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da Relação Jurídica
I. O negócio jurídico em geral 3
I.I. Negócio jurídico 3
I.II. Elementos do negócio jurídico 3
Declaração negocial 3
I.III. Conformação unilateral de relações jurídicas 4
I.IV. Classificações de negócio jurídico 4
- Declarantes
➡ Capacidade negocial (art. 67.º)
- Declaração de vontade (negocial)
➡ Vontade perfeita (sem vícios) (elem. int.)
➡ Coincidência com a declaração (elem. ext.)
- Objeto
➡ Determinabilidade
➡ Possibilidade
➡ Licitude
Declaração negocial
Meio de manifestação da vontade que visa a produção de efeitos jurídicos.
Composta pela vontade (elemento interno) e pela declaração/manifestação (elemento externo).
Sem a declaração negocial, o negócio jurídico é inexistente. A falta de declaração negocial pode
assumir duas formas:
• falta da declaração em si, ausência de manifestação - silêncio
• falta de uma declaração com caráter negocial, isto é, à qual não subjaz qualquer vontade
destinada à produção de efeitos jurídicos
Só existe auto-vinculação nos casos previstos na lei (art. 457.º). Contudo, pode existir condutas
criadoras de con ança, em que a lei prevê indemnizações por “dano da con ança” (art. 246.º in ne)
ou, no âmbito do abuso do direito, onde existe a gura do venire contra factum proprium, caso em
que o agente tem uma conduta contrária ao seu comportamento anterior, o qual gerou con ança na
outra parte.
Art. 457º
Só excecionalmente é possível uma conformação unilateral de relações jurídicas.
A constituição, modi cação e extinção de relações jurídicas provêm geralmente de consensos
entre as partes (exceção: direitos potestativos).
mesmo sentido
• não recetícios: para que o negócio jurídico se torne e caz, basta a mera emissão
da declaração de vontade, não havendo uma tomada de conhecimento do seu
conteúdo por parte de um destinatário ou uma chegada da declaração negocial ao seu
poder (não há destinatário)
testamento
promessa pública
- Negócios plurilaterais
Negócios jurídicos que se compõem de duas ou mais declarações de vontade
provenientes de dois ou mais lados e cujos sentidos convergem.
Inclui negócios jurídicos bilaterais/contratos (sinónimos).
contrato de compra e venda
- Contratos bilaterais
Geram obrigações para ambas as partes.
• Perfeitos/sinalagmáticos
Reciprocidade entre as obrigações/prestações das partes.
A prestação de uma parte é realizada em virtude e por causa da prestação da
outra (do ut des).
Negócios onerosos.
contrato de compra e venda
• Imperfeitos
Inicialmente, o contrato estabelece obrigações para apenas uma das partes.
Contudo, podem surgir, posteriormente, dependendo da execução do contrato,
obrigações para a outra parte.
mandato gratuito (arts. 1158.º, n.º1 e 1167º, al. d) )
- Contratos unilaterais
Criam obrigações para apenas uma das partes contraentes.
doação, mútuo, ainda que oneroso
- Execução duradoura
• Continuada
Contêm uma obrigação duradoura.
arrendamento, contrato de trabalho
• Reiterada
• Periódica
Contêm uma obrigação repetitiva, a realizar durante certo tempo.
contrato sobre o fornecimento repetido e regular de certa quantia de mercadorias
• Não periódica
- Negócios onerosos
Cada uma das partes realiza uma atribuição patrimonial à outra, como contrapartida ou
contraprestação.
Não é necessário um equilíbrio objetivo entre as atribuições feitas.
• comutativos
As atribuições patrimoniais estão de nidas/determinadas à partida.
• parciários
Participação no risco de certo empreendimento no que diz respeito aos lucros
esperados, como contraprestação a uma entrega realizada para o efeito.
parceria pecuária, participação nos lucros (art. 405º e 1146º)
Critério da forma
- Negócios solenes (ou formais)
Exceção ao princípio da liberdade de forma.
Critério da constituição
- Negócios consensuais
O contrato ca perfeito com o simples acordo das partes.
- Negócios familiares
O princípio da liberdade contratual está excluído, ganhando, todavia, alguma relevância nos
negócios familiares patrimoniais conforme a sua natureza obrigacional ou real.
- Negócios sucessórios
Não há liberdade contratual. A autonomia privada é realizada por meio de um negócio jurídico
unilateral: o testamento.
- Negócios patrimoniais
- Negócios pessoais
Dirigidos a relações de caráter pessoal ou determinantes do nosso estado civil.
Elementos da vontade
• Vontade de ação
• Vontade de declaração
• Vontade negocial
Declaração expressa
Art. 217.º.
Declaração feita por palavras, escrito ou qualquer outro meio direto de manifestação da vontade
(gestos ou sinais).
Manifestação direta da vontade, destinada unicamente ou principalmente à exteriorização da
vontade negocial.
Declaração tácita
Art. 217.º.
Deduz-se de factos que, com toda a probabilidade, revelam a vontade do declarante.
Manifestação indireta da vontade, baseada num comportamento que não visa diretamente a
exteriorização da vontade que se considera declarada por essa forma.
Há situações em que o silêncio tem valor declarativo (arts. 224.º, n.º 2 e 3, 334.º, 923.º, n.º 2, e
1163.º).
O silêncio é uma maneira de reação; não é, à partida, possível tomar iniciativa por meio de
silêncio.
Ex.: Uma encomenda não solicitada, acompanhada por uma carta que contém a informação de
que, caso o recetor não se manifestar num determinado prazo, será considerado que aceita comprar
o bem.
Inválido, pois não existiu convenção entre as partes, não houve consenso, do silêncio não se
pode retirar a aceitação
Documentos autênticos
Documentos exarados pelas autoridades públicas, nos limites da sua competência, pelo notário
ou outro o cial público provido de fé pública.
Quando a lei exige um documento autêntico, este pode ser substituído por outro de valor
probatório superior, como a escritura pública.
O notário deve explicar o teor do contrato e aferir a capacidade das partes de o celebrar.
Documentos particulares
Os documentos que não são autênticos são considerados particulares.
Os documentos particulares são havidos por autenticados quando con rmados pelas partes,
perante um notário.
Art. 377.º
Os documentos particulares autenticados têm a mesma força probatória dos documentos
autênticos, mas não os substituem em casos em que a lei os exija.
Publicidade
Certos negócios estão, depois de celebrados por meio de ato formal ou não, sujeitos a
publicidade, nomeadamente a registo.
A publicidade ou a sua falta em nada afetam o negócio jurídico, pois este já está concluído. A
falta de publicidade apenas determina que o negócio não é oponível a terceiros, embora produzindo
todos os seus efeitos entre as partes.
Contudo, existem situações nas quais a falta de publicidade determina que o negócio jurídico
apenas produza efeitos latentes (uma vez que não pode ser invocado) ou nem sequer produza
efeitos, devido à ausência de um requisito fundamental.
• Expedição
- Momento de envio da declaração (enviar a carta)
A exteriorização e a expedição conduzem ou coincidem com a emissão da declaração: momento
em que a declaração sai da esfera de poder do declarante com a vontade deste, ganhando
existência.
• Conhecimento
- Tomada de conhecimento da declaração (abre e lê a carta)
Pode haver sobreposição cronológica dos vários momentos.
É necessário distinguir entre declarações recetícias e declarações não recetícias, que não se
dirigem a um destinatário, de maneira que nelas não se podem veri car os momentos da receção e
do conhecimento por parte de um declaratário.
O Código Civil parte da premissa lógica de que a declaração negocial ganha existência jurídica
no momento da sua emissão.
Tendo sido emitida e ganhado existência, a declaração torna-se e caz nos termos do art. 224.º.
Art. 225.º
Manifestação da forma adequada: publicação num dos jornais da residência do declarante,
quando se dirija a pessoa desconhecida ou cujo paradeiro seja pelo declarante ignorado.
Art. 226.º
Norma geral.
A morte ou incapacidade do declarante, posterior à emissão da declaração, não prejudica a sua
e cácia.
Se o declarante, enquanto o destinatário não receber a declaração ou dela não tiver
conhecimento, perder a disposição do direito a que ela se refere, a declaração é ine caz.
Proposta
A proposta exprime uma vontade rme e precisa de contratar.
A proposta é rme porque manifesta uma vontade de vinculação jurídica de acordo com o tipo
negocial concreto.
A proposta distingue-se do convite a contratar. Pelo convite a contratar, o agente não visa
vincular-se juridicamente, mas suscitar interesse nos demais.
“Vendo a minha bicicleta pelo melhor preço” é apenas um convite a contratar.
A proposta é precisa porque basta um simples “sim” para que o contrato que concluído.
A proposta tornar-se e caz (art. 224.º) signi ca que, durante um certo período de tempo, vincula
o proponente aos seus termos, sendo irrevogável. (art. 230.º)
Irrevogabilidade da proposta
Art. 230.º.
➡ Em princípio, todas as propostas são irrevogáveis, salvo exceções.
➡ A proposta, todavia, nunca pode ser revogada depois de ser aceite, tendo em conta
que a aceitação e caz leva à conclusão do contrato.
➡ Na hipótese de retratação, caso a proposta e a retratação sejam efetivamente
conhecidas pelo destinatário em simultâneo ou a retratação antes da proposta, esta ca
sem efeito (não há expectativas frustradas).
➡ Na hipótese de proposta dirigida ao público, a revogação deve ser feita na forma de
oferta ou em forma equivalente.
Duração da proposta
Art. 228.º.
➡ Se o prazo foi xado pelo proponente ou convencionado pelas partes, a proposta
mantém-se até ao prazo ndar.
➡ Em caso de pedido de resposta imediata, o aceitante deve utilizar um meio de
expedição tão ou mais célere do que aquele usado para a proposta.
➡ Se não foi xado prazo e a proposta foi enviada a pessoa ausente ou, por escrito, a
pessoa presente, a proposta mantém-se até cinco dias após o prazo da alínea anterior
(b) ).
➡ Se não foi xado prazo e a proposta foi enviada a pessoa presente, verbalmente,
supõe-se que a proposta apenas pode ser aceite imediatamente (prof. Hoerster)
A aceitação tem de tornar-se e caz dentro do período de tempo em que a proposta está em
vigor, para que o contrato seja concluído.
Suponhamos um caso no qual o proponente enviou uma proposta de contrato de compra e venda por carta ao
destinatário, no dia Y, sendo esta entregue dois dias depois.
Seja o dia X o dia da chegada ao poder do destinatário da proposta.
Aceitação
Tem de ser tempestiva: tem de produzir os seus efeitos dentro de um certo período de tempo.
A aceitação, a partir do momento em que se torna e caz, não pode ser revogada, uma vez que
o contrato ca concluído com a aceitação e caz.
A partir do momento da aceitação e caz, o contrato produz os seus efeitos (art. 408.º)
Receção tardia
Art. 229.º.
Em caso de receção tardia da aceitação, a norma geral (art. 229.º, n.º 2, 2.ª parte) de ne que
a formação do contrato depende de nova proposta e nova aceitação.
O proponente pode considerar a aceitação e caz, desde que esta tenha sido expedida em
tempo oportuno.
Caso o proponente não considere a aceitação e caz, deve avisar o aceitante de que o
contrato não se concluiu, sob pena de responder pelos prejuízos causados.
Revogação da aceitação
Art. 235.º.
➡ Caso o destinatário rejeite a proposta, mas depois a aceite, a aceitação prevalece,
desde que chegue ao poder ou seja conhecida pelo proponente ao mesmo tempo ou
antes da rejeição
➡ A aceitação pode ser revogada por declaração, desde que a revogação chegue ao
poder ou seja dele conhecida ao mesmo tempo ou antes da aceitação
No caso do contrato de compra e venda, uma vez celebrado, produz um efeito real (art. 879.º, al.
a) ) e efeitos obrigacionais (art. 879.º, als. b) e c) ).
É natural que a parte que elabora o clausulado o faça tendo em vista os seus interesses,
eventualmente com prejuízos para a outra parte.
Existe o risco de desconhecimento das cláusulas: assim, a lei determina deveres de
comunicação e informação à parte que elabora o contrato. Existe ainda o risco de cláusulas
abusivas, que sejam contrárias à boa fé.
A lei visa corrigir as assimetrias entre as duas partes.
O DL estipula que as cláusulas contratuais gerais inseridas em propostas cam incluídas nos
contratos pela aceitação, cumpridas determinadas disposições legais:
• As cláusulas contratuais gerais devem ser comunicadas na íntegra aos aderentes - dever de
informação
• As cláusulas especi camente acordadas prevalecem sobre quaisquer cláusulas contratuais
gerais
• As cláusulas não comunicadas cam excluídas dos contratos singulares
• São proibidas todas as cláusulas gerais contrárias à boa fé.
Culpa in contrahendo
Art. 227.º.
O artigo 227.º visa proteger o processo de formação do contrato em todas as suas fases
(preliminares e formação). A culpa in contrahendo pode surgir nos casos em que:
• o negócio não chega a ser celebrado
• o negócio é celebrado, mas sofre de uma invalidade
• o negócio é celebrado, mas, devido a uma conduta censurável e violadora da boa fé de uma
parte, é desvantajoso para a outra
Contratação eletrónica
Decreto-Lei n.º 24/2014.
Regula a contratação à distância, da qual a contratação eletrónica é um subsetor.
Contratação feita por via de uma plataforma digital. A sua declaração negocial permite-se que
seja feita por via dessa plataforma.
Em regra, aquilo que temos na plataforma digital é já uma proposta. O cliente, ao efetuar a
encomenda, está já a aceitar.
Num terceiro momento, a entidade tem de acusar a receção da encomenda.
Num quarto momento, o consumidor tem ainda de con rmar a encomenda que fez.
Este esquema pode ser visto como um sistema de “duplo clique”, segundo o qual só existiria
conclusão do contrato no momento em que o aceitante reiterasse a sua aceitação (4º momento).
Contudo, o Prof. Hoerster defende que o contrato ca celebrado com a encomenda (aceitação).
O terceiro momento é apenas uma obrigação legal e o quarto momento apenas o dar conhecimento
ao proponente de que não se vai utilizar a prerrogativa, concedida por lei, de revogar a aceitação
feita, tornando a encomenda de nitiva.
Assim, o risco da contratação eletrónica ca do lado do proponente, garantindo maior proteção
ao consumidor.
Distinções do representante
Núncio
O representante formula uma declaração negocial, tendo sempre, por mais pequena que seja, uma margem
decisória, dependendo dos poderes que lhe foram conferidos. Tem, pelo menos, a decisão de formular ou não
a declaração negocial.
O núncio apenas transmite uma declaração negocial que já foi formulada.
Mediador
O mediador não formula declarações negociais, visa apenas aproximar os interesses das partes.
Mandatário sem poderes de representação
O mandatário pratica o ato jurídico por conta do mandante, mas não em seu nome. Os efeitos jurídicos
produzem-se na esfera jurídica do mandatário que, depois, os transmitirá para a esfera do mandante (art.
1180.º).
O mandato é um contrato e a procuração é um negócio jurídico unilateral.
Contrato a favor de terceiro
No contrato a favor de terceiro, uma das partes assume a obrigação de efetuar uma determinada prestação
a um terceiro (art. 443.º).
Contrato para pessoa a nomear
O contrato para pessoa a nomear permite a uma das partes ser substituída por outra pessoa, a nomear,
depois de celebrado o contrato (art. 452.º).
Efeitos da representação
Art. 258.º.
Os pressupostos para a produção de efeitos jurídicos em virtude de representação são os
seguintes:
- Um negócio jurídico
- Realizado pelo representante em nome do representado
- Nos limites dos poderes que lhe competem
Satisfeitos estes requisitos, o negócio jurídico produz plenamente os seus efeitos na esfera do
representado.
Representação legal
Os incapazes carecem de capacidade de exercício para nomear um representante voluntário (art.
123.º), a não ser que haja uma exceção à sua incapacidade (art. 127.º).
Contudo, caso não fosse possível suprir a sua incapacidade, os incapazes cariam excluídos do
trá co jurídico negocial, daí a gura do representante legal, que permite integrar estes no trá co
jurídico negocial.
Representação voluntária
A representação voluntária assenta numa procuração.
Procuração
Art. 262.º
A procuração é o ato de, voluntariamente, atribuir poderes representativos a outrem.
É um negócio jurídico unilateral.
A procuração é independente da relação jurídica de base (procuração como negócio abstrato).
A procuração deve revestir da mesma forma exigida para o negócio que o procurador deva
realizar.
Capacidade do procurador
Art. 263.º
Ao procurador não se exige mais do que capacidade fáctica: capacidade de entender e querer de
acordo com o negócio jurídico.
Substituição do procurador
Art. 264.º
O procurador só pode fazer-se substituir por outrem se o representado o permitir ou se a
faculdade de substituição resultar do conteúdo da procuração ou da relação jurídica que a
determina.
O procurador só é responsável pelo substituto caso tenha agido com culpa na sua escolha ou
nas instruções dadas.
Extinção da procuração
Art. 265.º
A procuração extingue-se por renúncia do procurador ou quando a relação jurídica de base
cessa.
A procuração é livremente revogável pelo representado, salvo convenção em contrário ou
renúncia ao direito de revogação.
Se a procuração tiver ocorrido também no interesse do procurador ou de terceiro, não pode ser
revogada sem acordo do interessado, salvo justa causa.
Proteção de terceiros
Art. 266.º
A revogação ou modi cação da procuração devem ser levadas ao conhecimento de terceiros sob
meios idóneos, sob pena de não lhes serem oponíveis, salvo quando tinham conhecimento.
As restantes causas extintivas da procuração não podem ser opostas a terceiros que, sem culpa,
as tenham ignorado.
Abuso de representação
Art. 269.º
O representante está genericamente capacitado para celebrar um negócio daquele tipo, contudo,
desrespeita conscientemente a nalidade tida em vista pelo representado com a atribuição da
procuração.
Para que o abuso de representação conduza, nos termos do art. 268.º, n.º 1, à ine cácia perante
o representado do negócio celebrado pelo representante, é necessário que a outra parte conheça
ou deva conhecer o abuso.
Caso seja ine caz para o representado, este poderá sempre rati car o negócio.
III.I. Condição
Art. 270.º
Acontecimento futuro e incerto ao qual as partes subordinam a produção ou resolução dos
efeitos jurídicos de um negócio.
Pendência da condição
Arts. 272.º a 274.º
Consagra o princípio da boa fé aplicado às partes que se subordinam a certas condições.
Retroatividade da condição
Art. 276.º
Os efeitos da veri cação da condição são, em princípio, retroativos, quer a condição seja
suspensiva ou resolutiva.
No caso dos contratos duradouros (arrendamento), exclui-se o caráter retroativo da veri cação
da condição.
III.II. Termo
Acontecimento futuro e certo ao qual as partes subordinam o início ou cessação dos efeitos do
negócio jurídico.
Encargo
Também é cláusula acessória e acidental e resulta da vontade das partes.
Impõe uma obrigação a uma das partes, mas não in uencia a produção dos efeitos jurídicos do
negócio.
Rati cação
Negócio jurídico unilateral que visa conferir e cácia plena a um outro negócio que dela carece.
Em princípio, a rati cação deve observar a mesma forma do negócio a rati car.
Insolvência
Art. 1.º, CIRE.
Insolvente
Art. 3.º, CIRE.
É considerado insolvente aquele que não consegue fazer face às suas obrigações vencidas.
Efeitos da insolvência
Art. 81.º, CIRE.
O insolvente é privado dos poderes de administração e disposição dos bens integrantes da
massa insolvente.
É o administrador de insolvência que passa a administrar a massa insolvente.
O negócio praticado pelo insolvente não e inválido, mas é ine caz em relação à massa
insolvente, vinculando apenas a contraparte.
Se o administrador da insolvência quiser chamar à massa insolvente os efeitos do negócio, pode
rati car os negócios celebrados pelo insolvente.
Caso o administrador não rati que o negócio, o insolvente responde à outra parte por
incumprimento do contrato se não conseguir realizar a contraprestação.
Falta de publicidade
Por questões de segurança jurídica, é necessário que alguns negócios, considerados relevantes,
sejam registados.
O registo visa proteger a expectativa de terceiros, conferindo segurança ao tráfego jurídico.
O registo tem função e e cácia declarativa: visa dar conta dos factos. Não atribui direitos (visão
clássica); contudo, a sua falta pode ter consequências.
A aquisição e venda de bens imóveis deve ser sujeita a registo, para que seja dada publicidade à
situação jurídica dos bens.
Consequências
Se a publicidade for omitida, o negócio pode ser invocado entre as partes ou entre os seus
herdeiros, mas pode não ser oponível a todos os terceiros.
Os factos sujeitos a registo só produzem efeitos em relação a terceiros para efeitos de registo a
partir do momento do registo.
O negócio, ainda que não registado, produz efeitos erga omnes invocáveis em situações de
responsabilidade civil, etc.
Prioridade de registo
Art. 6.º, CRP
O direito inscrito/registado (e não adquirido) em primeiro lugar prevalece sobre os que se lhe
seguirem.
O registo constitui presunção de que o direito existe e pertence ao titular inscrito (art. 7.º, CRP)
O direito é legal porque resulta da lei (art. 892.º) e não do contrato e é relativo porque refere-se
apenas ao vendedor, o único que não pode opor-lhe a nulidade do negócio (arts. 286.º e 892.º).
O direito legal relativo atribuído pelo art. 892.º é fortalecido (direito absoluto) caso o comprador
leve o negócio a registo, prejudicando o primeiro negócio, não sujeito a registo. O segundo
adquirente passa a ser o proprietário.
O negócio nulo pode produzir um direito legal relativo (art. 892.º). Pode produzir efeitos de
natureza negocial por força da lei - efeitos laterais. Os seus efeitos típicos não são produzidos, pois
carece de um pressuposto considerado pela lei essencial.
Art. 408.º
Os efeitos reais produzem-se por mero efeito do contrato.
Art. 879.º
Um dos efeitos reais é a transmissão do direito de propriedade.
Art. 892.º
Princípio nemo plus iuris, ninguém pode transmitir mais direitos do que aqueles que possui.
A venda de bens alheios por vendedor sem legitimidade para a realizar é nula.
O vendedor sem legitimidade para a venda não pode opor a nulidade ao comprador de boa fé. O
comprador de boa fé está protegido apenas em relação ao vendedor (direito legal relativo).
Mesmo que a transmissão da propriedade não seja sujeita a registo, aquele que transmitiu a propriedade
não pode (voltar a) vendê-la a outrem, pois já não possui o direito de propriedade.
Art. 954.º
Mesmo que a transmissão da propriedade não seja sujeita a registo, aquele que transmitiu a propriedade
não pode doá-la a outrem, pois já não possui o direito de propriedade.
Art. 4.º, CRP
Os factos sujeitos a registo, ainda que não registados, produzem os seus efeitos inter partes.
Inoponibilidade da invalidade
Nos casos de inoponibilidade da invalidade, o negócio é nulo.
Assim sendo, não produz os seus efeitos típicos, mas apenas efeitos laterais, de natureza
negocial. Segundo o art. 892.º, é nula a venda de bens alheios por quem não tem legitimidade para
os vender; todavia, o vendedor não pode opor a nulidade ao comprador de boa fé.
No caso da doação (art. 956.º), a solução é a mesma. Esta regra fundamental, exceção ao art. 286.º,
estende-se também ao art. 939.º.
Existe, então, uma e cácia estritamente relativa entre as partes de um negócio nulo, resultante da
inoponibilidade da invalidade do mesmo, por virtude da boa fé de uma delas (geralmente o
comprador).
Esta e cácia relativa produz-se como efeito lateral de um negócio nulo, por comando da lei.
A posição jurídica da parte de boa fé ca reduzida a um direito legal relativo, pois a lei de ne que,
(apenas) entre as partes, os efeitos produzem-se regularmente.
Art. 237.º
Norma subsidiária (caso não seja possível chegar ao sentido pelo art. 236.º).
O sentido com que a declaração vale é:
• negócios gratuitos: o menos gravoso para o disponente (este já está a atuar gratuitamente)
• negócios onerosos: o que conduzir ao maior equilíbrio entre as partes (sinalagma)
Art. 238.º
Nos casos em que a lei exige uma forma para o negócio jurídico, o sentido retirado da declaração
deve ter um mínimo de correspondência no texto do documento, ainda que imperfeitamente
Se, esgotadas todas as possibilidades, não for possível atribuir sentido algum, a declaração é
simplesmente ine caz.
IV.II. Integração
A declaração não apresenta um sentido obscuro ou equívoco, mas lacunas, que as partes
desconhecem.
Se as partes conhecem as lacunas, o contrato não se concluiu (art. 232.º).
Art. 239.º
No preenchimento de lacunas, recorrer-se-á, por ordem, a:
1. Normas supletivas
2. Boa fé
• justiça contratual atual
3. Vontade hipotética
• no momento da emissão da declaração
Se a vontade hipotética dos declarantes se opuser à boa fé, a boa fé prevalece. Contudo,
buscamos a vontade hipotética que, se não estiver de desacordo com a boa fé, vale como sentido
da declaração.
A integração nunca pode:
• chegar a um resultado que contrarie visivelmente a vontade das partes
• substituir ou alargar o objeto do negócio jurídico
E cácia
Produção ou não produção dos efeitos da declaração negocial.
Elemento extrínseco da declaração.
A e cácia ou ine cácia é posterior à validade ou invalidade.
Um negócio inválido ou nulo (art. 892.º) não produz os seus efeitos.
Assim, a ine cácia em sentido amplo engloba a invalidade e a ine cácia em sentido restrito.
Nulidade
Um negócio nulo não produz os seus efeitos típicos.
Contudo, pode produzir efeitos laterais, de natureza negocial, mas por força da lei.
Se não estiver preenchido certo pressuposto obrigatório, então o negócio é nulo e não produz os
seus efeitos típicos (no caso da compra e venda, os previstos no art. 879.º).
Art. 286.º
A nulidade é invocável a todo o tempo (sem dependência de prazo), por qualquer interessado.
Pode ser o ciosamente declarada pelo tribunal (ex o cio).
Interessado
Titular de uma situação jurídica que sai jurídica ou economicamente prejudicada pela
existência do negócio nulo (tem de existir um interesse jurídico ou económico).
Anulabilidade
O negócio anulável começa por produzir os seu efeitos, de forma provisória.
Os efeitos podem vir a cessar se certas pessoas invocarem a sua anulabilidade.
A sentença de anulabilidade não é meramente declarativa, mas sim constitutiva.
Art. 287.º
Tem legitimidade para invocar a anulabilidade aquele em favor de quem a lei estabelece a
anulabilidade.
A anulabilidade é invocável até um ano após a cessação do vício que lhe serve de fundamento.
Enquanto o negócio não for cumprido (enquanto uma das partes não cumpriu com a sua prestação:
pagamento do preço, etc.), a anulabilidade pode ser invocada sem dependência de prazo.
Se o legitimado não invocar a anulabilidade no prazo previsto, o seu direito extingue-se e o
negócio consolida-se, passando a ser inatacável.
Art. 288.º
O negócio jurídico anulável pode ser consolidado através da con rmação (art. 288.º, n.º 1).s
Con rmação
Negócio jurídico unilateral que visa sanar um negócio jurídico anulável.
Não carece de forma especial.
Paralelo à rati cação.
Art. 291.º
A nulidade ou anulabilidade não são oponíveis a terceiros de boa fé, no que respeita à
aquisição, a título oneroso, de bens imóveis ou móveis sujeitos a registo, se o registo for anterior ao
registo da ação de nulidade ou anulação.
No caso de transmissões em cadeia, quando a propriedade da coisa já foi transmitida mais vezes
posteriormente ao negócio nulo, ao aplicar-se o art. 289.º, a segurança jurídica seria posta em
causa.
Não prejudica os direitos de terceiros: permite consolidar um direito relativo num direito absoluto,
um direito provisório num direito de nitivo.
O período de 3 anos visa dar oportunidade ao primeiro adquirente, no negócio nulo ou anulável, a
sanar a invalidade ou resolver a situação.
Legalmente impossível
A lei não fornece um tipo ou meios para a realização do negócio ou não concebe os seus efeitos
jurídicos.
Venda de uma coisa ao proprietário, casamento de pessoas coletivas, fusão de pessoas singulares
Contrário à lei
O objeto é física e legalmente possível, todavia, contraria uma norma imperativa.
Indeterminável
O objeto do negócio não é passível de concretização, não são determinados/avançados pelas
partes critérios para determinar o objeto
Entrega de “um animal” ou de “uma coisa”, ança genérica
- Divergências intencionais:
• simulação (art. 240.º, ss.)
• reserva mental (art. 244.º)
• declaração não séria (art. 245.º)
- Divergências não intencionais
- Forçadas
• Coação física (246.º)
- Ignoradas
• Falta de consciência da declaração (art. 246.º)
• Erro na declaração (art. 247.º, ss)
Simulação
Art. 240.º, ss
Divergência entre a vontade real e a vontade declarada por acordo entre o declarante e o
declaratário, com o intuito de enganar terceiros.
Três requisitos: divergência entre vontade real e declarada + acordo entre declarante e
declaratário + intuito de enganar terceiros.
A simulação pode ser:
- Absoluta: as partes não querem concluir negócio algum
- Relativa: o negócio simulado visa um outro negócio, dissimulado. Esse outro negócio é
dissimulado sob a aparência de um ato de conteúdo ou de objeto diverso ou concluído entre
pessoas que não aquelas que nele efetivamente intervieram. Temos um negócio simulado e um
negócio dissimulado.
• Objetiva: as partes ocultam o negócio dissimulado celebrando outro de conteúdo diverso.
Pode ser quanto à natureza ou ao valor.
A celebra um contrato de compra e venda com B (negócio simulado), quando na verdade quer doar
(negócio dissimulado) (natureza)
A celebra um contrato de compra e venda com B por 150.000€ (negócio simulado), quando na
verdade o preço é de 100.000€ (negócio dissimulado) (valor)
• Subjetiva: interposição ctícia de pessoas. Simulação de uma parte do negócio.
A vende a C que vende a B, quando na verdade A queria vender a B (art. 2196.º —> 953.º)
A simulação relativa subjetiva distingue-se do mandatário; neste último exige uma interposição real de
pessoas.
Negócio dissimulado
Art. 241.º
A validade do negócio dissimulado não é prejudicada pela nulidade do negócio simulado.
Se o negócio dissimulado for formal (solene), só é válido se tiver sido observada a forma legal.
Dois entendimentos: a forma do negócio simulado não aproveita ao negócio dissimulado (Prof.
Hoerster) ou a foram do negócio simulado aproveita ao negócio simulado.
Reserva mental
Art. 244.º
Divergência entre a vontade real e a vontade declarada com o intuito de enganar o declaratário.
A divergência é intencional.
Caso o declaratário fosse induzido a crer na seriedade da declaração, tem o direito a ser
indemnizado pelos prejuízos que tiver sofrido.
Coação física
Erro na declaração
Há vontade de ação, mas não há vontade de declaração.
A consequência jurídica é a mera anulabilidade.
António acena a Berto no momento do leilão e é entendido como ato de demonstração da vontade de
comprar pelo preço leiloado.
Art. 123.º
Art. 129.º
A incapacidade dos menores termina quando eles atingem a maioridade (à meia-noite do dia dos
18 anos) ou são emancipados.
São emancipados pelo casamento (arts 132.º e 133.º).
Art. 133.º
A emancipação atribui ao menor plena capacidade de exercício, salva a exceção do art. 1649.º.
Art. 124.º
O menor pode ser sujeito de um negócio jurídico, através da representação legal.
São representantes legais do menor os pais ou tutores legais.
Art. 127.º
Exceções à incapacidade dos menores:
- os atos de administração ou disposição de bens que o maior de dezasseis anos haja
adquirido por seu trabalho
- os negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor que, estando ao alcance da sua
capacidade natural, só impliquem despesas, ou disposições de bens, de pequena importância
- os negócios jurídicos relativos à pro ssão, arte ou ofício que o menor tenha sido autorizado
a exercer, ou os praticados no exercício dessa pro ssão, arte ou ofício
Art. 125.º
Os negócios celebrados pelo menor são anuláveis.
Remissão para art. 287.º, n.º 2.
A anulabilidade é sanável em certas condições:
- Pelos pais, do tutor legal ou administrador de bens, desde que a acção seja proposta no prazo de um
ano a contar do conhecimento que o requerente haja tido do negócio, mas nunca depois de o menor
atingir a maioridade ou ser emancipado, salvo o disposto no artigo 131.º
- Pelo próprio menor, no prazo de um ano a contar da sua maioridade/emancipação, desde que o
negócio permaneça anulável
- Por qualquer herdeiro do menor, no prazo de um ano a contar da morte deste, ocorrida (a morte)
antes de expirar o prazo referido na alínea anterior
Os pais podem anular, con rmar (caso o pudessem também celebrar (art. 125.º, n.º 2, remete
para 1889.º) (art. 288.º) ou deixar passar o prazo para invocar a anulabilidade, permitindo a
consolidação do negócio.
Caso o negócio não esteja cumprido (art. 287.º, n.º 2), os prazos contam-se de forma distinta.
Art. 126.º
Relaciona-se com art. 253.º.
O menor que atuou com dolo para se fazer passar por maior/emancipado na celebração do
negócio não tem o direito de invocar a anulabilidade.
Os herdeiros não podem invocar a anulabilidade.
Os pais/representantes legais, para Mota Pinto e Carvalho Fernandes, não podem invocar a
anulabilidade (interpretação extensiva/extensão teleológica).
Para Hoerster, os pais/representantes legais podem invocar a anulabilidade (interpretação declarativa).
Negócios usurários
Arts. 282.º a 284.º
Negócios em que existe uma situação de fragilidade aproveitada pela outra parte.
Requisitos:
• Exploração consciente da fragilidade da outra pessoa
• Desequilíbrio excessivo e injusti cado das prestações
O negócio é anulável.
Contudo, a parte lesada pode, em vez da anulação, requerer a modi cação do negócio segundo
juízos de equidade.
Erro na declaração
Arts. 247.º a 250.º
Divergência não intencional.
O problema está na manifestação da vontade, o elemento externo, a declaração, devido a erro.
O contrato conclui-se (difere do dissenso oculto/latente), mas a sanção é a anulabilidade, desde
que o declaratário conhecesse ou não devesse ignorar a essencialidade do elemento sobre o qual
incidiu o erro.
Se for possível, de acordo com as regras da interpretação, atribuir um sentido comum à
declaração, o contrato conclui-se.
Erro
Arts. 251.º e 252.º
Desfasamento entre a representação intelectual e a realidade.
O erro que recaia sobre os motivos determinantes da vontade só é causa de anulação se as
partes houverem reconhecido por acordo a essencialidade do motivo.
O erro sobre a pessoa (identidade, qualidade, etc.) ou o objeto do negócio (autor de um quadro) torna
o negócio anulável nos termos do art. 247.º.
O erro sobre a base do negócio só releva se é comum a ambas as partes e remete para o art.
437.º sobre a alteração superveniente das circunstâncias. Será possível modi car ou resolver o
contrato, pela parte lesada.
A base do negócio consiste no ambiente circunstancial envolvente do negócio.
Dolo
Arts. 253.º e 254.º
Erro determinado por outra pessoa (não só me enganei, fui enganado).
Por detrás do dolo, há sempre um erro.
Qualquer sugestão ou artifício que alguém empregue com a intenção ou consciência de induzir
ou manter em erro o autor da declaração (dolo ativo), bem como a dissimulação, pelo declaratário
ou terceiro, do erro do declarante (dolo negativo).
Há dolo lícito: as sugestões ou artifícios usuais, considerados legítimos no comércio jurídico
(exagero das qualidades do objeto), e a dissimulação do erro, quando o declaratário não tiver
nenhum dever de elucidar o declarante.
Dever de elucidar o declarante: art. 227.º, boa fé na formação dos contratos.
O declarante cuja vontade tenha sido determinada por dolo pode anular a declaração. A
anulabilidade não é excluída se o dolo for bilateral. Não há mais pressupostos, uma vez que o dolo é
mais grave.
Dolo de terceiro: declaração só é anulável se o declaratário tinha ou deveria ter conhecimento
dele. Contudo, se do negócio resultarem benefícios para terceiro, que agiu com dolo, é anulável a
parte do negócio que gerou o benefício para o terceiro doloso.
Quem pode anular, segundo a norma geral, é aquele em favor de quem a lei estabeleceu a
anulabilidade (art. 287.º).
Coação moral
Arts. 255.º e 256.º
Existe uma vontade de emitir a declaração negocial, contudo, esta não existiria caso não
existisse coação moral.
O declarante tem margem de escolha.
A declaração negocial é determinada pelo receio de um mal de que o declarante foi ilìcitamente
ameaçado, com o m de obter dele a declaração.
Requisitos:
• Determinada pelo receio de um mal
• Ameaça ilícita de um mal
• Intuito de obter dele a declaração