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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

FUNDAMENTOS ETIMOLÓGICOS DO
ESPANHOL

GUARULHOS – SP
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4

2 INTRODUÇÃO À LÍNGUA ESPANHOLA ............................................................... 5

2.1 Cultura ................................................................................................................ 5

2.2 Comunicação em espanhol .............................................................................. 12

2.3 Língua espanhola no cenário mundial .............................................................. 17

3 O PERCURSO HISTÓRICO ................................................................................. 22

3.1 Língua espanhola: a caminhada para se tornar idioma nacional ...................... 22

3.2 Origem da língua espanhola ............................................................................. 23

3.3 Do latim ao espanhol: um longo percurso ......................................................... 24

3.4 O romance: mais um capítulo dessa complexa história .................................... 26

3.5 Consolidação da língua espanhola ................................................................... 28

3.6 A língua espanhola segue o seu rumo.............................................................. 30

4 ESBOÇO HISTÓRICO DA LÍNGUA ESPANHOLA ............................................... 33

4.1 A língua como objeto científico ......................................................................... 34

4.2 Tradição, renovação e influência da teoria sintática de Nebrija ........................ 38

4.3 O surgimento da teoria sintática de Nebrija ...................................................... 41

4.4 A sintaxe e a evolução do seu conceito ............................................................ 43

4.5 Abordagem tradicionalista ................................................................................ 44

4.6 Abordagem gerativista ...................................................................................... 44

4.7 Abordagem funcional-discursiva ....................................................................... 45

5 A IMPORTÂNCIA DO LATIM PARA A LÍNGUA ESPANHOLA ............................. 46

5.1 Identidade nacional: uma questão de língua .................................................... 47

5.2 A chegada do Império Romano à Península Ibérica ......................................... 48

5.3 O processo de romanização linguística ............................................................ 50

5.4 A língua romance: legado da romanização ....................................................... 53

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5.5 Língua espanhola: a filha do latim .................................................................... 55

6 MODELO COMUNICATIVO .................................................................................. 57

6.1 Linguagem e interação humana........................................................................ 57

6.2 Função dos interlocutores e da interação linguística ........................................ 59

6.3 Tematização — informação compartilhada pelo emissor e pelo receptor ......... 61

6.4 Língua e cultura — duas abordagens indissociáveis ........................................ 63

7 A SONORIDADE DA LÍNGUA ESPANHOLA GEOGRAFICAMENTE .................. 67

7.1 Diferentes modos de fala .................................................................................. 72

7.2 Léxico variacional escrito .................................................................................. 76

8 A GRAMÁTICA DA LÍNGUA ESPANHOLA E A CONSTRUÇÃO TEXTUAL ........ 78

8.1 Verbos e produção textual ................................................................................ 78

8.2 Sintaxe e produção de texto ............................................................................. 83

8.3 Ortografia e produção textual ........................................................................... 87

9 NOÇÕES DE FONÉTICA DA LÍNGUA ESPANHOLA .......................................... 90

9.1 Objeto de estudo da fonética ............................................................................ 91

9.2 Importância da fonética no estudo da língua .................................................... 96

9.3 Diferentes pronúncias da língua espanhola a partir da análise fonética ........... 98

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 101

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 INTRODUÇÃO À LÍNGUA ESPANHOLA

A língua espanhola é o idioma oficial de 21 países de três continentes


diferentes, e cada um deles tem o seu conjunto de tradições e costumes, que
constituem a sua cultura (BIZELLO,2018).
Nesse contexto de diversidade, como reconhecer a língua espanhola como
elemento cultural? Como o espanhol atinge determinada importância no panorama
mundial? A cultura da língua espanhola, os diferentes modos de comunicação nesse
idioma e a posição do espanhol no cenário mundial.

Fonte: www.trabalhosescolares.net

2.1 Cultura

A língua espanhola surgiu numa região que vivia em guerra e que, por isso, era
cheia de fortificações e castelos de pedra — motivo pelo qual esse lugar passou a se
chamar Castela (em espanhol, Castilla). As pessoas que viviam nessa região falavam
o latim de forma diferente: misturavam termos germânicos e romanos.

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Fonte: educalingo.com

No período da reconquista, houve uma desagregação dos povos, que fez com
que não houvesse mais comunicação entre eles. Essa não comunicação gerou muitas
diferenças e, por isso, surgiram o galego, o catalão, o basco e o castelhano (língua de
Castela). Entretanto, devido à força política e literária de Castela, o castelhano passou
a ser considerado mais importante (BIZELLO,2018).
Dessa forma, o latim vulgar falado antes se modificou. Outras línguas se
misturaram a ele e, ao contrário do que ocorreu com os seus vizinhos, surgiram mais
ditongos, e os falantes diminuíram as vogais postônicas e introduziram sons guturais
e velares.
É importante destacar, porém, que essas mudanças eram predominantemente
orais. Na escrita, a chamada língua romance ganhou mais espaço na época dos reis
católicos, pois passou a ser tratada como língua oficial da corte e, assim, foi se
desprendendo das regras latinas.
Dessa forma, o castelhano apareceu na literatura, nas crônicas reais e na
legislação. Outra mudança significativa do período do Rei Alfonso X foi a ordem da
frase, que passou a se basear em sujeito, verbo e complemento. Além disso, o latim
culto passou cada vez mais a se misturar com o latim vulgar.
Nessa época, também houve a mistura com o galego, o catalão, o italiano e o
francês. Durante a conquista da América, embora os espanhóis impusessem a sua

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língua como oficial, o contato com os povos conquistados levou esse idioma a mais
transformações.
No período depois da conquista da América, o espanhol se assemelhava mais
ao que é hoje. Nessa época, surgiram as regras de bom uso da língua e, para isso,
Antonio de Nebrija escreveu a Gramática castellana e Juan Valdés escreveu o Diálogo
de la lengua.
Na literatura, a obra de Cervantes, além da sua importância literária, surgiu
como modelo de perfeição de linguagem: ele mesclou a linguagem culta do
personagem Quixote com a língua do povo do personagem Sancho.
Outro fato que contribuiu para a força da língua espanhola foi a fundação da
Real Academia Española (RAE), em 1713, indo ao encontro do momento do espanhol
no mundo. Embora a Espanha como país não estivesse em evidência, o espanhol era
considerado a língua da ciência e da educação. De acordo com o Portal do Governo
da Espanha (2017, documento on-line), o país:

[…] contaba en 1492 con una potente maquinaria de guerra, una sólida
economía, una proyección exterior, una experiencia marinera y exploradora
de rutas mercantiles y un notable potencial científico-técnico: matemáticos,
geógrafos, astrónomos y constructores navales.

A conquista da América gerou uma questão a ser resolvida: como nomear a


língua? Castelhano, por ser a língua de Castela, ou espanhol, por ser a língua da
Espanha? Ainda que as duas denominações sejam adequadas, os hispanohablantes
da América costumam dizer que falam castelhano, e não espanhol — que seria a
língua da Espanha (BIZELLO,2018).
Veja na Figura 1 os países que falam espanhol (SÓ ESPANHOL, 2018).

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Fonte: www.soespanhol.com.br

Um aspecto que merece destaque é que, ao longo da história do castelhano,


houve uma mistura com outras línguas que se adequaram ao espanhol.
Segundo Fuentes (1991, p. 97), “[…] a partir de la revolución industrial del siglo
XIX, y con la intensificación del comercio anglosajón, se adoptaron muchos términos
del inglés que se adecuaron al español”. Nesse contexto, foi construída a identidade
cultural da língua espanhola: com diversidade e mistura de valores.
Aliás, a própria história da Espanha se fundamenta na diversidade e na
influência de diferentes povos, que deixaram as suas marcas nas tradições, na língua
e na arquitetura do país.
Uma das tradições mais conhecidas da Espanha é a tourada, um evento ocorre
em Plazas de Toros espalhadas por todo o país. Entretanto, na atualidade esse
aspecto cultural tem sofrido modificações e é inclusive proibido em várias regiões. De
acordo com Jokura (2018, documento on-line):

É um espetáculo sangrento em que um toureiro enfrenta, quase sempre até


a morte, um touro selvagem dentro de uma arena. A fiesta nacional da
Espanha tem origem em caçadas a touros que rolavam já no século 3 a.C.
No fim do século 18 — quando assumiu seu formato atual —, a distração já
havia caído definitivamente no gosto popular.

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Além disso, a Espanha é conhecida pelas suas festas populares.
 Las Fallas: ocorre em Valência como uma competição de grandes
esculturas, que são conhecidas como fallas.
 Semana Santa: no sul da Espanha, durante a Páscoa, várias procissões
percorrem as cidades, principalmente Sevilha e Granada, as quais são
decoradas com flores e símbolos religiosos.
 Feira de Abril: em Sevilha, ocorre uma festa com comidas e bebidas
típicas, apresentações culturais e passeios de carruagem com trajes
típicos.
 Fiestas de San Fermín: ocorrem em Pamplona como uma homenagem
ao padroeiro da região. Os participantes se vestem de branco e usam um
lenço vermelho no pescoço, antes de saírem correndo diante dos touros
que são soltos nas ruas estreitas da cidade.
 La Tomatina: trata-se de uma batalha de tomates que ocorre em Buñol,
a qual começa às 11h e dura o dia todo. Surgiu em 1945, quando um
grupo de amigos fez uma guerra de tomates.

A Argentina, na época das imigrações europeias, recebeu muitos estrangeiros,


e a sua cultura é resultado dessa mistura. O tango, uma das suas maiores marcas,
era considerado no início impróprio a ambientes familiares, pois surgiu nos subúrbios
e bordéis. Quando passou a ser admitido nos salões, abdicou das coreografias mais
extravagantes e sensuais. Outras marcas desse país são o futebol, o churrasco e o
vinho.
A Bolívia é um dos países colonizados pela Espanha que mais apresenta uma
cultura autóctone. A tradição artística indígena aparece no exterior dos edifícios,
geralmente revelando a flora e a fauna locais. O Chile é um país que apresenta uma
mistura cultural: há uma forte presença indígena (especialmente os mapuches) junto
aos costumes católicos herdados dos espanhóis.
Uma curiosidade a respeito desse país é que ele foi conquistado pela Espanha
apenas no século XVII. A partir disso, teve uma grande exploração dos recursos
naturais, que o levou a um auge econômico (BIZELLO,2018).
A literatura chilena conta com prêmios Nobel (Pablo Neruda e Gabriela Mistral)
e com muitas vendas internacionais, principalmente com as obras de Isabel Allende.

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A Colômbia é um país marcado pelas festas culturais. O carnaval de negros e brancos
ocorre em Pasto, a partir da primeira semana de janeiro, desde 1546, reunindo
tradições étnicas andinas e do pacífico (BIZELLO,2018).
Em 2009, foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela
UNESCO. O carnaval de Barranquilla é o principal festival colombiano, sendo
reconhecido internacionalmente, e se destaca entre outros importantes festivais da
América Latina.
As Festas de Padroeiro (em San Andrés) envolvem todo o complexo de ilhas,
com muita música caribenha e pratos típicos dessa região insular. Vale ressaltar
também que, na Colômbia, há touradas em muitas festas. A Costa Rica é um grande
mosaico cultural. Há uma mistura da cultura africana, trazida pelos escravos, da
caribenha, da espanhola e da jamaicana, resultado da imigração de trabalhadores.
Cuba é um país conhecido pela implementação e manutenção do regime
socialista, e pouco se fala nas mídias sobre a sua cultura. Ela é fruto da mistura dos
aspectos espanhóis com costumes africanos, e a música é a expressão mais
destacada nessa cultura: a rumba e a salsa são dançadas em todos os espaços. O
Equador tem na sua cultura a expressão da mistura de povos indígenas.
As culturas pré-colombianas se destacam em cerâmica, confecção, escultura,
pintura e trabalhos com ouro e prata. Na arte religiosa, presente em museus e igrejas,
destacam-se as obras coloniais religiosas realizadas pelos indígenas. Em El
Salvador, há uma mistura da cultura indígena (representada pelo legado do mundo
maia) com a cultura espanhola (representada pelas construções arquitetônicas
religiosas).
Na Guatemala, a cultura maia está na religião, na arquitetura, nos costumes e
nas vestimentas. Entretanto, a presença espanhola na época da colonização fez com
que aspectos europeus se misturassem a essa cultura e formasse o que hoje é a
cultura guatemalteca.
A Guiné Equatorial está localizada na África Ocidental. Como foi inicialmente
colonizada por portugueses, tem raízes portuguesas na sua cultura — alguns
habitantes da região falam português, mas cerca de 90% da população fala espanhol.
Essa mistura de colonizadores deixou marcas, como o legado ibérico na gastronomia:
a preferência por frutos do mar e o uso de azeite estão muito presentes.

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O cristianismo é a religião com mais praticantes, mas também há influências
africanas. Em Honduras, o espanhol é a língua predominante, embora alguns
habitantes usem o inglês, e há misturas com dialetos indígenas e com o dialeto
garifuna.
Mistura é a palavra-chave para definir a cultura hondurenha: as ilhas da Baía
têm população composta quase que totalmente por ingleses, contrastando com as
ilhas de Bata, cuja população é em sua maioria negra. México foi território de muitas
civilizações, das quais se destacam os maias e os astecas; logo, a sua cultura é
marcada pelo legado desses povos e pela colonização espanhola.
Uma evidência da pluralidade mexicana é a gastronomia, que foi reconhecida
como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2010. De acordo com o
Portal Universia ([201-?], documento on-line),

[...] a cozinha mexicana mistura ingredientes típicos da época pré-hispânica,


como o milho, o chile, o cacau, o abacate e o nopal, com outros que foram
introduzidos durante a época colonial, como as carnes, o arroz e o trigo. O
pulque, a tequila e o mescal são as bebidas mais características.

Uma festa popular no México é a que celebra o dia dos mortos: nos cemitérios,
as pessoas comem, bebem, tocam músicas e realizam oferendas. Na Nicarágua, não
há religião oficial, mas a maioria da população é católica. A literatura nicaraguense
projetou-se no mundo com o modernista Rubén Darío, considerado um dos maiores
poetas hispano-americanos.
O Panamá apresenta uma cultura em que há uma mistura das tradições
espanholas, africanas, ameríndias e norte-americanas. De acordo com Nadale (2018,
documento on-line), “No Corpus Christi, uma das tradições são os ‘diabinhos sujos’:
figuras com máscara de papel machê, mortalha (geralmente preta e vermelha),
castanholas e um sininho. Eles dançam pelas ruas, jogam água nas pessoas e fazem
bagunça com as crianças”.
A principal língua falada no Peru é o espanhol, a segunda mais falada é o
quéchua — a língua antiga dos incas. Essa coexistência de culturas se manifesta em
todos os aspectos da sociedade peruana, como a religião: a maioria da população
peruana é católica, mas muitas crenças e costumes tradicionais permanecem.
Há vários festivais tradicionais que mostram isso; o exemplo mais famoso é o
festival Inti Raymi, quando Inti, o deus do Sol da cultura inca, é honrado em uma
procissão.
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Porto Rico tem uma cultura marcada pela colonização espanhola e pela
condição contraditória de, mesmo após a independência, sofrer intervenções dos
Estados Unidos.
Essa peculiaridade surge também na língua. De acordo com as informações do
Portal São Francisco ([201-?]), a “guerra da língua” demonstra que a população quer
defender a sua identidade todas as vezes em que algum dos governadores tenta
mudar a Lei da língua oficial única (1949), a qual determina que o ensino na escola
pública seja feito somente em espanhol.
“Porto Rico não é uma ilha bilíngue, mas um centro significativo, criador de
cultura hispânica, onde é utilizado também o inglês como instrumento de
comunicação”, frisa Ramón-Darío Molinary (apud PORTAL SÃO FRANCISCO ([201-
?], documento on-line).
A República Dominicana tem como principal aspecto da sua identidade o
merengue. Esse ritmo musical, que tem origem na fusão das músicas africanas com
o pasodoble espanhol, era considerado vulgar, mas atualmente é a principal
manifestação cultural da ilha.
O Uruguai tem forte tradição na figura do gaúcho, de onde surgem algumas
danças e músicas folclóricas, como a milonga. Contudo, as danças e os rituais de
origem africana revelam um rico folclore afro-uruguaio. O candomblé é uma dança
que surgiu dessa tradição.
Na Venezuela, a música é uma forte expressão da sua cultura. Trata-se de uma
mistura de espanhol com ritmos africanos e indígenas. Em resumo, a língua espanhola
é um elemento cultural de vários países de diferentes continentes.
Essa diversidade e mistura caracterizam as manifestações culturais de todas
as regiões e contribuem com as variações linguísticas.

2.2 Comunicação em espanhol

Como em qualquer língua, há diferentes maneiras de expressar a mesma ideia


em espanhol. Contudo, há as mais usuais e mais adequadas, de acordo com o
contexto. Segundo Raúl Prada (2018, documento on-line):

[…] se puede definir la comunicación como el encuentro de un organismo


viviente con su medio ambiente o entorno, cuando se entiende por dicho
encuentro la recepción de informaciones sobre el mundo circundante y una
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reacción ante la información recibida. Esta fórmula abarca todas las
posibilidades de "encuentro" del hombre con su medio ambiente físico, social
y cultural; las relaciones humanas en sus diversas manifestaciones:
económicas, políticas, deportivas, etc.; donde caben también niveles de
relación con los productos de la tecnología: comunicación hombre máquina
en la industria, en los procesos de aprendizaje y en los del entretenimiento.
Incluye, asimismo, la relación del hombre con los medios masivos. Cubre el
entorno variado y complejo que rodea al ser humano, esfera dentro de la cual
actúa reaccionando objetos, hechos, funciones y relaciones son agentes
emisores de mensajes para el receptor. Del entorno parten señales de
variada índole que el hombre acomoda a sus necesidades.

Nesse sentido, quem deseja se comunicar em outra língua, nesse caso, em


espanhol precisa conhecer e praticar formas simples de comunicação. Por exemplo,
para perguntar um nome, podem-se usar as seguintes interrogações:
¿Cómo te llamas?
¿Cuál es tu/su nombre?
¿Cómo se llama usted?

Observe que as duas primeiras formas, com o uso de se, são utilizadas em
contextos formais. Para dizer o seu nome, uma pessoa pode dizer:
¡Hola! Me llamo...
Mi nombre es...
Soy...

Contudo, a segunda forma indicada é pouco aplicada no dia a dia, surgindo


mais em contextos formais. Para saudar alguém, usa-se:
¡Buenos días! ¡Buenas tardes! ¡Buenas noches!
¿Cómo está usted? ¿Cómo tú estás?¿Como está vos?
Hola, ¿qué tal?

Note que, ao contrário do que ocorre na língua portuguesa, as saudações de


acordo com o turno do dia (primeiro exemplo), em espanhol, são feitas no plural. As
indicações que constituem o segundo exemplo são utilizadas tanto na finalidade social
(isto é, apenas para saudar) como para realmente obter a resposta de como a pessoa
está (BIZELLO,2018).
Usted é usado em situações formais e pode ser substituído, por exemplo, por
¿Cómo la señora está?.
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Tú indica um tratamento mais informal e íntimo, enquanto vos ocorre em
localidades em que se usa o voseo. Verifique no Quadro 1 as maneiras formais e
informais de perguntar e de responder como uma pessoa está.

Observe que os formais se relacionam com os pronomes de tratamento, que


são flexionados na terceira pessoa. Já os informais são flexionados na segunda
pessoa (BIZELLO,2018).
Os verbos são conjugados de acordo com o pronome utilizado. Há também
diferentes formas de perguntar sobre o estado civil de alguém. Veja os exemplos a
seguir.
¿Cuál es el estado civil de tu hermana?
¿Tu abuela está casada?
¿Tu primo está soltero?
¿Estás soltera o casada?

Observe que uma pessoa pode estar soltera ou casada e ser viúda ou
divorciada. Para conversar sobre a profissão das pessoas, pode-se recorrer a
diferentes perguntas:
¿A qué te dedicas?
¿En qué trabajas?
¿Qué haces?

Para responder a essas perguntas, o interlocutor pode dizer:


Soy...
Trabajo en...

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A comunicação pode ter como tema as datas. Nesse caso, podem surgir
questões como:
¿Qué día es hoy?
¿Qué día de la semana...?
¿Cuándo es...?

Num diálogo, os interlocutores podem fazer perguntas referentes a descrições,


como:
¿Cómo es?
¿De qué número/talla?
¿De qué color?
¿Con qué estampa?
¿De qué está hecho?
¿Cómo está?

Veja no Quadro 2 como seria uma conversa sobre pedidos de comida

Há diferentes formas de pedir informações sobre uma localização. Veja:


¿Cómo se llega a ...?
¿Hay una... cerca de aquí?

Você notou que há situações em que se usa o verbo tener e, em outras, o verbo
haber? Geralmente, o verbo tener é utilizado para indicar posse, já haber é aplicado
para mostrar a existência (BIZELLO,2018).
Além disso, haber nunca vai para o plural, enquanto tener nunca aparece com
preposição. Assim, observe os exemplos a seguir:

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Mi barrio no tiene árboles.
En la sala, hay dos alumnos.
Las salas tienen aire condicionado.
En este barrio hay muchas flores.

Ao contrário do que ocorre na língua portuguesa, o verbo tener é utilizado diante


de hambre, sed, sueño e ganas (BIZELLO,2018). Veja:

Tengo hambre.
Todos tienen sed aquí.
Ella tiene sueño.
Tengo ganas de pasear.

Há situações em que a comunicação se relaciona com convites. Veja a seguir


como fazer para convidar alguém:
¿Quieres ir?
¿Te gustaría ir conmigo?
¿Te apuntas?

Observe que a segunda pessoa é sempre a forma escolhida. Para aceitar, o


interlocutor pode dizer:
¡Claro!
¡Por supuesto!
¡Sí!
¡Cuenta conmigo!

Para recusar, o interlocutor pode dizer:


No va a ser posible.
No, perdona, tengo otro compromiso.
Lo siento, no puedo.

Em situações de comunicações comerciais, costuma-se perguntar:


¿Cuánto vale?

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¿Cuánto cuesta?
¿A cuánto está?

De forma geral, essas diferenças referem-se ao estilo do falante e à situação


de comunicação. Todavia, os diferentes modos de comunicação podem ser oriundos
das variações linguísticas.
Nesse sentido, encontram-se, na língua espanhola, diferenças de léxico (na
Espanha, abacaxi é designado como piña; na América, como ananá) e de pronúncia
(a letra y pode ser pronunciada como fonema vocálico ou como fonema consonantal
palatal).
Em resumo, a observação e a aplicação dessas estruturas são fundamentais
para o desenvolvimento da aprendizagem de uma língua estrangeira. Segundo
Rosales Bremont, Zarate Ortiz e Lozano Rodríguez (2018, documento on-line):

En el aprendizaje de una segunda lengua son importantes dos términos: uno


de ellos es el aprendizaje de una lengua en sí, entendido éste como el
desarrollo de conocimiento consciente de la segunda lengua; es decir, el
dominio de sus reglas y fórmulas por medio de un estudio formal.

Portanto, para que haja uma comunicação eficiente em língua espanhola, é


necessário conhecer a cultura, os costumes e as variedades desse idioma.

2.3 Língua espanhola no cenário mundial

Quando se fala em comunicação, é inegável o papel da linguagem na


compreensão e na possibilidade de relações políticas, financeiras, comerciais e
profissionais. Em um mundo globalizado, a comunicação eficiente é uma exigência.
Para isso, utilizar ou conhecer os mesmos sinais e símbolos que o interlocutor
é fundamental para emissores e receptores de mensagens. Assim, num mundo
composto por tantas línguas diferentes e culturas diversificadas, é importante
conhecer idiomas e culturas que podem facilitar ou engrandecer as relações.

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Fonte:actualiteespagnole.com

Apontar uma língua predominante ou mais importante é uma atitude complexa,


visto que há vários aspectos envolvidos, tanto nos critérios de escolha quanto nos
elementos que promovem um idioma.
De acordo com Xoán Lagares (2018, documento on-line):

[...] ao pensarmos as relações entre línguas no espaço mundial, devemos


prestar atenção nas relações entre os falantes, no modo como eles interagem
entre si, com falantes da sua mesma língua e de outros idiomas. Essas
relações são mediadas, por sua vez, por todo tipo de representações em
torno de ideias de beleza, utilidade, identidade, representatividade etc., e
mesmo por interdições sociais que têm a ver com os âmbitos de uso, as
funções comunicativas ou os gêneros discursivos implicados na utilização de
uma ou de outra língua. Assim, por exemplo, as "escolhas" de uso de falantes
bilíngues, em situações de línguas em contato, estão condicionadas por toda
uma história de coerções sociais construídas na relação entre grupos
humanos e pelas relações de poder existentes.

O espanhol soma um total de 480 milhões de falantes no mundo, segundo o


relatório do Instituto Cervantes de Madri (2018). Dessa forma, revela-se como o
segundo idioma mundial em termos de nativos perde apenas para o chinês. Se
considerarmos ainda os aprendizes distribuídos em todos os continentes, esse
número supera os 577 milhões.
Isso significa que “[...] el español es la segunda lengua materna del mundo por
número de hablantes, tras el chino mandarín, y también la segunda lengua en un
cómputo global de hablantes (dominio nativo + competencia limitada + estudiantes de
español)” (INSTITUTO CERVANTES, 2018, p. 5). Veja outros dados indicados pelo
Instituto Cervantes (2018, p. 14):
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En 2018, el 7,6% de la población mundial es hispanohablante (esos 577
millones de usuarios potenciales de español mencionados en la primera
línea). Las previsiones estiman que el peso de la comunidad hispanohablante
en 2050 será ligeramente superior al actual (concretamente el 7,7% de la
población mundial). Sin embargo, dichas previsiones también pronostican
que, en 2100, este porcentaje se situará en el 6,6%, debido
fundamentalmente al descenso de la población de los países
hispanohablantes. Más de 21 millones de alumnos estudian español como
lengua extranjera em 2018. En concreto 21.815.280.

Além desses números, que mostram a relevância do idioma, o espanhol é o


segundo idioma mais utilizado na comunicação internacional e o terceiro oficial no
campo da política, da economia e da cultura internacional.
Veja a seguir os números indicados pelo Instituto Cervantes (2018, p. 25).

La contribución del conjunto de los países hispanohablantes al PIB mundiales


del 6,9%. El PIB generado por el conjunto de los países hispanohablantes es
superior al generado por el conjunto de los países donde el francés tiene
estatus de lengua oficial.
Norteamérica (México, Estados Unidos y Canadá) y España suman el 78%
del poder de compra de los hispanohablantes. En 2016, el poder de compra
de la población hispana de Estados Unidos era de 1,4 billones de dólares y
se espera que en 2021 este alcance los 1,66 billones. En el caso del español,
la lengua común multiplica por cuatro las exportaciones bilaterales entre los
países hispanohablantes. El 79% de las empresas exportadoras españolas
cree que el hecho de que en el mercado de destino se hable en español
puede facilitar su actividad internacional.

Parte desses números se deve à influência dos latinos na sociedade: dos 21


países nos quais o espanhol é a língua oficial, 19 são da América Latina. Estes
mostram um grande crescimento econômico, e isso gera a necessidade de parcerias
para negócios e o desenvolvimento de negociações.
Nesse sentido, amplia-se a importância da língua espanhola no cenário
mundial. Para quem negocia com esses países, é fundamental conhecer as suas
particularidades, isto é, a sua cultura. Esse conhecimento torna-se uma importante
ferramenta, já que quem desconhece a cultura de um povo pode cometer erros e gafes
nas relações cotidianas de trabalho, numa imigração a um país de fala hispânica ou
até mesmo num simples turismo no exterior.
Conhecer a cultura de um povo garante o respeito à identidade da população e
uma adaptação menos traumática para quem chega com outros costumes e vivências.
Vale ressaltar que algumas empresas têm exigido o diploma de espanhol como língua
estrangeira (DELE) para que possam se certificar do nível de conhecimento que os
seus colaboradores têm do espanhol.

19
Para os brasileiros, a importância desse conhecimento é ainda maior, porque,
com os acordos firmados com o Mercosul, ampliou-se o número de negócios entre
empresas brasileiras e estrangeiras que têm o espanhol como principal idioma. Essa
necessidade de desenvolver a língua dos hermanos é ratificada pelas exigências de
um mundo globalizado. Afinal, a comunicação com pessoas de diferentes lugares do
mundo é não só uma realidade, mas também uma exigência.
Conhecer outras línguas é, portanto, indispensável, seja no trabalho, seja nos
estudos, seja para o lazer, seja para o simples contato com pessoas de outros países.
Nesse sentido, vale ressaltar que o espanhol é a terceira língua mais utilizada nas
redes sociais. Veja os resultados de pesquisas do Instituto Cervantes (2018, p. 40).

El español es la tercera lengua más utilizada en la Red. El 8,1% de los


usuarios de Internet se comunica en español. El uso del español en la Red
ha experimentado un crecimiento del 1.696% entre los años 2000 y 2017. 14
Introdução à língua espanhola Solo un país de habla hispana, México, se
encuentra entre los diez con el mayor número de usuarios en Internet. El
español es la segunda lengua más utilizada en Wikipedia, en Facebook y em
Twitter. El número de usuarios de Facebook en español coloca a este idioma
a gran distancia del portugués y del francés. El español es la segunda lengua
más utilizada en Twitter en ciudades mayoritariamente anglófonas como
Londres o Nueva York.

O Brasil está muito próximo de países que têm o espanhol como o idioma
oficial. Além disso, em algumas regiões dos Estados Unidos, essa também é uma
língua importantíssima nas relações comerciais — 15% da população do país têm o
espanhol como a sua primeira língua.
Portanto, conhecê-la facilita também os negócios financeiros e profissionais
com a maior potência do mundo. Há ainda muitos estudantes de espanhol nos
Estados Unidos: “[…] el número de alumnos matriculados en cursos de español en las
universidades estadounidenses supera al número total de alumnos matriculados en
cursos de otras lenguas” (INSTITUTO CERVANTES, 2018, p. 15).
Na África, desde 2001 o espanhol é considerado uma das línguas oficiais da
Organização da Unidade Africana (OUA), juntamente com o árabe, o francês, o inglês
e o português. Isso significa que, nesse contexto, a língua espanhola se revela como
uma das escolhas mais vantajosas para as questões profissionais, acadêmicas e
culturais.
No mundo acadêmico, principalmente no âmbito dos cursos de pós-graduação,
há muita bibliografia escrita em espanhol e que não tem tradução para o português.

20
Vale ressaltar a forte presença do espanhol na ciência e na cultura. Veja a seguir os
dados apresentados pelo Instituto Cervantes (2018, p. 49).

El porcentaje de participación del conjunto de los países hispanohablantes en


la producción científica mundial ha experimentado un crecimiento constante
desde 1996. El principal actor en la difusión científica en español sigue siendo
España, seguido a gran distancia de México. Casi el 75% de la producción
científica en español se reparte entre tres áreas temáticas principales:
ciencias sociales, ciencias médicas y artes y humanidades. Tres países
hispanohablantes (España, Argentina y México) se encuentran entre los
quince principales países productores de películas del mundo. España es el
tercer país exportador de libros del mundo. Dos países hispanohablantes
(España y Argentina) se encuentran entre los 15 principales productores de
libros del mundo. El español científico y técnico se encuentra relegado a un
plano secundario en el ámbito internacional.

Quando se analisa o âmbito acadêmico, nota-se também a gama de


oportunidades de estudos no exterior. Para os brasileiros, é mais próximo e mais
barato estudar nos países vizinhos do que, por exemplo, ir aos Estados Unidos ou à
Europa. Porém, como no Brasil há o costume de valorizar e seguir a cultura norte-
americana, pouco se aproveita para imergir na cultura dos países hispanohablantes.
Quando brasileiros se permitem conhecer esse universo, notam não só uma
variedade de folclores, tradições, festividades, valores, mas também a similaridade
com a diversidade cultural brasileira. Somos latino-americanos, colonizados por
europeus, oriundos da mistura com povos pré-colombianos, marcados pela
escravidão.
Essa percepção é construída também pelos turistas: cresce cada vez mais o
número de turistas no mundo hispânico. No entanto, o espaço político do espanhol no
mundo está relacionado também à valorização dada a esse idioma em cada país no
qual ele é língua oficial. Segundo Xoán Lagares (2018), esse espaço está em
permanente mutação, num jogo dinâmico de confrontos e de solidariedades.
A crise econômica na Espanha e os sucessivos recortes orçamentários em
políticas públicas provocaram nos últimos anos uma evidente desaceleração das
ações de expansão ideadas pelos agentes da política linguística do espanhol. Por
outro lado, novas iniciativas muitas delas calcadas no modelo de ação inaugurado
pela própria Espanha surgem em diversos pontos do mundo hispânico.
A Colômbia e a Argentina, por exemplo, têm investido no turismo idiomático,
promovendo cursos para estrangeiros e buscando destacar a importância do espanhol
no cenário mundial. Em síntese, a língua espanhola está crescendo e ocupando um

21
lugar de destaque no cenário mundial. Assim, os aprendizes desse idioma têm
maiores chances de se inserir na comunicação em âmbito global.

3 O PERCURSO HISTÓRICO

Você sabia que a língua espanhola é a segunda língua mais falada no mundo?
Em termos de quantidade de falantes nativos de espanhol, esse número passa de 500
milhões, abaixo somente do mandarim (o idioma falado na China).
Originado na Espanha, hoje esse idioma é falado em países das Américas
Central e do Sul, assim como em países da Ásia e da África. Além disso, a língua
espanhola é a segunda mais estudada como língua estrangeira, só ficando atrás do
inglês (ALVES, 2018).
Vale lembrar ainda que o espanhol também é muito falado nos Estados Unidos,
em função da grande imigração latina. Portanto, aprender espanhol traz várias
vantagens, como conhecer muitos lugares pelo mundo usando-o para se comunicar.
Assim, neste capítulo, você conhecerá o caminho que o idioma espanhol
percorreu, ao longo da sua história, para se constituir como língua. Além disso, verá
os aspectos que a transformaram no que ela é hoje, identificando as etapas e as
influências sofridas.

3.1 Língua espanhola: a caminhada para se tornar idioma nacional

Começaremos essa história de trás para a frente. Atualmente, o idioma


espanhol é a língua oficial adotada por 21 países em todo o mundo. Só nas Américas,
são 19 países todos ex-colônias da Espanha, que falam espanhol ou castelhano ainda
hoje. No entanto, há outros países que, durante muito tempo, tiveram o espanhol como
segunda língua, como é o caso das Filipinas, que foram uma colônia espanhola.
Outros países têm ainda um grande convívio com a língua espanhola, por
exemplo, os Estados Unidos. Segundo o informe produzido pelo Instituto Cervantes,
El español: una lengua viva, estima-se que há mais de 24 milhões de pessoas
estudando espanhol como língua estrangeira no mundo, somando os estudantes dos
106 países que não têm o espanhol como língua oficial (INSTITUTO CERVANTES,
2021).

22
Assim, são mais de 493 milhões de pessoas que falam espanhol, seja como
língua materna, como segunda língua ou como língua estrangeira. Além de ser a
segunda língua materna mais falada, esse idioma ocupa também a segunda posição
como idioma de comunicação internacional.
Portanto, de uma maneira ou de outra, o espanhol possui um espaço
significativo no cenário mundial. Mas de onde vem o espanhol? Basicamente, ele vem
do Latim; porém, passaram-se séculos de história até que ele alcançasse o status de
língua e fosse conhecido como língua espanhola. Neste capítulo, vamos usar a
terminologia língua espanhola, sem adentrarmos a discussão política em relação ao
seu nome: castelhano ou espanhol.

3.2 Origem da língua espanhola

Depois da invasão romana à Península Ibérica, datada de 218 a.C., esse


território passou por um processo de romanização, sobretudo a romanização
linguística.
Essencialmente, esse processo consiste em tornar romanos os espaços
conquistados, e é esse processo que determinou o destino, não só da língua
espanhola, mas de todas as línguas românicas ou neolatinas, como o português, o
francês, o romeno e outros (ALVES, 2018).

Fonte: vocesa.abril.com.br

23
O Império Romano foi um dos maiores impérios, e perdurou aproximadamente
mil anos, desenvolvendo-se como grande potência militar, política, econômica,
legislativa e tecnológica de seu tempo. Essa superioridade influenciou a cultura, a
religião, a filosofia e a língua dos povos das regiões conquistadas.
Na Península Ibérica, não foi diferente. A Península Ibérica era constituída por
vários povos, como os célticos, os celtiberos, os lusitanos e os vascões — cuja
sociedade não era tão bem estruturada como a romana. Eles tinham poucos recursos,
eram pobres em tecnologia militar e organizados em clãs ou tribos, o que foi um fator
importante para a adoção dos costumes romanos. Portanto, o mesmo aconteceu com
a língua.
O Império Romano se movimentou até esse território, a fim de conquistar a
região dominada por Cartago, enfraquecendo as suas forças. Depois dessa conquista,
o processo de romanização foi fundamental para a formação da língua. De certa
forma, os povos autóctones conquistados viram vantagem em aprender o latim e
foram adotando-o pouco a pouco, à sua maneira, para se comunicar com aqueles que
passaram a exercer o comando e as leis (ALVES, 2018).
A exceção foi a região norte da Hispania, já que a língua vascuense (também
conhecida como eusquera) não deixou de existir assim como a Grécia, que também
foi conquistada pelos romanos, mas manteve o grego como a sua língua. Logo, o
espanhol se origina no latim. Mas de qual latim?

3.3 Do latim ao espanhol: um longo percurso

O latim que chegou à região da Península Ibérica era uma variedade conhecida
como latim vulgar. Era a língua falada pelos soldados, colonos, comerciantes,
funcionários públicos, ou seja, falada pelo povo. Sua base era oral e, como toda língua
oral, sofreu alterações de diversos fatores: geográficos, culturais, de uso por falantes
de variados níveis de instrução e por influência de outras línguas.

24
Fonte: jornalri.com.br

Como acompanhava o povo, era uma língua que estava em constante mudança
e, por isso, não era uniforme. Essa peregrinação linguística fazia com que novas
incorporações fonéticas, semânticas e vocabulares fossem sendo acrescentadas
(ALVES, 2018).
Esse fator é fundamental para entender a predisposição à evolução. Por outro
lado, o que contrabalanceava e de certa maneira freava as mudanças era o latim
clássico (ou literário), que convivia com o latim vulgar.
O latim clássico era falado e escrito, estando presente em documentos
religiosos, jurídicos, administrativos e nas obras literárias, como em Eneida, de
Virgílio. Era uma língua estilizada, que acabava tendo diferenças em sua forma oral,
falada em ambientes mais protocolares e por pessoas eruditas e de classes sociais
mais altas.
A forma clássica do latim se preservou graças às obras e aos documentos
escritos, o que contribuiu para a formação gramatical das línguas descendentes,
principalmente a língua espanhola.
Outro documento importante é o Appendix probi: uma obra escrita no século IV
d.C., sem autor determinado, e que consistia em compilar os desvios da língua falada
em relação à norma culta e corrigi-los, ou seja, apontar como a palavra era usada e
como deveria ser usada, segundo a norma do latim clássico.

25
O Appendix probi [200-?] é um documento importantíssimo, que comprova o
distanciamento entre o latim clássico a língua produzida e estilizada e o latim vulgar
falado por todo tipo de gente do povo (sermo vulgaris).
Até Cícero (séc. I a.C.) fazia distinção entre latim vulgar e latim clássico em
seus escritos: usava um estilo diferente e relaxado nos escritos familiares, como em
suas cartas, e o latim clássico em suas obras filosóficas ou discursos políticos
(CARDOSO, 2002).
Essas características diafásicas (por registros distintos) e diastrática (por
fatores socioculturais), que evidenciam a espontaneidade e a dinâmica da língua, vão
contribuindo, nesse caso, para a evolução do latim para o romance que, mais tarde,
viria a ser a própria língua espanhola. O romance é uma variedade intermediária,
antes da consolidação da língua espanhola.

3.4 O romance: mais um capítulo dessa complexa história

A língua é um organismo vivo e em constante processo de mudança. O latim


foi fruto de evolução linguística do indo-europeu, assim como o espanhol é evolução
linguística a partir do latim. Devemos também levar em consideração os fatores
diatópicos, isto é, fatores relativos às diferentes formas de falar, nas diferentes regiões
existentes na Hispania, e fatores diacrônicos, ou seja, fatores históricos e evolutivos
que fizeram parte da construção do que hoje conhecemos como Espanha.
Dessa maneira, passada a romanização, compreende-se que a língua
espanhola é oriunda de uma variedade do romance que se falava em Castela, durante
a Idade Média. Depois da queda do Império Romano, a Hispania sofreu invasões que
contribuíram para as mudanças linguísticas. Duas das principais foram a invasão
visigoda (séc. V) e a árabe (séc. VIII).
Os visigodos se localizavam no sul da Europa e se estenderam pela região
central e sul da Península Ibérica. Esse povo foi muito influenciado pela cultura,
religião e língua romana, reforçando ainda mais a tradição linguística trazida pelos
romanos; entretanto, também deixou a sua marca na língua, com palavras como
yelmo, espuela e também topônimos como Alfonso, Rodrigo, Fernando, Gonzalo
(ALVES, 2018).

26
A herança árabe deixada no léxico consiste em milhares de palavras, entre elas
jarabe, tarifa, alfombra, alcalde, cid, e topônimos como La Mancha, Guadalquivir,
Andalucía. Há também casos de duplo significante coexistindo na língua, ou seja,
duas palavras de origens diferentes para designar o mesmo conceito.

Em comparação com a incorporação de palavras oriundas do latim, não foram


muitos os vocábulos tomados do árabe (cerca de quatro mil), pois houve muita
rejeição à cultura, principalmente depois da expulsão dos árabes da região da
Hispania.
Os árabes chegaram na Península Ibérica no ano 711 d.C. e rapidamente
ocuparam todo o território da Hispania, exceto a região norte, devido à dificuldade
geográfica (região montanhosa) (ALVES, 2018).
Essas invasões tiveram uma grande contribuição para o romance (o início da
criação da língua espanhola), uma vez que, assim como na romanização, a Península
Ibérica passou novamente, durante a invasão árabe, por um processo de bilinguismo,
mas agora a partir do romance.
Durante muitos séculos, esse território ficou dividido em duas grandes regiões:
a do norte (reinos cristãos, de onde iniciou o processo de reconquista) e a do sul
(ocupada pelos árabes).
A partir do século X, os cristãos se organizaram para dar início à reconquista
do território sul. Nesse período, devido ao isolamento geográfico, a influência do
substrato e a romanização propiciaram diferentes evoluções linguísticas em cada
reino do norte: Leon, Galícia, Castela, Navarra, Aragão e Catalunha.
Nesses reinos, surgiram as três línguas faladas na atual Espanha: galego,
castelhano e catalão (além da língua eusquera, falada no País Basco). Nas regiões
conquistadas pelos árabes (centro e sul), falavam-se dialetos moçárabes, que
27
desapareceram durante o processo de reconquista. Entretanto, como já foi dito, a sua
contribuição para o vocabulário da língua espanhola foi importantíssima.
O processo de reconquista da região centro-sul da Península Ibérica pelos
cristãos foi fundamental para a consolidação da formação linguística desse território.
Foram quase cinco séculos de avanços militares, ampliação do território, instituição
do governo e é claro imposição linguística.
Dessa forma, os cristãos estabeleceram zonas autônomas, com organização
política própria, novos reinos e realidades linguísticas diferenciadas, que deram lugar
a dialetos romances, como o galego-português, o asturo-leonês, o navarro-aragonês,
o catalão e o castelhano (ALVES, 2018).
O dialeto navarro-aragonês era utilizado na confluência dos três reinos:
Castela, Navarra e Aragão. Esse é o dialeto romance que, no século XI, aparece as
primeiras anotações, à mão, na margem de um códice: as Glosas Emilianenses e
Silenses.
A intenção dos monges copistas era de aclarar o que se estava lendo em latim;
assim, temos os primeiros documentos escrito nessa variedade linguística. Dessa
forma, conclui-se a primeira parte da formação da língua espanhola, a fase do
romance, composta de três etapas: substrato (contato das línguas dialetais pré-
romanas existentes na Península Ibérica), romanização (processo de aculturação e
assunção da língua latina) e superstrato (período das invasões visigodas e árabes).

3.5 Consolidação da língua espanhola

As invasões visigodas e árabes serviram de suprimento para a formação da


língua, mas foram três as etapas fundamentais para a consolidação do espanhol:
etapa medieval (séc. X–XV), imperial (séc. XVI– XVII) e contemporânea (a partir do
séc. XVIII). Partindo da etapa medieval, o primeiro texto escrito integralmente em
espanhol foi uma obra literária.

28
Fonte: www.facsimilefinder.com

O Cantar de mío Cid foi um texto anônimo, cuja versão original está datada do
século XII, mas a versão que se conhece, copiada por Per Abatt, é de 1207. Outra
grande obra literária e fundamental para a consolidação da língua é Grande e General
Estoria de España, escrita pelo rei Alfonso X, o Sábio (rei de Castela entre 1252 e
1284), e um grupo de intelectuais que o auxiliaram na escrita e tradução de um
cancioneiro e de obras jurídicas e astronômicas.
O rei Alfonso X promoveu o uso da língua espanhola no lugar do latim,
convertendo-a em língua culta e oficial; com isso, impulsionou o avanço linguístico.
Outros autores foram importantes para essa consolidação: Don Juan Manuel (El
conde Lucanor) e Arcipreste de Hita (Libro de buen amor), que, por meio de seus
escritos, ofertaram uma estruturação mais fixada da língua.
A segunda etapa, a imperial, configura-se com a união monárquica de Castela
e Aragão, com os reis católicos Isabel e Fernando. O ano de 1492 é um marco desse
período, pois foi quando se concluiu o processo de reconquista e recuperação do reino
de Granada, de posse dos muçulmanos (ALVES, 2018).
Além disso, foi a data do anúncio do decreto de expulsão dos judeus (Sefardís)
do território espanhol, da chegada de Cristóvão Colombo à América e da criação da
Gramática Castelhana, por Elio Antonio de Nebrija.

29
Fonte: www.apoioescolar24horas.com.br

Todos esses acontecimentos impulsionaram a língua num processo de grande


difusão. É nesse contexto de florescimento que se configurou o Siglo de Oro da
literatura espanhola, outro marco de estruturação e difusão da língua, cujas
modificações a levaram à atual configuração.
A etapa contemporânea é marcada pela criação da Real Academia Española
(RAE), em 1713, por ordem do rei Felipe V. Ela surgiu com a tarefa de fixar a língua,
com base nos escritos literários dos principais autores. Assim, entre 1726 e 1739,
foram compostos o Diccionario de Autoridades (1741) e Ortografía e sua Gramática
(1771).
Nos séculos seguintes, ocorreram muitas transformações e incorporações à
língua espanhola, principalmente no léxico. A humanidade segue o seu caminho rumo
aos avanços sociais, científicos e tecnológicos, e a língua acompanha esse processo.
Por isso, a evolução e as transformações pelas quais as línguas passas, como a
inclusão de termos e neologismo, são contínuas e perpétuas.

3.6 A língua espanhola segue o seu rumo

Conforme você viu, até a configuração do espanhol que conhecemos hoje,


muitas etapas fizeram parte do processo: a etapa pré-romana (substrato), a
30
romanização, as invasões visigodas e árabes (superstrato), a etapa medieval
(consolidação do território espanhol até a reconquista), a etapa imperial (reis católicos,
Siglo de Oro) e etapa contemporânea (que se inicia com a criação da Real Academia
Espanhola).
Todavia, em todas essas etapas, há um fator comum e muito importante, que
influenciou a configuração da língua espanhola: os empréstimos linguísticos. Ao longo
de toda a evolução da língua, podemos ver que o fator empréstimo foi transformando
a língua e tornando-a mais complexa e rica (ALVES, 2018).
Assim, para além do que já foi apresentado nas etapas de formação e
consolidação da língua espanhola, veremos outros desses empréstimos. São eles:
 Helenismos: no tempo de Alexandre Magno, a cultura grega possuía
muita força e prestígio, e isso caracterizou a absorção de termos dessa
cultura. Alguns elementos foram traduzidos pelos romanos ao latim e
outros acabaram por se transformar em um duplo significante, como é o
caso da palavra metamorfosis (grega), que se traduziu ao latim por
transformatio. Assim, temos metamorfosis e transformación.
 Germanismos: esses empréstimos são procedentes do latim
incorporado pelos povos bárbaros no período da invasão visigoda, como
perro, yelmo, bigote. Outros germanismos entraram mais tarde, no
período do Siglo de Oro, por exemplo, jabón, Gonzalo, vals (proveniente
do romance-francês).
 Arabismos: proveniente das invasões árabes e dos muitos anos de
domínio na região da Península Ibérica, o árabe é a voz que mais
emprestou termos à língua espanhola, depois do latim. Foram
emprestados principalmente vocábulos de guerra (alférez, almirante), de
ofício (alcalde, alguacil), da agricultura (limón, albaricoque, algodón,
azucena, zanahoria, arroz), da construção (albañil, alcantarilla, aldea,
azulejo), da ciência (alcohol, algoritmo, ámbar, alambique) e até mesmo
termos referentes a cores (carmesí e azul).
 Galicismos: as relações religiosas e políticas com a França, no início
dos séculos XI e XII, propiciaram entradas, principalmente, de âmbito
culinário e de costumes: restaurante, croqueta, buqué, acordeón.

31
 Italianismos: nos séculos XIV e XVII, o Humanismo e a vasta produção
de arte, música e literatura da Itália aportaram novas palavras ao
vocabulário espanhol, como madrigal, terceto, soneto, capricho,
melodrama.
 Americanismos (línguas pré-colombianas): o descobrimento da
América propiciou a incorporação de muitas novas palavras, oriundas
dos povos pré-colombianos: aguacate, patata, cacahuete, canoa, caoba,
cigarro, loro, maíz e tomate.
 Anglicismos: iniciam-se no século XIX, mas é no século XX que se
intensificam esses empréstimos, devido aos avanços científicos e
tecnológicos, predominantemente norte-americanos: formatear,
disquetes, escáner, electroshock. Há alguns oriundos do inglês britânico,
principalmente vocábulos relacionados ao esporte: fútbol, córner, ping-
pong, golf.

Assim, o tempo e o movimento do homem na história propiciaram essa gama


de empréstimos linguísticos, que foram incorporados, muitas vezes com resistências
de literatos e linguistas, mas muito comuns em seu uso (ALVES, 2018).
O processo de empréstimo ocorre quando uma expressão ou palavra que
pertence a determinada língua passa a ser adotada por muitos falantes de outra,
ganhando força e visibilidade na língua que a acolhe, como hot-dog, hamburger,
online, email, drag queen, shopping, etc.
Possivelmente, todos esses exemplos citados devem ter um correspondente
na língua espanhola. No entanto, a forma emprestada recebe mais atenção da mídia,
tem mais força publicitária e, de certa forma, é mais aceita popularmente, devido a
uma pressão social, que eleva quem a usa a um status social de conhecedor e
moderno.
Mas o que dizer de formas como tuits, tuitear e tuitero? Estas foram criadas a
partir da adoção, por empréstimo, da palavra inglesa Twitter (microblog), em conjunto
com processos de formação de palavras que já existem na língua — nesses exemplos,
temos a sufixação.

32
Assim também acontece com as palavras oriundas da informática (como você
viu nos casos de anglicismos), a partir das quais se formaram muitos verbos:
formatear, escanear, deletar, chatear, etc.
Porém, não é só por derivação de palavras estrangeiras que se forma um
neologismo: ele pode ocorrer a partir da necessidade da própria língua e se servir de
palavras (radicais) já existente na língua, como o verbo recepcionar, que vem do
substantivo recepción.

4 ESBOÇO HISTÓRICO DA LÍNGUA ESPANHOLA

Até o século XIX, acreditava-se que o conhecimento da estrutura da língua


(morfologia e sintaxe) garantiria o domínio das habilidades de produção e
compreensão de textos, em quaisquer instâncias de comunicação. Além disso,
considerava-se apenas uma variante como correta: a variante culta.
Com o passar dos séculos, foi possível perceber que a língua é viva, e a sua
sintaxe está em constante evolução. Logo, a noção de complexidade sintática evoluiu
para uma perspectiva que concebe a sintaxe como reflexo de uma atividade mental
que vai além da superfície da linguagem (SPESSATO, 2008).
Assim, estudos da língua com base apenas em sua estrutura morfossintática
embora tenham trazido inúmeras contribuições ao desenvolvimento da linguística
tornaram-se insuficientes para explicar o seu funcionamento pragmático e discursivo.
Com isso, fez-se necessária a busca pela compreensão de elementos externos
ao sistema linguístico que fossem atuantes no seu uso. Neste capítulo, você
aprenderá a origem dos estudos sintáticos na história da língua espanhola, entenderá
o percurso sintático histórico da língua espanhola desde Antonio de Nebrija em 1492
até os dias atuais e perceberá que a sintaxe tem uma abordagem muito além das
gramáticas escolares.
Esse novo conhecimento dará lugar a um ponto de vista que integra a
complexidade sintática não apenas em um texto complexo e bem elaborado, mas
também dentro do evento comunicativo em que ela ocorre.

33
4.1 A língua como objeto científico

Ao analisar a língua na sua concepção de evolução na história dos estudos


linguísticos, Neves (2004, p. 51) nos apresenta o surgimento das primeiras
investigações sobre a natureza da linguagem, ainda de caráter filosófico,
desenvolvidas pelos gregos por volta do século V a.C.
Naquela época, a língua ainda era vista apenas como expressão do
pensamento; dessa forma, qualquer atividade linguística centrava-se nas técnicas do
discurso e na sua retórica. Portanto, estudar a língua era mais um exercício de
compreensão textual do que uma análise dela como objeto único.

Fonte: saberatualizado.com.br

No entanto, paulatinamente, as pesquisas foram tomando novos rumos e novas


análises, ultrapassando um caráter mais filosófico, em favor de um mais linguístico,
como discussões sobre gênero das palavras e classes gramaticais. Um século depois
(IV a.C.), surgiram questionamentos sobre tempos verbais e sobre o conceito de
conjunção, seguidos por análises acerca dos artigos e do seu caráter articulador.
O critério morfológico da flexão, no final do século II a.C., foi o modelo para a
organização das classes de palavras da gramática ocidental. Entretanto, ainda não
havia, nesse momento, espaço para os estudos da sintaxe, uma vez que os

34
estudiosos da época buscavam garantir um caráter puramente linguístico e
acreditavam que estudar sentenças fazia referência ao caráter filosófico da linguagem.
Condicionados por sua finalidade prática e visando à concretude linguística, os
estudiosos da linguagem, de início, fixaram-se principalmente na fonética e na
morfologia. Contudo, no século II d.C., Apolônio Díscolo deu início a pesquisas
relacionadas a fenômenos sintáticos. Todavia, segundo Neves (2004), a sintaxe era
vista como o conjunto de regras que regem a síntese dos elementos que constituem
a língua e era delimitada pela oração.
De acordo com Silva (1996), os primeiros estudos gramaticais de uma língua
diferente do grego ocorreram com o latim clássico, em Roma, no século I d.C. Na
Idade Média, tiveram destaque as pesquisas em fonética de Donato (século IV d.C.),
comparando o latim com o grego, e os estudos de Prisciano (século V d.C.), os quais
representaram a primeira definição de sintaxe do Ocidente: “[...] a disposição que visa
à obtenção de uma oração perfeita” (SILVA, 1996).
Os estudos de Donato e Prisciano serviram como base e inspiração aos
estudos linguísticos durante toda a Idade Média e, posteriormente, no Renas cimento,
quando começaram a surgir as gramáticas das línguas vernáculas. De acordo com
Azeredo (2001), no Renascimento (séculos XV a XVIII), surgiram gramáticas das
línguas vernáculas como a Gramática de la lengua castellana em 1942, de Antonio de
Nebrija, a Gramática da Linguagem Portuguesa em 1536, de Fernão de Oliveira, e a
Gramática de João de Barros em 1540, fortemente inspiradas nas gramáticas
clássicas.
Ainda segundo Azeredo (2001), o racionalismo dos séculos XVII e XVIII
reforçou a ligação entre a linguagem e o pensamento, considerando “abusos” ou
“imperfeições” tudo o que estivesse fora dessa concepção de língua. Em essência,
nessa definição de sintaxe, é possível perceber aspectos da concepção de língua que
os gregos tinham, ainda vinculada à representação do pensamento e à busca de uma
oração gramaticalmente “perfeita”.
Com essa breve análise sobre a história da língua como objeto de estudo, é
possível entender os motivos pelos quais o ensino gramatical das línguas neolatinas
o português e o espanhol, por exemplo, baseiam-se principalmente na análise de sua
estrutura, no apego à nomenclatura e no objetivo de se alcançar o “bom uso”. Isso se
dá porque os estudos sobre a língua, até a consolidação da linguística como ciência,

35
eram motivados pela observação e pela descrição de um modelo padrão escolhido e
pelo estabelecimento de paradigmas.
Foi somente no século XIX que os estudos linguísticos começaram a se
desvincular da tradição gramatical, desenvolvendo as suas próprias tecnologias e
constituindo, aos poucos, a linguística moderna. Todavia, tais avanços foram pouco
contemplados no ensino, já que, até os dias atuais, o ensino escolar considera a
tradição gramatical, e não a linguística.
Nesse momento do século XIX, segundo Azeredo (2001, p. 23), buscou-se
comparar as línguas, com o objetivo de deduzir os princípios gerais de sua
organização, para que fosse possível explicar a natureza da linguagem. A gramática
histórico-comparativa ocupou-se essencialmente da investigação das unidades
lexicais, gramaticais e sonoras das línguas.
O estruturalismo, por sua vez, iniciou o estudo sincrônico das línguas;
entretanto, embora esse movimento tenha significado certo rompimento com as
concepções historicistas da gramática tradicional, o foco ainda era a estrutura da
língua, a partir do princípio de que todo significado se estabelecia pela oposição entre
os elementos do sistema.
No que diz respeito à ciência da linguagem, se considerarmos o longo período
em que as suas bases vêm sendo construídas, desde a Antiguidade Clássica até o
século XX, podemos dizer que apenas no final do século XIX é que se operou uma
verdadeira revolução científica.
Somente então a linguagem passou a ser vista como ciência propriamente dita.
No século XX, com a obra Curso de Linguística Geral em 1916, de Ferdinand de
Saussure, a língua passou a ser reconhecida como uma ciência, ou seja, a ciência da
linguagem, vulgo linguística.
A sua análise buscava a observação e a descrição da língua, a qual deu origem
à distinção de linguagem, língua e fala. Para Saussure (1975), “[...] a linguística tem
por único objeto a língua considerada em si mesma e por si mesma”. Portanto, a língua
é um “sistema de signos”: um conjunto de unidades que se relacionam
organizadamente dentro de um todo.

36
Com isso, Saussure (1975), o pai da linguística moderna, estabeleceu a noção
de que a língua formava um sistema de signos independente. Isso só lhe foi possível
graças às formulações anteriores, que foram desencadeadas principalmente por
William Jones em suas pesquisas sobre as relações entre o sânscrito, o grego e o
latim e que, segundo Faraco (1991, p. 29), constituíram “[...] o marco simbólico do
início da Linguística como ciência”. Após Saussure, segundo Azeredo (2001), novos
linguistas e novas análises sobre a linguagem surgiram.
Por exemplo, Harris, reconhecido como um dos mais importantes linguistas no
campo da fonologia, deixou um pouco a desejar na sintaxe. Sua proposta no campo
sintático estabeleceu classes de palavras mais bem definidas que a gramática
tradicional, pois, por meio de suas análises, determinou constituintes imediatos e
formulou regras sintagmáticas, as quais buscavam descrever a estrutura interna da
oração.
No entanto, convém salientar que, por mais que suas análises contemplassem
grande parte da sintaxe, revelaram-se inadequadas para alguns fenômenos, como a
topicalização e a ambiguidade. Inclusive, Azeredo (2001) afirma que os estudos
linguísticos estavam tão latentes que, nessa época, o conceito de gramática
praticamente se fundiu ao de estrutura.
Na metade do século XX, um novo modelo, proposto pelo linguista americano
Chomsky (1957, 1976), conseguiu, por meio de uma proposta mais elaborada, dar
conta de fenômenos linguísticos não explicados até então. De acordo com Cervoni
(1989), a principal crítica de Chomsky aos estudos linguísticos da época foi não
considerar a criatividade como característica da linguagem.
Embora a abordagem de Chomsky pretendesse considerar aspectos subjetivos
da linguagem, mostrou-se também limitada, por atribuí-los unicamente ao sistema e
por assumir a linguagem como um módulo mental autônomo. Sua importância para a
sintaxe é inegável: ele a colocou como elemento central nos estudos linguísticos,
assumindo a frase como unidade fundamental da gramática e ampliando
definitivamente o escopo das investigações.
Dessa forma, a sintaxe, nesse momento, constituía-se como objeto de estudo
da ciência linguística. Contudo, cabe ressaltar que se tratava de uma sintaxe
autônoma, desvinculada da semântica e das intenções comunicativas.

37
4.2 Tradição, renovação e influência da teoria sintática de Nebrija

A sintaxe na língua espanhola foi muito importante, não apenas para o avanço
das gramáticas neolatinas, mas também para o âmbito linguístico de modo geral.
Nebrija, em 1492, o autor da primeira gramática oficial neolatina, publicou a sua obra
baseando-se em trabalhos e pensamentos anteriores.
Então, vamos tentar compreender de onde vêm as ideias sintáticas de Nebrija
e, especificamente, de que maneira a tradição linguística influenciou a sua abordagem
sintática.

Fonte:hdnh.es/antonio-de-nebrija-primera-gramatica-del-espanol/

Em essência, você verá qual conjunto de princípios teóricos foi importante na


compreensão da relação de dependência entre elementos sintáticos, em que um deles
aparece como “principal” e outro como “subordinado”.
Segundo Calero Vaquera (2007, p. 92), o régimen — que, de acordo com o
dicionário da Oxford (SPANISH OXFORD LIVING DICTIONARIES, c2018, documento
on-line), representa a forma de dependência existente entre as palavras, tem sido uma
das questões-chave dos primeiros séculos da sintaxe ocidental.
A importância da visão gramatical de Nebrija impulsionou os gramáticos a
analisarem de forma mais atenta e crítica a sintaxe na língua espanhola. Segundo

38
Girón Alconchel (2001, p. 66), para alguns autores, a sintaxe é a parte menos
desenvolvida da sua gramática.
Já Esparza Torres (1995, p. 229) afirma que, para outros gramáticos, a sintaxe
é uma seção extremamente valiosa de seus estudos, que foram tratados de forma
injusta. A principal questão é que a sintaxe dos gramáticos da Europa Renascentista
ocupava inicialmente uma posição secundária, perdendo espaço para a fonética e
para a morfologia.
Essa situação mudou ao longo dos séculos, de modo que, entre 1492 (data da
Gramática de Nebrija) e 1796 (data da segunda Gramática da Real Academia
Española – RAE), a sintaxe era feita com mais de um terço do “espaço” de gramática
normativa.
O contexto em que Nebrija elaborou a sua gramática o novo paradigma
cientista da Renascença, favoreceu os avanços linguísticos que vinham sendo feitos
nos séculos anteriores, a partir da gramática latina, da humanista e da medieval, por
exemplo.
De acordo com Esparza Torres (2006), Nebrija não começou do zero em suas
posições gramaticais, pois teve de se estabelecer como gramático na tradição latina
medieval, cuja influência na Renascença nunca deixou de ser enfatizada.
Nesse sentido, segundo Girón Alconchel (2001, p. 61), percebe-se que Nebrija
foi um gramático preso à tradição, que, de acordo com Rico (1978), acrescentou ao
novo clima intelectual da Renascença essa nova visão. Não devemos esquecer que,
entre os séculos XII e XIII, a sofisticação dos estudos linguísticos colocava a gramática
como ciência teórica no nível da física ou da matemática.
A redescoberta das obras de Aristóteles dedicadas à lógica e obras como o De
scientiis, de Al-farabi, foram uma revolução metodológica no desenvolvimento do
conhecimento científico. Gramáticos medievais introduziram uma visão científica da
linguagem que poderia ser estendida a todas as línguas possíveis, e não apenas a
uma delas.
Al-farabi distinguia, por exemplo, certas regras “sintáticas” gerais de caráter
mais ou menos universal. Em meados do século XIII, um grupo de filósofos acariciou
a ideia de que a gramática era vista como ciência, e que a representação de regras
universais estava relacionada, acima de tudo, à sintaxe (KENNY; BARBARO, 2008).
Quanto à sintaxe, os gramáticos medievais tomaram como referência as ideias

39
incluídas nos trabalhos de Donato e Prisciano, mas elaboraram sobre eles propostas
que revisavam as partes da sentença e seus acidentes, especialmente a questão da
aceitabilidade das sentenças ou, em termos mais precisos e práticos, a “colocação de
palavras”. De fato, segundo Robins (1984[1969], p. 90), esse critério influenciou
significativamente na ordem das palavras das línguas românicas, que aceitaram como
modelo a ordem das palavras das línguas românicas atuais, isto é, nome–verbo–
substantivo ou sujeito–verbo–objeto, em vez do usual nome–verbo–nome (sujeito–
objeto–verbo) do latim clássico.
Na tradição linguística hispânica, a Gramática de la Lengua Castellana (REAL
ACADEMIA ESPAÑOLA, 1771, p. 235) afirma que o régimen sempre foi um fato
sintático ligado à ordem lógica de seus elementos, de modo que a palavra importante
é colocada antes e a palavra secundária, depois.
Logo, pode-se perceber que essa ideia de dependência como relação
hierárquica entre as palavras tenha sido ligada à linearidade, e a ordem rígida em suas
relações condicionaria a sintaxe durante os primeiros séculos de sua existência.
Segundo Closa Farrés (1977, p. 53), Esparza Torres e Calvo Fernández (1994) e
Esparza Torres (1995), Nebrija não foi apenas um gramático que tentou unir gramática
filosófica e humanista: ele atuou (sem saber esse conceito) como um linguista à frente
de seu tempo, uma vez que usou o cenário “social”, em que certos textos gramaticais
escritos no vernáculo (e não em latim clássico) serviram como base pedagógica, tanto
para o ensino do latim, como para a disseminação de certas terminologias linguísticas
e gramaticais.
Nebrija recebeu uma influência significativa da gramática especulativa, que
serviu para renovar a concepção pedagógica das gramáticas do século XV. Com essa
influência propriamente científica, um estado de opinião favorável a um uso mais
didático dos recursos gramaticais influenciaria a organização e divisão de sua
gramática.
Para Ridruejo (2006, p. 93), o trabalho de Nebrija, em espanhol, não pode ser
dissociado desse “contexto acadêmico” de aplicação teórica de ideias gramaticais,
desenvolvidas desde a Antiguidade para a gramática latina, que deveria ser adaptada
para ser aplicada a uma linguagem vulgar.
Nesse contexto, segundo Tovar (1983, p. 209), é preciso acrescentar a
publicação, o reprocessamento e a remissão que apresentou a sua obra

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Introductiones Latinae, que se estende de 1481 a 1522, dentro de um contexto pessoal
da criação e difusão da sua gramática espanhola, com provável influência entre
ambas as obras.
Nesse sentido, queremos mostrar que a gramática de Nebrija é, em parte,
oriunda de seu trabalho gramatical em latim. Várias seções da sintaxe de
Introductiones Latinae, evento dedicado à combinação das partes do discurso, classes
de verbos e construção, os gerúndios e nomes de construção deram origem a seu
trabalho gramatical em espanhol.

4.3 O surgimento da teoria sintática de Nebrija

Como outros gramáticos do Humanismo, Nebrija não se afastou da influência


da gramática latina medieval, de modo que, de acordo com Percival (1975, p. 231), as
suas ideias gramaticais sobre régimen, ordem e subordinação devem ser vistas como
uma “[...] evolução da teoria gramatical da Idade Média”. No entanto, como observado
por García Pérez (1960), não podemos esquecer que nem todas as regras gramaticais
latinas vêm de Nebrija.
De acordo com Girón Alconchel (2001, p. 61), as relações gramaticais
morfológicas e sintáticas de Nebrija foram influenciadas por Thomas de Erfurt, um dos
responsáveis pela aplicação da teoria modista ao ensino da gramática latina nas
escolas. De fato, o conceito de régimen era familiar a todos os estudantes de
gramática durante a Idade Média.
Certamente, Nebrija perdeu a oportunidade de se aprofundar na sintaxe, por
não conseguir se afastar da corrente linguística medieval tradicional da teoria de casos
latinos, mas é inegável o quanto a sua contribuição foi fundamental para todos os
estudos gramaticais e linguísticos posteriores.
A concepção do régimen, segundo Moure (1995, p. 110–111), evoluiu em
relação à tradição gramatical somente depois do século XVIII, quando uma concepção
mais lógica e não tão filosófica daria plenitude ao sentido. A partir desse momento, a
sintaxe avançou na distinção entre régimen direto e indireto.
A sintaxe de Nebrija é uma continuação de toda a sua obra gramatical e
lexicográfica, como o próprio autor afirma: “[...] todo el negocio de la grammatica… o

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esta en cada una de las partes de la oración, considerando ellas, apartadamente, o
esta en la orden i untura de ellas” (CORREAS, 1981).
Sarmiento (1989, p. 425) afirmou que a organização formal e sistemática do
pensamento gramatical, o qual surgiu da análise da língua latina, era tão forte, que os
gramáticos concebiam inevitavelmente a língua como uma estrutura de conexões
obrigatórias, impostas pela morfologia.
Para Nebrija, a sintaxe está relacionada a “orden” (ordem), “concierto” (que
representa a organização das palavras) e “aiuntamento” (ação ou efeito de juntar ou
unir partes da gramática), de modo que o sentido de uma sequência estaria ligado a
um arranjo apropriado das palavras (CORREAS, 1981).
Esse foi o valor que Prisciano deu à sintaxe, estabelecendo uma
correspondência entre sentido e ordem. Desde a Idade Média, os gramáticos usaram
esse critério da ordem das palavras na sentença em relação aos elementos de
governo e as regras para estabelecer os componentes das orações. Nebrija levou ao
conceito de régimen um nome que é usado expressamente para “a construção de
nomes depois de si” (CORREAS, 1981).
Esse termo foi usado, como vimos, durante os tempos medievais, para indicar
a relação de preposições com nomes de casos oblíquos e, finalmente, para indicar a
relação que fazia uma palavra assumir determinado caso. Essa perspectiva explica
por que Nebrija usa os nomes dos casos para se referir às funções sintáticas. Além
disso, ele atribuiu ao régimen uma relação direta com a ordem na qual os elementos
dependentes seguem.
Na sua Gramática de la lengua castellana (CORREAS, 1981), todo o livro IV é
expressamente dedicado à sintaxe, o que configura algo bastante especial para a
época, já que os gramáticos medievais nunca haviam enaltecido determinada parte
dessa maneira.
Nebrija dedicou dois capítulos especificamente ao conceito genérico de
construção, porque, como Calero Vaquera (2007, p. 95) aponta, a sintaxe e a
construção foram usadas como termos equivalentes no começo (até o século XVIII e
os avanços feitos pela gramática francesa), quando a concepção de construção
estaria subordinada à seção da sintaxe. O uso do conceito de construção está ligado,
em Nebrija, àquelas construções geradas pelas principais categorias lexicais
especificamente verbos e nomes.

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Por essa razão, Nebrija intitulou dois dos seus capítulos sintáticos como
“construção dos verbos depois de si” (capítulo III) e “construção dos nomes depois de
si” (capítulo IV) (CORREAS, 1981).
Essa tradição gramatical latina centrada na distribuição aleatória das relações
sintáticas, que Nebrija sistematizou pela primeira vez em língua românica, foi mantida
até as gramáticas dos séculos XVIII e XIX. Por exemplo, Bello (1970[1847]) continuou
classificando a complementação verbal em complementos acusativos, dativos e
outros sem denominação clara.
Na verdade, o conceito de régimen de Nebrija foi reproduzido em muitas
gramáticas, como Arte de la Lengua Castelhana, de Gonzalo de Correas em 1626,
Gramática da Lengua Castellana, de Martinez Gomez Gayoso em 1743 e El Arte del
Romance Castelhano, de Benito de San Pedro em 1769. Somente nas primeiras
gramáticas acadêmicas da Real Academia Española, de 1771 e 1796, podemos falar
de certa “estratificação” da sua teoria, mas, em qualquer caso, aquele que abriu o
caminho para os outros, com suas intuições, confusões e sugestões, foi Nebrija.

4.4 A sintaxe e a evolução do seu conceito

Por mais que a sintaxe tenha oficialmente nascido na língua espanhola com
Antonio de Nebrija, em 1492, hoje a sua concepção tem variado de acordo com as
teorias linguísticas nas quais ela é baseada. Segundo Berman (2004), essa discussão
teórica é de suma importância quando se trata de explicar tanto a aquisição inicial,
quanto o desenvolvimento tardio da linguagem.
De acordo com Ravid e Tolchinsky (2002), o desenvolvimento linguístico é
constante e evolui com a interação entre a alfabetização e a escolarização dos
falantes. Os estudos sintáticos atuais, como se pode perceber, perpassam a
gramática. Em outras palavras, a noção de complexidade sintática é importante no
sentido de que, com ela, pode-se conceber as formas e os métodos de aprendizagem,
não só da língua materna, mas também de uma segunda língua.
Com base nisso, você vai estudar três importantes abordagens sintáticas e as
suas principais contribuições na evolução sintática: a tradicionalista, a gerativista e a
funcional-discursiva.

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4.5 Abordagem tradicionalista

Os primeiros estudos que analisaram a complexidade sintática e a sua


evolução não são atribuídos a uma única proposta teórica. É possível, no entanto,
identificar influências de duas correntes que compartilham uma suposição
fundamental sobre a linguagem: a complexidade gramatical é baseada na aparência
das categorias morfológica e sintática. A primeira dessas influências é a gramática
tradicional; a segunda, o distribucionalismo.
Segundo Pons (1960), a gramática tradicional é geralmente definida como o
estudo das regras que articulam o uso de linguagens. Essa tradição focalizou a
descrição de acidentes verbais (morfologia) e as relações entre eles dentro da cadeia
sentencial (sintaxe), a partir de uma perspectiva normativa (PONS, 1960).
O distribucionalismo, por outro lado, de acordo com Macker e Thierry (2005), é
uma perspectiva mais científica, circunscrita no estruturalismo norte-americano, o qual
se baseia na descrição das formas de análise da linguagem, deixando de lado o
significado contextual das sentenças.
Essa abordagem concebe a complexidade como resultado do maior uso de
certos elementos morfossintáticos e lexicais, que, por sua vez, aumentam a extensão
dos enunciados. Assim, enquanto um problema contiver mais palavras e mais
acidentes, será mais complexo gramaticalmente.
Um problema que não é considerado por essas propostas é que a
complexidade gramatical é influenciada pelas situações de uso (BERMAN, 2004;
HALLIDAY, 1982). Logo, é muito provável que um texto em linguagem formal
apresente uma configuração gramatical diferente de uma troca em discurso
espontâneo.

4.6 Abordagem gerativista

A abordagem gerativista assume que a complexidade decorre do tipo e número


de transformações que o sujeito realiza, o que aumenta o índice de subordinação das
sentenças. Assim, quanto maior e mais variado o número de subordinações, mais
complexa a oração será. Dentro da própria abordagem gerativista, há controvérsias
sobre o que é sintaxe e qual o seu papel na linguagem.

44
Por exemplo, Hunt (1965, 1970), que estudou o desenvolvimento da
complexidade sintática em crianças e adolescentes, afirma que a complexidade
derivacional se refere a representações mentais que o falante tem, como as orações.
Contudo, a complexidade sintática depende do número de mudanças que
transformam cada assunto.
Em outras palavras, o autor acredita que o fenômeno de transformação,
embora opere no nível da concorrência, também se reflete no uso da linguagem, ao
contrário do que foi originalmente proposto na teoria de Chomsky (1976).
A partir daí, podemos dizer que a pesquisa de Hunt (1965, 1970) se baseia em
dois pressupostos, que ele procura corroborar: (1) quanto maior a maturidade do
sujeito, maior a complexidade sintática em sua produção linguística; e (2) a
complexidade sintática é definida pelo maior número e pela variedade de
transformações aplicadas pelo sujeito.

4.7 Abordagem funcional-discursiva

A teoria funcional-discursiva propõe que a complexidade depende do tipo de


relações entre cláusulas e entre pacotes de cláusulas dentro do texto, o que provoca
um uso mais retórico dessas unidades. Assim, uma sintaxe encapsulada que
preenche determinada função no tipo de texto é mais complexa.
A partir disso, pode-se apontar que a noção de complexidade sintática evoluiu
de uma visão que lida exclusivamente com a quantidade de elementos evidentes
como indicador, para uma perspectiva que concebe a sintaxe como reflexo de uma
atividade mental, a qual vai além da superfície da linguagem, para então dar lugar a
um ponto de vista que integra a complexidade sintática dentro do evento comunicativo
em que ela ocorre.
Essa abordagem vê a aquisição da linguagem como um processo natural e
cultural, em que a experiência linguística interage com o ambiente social e com
estruturas cognitivas. Com base nessa proposta, segundo Berman (2004), eles
relacionam a experiência do falante com a construção de seus discursos.
De acordo com Nir e Berman (2010), o discurso é a base para a sintaxe, pois é
impossível dar conta da complexidade sintática sem considerar a sequência

45
(argumentativa, narrativa, expositiva, etc.) e a modalidade (oral ou escrita) do texto no
qual ela está inserida.
Em essência, à medida que as crianças crescem, elas aprendem a lidar com
mais tipos de relações e inter-relações, utilizando-as mais precisamente em torno de
um objetivo retórico. Finalmente, cada uma dessas perspectivas explica diferentes
visões sobre a abordagem e o desenvolvimento da sintaxe.
Por essa razão, a complexidade sintática não é influenciada apenas pela idade
de seu falante ou pela gramática que é exposta ao aluno no ambiente escolar. A
sintaxe está sujeita não somente à modalidade discursiva, mas também aos objetivos
retóricos que norteiam o sujeito em suas composições.
No entanto, por mais que existam diferentes abordagens sintáticas, elas não
são inconciliáveis, uma vez que todas as propostas parecem descrever um fenômeno
semelhante: o aumento do domínio sintático parece ser definido pelo aumento de
recursos para unir elementos linguísticos e, assim, desenvolver textos mais
complexos.

5 A IMPORTÂNCIA DO LATIM PARA A LÍNGUA ESPANHOLA

A língua espanhola que você fala hoje percorreu um longo caminho, que se
iniciou antes da era cristã, e boa parte dela provém do latim, a língua falada no Império
Romano. Neste capítulo, você verá a importância do latim para a constituição e
desenvolvimento da língua espanhola, bem como os aspectos que contribuíram para
tornar a língua no que ela é hoje (ALVES, 2018).

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Fonte: youcourse.com.br

5.1 Identidade nacional: uma questão de língua

Saussure (1969, p. 18) nos levanta a questão de que língua, além de ser “um
sistema de signos distintos correspondentes a ideias distintas”, também é “um produto
social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias,
adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos”
(SAUSSURE, 1969, p. 17).
Em outras palavras, além de ser um instrumento de fala e de comunicação, é
ainda um fator constituinte da identidade pessoal e social. Segundo Saussure (1969,
p. 86), “nenhuma sociedade conhece nem conheceu jamais a língua de outro modo
que não fosse como um produto herdado de gerações anteriores”.
A língua como produto social da faculdade da linguagem é produzida a partir
do indivíduo e/ou de um coletivo, pois “a língua não existe senão em virtude duma
espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade” (SAUSSURE,
1969, p. 22).
O processo de criação, negociação e adoção de sentido de uma palavra se dá
mediante uma aceitação do seu significado na coletividade. É nessa coletividade que
o significado se elabora, pois, com o passar do tempo, vai sendo utilizado,
desenvolvendo-se, ganhando força, ressignificando-se e se modificando, ou seja,
trata-se de um ciclo (fator diacrônico).

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Assim, a língua é um sistema de signos cuja principal função é justamente
significar, ao mesmo tempo em que é um forte fator de identidade individual e coletiva,
porque confere coesão social. A língua é um dos elementos de identidade embora não
seja o único e tem relação direta com o território que ocupa, dando sustentabilidade
àquela sociedade que ali habita.
Com esse pensamento, entende-se a importância de Roma para a civilização
ocidental. A expansão militar do Império Romano envolveu não somente território,
mudando as fronteiras, mas também mudou o mundo, influenciando-o com sua
política, suas ideias, sua cultura e religião. Esta foi um veículo importante de difusão
e oficialização do latim como a língua de todos os povos conquistados.
Ao aprender latim, o indivíduo se tornava parte daquela cultura e civilização,
passando a fazer parte de um legado extraordinário, que perdurou grandiosamente
durante muitos séculos, tornando-se influência não só em sua época, mas para além
daquele tempo. Até hoje esse povo e essa língua permanecem, seja como herança
das novas línguas ou mesmo em palavras e expressões que se conservaram intactas,
e são usadas no discurso jurídico e em textos religiosos, acadêmicos e científicos.

5.2 A chegada do Império Romano à Península Ibérica

No mundo ocidental atual, não há língua que não tenha a presença do latim em
sua formação, e isso se deve ao prestígio de Roma. A cidade foi a capital de um dos
maiores impérios do mundo antigo, deixando a sua marca na história com a cultura,
política, religião e ciência. Essa grandiosidade foi alcançada graças ao processo de
romanização.
No Mediterrâneo Ocidental, durante a Segunda Guerra Púnica (218 a.C.), as
legiões romanas se moviam em direção à Hispânia, a fim de conquistar o território da
Península Ibérica e libertá-la do domínio dos cartagineses outro grande império que
disputava o poder com Roma.No entanto, a chegada dos romanos na região ibérica
não significou vitória certa (ALVES, 2018).
A pax romana, expressão latina que significa “a paz romana” e que
representava uma relativa paz gerada pelo autoritarismo romano imposto por meio de
armas e forças militares romanas, custou a chegar à Península Ibérica.

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Foi somente o fim das Guerras Cantábricas, com o processo de romanização,
que assegurou a Roma as fronteiras conquistadas desse novo território. Esse capítulo
da história tem uma enorme importância para a formação da língua espanhola.
Durante todo o século III a.C., ocorreu a romanização do território da Península
Ibérica, mas o que nos interessa aqui é o território da Hispânia (ALVES, 2018).
Esse processo se prolongou até o século I a.C. e modificou muitos aspectos,
inclusive a língua. A Figura 1 mostra um exemplo da arquitetura romana, ainda
presente no território onde hoje fica a Espanha.

Fonte:br.freepik.com

Ao longo de quase três séculos, nos principais centros conquistados, os povos


que ali conviviam se estabeleceram por meio de uma negociação comunicativa
bilíngue: a língua original do povo submetido ao poder de Roma e a língua oficial de
Roma, o latim.
Assim, essa romanização linguística se deu por um processo de socialização
cultural, no qual a língua latina era imposta pelos conquistadores romanos. Esse
processo não foi uniforme: os povos do norte foram os mais resistentes. A
romanização gradual fez com que o latim se transformasse em nossa base linguística
(ALVES, 2018).

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Essa língua passou a ser, então, usada na parte administrativa, legislativa,
jurídica e nas ministrações religiosas, principalmente em sua variedade culta, na forma
escrita. Enquanto isso, nos espaços públicos, a língua oral usada era a variedade
vulgar, trazida pelos soldados e outros servidores do Império Romano, como os
colonos e comerciantes. (ALVES, 2018)
Essa variedade oral acabaria se transformando na base para o surgimento do
castelhano. Porém, havia muitas outras línguas nesse território. Antes do processo de
romanização na Hispânia, já existiam outras línguas pertencente aos povos que
habitavam naquele espaço conquistado, como os celtas, iberos e bascos.
As línguas desses e de outros povos pertencem ao período chamado
prerromano (em espanhol). Todas as línguas desse período desapareceram, exceto
a eusquera (língua basca), mas deixaram algumas palavras, como perro, peñasco,
cacharro e outras terminadas em -arro, -orro, -asco.

5.3 O processo de romanização linguística

Romanização é, em outras palavras, tornar-se romano. Todo o território


conquistado pelo Império Romano passou por esse processo; porém, para nós, o que
interessa é como esse processo influenciou as mudanças linguísticas dos territórios
ocupados pelos romanos, originando novas línguas. Sabemos que a língua é um
sistema de signos que serve de instrumento para a comunicação e, por ser um
organismo vivo, vive em constante mudança.
Esse estado natural da língua permitiu e permite atualizações e formação de
novas palavras, novas estruturas e novos fonemas. O período de romanização
contribuiu de maneira expressiva para a evolução das línguas que passaram a estar
em contato.

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Fonte:aefreixo.pt

Sistemas linguísticos diferentes, falados por povos diferentes, com culturas


diferentes passaram a interagir no cotidiano e, por questão de sobrevivência,
influenciaram-se mutuamente (ALVES, 2018).
Os romanos, aos se estabelecerem no território da Hispânia, impuseram sua a
cultura, o seu sistema político, administrativo e judiciário, e a sua língua, cabendo aos
povos dominados adaptar-se a esse novo sistema principalmente o linguístico. Essa
imposição linguística fez com que, ao passar dos anos, os sistemas linguísticos que
coexistiam fossem reduzidos, adaptados, modificados, para que as pessoas
pudessem negociar, trabalhar, reclamar, enfim, para que houvesse comunicação. Em
um primeiro momento, conviviam o latim vulgar, o latim clássico e as línguas
pertencentes aos outros povos.
O latim vulgar era falado por todo tipo de romano em diversos lugares, como
no comércio e em ambientes mais familiares. Já o latim clássico era usado em
cerimônias, documentos jurídicos, legislativos, etc. Essa era a variedade usada
principalmente para escrever, mas era lido e falado em eventos oficiais, em saraus e
momentos religiosos, ou seja, em ambientes mais formais.
O resultado do contato linguístico, a imposição de uma língua de prestígio e a
necessidade de sobreviver nesse ambiente multilíngue propiciaram mudanças
51
dialetais que foram surgindo de forma espontânea. Cada língua foi deixando de
herança palavras, mudanças de articulação fonética, sistemas e estruturas, nutrindo
assim a nova língua que começava a surgir: o romance.
A língua romance surgiu, então, de uma evolução do latim vulgar. Ela se
originou a partir dessa tentativa de comunicação em um ambiente multilíngue que
misturou, sobretudo, o latim vulgar às línguas dos povos dominados. Houve também
alguma influência do latim clássico, com contribuições oriundas das literaturas e de
documentos oficiais e religiosos, como ley (lex), orden (ordo, -inis), ciudad (civitas), fe
(fides), diablo (diabolus – lat. tardio), virgen (virgo, -inis), ángel (angelus – lat. tardio),
templo (templum).
O romance foi, antes de tudo, uma língua para uso oral, sendo oriundo de outra
língua oral (o latim vulgar), que contribuiu na organização fonética e lexical. Entretanto,
cabia ao latim clássico a modalidade escrita e a influência na constituição da estrutura
gramatical conhecida como SVO (sujeito–verbo– objeto).
Não podemos nos esquecer também de que grandes celebridades, já nascidas
nesses novos territórios, ajudaram no estabelecimento do latim na Hispânia, como é
o caso de Lucius Annaeus Sêneca, que foi um advogado, intelectual e escritor do
Império Romano, nascido na Hispânia (na região de Córdoba), que deixou obras como
Medeia e Édipo (ALVES, 2018). A Figura 2 apresenta uma estátua de Sêneca, que foi
erguida em sua cidade natal.

Fonte: lacontradejaen.com

52
5.4 A língua romance: legado da romanização

O uso do latim na Hispânia foi um processo que garantiu a coesão do povo com
o passar do tempo. É importante perceber que esse processo foi longo durou séculos
e não foi um processo forçado. O peso das circunstâncias e das vantagens
econômicas é que levou os povos conquistados a aceitarem as novas leis e estruturas
impostas e, consequentemente, a usar a nova língua, mesmo que com dificuldades.
Essas dificuldades geraram adaptações e, com isso, novas línguas foram
surgindo: as consideradas neolatinas ou românicas. São línguas decorrentes do
processo de romanização dos territórios dominados pelo Império Romano. (ALVES,
2018)
Estas passaram a ser percebidas e aceitas como unidades de identificação a
partir do século V d.C., quando o Império Romano perdeu força política e
governamental nas áreas antes ocupadas. Quando o Império Romano começou o seu
declínio, os visigodos passaram a ocupar a România.
Sua maior influência linguística foi ao norte do território onde hoje é a Europa,
dando origem ao alemão e ao inglês, por exemplo. Sobretudo no sul da Europa, por
não serem muito influentes, os povos adotaram a língua dos vencidos (o latim), mas
deixaram sua contribuição linguística nesse território, principalmente em vocábulos
bélicos, como guerra, yelmo, guardián, espía, e também em nomes próprios, como
Alfonso, Álvaro, Fernando.
O processo linguístico de latinização ou romanização linguística gerou
transformações fonológicas e gramaticais distintas em diversas regiões, dificultando a
compreensão e criando barreiras linguísticas. É nesse momento que surgem as
línguas chamadas de romance. Não é uma fase muito diferenciada do latim, mas já
começava a gerar uma nova identidade para as línguas que surgiriam posteriormente:
as neolatinas.
Toda essa história influenciou o processo que originou a língua castelhana.
Foram séculos de transformações e mudanças: novos territórios passaram a novos
governos, novas limitações geográficas, novas conquistas e reconstrução da
identidade local.
Consequentemente, a língua é motriz para a criação da personalidade dos
novos povos. Segundo Saussure (1969), a separação geográfica contribui, de maneira
geral, para a diversidade linguística.
53
Todavia, todo esse processo só iria se institucionalizar depois dos primeiros
escritos, pois, conforme Saussure (1969), a língua literária tem poder de destruir uma
língua natural, pois é ela que normalmente contém as regras e na qual é pautada a
organização linguística de uma comunidade. Uma vez decidido qual é a língua oficial,
ela se impõe sobre as outras que com ela coexistem, até o desaparecimento da menos
importante socialmente, da menos estruturada ou da menos usada (ALVES, 2018).
Os primeiros escritos em romance foram encontrados nas Glosas Emilianenses
e Silenses, ao final do século X e princípio do XI. Alguns monges, ao ler um códice
em latim, fizeram anotações ao lado dos escritos, a fim de aclarar as suas dúvidas
com relação ao que liam. Essas anotações foram feitas na língua popularmente
falada: o romance. Na Figura 3, você pode ver exemplos das anotações feitas nas
Glosas.

Fonte: javiercoria.blogspot.com

A literatura foi outro fator essencial para a formação da língua castelhana. Um


momento muito importante para a constituição dessa nova língua foram as poesias de
Gonzalo de Berceo, no século XIII — poesias cultas, conhecidas como Mester de
Clerencía.
Além disso, há também o legado cultural deixado pelo rei Alfonso X, o Sábio
(século XIII), pois, antes dele, cada um escrevia como queria ou podia, gerando um
caos ortográfico. Sua insígnia de rei influenciou os outros escritores.

54
A produção literária auxiliou na unificação das variantes dialetais e na fixação
lexical-ortográfica (ALVES, 2018). Foi assim também que, com mudanças e
adaptações, surgiu a língua castelhana. Essa língua provém do romance, bem como
o francês, o romeno, o português, o italiano e todas as chamadas línguas neolatinas.

5.5 Língua espanhola: a filha do latim

Hoje o latim é um exemplo da ligação entre o passado e o presente.


Considerado por muitos como uma língua morta, em função de não ser mais falada
por um povo, ainda mantém o seu valor e está bastante presente no dia a dia. Além
do fator histórico que originou as línguas neolatinas, após o processo de romanização,
o latim ainda faz parte do vocabulário usado atualmente.
Um exemplo é o objeto no qual você anota os horários e as tarefas que realizará
ao longo do dia: a agenda. A palavra agenda vem do latim e é usada na sua forma
conservada, mas nem nos damos conta disso, uma vez que ela já faz parte do nosso
vocabulário cotidiano. No entanto, se você, ao ler um texto acadêmico ou um artigo
falando sobre a teoria saussuriana da língua, encontrar a expressão a priori,
seguramente dirá que ela está escrita em latim.
Em ambos os casos, ocorre o que chamamos de latinismo. Latinismo se refere
a palavras ou expressões latinas que foram introduzidas na língua espanhola e que
mantiveram a sua forma e os seus significados idênticos ao que tinham no latim.
Esse tipo de palavras e/ou expressões pode ser encontrado em todas as
línguas que passaram pelo processo de romanização linguística, tornando-se uma
língua neolatina. Podemos observar que alguns latinismos são mais habituais do que
outros, dependendo do propósito para o qual o termo será usado (ALVES, 2018).
Algumas formas são tão comuns e assimiladas, que não percebemos mais sua
origem latina, como é o caso de agenda e ómnibus; outras, como currículum vitae e
ultimátum, preservam uma forma mais latinizada. Há também os menos habituais,
mas existentes, como ad hoc (para tal fim, para isso), lapsus (erro), in albis (em
branco). Assim, para usar num texto palavras e expressões em sua forma latina,
convém levar em consideração algumas dicas:

55
 Não abusar do seu uso, pois pode parecer pedante, pode ser usado para
esclarecer um registro, seja ele formal ou informal, de acordo com a situação
comunicativa;
 Conhecer muito bem o seu significado;
 Estar atento quanto à sua ortografia.

No que se refere especialmente à ortografia, segundo a RAE (Real Academia


Española), há latinismos que não são adaptados e mantêm a sua forma original, como
o caso de quorum; enquanto outros foram adaptados ao sistema ortográfico da língua
espanhola, como em cuórum (hispanização da palavra latina quorum).
Dessa maneira, a RAE apresenta uma série de normativas a seguir, por
exemplo, sempre que se optar pela forma não adaptada, deve-se fazer algum tipo de
destaque, seja itálico ou entre aspas. Já para as formas adaptadas, é preciso estar
atento à acentuação, que nesse caso segue a regra ortográfica, como vemos em
cuórum, currículum, ultimátum.
Para finalizar, você encontra a seguir uma lista de 10 expressões em latim.
Aproveite para testar a sua aproximação com o latim e veja se essas expressões são
mais ou menos habituais para você:
 Ad referendum: sujeto a aprobación;
 Agnus Dei: cordero de Dios;
 Carpe diem: aprovecha cada día, no te fíes del mañana;
 Data venia: dado el permiso;
 Deficit/Déficit: saldo negativo;
 Dura lex, sed lex: dura ley, pero es ley;
 Fiat lux: que se haga luz;
 Vox populi, vox Dei: la voz del pueblo, voz de Dios;
 Paquiderme: piel muy gruesa – elefante;
 Homo Sapiens: hombre sabio.

56
6 MODELO COMUNICATIVO

Não existe linguagem sem comunicação e sem interação. Para Travaglia


(2002), a linguagem é um lugar de interação humana e interação comunicativa, por
meio da produção de efeitos de sentido entre interlocutores em uma determinada
situação de comunicação e em um contexto socio-histórico e ideológico. Ao estudar a
língua espanhola, o indivíduo demarca um novo tipo de significado na construção da
sua identidade, pois abrange não somente o ato de se comunicar, mas também o faz
compreender a pluralidade linguística e cultural que caracteriza diferentes sociedades
nas quais ele pode estar inserido (SPESSATO, 2011).

6.1 Linguagem e interação humana

Quando estudamos a linguagem, estudamos a interação humana. Segundo


Bakhtin (2008), qualquer relação humana ocorre em função da linguagem. Para o
autor, “ser significa se comunicar, significa ser para o outro e, pelo outro, ser para si
mesmo”.
Portanto, não existe linguagem sem comunicação, sem interação, ainda que
em muitos casos estejamos diante de estudos mais formais em relação à língua, é
necessário que exista uma relação com a língua em uso, com as suas intenções e
com o seu funcionamento: “[...] todos os diversos campos da atividade humana estão
ligados ao uso da linguagem” (BAKHTIN, 2003, p. 261).

57
Fonte:idiomatika.com.br

Não existe sociedade sem linguagem, e ela é responsável por qualquer prática
social. A linguagem é responsável pelas relações humanas, pois é por meio dela,
segundo Shoffen (2009), que nos constituímos e constituímos o outro como sujeito;
ou seja, é por meio da linguagem e do enunciado que os sujeitos se constituem.
Quando estudamos a língua espanhola, por exemplo, precisamos compreender o seu
funcionamento interno e externo.
O conhecimento linguístico e o extralinguístico estão interligados, sendo de
extrema importância para que se atinja a proficiência. Nesse sentido, Shoffen (2009)
defende que estudar e avaliar a proficiência em determinada língua pressupõe
compreender os interlocutores envolvidos, o contexto em que a interação ocorre e os
propósitos que guiam o seu uso.
Sabe-se que o sujeito e a linguagem são produtos da história, da cultura e das
relações sociais. Rego (1995), baseado em Vygotsky, compreende que o indivíduo
não é resultado de um determinismo cultural, ou seja, não é um ser passivo que só
reage frente às pressões do meio.
O indivíduo é um sujeito que realiza uma atividade organizada na sua interação
com o mundo, capaz, inclusive, de renovar a própria cultura, pois é na sua interação
com o mundo que o indivíduo se constitui como sujeito.

58
Para Bakhtin (2003), a visão de mundo, o ponto de vista e a opinião são os
constituintes do discurso; já o enunciado é um elo na cadeia da comunicação verbal
e não pode ser separado dos elos anteriores que o determinam.

6.2 Função dos interlocutores e da interação linguística

Os interlocutores são os participantes do processo de interação que ocorre por


meio da linguagem, são os responsáveis pela conversação. Segundo Bakhtin (2003),
a visão de mundo, a tendência, o ponto de vista e a opinião são o que constitui o
discurso, mas a forma de repercutir o enunciado é o que torna o interlocutor sujeito.
Cabe ressaltar que o emissor e o receptor também são conhecidos como
locutores, pois são responsáveis pelo processo de comunicação. Em geral, o emissor
pergunta e o receptor responde. De acordo com Shoffen (2009), baseado em Bakhtin
(2003), uma das características do enunciado é o seu delineamento com o
enunciador.
A forma como o falante percebe os seus destinatários está diretamente
relacionada ao estilo e à composição do enunciado. Cabe destacar que o discurso
não precisa ser necessariamente falado. Ao enfatizarmos a existência de um emissor
e de um receptor, estamos nos referindo a qualquer tipo de discurso, seja ele verbal
ou não verbal, falado ou escrito. O sentido de um texto, independentemente da
situação comunicativa, não depende apenas da estrutura textual em si. O que pode
influenciar muito a construção do sentido de um texto são os próprios participantes de
determinada situação comunicativa. Veja alguns exemplos a seguir.
 Quando falamos de um texto, o escritor, por exemplo, é o emissor.
Dessa forma, ele deve considerar quem é seu interlocutor e o que é
necessário para que haja o processo de comunicação.
 Quando nos referimos a uma sala de aula, no momento em que o
professor tem o domínio da palavra, ele é o emissor e os seus alunos
são os receptores. Considere que um dos alunos pergunte algo ao
professor; nesse momento, os papéis de invertem e o professor assume
o papel de receptor e o aluno o de emissor.
 Ao assistirmos uma palestra, somos os receptores e o palestrante o
emissor.

59
 Agora, por exemplo, em que você está lendo este capítulo, eu,
professora, sou a emissora e você, aluno (a), é o (a) receptor(a).

De acordo com Koch (2011), o emissor/produtor deve ter noção do que dizer,
do quanto dizer e de como dizer; já o leitor/ouvinte deve, por sua vez, tendo em vista
as informações contextualmente oferecidas, construir representações coerentes a
partir de seu conhecimento de mundo.
Portanto, a autora afirma que o tratamento da linguagem, tanto na produção
como na recepção se baseia na interação de emissor/produtor e ouvinte/leitor, que se
manifesta pela antecipação e coordenação recíprocas, em dado contexto de
conhecimentos e estratégias cognitivas (KOCH, 2011).
Dessa forma, você pode compreender que, na interação, cabe ao interlocutor
escolher o contexto adequado à construção de sentidos, isto é, o emissor é o
responsável pelo conteúdo necessário para que o interlocutor consiga compreender
as suas intenções, fazendo, assim, o processo de comunicação ser estabelecido.
De acordo com Koch (2011), o falante/escritor deve agir de modo a utilizar as
representações necessárias e relevantes para que o interlocutor consiga compreender
suas intenções sem grande esforço, com base nas informações contextuais e/ou
conceituais fornecidas, como um grande trabalho estratégico e cooperativo. O
discurso oral não é neutro ou ingênuo, pois carrega muito mais informação do que
apenas os enunciados mencionados.
O tom de voz e os olhares utilizados constituem a intenção daquilo que é dito.
Segundo Pinto (2011), olhares, sorrisos, gestos e até a distância entre os participantes
e as posturas mantidas por eles integram nosso conhecimento sociolinguístico. Tudo
que acompanha a fala é constitutivo de nossas práticas discursivas e, portanto,
contribui para produzir efeitos comunicativos.
Segundo Travaglia (2007, p. 27), a comunicação eficiente entre os seres
humanos é fundamental para o entendimento entre os homens, e esse entendimento
é necessário e crucial para que os homens vivam e convivam bem. Podemos dizer
que a boa comunicação garante não só a qualidade de vida em uma sociedade, mas
a própria vida e existência da humanidade.
Resumidamente, o enunciado não é um conceito meramente formal, pois
demanda uma situação, interlocutores identificados, compartilhamento cultural e o

60
estabelecimento de um diálogo, ou seja, falar em enunciado representa falar de
acontecimentos.
Portanto, de acordo com Bakhtin (1981), a verdadeira substância da língua não
é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas, nem pela enunciação
monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas sim pelo
fenômeno social da interação verbal.

6.3 Tematização — informação compartilhada pelo emissor e pelo receptor

Assim como o entendimento sobre linguagem e sujeito nos permite


compreendamos o discurso como algo vivo, mutável e não ingênuo, é importante que
entendamos o papel de tematização dentro do discurso. Para Caamaño Tomás
(2011), a tematização está diretamente ligada à linguística do texto, conhecida
também como linguística textual e linguística do discurso.
Para esse autor, a tematização é o conjunto de estratégias empregadas para a
organização dos elementos e sua relação semântica dentro do discurso, de maneira
que seja possível inferir o tema desse discurso. Segundo Sánchez e López (1997),
falar de tematização representa compreender que há uma informação compartilhada
pelo emissor e pelo receptor, ou seja, trata-se de um enfoque comunicativo-semântico
de uma unidade linguística a partir de certa estruturação dentro da sentença.
Segundo os autores, na semântica discursiva, o tema pode ser definido como
a disseminação de caminhos narrativos, valores que já foram compreendidos
semanticamente pelos sujeitos envolvidos no discurso.
Já para Ventura e Lima-Lopes (2002), a estrutura temática, ou tematização, é
aquela que atribui à oração o seu caráter de mensagem, organizando o tema e o rema
(conceitos abordados a seguir).
Cabe ressaltar que, de acordo com os autores, a tematização é um fator
extremamente importante para o desenvolvimento de um texto, pois auxilia
diretamente a coesão. Com ela, é possível compreender como o escritor organizou a
sua mensagem para o receptor.
Segundo Barbosa (2005), a organização do enunciado constitui a estrutura
informacional da frase. Essa estrutura integra tanto a distribuição das unidades de

61
informação (a estrutura temática) como a organização interna de cada unidade
informacional.
A estrutura temática ou tematização é responsável pela ordem linear das
unidades de informação. Em geral, o tema ocorre no início da frase, precedendo aquilo
que sobre ele se diz, denominado rema.
De acordo com a Universidade Católica do Chile (PONTIFICIA..., 2005),
tematização inclui os conceitos de tema e de rema. O tema é aquele sobre o qual algo
é dito e já é conhecido; já o rema é a nova informação. O tema, a primeira parte da
frase antes do verbo principal apresenta o conteúdo para o leitor.
As novas informações envolvem a introdução de expressões indefinidas, que,
quando mencionadas, tornam-se expressões definidas. As unidades lexicais
mencionadas pela segunda vez referem-se ao mesmo campo semântico que a
unidade lexical mencionada anteriormente, o novo (ou rema) é o que o falante decide
apresentar como dentro de um paradigma de possibilidades léxico-gramaticais.
Compreender a relação existente entre o tema e o rema é fundamental para a
tematização. De acordo com Sánchez e López (1997), baseados em Harald Weinrich
(1981), o tema representa a informação recebida e já compreendida; contudo, toda
informação nova que venha a partir do tema chama-se rema.
O tema é dado em cada caso e o rema é o que surge como informação nova.
Já para Ventura e Lima-Lopes (2002), tema é aquilo que é conhecido, uma
determinada situação a partir da qual o falante prossegue. É importante destacar que
o tema se localiza normalmente na posição inicial da oração, ou seja, é nele que se
inicia uma mensagem.
Enquanto o tema assume o papel de alavanca da mensagem, o rema
representa o resto da mensagem, portanto, o rema é o tema que se desenvolveu.
Segundo Ventura e Lima-Lopes (2002), a principal função do tema é fornecer o pano
de fundo para a interpretação do rema.
Para os autores, definir tema é funcional: o tema é um elemento dentro de uma
determinada configuração estrutural que organiza a oração da seguinte forma: tema
+ rema.
Veja o exemplo do Quadro 1 para compreender os conceitos de tema e rema.

62
Em relação ao tema e ao rema, é possível considerar dois conceitos que se
inter-relacionam ao tipo de informação da mensagem. Segundo Barbosa (2005), sob
a perspectiva contextual, em geral, a primeira parte, tema, contém elementos dados,
conhecidos, que funcionam como “ponto de partida” do enunciado, ao passo que a
outra parte, o rema, contém elementos novos que constituem o “cerne” do enunciado.

6.4 Língua e cultura — duas abordagens indissociáveis

Ao estudar uma língua estrangeira, o indivíduo demarca um novo tipo de


significado na construção da sua identidade, pois abrange não somente o ato de se
comunicar, mas também o permite compreender a pluralidade linguística e cultural
que caracteriza diferentes sociedades nas quais ele pode estar inserido.
Aprender uma língua estrangeira representa mergulhar em uma nova cultura,
e isso inclui a aquisição de um conjunto de habilidades linguísticas dentro de uma
norma padrão.

63
Fonte:lumiereidiomas.com.br

O fato é que quando o estudante aprende a língua espanhola, por exemplo, ele
tem acesso a uma nova realidade sociocultural, regida por normas e convenções que
podem ser muito diferentes das que existem no grupo social no qual ele está inserido.
Compreender o mecanismo de ensino do espanhol como segunda língua requer que
sua inserção na escola não seja limitada e descontextualizada.
É necessário que os aspectos culturais estejam presentes e que não se ensine
o espanhol como uma língua homogênea. Deve-se mostrar a pluralidade cultural em
relação à identidade linguística em cada variante. De acordo com Goettenauer (2005
apud SEDYCIAS, 2005), ensinar a língua espanhola representa não apenas ensinar
os mecanismos formais, mas também os seus aspectos culturais.

Há muitos fatores vinculados ao ensino/aprendizagem de espanhol, não só


aqueles que dizem respeito à própria prática educacional – objetivos,
conteúdo, metodologia, material didático, recursos etc. —, mas também os
que estão relacionados a considerações de outra ordem: os idiomas estão
determinados pelos povos que os falam e pelas condições políticas, culturais
e sociais em que esses povos vivem. Esta afirmação é ainda mais
contundente quando se trata de uma língua falada em duas dezenas de
países. É necessário levar em conta, além dos diversos espaços geográficos
que influem nos modos e costumes de cada comunidade, as culturas, os
sistemas político-econômicos, as organizações sociais, as histórias, o
passado e o presente das várias nações, dos inúmeros povos e, ainda, os
conflitos resultantes do contato do espanhol com outras línguas
(GOETTENAUER apud SEDYCIAS, 2005, p. 62).

Fernández (2005) também considera que a cultura da língua espanhola


contribui para o conhecimento linguístico do indivíduo, inclusive, afirmando que o
64
espanhol deve significar para o estudante uma ampliação de seu mundo, uma forma
de conhecer o outro e, consequentemente, exercer a tolerância diante das diferenças.
No momento em que o estudante se sente sujeito de um novo idioma, capaz
de se inserir nele linguística e culturalmente, podemos falar de aprendizagem desse
novo universo linguístico. Contudo, para que isso ocorra, em sala de aula
principalmente, é importante que o universo da língua espanhola não se resuma
apenas a regras gramaticais.
De acordo com Serrani (2005, p.15), “[...] enquanto o componente sociocultural
é sempre posto em relevo na teoria, não é raro que tenha um papel secundário em
práticas de ensino de línguas”, pois se sabe como comum é associar uma aula de
língua estrangeira a uma aula de gramática completamente desvinculada de qualquer
contexto significativo cultural que faça real diferença na vida dos alunos.
A autora define como interculturalista o docente que contempla o ensino da
língua estrangeira com mediações socioculturais e sociolinguísticas; entretanto,
afirma que “[...] se requer uma capacitação adequada para que o professor não
conceba seu objeto de ensino, a língua como um mero instrumento a ser dominado
pelo aluno” Serrani (2005, p. 17-18).
O professor interculturalista deve ser sensível à língua e ao seu processo
discursivo, o qual carrega história, cultura e identidade. Segundo Serrani (2005, p. 17-
18), “O perfil do interculturalista requer que o profissional considere especialmente,
em sua prática, os processos de produção/compreensão do discurso, relacionados
diretamente à identidade sociocultural”.
Em relação ao mesmo ponto de vista, Marcuschi (2008) afirma que a língua é
um fenômeno cultural, histórico, social e cognitivo que varia ao longo do tempo e, de
acordo com os falantes, ela se manifesta no seu funcionamento e é sensível ao
contexto, ou seja, é um sistema simbólico que pode significar muitas coisas, mas que
não tem uma semântica indissociável pronta e nem completamente ilimitada de
autonomia significativa.
Determinar que o ensino da língua espanhola se restringe apenas à gramática
e ao seu ensino normativo corresponde à limitação do conhecimento muito mais amplo
que perpassa as páginas de um livro cheio de regras e de normas.
É completamente possível carregar para a sala de aula um novo universo
histórico-cultural, capaz de transformar não só o conhecimento linguístico dos

65
indivíduos em questão, mas também auxiliar na sua formação identitária como
sujeitos.
Entretanto, vale ressaltar que o ensino plural do espanhol não descarta o
ensino normativo da língua; pelo contrário, deve utilizá-lo como ferramenta para que
se alcance o objetivo pretendido. Uma abordagem não exclui a outra, elas se
complementam, pois nenhuma é plena sozinha.
Nas diretrizes curriculares da educação básica de língua estrangeira moderna
do Paraná (2008), baseada em Vygotsky (2008, p. 65), está explícito que “[...] o
conhecimento linguístico, ainda que condição necessária, não é suficiente para chegar
à compreensão, considerando que o leitor precisa executar um processo ativo de
construção de sentidos e também relacionar a informação nova aos saberes já
adquiridos”, pois “a análise linguística, portanto, deve estar subordinada ao
conhecimento discursivo, ou seja, devem ser decorrentes das necessidades
específicas dos alunos, a fim de que se expressem ou construam sentidos aos textos”.
Por mais que as palavras possuam significado, nenhum falante é um dicionário
humano.
Ensinar vocabulário, seja em espanhol, francês, italiano ou inglês, é
desenvolver um novo idioma e representa compreender um novo cenário linguístico e
sociocultural. De acordo com Ferrarezi Junior (2008, p. 27), “[...] uma palavra só vai
ter um sentido definido depois que for inserida em um contexto devidamente inserido
em um ambiente de produção identificado pelos seus interlocutores, o cenário”.
É responsabilidade do professor apresentar a universalidade da língua
espanhola e acabar com o preconceito linguístico existente nas variantes que não são
a da Espanha, pois o aluno deve entender que a identidade linguística de cada
comunidade é uma forma de representação social e, no momento em que se trata
uma variante com desdém, demonstra-se preconceito, não apenas com um sotaque,
mas com uma comunidade linguística.
Em relação a esse aspecto, Coan e Ponte (2013, p. 185), baseados em
Richards (1990), afirmam que, nos livros didáticos de língua espanhola, a variedade
peninsular ainda prevalece sobre as demais variedades americanas e, além do
predomínio da variedade peninsular, quando há exploração das variedades
americanas, é feita de forma superficial, em sua maioria em pequenos textos, figuras,
notas de rodapé ou, ainda, em algum tópico de curiosidade.

66
Além disso, para Ferrarezi Junior (2008), o aluno deve entender que, ao utilizar
a língua, encontrará diferentes construções linguísticas e, entre elas, uma variante de
mais prestígio, que poderá ser aprendida e dominada para fins específicos.
É importante que você perceba que a atividade de ensinar ou estudar uma
língua estrangeira não deve se deter apenas a decorar regras normativas de uma
gramática tradicional; aprender uma língua estrangeira representa mergulhar em um
novo mundo e se reconstituir, rematerializar e ressignificar como indivíduo.

7 A SONORIDADE DA LÍNGUA ESPANHOLA GEOGRAFICAMENTE

Sonoridade é o termo utilizado no estudo da fonética e da fonologia para


designar um som e os seus aspectos, como tom, duração e intensidade.
Quando estudamos os sons e como eles se constituem no ato da fala,
deparamo-nos com uma vasta produção realizada pelos falantes, isto é, nem sempre
o mesmo som será produzido de maneira uniforme e igual em uma mesma língua.
Assim, no estudo da linguística, além de compreendermos como os sons são
produzidos pelo corpo humano, precisamos entender a forma como entoamos uma
palavra ou expressão idiomática.

Fonte:www.suapesquisa.com

67
Desse modo, observamos as variações de um mesmo fone, por exemplo, em
diferentes regiões de fala de determinada língua. Para Alkmim (2001), as línguas
coexistem sem homogeneidade, visto que língua e variação são indissociáveis.
Portanto, toda e qualquer língua, ao ser estudada, apresentará um conjunto de
variações que vão defini-la e caracterizá-la, seja pelos seus falantes, seja
geograficamente. Assim, quando falamos de variação geográfica em determinada
língua, estamos não só abordando os diversos modos de falar de diferentes países,
mas também os modos de falar em um mesmo país.
Conceituamos as diferentes variações na língua como diastrática, diafásica e
diacrônica. Primeiramente, para concebermos o que é variação, precisamos falar
sobre norma culta, isto é, o conjunto de regras determinadas pelos falantes como
“certas” ou “erradas”.
Esse conceito, na realidade, baseia-se na ideia de que todos os falantes devem
falar de acordo com a gramática; no entanto, esse conjunto de regras estipuladas
refere-se à modalidade escrita, e não ao que de fato produzimos na fala.
Além disso, quando falamos em dominar a norma culta de uma língua,
precisamos também refletir sobre quais pessoas em nossa sociedade têm acesso a
essa modalidade erudita.
Vemos, com isso, que apenas uma pequena parcela poderia usá-la. Desse
modo, além de não representar o uso da língua na fala, a norma culta vista como o
uso certo da língua em qualquer contexto segrega classes sociais e estimula o
preconceito linguístico.
À luz desse ponto de vista, abordamos o que foge à regra gramatical: a variação
linguística nos idiomas. Variação, então, é o discernimento de que a língua é
primordialmente heterogênea e variável. Para enfocarmos o estudo da variação no
aspecto sonoro na língua, precisamos distinguir o que entendemos por grafema e
fonema. Chamamos de grafema a representação escrita de um fone na língua, isto é,
como escrevemos os sons que produzimos na fala. De forma visual, reconhecemos
os grafemas por meio de uma letra ou de um dígrafo em nosso alfabeto, por exemplo.
Assim, reconhecemos o alfabeto de uma língua pela sua função de reproduzir
graficamente aquilo que é empregado sucessivamente na fala. Logo, a letra A é a
ilustração do som que conhecemos como vocálico aberto e central. (FELIPE, 2018)

68
Quando falamos de fonemas dentro de uma língua, abordamos aspectos
relacionados à fonética. Eles correspondem ao entendimento de que, na verdade, são
“[...] modelos mentais do som que caracterizam cada língua, ainda que na fala
apareçam concretizados de diversas formas” (ALARCOS LLORACH, 1954, p. 67).
Assim, são exemplos de variações geográficas na pronúncia do idioma espanhol os
fenômenos yeísmo e seseo.
Essas variações constituem as diferentes pronúncias de grafemas em especial
as chamadas consoantes “sonantes”, cuja articulação do ar sai sem fricção. São
exemplos de tais consoantes os fones /l/, /m/ ou /r/.
Presenciamos uma variação mais perceptível em diversas regiões de fala
hispânica das consoantes sonantes laterais, isto é, aquelas em que o som sai em uma
corrente de ar contínua (sem turbulência alguma) e pelas laterais do trato bucal.
Na língua espanhola, observamos essa articulação da consoante l, encontrada
em cala, ou no sistema contrastivo entre ll e y, visto em lluvia. Segundo a Nueva
Gramática de la Lengua Española, o principal processo de variação entre as
consoantes laterais é o fenômeno conhecido como yeísmo, produzidos na região do
Rio da Prata (Uruguai e Argentina).
Essa ocorrência se deve à fusão dos fones /y/ e /ʎ/ em palavras escritas com ll
e y, como Callado e Cayado. Tal ação se justifica pela proximidade na realização
desses sons, como podemos observar na Figura 1

Além do yeísmo, encontramos outra variação, conhecida como rehilado.


Definida por Amado Alonso, em 1925, como um “zumbido especial produzido no ponto
de articulação”, consiste na fusão dos sons /y/ e /ʝ/. Na escrita, vemos o rehilamiento

69
pronunciado em palavras com as letras LL, Y e HI + vogal (por exemplo, llave, yo e
hielo).
Como já mencionado, essa variação é encontrada na região rio-platense e é
descrita pela fusão de sons. Além dos fenômenos yeísmo e rehilamiento, vemos na
língua espanhola a ocorrência de quatro maneiras de pronunciar a letra ll (elle). Essa
variedade é encontrada em quatro regiões de fala hispânica diferentes, conforme o
quadro a seguir.

É importante ressaltar que não existe um tipo de pronúncia mais correto que
outro. Tais características devem ser abordadas na língua como variações presentes
e produtivas. Não existe também uma hierarquia entre os tipos de pronúncias, no
sentido de um ser mais fácil ou mais difícil que outro, visto que esse entendimento
partirá do falante, seja nativo ou estrangeiro.
Assim como vimos no fenômeno yeísmo e nas suas implicações nos sons
produzidos pelas letras ll, hi + vogal e y, é relevante estudar também como é a
pronúncia da consoante y em determinadas regiões, a fim de que possamos expandir
o nosso conhecimento para além das regiões rio-platenses. Por isso, veja mais um
quadro explicativo sobre as diferentes pronúncias de y.

70
Observe que, diferentemente da elle, a consoante y apresenta apenas três
variações na pronúncia. Como já mencionado, pela proximidade da articulação das
consoantes soantes laterais ll e y, os sons variam e apresentam semelhanças.
Por exemplo, no Uruguai, o som de ll e y manifestam a mesma pronúncia. Outro
fenômeno relacionado à pronúncia de consoantes na língua espanhola são os pares
seseo e ceceo. O ceceo é uma variação oriunda da articulação interdental da
consoante /z/, isto é, o falante produz um som similar ao z em língua portuguesa,
aproximando a língua entre os dentes.
Essa variação ocorre diante da consoante c + vogais e e i (por exemplo, cero
cujo som produzido é zero) e da consoante z + vogais a, o e u (como em zapato).
Podemos também comparar o som realizado com a língua inglesa, no som de th /θ/
produzido em think. (FELIPE, 2018)
Encontramos esse estilo de pronúncia na Espanha, especialmente nas regiões
da Costa da Andaluzia, no interior da Província de Sevilha e no sul de Córdoba. Já o
seseo, como o próprio nome indica, é a produção do som similar ao s em espanhol ou
em português, diante das construções c + vogal e e i, e z + a, o e u. Por exemplo, em
zapato, a pronúncia é próxima a sapato, com s. Veja mais um quadro exemplificando
tal fenômeno.

Para finalizar, vamos estudar também o que chamamos de aspiração do s e


supressão dos particípios em espanhol. A aspiração do s em espanhol é um fenômeno
recorrente no México, no Chile, na Argentina e no sul da Espanha, em Andaluzia.
Aspirar, como o nome já supõe, pode ser definido como “recolher por meio da sucção
ou sugar”.

71
Embora pareça estranho, tal variação pode ser entendida como se
“sugássemos” o s das palavras por exemplo, mimo em vez de mismo ou iempre em
vez de siempre.
Devemos lembrar que, quando abordamos uma variação na pronúncia, ela não
deve se estender à escrita, ou seja, a aspiração do s ocorre na fala, mas não deve
ocorrer quando escrevemos. Assim, do mesmo modo, o fenômeno da supressão dos
particípios -ado e -ido são outra variação correspondente à fala.
Ela ocorre, de acordo com a Nueva Gramática de la Lengua Española (REAL
ACADEMIA ESPAÑOLA, 2011), por toda a Espanha e, em Madrid, é mais frequente
na fala dos jovens. Ainda, além da supressão dos particípios, temos a supressão dos
términos femininos -ida e -ada.
No entanto, esses traços são estigmatizados, e a sua produção não é
recomendada. A Figura 2 apresenta um mapa de distribuição das variações estudadas

Fonte:es.wikipedia.org

7.1 Diferentes modos de fala

A amplitude que a língua espanhola atinge, portanto, faz deste um idioma


importante no cenário mundial, correspondendo à segunda língua mais falada no
mundo após o inglês e o mandarim.

72
Dessa forma, são em torno de 500 milhões de pessoas falando espanhol em
diversas regiões do planeta. Esse fato resulta em muitos modos de falar a mesma
língua. Como já discutido anteriormente, a língua não é homogênea.
Dentro das variações de pronúncia que vimos de determinado som,
encontramos também características peculiares da fala como um todo. Retomamos a
ideia de que não existe um sotaque melhor do que outro ou mais fácil que outro, mas
sim formas que, além de caracterizarem uma região, constroem a identidade cultural
de um país. O estudo dos modos de falar de uma língua corresponde à variação
diatópica, ou seja:

[...] aquela que se verifica na comparação entre os modos de falar de lugares


diferentes, como as grandes regiões, os estados, as zonas rural e urbana, as
áreas socialmente demarcadas nas grandes cidades etc. O adjetivo diatópico
provém do grego diá-, que significa ‘através de’, e de tópos, ‘lugar’ (BAGNO,
2007, p. 46).

Logo, são exemplos de variações diatópicas do idioma espanhol:


 os diferentes tipos de sotaques;
 os usos do pretérito indefinido e do pretérito perfecto compuesto;
 o uso do voseo.

Vemos na Espanha uma forte diferença entre o espanhol falado na parte central
e o falado na parte da Andaluzia. Na região andaluz, os falantes fazem pouco
movimento com a boca ao articular a fala. Outra característica desses falantes é
suprimir algumas sílabas, os particípios e o s das palavras, assim como os
madrilenhos.
Outro sotaque que encontramos na Espanha é oriundo da região de Castela e
é entendido como mais aberto e rápido. Os falantes da América Central e da América
do Sul herdaram o sotaque andaluz da época de colonização, então algumas
variações como o seseo e o yeísmo foram mantidas.
Encontramos no México uma característica melódica ao final das palavras,
como se os falantes estivessem sempre produzindo a entonação interrogativa. Já o
espanhol de Cuba apresenta uma característica bem peculiar: muitos falantes trocam
a pronúncia do r por l, ou seja, em vez de amor, pronunciam amol. Na Argentina, além
do rehilamiento, temos o uso do voseo como uma das mais marcantes formas de falar.

73
O voseo se constitui na utilização do pronome vos no lugar do tú em diálogos
informais. Veja a seguir exemplos desse fenômeno:
Javier: Mirá Javier, este es mi padre. Marta:
Vos sos idéntico. Vos tenés su misma cara.

Perceba que, além do vos, ao voseo se aplica uma conjugação específica,


proveniente da conjugação de vosotros. Já a utilização de usted se aplica a situações
formais da língua.
Além da Argentina, esse fenômeno é visto em mais países da América Sul,
como Paraguai, Uruguai e Colômbia, e se estende até países da América Central.
Historicamente, o vos na língua espanhola era uma forma de tratamento formal, assim
como na língua portuguesa; entretanto, ao longo do tempo, tornou-se a forma utilizada
entre amigos e familiares. Hoje o uso do voseo representa uma característica diatópica
morfossintática essencial para reconhecer as variações do espanhol latino-americano.
Desse modo, temos essa distinção no uso dos pronomes nos modos de falar
do espanhol europeu e do espanhol americano.
Veja o Quadro 1.

Além do voseo, outra característica que exemplifica os modos de falar entre os


países de fala hispânica é representada pelo uso do pretérito indefinido e pelo pretérito
perfecto compuesto. Entre esses dois tempos verbais, há uma preferência pelo
pretérito indefinido, nos países americanos, para situações ocorridas no passado
(FELIPE, 2018).

74
Já na Espanha, há uma distinção entre o uso do pretérito indefinido e o pretérito
perfecto compuesto. O primeiro é utilizado para situações ocorridas no passado, sem
que haja qualquer proximidade ou interferência com o presente; o segundo é
relacionado a um passado anterior ao presente é como se o passado ainda estivesse
relacionado ao presente da fala.
Por exemplo:
Mi abuela murió hace 10 años (pretérito indefinido)
Mi abuela ha muerto hace 10 años (pretérito perfecto compuesto)

A partir desses exemplos, entende-se, no espanhol europeu, que a primeira


oração expressa um passado que ocorreu e não interfere mais no presente. Já na
segunda oração, é como se o enunciador ainda sentisse a morte de sua avó, isto é,
existe um passado que ainda interfere no presente. Essa relação é feita no espanhol
peninsular (europeu); nos países americanos, usa-se somente o pretérito indefinido.
Veja a Figura 3.

75
7.2 Léxico variacional escrito

A palavra é “[...] uma unidade linguística básica, facilmente reconhecida por


falantes em sua língua nativa” (BASÍLIO, 1987, p. 12). Ela é entendida também por
Pastora Herrero (1990) como uma simples denominação para um termo, um objeto,
uma ação ou um fato. Entretanto, por trás da sua escrita, existe um significado
inerente, que carrega sentidos de caráter sonoro, situacional e conceitual.
Sob a ótica gerativista, Chomsky (1998, p. 32) defi ne palavra como “[...] um
complexo de propriedades: no jargão técnico, traços fonéticos e semânticos”. Desse
modo, o conjunto de palavras de uma língua constitui o que chamamos de léxico.
O léxico de uma língua, portanto, é compreendido como diversas unidades
lexicais que são criadas pelos falantes, revitalizadas e compradas de outras línguas
(ANDRADE, 2011).
Logo, quando estamos diante do conjunto lexical de uma língua, precisamos
compreender que ele é estabelecido por criações, modificações e possíveis acepções
diferentes. Quando dizemos que a língua apresenta uma variação, estamos
reforçando a ideia da heterogeneidade que a contempla.
Assim, para estudar a variação, precisamos analisar de onde ela vem e quem
a produz, já que “[...] língua e sociedade estão indissoluvelmente entrelaçadas,
entremeadas, uma influenciando a outra, uma constituindo a outra” (BAGNO, 2007, p.
38).
Você viu neste capítulo as variações referentes à fonética e à fonologia que, na
aprendizagem de uma língua, auxiliam na pronúncia, assim como na compreensão
auditiva. Mas para que estudar a variação lexical de uma língua?
A importância do estudo das variações lexicais está em poder aplicar de
maneira adequada as diferentes formas de significar a língua por meio da palavra.
Assim, ressaltamos a relevância de saber, por exemplo, que podemos falar cajeta na
América e dulce de leche na Espanha. Em resumo, a variação lexical consiste em
dizer de várias formas o mesmo sentido.
Veja a seguir a tabela das variações lexicais nos países hispanohablantes.

76
77
8 A GRAMÁTICA DA LÍNGUA ESPANHOLA E A CONSTRUÇÃO TEXTUAL

Textos claros e coerentes são resultado de ideias organizadas e articuladas,


mas será que existe uma fórmula que garanta essa organização? Na realidade, o uso
adequado de alguns aspectos gramaticais da língua não só contribui para a escrita
clara e precisa, mas também determina, muitas vezes, o estilo do texto e os
significados que se deseja transmitir (BIZELLO, 2018).

Fonte:www.shutterstock.com

8.1 Verbos e produção textual

A competência comunicativa se constrói com conhecimento linguístico e


habilidades comunicativas, isto é, com o desenvolvimento da capacidade de utilizar a
linguagem de forma apropriada nas diversas situações. Quando se concretiza a
situação comunicativa por meio da escrita, essa capacidade é ainda mais exigida.
Afinal, os únicos recursos aos quais o escritor e o leitor têm acesso são os da
linguagem verbal (BIZELLO, 2018). Nesse sentido, o aprendiz de espanhol precisa
conhecer as convenções linguísticas para criar e manter o seu discurso.
A norma deve ser trabalhada em seu aspecto funcional, isto é, com estratégias
que permitam considerar o uso da língua em situações reais. Um exemplo claro da
importância do estudo da gramática para a construção de uma comunicação eficiente
é a relação entre o conhecimento morfológico sobre os verbos e a produção textual
clara e organizada.
78
Os brasileiros não costumam encontrar muitos obstáculos para internalizar o
uso normativo dos verbos em espanhol. Afinal, em português, também há flexão de
tempo, modo e pessoa e verbos regulares e irregulares.
Além disso, a formação do vocábulo flexional verbal da língua espanhola é
semelhante à da língua portuguesa: radical + vogal temática + desinência modo
temporal + desinência de número e pessoa. Veja:

Em português, os verbos irregulares caracterizam-se pela mudança no radical


na conjugação. É o caso do verbo fazer:

Em espanhol, as irregularidades também ocorrem no radical e são classificadas


como vocálicas, consonantais e especiais (verbos com diferenças na raiz). Algumas
dessas irregularidades são compatíveis, como os verbos dizer (português) e decir
(espanhol):

79
Entretanto, outras irregularidades não são compartilhadas pelas duas línguas,
como o verbo pensar:

Já o verbo haver é irregular nas duas línguas:


Yo he traído el libro
Houve dias muito frios na viagem.

No entanto, em português, é um verbo pouco usado como auxiliar de um verbo


pessoal (Eu hei de conseguir).
Nos dois idiomas, há a forma impessoal do verbo haver/haber:
Hay 10 alumnos aquí. Há 10 alunos aqui.

Cabe destacar também que, quando o brasileiro usa “tu”, costuma conjugar o
verbo na terceira pessoa. Embora esse uso seja típico de situações informais, é
comum que essas formas apareçam na escrita (BIZELLO, 2018).
Em espanhol, essa construção não é comum. Logo, o aprendiz brasileiro deve
estar atento aos momentos em que produz seus textos, afinal, os verbos são

80
fundamentais para comunicar fatos. O texto narrativo, especialmente, é constituído
por muitos verbos que anunciam os fatos e os transformam.
As narrativas são formadas por elementos que se associam aos verbos: os
personagens agem (os verbos revelam essa ação); os fatos ocorrem em um tempo
(as desinências verbais de tempo mostram esses momentos) e os acontecimentos
têm como núcleo um verbo.
A história narrada ocorre em uma progressão temporal, ou seja, o texto se
desenvolve no tempo. Isso significa que um fato sucede outro fato, como sequências
temporais.
Leia um trecho do conto La gallina degollada, de Horacio Quiroga (1917[2018],
documento on-line):

Todo el día, sentados en el patio, en un banco estaban los cuatro hijos idiotas
del matrimonio Mazzini-Ferraz. Tenían la lengua entre los labios, los ojos
estúpidos, y volvían la cabeza con la boca abierta. El patio era de tierra,
cerrado al oeste por un cerco de ladrillos. El banco quedaba paralelo a él, a
cinco metros, y allí se mantenían inmóviles, fijos los ojos en los ladrillos. Como
el sol se ocultaba tras el cerco, al declinar los idiotas tenían fiesta. La luz
enceguecedora llamaba su atención al principio, poco a poco sus ojos se
animaban; se reían al fin estrepitosamente, congestionados por la misma
hilaridad ansiosa, mirando el sol con alegría bestial, como si fuera comida.
Otras veces, alineados en el banco, zumbaban horas enteras, imitando al
tranvía eléctrico. Los ruidos fuertes sacudían asimismo su inercia, y corrían
entonces, mordiéndose la lengua y mugiendo, alrededor del patio. Pero casi
siempre estaban apagados en un sombrío letargo de idiotismo, y pasaban
todo el día sentados en su banco, con las piernas colgantes y quietas,
empapando de glutinosa saliva el pantalón.

Note que há uma sequência de acontecimentos na história (a luz chamou a


atenção dos personagens; seus olhos ficaram animados, riam, etc.) e que cada
acontecimento é marcado pela presença de um verbo: llamaba; animaban; reían, etc.
Se os verbos fossem retirados, a narrativa perderia a sua base linguística e semântica.
Observe:

Todo el día, sentados en el patio, en un banco estaban los cuatro hijos idiotas
del matrimonio Mazzini-Ferraz. Tenían la lengua entre los labios, los ojos
estúpidos, y volvían la cabeza con la boca abierta. El patio era de tierra,
cerrado al oeste por un cerco de ladrillos. El banco quedaba paralelo a él, a
cinco metros, y allí se mantenían inmóviles, fijos los ojos en los ladrillos. Como
el sol se ocultaba tras el cerco, al declinar los idiotas tenían fiesta. La luz
enceguecedora llamaba su atención al principio, poco a poco sus ojos se
animaban; se reían al fin estrepitosamente, congestionados por la misma
hilaridad ansiosa, mirando el sol con alegría bestial, como si fuera comida.

81
O pretérito imperfeito é o tempo mais utilizado, pois marca acontecimentos
contínuos que eram hábito em determinado tempo passado. Veja:

Otras veces, alineados en el banco, zumbaban horas enteras, imitando al


tranvía eléctrico. Los ruidos fuertessacudían asimismo su inercia, y corrían
entonces, mordiéndose la lengua y mugiendo, alrededor del patio. Pero casi
siempre estaban apagados en un sombrío letargo de idiotismo, y pasaban
todo el día sentados en su banco, con las piernas colgantes y quietas,
empapando de glutinosa saliva el pantalón.

Note que o uso do pretérito imperfeito expressa que a ação está em curso, ao
passo que o pretérito perfeito exprime um fato concluso. Observe como os tempos
verbais situam o leitor: sabe-se que são fatos passados e que ocorriam com
frequência. Nos textos argumentativos, a escolha dos verbos também faz diferença
para o sucesso da comunicação. (BIZELLO, 2018)
A escolha adequada é por verbos que estejam no modo indicativo, pois eles
denotam certeza, uma vez que argumentos devem ser construídos a partir de fatos e
certezas. Além disso, ao contrário dos textos narrativos, é mais comum o uso do
tempo presente, pois a defesa de um ponto de vista costuma estar vinculada a um
fato atual. Contudo, a rede argumentativa é formada por verbos conjugados no
pretérito, no presente e no futuro.
Leia fragmentos do texto “La inmadurez de la defensa europea” (VILLAVERDE,
2018).

La inmadurez de la defensa europea Europa no toma las decisiones debidas


para dotarse de unos medios defensivos propios de una potencia global. No
es necesario aumentar el gasto militar; lo esencial es activar la voluntad
europea para conseguir la autonomía estratégica Aunque no reconocido
clínicamente, el síndrome de Peter Pan afecta a muchos adultos
perpetuamente infantilizados que se resisten a madurar. En política exterior,
de seguridad y defensa la Unión Europea (UE) también se muestra a menudo
como una adolescente (aunque con 61 años a cuestas), subordinada a otros
que no tienen reparos en tratarla como una menor incapaz e irresponsable
(véase la reciente cumbre de la OTAN), mientras retrasa el momento de tomar
sus propias decisiones para dotarse finalmente de una voz y unos medios
propios ajustados a su pretensión de ser reconocida como una potencia
global

Observe que há verbos no presente do indicativo, como: toma, es, afecta,


resisten, etc. Tradicionalmente, os textos dissertativos argumentativos são
construídos de forma a passar imparcialidade e impessoalidade diante dos fatos.

82
Dessa forma, é comum que os verbos sejam conjugados na terceira pessoa.
Note que o texto do exemplo usa vários verbos na terceira pessoa, como muestra e
retrasa. Vale reforçar também a questão semântica do emprego dos verbos.
Na língua espanhola, alguns verbos são utilizados com significados diferentes
e empregados em construções diferentes, o que acaba simplificando a redação.
Contudo, o uso demasiado desses verbos pode levar à falta de exatidão e à repetição
de palavras, tornando a produção monótona e pouco precisa. Observe:
Existem 10 competidores.
10 personas están compitiendo.
Note que a segunda oração é mais precisa, pois informa diretamente o fato: 10
pessoas estão competindo. O foco está na ação de competir e não na existência de
pessoas competindo. Os verbos existir, haber, tener e ser costumam ser empregados
nessas situações, pois são polissêmicos.
Contudo, o texto pode se tornar mais interessante se esses verbos forem
evitados. Em suma, para que o leitor possa interpretar um texto, ele terá de relacionar
as pistas que encontra com o seu conhecimento de mundo. Assim, a seleção dos
verbos é fundamental para que as finalidades textuais sejam atingidas.

8.2 Sintaxe e produção de texto

A sintaxe estuda a relação dos termos dentro da oração e a relação entre


orações. Dessa forma, é a parte da gramática que permite selecionar a ordem da
exposição da informação e a forma como se unem as orações.
Para a Real Academia Española (2010a, p. 04), “[…] las relaciones sintácticas
se expresan formalmente de diversas maneras: mediante la concordância, la
selección y la posición”.
Nesse sentido, questões sintáticas infl uenciam diretamente na produção de
textos. Em espanhol, a ordem das palavras proporciona informação sobre o seu papel
sintático. Afinal, dependendo da ordem que as palavras ocupam, o texto pode ser
mais envolvente, mais enfático ou mais linear.
Na ordem linear, o sujeito é seguido pelo verbo, depois aparece o complemento
verbal e, por fim, o complemento circunstancial, ou seja, o elemento determinante
segue o determinado, como em: “Las personas desean libertad siempre”.

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Esse tipo de construção é comum em textos referenciais que pretendem
apenas transmitir a informação. A ênfase não está no receptor nem no canal, por
exemplo, e sim na mensagem.
Veja outro exemplo (BARROSO, 2018, documento on-line):

Los diez enigmas del hombre muerto en el ascensor de La Paz La policía y


el juez instructor se enfrentan a un conjunto de preguntas aún sin resolver
para identificar a la víctima Diversas preguntas aún sin respuesta planean
sobre la muerte de un hombre de entre 50 y 60 años que fue hallado el pasado
día 11 sin vida en el hueco de un ascensor del hospital madrileño de La Paz.
Han transcurrido 17 días desde que esta persona se precipitó al vacío desde
el piso decimosegundo del centro sanitario. Se desconoce su identidad
porque no portaba documentación. Junto a su cuerpo, con ropa de calle, se
halló la llave maestra del ascensor que permitía abrir las puertas. La cabeza
estaba separada del tronco. No faltaba ningún trabajador del hospital, ningún
enfermo ni familiar y tampoco ningún empleado del servicio de mantenimiento
del elevador. Nadie ha reclamado su cadáver, que permanece en el Instituto
Anatómico Forense sin identificar. Además, el estado del cuerpo —fue
encontrado nueve días después del fallecimiento— hace difícil recuperar sus
huellas dactilares.

Note que a maior parte das orações está escrita na ordem linear e direta da
oração. Esse é o caso de: Diversas preguntas aún sin respuesta planean sobre la
muerte de un hombre de entre 50 y 60 años.
Há o sujeito (Diversas preguntas aún sin respuesta), o verbo (planean) e o
complemento verbal (sobre la muerte de un hombre de entre 50 y 60 años). Quando
o texto quer destacar alguma palavra ou enfatizar uma ideia, essa linearidade costuma
ser rompida. Geralmente, o elemento eleito como o mais importante surge
primeiramente na oração. Assim, a ordem dos elementos está associada à intenção
comunicativa.
Para alcançar esses objetivos, o escritor utiliza palavras funcionais, como
preposições, artigos e conjunções, que ajudam a informar a função das palavras que
acompanham. Observe a seguinte oração:
La huelga de los profesores terminará con suceso.

Note que o artigo la anuncia um sintagma nominal (la huelga); já a preposição


con anuncia um complemento circunstancial (con suceso).
Os pronomes relativos têm dupla função: referem-se a um substantivo
(antecedente) de forma anafórica e servem de nexo conjuntivo entre o antecedente e
o complemento oracional.

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Dessa forma, conhecer cada palavra funcional é uma tarefa importante para
quem deseja construir um significado para a oração. Analise, agora, um fragmento do
texto anterior.

Diversas preguntas aún sin respuesta planean sobre la muerte de un hombre


de entre 50 y 60 años que fue hallado el pasado día 11 sin vida en el hueco
de un ascensor del hospital madrileño de La Paz.

Observe que o relativo que garante a continuidade da informação por meio da


construção de uma frase complexa. Além disso, funciona como anáfora, permitindo a
construção da coesão e da coerência do texto.
A regência verbal é uma questão importante para a sintaxe espanhola: o uso
inadequado de preposições pode prejudicar a compreensão da mensagem que se
deseja transmitir. Veja:
*Las amigas fueron en el cine.

Essa construção não está de acordo com as normas gramaticais, pois o


adequado seria Las amigas fueron al cine. Você pode notar, portanto, a interferência
das regras informais da língua portuguesa na construção da oração em espanhol.
Esses equívocos na língua materna são transferidos à expressão na língua
estrangeira. Observe:
*¿Cómo será cobrado la tarifa del café?
O adequado seria: ¿Cómo será cobrada la tarifa del café?

Note que é preciso internalizar as regras de concordância para comunicar com


clareza. O mesmo alerta serve para o uso de pronomes objetos. Na língua espanhola,
não se admite apagá-los, ignorá-los, como em:
— ¿Encontraste la muñeca?
— *Encontré.

Quem encontra, encontra algo. O quê? No exemplo, la muñeca, pode ser


substituído pelo pronome complemento la. Assim, o adequado seria: La encontré.
Vamos analisar um texto? Leia os seguintes fragmentos (CONTRERAS, 2018,
documento on-line):

85
Donatella Versace: “Soy activista. No me asusta dar mi opinión” La
diseñadora lanza una nueva campaña y anuncia que su firma estará cada vez
más comprometida con las causas sociales Donatella Versace lo ha vuelto a
hacer. Después de regalarle a la industria de la moda el momento más
emocionante y viral del último año —la aparición sorpresa de Claudia, Carla,
Naomi, Cindy y Helena en su desfile tributo a Gianni Versace en septiembre—
, ha concebido para su colección de otoño-invierno 2018 una campaña de
publicidad que aspira a convertirse en otro hito: una única fotografía —la
mayor imagen de grupo creada para una campaña de moda— en la que
Steven Meisel ha retratado a 54 modelos que personifican el nuevo gran
caballo de batalla de Donatella: la diversidad y la inclusividad. “Eso es lo que
Versace defiende hoy”, explica la diseñadora en exclusiva a EL PAÍS. “La
familia Versace está formada por individuos que se apoyan unos a otros y
comparten los mismos valores: lealtad, fortaleza, confianza,
empoderamiento, singularidad. Los quería todos juntos, como un clan”.
Supermodelos como las hermanas Zadid o Kaia Gerber se mezclan con
nuevas caras —entre ellas, la del español Óscar Kindelan—; géneros, razas
y físicos diversos están representados. Ella lo llama “identidades distintivas”.
“Destacan entre la multitud no solo por su estilo sino, sobre todo, por lo que
tienen que decir”, asegura.

Observe que a aparição das características antes do referente deixa o leitor na


expectativa para saber o que é o momento mais emocionante e viral do último ano. A
escolha do autor por essa ordem não é aleatória: desde o começo do texto, ele prende
a atenção do leitor por meio da curiosidade. Na sequência desse mesmo enunciado,
o autor utiliza outro recurso para causar expectativa: o emprego dos dois pontos.
Note que, mais uma vez, o leitor primeiro tem acesso às características da
campanha (que aspira a convertirse en otro rito), para depois saber o que é a
campanha (BIZELLO, 2018).
Aliás, embora o segundo enunciado do parágrafo ocupe muitas linhas e forneça
várias informações, não é confuso nem monótono, pois utiliza travessões para
oferecer breves explicações e "brinca" com o leitor nesse jogo de esconde e revela.
Veja mais um fragmento do texto anterior:

A sus 63 años, se diría que Donatella está más en paz consigo misma que
nunca. Muy lejos quedaron sus adicciones —les puso fin en 2004 al subirse
al avión privado de Elton John rumbo a una clínica de rehabilitación en
Arizona—, y los tiempos en los que la supervivencia de la firma Versace
parecía pender de un hilo.

Na mesma reportagem, em um dos parágrafos seguintes, há o enunciado: Muy


lejos quedaron sus adcciones. Observe que o uso do complemento circunstancial no
início da oração marca a ênfase que se quer dar à distância que Donatella está de
seus vícios.

86
Em síntese, cada elemento sintático que organiza as orações é responsável
também pelo encadeamento das ideias de um texto. A coesão e a coerência se
complementam e fornecem os sentidos do texto.

8.3 Ortografia e produção textual

A ortografia é a parte da língua responsável pela escrita adequada das


palavras. Portanto, é elemento fundamental na comunicação escrita, pois todos os
pensamentos formulados e registrados pelo escritor devem ser interpretados
adequadamente pelo leitor. A escrita incorreta de uma palavra pode levar o leitor à
incompreensão ou à falta de credibilidade nas ideias do autor.
Além disso, o equívoco na grafia pode acarretar, também, confusão entre as
palavras de sentidos diferentes. Essa situação se torna ainda mais grave quando os
produtores de textos em espanhol são brasileiros aprendizes do novo idioma.
Sabe-se que muitos fatores podem dificultar o aprendizado, mas a interferência
da proximidade entre português e espanhol é uma realidade a que se deve estar
atento (BIZELLO, 2018).
Aliás, os erros de produção escrita podem estar associados à dificuldade do
aprendiz de aliar vários conhecimentos, pois para se expressar graficamente, é
preciso unir não só os conhecimentos fonológicos e gráficos da língua, mas também
conhecimento sobre morfologia, sintaxe e semântica.
A seguir, observe as regras de acentuação das paroxítonas e das oxítonas da
língua portuguesa e da língua espanhola:

87
Note que há divergências significativas nas regras das paroxítonas. Em
português, palavras terminadas em n e s são acentuadas quando são paroxítonas
(próton); já em espanhol, palavras terminadas em n e s são acentuadas só se forem
oxítonas: Colón.
Outra divergência importante entre as duas línguas está na formação dos
encontros vocálicos. Por exemplo, alguns hiatos espanhóis (como: frí-o)
correspondem a ditongos em português (como: frio). O contraste entre português e
espanhol evidencia-se também na divisão silábica.
Os dígrafos rr e ss são separados em português: car-ro; nos-so. Em espanhol,
os dígrafos rr e ll nunca se separam: ca-rro; ca-lle. Outros aspectos da grafia podem
gerar dúvidas.
Esse é o caso da ausência de ss, ze, ç e acento circunflexo na língua
espanhola. Contudo, os problemas de escrita não surgem apenas pela falta de
equivalência entre as duas línguas.
Os homógrafos, ou seja, palavras de mesma grafia e significados diferentes
podem gerar dúvidas e levar o escritor a desistir do emprego da palavra.
Conheça alguns homógrafos:
 Mora: mulher do moro/ Mora: fruta.
 Lima: instrumento para limar. / Lima: capital do Peru.
 Pila: conjunto de coisas. / Pila: Dispositivo que fornece energia.
 Granada: fruto comestível. / Granada: projétil.
 Seno: órgão mamário feminino (seio). / Seno: relação
trigonométrica entre os lados de um triângulo.
 Cara: rosto. / Cara: de preço alto.
 Asta: corno de uma rês. / Asta: pau de um veleiro ou bandeira.
 Copa: taça para beber. / Copa: parte de um chapéu.
 Vino: bebida alcoólica fermentada. / Vino: do verbo venir.
 Borrador: borracha. / Borrador: ensaio.
 Radio: metal, aparelho receptor. / Radio: metade do diâmetro.
 Pesa: objeto de medição. / Pesa: verbo “pesar”.

Os homófonos são palavras com mesma pronúncia, mas grafia e significado


diferentes.
88
Dessa forma, o equívoco na escrita poderia modificar o significado da palavra
e, consequentemente, da frase, do parágrafo e do texto, gerando ruídos na
comunicação (BIZELLO, 2018).

Leia algumas passagens de textos do Jornal El País (RAMÍREZ, 2018,


documento on-line; CORDELLATE, 2018, documento on-line):

Las puertas que abre ser alguien de trato fácil Sonreír, mantener la discreción,
o ayudar a los demás. Claves para ser alguien agradable con quien todos
desearán relacionarse

Se no lide fosse utilizada a expressão de más no lugar de demás, o leitor


poderia imaginar que é preciso considerar mais que isso, por exemplo.

“Hay niños que no están solos en casa, pero están aislados. Su mundo se
vive en una habitación” Los expertos han detectado un nuevo modelo de
menores de la llave que son aquellos que se quedan a diario en pisos
compartidos de forma forzosa y en espacios hiperreducidos

Nesse texto, se o escritor acentuasse a palavra solos, poderia provocar dúvidas


sobre se tinha intenção de usar um adjetivo (solos = sozinhos) ou um advérbio (sólo
= somente). Para finalizar, é importante destacar questões ressaltadas na mais
recente publicação sobre ortografia pela Real Academia Española (2010b):

89
Se excluyen definitivamente del abecedario los signos ch y ll, ya que, en
realidad, no son letras, sino dígrafos, esto es, conjuntos de das letras o
grafemas que representan un solo fonema. El abecedario del español queda
así reducido a las veintisiete letras siguientes: a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m,
n, ñ, o, p, q, r, s, t, u, v, w, x, y, z. Eliminación de la tilde en palabras con
diptongos o triptongos ortográficos: guion, truhan, fie, liais, etc. Al no existir
uniformidad entre los hispanohablantes en la manera de articular muchas
secuencias vocálicas, ya que a menudo, incluso tratándose de las mismas
palabras, unos hablantes pronuncian las vocales contiguas dentro de la
misma sílaba y otros en sílabas distintas, la ortografía académica estableció
ya en 1999 una serie de convenciones para fijar qué combinaciones vocálicas
deben considerarse siempre diptongos o triptongos y cuáles siempre hiatos a
la hora de aplicar las reglas de acentuación gráfica, con el fin de garantizar la
unidad en la representación escrita de las voces que contienen este tipo de
secuencias.

A ortografia é uma parte da gramática que vai além da escrita correta das
palavras. Ela é também um elemento dos textos escritos, que permite a compreensão
das informações. Portanto, é um aspecto fundamental para quem deseja se comunicar
por escrito.

9 NOÇÕES DE FONÉTICA DA LÍNGUA ESPANHOLA

A língua é o nosso meio de comunicação mais completo. Mesmo sem


percebermos, fazemos diversas ações cotidianas que a tornam parte essencial da
vida humana.
É por meio da produção dos sons que emitimos, por exemplo, as nossas
emoções, os nossos pensamentos e sentimentos.

90
Fonte: www.tradutoradeespanhol.com.br

Quando utilizamos a língua de forma natural, interagimos sem tomar


consciência do seu sistema interno, da sua organização e de como os sons são
produzidos. Porém, no momento em que passamos a analisá-la, precisamos observar
o seu funcionamento, como a sua ordem sintática, morfológica e fonética (FELIPE,
2015).

9.1 Objeto de estudo da fonética

A língua está presente em qualquer ato de comunicação, e sabemos que todo


ato de fala se manifesta em uma sequência de sons proferidos pelo falante. Desde a
infância, somos habituados a associar certos segmentos dessas sequências a certos
signifi cados.
Por exemplo, a série de sons representados na escrita pela sequência de letras
da palavra casa imediatamente evoca o conceito de “moradia”. Segmentos como
esse, dentro da sequência pronunciada, são signos, ou seja, são unidades sonoras
que carregam um significado.
De acordo com Alarcos Llorach (1999), o ato de fala retrata a coexistência de
signos e significado sonoro, pois ambos os componentes são combinados e
ordenados segundo as regras de cada idioma.

91
O estudo dos signos e suas combinações é um dos domínios atribuídos à
gramática internalizada de cada interlocutor. A fonética é a área responsável por
estudar os sons de maneira física, isto é, como eles são produzidos no nosso aparelho
fonador. Na fonética, estudamos as partes que correspondem aos signos linguísticos,
mas não necessariamente os seus significados.
Atrelados aos estudos da fonética, encontramos também os estudos da
fonologia, que averigua o sistema dos sons, a sua estrutura e o seu funcionamento.
Assim, segundo os estudos de Matzenauer (2014, p. 13), “[...] a fonética apreende os
sons efetivamente realizados pelos falantes da língua em toda sua diversidade; a
fonologia abstrai essa diversidade para captar o sistema que caracteriza a língua”.
Desse modo, ainda que sejam estudos separados, a fonética pode auxiliar os estudos
da fonologia, de maneira que muitas vezes os estudos andam juntos.
Toda e qualquer língua pode ser analisada fonética e fonologicamente. Além
disso, tanto uma como outra são passíveis de serem descritas por meio de alfabetos
elaborados que representam, por exemplo, os seus sons. É importante, assim, que
você saiba as características peculiares de cada uma, para que não as confunda.
Nas descrições fonéticas, atribuímos o uso de colchetes (por exemplo, [t] e [d])
para representar o que chamamos de fones; nas descrições fonológicas,
representamos os fonemas por meio de barras (por exemplo, /t/ e /d/). Logo, podemos
representar os sons de uma língua por meio de dois níveis de descrição: o fonético e
o fonológico.
O plano de estudo da fonética é aprofundado em três aspectos: articulatório,
acústico e perceptual. O primeiro aborda como os sons são produzidos e articulados
no aparelho fonador no corpo humano; o segundo, as propriedades físicas da
propagação dos sons, isto é, as ondas sonoras que produzimos em um ato de fala; e
o terceiro, como recebemos e interpretamos uma onda sonora.
A unidade comum representada pelos sons dentro da língua é chamada, na
fonética, de fone. Segundo Battisti (2014, p. 64), fone é o “[...] som da fala, de natureza
linguística”. Entretanto, outros tipos de sons, como trovões, espirros, bocejos, etc.,
não são considerados parte do estudo fonético.
Para representar um fone na escrita, utilizamos também um alfabeto específico,
chamado de Alfabeto Fonético Internacional (IPA), elaborado pela Associação
Internacional de Fonética.

92
A Figura 1 apresenta os símbolos utilizados na descrição dos fones por meio
do IPA.

Fonte: www.mosalingua.com

Por exemplo, a consoante ñ é grafada no Alfabeto Fonético Internacional como


[ɲ], correspondente ao dígrafo nh em niño, no espanhol, e ninho, em português. Além
de sentidos diferentes, essas palavras apresentam quantidades de letras diferentes,
mas o mesmo número de fones (FELIPE, 2015).
Assim como no alfabeto que conhecemos, no alfabeto fonético, cada símbolo
designa um único fone; no entanto, para abranger os inúmeros fones que produzimos
em uma língua, esses fones são descritos no alfabeto fonético conforme a sua

93
articulação no aparelho fonador. Veja a seguir alguns exemplos utilizando a
transcrição fonética.

Observe que, quando realizamos a transcrição fonética, nem sempre o número


de letras corresponde ao número de fones. Por exemplo, em aburrido, temos oito
letras, mas sete fones. Para entendermos mais sobre os fones, precisamos estudar
outras nomenclaturas importantes no que tange à fonética.
Por isso, vamos retomar a relação entre fone e fonema, definindo e
exemplificando este último. De acordo com Battisti (2014), a fonologia é responsável
por estudar o sistema dos sons, isto é, o padrão produzido inconscientemente pela
nossa mente e que remete a um sistema no qual esses sons descrevem uma
sequência.
Logo, os fonemas são, para Battisti (2014, p. 66), “[...] a unidade mínima de
som capaz de produzir diferença de significado”. Por exemplo, os fones [t] e [d], do
ponto de vista articulatório, são sons bem parecidos, devido à proximidade da
produção dos seus sons, mas essa diferença mínima de produção nos faz distinguir
[t] e [d], que correspondem a “[...] unidades de som com valor contrastivo ou distintivo
no sistema” (BATTISTI, 2014, p. 65). Dessa forma, esses dois sons coincidem com os
fonemas /t/ e /d/ e os fones [t] e [d], respectivamente. Veja um exemplo:
/t/ − pata
/d/ − data

Nesse exemplo, distinguimos as duas palavras pela distinção que fazemos


entre t e d. Logo, por haver essa distinção, conferimos outro significado às palavras
apenas por ouvir uma ou outra.

94
Assim, facilmente observamos que pata, em espanhol, não significa a mesma
coisa que data. A primeira tem como tradução o feminino de pato ou a pata de um
animal; o segundo pode ser traduzido para data e tem como sinônimo, na língua
espanhola, a palavra fecha.
Veja, em outro exemplo, outros pares mínimos, como em paño (pano) e baño
(banho). Essa relação que fazemos entre os fones e os fonemas em uma língua é
denominada na fonética de alofonia.
Para Battisti (2014, p. 70), a alofonia “[...] dá origem à variação fonético-
fonológica nas línguas do mundo, a um tipo de variação determinado por um ambiente
ou contexto sonoro específico”. Desse modo, um alofone é, na realidade, uma
variação de um fonema, mas que não modifica o sentido da palavra. Veja um exemplo
a seguir.

Vejamos agora as partes que definem a fonética em três aspectos: articulatória,


acústica e perceptual. A fonética articulatória compreende o modo como produzimos
os sons no nosso corpo, no nosso aparelho fonador.
Por exemplo, quando produzimos o som das vogais, não há obstrução na
passagem do ar; entretanto, experimente produzir o som de uma consoante.
Provavelmente você perceberá que algum articulador entrará em ação para a
produção do som, como podemos ver na emissão da consoante “b”: para produzi-la,
precisamos encostar os lábios e, portanto, obstruir a corrente de ar. Já a fonética
acústica estuda as propriedades físicas nos processos de fala.
Na realidade, esse estudo visa somente à análise das ondas sonoras, como
vibração, ressonância, altura, intensidade, entre outros aspectos do campo da física.
A fonética perceptual ou auditiva colabora para os estudos da fonética, finalizando
todos os modos de produção, articulação, emissão e compreensão dos sons. Logo,
fica a cargo desse ramo estudar como o ouvido humano recebe as ondas sonoras

95
advindas dos processos da fala; a interface desse estudo se dá com os estudos nas
áreas da neurologia e da psicologia. Vale ressaltar, no entanto, que para o ensino e a
aprendizagem de línguas, saber qual é o objeto de estudo da fonética não é suficiente.
Por isso, a seguir você verá a importância da fonética no estudo da língua (FELIPE,
2015).

9.2 Importância da fonética no estudo da língua

A fonética tem papel fundamental no estudo de línguas estrangeiras, em função


da sua importância na aquisição das competências orais e auditivas necessárias no
processo comunicativo.
Partindo da ideia de que aprendemos uma língua para poder utilizá-la, é
inegável que, de forma a usá-la bem, precisamos abordar tanto os seus aspectos
gramaticais como os orais, isto é, os fonético-fonológicos.

Fonte: www.diferenca.com/fonetica-e-fonologia

É importante lembrar que o ensino de língua, em meados da década de 1970,


pautava-se no estudo isolado de formas gramaticais e era distante do enfoque
comunicativo. Desse modo, ensinar a pronúncia, por exemplo, era uma atividade
desestimulante, pautada na aproximação da pronúncia a um falante nativo. Imagine o
quão desesperador é aprender uma língua com o objetivo de pronunciar igual àqueles
que a têm como língua materna.

96
É claro que podemos, em uma aula, abordar a pronúncia e tentar aproximá-la
a um nativo; no entanto, devemos nos preocupar com outros aspectos mais válidos,
como ler e compreender diferentes tipos de texto, conseguir se comunicar em
diferentes esferas, compreender diferentes sotaques, etc.
Dentro da história, a fonética passou a ser estudada muito antes do que
imaginamos. Já na Antiguidade, por exemplo, os gregos e os romanos demonstravam
uma curiosidade sobre aquilo que hoje já distinguimos: a letra versus o fone.
No entanto, segundo Borstel, Klein e Hitz (2002), a grafia ainda era
extremamente influenciada pela maneira como se falava. Eles exemplificam essa
visão em seu trabalho:

Exemplifica-se com um fragmento de um texto arcaico de Vasconcelos sobre


o português escrito, provavelmente, do século XIII ou XIV: “Lenda do Rrey
Leyr – Este rrey Leyr nom ouue fi lho, mas ouue três fi lhas muy fermosas e
amaua-as muito. E huum dia ouue sas rrazõoes com ellas e disse-lhes que
lhe dissessem verdade, qual dêllas o amaua mais...” (VASCONCELOS, 1970,
p. 40, apud BORSTEL; KLEIN, HITZ, 2002, p. 356).

A fonética passou a ter reconhecimento nos estudos da língua a partir do século


XVII, com as pesquisas da fonética articulatória. No século XIX, conceituou-se a
fonética mais claramente, observando-a e comparando-a às demais línguas — surgiu,
assim, a conhecida “Lei de Grimm”, uma evolução de algumas consoantes nas línguas
germânicas.
Após esse avanço, muitos estudos pontuam que, antes de um professor de
língua ensinar a escrita, por exemplo, é imprescindível que o aluno entre em contato
com os aspectos fonéticos que remetem à audição e à oralidade. Diferentemente do
que constatamos no passado, hoje a fonética tem espaço importantíssimo nas aulas
de língua, visto que entendemos que, para uma aprendizagem efetiva, é necessária a
mobilização de quatro habilidades linguísticas: ler e escrever, ouvir e falar (FELIPE,
2015).
Além dessas habilidades necessárias, é com o estudo da fonética em sala de
aula que podemos refletir sobre alguns estigmas internalizados no ensino de língua,
oriundos do preconceito linguístico. Em contraste com a língua portuguesa, em que
o português brasileiro por vezes é visto como uma língua não correspondente ao
português de Portugal, o espanhol é regido e normatizado de forma unificada pela
Real Academia Española (RAE). Surgida em meados de 1700, essa instituição se

97
responsabiliza por alimentar, até hoje, tudo o que se refere à língua espanhola, como
variações fonético-fonológicas e lexicais, novas entradas lexicais, etc.
É importante notar que a RAE não tem uma referência específica, pois há 21
academias, dos 21 países falantes de espanhol, trabalhando a serviço do espanhol,
sendo, portanto, representante de no mínimo 21 variedades da língua.
Dessa forma, o espanhol nos é apresentado como uma língua falada em
diversos países, mas com variações específicas. Assim, quando abordamos em sala
de aula como é a pronúncia de determinada palavra na Espanha e na América,
estamos desmistificando o preconceito ainda existente de que apenas um espanhol é
“certo”, e que exclusivamente este deve ser ensinado em sala de aula.
Desse modo, a fonética colabora também, no estudo da língua, para
acompanharmos os diferentes modos de falar em diferentes regiões
hispanohablantes. Logo, ela permite também que estudemos aspectos interculturais
importantes que caracterizam a língua (FELIPE, 2015).

9.3 Diferentes pronúncias da língua espanhola a partir da análise fonética

Conforme o contexto social, histórico e geográfi co, a língua se modifi ca e


apresenta inúmeras variações, vistas na pronúncia, no léxico, na sintaxe, etc. A partir
da análise fonética, podemos averiguar os diversos modos de pronunciar a língua
espanhola pelo mundo. Vamos primeiramente estudar o alfabeto da língua espanhola
(Quadro 1) e, a partir dele, aprofundar o nosso conhecimento acerca das pronúncias
realizadas pelos falantes.

98
A letras que estão marcadas em negrito no quadro apresentam variações nos
21 países de fala espanhola. Por exemplo, na Espanha, a letra “Z”, diante de “A” “O”
e “U” (za, zo e zu), é pronunciada com o fonema [θ] (visto no th de think em inglês),
como em zapato [ θa 'pa to ].
Já na América, a mesma palavra é falada com outro alofone: a pronúncia é [ sa
'pa to ]. Esse caso ocorre também com a letra “C”, diante de “E” e “I” (ce e ci), como
em cielo.
Na Espanha, a pronúncia é [ 'θje lo ]; na América, é [ sje lo ]. Além dos exemplos
mencionados acima, a principal diferença entre os países latinos se configura na
pronúncia das letras “LL” e “Y”. Veja o Quadro 2.

99
Como você pôde perceber, falar espanhol corresponde não somente a
conseguir se comunicar, mas também a mergulhar em diferentes universos sociais e
linguísticos.
O nosso papel como professores perpassa o ensino formal desse idioma:
devemos conscientizar os nossos alunos de que o sotaque escolhido será
reconhecido em qualquer canto do universo.
Nesse sentido, a RAE cumpre bem o seu papel de respeitar todas as variantes,
fazendo com que elas formem essa unidade linguística e cultural heterogênea que é
a língua espanhola (FELIPE, 2015).

100
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