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Sumário
NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 4
1 - INTRODUÇÃO ........................................................................................... 5
5 - ESPÍRITO ................................................................................................. 13
5 .2 - ETIMOLOGIA ....................................................................................... 15
7 - O ALFABETO ........................................................................................... 16
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9.1 - A LÍNGUA GREGA, FATOR DE UNIDADE CULTURAL ....................... 35
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BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 40
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NOSSA HISTÓRIA
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1 - INTRODUÇÃO
A língua grega é um dos membros da grande família de línguas indo europeias, que
se estende por quase toda a Europa e parte da Ásia, particularmente o Irã e parte da
índia. A essa família pertencem, além do grego, outras grandes línguas culturais como
o sânscrito e o latim, assim como o armênio, o germânico, o báltico, o eslavo, o
albanês e diversas outras línguas menores.
A respeito do valor de estudar o grego do Novo Testamento, Martinho Lutero
escreveu:
O parentesco entre as línguas mencionadas pode ser observado, por exemplo, nos
seguintes vocábulos:
Pai: no grego é patér, no latim pater, no sânscrito pita, no antigo persa pitar, no gótico
fadar, no inglês father, no alemão Vater.
Mãe: no grego é méter, no latim mater, no sânscrito matar, no báltico mãte, no inglês
mother, no alemão Mutter.
De acordo com a linguística comparada, todas essas línguas provêm de uma raiz
comum, uma língua que era falada por um primitivo povo que teria habitado na Ásia
ocidental. Esse povo teria morado em grandes famílias organizadas segundo o
modelo patriarcal, num contexto agropecuário, com firmes convicções monoteístas.
Ainda que o Evangelho tenha chegado até nós através do Espírito Santo, é inegável
que tenha vindo também por meio de idiomas, e tenha sido conservado e divulgado
valendo-se deles... Tanto quanto apreciamos a Palavra de Deus, tanto devemos nos
esforçar também por aprender esses idiomas. Porque não foi em vão que Deus
decidiu transmitir as Suas Escrituras nessas duas línguas: o Antigo Testamento em
hebraico e o Novo Testamento em grego. Se Deus não desprezou esses idiomas,
mas os escolheu dentre todos os outros, para que neles fosse escrita a Sua Palavra,
também nós deveríamos honrá-los acima de todos os outros.
Estas palavras são dignas de serem consideradas por todos aqueles que apreciam a
Palavra de Deus. Quem se dispõe a estudar o grego do NT, está começando uma
tarefa realmente sublime, pois está valorizando a língua que Deus escolheu como
instrumento portador da Sua revelação escrita. Se Deus considerou que essa língua,
pelas suas características, é a mais apropriada para expressar a Sua vontade para
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com a Sua criação, verdadeiramente é este um idioma digno de ser estudado.
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Nenhum esforço requerido para aprender este idioma poderá ser considerado grande
demais, ou em vão. Imagine você ser capaz de ler e entender a Palavra de Deus em
seu texto original, sem depender da maneira como outros a entenderam e
traduziram...
No preparo para servir eficazmente ao Senhor num ministério baseado na Sua
Palavra, poucos estudos vão resultar em tantos benefícios e em tantas bênçãos
quanto o estudo do grego do NT.
Um provérbio latino reza: “Festina lente!”, “Apressa-te devagar”. O progresso lento,
mas persistente, é indispensável para o estudo da língua grega. Em nenhum
aprendizado isto é tão importante quanto no estudo do grego bíblico. Persistência,
acompanhada de um estudo minucioso e detalhista, é o primeiro requisito que deve
ser observado.
2. Período clássico - Este período, que foi de c. 900 a.C. a c. 330 a.C., tomou-se
conhecido graças a famosas obras literárias que aí tiveram origem e foram
preservadas até hoje: a Ilíada e a Odisseia, atribuídas a Elomero, são os exemplos
mais antigos da literatura grega, seguidas mais tarde por obras de Hesíodo, Heródoto
e Platão, entre outros. Nesse período, o dialeto que mais se destacou foi o ático. Esse
dialeto também chegou a ser a base principal para o grego koinê, o grego em que iria
ser escrito o NT.
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a.C. o Antigo Testamento em hebraico foi traduzido para o grego, nascendo assim a
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famosa Septuaginta (LXX), e o grego utilizado foi justamente o koinê. Mais tarde,
quando no primeiro século surgiram os escritos do NT, também foi este o grego
utilizado na sua redação.
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Com as conquistas de Alexandre Magno, a cultura grega, e, com ela, a língua, foi
levada para todos os povoados do Império Romano. Assim, o grego koinê chegou a
ser conhecido e utilizado universalmente - muito mais do que o inglês nos dias de
hoje. O grego koinê era a língua que o povo falava no seu dia-a-dia: foi o grego que
Jesus escutou na Galileia e em Jerusalém, o grego que Paulo usou para pregar em
Atenas, Corinto e Roma, o grego que Apoio aprendeu em Alexandria. Era a língua
dos instruídos, assim como a língua usada nas ruas e nos mercados; era a língua
usada no comércio, tanto quanto na correspondência familiar.
O Grego do Novo Testamento Com as conquistas de Alexandre Magno, a cultura
grega, e, com ela, a língua, foi levada para todos os povoados do Império Romano.
Assim, o grego koinê chegou a ser conhecido e utilizado universalmente - muito mais
do que o inglês nos dias de hoje. O grego koinê era a língua que o povo falava no seu
dia-a-dia: foi o grego que Jesus escutou na Galileia e em Jerusalém, o grego que
Paulo usou para pregar em Atenas, Corinto e Roma, o grego que apoio aprendeu em
Alexandria. Era a língua dos instruídos, assim como a língua usada nas ruas e nos
mercados; era a língua usada no comércio, tanto quanto na correspondência familiar.
Temos de lembrar que os escritores que Deus usou para escrever o NT eram judeus,
com exceção de Lucas. Estavam familiarizados com a vida religiosa judaica e
acostumados a falar um dialeto hebraico chamado aramaico. Quando utilizavam o
idioma grego, faziam-no dentro de seu estilo, impregnando-lhe seus traços
característicos. Além disso, estavam vivendo num mundo em que o grego koinê
também estava sofrendo influências do latim, que se propagava pelo Império
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Romano. Pensando em tudo isso, não é de se surpreender que o grego do NT
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apresente vestígios de todas essas influências.
Deus utilizou um idioma riquíssimo para registrar a Sua revelação. Valeu-se, para
isso, de pessoas que tinham linguagem e estilo particulares, mas que eram todos
homens de Deus, que falaram e escreveram da parte de Deus, movidos pelo Espírito
Santo (cf. 2Pe 1.21).
Os Romanos, reduzindo a Grécia a província romana (146 a.C.) e apoderando-se do
Não se pense levemente que o grego bíblico, e nomeadamente o grego do «Novo
Testamento», é apenas uma língua exclusiva da Sagrada Escritura; ela é antes uma
língua de génio popular, uma língua viva durante cerca de séculos. O grego
neotestamentário é também uma língua literária. Nela se escreveram, além dos Livros
Sagrados, contratos comerciais, inscrições religiosas e profanas, fórmulas de magia,
cartas particulares, etc.. Dela se serviram os historiadores Políbio (te . 120a.C),
Dionísio de Halicarnasso (fl. c. 31 a.C), Estrabão (tc.19 p.C), Filo de Alexandria (f 45
p.C), Flávio José (t 100 p.C). Plutarco (t 120 p.C), Padres da Igreja, etc.. Egito e do
Próximo Oriente, facilitaram a expansão da Kotvrj no Ocidente, em Roma, na Itália do
Sul e na Gália, pela ação dos marinheiros, mercadores e emigrantes. O grego foi a
língua universal; uma espécie de língua internacional, comum aos Sírios, Gregos,
Judeus da Palestina e da Diáspora, na África do Norte e na Cirenaica.
As descobertas de muitas inscrições gravadas em pedra e em chumbo e, muito
especialmente, a descoberta e a publicação dos papiros provenientes do Egito
trouxeram ao grego do «Novo Testamento» uma grande luz. Numerosas palavras até
então tidas como pertencentes exclusivamente ao grego bíblico foram encontradas
nos papiros egípcios e pertenciam, portanto, ao grego corrente. Novas luzes mesmo
advieram destas descobertas para a Exegese Bíblica.
O grego do «Novo Testamento» ressente-se, como naturalmente a Koivn) já se tinha
ressentido, da influência dos dialetos e falares das diversas partes do mundo grego:
Eólia, Jónia, Beócia, Tessália, etc.. Estas províncias e muitas outras regiões tinham,
originariamente, os seus dialetos diferentes. Quintiliano diz que Crasso, quando era
governador da Ásia, redigia as notas comerciais em cinco falares diferentes da língua
grega, segundo os seus clientes ( I ). E. embora não estejamos ainda em condições
perfeitas para avaliar com segurança da totalidade de vocábulos que destes dialetos
passaram para a Kotvy) e para o grego neotestamentário, é, porém, certo, que a fusão
de várias gentes, o contato das populações com tropas oriundas de diferentes partes,
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que serviam sob as ordens do conquistador macedónio, haviam, por certo, de
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introduzir novas palavras e conduzir a um idioma mesclado.
E, para melhor compreensão, exemplifiquemos:
São jónicos os termos: PxToaifia «aborto, feto abortivo» (l.a Cor. 15,8); (imtoTiajitóç,
«perfeita execução» (Lc. 14,28); e as formas: ùtrrêa (Lc. 24.39): òaréwf (Heb. 11,22):
àyiwrni (Lc. 5. 20): Dóricos: máÇco, «comprimir com as mãos» (Act. 3,7);
àfi<piáCMacedónios: $1*,% «rua estreita» (Mt. 6.2; Lc. 14,21); y.oáftftaroç, «leito
pobre» (Mc. 2,4.12; 6,55; Jo. 5,8); Fenícios: fivaaoç,, «linho fino» (Lc. 16,19: Ap.
18,12); àoQaftáVt «sinal, penhor» (2.a Cor. 1,22; 5,5); Persas: âyyanfvo), «requisitar»
(Mt. 27,32); payoi, «magos» (Mt. 2,1); yáitt, «tesouro público» (Act. 8.27); Tiaçáfotaoc.
«Paraíso» (Lc. 23.43).
Mas não foram só os dialetos gregos que através da Koivíj se fizeram sentir no grego
neotestamentário; também algumas línguas da época aí deixaram gravadas as suas
características peculiares.
4 - GREGO DA SEPTUAGINTA
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texto num período longo de tempo (desde o séc. III ao séc. I a.C. ou I d.C.). Por causa
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de tal situação, o texto da Septuaginta apresenta diversos níveis de compreensão e
de conhecimento da língua grega por parte dos tradutores.
O grego da Septuaginta apresenta simplificações gramaticais, modificações em
flexões em palavras e verbos, formas anômalas em numerais, entre outras
características. A sintaxe é fortemente influenciada pelo original hebraico da Bíblia. A
Septuaginta usa, constantemente, a conjunção καí (gr. e, mas) que corresponde à
conjunção hebraica Ãw (hebr. e, mas). O caso nominativo (caso que indica o sujeito
da frase) substitui, frequentemente, o caso acusativo (caso que indica o objeto direto
da frase), além da utilização da nova forma do superlativo que reproduz o estado
construto (caso que indica posse, igual ao caso genitivo) do hebraico bíblico, como
nos seguintes exemplos: £yinOd‹'Ah yEnOd‹': κúριος τν κυρíων (Senhor dos
senhores), cf. Dt 10.17. £yilAb‹h lEb‹h: Ματαιóτης ματαιοττων (vaidade das
vaidades), cf. Ec 1.2. £yikAlŸm ™elem: βασιλεùς βασιλéων (Rei dos reis), cf. Ez 26.7.
£yÊryiKHah ryiH: Αισμα σμáτων (Cântico dos Cânticos), cf. Ct 1.1.
Além da versão para o grego dos livros bíblicos compostos, originalmente, em
hebraico, alguns livros que constam no cânone da Septuaginta foram compostos
diretamente em grego, como os seguintes: Sabedoria de Salomão, Macabeus e os
acréscimos aos livros de Daniel e de Ester. Os estudiosos comentam que os livros
bíblicos da Septuaginta possuem as seguintes características: o Pentateuco e
Históricos são fiéis; Profetas e Salmos são literais; Cântico dos Cânticos e Eclesiastes
são servis. Por último, Jó, Provérbios, Daniel e Ester são traduções livres. Na medida
em que os livros se afastam do bloco do Pentateuco a qualidade da tradução decai.
Em relação à fidelidade à língua grega, os livros também não são homogêneos: Jó e
Provérbios são bons; o Pentateuco, Josué e Isaías são versões medíocres, os outros
livros são de qualidade inferior.
Por muito tempo acreditava-se que o nome de Deus [ הָיהְיYHWH “Jeová”] não
constava em exemplares da Septuaginta. Muitos acreditavam que os tradutores da
LXX haviam seguido o costume que se desenvolveu entre os judeus de
substituir [ הָיהְיYHWH “Jeová”] por Adonay durante a leitura da Tanakh. Por isso,
alguns argumentavam que, quando os escritores do Novo testamento citaram as
passagens do AT, eles não devem ter usado o Nome Divino nos seus escritos.
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Entretanto, uma série de descobertas feitas ao longo dos últimos cem anos revelou
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que o nome de Deus constava na Septuaginta. O desejo de preservar intacto o nome
sagrado de Deus era tão grande que, ao traduzir a Bíblia hebraica para o grego, os
judeus helenistas copiavam as próprias letras do Tetragrama no meio do texto grego.
Assim, será que o Nome Divino realmente aparecia nas primeiras cópias do Novo
Testamento? No Journal of Biblical Literature (Periódico de Literatura Bíblica),
George Howard [1], professor-adjunto de religião na Universidade da Geórgia,
escreveu:
“Visto que o Tetragrama ainda era escrito nos exemplares da Bíblia grega, que
compunha as Escrituras da primitiva igreja, é razoável crer que os escritores do N.T,
ao citarem a Escritura, preservaram o Tetragrama dentro do texto bíblico.” — 1977,
Volume 96, N.° 1, página 77.
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“SabemosFaculdade
agora que o texto grego da Bíblia [a Septuaginta], no que tange a ter sido
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escrito por judeus para judeus, não traduziu o nome Divino por kyrios [Senhor], mas
o Tetragrama escrito com letras hebraicas ou gregas foi retido em tais MSS
[manuscritos].” — The Cairo Geniza, páginas 222, 224.
Então, porque as cópias da LXX e do N.T foram alteradas posteriormente? Será que
o uso do nome de Deus causaria problemas para o cristianismo ortodoxo? Bem,
considere o que aconteceu quando o nome foi removido. Depois do primeiro século,
copistas “cristãos” substituíram o nome de Deus por palavras tais como “Deus” e
“Senhor”, tanto na Septuaginta como no N.T. Segundo o professor Howard, isto
provavelmente contribuiu para o tumulto pelo qual a cristianismo passou nos anos
posteriores:
5 - ESPÍRITO
Espírito (do grego pneu=ma = espírito, vento, sopro, respiração) é o sinal diacrítico
identificador ou qualificador da aspiração, pelo que também é conhecido por este
nome (aspiração). Aqui, aspiração não tem o sentido de inspiração da língua
portuguesa (movimento de ar entrando nos pulmões), mas sim o de ad spirare (soprar
a, para) do latim, com significação de assoprado ou soprado, que revela uma maior
ou menor intensidade do fluxo de ar para a prolação das letras gregas.
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Assim, de acordo com este critério, o espírito (ou aspiração) será forte (também
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denominado de áspero) quando for necessária uma intensidade maior de fluxo de ar
para prolatá-la, ou fraco (também chamado de brando) quando for necessária uma
intensidade menor de fluxo de ar para produzi-la. Neste último caso, a aspiração é
muito fraca e na prática significa ausência ou inexistência de aspiração. O espírito
forte ou áspero grafa-se ( )( e o fraco ou brando grafa-se ( )) .
Existem muitas fortes razões para se estudar o grego clássico. Algumas dessas
razões são de caráter prático, ou seja, quem conhece o grego possui habilidades que
lhe permitem realizar com maior desenvoltura as atividades intelectuais com as quais
está envolvido. Dentre elas, podem-se citar o interesse profissional, a habilidade
linguística e o conhecimento de etimologia. Além dessas razões práticas, existem
motivos associados à cultura geral, ou seja, todo aquele que está inserido na cultura
ocidental deveria tê-los presente para si, como, por exemplo, o conhecimento de
estruturas de pensamento, a percepção do distanciamento entre culturas, o
conhecimento dos mitos e a pertinência de questões fundamentais da existência
humana.
O estudo do grego clássico propicia ainda uma série de vantagens práticas a toda
pessoa que o aprende. O trabalho preciso e paciente exigido para a leitura do texto
grego conduz necessariamente a uma compreensão aprofundada da forma e do
conteúdo textual. O resultado disso é uma capacidade de utilização consciente da
própria língua portuguesa, que se revela extremamente útil para o processo de
elaboração de textos.
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5 .2 - ETIMOLOGIA
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- Política
- Anamnese
- Poliglota
- Isósceles
- Diálogo
- Rinoceronte
À primeira vista, pode parecer que o modo que pensamos é o único existente. Mas
com um pouco de investigação, logo nota-se que isso não é verdade. Quando
pensamos, por exemplo, usando substantivos (um coelho passou por aqui), estamos
implicitamente admitindo que existam seres permanentes no mundo (o coelho que
passou é o mesmo que eu vi depois, etc.). Existem línguas no mundo, no entanto,
que não usam substantivos, só verbos (“coelhou” aqui). A estrutura de pensamento
que utilizamos é o processo da longa história do pensamento e da linguagem, história
essa largamente registrada na língua grega, berço de nossa civilização. Estudando
grego, você irá aprender muito sobre como funcionam os mecanismos de nossa
linguagem de hoje.
Assim como no que concerne à linguagem, a cultura que temos hoje não é a única
existente. E para saber de nossa cultura, nada melhor do que conhecer uma outra
cultura, tendo assim o contraste necessário. A princípio, qualquer cultura serviria para
esse propósito, mas o estudo da cultura grega, por ser a origem da nossa, pode
revelar traços insuspeitados acerca de como vemos e agimos no mundo. E, para
conhecer a cultura grega, é imprescindível que se conheça a língua grega.
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6 - CONHECIMENTO DE MITOS
7 - O ALFABETO
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Ele é usado apenas no idioma grego, mas como foi a base da maior parte dos
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alfabetos existentes no ocidente é comum o mesmo ser utilizado até aos nossos dias.
Além da introdução das vogais, outra característica que distingue os alfabetos grego
e fenício é o fato de os fenícios escreverem da direita para a esquerda.
Essa forma foi inicialmente adotada pelos gregos, que mais tarde assumiram a
direção iniciada do lado esquerdo utilizada no português até hoje.
Mas, segundo historiadores, o alfabeto grego não foi o primeiro sistema de escrita
utilizado na Grécia.
Por volta de 1100 a.C. havia uma escrita denominada Linear B, a qual, todavia, se
perdeu, de modo que somente séculos depois teria surgido o alfabeto grego
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b) Na “pronuncia reuchliniana ou histórica” os ditongos tem um só sonido vocálico;
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enquanto na “pronuncia erasmiana” os ditongos são pronunciados “letra por letra”.
(1) A letra γ é um g gutural, duro (guê), que nunca tem som de jê. Entretanto, quando
o γ aparece antes de outra consoante gutural (grupamentos γγ, γκ, γξ, γχ) é
pronunciado como n, ou seja, deve ser nasalizado.
Assim, σπόγγος (spóngos) esponja, ἔλεγχος (élenchos) escrutínio, σφίγξ (sphinx) es
finge.
(2) O zeta (ζ) soa como fonema duplo, dz, não simples z.
(4) O capa (κ) e o qui (χ) se podem tomar como correspondentes ao nosso c ou q.
Todavia, quando seguidos de e ou i preservando a prolação forte: que ou qui.
(5) O qui (χ) é uma aspirada explosiva, sem equivalente em português, semelhante
ao ch do alemão ou ao jota do espanhol.
(6) A letra sigma minúscula ocorre em duas variedades, σ e ς, que datam dos tempos
medievais. A forma σ usa-se no início ou no meio da palavra; a forma ς é usada
somente no final da palavra (sigma final). Assim, escreve-se Σωσιγένης, Sosígenes.
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Numa linha de contiguidade, desenvolve-se o fulcro da reflexão heideggeriana
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centrado no ser, na verdade e na linguagem. O homem, no fundo, habita na verdade
do ser. A linguagem não pode ser vista como uma construção humana de sinais
convencionais; a linguagem é a casa do ser. Martin Heidegger percorre em viagem
iniciática os mistérios da linguagem humana e faculta-lhe um sentido ontológico
(principalmente em A caminho da linguagem, Unterwegs zur Sprache, Pfullingen,
1959).
É pela palavra que nos conhecemos e conhecemos o mundo. É pela palavra que
refletimos sobre a palavra e sobre o seu valor. É pela palavra, enfim, que se inicia o
sortilégio, o encanto e o mistério que é o uso e o conhecimento da língua. Ao
cogitarmos sobre a palavra, assoma-nos à mente a sua função face à realidade e ao
mundo que é «uma proposta muda para que falada exista», no verbo de Vergílio
Ferreira em Invocação ao meu corpo.
A língua é algo de íntimo que a palavra molda e metamorfoseia na nossa alma e, por
isso, é pátria, mas também espírito que conhece e se conhece na interação sortílega
entre a linguagem, a língua e o verbo.
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Inserida nas atividades culturais, entendendo nós que a cultura é todo o conjunto de
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atividades que são realizadas pelo homem como membro de uma comunidade, a
linguagem deve ser enquadrada no processo a que pertence.
Para isso, é necessário refletir sobre as suas finalidades e o seu modo de realização.
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Em 1962, surge o conceito de sistema modelizante do mundo. «Por sistema
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modelizante», escreve Lotman,«entendemos o conjunto estruturado dos elementos e
das regras; tal sistema encontra-se em relação de analogia com o conjunto dos
objetos no plano do conhecimento, da tomada de consciência e da atividade
normativa. Por isso, um sistema modelizante pode ser considerado uma língua».
Lotman pretende dizer que os sistemas modelizantes permitem ao homem uma
«organização estrutural com funções gnoseológicas comunicativas e pragmáticas do
mundo circundante» como nos diz Aguiar e Silva.
Aguiar e Silva (1) define sistema semiótico como «uma série finita de signos
interdependentes entre os quais, através de regras, se podem estabelecer relações
e operações combinatórias, de modo a produzir-se semiose» que Charles Morris
define de uma forma muito lata como «o processo no qual alguma coisa funciona
como um sinal».
O ser humano é levado a comunicar, a transmitir o que pensa, sente e conhece como
afirma Herculano de Carvalho: «...comunicar também indiretamente significa
estabelecer comunidade; que os homens realizam comunidade pelo fato mesmo de
que uns com os outros comunicam».
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Para satisfazer essa necessidade, o homem pode utilizar vários processos, por
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exemplo, qualquer uma das formas de arte, mas se a arte é, sem dúvida, um veículo
da comunicação humana, não é aquele que realiza essa função de um modo mais
completo e eficaz.
Assim, verdadeiramente, uma língua é uma pátria, uma percepção do mundo tal como
a palavra «é a marca da personalidade, do país natal, e da nação, o título de nobreza
da humanidade. O desenvolvimento da linguagem está tão inextrincavelmente ligado
ao da personalidade de cada indivíduo, do país natal, da nação, da humanidade, da
própria vida, que podemos perguntar se ele não será um simples reflexo ou se não é
tudo isso: a própria fonte do seu desenvolvimento», para recordarmos Louis
Hjelmslev.(3)
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O encanto da língua ganha matizes sem par quando no curso elocutório mais singelo
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do nosso quotidiano entabulamos um qualquer exercício discursivo no qual ecoa a
sua história.
Como sabemos, a maioria dos vocábulos portugueses provém do latim mas existem
inúmeras palavras que enriquecem o nosso português contemporâneo que vieram da
língua grega.
O grego é uma língua indo-europeia. Este grupo ou família engloba um conjunto algo
vasto de línguas que apresentam traços de similitude entre elas e que leva a pensar
numa origem comum, uma língua que sofreu sucessivas alterações e se
particularizou: o Indo-Europeu. Esta língua é uma hipótese (pois não existem
quaisquer documentos escritos que a atestem), sendo uma reconstituição elaborada
através do método comparativo a partir das várias línguas indo-europeias. Na
verdade, a gramática comparativa nasce deste exercício de comparação de línguas
cognatas (que têm uma origem comum), principalmente da análise e estudo do
sânscrito, grego e latim, possibilitando a tese da origem comum. Em teoria, o Indo-
Europeu corresponde à língua que os povos da Europa Central até às estepes
siberianas utilizaram cerca de 5.000 a.C.
De fato, a Grécia Antiga, no princípio da época histórica, não conhece uma só língua
comum a todos os gregos. Encontramos vários falares ou dialetos que ostentam
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diferenças significativas, principalmente no aspecto fonético, traduzindo o exercício
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linguístico num exemplo de diversificação explicada por razões históricas,
cronológicas (vários invasores), políticas e geográficas.
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Relativamente à escrita, relembremos que data do III.º milénio a.C. o seu uso na zona
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oriental do Mediterrâneo. Sir Arthur Evans (iniciou as escavações arqueológicas em
Creta) denominou a primeira escrita a ser usada na área geográfica grega de Linear
A. Tratava-se de uma escrita silábica (um signo = uma sílaba), utilizada de 1750 a
1400 a.C., localizada quase exclusivamente em Creta e que ainda não foi decifrada.
Uma última nota para o alfabeto grego. Os caracteres usados pelos Gregos eram
chamados (letras fenícias) pois apresentam muitas
semelhanças com o alfabeto fenício e é aceitável a tese que defende a sua origem
fenícia.
A herança clássica é uma luz perene em toda a civilização ocidental, desde a língua
até ao pensamento, das artes ao discurso, numa palavra, a cultura moderna está
animada pela cultura greco-latina.
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Como compreender a Antígona de António Pedro sem Sófocles ou os Encantos de
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Medeia de António José da Silva sem o original de Eurípides? Como compreender
clássicos e modernos, de Camões a Augusto Gil, de António Ferreira a Ricardo Reis,
Eugénio de Andrade ou Sophia de Mello Breyner Andresen, sem conhecer a cultura
clássica e mais concretamente nestes autores sem conhecer a herança grega?
Com efeito, a formação do homem passa necessariamente pela cultura, ideia que a
célebre metáfora de Cícero consagrou:
Tusculanas,II. 5.13.
Pomo da discórdia.
A deusa Éris, ou Discórdia para os Romanos, ressentida pelo fato de não ter sido
convidada para as bodas de Peleu e Tétis, colocou sobre a mesa do banquete onde
estavam as deusas Hera, Atena e Afrodite uma maçã com a seguinte mensagem
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«Para a mais bela». Gerou-se a discórdia. Por ordem de Zeus, Páris foi escolhido
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para resolver a questão. Hera aliciou-o com o domínio de toda a Ásia, Atena com a
sabedoria e a vitória em todas as batalhas e Afrodite ofereceu o amor de Helena de
Esparta, que Páris escolheu e viria a levar para Tróia, originando a histórica guerra
entre Gregos e Troianos.
Helena de Tróia, a mulher mais bela da Hélade. Raptada por Páris, originou a Guerra
de Tróia.
Jovem de grande beleza, protegido por Afrodite. Daí o verbo adonisar, «tornar
galante», «enfeitar-se» ou «tornar-se presumido».
Ser um apolo
Trabalhos ciclópicos
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Esforço titânico.
Os Titãs, de força inimaginável, eram filhos de Urano e Geia. Expulsos pelo pai,
regressarão ao poder até chegar Zeus, que os vence em combate. O Romantismo
explorará a faceta da rebeldia titânica configurando os seus heróis como altivos e
desafiadores.
Trabalhos de Hércules.
Ser um beócio.
Ser pouco inteligente. Os Beócios habitavam o centro da Grécia. Rui Barbosa utilizava
a expressão «os beócios deste país» (Brasil).
Ser um Édipo
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Édipo decifrou o enigma da Esfinge. Uma «tertúlia edípica» dedica-se à resolução de
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enigmas.
Cavalo de Tróia
Olhar esfíngico
Olhar de lince
Olhar de Argos
«Ver tudo». Argos tinha inúmeros olhos. Vigiou Io de Zeus, por ciúmes de Hera.
«Olhar que petrifica». Medusa, Górgona terrível, morta por Perseu, tinha serpentes
em vez de cabelos e tudo o que olhava transformava-se em pedra.
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Um labirinto
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«Uma questão intrincada sem saída aparente». Recorde-se o labirinto de Creta, onde
estava encerrado o Minotauro, morto por Teseu, que conseguiu fugir usando um fio
dado por Ariadne.
Ser um dédalo
Encantos de Circe
Encantos de Medeia
Ícaro, filho de Dédalo, voou demasiado alto, até ao Sol, que derreteu a cera das duas
asas. Atrevido, fracassou.
Barca de Caronte
Calcanhar de Aquiles
Aquiles fora banhado nas águas do rio Estige pela mãe Tétis, o que o tornou
invulnerável exceto no sítio onde a deusa lhe pegou. Aí acertou a seta disparada por
Páris na Guerra de Tróia, provocando a sua morte através do seu único ponto fraco.
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Canto das sereias
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Um nó górdio
Educação espartana
Espada de Dâmocles
Ou em linguagem mais prosaica, «para o dia de São Nunca». O primeiro dia de cada
mês, para os Romanos. Os Gregos não tinham calendas.
Lei draconiana
De Drácon, legislador ateniense do séc. VII a.C., caracterizado pela sua severidade.
Pedra de Sísifo
Impiedoso e cruel, foi castigado a rolar eternamente um rochedo nos Infernos como
castigo interminável.
Ser narcisista
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Narciso, jovem belo que desprezava o amor de todas as ninfas, foi castigado por
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Némesis: olhando para a sua imagem refletida numa fonte, apaixonou-se por si
próprio. O seu amor consumiu-o até à morte. Onde morreu, nasceu a flor que ostenta
o seu nome.
Rei da Lídia (560 a.C. e 546 a.C.) famoso pela sua colossal riqueza.
Suplício de Tântalo.
Foi castigado com a sede e a fome eternas: mergulhado em água até ao pescoço, ela
foge se quer beber; sobre ele pende um ramo com frutos que se afasta quando
Tântalo os quer agarrar.
Esposa de Júpiter. Para a proteger de Ixíon que a atacou, o pai dos deuses modelou
uma nuvem com a sua forma, enganando o seu perseguidor.
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melhores» de acordo com a noção social, e de plutocracia, regime em que a riqueza
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dita o acesso ao poder. Segundo o próprio vocábulo, democracia é o «governo pelo
dêmos», o povo. Um dos problemas que encontramos após a análise etimológica ou
linguística é definir exatamente o que era o dêmos na ilustre democracia ateniense
do séc. V pois podia significar «os cidadãos no seu conjunto» ou «os pobres, dentre
os cidadãos» como afirma Eutidemo quando dialoga com Sócrates sobre a
democracia (como nos mostra Xenofonte num passo da sua obra Memoráveis).
Quanto ao pedagogo, era o escravo que acompanhava as crianças às aulas de
música, ginástica ou das primeiras letras.
Trata-se de outra herança da vida política grega. Depois de Clístenes ter instalado a
democracia em Atenas em 508 a.C., foi criada uma lei que permitia à Assembleia
afastar qualquer cidadão que pretendesse instalar um regime pessoal ou tirânico. Os
cidadãos escreviam o nome do indesejado em cacos de cerâmica, os ostraka,
votando-o ao ostracismo, ao exílio, por 10 anos. Mégades, Temístocles, Aristides,
Címon e o próprio Péricles sofreram essa pena. Quando regressaram, estavam
esquecidos, daí o sentido que hoje encontramos na língua portuguesa.
Ainda que o aforismo «graecum est, non legitur» («é grego, não se lê!») se tenha
perpetuado ao lado de autores que consideram restrita a implantação do Grego na
cultura portuguesa, como Carlos Eugénio Paço d’Arcos que chega mesmo a afirmar:
«o grego não pegou em Portugal»(11), é grandiosa a herança.
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Tanto o topónimo Grécia como o etnónimo Gregos têm uma origem latina (Grécia e
Graeci) e originariamente designavam uma região e um grupo étnico do litoral do
Epiro até que entraram em Roma, através dos etruscos, ganhando uma nova
dimensão, ad aeternum.
De fato, apesar da variedade dialetal, podemos referir como Finley que o grego
«remained astonishingly stable for something like a thousand years», na linha do que
Heródoto afirmara convictamente quando opina que os helenos, aparentemente,
parecem usar desde sempre a mesma língua:
.
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Esta unidade dos Gregos era sentida também através dos Poemas Homéricos,
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principalmente aliada que narra a expedição de todos os Aqueus contra Tróia, como
nota Snell. As obras de Homero eram textos fundamentais na educação por toda a
Grécia Antiga, por vezes, decorados, como é o caso de Nicérato no Banquete de
Xenofonte (III, 5.6), para além de constituírem base para argumentação de toda a
ordem.
A união passa pela língua pelo que os Gregos cedo se «afastaram» culturalmente
dos não-Gregos. A dicotomia Grego-Bárbaro surge precisamente como argumento
linguístico: Bárbaro era o que não falava grego. Inicialmente, o sentido de bárbaros
liga-se a um som áspero, rude, ininteligível, que não é eufónico. Posteriormente, será
a designação do estrangeiro, cuja fala é comparada, não raras vezes, ao pipilar da
andorinha. Por isto, concordamos com K. Dover quando afirma que «what the Greek
cities had in common was their language and the community of culture which followed
from community of language».(7)
Um autor que afirma sem dúvidas a superioridade natural dos Gregos é Eurípides. O
tragediógrafo utiliza frequentemente o vocábulo bárbaros com profundo sentido
pejorativo chegando quase a tornar-se insultuoso. Por vezes, defende-se a
inferioridade moral dos Bárbaros, a supremacia dos Gregos que nasceram para
governar (e os Bárbaros para obedecer) e um verdadeiro catálogo de atributos
negativos dos não-Gregos: não respeitam os amigos, não admiram os mortos que
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faleceram heroicamente, são insensatos, impetuosos, sem moderação, instintivos,
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regem-se pela violência e não conhecem a razão, a justiça e as leis.(8)
Todavia, deve ser destacado o fato de que os não-Gregos não eram apenas
considerados com sentido pejorativo. Álcman, Safo e Alceu elogiam os Lídios, os
Egípcios são vistos como possuidores de poderes relevantes na medicina nos
Poemas Homéricos e Heródoto destaca algumas imitações dos Gregos relativamente
aos Bárbaros, para além dos Fenícios que levaram à Hélade inúmeros
conhecimentos, como o alfabeto. A dicotomia Gregos/Bárbaros deixará o seu sentido
estritamente linguístico a partir do segundo quartel do séc. V., passando a distinguir
quem possui cultura helénica e quem se encontra fora da sua órbita.
Esta antítese ganhou um verdadeiro fulcro emocional quanto toda a Grécia se uniu
para combater os Persas que eram vistos como um invasor com diferentes valores e
uma séria ameaça à independência. O teatro grego ajudou a cimentar a aversão aos
Persas, como atestam a tragédia de Frínico (493?) que se ocupa da destruição de
Mileto ou os Persas de Ésquilo com cenas comoventes de dramas familiares, irmãos
separados, deportados, fugidos ou errantes.
Mas o mais importante (e esta é a ideia que vingará) não é a língua diferente, o povo
ou a raça, o que interessa é estar integrado numa cultura, num ideal ou concepção
de existência (como se vê em Isócrates e mesmo Menandro) não importando que se
seja grego, persa, trácio, judeu ou romano.
Como tivemos ocasião de referir, os Poemas Homéricos podem ser vistos como um
verdadeiro indício da unidade (na diversidade) dos Gregos. A expedição dos Aqueus
contra os Troianos, chefiada por Agamémnon, rei de Micenas, indica uma união de
cidades e uma chefia, apesar da pluralidade. De fato, Vlachos vê neste rei um símbolo
da unidade política ao declarar que «Agamemnon n’est pas un simple stratège; il
encarne en sa personne et en sa dynastie l’unité matérielle, morale et politique d’un
ensemble composite, les Achéens, au sein duquel l’Était d’Argos joue un role
hégemonique inconstestable».
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Linguisticamente, os Poemas Homéricos apresentam formas de diversas épocas e
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elementos de quatro dialetos diferentes (iónico, eólico e em menor número arcado-
cipriota e ático), constituindo uma língua artificial que, muito provavelmente, não foi
falada.
Para além do valor próprio das questões da diversidade linguística, importa ressaltar
a importância dos Poemas Homéricos como elo de ligação entre todos os Gregos.
No séc. VI a.C., um filho do tirano de Atenas, Pisístrato, ordenou que fossem recitados
na íntegra, no festival das Panateneias. Podem ser ouvidos em concursos, como nos
dizem Heraclito e Platão, são aprendidos nas escolas, diz-nos Xenófanes e prova-o
Xenofonte, pelo que Homero é visto por Platão na sua República como o educador
da Grécia:
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e acima de tudo, costumes e ideias (respeito pela súplica, hospitalidade, sacrifício,
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coragem).
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BIBLIOGRAFIA
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