se um conceito racionalista sobre a
inspiração e a con abilidade das Escrituras. Para ele, só quando se eliminam os
elementos temporais, humanos e não-universais dos ensinos das Escrituras é possível
chegar a idéias verdadeiramente inspiradas e val osas para a dogmática cristã. Nem
mesmo recorrer a passagens que tratam da inspiração da Bíblia ajuda a determinar o
alcance de sua inspiração, visto o que “essas passagens individuais são bem obscuras
e ambíguas”.19 Por esse motivo os que “desejam tratar desses assuntos com a razão e
não com medo ou preconceito” não devem “forçar além do devido limite o sentido do
que os apóstolos disseram, especialmente levando-se em conta que os sentidos
percebem os efeitos da inspiração e não sua causa”.20 Somente por meio da exegese
cuidadosa e do apego ao que Cristo falou sobre a inspiração é que nalmente se
pode determinar “se todas as opiniões dos apóstolos, de qualquer tipo e espécie, são
de fato divinas ou se, ao contr rio, algumas delas, que não dizem respeito à salvação,
devem ser atribuídas à própria engenhosidade deles”.21 Só então a pura essência
doutrinária da Bíblia poderá vir à tona, pronta para a colação dogmática.

HOUSE,Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:VIDA, 2005. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

PRIMÓRDIOS: DE GABLER A WELLHAUSEN (1787-1878)


É óbvio que a metodologia de Gabler possui pontos fortes e fracos.
O principal ponto forte é a insistência no valor da teologia bíblica. A
teologia sistemática seguramente se bene cia da análise cuidadosa
e acurada do que as próprias Escrituras dizem. A doutrina da igreja
pode tornar-se t talmente improdutiva caso decida o que o texto
tem a dizer antes de ele próprio fazê-lo. Outro ponto forte é o
chamado à análise histórica. As Escrituras falam a todas as épocas
porque primeiramente falaram a uma época especí ca. Elas estão
arraigadas na experiência humana por ter um ponto de entrada
concreto. A alegoria é válida para a primeira parte dessa a rmação,
no entanto, incorre em erro porque ignora a segunda parte. Para a
interpretação, a história de fato importa.

HOUSE,Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:VIDA, 2005. pgs. 11-72



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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

PRIMÓRDIOS: DE GABLER A WELLHAUSEN (1787-1878)


O esquema de Gabler também possui falhas sérias.

Primeiro, sua insi tência no racionalismo e a conseqüente recusa em tratar do que está além dos
sentidos humanos elimina da séria consideração teológica boa parte das Escrituras. Não sobra nenhum
dos milagres da Bíblia e muito pouco da inspiração dos autores, restando apenas um número limitado
de a mações dos apóstolos. E de admirar como Gabler consiga falar do salvador ou de salvação22 e
defender suas convicções. A nal, a salvação di cilmente parece ser uma categoria orientada pelos
sentidos. Fica claro que Gabler possuía uma ideologia que controlava suas idéias, exatamente como
aco tecia com os que ele criticava.

Segundo, apesar de seu programa de inco poração das teologias bíblica e sistemática, as teorias de
Gabler abrem a porta para uma separação negativa das teologias do AT e do NT. Presum velmente
quase nada do AT teria princípios atemporais, de modo que seria considerado bem insigni cante para a
teologia bíblica. Este fato leva à conclusão de que pode ser proveitoso fazer um estudo histórico da
teologia do AT, mas que ela não é excepcionalmente pertinente à igreja. Conforme será debatido mais
tarde, muitos estudiosos adotaram essa postura após a época de Gabler.

Terceiro, cria-se uma divisão entre o estudo acadêmico de teologia e o ensino de doutrina pela igreja. A
idéia que surge é que “verdade” é aprendida na biblioteca e apresentada na sala de aula, mas a igreja
ensina seus mesmos preconceitos de uma geração a outra. Esta divisão entre igr ja e mundo
acadêmico ocorre demasiadas vezes.

HOUSE,Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:VIDA, 2005. pgs. 11-72



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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

PRIMÓRDIOS: DE GABLER A WELLHAUSEN (1787-1878)


Esta análise do discurso de Gabler recebe mais atenção do que o trat mento
dado à maioria dos outros autores devido à sua natureza seminal e ao
impacto de longo alcance. Não há dúvidas de que Gabler ajudou a mapear o
rumo de uma nova disciplina. Também não há dúvidas de que esse rumo
levou a direções positivas e negativas que ainda são visíveis em estudos do
AT.

Muitos dos pontos fortes e fracos das sugestões de Gabler aparecem na


primeira obra dedicada à teologia do AT, publicada por Georg Lorenz Bauer
em 1796. Tendo sido o primeiro a separar as teologias do AT e do NT, Bauer
estava de acordo com as convicções de Gabler de que a teologia bíblica deve
preceder e informar a teologia sistemática. Ele também pr curou aplicar uma
metodologia histórica em sua pesquisa e tentou desc brir as idéias universais
existentes no AT, o que está indicado no próprio subtítulo de sua obra (Um
esboço bíblico das opiniões religiosas dos antigos hebreus).20
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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

PRIMÓRDIOS: DE GABLER A WELLHAUSEN (1787-1878)


A obra de Bauer é também bastante racionalista. Robert C. Dentan
observa que para Bauer "deve-se rejeitar qualquer idéia de
revelações divinas sobrenaturais por meio de teofanias, milagres
ou profecias, visto que tais coisas são co trárias ao raciocínio
lógico e facilmente encontram paralelo entre o tros povos. Desse
modo Bauer considerou Moisés um homem corajoso e inteligente,
bem instruído na sabedoria do Egito e cujos elevados propósitos
foram fortalecidos quando viu uma sarça que havia pegado fogo
devido a um raio durante uma tempestade.”

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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

PRIMÓRDIOS: DE GABLER A WELLHAUSEN (1787-1878)


Ele interpretou os milagres do AT como mitos e até chegou a escrever um livro que
aborda os “mitos” tanto do AT quanto do N T .25 Este engaj mento antisobrenaturalista
afeta a maneira como Bauer vê a história. Para ele a história é o que se conforma a
métodos históricos em uso no nal do século dezoito.

Visto que ele foi o primeiro a escrever uma teologia especí ca do AT, é interessante
assinalar o formato que Bauer usou para apresentar sua obra. Embora ele tivesse
decidido romper com a dogmática, ainda assim esc lheu dividir sua obra nas três
categorias dogmáticas tradicionais: teologia, antropologia e cristologia.26 E possível
que ele esperasse in uenciar a te logia dogmática mais facilmente mediante a adoção
de categorias comuns. Quaisquer que tenham sido suas razões, o modo como Bauer
apresenta seu estudo introduziu para os teólogos do AT um dilema que perdura até
hoje: como alguém incorpora todos os dados bíblicos em categorias func onais que se
encaixam no propósito que o autor tem para sua obra? No caso de Bauer essas
categorias eram apropriadas porque queria coletar idéias universais que se aplicassem
aos cristãos onde quer que estivessem.

HOUSE,Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:VIDA, 2005. pgs. 11-72


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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA

PRIMÓRDIOS: DE GABLER A WELLHAUSEN (1787-1878)


Devido ao impacto de longo alcance gerado pelas idéias de Gabler e Bauer e ao fato de que a disciplina toma
um rumo diferente depois de 1800, talvez seja útil sumariar a contribuição que deram para a teologia do AT:

1.Gabler e Bauer essencialmente criaram a disciplina teologia do AT. Eles sustentaram que o AT e o NT
merecem ser ouvidos pelo que são, antes que suas idéias sejam incorporadas à teologia dogmática.

2. Tanto Gabler quanto Bauer acreditavam que a teologia do AT deve possuir um forte componente histórico.
Infelizmente esse comp nente histórico baseia-se num racionalismo que não deixa pratic mente nenhum
espaço para o sobrenatural. Também põe em dúv da uma grande quantidade de material da qual apenas
racionalistas extremos suspeitam.

3. Gabler e Bauer sustentam que o AT ensina algumas verdades un versais aplicáveis a cristãos de todas as
eras. No entanto, com o objetivo de encontrar esses conceitos, ambos eliminam boa parte do AT, atribuindo-a
à “engenhosidade pessoal” dos autores.27 Essa abordagem questiona o valor geral do AT e deixa-o quase sem
nada a dizer além do que o NT repete.

4. Gabler nunca escreveu uma teologia do AT, mas em sua obra Bauer dividiu o material bíblico em estudo de
Deus, da humanidade e de Cristo. Certamente estes são tópicos de interesse para qualquer te logo, mas só de
um modo imperfeito eles se ajustam ao AT como um todo, conforme o próprio Bauer sem dúvida alguma
sabia.

Embora essas noções tenham mais de duzentos anos, continuam a ser debatidas até hoje.

HOUSE,Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo:VIDA, 2005. pgs. 11-72






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