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Sarah Lídice Alfenas Moreira (matutino)

Filosofia, 1º semestre - fevereiro/2020

Resenha: “Objetividade, juízo de valor e escolha de teoria”, de Thomas Kuhn

O texto de Kuhn tem como assunto a descrição e o levantamento de problemáticas


relacionadas ao processo de “abandono” (p. 339) de paradigmas científicos frente à teorias
rivais. Nesse artigo, ele parece dar atenção especial na defesa de sua tese de que “na ausência
de critérios capazes de ditar a escolha, ela deve ser encaminhada ao juízo de um coletivo de
cientistas. (...) Qual o melhor critério do que a decisão do grupo?” (p. 340). Procura, dessa
forma, defender-se dos apontamentos levantados por críticos em relação à essa ideia.
Pode-se dividir o artigo em seis partes: (I) Introdução: apresentação da tese e críticas
(p. 339-340). Em um primeiro momento, o autor discute sobre a sua tese das decisões
científicas, pautada pelos críticos como “subjetivista”. Eles argumentam que sua teoria
fortalece uma “psicologia de massas” e, também, um processo isento de razão durante a
decisão de grupos científicos frente a novos paradigmas (p.340). (II) “Fatores
idiossincráticos”: características, a priori, de uma boa teoria científica (p. 340-344). Nesse
segmento, Kuhn elenca aqueles critérios utilizados pela comunidade científica no momento
da escolha de novos paradigmas. Encontra, por sua vez, dificuldades ao utilizar esses critérios
para escolher entre uma teoria já estabelecida e outra nova, já que eles, quando individuais,
são imprecisos e, quando pensados em grupo, conflitantes; assim, vai destrinchando as falhas
de alguns dos critérios, o que corrobora na sua defesa contra a posição dos críticos. (III) A
tese kuhniana: “mesclagem” (p. 344-345). Aqui, o filósofo apresenta a sua tese de que “toda
a escolha individual entre teorias rivais depende de uma mescla de fatores objetivos e
subjetivos, ou critérios compartilhados e individuais" (p. 344), depois da demonstração sobre
as inconsistências de se basear, algorítmica e exclusivamente, em critérios já estabelecidos.
(IV) O problema na Filosofia da Ciência (p. 345-349). Ainda discutindo a ideia de seus
críticos, filósofos da ciência, Kuhn deixa claro o seu posicionamento sobre como esse campo
da filosofia parece “ignorar” os elementos subjetivos da escolha, isentando, de certa forma,
esse problema do horizonte filosófico. Articula, também, o que chama de “idealização” do
processo de escolha de paradigmas quando este é feito de maneira a não considerar fatores
subjetivos, tornando-se uma “ilustração filosófica” (p. 347) baseada na “Ciência dos
Manuais” — maneira com a qual ele critica, em um jogo de palavras, a “pedagogia
científica”. (V) De critérios a valores (p. 349-354). Nessa quinta parte, o autor questiona a
eficiência considerável dos critérios utilizados pela comunidade científica e, assim,
argumenta que eles deveriam ser tidos como valores porque “influenciam decisões sem
especificar qual deve ser o seu resultados” (p. 349). Para Kuhn, essa valoração seria
importante na medida em que insere não só os fatores subjetivos no momento da decisão,
como também um fator novo, o da aceitação do risco. Assim, ele vai consolidando sua tese.
(VI) Epílogo (p. 354-359). O autor termina com uma síntese dos assuntos discutidos no texto,
e faz um incremento com um fator “comunicação parcial” (p.354), sustentando sua
argumentação em favor dos valores no processo da decisão e ratificando que eles talvez
proporcionem uma “tradução” e convergência entre teorias rivais, levando, eventualmente, ao
processo chamado de mudança de teoria ou mudança de paradigma.

Kuhn, Thomas S. “Objetividade, juízo de valor e escolha de teoria”. In: A tensão essencial:
estudos selecionados sobre tradição e mudança científica. Tradução de Marcelo Amaral
Penna-Forte. São Paulo: Editora UNESP, 2011, p. 339-59.

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