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FUNDAMENTOS ETIMOLÓGICOS DO
ESPANHOL
GUARULHOS – SP
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4
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5.5 Língua espanhola: a filha do latim .................................................................... 55
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 INTRODUÇÃO À LÍNGUA ESPANHOLA
Fonte: www.trabalhosescolares.net
2.1 Cultura
A língua espanhola surgiu numa região que vivia em guerra e que, por isso, era
cheia de fortificações e castelos de pedra — motivo pelo qual esse lugar passou a se
chamar Castela (em espanhol, Castilla). As pessoas que viviam nessa região falavam
o latim de forma diferente: misturavam termos germânicos e romanos.
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Fonte: educalingo.com
No período da reconquista, houve uma desagregação dos povos, que fez com
que não houvesse mais comunicação entre eles. Essa não comunicação gerou muitas
diferenças e, por isso, surgiram o galego, o catalão, o basco e o castelhano (língua de
Castela). Entretanto, devido à força política e literária de Castela, o castelhano passou
a ser considerado mais importante (BIZELLO,2018).
Dessa forma, o latim vulgar falado antes se modificou. Outras línguas se
misturaram a ele e, ao contrário do que ocorreu com os seus vizinhos, surgiram mais
ditongos, e os falantes diminuíram as vogais postônicas e introduziram sons guturais
e velares.
É importante destacar, porém, que essas mudanças eram predominantemente
orais. Na escrita, a chamada língua romance ganhou mais espaço na época dos reis
católicos, pois passou a ser tratada como língua oficial da corte e, assim, foi se
desprendendo das regras latinas.
Dessa forma, o castelhano apareceu na literatura, nas crônicas reais e na
legislação. Outra mudança significativa do período do Rei Alfonso X foi a ordem da
frase, que passou a se basear em sujeito, verbo e complemento. Além disso, o latim
culto passou cada vez mais a se misturar com o latim vulgar.
Nessa época, também houve a mistura com o galego, o catalão, o italiano e o
francês. Durante a conquista da América, embora os espanhóis impusessem a sua
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língua como oficial, o contato com os povos conquistados levou esse idioma a mais
transformações.
No período depois da conquista da América, o espanhol se assemelhava mais
ao que é hoje. Nessa época, surgiram as regras de bom uso da língua e, para isso,
Antonio de Nebrija escreveu a Gramática castellana e Juan Valdés escreveu o Diálogo
de la lengua.
Na literatura, a obra de Cervantes, além da sua importância literária, surgiu
como modelo de perfeição de linguagem: ele mesclou a linguagem culta do
personagem Quixote com a língua do povo do personagem Sancho.
Outro fato que contribuiu para a força da língua espanhola foi a fundação da
Real Academia Española (RAE), em 1713, indo ao encontro do momento do espanhol
no mundo. Embora a Espanha como país não estivesse em evidência, o espanhol era
considerado a língua da ciência e da educação. De acordo com o Portal do Governo
da Espanha (2017, documento on-line), o país:
[…] contaba en 1492 con una potente maquinaria de guerra, una sólida
economía, una proyección exterior, una experiencia marinera y exploradora
de rutas mercantiles y un notable potencial científico-técnico: matemáticos,
geógrafos, astrónomos y constructores navales.
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Fonte: www.soespanhol.com.br
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Além disso, a Espanha é conhecida pelas suas festas populares.
Las Fallas: ocorre em Valência como uma competição de grandes
esculturas, que são conhecidas como fallas.
Semana Santa: no sul da Espanha, durante a Páscoa, várias procissões
percorrem as cidades, principalmente Sevilha e Granada, as quais são
decoradas com flores e símbolos religiosos.
Feira de Abril: em Sevilha, ocorre uma festa com comidas e bebidas
típicas, apresentações culturais e passeios de carruagem com trajes
típicos.
Fiestas de San Fermín: ocorrem em Pamplona como uma homenagem
ao padroeiro da região. Os participantes se vestem de branco e usam um
lenço vermelho no pescoço, antes de saírem correndo diante dos touros
que são soltos nas ruas estreitas da cidade.
La Tomatina: trata-se de uma batalha de tomates que ocorre em Buñol,
a qual começa às 11h e dura o dia todo. Surgiu em 1945, quando um
grupo de amigos fez uma guerra de tomates.
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A Colômbia é um país marcado pelas festas culturais. O carnaval de negros e brancos
ocorre em Pasto, a partir da primeira semana de janeiro, desde 1546, reunindo
tradições étnicas andinas e do pacífico (BIZELLO,2018).
Em 2009, foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela
UNESCO. O carnaval de Barranquilla é o principal festival colombiano, sendo
reconhecido internacionalmente, e se destaca entre outros importantes festivais da
América Latina.
As Festas de Padroeiro (em San Andrés) envolvem todo o complexo de ilhas,
com muita música caribenha e pratos típicos dessa região insular. Vale ressaltar
também que, na Colômbia, há touradas em muitas festas. A Costa Rica é um grande
mosaico cultural. Há uma mistura da cultura africana, trazida pelos escravos, da
caribenha, da espanhola e da jamaicana, resultado da imigração de trabalhadores.
Cuba é um país conhecido pela implementação e manutenção do regime
socialista, e pouco se fala nas mídias sobre a sua cultura. Ela é fruto da mistura dos
aspectos espanhóis com costumes africanos, e a música é a expressão mais
destacada nessa cultura: a rumba e a salsa são dançadas em todos os espaços. O
Equador tem na sua cultura a expressão da mistura de povos indígenas.
As culturas pré-colombianas se destacam em cerâmica, confecção, escultura,
pintura e trabalhos com ouro e prata. Na arte religiosa, presente em museus e igrejas,
destacam-se as obras coloniais religiosas realizadas pelos indígenas. Em El
Salvador, há uma mistura da cultura indígena (representada pelo legado do mundo
maia) com a cultura espanhola (representada pelas construções arquitetônicas
religiosas).
Na Guatemala, a cultura maia está na religião, na arquitetura, nos costumes e
nas vestimentas. Entretanto, a presença espanhola na época da colonização fez com
que aspectos europeus se misturassem a essa cultura e formasse o que hoje é a
cultura guatemalteca.
A Guiné Equatorial está localizada na África Ocidental. Como foi inicialmente
colonizada por portugueses, tem raízes portuguesas na sua cultura — alguns
habitantes da região falam português, mas cerca de 90% da população fala espanhol.
Essa mistura de colonizadores deixou marcas, como o legado ibérico na gastronomia:
a preferência por frutos do mar e o uso de azeite estão muito presentes.
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O cristianismo é a religião com mais praticantes, mas também há influências
africanas. Em Honduras, o espanhol é a língua predominante, embora alguns
habitantes usem o inglês, e há misturas com dialetos indígenas e com o dialeto
garifuna.
Mistura é a palavra-chave para definir a cultura hondurenha: as ilhas da Baía
têm população composta quase que totalmente por ingleses, contrastando com as
ilhas de Bata, cuja população é em sua maioria negra. México foi território de muitas
civilizações, das quais se destacam os maias e os astecas; logo, a sua cultura é
marcada pelo legado desses povos e pela colonização espanhola.
Uma evidência da pluralidade mexicana é a gastronomia, que foi reconhecida
como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2010. De acordo com o
Portal Universia ([201-?], documento on-line),
Uma festa popular no México é a que celebra o dia dos mortos: nos cemitérios,
as pessoas comem, bebem, tocam músicas e realizam oferendas. Na Nicarágua, não
há religião oficial, mas a maioria da população é católica. A literatura nicaraguense
projetou-se no mundo com o modernista Rubén Darío, considerado um dos maiores
poetas hispano-americanos.
O Panamá apresenta uma cultura em que há uma mistura das tradições
espanholas, africanas, ameríndias e norte-americanas. De acordo com Nadale (2018,
documento on-line), “No Corpus Christi, uma das tradições são os ‘diabinhos sujos’:
figuras com máscara de papel machê, mortalha (geralmente preta e vermelha),
castanholas e um sininho. Eles dançam pelas ruas, jogam água nas pessoas e fazem
bagunça com as crianças”.
A principal língua falada no Peru é o espanhol, a segunda mais falada é o
quéchua — a língua antiga dos incas. Essa coexistência de culturas se manifesta em
todos os aspectos da sociedade peruana, como a religião: a maioria da população
peruana é católica, mas muitas crenças e costumes tradicionais permanecem.
Há vários festivais tradicionais que mostram isso; o exemplo mais famoso é o
festival Inti Raymi, quando Inti, o deus do Sol da cultura inca, é honrado em uma
procissão.
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Porto Rico tem uma cultura marcada pela colonização espanhola e pela
condição contraditória de, mesmo após a independência, sofrer intervenções dos
Estados Unidos.
Essa peculiaridade surge também na língua. De acordo com as informações do
Portal São Francisco ([201-?]), a “guerra da língua” demonstra que a população quer
defender a sua identidade todas as vezes em que algum dos governadores tenta
mudar a Lei da língua oficial única (1949), a qual determina que o ensino na escola
pública seja feito somente em espanhol.
“Porto Rico não é uma ilha bilíngue, mas um centro significativo, criador de
cultura hispânica, onde é utilizado também o inglês como instrumento de
comunicação”, frisa Ramón-Darío Molinary (apud PORTAL SÃO FRANCISCO ([201-
?], documento on-line).
A República Dominicana tem como principal aspecto da sua identidade o
merengue. Esse ritmo musical, que tem origem na fusão das músicas africanas com
o pasodoble espanhol, era considerado vulgar, mas atualmente é a principal
manifestação cultural da ilha.
O Uruguai tem forte tradição na figura do gaúcho, de onde surgem algumas
danças e músicas folclóricas, como a milonga. Contudo, as danças e os rituais de
origem africana revelam um rico folclore afro-uruguaio. O candomblé é uma dança
que surgiu dessa tradição.
Na Venezuela, a música é uma forte expressão da sua cultura. Trata-se de uma
mistura de espanhol com ritmos africanos e indígenas. Em resumo, a língua espanhola
é um elemento cultural de vários países de diferentes continentes.
Essa diversidade e mistura caracterizam as manifestações culturais de todas
as regiões e contribuem com as variações linguísticas.
Observe que as duas primeiras formas, com o uso de se, são utilizadas em
contextos formais. Para dizer o seu nome, uma pessoa pode dizer:
¡Hola! Me llamo...
Mi nombre es...
Soy...
Observe que uma pessoa pode estar soltera ou casada e ser viúda ou
divorciada. Para conversar sobre a profissão das pessoas, pode-se recorrer a
diferentes perguntas:
¿A qué te dedicas?
¿En qué trabajas?
¿Qué haces?
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A comunicação pode ter como tema as datas. Nesse caso, podem surgir
questões como:
¿Qué día es hoy?
¿Qué día de la semana...?
¿Cuándo es...?
Você notou que há situações em que se usa o verbo tener e, em outras, o verbo
haber? Geralmente, o verbo tener é utilizado para indicar posse, já haber é aplicado
para mostrar a existência (BIZELLO,2018).
Além disso, haber nunca vai para o plural, enquanto tener nunca aparece com
preposição. Assim, observe os exemplos a seguir:
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Mi barrio no tiene árboles.
En la sala, hay dos alumnos.
Las salas tienen aire condicionado.
En este barrio hay muchas flores.
Tengo hambre.
Todos tienen sed aquí.
Ella tiene sueño.
Tengo ganas de pasear.
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¿Cuánto cuesta?
¿A cuánto está?
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Fonte:actualiteespagnole.com
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Para os brasileiros, a importância desse conhecimento é ainda maior, porque,
com os acordos firmados com o Mercosul, ampliou-se o número de negócios entre
empresas brasileiras e estrangeiras que têm o espanhol como principal idioma. Essa
necessidade de desenvolver a língua dos hermanos é ratificada pelas exigências de
um mundo globalizado. Afinal, a comunicação com pessoas de diferentes lugares do
mundo é não só uma realidade, mas também uma exigência.
Conhecer outras línguas é, portanto, indispensável, seja no trabalho, seja nos
estudos, seja para o lazer, seja para o simples contato com pessoas de outros países.
Nesse sentido, vale ressaltar que o espanhol é a terceira língua mais utilizada nas
redes sociais. Veja os resultados de pesquisas do Instituto Cervantes (2018, p. 40).
O Brasil está muito próximo de países que têm o espanhol como o idioma
oficial. Além disso, em algumas regiões dos Estados Unidos, essa também é uma
língua importantíssima nas relações comerciais — 15% da população do país têm o
espanhol como a sua primeira língua.
Portanto, conhecê-la facilita também os negócios financeiros e profissionais
com a maior potência do mundo. Há ainda muitos estudantes de espanhol nos
Estados Unidos: “[…] el número de alumnos matriculados en cursos de español en las
universidades estadounidenses supera al número total de alumnos matriculados en
cursos de otras lenguas” (INSTITUTO CERVANTES, 2018, p. 15).
Na África, desde 2001 o espanhol é considerado uma das línguas oficiais da
Organização da Unidade Africana (OUA), juntamente com o árabe, o francês, o inglês
e o português. Isso significa que, nesse contexto, a língua espanhola se revela como
uma das escolhas mais vantajosas para as questões profissionais, acadêmicas e
culturais.
No mundo acadêmico, principalmente no âmbito dos cursos de pós-graduação,
há muita bibliografia escrita em espanhol e que não tem tradução para o português.
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Vale ressaltar a forte presença do espanhol na ciência e na cultura. Veja a seguir os
dados apresentados pelo Instituto Cervantes (2018, p. 49).
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lugar de destaque no cenário mundial. Assim, os aprendizes desse idioma têm
maiores chances de se inserir na comunicação em âmbito global.
3 O PERCURSO HISTÓRICO
Você sabia que a língua espanhola é a segunda língua mais falada no mundo?
Em termos de quantidade de falantes nativos de espanhol, esse número passa de 500
milhões, abaixo somente do mandarim (o idioma falado na China).
Originado na Espanha, hoje esse idioma é falado em países das Américas
Central e do Sul, assim como em países da Ásia e da África. Além disso, a língua
espanhola é a segunda mais estudada como língua estrangeira, só ficando atrás do
inglês (ALVES, 2018).
Vale lembrar ainda que o espanhol também é muito falado nos Estados Unidos,
em função da grande imigração latina. Portanto, aprender espanhol traz várias
vantagens, como conhecer muitos lugares pelo mundo usando-o para se comunicar.
Assim, neste capítulo, você conhecerá o caminho que o idioma espanhol
percorreu, ao longo da sua história, para se constituir como língua. Além disso, verá
os aspectos que a transformaram no que ela é hoje, identificando as etapas e as
influências sofridas.
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Assim, são mais de 493 milhões de pessoas que falam espanhol, seja como
língua materna, como segunda língua ou como língua estrangeira. Além de ser a
segunda língua materna mais falada, esse idioma ocupa também a segunda posição
como idioma de comunicação internacional.
Portanto, de uma maneira ou de outra, o espanhol possui um espaço
significativo no cenário mundial. Mas de onde vem o espanhol? Basicamente, ele vem
do Latim; porém, passaram-se séculos de história até que ele alcançasse o status de
língua e fosse conhecido como língua espanhola. Neste capítulo, vamos usar a
terminologia língua espanhola, sem adentrarmos a discussão política em relação ao
seu nome: castelhano ou espanhol.
Fonte: vocesa.abril.com.br
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O Império Romano foi um dos maiores impérios, e perdurou aproximadamente
mil anos, desenvolvendo-se como grande potência militar, política, econômica,
legislativa e tecnológica de seu tempo. Essa superioridade influenciou a cultura, a
religião, a filosofia e a língua dos povos das regiões conquistadas.
Na Península Ibérica, não foi diferente. A Península Ibérica era constituída por
vários povos, como os célticos, os celtiberos, os lusitanos e os vascões — cuja
sociedade não era tão bem estruturada como a romana. Eles tinham poucos recursos,
eram pobres em tecnologia militar e organizados em clãs ou tribos, o que foi um fator
importante para a adoção dos costumes romanos. Portanto, o mesmo aconteceu com
a língua.
O Império Romano se movimentou até esse território, a fim de conquistar a
região dominada por Cartago, enfraquecendo as suas forças. Depois dessa conquista,
o processo de romanização foi fundamental para a formação da língua. De certa
forma, os povos autóctones conquistados viram vantagem em aprender o latim e
foram adotando-o pouco a pouco, à sua maneira, para se comunicar com aqueles que
passaram a exercer o comando e as leis (ALVES, 2018).
A exceção foi a região norte da Hispania, já que a língua vascuense (também
conhecida como eusquera) não deixou de existir assim como a Grécia, que também
foi conquistada pelos romanos, mas manteve o grego como a sua língua. Logo, o
espanhol se origina no latim. Mas de qual latim?
O latim que chegou à região da Península Ibérica era uma variedade conhecida
como latim vulgar. Era a língua falada pelos soldados, colonos, comerciantes,
funcionários públicos, ou seja, falada pelo povo. Sua base era oral e, como toda língua
oral, sofreu alterações de diversos fatores: geográficos, culturais, de uso por falantes
de variados níveis de instrução e por influência de outras línguas.
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Fonte: jornalri.com.br
Como acompanhava o povo, era uma língua que estava em constante mudança
e, por isso, não era uniforme. Essa peregrinação linguística fazia com que novas
incorporações fonéticas, semânticas e vocabulares fossem sendo acrescentadas
(ALVES, 2018).
Esse fator é fundamental para entender a predisposição à evolução. Por outro
lado, o que contrabalanceava e de certa maneira freava as mudanças era o latim
clássico (ou literário), que convivia com o latim vulgar.
O latim clássico era falado e escrito, estando presente em documentos
religiosos, jurídicos, administrativos e nas obras literárias, como em Eneida, de
Virgílio. Era uma língua estilizada, que acabava tendo diferenças em sua forma oral,
falada em ambientes mais protocolares e por pessoas eruditas e de classes sociais
mais altas.
A forma clássica do latim se preservou graças às obras e aos documentos
escritos, o que contribuiu para a formação gramatical das línguas descendentes,
principalmente a língua espanhola.
Outro documento importante é o Appendix probi: uma obra escrita no século IV
d.C., sem autor determinado, e que consistia em compilar os desvios da língua falada
em relação à norma culta e corrigi-los, ou seja, apontar como a palavra era usada e
como deveria ser usada, segundo a norma do latim clássico.
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O Appendix probi [200-?] é um documento importantíssimo, que comprova o
distanciamento entre o latim clássico a língua produzida e estilizada e o latim vulgar
falado por todo tipo de gente do povo (sermo vulgaris).
Até Cícero (séc. I a.C.) fazia distinção entre latim vulgar e latim clássico em
seus escritos: usava um estilo diferente e relaxado nos escritos familiares, como em
suas cartas, e o latim clássico em suas obras filosóficas ou discursos políticos
(CARDOSO, 2002).
Essas características diafásicas (por registros distintos) e diastrática (por
fatores socioculturais), que evidenciam a espontaneidade e a dinâmica da língua, vão
contribuindo, nesse caso, para a evolução do latim para o romance que, mais tarde,
viria a ser a própria língua espanhola. O romance é uma variedade intermediária,
antes da consolidação da língua espanhola.
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A herança árabe deixada no léxico consiste em milhares de palavras, entre elas
jarabe, tarifa, alfombra, alcalde, cid, e topônimos como La Mancha, Guadalquivir,
Andalucía. Há também casos de duplo significante coexistindo na língua, ou seja,
duas palavras de origens diferentes para designar o mesmo conceito.
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Fonte: www.facsimilefinder.com
O Cantar de mío Cid foi um texto anônimo, cuja versão original está datada do
século XII, mas a versão que se conhece, copiada por Per Abatt, é de 1207. Outra
grande obra literária e fundamental para a consolidação da língua é Grande e General
Estoria de España, escrita pelo rei Alfonso X, o Sábio (rei de Castela entre 1252 e
1284), e um grupo de intelectuais que o auxiliaram na escrita e tradução de um
cancioneiro e de obras jurídicas e astronômicas.
O rei Alfonso X promoveu o uso da língua espanhola no lugar do latim,
convertendo-a em língua culta e oficial; com isso, impulsionou o avanço linguístico.
Outros autores foram importantes para essa consolidação: Don Juan Manuel (El
conde Lucanor) e Arcipreste de Hita (Libro de buen amor), que, por meio de seus
escritos, ofertaram uma estruturação mais fixada da língua.
A segunda etapa, a imperial, configura-se com a união monárquica de Castela
e Aragão, com os reis católicos Isabel e Fernando. O ano de 1492 é um marco desse
período, pois foi quando se concluiu o processo de reconquista e recuperação do reino
de Granada, de posse dos muçulmanos (ALVES, 2018).
Além disso, foi a data do anúncio do decreto de expulsão dos judeus (Sefardís)
do território espanhol, da chegada de Cristóvão Colombo à América e da criação da
Gramática Castelhana, por Elio Antonio de Nebrija.
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Fonte: www.apoioescolar24horas.com.br
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Italianismos: nos séculos XIV e XVII, o Humanismo e a vasta produção
de arte, música e literatura da Itália aportaram novas palavras ao
vocabulário espanhol, como madrigal, terceto, soneto, capricho,
melodrama.
Americanismos (línguas pré-colombianas): o descobrimento da
América propiciou a incorporação de muitas novas palavras, oriundas
dos povos pré-colombianos: aguacate, patata, cacahuete, canoa, caoba,
cigarro, loro, maíz e tomate.
Anglicismos: iniciam-se no século XIX, mas é no século XX que se
intensificam esses empréstimos, devido aos avanços científicos e
tecnológicos, predominantemente norte-americanos: formatear,
disquetes, escáner, electroshock. Há alguns oriundos do inglês britânico,
principalmente vocábulos relacionados ao esporte: fútbol, córner, ping-
pong, golf.
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Assim também acontece com as palavras oriundas da informática (como você
viu nos casos de anglicismos), a partir das quais se formaram muitos verbos:
formatear, escanear, deletar, chatear, etc.
Porém, não é só por derivação de palavras estrangeiras que se forma um
neologismo: ele pode ocorrer a partir da necessidade da própria língua e se servir de
palavras (radicais) já existente na língua, como o verbo recepcionar, que vem do
substantivo recepción.
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4.1 A língua como objeto científico
Fonte: saberatualizado.com.br
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estudiosos da época buscavam garantir um caráter puramente linguístico e
acreditavam que estudar sentenças fazia referência ao caráter filosófico da linguagem.
Condicionados por sua finalidade prática e visando à concretude linguística, os
estudiosos da linguagem, de início, fixaram-se principalmente na fonética e na
morfologia. Contudo, no século II d.C., Apolônio Díscolo deu início a pesquisas
relacionadas a fenômenos sintáticos. Todavia, segundo Neves (2004), a sintaxe era
vista como o conjunto de regras que regem a síntese dos elementos que constituem
a língua e era delimitada pela oração.
De acordo com Silva (1996), os primeiros estudos gramaticais de uma língua
diferente do grego ocorreram com o latim clássico, em Roma, no século I d.C. Na
Idade Média, tiveram destaque as pesquisas em fonética de Donato (século IV d.C.),
comparando o latim com o grego, e os estudos de Prisciano (século V d.C.), os quais
representaram a primeira definição de sintaxe do Ocidente: “[...] a disposição que visa
à obtenção de uma oração perfeita” (SILVA, 1996).
Os estudos de Donato e Prisciano serviram como base e inspiração aos
estudos linguísticos durante toda a Idade Média e, posteriormente, no Renas cimento,
quando começaram a surgir as gramáticas das línguas vernáculas. De acordo com
Azeredo (2001), no Renascimento (séculos XV a XVIII), surgiram gramáticas das
línguas vernáculas como a Gramática de la lengua castellana em 1942, de Antonio de
Nebrija, a Gramática da Linguagem Portuguesa em 1536, de Fernão de Oliveira, e a
Gramática de João de Barros em 1540, fortemente inspiradas nas gramáticas
clássicas.
Ainda segundo Azeredo (2001), o racionalismo dos séculos XVII e XVIII
reforçou a ligação entre a linguagem e o pensamento, considerando “abusos” ou
“imperfeições” tudo o que estivesse fora dessa concepção de língua. Em essência,
nessa definição de sintaxe, é possível perceber aspectos da concepção de língua que
os gregos tinham, ainda vinculada à representação do pensamento e à busca de uma
oração gramaticalmente “perfeita”.
Com essa breve análise sobre a história da língua como objeto de estudo, é
possível entender os motivos pelos quais o ensino gramatical das línguas neolatinas
o português e o espanhol, por exemplo, baseiam-se principalmente na análise de sua
estrutura, no apego à nomenclatura e no objetivo de se alcançar o “bom uso”. Isso se
dá porque os estudos sobre a língua, até a consolidação da linguística como ciência,
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eram motivados pela observação e pela descrição de um modelo padrão escolhido e
pelo estabelecimento de paradigmas.
Foi somente no século XIX que os estudos linguísticos começaram a se
desvincular da tradição gramatical, desenvolvendo as suas próprias tecnologias e
constituindo, aos poucos, a linguística moderna. Todavia, tais avanços foram pouco
contemplados no ensino, já que, até os dias atuais, o ensino escolar considera a
tradição gramatical, e não a linguística.
Nesse momento do século XIX, segundo Azeredo (2001, p. 23), buscou-se
comparar as línguas, com o objetivo de deduzir os princípios gerais de sua
organização, para que fosse possível explicar a natureza da linguagem. A gramática
histórico-comparativa ocupou-se essencialmente da investigação das unidades
lexicais, gramaticais e sonoras das línguas.
O estruturalismo, por sua vez, iniciou o estudo sincrônico das línguas;
entretanto, embora esse movimento tenha significado certo rompimento com as
concepções historicistas da gramática tradicional, o foco ainda era a estrutura da
língua, a partir do princípio de que todo significado se estabelecia pela oposição entre
os elementos do sistema.
No que diz respeito à ciência da linguagem, se considerarmos o longo período
em que as suas bases vêm sendo construídas, desde a Antiguidade Clássica até o
século XX, podemos dizer que apenas no final do século XIX é que se operou uma
verdadeira revolução científica.
Somente então a linguagem passou a ser vista como ciência propriamente dita.
No século XX, com a obra Curso de Linguística Geral em 1916, de Ferdinand de
Saussure, a língua passou a ser reconhecida como uma ciência, ou seja, a ciência da
linguagem, vulgo linguística.
A sua análise buscava a observação e a descrição da língua, a qual deu origem
à distinção de linguagem, língua e fala. Para Saussure (1975), “[...] a linguística tem
por único objeto a língua considerada em si mesma e por si mesma”. Portanto, a língua
é um “sistema de signos”: um conjunto de unidades que se relacionam
organizadamente dentro de um todo.
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Com isso, Saussure (1975), o pai da linguística moderna, estabeleceu a noção
de que a língua formava um sistema de signos independente. Isso só lhe foi possível
graças às formulações anteriores, que foram desencadeadas principalmente por
William Jones em suas pesquisas sobre as relações entre o sânscrito, o grego e o
latim e que, segundo Faraco (1991, p. 29), constituíram “[...] o marco simbólico do
início da Linguística como ciência”. Após Saussure, segundo Azeredo (2001), novos
linguistas e novas análises sobre a linguagem surgiram.
Por exemplo, Harris, reconhecido como um dos mais importantes linguistas no
campo da fonologia, deixou um pouco a desejar na sintaxe. Sua proposta no campo
sintático estabeleceu classes de palavras mais bem definidas que a gramática
tradicional, pois, por meio de suas análises, determinou constituintes imediatos e
formulou regras sintagmáticas, as quais buscavam descrever a estrutura interna da
oração.
No entanto, convém salientar que, por mais que suas análises contemplassem
grande parte da sintaxe, revelaram-se inadequadas para alguns fenômenos, como a
topicalização e a ambiguidade. Inclusive, Azeredo (2001) afirma que os estudos
linguísticos estavam tão latentes que, nessa época, o conceito de gramática
praticamente se fundiu ao de estrutura.
Na metade do século XX, um novo modelo, proposto pelo linguista americano
Chomsky (1957, 1976), conseguiu, por meio de uma proposta mais elaborada, dar
conta de fenômenos linguísticos não explicados até então. De acordo com Cervoni
(1989), a principal crítica de Chomsky aos estudos linguísticos da época foi não
considerar a criatividade como característica da linguagem.
Embora a abordagem de Chomsky pretendesse considerar aspectos subjetivos
da linguagem, mostrou-se também limitada, por atribuí-los unicamente ao sistema e
por assumir a linguagem como um módulo mental autônomo. Sua importância para a
sintaxe é inegável: ele a colocou como elemento central nos estudos linguísticos,
assumindo a frase como unidade fundamental da gramática e ampliando
definitivamente o escopo das investigações.
Dessa forma, a sintaxe, nesse momento, constituía-se como objeto de estudo
da ciência linguística. Contudo, cabe ressaltar que se tratava de uma sintaxe
autônoma, desvinculada da semântica e das intenções comunicativas.
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4.2 Tradição, renovação e influência da teoria sintática de Nebrija
A sintaxe na língua espanhola foi muito importante, não apenas para o avanço
das gramáticas neolatinas, mas também para o âmbito linguístico de modo geral.
Nebrija, em 1492, o autor da primeira gramática oficial neolatina, publicou a sua obra
baseando-se em trabalhos e pensamentos anteriores.
Então, vamos tentar compreender de onde vêm as ideias sintáticas de Nebrija
e, especificamente, de que maneira a tradição linguística influenciou a sua abordagem
sintática.
Fonte:hdnh.es/antonio-de-nebrija-primera-gramatica-del-espanol/
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Girón Alconchel (2001, p. 66), para alguns autores, a sintaxe é a parte menos
desenvolvida da sua gramática.
Já Esparza Torres (1995, p. 229) afirma que, para outros gramáticos, a sintaxe
é uma seção extremamente valiosa de seus estudos, que foram tratados de forma
injusta. A principal questão é que a sintaxe dos gramáticos da Europa Renascentista
ocupava inicialmente uma posição secundária, perdendo espaço para a fonética e
para a morfologia.
Essa situação mudou ao longo dos séculos, de modo que, entre 1492 (data da
Gramática de Nebrija) e 1796 (data da segunda Gramática da Real Academia
Española – RAE), a sintaxe era feita com mais de um terço do “espaço” de gramática
normativa.
O contexto em que Nebrija elaborou a sua gramática o novo paradigma
cientista da Renascença, favoreceu os avanços linguísticos que vinham sendo feitos
nos séculos anteriores, a partir da gramática latina, da humanista e da medieval, por
exemplo.
De acordo com Esparza Torres (2006), Nebrija não começou do zero em suas
posições gramaticais, pois teve de se estabelecer como gramático na tradição latina
medieval, cuja influência na Renascença nunca deixou de ser enfatizada.
Nesse sentido, segundo Girón Alconchel (2001, p. 61), percebe-se que Nebrija
foi um gramático preso à tradição, que, de acordo com Rico (1978), acrescentou ao
novo clima intelectual da Renascença essa nova visão. Não devemos esquecer que,
entre os séculos XII e XIII, a sofisticação dos estudos linguísticos colocava a gramática
como ciência teórica no nível da física ou da matemática.
A redescoberta das obras de Aristóteles dedicadas à lógica e obras como o De
scientiis, de Al-farabi, foram uma revolução metodológica no desenvolvimento do
conhecimento científico. Gramáticos medievais introduziram uma visão científica da
linguagem que poderia ser estendida a todas as línguas possíveis, e não apenas a
uma delas.
Al-farabi distinguia, por exemplo, certas regras “sintáticas” gerais de caráter
mais ou menos universal. Em meados do século XIII, um grupo de filósofos acariciou
a ideia de que a gramática era vista como ciência, e que a representação de regras
universais estava relacionada, acima de tudo, à sintaxe (KENNY; BARBARO, 2008).
Quanto à sintaxe, os gramáticos medievais tomaram como referência as ideias
39
incluídas nos trabalhos de Donato e Prisciano, mas elaboraram sobre eles propostas
que revisavam as partes da sentença e seus acidentes, especialmente a questão da
aceitabilidade das sentenças ou, em termos mais precisos e práticos, a “colocação de
palavras”. De fato, segundo Robins (1984[1969], p. 90), esse critério influenciou
significativamente na ordem das palavras das línguas românicas, que aceitaram como
modelo a ordem das palavras das línguas românicas atuais, isto é, nome–verbo–
substantivo ou sujeito–verbo–objeto, em vez do usual nome–verbo–nome (sujeito–
objeto–verbo) do latim clássico.
Na tradição linguística hispânica, a Gramática de la Lengua Castellana (REAL
ACADEMIA ESPAÑOLA, 1771, p. 235) afirma que o régimen sempre foi um fato
sintático ligado à ordem lógica de seus elementos, de modo que a palavra importante
é colocada antes e a palavra secundária, depois.
Logo, pode-se perceber que essa ideia de dependência como relação
hierárquica entre as palavras tenha sido ligada à linearidade, e a ordem rígida em suas
relações condicionaria a sintaxe durante os primeiros séculos de sua existência.
Segundo Closa Farrés (1977, p. 53), Esparza Torres e Calvo Fernández (1994) e
Esparza Torres (1995), Nebrija não foi apenas um gramático que tentou unir gramática
filosófica e humanista: ele atuou (sem saber esse conceito) como um linguista à frente
de seu tempo, uma vez que usou o cenário “social”, em que certos textos gramaticais
escritos no vernáculo (e não em latim clássico) serviram como base pedagógica, tanto
para o ensino do latim, como para a disseminação de certas terminologias linguísticas
e gramaticais.
Nebrija recebeu uma influência significativa da gramática especulativa, que
serviu para renovar a concepção pedagógica das gramáticas do século XV. Com essa
influência propriamente científica, um estado de opinião favorável a um uso mais
didático dos recursos gramaticais influenciaria a organização e divisão de sua
gramática.
Para Ridruejo (2006, p. 93), o trabalho de Nebrija, em espanhol, não pode ser
dissociado desse “contexto acadêmico” de aplicação teórica de ideias gramaticais,
desenvolvidas desde a Antiguidade para a gramática latina, que deveria ser adaptada
para ser aplicada a uma linguagem vulgar.
Nesse contexto, segundo Tovar (1983, p. 209), é preciso acrescentar a
publicação, o reprocessamento e a remissão que apresentou a sua obra
40
Introductiones Latinae, que se estende de 1481 a 1522, dentro de um contexto pessoal
da criação e difusão da sua gramática espanhola, com provável influência entre
ambas as obras.
Nesse sentido, queremos mostrar que a gramática de Nebrija é, em parte,
oriunda de seu trabalho gramatical em latim. Várias seções da sintaxe de
Introductiones Latinae, evento dedicado à combinação das partes do discurso, classes
de verbos e construção, os gerúndios e nomes de construção deram origem a seu
trabalho gramatical em espanhol.
41
esta en cada una de las partes de la oración, considerando ellas, apartadamente, o
esta en la orden i untura de ellas” (CORREAS, 1981).
Sarmiento (1989, p. 425) afirmou que a organização formal e sistemática do
pensamento gramatical, o qual surgiu da análise da língua latina, era tão forte, que os
gramáticos concebiam inevitavelmente a língua como uma estrutura de conexões
obrigatórias, impostas pela morfologia.
Para Nebrija, a sintaxe está relacionada a “orden” (ordem), “concierto” (que
representa a organização das palavras) e “aiuntamento” (ação ou efeito de juntar ou
unir partes da gramática), de modo que o sentido de uma sequência estaria ligado a
um arranjo apropriado das palavras (CORREAS, 1981).
Esse foi o valor que Prisciano deu à sintaxe, estabelecendo uma
correspondência entre sentido e ordem. Desde a Idade Média, os gramáticos usaram
esse critério da ordem das palavras na sentença em relação aos elementos de
governo e as regras para estabelecer os componentes das orações. Nebrija levou ao
conceito de régimen um nome que é usado expressamente para “a construção de
nomes depois de si” (CORREAS, 1981).
Esse termo foi usado, como vimos, durante os tempos medievais, para indicar
a relação de preposições com nomes de casos oblíquos e, finalmente, para indicar a
relação que fazia uma palavra assumir determinado caso. Essa perspectiva explica
por que Nebrija usa os nomes dos casos para se referir às funções sintáticas. Além
disso, ele atribuiu ao régimen uma relação direta com a ordem na qual os elementos
dependentes seguem.
Na sua Gramática de la lengua castellana (CORREAS, 1981), todo o livro IV é
expressamente dedicado à sintaxe, o que configura algo bastante especial para a
época, já que os gramáticos medievais nunca haviam enaltecido determinada parte
dessa maneira.
Nebrija dedicou dois capítulos especificamente ao conceito genérico de
construção, porque, como Calero Vaquera (2007, p. 95) aponta, a sintaxe e a
construção foram usadas como termos equivalentes no começo (até o século XVIII e
os avanços feitos pela gramática francesa), quando a concepção de construção
estaria subordinada à seção da sintaxe. O uso do conceito de construção está ligado,
em Nebrija, àquelas construções geradas pelas principais categorias lexicais
especificamente verbos e nomes.
42
Por essa razão, Nebrija intitulou dois dos seus capítulos sintáticos como
“construção dos verbos depois de si” (capítulo III) e “construção dos nomes depois de
si” (capítulo IV) (CORREAS, 1981).
Essa tradição gramatical latina centrada na distribuição aleatória das relações
sintáticas, que Nebrija sistematizou pela primeira vez em língua românica, foi mantida
até as gramáticas dos séculos XVIII e XIX. Por exemplo, Bello (1970[1847]) continuou
classificando a complementação verbal em complementos acusativos, dativos e
outros sem denominação clara.
Na verdade, o conceito de régimen de Nebrija foi reproduzido em muitas
gramáticas, como Arte de la Lengua Castelhana, de Gonzalo de Correas em 1626,
Gramática da Lengua Castellana, de Martinez Gomez Gayoso em 1743 e El Arte del
Romance Castelhano, de Benito de San Pedro em 1769. Somente nas primeiras
gramáticas acadêmicas da Real Academia Española, de 1771 e 1796, podemos falar
de certa “estratificação” da sua teoria, mas, em qualquer caso, aquele que abriu o
caminho para os outros, com suas intuições, confusões e sugestões, foi Nebrija.
Por mais que a sintaxe tenha oficialmente nascido na língua espanhola com
Antonio de Nebrija, em 1492, hoje a sua concepção tem variado de acordo com as
teorias linguísticas nas quais ela é baseada. Segundo Berman (2004), essa discussão
teórica é de suma importância quando se trata de explicar tanto a aquisição inicial,
quanto o desenvolvimento tardio da linguagem.
De acordo com Ravid e Tolchinsky (2002), o desenvolvimento linguístico é
constante e evolui com a interação entre a alfabetização e a escolarização dos
falantes. Os estudos sintáticos atuais, como se pode perceber, perpassam a
gramática. Em outras palavras, a noção de complexidade sintática é importante no
sentido de que, com ela, pode-se conceber as formas e os métodos de aprendizagem,
não só da língua materna, mas também de uma segunda língua.
Com base nisso, você vai estudar três importantes abordagens sintáticas e as
suas principais contribuições na evolução sintática: a tradicionalista, a gerativista e a
funcional-discursiva.
43
4.5 Abordagem tradicionalista
44
Por exemplo, Hunt (1965, 1970), que estudou o desenvolvimento da
complexidade sintática em crianças e adolescentes, afirma que a complexidade
derivacional se refere a representações mentais que o falante tem, como as orações.
Contudo, a complexidade sintática depende do número de mudanças que
transformam cada assunto.
Em outras palavras, o autor acredita que o fenômeno de transformação,
embora opere no nível da concorrência, também se reflete no uso da linguagem, ao
contrário do que foi originalmente proposto na teoria de Chomsky (1976).
A partir daí, podemos dizer que a pesquisa de Hunt (1965, 1970) se baseia em
dois pressupostos, que ele procura corroborar: (1) quanto maior a maturidade do
sujeito, maior a complexidade sintática em sua produção linguística; e (2) a
complexidade sintática é definida pelo maior número e pela variedade de
transformações aplicadas pelo sujeito.
45
(argumentativa, narrativa, expositiva, etc.) e a modalidade (oral ou escrita) do texto no
qual ela está inserida.
Em essência, à medida que as crianças crescem, elas aprendem a lidar com
mais tipos de relações e inter-relações, utilizando-as mais precisamente em torno de
um objetivo retórico. Finalmente, cada uma dessas perspectivas explica diferentes
visões sobre a abordagem e o desenvolvimento da sintaxe.
Por essa razão, a complexidade sintática não é influenciada apenas pela idade
de seu falante ou pela gramática que é exposta ao aluno no ambiente escolar. A
sintaxe está sujeita não somente à modalidade discursiva, mas também aos objetivos
retóricos que norteiam o sujeito em suas composições.
No entanto, por mais que existam diferentes abordagens sintáticas, elas não
são inconciliáveis, uma vez que todas as propostas parecem descrever um fenômeno
semelhante: o aumento do domínio sintático parece ser definido pelo aumento de
recursos para unir elementos linguísticos e, assim, desenvolver textos mais
complexos.
A língua espanhola que você fala hoje percorreu um longo caminho, que se
iniciou antes da era cristã, e boa parte dela provém do latim, a língua falada no Império
Romano. Neste capítulo, você verá a importância do latim para a constituição e
desenvolvimento da língua espanhola, bem como os aspectos que contribuíram para
tornar a língua no que ela é hoje (ALVES, 2018).
46
Fonte: youcourse.com.br
Saussure (1969, p. 18) nos levanta a questão de que língua, além de ser “um
sistema de signos distintos correspondentes a ideias distintas”, também é “um produto
social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias,
adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos”
(SAUSSURE, 1969, p. 17).
Em outras palavras, além de ser um instrumento de fala e de comunicação, é
ainda um fator constituinte da identidade pessoal e social. Segundo Saussure (1969,
p. 86), “nenhuma sociedade conhece nem conheceu jamais a língua de outro modo
que não fosse como um produto herdado de gerações anteriores”.
A língua como produto social da faculdade da linguagem é produzida a partir
do indivíduo e/ou de um coletivo, pois “a língua não existe senão em virtude duma
espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade” (SAUSSURE,
1969, p. 22).
O processo de criação, negociação e adoção de sentido de uma palavra se dá
mediante uma aceitação do seu significado na coletividade. É nessa coletividade que
o significado se elabora, pois, com o passar do tempo, vai sendo utilizado,
desenvolvendo-se, ganhando força, ressignificando-se e se modificando, ou seja,
trata-se de um ciclo (fator diacrônico).
47
Assim, a língua é um sistema de signos cuja principal função é justamente
significar, ao mesmo tempo em que é um forte fator de identidade individual e coletiva,
porque confere coesão social. A língua é um dos elementos de identidade embora não
seja o único e tem relação direta com o território que ocupa, dando sustentabilidade
àquela sociedade que ali habita.
Com esse pensamento, entende-se a importância de Roma para a civilização
ocidental. A expansão militar do Império Romano envolveu não somente território,
mudando as fronteiras, mas também mudou o mundo, influenciando-o com sua
política, suas ideias, sua cultura e religião. Esta foi um veículo importante de difusão
e oficialização do latim como a língua de todos os povos conquistados.
Ao aprender latim, o indivíduo se tornava parte daquela cultura e civilização,
passando a fazer parte de um legado extraordinário, que perdurou grandiosamente
durante muitos séculos, tornando-se influência não só em sua época, mas para além
daquele tempo. Até hoje esse povo e essa língua permanecem, seja como herança
das novas línguas ou mesmo em palavras e expressões que se conservaram intactas,
e são usadas no discurso jurídico e em textos religiosos, acadêmicos e científicos.
No mundo ocidental atual, não há língua que não tenha a presença do latim em
sua formação, e isso se deve ao prestígio de Roma. A cidade foi a capital de um dos
maiores impérios do mundo antigo, deixando a sua marca na história com a cultura,
política, religião e ciência. Essa grandiosidade foi alcançada graças ao processo de
romanização.
No Mediterrâneo Ocidental, durante a Segunda Guerra Púnica (218 a.C.), as
legiões romanas se moviam em direção à Hispânia, a fim de conquistar o território da
Península Ibérica e libertá-la do domínio dos cartagineses outro grande império que
disputava o poder com Roma.No entanto, a chegada dos romanos na região ibérica
não significou vitória certa (ALVES, 2018).
A pax romana, expressão latina que significa “a paz romana” e que
representava uma relativa paz gerada pelo autoritarismo romano imposto por meio de
armas e forças militares romanas, custou a chegar à Península Ibérica.
48
Foi somente o fim das Guerras Cantábricas, com o processo de romanização,
que assegurou a Roma as fronteiras conquistadas desse novo território. Esse capítulo
da história tem uma enorme importância para a formação da língua espanhola.
Durante todo o século III a.C., ocorreu a romanização do território da Península
Ibérica, mas o que nos interessa aqui é o território da Hispânia (ALVES, 2018).
Esse processo se prolongou até o século I a.C. e modificou muitos aspectos,
inclusive a língua. A Figura 1 mostra um exemplo da arquitetura romana, ainda
presente no território onde hoje fica a Espanha.
Fonte:br.freepik.com
49
Essa língua passou a ser, então, usada na parte administrativa, legislativa,
jurídica e nas ministrações religiosas, principalmente em sua variedade culta, na forma
escrita. Enquanto isso, nos espaços públicos, a língua oral usada era a variedade
vulgar, trazida pelos soldados e outros servidores do Império Romano, como os
colonos e comerciantes. (ALVES, 2018)
Essa variedade oral acabaria se transformando na base para o surgimento do
castelhano. Porém, havia muitas outras línguas nesse território. Antes do processo de
romanização na Hispânia, já existiam outras línguas pertencente aos povos que
habitavam naquele espaço conquistado, como os celtas, iberos e bascos.
As línguas desses e de outros povos pertencem ao período chamado
prerromano (em espanhol). Todas as línguas desse período desapareceram, exceto
a eusquera (língua basca), mas deixaram algumas palavras, como perro, peñasco,
cacharro e outras terminadas em -arro, -orro, -asco.
50
Fonte:aefreixo.pt
Fonte: lacontradejaen.com
52
5.4 A língua romance: legado da romanização
O uso do latim na Hispânia foi um processo que garantiu a coesão do povo com
o passar do tempo. É importante perceber que esse processo foi longo durou séculos
e não foi um processo forçado. O peso das circunstâncias e das vantagens
econômicas é que levou os povos conquistados a aceitarem as novas leis e estruturas
impostas e, consequentemente, a usar a nova língua, mesmo que com dificuldades.
Essas dificuldades geraram adaptações e, com isso, novas línguas foram
surgindo: as consideradas neolatinas ou românicas. São línguas decorrentes do
processo de romanização dos territórios dominados pelo Império Romano. (ALVES,
2018)
Estas passaram a ser percebidas e aceitas como unidades de identificação a
partir do século V d.C., quando o Império Romano perdeu força política e
governamental nas áreas antes ocupadas. Quando o Império Romano começou o seu
declínio, os visigodos passaram a ocupar a România.
Sua maior influência linguística foi ao norte do território onde hoje é a Europa,
dando origem ao alemão e ao inglês, por exemplo. Sobretudo no sul da Europa, por
não serem muito influentes, os povos adotaram a língua dos vencidos (o latim), mas
deixaram sua contribuição linguística nesse território, principalmente em vocábulos
bélicos, como guerra, yelmo, guardián, espía, e também em nomes próprios, como
Alfonso, Álvaro, Fernando.
O processo linguístico de latinização ou romanização linguística gerou
transformações fonológicas e gramaticais distintas em diversas regiões, dificultando a
compreensão e criando barreiras linguísticas. É nesse momento que surgem as
línguas chamadas de romance. Não é uma fase muito diferenciada do latim, mas já
começava a gerar uma nova identidade para as línguas que surgiriam posteriormente:
as neolatinas.
Toda essa história influenciou o processo que originou a língua castelhana.
Foram séculos de transformações e mudanças: novos territórios passaram a novos
governos, novas limitações geográficas, novas conquistas e reconstrução da
identidade local.
Consequentemente, a língua é motriz para a criação da personalidade dos
novos povos. Segundo Saussure (1969), a separação geográfica contribui, de maneira
geral, para a diversidade linguística.
53
Todavia, todo esse processo só iria se institucionalizar depois dos primeiros
escritos, pois, conforme Saussure (1969), a língua literária tem poder de destruir uma
língua natural, pois é ela que normalmente contém as regras e na qual é pautada a
organização linguística de uma comunidade. Uma vez decidido qual é a língua oficial,
ela se impõe sobre as outras que com ela coexistem, até o desaparecimento da menos
importante socialmente, da menos estruturada ou da menos usada (ALVES, 2018).
Os primeiros escritos em romance foram encontrados nas Glosas Emilianenses
e Silenses, ao final do século X e princípio do XI. Alguns monges, ao ler um códice
em latim, fizeram anotações ao lado dos escritos, a fim de aclarar as suas dúvidas
com relação ao que liam. Essas anotações foram feitas na língua popularmente
falada: o romance. Na Figura 3, você pode ver exemplos das anotações feitas nas
Glosas.
Fonte: javiercoria.blogspot.com
54
A produção literária auxiliou na unificação das variantes dialetais e na fixação
lexical-ortográfica (ALVES, 2018). Foi assim também que, com mudanças e
adaptações, surgiu a língua castelhana. Essa língua provém do romance, bem como
o francês, o romeno, o português, o italiano e todas as chamadas línguas neolatinas.
55
Não abusar do seu uso, pois pode parecer pedante, pode ser usado para
esclarecer um registro, seja ele formal ou informal, de acordo com a situação
comunicativa;
Conhecer muito bem o seu significado;
Estar atento quanto à sua ortografia.
56
6 MODELO COMUNICATIVO
57
Fonte:idiomatika.com.br
Não existe sociedade sem linguagem, e ela é responsável por qualquer prática
social. A linguagem é responsável pelas relações humanas, pois é por meio dela,
segundo Shoffen (2009), que nos constituímos e constituímos o outro como sujeito;
ou seja, é por meio da linguagem e do enunciado que os sujeitos se constituem.
Quando estudamos a língua espanhola, por exemplo, precisamos compreender o seu
funcionamento interno e externo.
O conhecimento linguístico e o extralinguístico estão interligados, sendo de
extrema importância para que se atinja a proficiência. Nesse sentido, Shoffen (2009)
defende que estudar e avaliar a proficiência em determinada língua pressupõe
compreender os interlocutores envolvidos, o contexto em que a interação ocorre e os
propósitos que guiam o seu uso.
Sabe-se que o sujeito e a linguagem são produtos da história, da cultura e das
relações sociais. Rego (1995), baseado em Vygotsky, compreende que o indivíduo
não é resultado de um determinismo cultural, ou seja, não é um ser passivo que só
reage frente às pressões do meio.
O indivíduo é um sujeito que realiza uma atividade organizada na sua interação
com o mundo, capaz, inclusive, de renovar a própria cultura, pois é na sua interação
com o mundo que o indivíduo se constitui como sujeito.
58
Para Bakhtin (2003), a visão de mundo, o ponto de vista e a opinião são os
constituintes do discurso; já o enunciado é um elo na cadeia da comunicação verbal
e não pode ser separado dos elos anteriores que o determinam.
59
Agora, por exemplo, em que você está lendo este capítulo, eu,
professora, sou a emissora e você, aluno (a), é o (a) receptor(a).
De acordo com Koch (2011), o emissor/produtor deve ter noção do que dizer,
do quanto dizer e de como dizer; já o leitor/ouvinte deve, por sua vez, tendo em vista
as informações contextualmente oferecidas, construir representações coerentes a
partir de seu conhecimento de mundo.
Portanto, a autora afirma que o tratamento da linguagem, tanto na produção
como na recepção se baseia na interação de emissor/produtor e ouvinte/leitor, que se
manifesta pela antecipação e coordenação recíprocas, em dado contexto de
conhecimentos e estratégias cognitivas (KOCH, 2011).
Dessa forma, você pode compreender que, na interação, cabe ao interlocutor
escolher o contexto adequado à construção de sentidos, isto é, o emissor é o
responsável pelo conteúdo necessário para que o interlocutor consiga compreender
as suas intenções, fazendo, assim, o processo de comunicação ser estabelecido.
De acordo com Koch (2011), o falante/escritor deve agir de modo a utilizar as
representações necessárias e relevantes para que o interlocutor consiga compreender
suas intenções sem grande esforço, com base nas informações contextuais e/ou
conceituais fornecidas, como um grande trabalho estratégico e cooperativo. O
discurso oral não é neutro ou ingênuo, pois carrega muito mais informação do que
apenas os enunciados mencionados.
O tom de voz e os olhares utilizados constituem a intenção daquilo que é dito.
Segundo Pinto (2011), olhares, sorrisos, gestos e até a distância entre os participantes
e as posturas mantidas por eles integram nosso conhecimento sociolinguístico. Tudo
que acompanha a fala é constitutivo de nossas práticas discursivas e, portanto,
contribui para produzir efeitos comunicativos.
Segundo Travaglia (2007, p. 27), a comunicação eficiente entre os seres
humanos é fundamental para o entendimento entre os homens, e esse entendimento
é necessário e crucial para que os homens vivam e convivam bem. Podemos dizer
que a boa comunicação garante não só a qualidade de vida em uma sociedade, mas
a própria vida e existência da humanidade.
Resumidamente, o enunciado não é um conceito meramente formal, pois
demanda uma situação, interlocutores identificados, compartilhamento cultural e o
60
estabelecimento de um diálogo, ou seja, falar em enunciado representa falar de
acontecimentos.
Portanto, de acordo com Bakhtin (1981), a verdadeira substância da língua não
é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas, nem pela enunciação
monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas sim pelo
fenômeno social da interação verbal.
61
informação (a estrutura temática) como a organização interna de cada unidade
informacional.
A estrutura temática ou tematização é responsável pela ordem linear das
unidades de informação. Em geral, o tema ocorre no início da frase, precedendo aquilo
que sobre ele se diz, denominado rema.
De acordo com a Universidade Católica do Chile (PONTIFICIA..., 2005),
tematização inclui os conceitos de tema e de rema. O tema é aquele sobre o qual algo
é dito e já é conhecido; já o rema é a nova informação. O tema, a primeira parte da
frase antes do verbo principal apresenta o conteúdo para o leitor.
As novas informações envolvem a introdução de expressões indefinidas, que,
quando mencionadas, tornam-se expressões definidas. As unidades lexicais
mencionadas pela segunda vez referem-se ao mesmo campo semântico que a
unidade lexical mencionada anteriormente, o novo (ou rema) é o que o falante decide
apresentar como dentro de um paradigma de possibilidades léxico-gramaticais.
Compreender a relação existente entre o tema e o rema é fundamental para a
tematização. De acordo com Sánchez e López (1997), baseados em Harald Weinrich
(1981), o tema representa a informação recebida e já compreendida; contudo, toda
informação nova que venha a partir do tema chama-se rema.
O tema é dado em cada caso e o rema é o que surge como informação nova.
Já para Ventura e Lima-Lopes (2002), tema é aquilo que é conhecido, uma
determinada situação a partir da qual o falante prossegue. É importante destacar que
o tema se localiza normalmente na posição inicial da oração, ou seja, é nele que se
inicia uma mensagem.
Enquanto o tema assume o papel de alavanca da mensagem, o rema
representa o resto da mensagem, portanto, o rema é o tema que se desenvolveu.
Segundo Ventura e Lima-Lopes (2002), a principal função do tema é fornecer o pano
de fundo para a interpretação do rema.
Para os autores, definir tema é funcional: o tema é um elemento dentro de uma
determinada configuração estrutural que organiza a oração da seguinte forma: tema
+ rema.
Veja o exemplo do Quadro 1 para compreender os conceitos de tema e rema.
62
Em relação ao tema e ao rema, é possível considerar dois conceitos que se
inter-relacionam ao tipo de informação da mensagem. Segundo Barbosa (2005), sob
a perspectiva contextual, em geral, a primeira parte, tema, contém elementos dados,
conhecidos, que funcionam como “ponto de partida” do enunciado, ao passo que a
outra parte, o rema, contém elementos novos que constituem o “cerne” do enunciado.
63
Fonte:lumiereidiomas.com.br
O fato é que quando o estudante aprende a língua espanhola, por exemplo, ele
tem acesso a uma nova realidade sociocultural, regida por normas e convenções que
podem ser muito diferentes das que existem no grupo social no qual ele está inserido.
Compreender o mecanismo de ensino do espanhol como segunda língua requer que
sua inserção na escola não seja limitada e descontextualizada.
É necessário que os aspectos culturais estejam presentes e que não se ensine
o espanhol como uma língua homogênea. Deve-se mostrar a pluralidade cultural em
relação à identidade linguística em cada variante. De acordo com Goettenauer (2005
apud SEDYCIAS, 2005), ensinar a língua espanhola representa não apenas ensinar
os mecanismos formais, mas também os seus aspectos culturais.
65
indivíduos em questão, mas também auxiliar na sua formação identitária como
sujeitos.
Entretanto, vale ressaltar que o ensino plural do espanhol não descarta o
ensino normativo da língua; pelo contrário, deve utilizá-lo como ferramenta para que
se alcance o objetivo pretendido. Uma abordagem não exclui a outra, elas se
complementam, pois nenhuma é plena sozinha.
Nas diretrizes curriculares da educação básica de língua estrangeira moderna
do Paraná (2008), baseada em Vygotsky (2008, p. 65), está explícito que “[...] o
conhecimento linguístico, ainda que condição necessária, não é suficiente para chegar
à compreensão, considerando que o leitor precisa executar um processo ativo de
construção de sentidos e também relacionar a informação nova aos saberes já
adquiridos”, pois “a análise linguística, portanto, deve estar subordinada ao
conhecimento discursivo, ou seja, devem ser decorrentes das necessidades
específicas dos alunos, a fim de que se expressem ou construam sentidos aos textos”.
Por mais que as palavras possuam significado, nenhum falante é um dicionário
humano.
Ensinar vocabulário, seja em espanhol, francês, italiano ou inglês, é
desenvolver um novo idioma e representa compreender um novo cenário linguístico e
sociocultural. De acordo com Ferrarezi Junior (2008, p. 27), “[...] uma palavra só vai
ter um sentido definido depois que for inserida em um contexto devidamente inserido
em um ambiente de produção identificado pelos seus interlocutores, o cenário”.
É responsabilidade do professor apresentar a universalidade da língua
espanhola e acabar com o preconceito linguístico existente nas variantes que não são
a da Espanha, pois o aluno deve entender que a identidade linguística de cada
comunidade é uma forma de representação social e, no momento em que se trata
uma variante com desdém, demonstra-se preconceito, não apenas com um sotaque,
mas com uma comunidade linguística.
Em relação a esse aspecto, Coan e Ponte (2013, p. 185), baseados em
Richards (1990), afirmam que, nos livros didáticos de língua espanhola, a variedade
peninsular ainda prevalece sobre as demais variedades americanas e, além do
predomínio da variedade peninsular, quando há exploração das variedades
americanas, é feita de forma superficial, em sua maioria em pequenos textos, figuras,
notas de rodapé ou, ainda, em algum tópico de curiosidade.
66
Além disso, para Ferrarezi Junior (2008), o aluno deve entender que, ao utilizar
a língua, encontrará diferentes construções linguísticas e, entre elas, uma variante de
mais prestígio, que poderá ser aprendida e dominada para fins específicos.
É importante que você perceba que a atividade de ensinar ou estudar uma
língua estrangeira não deve se deter apenas a decorar regras normativas de uma
gramática tradicional; aprender uma língua estrangeira representa mergulhar em um
novo mundo e se reconstituir, rematerializar e ressignificar como indivíduo.
Fonte:www.suapesquisa.com
67
Desse modo, observamos as variações de um mesmo fone, por exemplo, em
diferentes regiões de fala de determinada língua. Para Alkmim (2001), as línguas
coexistem sem homogeneidade, visto que língua e variação são indissociáveis.
Portanto, toda e qualquer língua, ao ser estudada, apresentará um conjunto de
variações que vão defini-la e caracterizá-la, seja pelos seus falantes, seja
geograficamente. Assim, quando falamos de variação geográfica em determinada
língua, estamos não só abordando os diversos modos de falar de diferentes países,
mas também os modos de falar em um mesmo país.
Conceituamos as diferentes variações na língua como diastrática, diafásica e
diacrônica. Primeiramente, para concebermos o que é variação, precisamos falar
sobre norma culta, isto é, o conjunto de regras determinadas pelos falantes como
“certas” ou “erradas”.
Esse conceito, na realidade, baseia-se na ideia de que todos os falantes devem
falar de acordo com a gramática; no entanto, esse conjunto de regras estipuladas
refere-se à modalidade escrita, e não ao que de fato produzimos na fala.
Além disso, quando falamos em dominar a norma culta de uma língua,
precisamos também refletir sobre quais pessoas em nossa sociedade têm acesso a
essa modalidade erudita.
Vemos, com isso, que apenas uma pequena parcela poderia usá-la. Desse
modo, além de não representar o uso da língua na fala, a norma culta vista como o
uso certo da língua em qualquer contexto segrega classes sociais e estimula o
preconceito linguístico.
À luz desse ponto de vista, abordamos o que foge à regra gramatical: a variação
linguística nos idiomas. Variação, então, é o discernimento de que a língua é
primordialmente heterogênea e variável. Para enfocarmos o estudo da variação no
aspecto sonoro na língua, precisamos distinguir o que entendemos por grafema e
fonema. Chamamos de grafema a representação escrita de um fone na língua, isto é,
como escrevemos os sons que produzimos na fala. De forma visual, reconhecemos
os grafemas por meio de uma letra ou de um dígrafo em nosso alfabeto, por exemplo.
Assim, reconhecemos o alfabeto de uma língua pela sua função de reproduzir
graficamente aquilo que é empregado sucessivamente na fala. Logo, a letra A é a
ilustração do som que conhecemos como vocálico aberto e central. (FELIPE, 2018)
68
Quando falamos de fonemas dentro de uma língua, abordamos aspectos
relacionados à fonética. Eles correspondem ao entendimento de que, na verdade, são
“[...] modelos mentais do som que caracterizam cada língua, ainda que na fala
apareçam concretizados de diversas formas” (ALARCOS LLORACH, 1954, p. 67).
Assim, são exemplos de variações geográficas na pronúncia do idioma espanhol os
fenômenos yeísmo e seseo.
Essas variações constituem as diferentes pronúncias de grafemas em especial
as chamadas consoantes “sonantes”, cuja articulação do ar sai sem fricção. São
exemplos de tais consoantes os fones /l/, /m/ ou /r/.
Presenciamos uma variação mais perceptível em diversas regiões de fala
hispânica das consoantes sonantes laterais, isto é, aquelas em que o som sai em uma
corrente de ar contínua (sem turbulência alguma) e pelas laterais do trato bucal.
Na língua espanhola, observamos essa articulação da consoante l, encontrada
em cala, ou no sistema contrastivo entre ll e y, visto em lluvia. Segundo a Nueva
Gramática de la Lengua Española, o principal processo de variação entre as
consoantes laterais é o fenômeno conhecido como yeísmo, produzidos na região do
Rio da Prata (Uruguai e Argentina).
Essa ocorrência se deve à fusão dos fones /y/ e /ʎ/ em palavras escritas com ll
e y, como Callado e Cayado. Tal ação se justifica pela proximidade na realização
desses sons, como podemos observar na Figura 1
69
pronunciado em palavras com as letras LL, Y e HI + vogal (por exemplo, llave, yo e
hielo).
Como já mencionado, essa variação é encontrada na região rio-platense e é
descrita pela fusão de sons. Além dos fenômenos yeísmo e rehilamiento, vemos na
língua espanhola a ocorrência de quatro maneiras de pronunciar a letra ll (elle). Essa
variedade é encontrada em quatro regiões de fala hispânica diferentes, conforme o
quadro a seguir.
É importante ressaltar que não existe um tipo de pronúncia mais correto que
outro. Tais características devem ser abordadas na língua como variações presentes
e produtivas. Não existe também uma hierarquia entre os tipos de pronúncias, no
sentido de um ser mais fácil ou mais difícil que outro, visto que esse entendimento
partirá do falante, seja nativo ou estrangeiro.
Assim como vimos no fenômeno yeísmo e nas suas implicações nos sons
produzidos pelas letras ll, hi + vogal e y, é relevante estudar também como é a
pronúncia da consoante y em determinadas regiões, a fim de que possamos expandir
o nosso conhecimento para além das regiões rio-platenses. Por isso, veja mais um
quadro explicativo sobre as diferentes pronúncias de y.
70
Observe que, diferentemente da elle, a consoante y apresenta apenas três
variações na pronúncia. Como já mencionado, pela proximidade da articulação das
consoantes soantes laterais ll e y, os sons variam e apresentam semelhanças.
Por exemplo, no Uruguai, o som de ll e y manifestam a mesma pronúncia. Outro
fenômeno relacionado à pronúncia de consoantes na língua espanhola são os pares
seseo e ceceo. O ceceo é uma variação oriunda da articulação interdental da
consoante /z/, isto é, o falante produz um som similar ao z em língua portuguesa,
aproximando a língua entre os dentes.
Essa variação ocorre diante da consoante c + vogais e e i (por exemplo, cero
cujo som produzido é zero) e da consoante z + vogais a, o e u (como em zapato).
Podemos também comparar o som realizado com a língua inglesa, no som de th /θ/
produzido em think. (FELIPE, 2018)
Encontramos esse estilo de pronúncia na Espanha, especialmente nas regiões
da Costa da Andaluzia, no interior da Província de Sevilha e no sul de Córdoba. Já o
seseo, como o próprio nome indica, é a produção do som similar ao s em espanhol ou
em português, diante das construções c + vogal e e i, e z + a, o e u. Por exemplo, em
zapato, a pronúncia é próxima a sapato, com s. Veja mais um quadro exemplificando
tal fenômeno.
71
Embora pareça estranho, tal variação pode ser entendida como se
“sugássemos” o s das palavras por exemplo, mimo em vez de mismo ou iempre em
vez de siempre.
Devemos lembrar que, quando abordamos uma variação na pronúncia, ela não
deve se estender à escrita, ou seja, a aspiração do s ocorre na fala, mas não deve
ocorrer quando escrevemos. Assim, do mesmo modo, o fenômeno da supressão dos
particípios -ado e -ido são outra variação correspondente à fala.
Ela ocorre, de acordo com a Nueva Gramática de la Lengua Española (REAL
ACADEMIA ESPAÑOLA, 2011), por toda a Espanha e, em Madrid, é mais frequente
na fala dos jovens. Ainda, além da supressão dos particípios, temos a supressão dos
términos femininos -ida e -ada.
No entanto, esses traços são estigmatizados, e a sua produção não é
recomendada. A Figura 2 apresenta um mapa de distribuição das variações estudadas
Fonte:es.wikipedia.org
72
Dessa forma, são em torno de 500 milhões de pessoas falando espanhol em
diversas regiões do planeta. Esse fato resulta em muitos modos de falar a mesma
língua. Como já discutido anteriormente, a língua não é homogênea.
Dentro das variações de pronúncia que vimos de determinado som,
encontramos também características peculiares da fala como um todo. Retomamos a
ideia de que não existe um sotaque melhor do que outro ou mais fácil que outro, mas
sim formas que, além de caracterizarem uma região, constroem a identidade cultural
de um país. O estudo dos modos de falar de uma língua corresponde à variação
diatópica, ou seja:
Vemos na Espanha uma forte diferença entre o espanhol falado na parte central
e o falado na parte da Andaluzia. Na região andaluz, os falantes fazem pouco
movimento com a boca ao articular a fala. Outra característica desses falantes é
suprimir algumas sílabas, os particípios e o s das palavras, assim como os
madrilenhos.
Outro sotaque que encontramos na Espanha é oriundo da região de Castela e
é entendido como mais aberto e rápido. Os falantes da América Central e da América
do Sul herdaram o sotaque andaluz da época de colonização, então algumas
variações como o seseo e o yeísmo foram mantidas.
Encontramos no México uma característica melódica ao final das palavras,
como se os falantes estivessem sempre produzindo a entonação interrogativa. Já o
espanhol de Cuba apresenta uma característica bem peculiar: muitos falantes trocam
a pronúncia do r por l, ou seja, em vez de amor, pronunciam amol. Na Argentina, além
do rehilamiento, temos o uso do voseo como uma das mais marcantes formas de falar.
73
O voseo se constitui na utilização do pronome vos no lugar do tú em diálogos
informais. Veja a seguir exemplos desse fenômeno:
Javier: Mirá Javier, este es mi padre. Marta:
Vos sos idéntico. Vos tenés su misma cara.
74
Já na Espanha, há uma distinção entre o uso do pretérito indefinido e o pretérito
perfecto compuesto. O primeiro é utilizado para situações ocorridas no passado, sem
que haja qualquer proximidade ou interferência com o presente; o segundo é
relacionado a um passado anterior ao presente é como se o passado ainda estivesse
relacionado ao presente da fala.
Por exemplo:
Mi abuela murió hace 10 años (pretérito indefinido)
Mi abuela ha muerto hace 10 años (pretérito perfecto compuesto)
75
7.2 Léxico variacional escrito
76
77
8 A GRAMÁTICA DA LÍNGUA ESPANHOLA E A CONSTRUÇÃO TEXTUAL
Fonte:www.shutterstock.com
79
Entretanto, outras irregularidades não são compartilhadas pelas duas línguas,
como o verbo pensar:
Cabe destacar também que, quando o brasileiro usa “tu”, costuma conjugar o
verbo na terceira pessoa. Embora esse uso seja típico de situações informais, é
comum que essas formas apareçam na escrita (BIZELLO, 2018).
Em espanhol, essa construção não é comum. Logo, o aprendiz brasileiro deve
estar atento aos momentos em que produz seus textos, afinal, os verbos são
80
fundamentais para comunicar fatos. O texto narrativo, especialmente, é constituído
por muitos verbos que anunciam os fatos e os transformam.
As narrativas são formadas por elementos que se associam aos verbos: os
personagens agem (os verbos revelam essa ação); os fatos ocorrem em um tempo
(as desinências verbais de tempo mostram esses momentos) e os acontecimentos
têm como núcleo um verbo.
A história narrada ocorre em uma progressão temporal, ou seja, o texto se
desenvolve no tempo. Isso significa que um fato sucede outro fato, como sequências
temporais.
Leia um trecho do conto La gallina degollada, de Horacio Quiroga (1917[2018],
documento on-line):
Todo el día, sentados en el patio, en un banco estaban los cuatro hijos idiotas
del matrimonio Mazzini-Ferraz. Tenían la lengua entre los labios, los ojos
estúpidos, y volvían la cabeza con la boca abierta. El patio era de tierra,
cerrado al oeste por un cerco de ladrillos. El banco quedaba paralelo a él, a
cinco metros, y allí se mantenían inmóviles, fijos los ojos en los ladrillos. Como
el sol se ocultaba tras el cerco, al declinar los idiotas tenían fiesta. La luz
enceguecedora llamaba su atención al principio, poco a poco sus ojos se
animaban; se reían al fin estrepitosamente, congestionados por la misma
hilaridad ansiosa, mirando el sol con alegría bestial, como si fuera comida.
Otras veces, alineados en el banco, zumbaban horas enteras, imitando al
tranvía eléctrico. Los ruidos fuertes sacudían asimismo su inercia, y corrían
entonces, mordiéndose la lengua y mugiendo, alrededor del patio. Pero casi
siempre estaban apagados en un sombrío letargo de idiotismo, y pasaban
todo el día sentados en su banco, con las piernas colgantes y quietas,
empapando de glutinosa saliva el pantalón.
Todo el día, sentados en el patio, en un banco estaban los cuatro hijos idiotas
del matrimonio Mazzini-Ferraz. Tenían la lengua entre los labios, los ojos
estúpidos, y volvían la cabeza con la boca abierta. El patio era de tierra,
cerrado al oeste por un cerco de ladrillos. El banco quedaba paralelo a él, a
cinco metros, y allí se mantenían inmóviles, fijos los ojos en los ladrillos. Como
el sol se ocultaba tras el cerco, al declinar los idiotas tenían fiesta. La luz
enceguecedora llamaba su atención al principio, poco a poco sus ojos se
animaban; se reían al fin estrepitosamente, congestionados por la misma
hilaridad ansiosa, mirando el sol con alegría bestial, como si fuera comida.
81
O pretérito imperfeito é o tempo mais utilizado, pois marca acontecimentos
contínuos que eram hábito em determinado tempo passado. Veja:
Note que o uso do pretérito imperfeito expressa que a ação está em curso, ao
passo que o pretérito perfeito exprime um fato concluso. Observe como os tempos
verbais situam o leitor: sabe-se que são fatos passados e que ocorriam com
frequência. Nos textos argumentativos, a escolha dos verbos também faz diferença
para o sucesso da comunicação. (BIZELLO, 2018)
A escolha adequada é por verbos que estejam no modo indicativo, pois eles
denotam certeza, uma vez que argumentos devem ser construídos a partir de fatos e
certezas. Além disso, ao contrário dos textos narrativos, é mais comum o uso do
tempo presente, pois a defesa de um ponto de vista costuma estar vinculada a um
fato atual. Contudo, a rede argumentativa é formada por verbos conjugados no
pretérito, no presente e no futuro.
Leia fragmentos do texto “La inmadurez de la defensa europea” (VILLAVERDE,
2018).
82
Dessa forma, é comum que os verbos sejam conjugados na terceira pessoa.
Note que o texto do exemplo usa vários verbos na terceira pessoa, como muestra e
retrasa. Vale reforçar também a questão semântica do emprego dos verbos.
Na língua espanhola, alguns verbos são utilizados com significados diferentes
e empregados em construções diferentes, o que acaba simplificando a redação.
Contudo, o uso demasiado desses verbos pode levar à falta de exatidão e à repetição
de palavras, tornando a produção monótona e pouco precisa. Observe:
Existem 10 competidores.
10 personas están compitiendo.
Note que a segunda oração é mais precisa, pois informa diretamente o fato: 10
pessoas estão competindo. O foco está na ação de competir e não na existência de
pessoas competindo. Os verbos existir, haber, tener e ser costumam ser empregados
nessas situações, pois são polissêmicos.
Contudo, o texto pode se tornar mais interessante se esses verbos forem
evitados. Em suma, para que o leitor possa interpretar um texto, ele terá de relacionar
as pistas que encontra com o seu conhecimento de mundo. Assim, a seleção dos
verbos é fundamental para que as finalidades textuais sejam atingidas.
83
Esse tipo de construção é comum em textos referenciais que pretendem
apenas transmitir a informação. A ênfase não está no receptor nem no canal, por
exemplo, e sim na mensagem.
Veja outro exemplo (BARROSO, 2018, documento on-line):
Note que a maior parte das orações está escrita na ordem linear e direta da
oração. Esse é o caso de: Diversas preguntas aún sin respuesta planean sobre la
muerte de un hombre de entre 50 y 60 años.
Há o sujeito (Diversas preguntas aún sin respuesta), o verbo (planean) e o
complemento verbal (sobre la muerte de un hombre de entre 50 y 60 años). Quando
o texto quer destacar alguma palavra ou enfatizar uma ideia, essa linearidade costuma
ser rompida. Geralmente, o elemento eleito como o mais importante surge
primeiramente na oração. Assim, a ordem dos elementos está associada à intenção
comunicativa.
Para alcançar esses objetivos, o escritor utiliza palavras funcionais, como
preposições, artigos e conjunções, que ajudam a informar a função das palavras que
acompanham. Observe a seguinte oração:
La huelga de los profesores terminará con suceso.
84
Dessa forma, conhecer cada palavra funcional é uma tarefa importante para
quem deseja construir um significado para a oração. Analise, agora, um fragmento do
texto anterior.
85
Donatella Versace: “Soy activista. No me asusta dar mi opinión” La
diseñadora lanza una nueva campaña y anuncia que su firma estará cada vez
más comprometida con las causas sociales Donatella Versace lo ha vuelto a
hacer. Después de regalarle a la industria de la moda el momento más
emocionante y viral del último año —la aparición sorpresa de Claudia, Carla,
Naomi, Cindy y Helena en su desfile tributo a Gianni Versace en septiembre—
, ha concebido para su colección de otoño-invierno 2018 una campaña de
publicidad que aspira a convertirse en otro hito: una única fotografía —la
mayor imagen de grupo creada para una campaña de moda— en la que
Steven Meisel ha retratado a 54 modelos que personifican el nuevo gran
caballo de batalla de Donatella: la diversidad y la inclusividad. “Eso es lo que
Versace defiende hoy”, explica la diseñadora en exclusiva a EL PAÍS. “La
familia Versace está formada por individuos que se apoyan unos a otros y
comparten los mismos valores: lealtad, fortaleza, confianza,
empoderamiento, singularidad. Los quería todos juntos, como un clan”.
Supermodelos como las hermanas Zadid o Kaia Gerber se mezclan con
nuevas caras —entre ellas, la del español Óscar Kindelan—; géneros, razas
y físicos diversos están representados. Ella lo llama “identidades distintivas”.
“Destacan entre la multitud no solo por su estilo sino, sobre todo, por lo que
tienen que decir”, asegura.
A sus 63 años, se diría que Donatella está más en paz consigo misma que
nunca. Muy lejos quedaron sus adicciones —les puso fin en 2004 al subirse
al avión privado de Elton John rumbo a una clínica de rehabilitación en
Arizona—, y los tiempos en los que la supervivencia de la firma Versace
parecía pender de un hilo.
86
Em síntese, cada elemento sintático que organiza as orações é responsável
também pelo encadeamento das ideias de um texto. A coesão e a coerência se
complementam e fornecem os sentidos do texto.
87
Note que há divergências significativas nas regras das paroxítonas. Em
português, palavras terminadas em n e s são acentuadas quando são paroxítonas
(próton); já em espanhol, palavras terminadas em n e s são acentuadas só se forem
oxítonas: Colón.
Outra divergência importante entre as duas línguas está na formação dos
encontros vocálicos. Por exemplo, alguns hiatos espanhóis (como: frí-o)
correspondem a ditongos em português (como: frio). O contraste entre português e
espanhol evidencia-se também na divisão silábica.
Os dígrafos rr e ss são separados em português: car-ro; nos-so. Em espanhol,
os dígrafos rr e ll nunca se separam: ca-rro; ca-lle. Outros aspectos da grafia podem
gerar dúvidas.
Esse é o caso da ausência de ss, ze, ç e acento circunflexo na língua
espanhola. Contudo, os problemas de escrita não surgem apenas pela falta de
equivalência entre as duas línguas.
Os homógrafos, ou seja, palavras de mesma grafia e significados diferentes
podem gerar dúvidas e levar o escritor a desistir do emprego da palavra.
Conheça alguns homógrafos:
Mora: mulher do moro/ Mora: fruta.
Lima: instrumento para limar. / Lima: capital do Peru.
Pila: conjunto de coisas. / Pila: Dispositivo que fornece energia.
Granada: fruto comestível. / Granada: projétil.
Seno: órgão mamário feminino (seio). / Seno: relação
trigonométrica entre os lados de um triângulo.
Cara: rosto. / Cara: de preço alto.
Asta: corno de uma rês. / Asta: pau de um veleiro ou bandeira.
Copa: taça para beber. / Copa: parte de um chapéu.
Vino: bebida alcoólica fermentada. / Vino: do verbo venir.
Borrador: borracha. / Borrador: ensaio.
Radio: metal, aparelho receptor. / Radio: metade do diâmetro.
Pesa: objeto de medição. / Pesa: verbo “pesar”.
Las puertas que abre ser alguien de trato fácil Sonreír, mantener la discreción,
o ayudar a los demás. Claves para ser alguien agradable con quien todos
desearán relacionarse
“Hay niños que no están solos en casa, pero están aislados. Su mundo se
vive en una habitación” Los expertos han detectado un nuevo modelo de
menores de la llave que son aquellos que se quedan a diario en pisos
compartidos de forma forzosa y en espacios hiperreducidos
89
Se excluyen definitivamente del abecedario los signos ch y ll, ya que, en
realidad, no son letras, sino dígrafos, esto es, conjuntos de das letras o
grafemas que representan un solo fonema. El abecedario del español queda
así reducido a las veintisiete letras siguientes: a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m,
n, ñ, o, p, q, r, s, t, u, v, w, x, y, z. Eliminación de la tilde en palabras con
diptongos o triptongos ortográficos: guion, truhan, fie, liais, etc. Al no existir
uniformidad entre los hispanohablantes en la manera de articular muchas
secuencias vocálicas, ya que a menudo, incluso tratándose de las mismas
palabras, unos hablantes pronuncian las vocales contiguas dentro de la
misma sílaba y otros en sílabas distintas, la ortografía académica estableció
ya en 1999 una serie de convenciones para fijar qué combinaciones vocálicas
deben considerarse siempre diptongos o triptongos y cuáles siempre hiatos a
la hora de aplicar las reglas de acentuación gráfica, con el fin de garantizar la
unidad en la representación escrita de las voces que contienen este tipo de
secuencias.
A ortografia é uma parte da gramática que vai além da escrita correta das
palavras. Ela é também um elemento dos textos escritos, que permite a compreensão
das informações. Portanto, é um aspecto fundamental para quem deseja se comunicar
por escrito.
90
Fonte: www.tradutoradeespanhol.com.br
91
O estudo dos signos e suas combinações é um dos domínios atribuídos à
gramática internalizada de cada interlocutor. A fonética é a área responsável por
estudar os sons de maneira física, isto é, como eles são produzidos no nosso aparelho
fonador. Na fonética, estudamos as partes que correspondem aos signos linguísticos,
mas não necessariamente os seus significados.
Atrelados aos estudos da fonética, encontramos também os estudos da
fonologia, que averigua o sistema dos sons, a sua estrutura e o seu funcionamento.
Assim, segundo os estudos de Matzenauer (2014, p. 13), “[...] a fonética apreende os
sons efetivamente realizados pelos falantes da língua em toda sua diversidade; a
fonologia abstrai essa diversidade para captar o sistema que caracteriza a língua”.
Desse modo, ainda que sejam estudos separados, a fonética pode auxiliar os estudos
da fonologia, de maneira que muitas vezes os estudos andam juntos.
Toda e qualquer língua pode ser analisada fonética e fonologicamente. Além
disso, tanto uma como outra são passíveis de serem descritas por meio de alfabetos
elaborados que representam, por exemplo, os seus sons. É importante, assim, que
você saiba as características peculiares de cada uma, para que não as confunda.
Nas descrições fonéticas, atribuímos o uso de colchetes (por exemplo, [t] e [d])
para representar o que chamamos de fones; nas descrições fonológicas,
representamos os fonemas por meio de barras (por exemplo, /t/ e /d/). Logo, podemos
representar os sons de uma língua por meio de dois níveis de descrição: o fonético e
o fonológico.
O plano de estudo da fonética é aprofundado em três aspectos: articulatório,
acústico e perceptual. O primeiro aborda como os sons são produzidos e articulados
no aparelho fonador no corpo humano; o segundo, as propriedades físicas da
propagação dos sons, isto é, as ondas sonoras que produzimos em um ato de fala; e
o terceiro, como recebemos e interpretamos uma onda sonora.
A unidade comum representada pelos sons dentro da língua é chamada, na
fonética, de fone. Segundo Battisti (2014, p. 64), fone é o “[...] som da fala, de natureza
linguística”. Entretanto, outros tipos de sons, como trovões, espirros, bocejos, etc.,
não são considerados parte do estudo fonético.
Para representar um fone na escrita, utilizamos também um alfabeto específico,
chamado de Alfabeto Fonético Internacional (IPA), elaborado pela Associação
Internacional de Fonética.
92
A Figura 1 apresenta os símbolos utilizados na descrição dos fones por meio
do IPA.
Fonte: www.mosalingua.com
93
articulação no aparelho fonador. Veja a seguir alguns exemplos utilizando a
transcrição fonética.
94
Assim, facilmente observamos que pata, em espanhol, não significa a mesma
coisa que data. A primeira tem como tradução o feminino de pato ou a pata de um
animal; o segundo pode ser traduzido para data e tem como sinônimo, na língua
espanhola, a palavra fecha.
Veja, em outro exemplo, outros pares mínimos, como em paño (pano) e baño
(banho). Essa relação que fazemos entre os fones e os fonemas em uma língua é
denominada na fonética de alofonia.
Para Battisti (2014, p. 70), a alofonia “[...] dá origem à variação fonético-
fonológica nas línguas do mundo, a um tipo de variação determinado por um ambiente
ou contexto sonoro específico”. Desse modo, um alofone é, na realidade, uma
variação de um fonema, mas que não modifica o sentido da palavra. Veja um exemplo
a seguir.
95
advindas dos processos da fala; a interface desse estudo se dá com os estudos nas
áreas da neurologia e da psicologia. Vale ressaltar, no entanto, que para o ensino e a
aprendizagem de línguas, saber qual é o objeto de estudo da fonética não é suficiente.
Por isso, a seguir você verá a importância da fonética no estudo da língua (FELIPE,
2015).
Fonte: www.diferenca.com/fonetica-e-fonologia
96
É claro que podemos, em uma aula, abordar a pronúncia e tentar aproximá-la
a um nativo; no entanto, devemos nos preocupar com outros aspectos mais válidos,
como ler e compreender diferentes tipos de texto, conseguir se comunicar em
diferentes esferas, compreender diferentes sotaques, etc.
Dentro da história, a fonética passou a ser estudada muito antes do que
imaginamos. Já na Antiguidade, por exemplo, os gregos e os romanos demonstravam
uma curiosidade sobre aquilo que hoje já distinguimos: a letra versus o fone.
No entanto, segundo Borstel, Klein e Hitz (2002), a grafia ainda era
extremamente influenciada pela maneira como se falava. Eles exemplificam essa
visão em seu trabalho:
97
responsabiliza por alimentar, até hoje, tudo o que se refere à língua espanhola, como
variações fonético-fonológicas e lexicais, novas entradas lexicais, etc.
É importante notar que a RAE não tem uma referência específica, pois há 21
academias, dos 21 países falantes de espanhol, trabalhando a serviço do espanhol,
sendo, portanto, representante de no mínimo 21 variedades da língua.
Dessa forma, o espanhol nos é apresentado como uma língua falada em
diversos países, mas com variações específicas. Assim, quando abordamos em sala
de aula como é a pronúncia de determinada palavra na Espanha e na América,
estamos desmistificando o preconceito ainda existente de que apenas um espanhol é
“certo”, e que exclusivamente este deve ser ensinado em sala de aula.
Desse modo, a fonética colabora também, no estudo da língua, para
acompanharmos os diferentes modos de falar em diferentes regiões
hispanohablantes. Logo, ela permite também que estudemos aspectos interculturais
importantes que caracterizam a língua (FELIPE, 2015).
98
A letras que estão marcadas em negrito no quadro apresentam variações nos
21 países de fala espanhola. Por exemplo, na Espanha, a letra “Z”, diante de “A” “O”
e “U” (za, zo e zu), é pronunciada com o fonema [θ] (visto no th de think em inglês),
como em zapato [ θa 'pa to ].
Já na América, a mesma palavra é falada com outro alofone: a pronúncia é [ sa
'pa to ]. Esse caso ocorre também com a letra “C”, diante de “E” e “I” (ce e ci), como
em cielo.
Na Espanha, a pronúncia é [ 'θje lo ]; na América, é [ sje lo ]. Além dos exemplos
mencionados acima, a principal diferença entre os países latinos se configura na
pronúncia das letras “LL” e “Y”. Veja o Quadro 2.
99
Como você pôde perceber, falar espanhol corresponde não somente a
conseguir se comunicar, mas também a mergulhar em diferentes universos sociais e
linguísticos.
O nosso papel como professores perpassa o ensino formal desse idioma:
devemos conscientizar os nossos alunos de que o sotaque escolhido será
reconhecido em qualquer canto do universo.
Nesse sentido, a RAE cumpre bem o seu papel de respeitar todas as variantes,
fazendo com que elas formem essa unidade linguística e cultural heterogênea que é
a língua espanhola (FELIPE, 2015).
100
REFERÊNCIAS
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São Paulo: Parábola, 2007.
102
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SEBEOK, T. A. (Ed.). Current trends in linguistics: historiography of linguistics. The
Hague: Mouton, 1975. v. XIII.
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