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Política Externa Brasileira I

Questões AV1

1.No cargo de Secretário Particular de D. João V (Rei de Portugal de 1706 até 1750) e diante da tarefa
central de negociar com o Império espanhol os termos do Tratado de Madri (1750), Alexandre de
Gusmão (Santos, 1695 – Lisboa, 31 de dezembro de 1753) formulou dois princípios estratégicos
extremamente importantes para fundamentar este compromisso ou Acordo: o uti possidetis e o das
fronteiras naturais. Com base na pesquisa de Synesio Sampaio Goes Filho no capítulo 9, “O Tratado de
Madri e Alexandre Gusmão” (GOES FILHO, Synesio Sampaio. Navegantes, Bandeirantes e Diplomatas:
um ensaio sobre a formação das fronteiras do Brasil, SP, Martins Fontes, 1999) explique o modo como
Alexandre de Gusmão articulou estes dois princípios no processo de negociação do Tratado de Madri
para obter a extensão das fronteiras do Império português na América do Sul muito além da linha de
Tordesilhas que foi incorporada posteriormente ao território do Brasil.

● A superioridade portuguesa no Tratado de Madri é, segundo o autor, consequência da ocupação


do território pelos portugueses;
● Sobre Alexandre de Gusmão, o que lhe garante um lugar de destaque na história brasileira são
suas ações de estadista e o seu papel de destaque nas negociações do Tratado de Madri com a
Espanha; - Muitos não o identificam como brasileiro, visto que ao defender o território brasileiro
estava defendendo antes o português e os interesses da coroa portuguesa.
● Antes do Tratado de Madri, o Brasil tinha se tornado um território amórfico e não demarcado,
pois o Tratado de Tordesilhas já estava sendo violado com a ocupação do interior do território,
porém essa ocupação não era, então, demarcada ou regular;
● A ocupação que ocorreu extra-tordesilhas para a região amazônica e para o centro-oeste, que deu
a vantagem portuguesa na reclamação desses territórios, era inversa no sul. Da região do
Sacramento e do Rio da Prata a ocupação maior e influência era espanhola, tendo, assim, maior
facilidade para reclamar o território;
● A ocupação portuguesa e não espanhola dos territórios da bacia amazônica tem uma explicação
geográfica. Enquanto Portugal possuía em seu território vias fluviais que facilitam o acesso à
região, o acesso espanhol estava prejudicado pelo terreno incerto dos Andes.
● Já na região centro-oeste houve maior resistência à ocupação portuguesa, os espanhóis estavam
mais perto na região do paraguai e argentina, e disputaram influência. Porém, a espanha se
encontrava enfraquecida por guerras e crises e não estava em condições de ocupar o interior do
continente, muito menos de impedir que os portugueses o fizessem.
● Os conflitos de disputa territorial mais importantes se deram na região do Prata. Apesar das
medidas de falsificação de mapas e de ocupação do atual sul do Brasil por Portugal para reclamar
o território, a Espanha tinha grande influência na região e acabou levando Portugal a ceder esse
ganho em troca dos ganhos no interior.
● Nas negociações do Tratado de Madri, houve a sorte de os ingleses intervirem a favor de Gusmão
e Portugal por temer a influência francesa na região da foz do amazonas.
● O governo português foi oportuno em ter um representante com grandes habilidades diplomáticas
e vasto conhecimento sobre as questões territoriais brasileiras.
● Alexandre de Gusmão era conhecedor da necessidade portuguesa de assegurar o território e
ganhar mais espaço, visto as perdas orientais para Inglaterra e Holanda. Seu objetivo era acordar
com a Espanha de maneira a incluir ao território português todos os espaços ocupados por
luso-brasileiros. Várias medidas foram tomadas para garantir a ocupação, como o incentivo à
imigração para o Sul e o interior, a cobrança de impostos minerais, o mapeamento dos territórios
e a concessão de capitanias.
● No tratado, Portugal ganhou vantagem sob os territórios americanos e a Espanha sob os orientais.
Alexandre de Gusmão foi essencial nesse processo por introduziu e validou o princípio
fundamental do uti possidetis no tratado, ou seja, os territórios ocupados por portugueses
pertenceriam à Portugual e os ocupados majoritariamente por espanhóis pertenceriam à Espanha.
Além disso, introduziu a delimitação de fronteiras de acordo com barreiras naturais, facilitando
sua identificação e acabando com a forma incerta e irregular dos territórios coloniais. Essass
foram as colunas do acordo.
● O protagonismo de Alexandre de Gusmão acaba com a assinatura do Tratado de Madri e com a
morte de D. João V.
● A assinatura do tratado foi em 13 de Janeiro de 1750 e foi responsável por legalizar a ocupação
dos territórios do sul, amazônico e do centro-oeste, dando ao brasil grande parte das delimitações
naturais e territoriais que conhecemos hoje.

2. José Bonifácio de Andrada e Silva foi nomeado pelo príncipe regente D. Pedro em janeiro de 1922,
ministro dos Negócios do Reino e dos Estrangeiros, reunindo as funções de primeiro ministro e chefe do
governo. Neste cargo foi responsável por conduzir a primeira fase de negociações diplomáticas
internacionais para o reconhecimento da independência do Brasil. Com base no estudo de Rubens
Ricupero, “Brasil no Mundo”, Parte 3, in: RICUPERO, Rubens. SCHWARCZ, Lilia Moritz (Dir.)
História do Brasil Nação: 1808-2010, Coedição Madrid, Fundación Mapfre e, RJ, Ed. Objetiva, vol. 1,
Crise Colonial e Independência 1808-1830, COSTA E SILVA, Alberto da (Coord.), 2011, pp. 115-195 e,
também, na “Introdução” de Jorge Caldeira in: CALDEIRA, Jorge. José Bonifácio de Andrada e Silva.
Org./introd. Jorge Caldeira, SP, Ed.34, 2002, analise o pensamento e a linha de atuação
político-diplomática de José Bonifácio durante os 18 meses iniciais a partir de 1922 em que esteve a
frente do processo do reconhecimento da independência do Brasil.

● Homem mais importante no processo de instauração da autoridade no Brasil independente, pois


comandou o reconhecimento da autoridade do Imperador pelo território nacional e foi o primeiro
a tratar os interesses brasileiros como alto próprio - Patriarca da Independência; ​inaugurou a
diplomacia brasileir com uma linha de firmeza e fidelidade aos interesses nacionais, nem sempre
alinhados com os dos governantes ou facções.
● Pensava a independência como apenas um passo na direção da criação de uma Nação, o seu real
objetivo - ​concebeu o primeiro projeto de modernização do país;
● Em seu tempo, o elemento de identificação entre os homens era o racial ou o linguístico, o que
vai influenciar muito sua influência posteriormente;
● Formado em direito e em filosofia e matemática pela universidade de Coimbra, teve contato
direto com as ideias pombalinas. Também, devido ao favoritismo na monarquia que ganhou com
sua inteligência, teve contato direto com a revolução francesa e com as monarquias autocráticas
nórdicas;
● Tinha uma preocupação especial com a preservação da natureza (proveniente de seus estudos) e
acreditava que a riqueza se produz a partir da concorrência e da liberdade individual de
empreender (ideário derivado da escola inglesa) - ideias iniciais de José Bonifácio;
● Logo que voltou para Portugal, com 37 anos, mudou de posição a respeito do empreendimento
pessoal, que não acreditava mais ser o único motivador do progresso econômico, reconhecendo a
necessidade de uma ação conjunta entre os atores individuais e a correta ação ação do governo. -
O bom governo passa a ser aquele que dirige com intervenção;
● Reconhecia a monarquia absoluta como o sistema de governo mais eficaz;
● Depois de muitos anos na Europa, volta ao Brasil com grande influência e ganha cargos regionais
de grande reconhecimento. - Nesse período, adequa seu pensamento à realidade brasileira,
defendendo a independência do Brasil e a instauração de um governo central próprio;
● Defende a independência do Brasil em relação à Portugal, mantendo em comum apenas a casa
reinante, uma certa regulação do comércio e as faculdades de declarar guerra. - O novo
governo-geral por ele idealizado seria composto pelos três poderes rousseaunianos mais um corpo
de censores para verificar esses poderes.
● Lista de problemas de José Bonifácio frente à realidade brasileira: civilização dos índios,
regulamento para a escravidão, mudança nas leis de propriedades de terras, instauração de cursos
superiores, mudança da capital para o interior;
● Desde que tomou posse da vice-presidência de São Paulo passou a enviar emissários para Minas
Gerias e o Rio de Janeiro com o intuito de formar uma frente de apoio ao governo central, sob o
comando de D. Pedro I - por mais que a maioria das províncias ainda preferirem se manterem
leais à Lisboa; ​Fórmula para a vida independente: monarquia constitucional, liberalismo
moderado, unidade centralizadora instituída a partir do apoio do triângulo Rio de Janeiro-São
Paulo-Minas Gerais.
● Quando chega ao cargo de primeiro ministro persiste em montar o que chamava de “centro de
força e unidade” no Brasil, que significava manter toda a estrutura administrativa existente
(inclusive a monarquia) e nela agregar as demais forças políticas. - Houve resistência tanto da
parte dos monarquistas, quanto dos liberais, porém acabou por convencer os monarquistas que a
Assembléia Constituinte era um mau necessário e os liberais de que a monarquia era um mau
necessário.
● Os objetivos da política externa: evitar aventuras portuguesas com a vizinha Argentina, buscar
armas para lutar e manter a boas relações com a Inglaterra, tentar impedir uma reação da Santa
Aliança a favor de Portugal, melhorar as relações econômicas com a França. ​Um dos raros que
abordavam as negociações com o ingleses sem insegurança, nem sentimento de inferioridade.
● Como força central no governo, José Bonifácio ganhou facilmente uma forte oposição por ser
pouco maleável - deixou se ser unanimidade nacional para ser ministro combatido tanto pelos
conservadores tanto pelos liberais e perdeu poder
● A oposição agravou-se pois propunha medidas graduais de suspensão da escravidão e
incorporação dos índios. - A sociedade brasileira era negreira, o tráfico representava uma grande
fatia do comércio nacional - Mesmo os liberais, federalistas e republicanos (iluministas)
defendiam a escravidão na época (Thomas Jefferson era escravista, apenas o Haiti tinha abolido a
escravidão nesse contexto)
● Ele defendia a formulação de uma Nação onde raça e religião não fossem critérios distintivos da
capacidade dos seres humanos devido ao COSTUME brasileiro do casamento entre pessoas de
raças e crenças diferentes, o que dava ao governo o dever de legitimar essas realidades. - Esse
projeto seria a longo prazo - Essa ação ia contra o costume eleitoral e da elite política nacional.
● No final de sua carreira, devido a oposição enfrentada, acabou exilado do país, retornando ao país
anos depois como Senador. - Ainda foi indicado por D. Pedro I como responsável pela tutela de
seu filho, porém não teve apoio político (desconfiança de que pudesse induzir a monarquia
novamente) e não pôde exercer o cargo. ​A sua saída do cargo entregou o processo negociador ao
grupo identificado com os interesses dinásticos e pessoais de D. Pedro I.

(Jorge Caldeira​ ​- ​Rubens Ricupero​)

3. Os congressos do Panamá (1826), de Lima (1847-48) de Santiago e de Washington (1856), o segundo


congresso de Lima (1864-1865) e o de Washington (1889-1890) realizados ao longo do século XIX
foram, segundo Luís Claudio Villafañe dos Santos no capitulo 2, “O Império e os congressos
interamericanos” (in: SANTOS, Luís Cláudio Villafañe Gomes; O Brasil entre a Europa e a América: o
Império e o interamericanismo, do Congresso do Paraná à Conferência de Washington. SP, Ed. UNESP,
2004) as manifestações mais concretas do interamericanismo neste período. O Império brasileiro reagiu
do ponto de vista político de formas distintas diante destas iniciativas interamericanas. Escolha um deste
congressos analisados por L. C. Villafañe no capítulo citado e explique os posicionamentos e as
considerações do Império brasileiro quanto a sua participação ou não participação político-diplomática
no Encontro.

● O Congresso do Panamá foi a iniciativa mais ousada de integração interamericana do século XIX.
● Símom Bolívar e seus esforços políticos foram os principais responsáveis pela realização no
congresso, apesar da sua ideia inicial incluir apenas os países de colonização espanhola.
● A escolha do Panamá era estratégica por ser o território das grandes organizações nativas da
antiguidade - associação com o iluminismo que tenta recuperar esses valores.
● Assim que eleito como presidente da Grã-colômbia, Bolívar enviou representantes aos demais
países americanos - desejava formar as bases de uma futura confederação.
● Bolívar procurou avançar seus projetos assinando tratados com o Peru (1882), com o México
(18823), o Chile (1823) e com a República Centro-Americana (1825). Apenas as Províncias do
Prata não se interessaram na iniciativa bolivariana.
● A ameaça da união das antigas colônias na América despertou alarde e resistência por parte dos
países europeus.
● A conferência foi adiada devido a conflitos internos e externos enfrentados pelo governo
bolivariano (incidente de Chiquitos, disputa territorial no Mato Grosso). - Bolívar temia que um
conflito local na região poderia dar um motivo de intervenção à Santa Aliança contra as suas
perspectivas integracionistas. O conflito teve fim com a retirada das tropas do governo do Mato
Grosso do território ocupado devido à desaprovação do império.
● Por causa de Chiquitos, os diálogos entre Bolívar e o império brasileiro se intensificaram, levando
o Brasil a ser convidado para participar do Congresso. Para representar o imperador no Congresso
do Panamá foi escolhido Teodoro José Biancardi, mas ele nunca chegou à conferência pois
receber ordens de retornar. O Império justificou a ausência por motivos pessoais, sendo que o
governo não confiava que o encontro não teria uma motivação republicana e contra-brasileira,
além das dificuldades de se chegar ao Panamá do Rio de Janeiro. Alguns teóricos (como
Seckinger) dizem que nunca houve uma real intenção de enviar um representante ao Congresso e
tudo não passou de um gesto simbólico de cooperação.
● O Congresso do Panamá aconteceu em 1826. Compareceram representantes da Grã-Colômbia, da
América Central, do Peru e do México e a Grã-Bretanha e Holanda enviar representantes que
assistiram como observadores. Chile e Províncias Unidas nem enviaram representantes.
● Houveram tentativas de fazer do encontro algo periódico, porém falharam e a iniciativa foi
abandonada em 1828.
● A não participação do Brasil do Congresso do Panamá evitou uma outra discussão, além do seu
governo ainda monárquico regido por um rei português RAZÃO ESTRUTURAL, a questão da
escravidão. A abolição do tráfico e da escravidão eram instruções de Bolívar para a participação
na conferência, considerando o comércio de escravos pirataria. Apesar do Império já ter um
comprometimento com a Inglaterra de cessar o comércio e aquisição de escravos, a realidade
passava longe desse cenário, não sendo de interesse nacional criar mais uma fonte de pressão
nesse assunto.
● As demais causas do Congresso também não despertavam o interesse do Império. O Brasil via
maior ameaça nos seus vizinhos republicanos do que na Europa, com que o Império tentava se
aproximar.
● O conflito com as Províncias Unidas sobre a região da Cisplatina era outro motivo para recear
participar do Congresso. Temia-se a possibilidade de Buenos Aires aproveitar a ocasião do
Congresso para propor uma aliança anti-brasileira. Porém, com a confirmação da ausência do
governo adversário no congresso esse medo se discipou. RAZÃO CIRCUNSTANCIAL.

4. Avalie por intermédio de exemplos e argumentos do próprio Alberto Costa e Silva nos capítulos “As
relações entre o Brasil e a África Negra, de 1822 à Primeira Guerra Mundial” e “O Brasil, a África e o
Atlântico no século XIX” (in: SILVA, Alberto da Costa e. Um Rio Chamado Atlântico: a África no Brasil
e o Brasil na África. RJ, Nova Fronteira, 2011), a interpretação do autor de que a política do Reino
Unido de combate ao tráfico de escravos no Atlântico durante o século XIX foi um instrumento de
construção de um império colonial na África. Como observou A. Costa e Silva, o Oitocentos foi também,
“o século em que o Reino Unido procurou fazer do Atlântico um mar britânico; o século em que se
destruiu o comércio triangular entre a Europa, a América e a África e em que foram desfeitas as ligações
bilaterais entre os dois últimos continentes”. (Costa e Silva, 2011, p. 53).

● Com o contexto da Revolução Industrial na Inglaterra, a questão da escravidão começou a se


tornar um problema, pois contrariava os novos objetivos e proposições morais e políticas que a
revolução envolvia.
● As mesmas forças que encorajaram o comércio negreiro começaram a condená-lo. Isso porque os
interesses haviam mudado. A questão do comércio do açúcar foi crucial, à medida que a
Inglaterra ampliava seus interesses na produção de açúcar na Índia (que, por sinal, trabalhava com
trabalho escravo), se tornava mais necessário o fim da escravidão africana no Atlântico. Assim,
eles diminuiriam a competição e dariam satisfação às Antilhas britânicas que já haviam sido
proibidas de manter a escravidão - se proibiram a escravidão em suas colônias não poderiam
continuar mantendo relações com países que ainda a mantivessem.
● O objetivo inglês era consolidar o domínio da Índia e fortalecer sua posição comercial frente às
comunidades africanas.
● Motivos para o entusiasmo da campanha inglesa contra o tráfico: sentimento humanitário, crença
européia na necessidade de uma revolução histórica - os mais civilizados deveriam conduzir os
menos ao caminho certo -, o prestígio da teoria da liberdade de comércio e o renascimento do
pensamento cristão de equidade.
● A luta com os traficantes de escravos acabou por tornar-se um grande instrumento para o
imperialismo e o fim da autonomia sistemática das estruturas políticas africanas. Sob o pretexto
de erradicar o tráfico e favorecer a liberdade de trocar comerciais destrói-se as demais redes
comerciais da população africana.
● Contra a vontade do governo inglês, começou-se a construir um grande aparato imperial na
África. - o governo não queria colônias ou protetorados, apenas os entrepostos comerciais seguros
e lucrativos oferecidos pela região - com a prerrogativa do combate ao tráfico, comerciantes,
missionários e cônsules assinaram tratados de proteção com chefes africanos sem a outorga da
coroa, forçando a marinha a atuar nas dinâmicas internas do continente.
● A tráfico de escravos, muitas vezes prisioneiros de guerras ou criminosos das tribos locais
vendidos pelos chefes, sustentava um aparato social. Ele trazia os recursos para a compra de
armas utilizadas as guerras entre as tribos locais. Com o seu fim, esses recursos pararam de entrar,
a economia de produção local não era suficiente para suprir sua falta. Assim, a dominação
ocidental se fez mais fácil, devido à falta de armamentos dos africanos e à sua economia
fragilizada.

5. As causas da Guerra do Paraguai (1864-1870) estiveram na conjuntura política interna dos países da
bacia platina e em suas vinculações exteriores, segundo Francisco Doriatioto em seu capítulo, “A
Guerra do Paraguai” (DORATIOTO, Francisco. “Guerra do Paraguai” in: MAGNOLI, Demétrio
(Org.). História das Guerras, SP, Contexto, 2006) assim como, na obra mais completa “Maldita Guerra”
(DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. SP, Companhia das
Letras, 2002). Portanto, foram disputas no âmbito das políticas regionais que levaram o Império
brasileiro, a Argentina e o Uruguai a formalizarem uma coalizão político-militar contra o Paraguai por
intermédio do Tratado da Tríplice Aliança, assinado no primeiro dia de maio de 1865. Com base na
pesquisa de Doriatioto referendada, explique este quadro de rivalidades, internas e externas, nas
políticas dos países da bacia do prata envolvidos na Guerra do Paraguai que esteve nas origens deste
conflito internacional considerado o mais mortífero da América do Sul no Século XIX.
● A Guerra do Paraguai foi possivelmente a mais violenta e de maior duração da América Latina,
sendo resultado de conflitos ideológicos entre os governos envolvidos.
● Durante a década de 60 e 70 surgiram teorias que culpabilização a aspirações imperialistas
britânicas pelo conflito, sob a prerrogativa de que tal governo teria usado o Brasil e a Argentina
para atacar o Paraguai e impedir a sua tentativa de desenvolvimento autônomo. Essa teoria,
porém, não se sustentou, pois na sua tentativa de desenvolvimento, o Paraguai utilizava mais
tecnologia e mão de obra inglesa e européia do que os seus vizinhos.
● Todos os países envolvidos no conflito tiveram motivações internas para corroborar com a guerra:
1) A Argentina passava por um processo de centralização do poder depois de muitos anos de
guerra civil. O governo central, burguesia mercantil de Buenos Aires, enfrentava o ataque dos
federalistas que desejavam manter suas autonomias regionais. Nesse contexto, a rivalidade com o
governo paraguaio começou com o apoio de Solano López aos federalistas argentinos; 2) O
governo uruguaio, recentemente feito independente, enfrentava dilemas políticos nacionais
(blancos vs. colorados)e se via ameaçado pelo Império do Brasil e pela Argentina, tento conflitos
territoriais com ambos. Buscou apoio em López; 3) O Brasil vivia um império fragilizado e,
devido ao seu regime político, era relativamente isolado de seus vizinhos americanos, porém
enfrentava ameaças na região do Rio Grande do Sul que tinha uma forte tendência
segregacionista; 4) o Paraguai foi excluído no momento em que seus vizinhos adotaram governos
liberais e ele continuou com a ditadura conservadora, o que fez com que López de sentisse
ameaçado. Além das pretensões expansionistas do governo.
● O governo brasileiro vinha procurando um pretexto para invadir o território uruguaio e em 1864 o
fez sob a prerrogativa de defender brasileiros que lá residiam das agressões do governo local.
Nesse sentido, o governo uruguaio já tinha cuidado de convencer Solano López de que uma
investida ao Uruguai pelos brasileiros e argentinos intentaria contra a sua independência,
desejando dividir seu território entre eles, e o Paraguai seria o próximo da lista. Solano López já
tinha avisado que retalharia qualquer investida contra o Uruguai, porém o governo brasileiro não
esperava que fosse levar suas palavras à ações.
● López colocou 22 mil homens em marcha para enfrentar as tropas brasileiras no Uruguai (possuía
no total muito mais homens do que o exército brasileiro e argentino somados).
● Argentina e Brasil entraram em acordo sobre o Uruguai, a proximidade ideológica entre eles
facilitou a paz. Do lado brasileiro considerava-se importante manter aliança com as elites gaúchas
no Uruguai e do lado argentino Mitre precisava neutralizar eventuais apoios aos seus adversários
federalistas, que mantinham fortes relações comerciais com o governo uruguaio.
● Antes que os paraguaios pudessem chegar no local de conflito, a novo presidente uruguaio,
cedendo a pressão dos comerciantes sobre o ônus comercial da guerra, fez um acordo de paz com
Brasil e Argentina. Nesse momento, formou-se a Tríplice Aliança contra o Paraguai, mais
especificamente contra o governo de Solano López.
● A partir desse momento a situação mudou de figura. Além dessa mudança de conjuntura da
rendição dos blancos em Montevidéu, parte da culpa da derrota paraguaia recai sobre seus
comandantes, que, desobedecendo ordens, invadiram cidades do sul e deram tempo para serem
cercados.
● Ao final, com as tropas paraguaias reduzidas, a guerra tornou-se uma caçada ao ditador Solano
López, que resistiu com uma pequena armada por mais algum tempo depois do esgotamento da
força expedicionária brasileira e argentina, sendo morto apenas em 1870.
● A Guerra do Paraguai impactou os quatro países envolvidos. 1) No Brasil, apesar do poder
monárquico ter atingido seu ápice no poderia nacional (militar, financeiro e diplomaticamente), o
esforço para a guerra drenou os investimentos e a mão de obra necessárias para o projeto de
modernização e crescimento interno, levando à ascensão do republicanismo e à crise no sistema
escravocrata. 2) Na Argentina, o conflito contribuiu para a centralização definitiva do poder. 3)
No Uruguai, mais dois anos de lutas internas se seguiram para consolidar um governo nacional. 4)
O Paraguai perdeu território para o Brasil e Argentina (regiões de disputa territorial a muitos
anos), além das enormes perdas populacionais e a perda da autonomia política pelos próximos
anos, sendo tutelado pelo governo brasileiro. Além disso, o Paraguai e o Uruguai serviram de
estados-tampões entre Argentina e Brasil no contexto dos conflitos territoriais na bacia do Prata.

6. O historiador inglês Leslie Bethell atribuiu maior atenção as relações econômico-comerciais entre a
Grã Bretanha e o Brasil desde o reconhecimento da independência até o final da década de 1880 em seu
estudo sobre a política exterior do Império. (“O Brasil no Mundo” BETHELL, in: SCHWARCZ, Lilia
Moritz (Dir.) História do Brasil Nação 1808-2010, Coedição Madrid, Fundación Mapfre e RJ, Ed.
Objetiva, vol. 2, A Construção Nacional 1830-1889, CARVALHO, José Murilo (Coord.), 2012.). Com
base neste estudo, caracterize a influência comercial e financeira da Grã Bretanha sobre o Brasil no
decorrer do século XIX, bem como, o ambiente de crescente insatisfação, ou mesmo de revolta no Brasil
em relação à permanência de privilégios e interesses de ingleses na economia e no mercado doméstico.
Conclua a sua resposta com uma avaliação sobre as relações de aproximação do Império com os
Estados Unidos nas últimas décadas do século XIX.

● O governo no império brasileiro procurou, em sua independência, reconhecimento internacional,


principalmente de países como a Inglaterra, com que mantinha fortes relações comerciais. O
apoio internacional era importante por, além de outras coisas, impedir uma possível iniciativa da
Santa Aliança para restaurar o domínio português no Brasil. Além disso, tal reconhecimento seria
importante para garantir a autoridade do imperador frente aos regionalistas, separatistas e
republicanos.
● Conseguir o reconhecimento inglês era de extrema importância, pois além de ser o país que saiu
das guerras napoleônicas triunfante, ele possuía um relacionamento direto com a coroa
portuguesa. Com a invasão napoleônica, Portugal dependia da Inglaterra para garantir o seu
domínio ultramarino, além da libertação do país em si.
● A Inglaterra tinha sido a principal beneficiária do livre comércio, principalmente para Portugal e
seus domínios, porém ainda não estava satisfeita com essa posição. Ao trazer a família real para o
Brasil, logo propôs o Tratado de Navegação e Comércio e começou com sua política
abolicionista. Assinou-se também o Tratado de Aliança e Amizade.
● Essa situação pressionou o imperador a conceder à Inglaterra o direito de combater o tráfico em
alto mar, principalmente caçando navios negreiros e levando suas tripulações à tribunais
específicos anglo-portugueses. Houve também a abertura dos portos às nações amigas, da qual a
Inglaterra foi a principal beneficiária.
● A partir de 1815, a influência inglesa no Brasil recuou. Porém, com a Rev. Liberal em Portugal e
a volta do Imperador que levou à Independência do Brasil revelaram uma rápida maneira de
reconquistar esse poder com reconhecimento do novo império. Além disso, era interesse inglês a
preservação de um governo com quem já tivesse comunicação e alianças ao invés de um outro
republicano qualquer.
● A rapidez do reconhecimento da Independência por parte do governo inglês também se relaciona
com a percepção da tentativa separatista que pressionava pelo país. Além de verem nessa
urgência uma brecha para combater de vez o tráfico no Brasil.
● A Inglaterra pressionou para a criação de leis abolicionistas e que proibissem o tráfico. Mesmo
assim o tráfico clandestino continuou a prosperar até que um governo mais centralizado e firme
foi construído forte o suficiente para confrontar as elites locais e abolir o tráfico.
● A Inglaterra ainda possuía uma relação próxima com Portugal e, por isso, preferia que eles
reconhecessem a independência primeiro. Para que isso acontecesse, o Brasil teve que assumir 2
milhões em dívidas portuguesas com bancos ingleses, além de se comprometer que não possuía
intenções para as demais colônias na África (que, devido ao tráfico, mantinham relações mais
próximas com Brasil do que com Portugal).
● Os tratados foram vistos, pelo menos pela elite local, como uma grande perda e sacrifício dos
interesses nacionais. Ameaçou a soberania nacional para atender às demandas de uma potência
imperial que buscaba seus próprios interesses econômicos e ideológicos em um momento de
vulnerabilidade do Brasil.
● A Inglaterra não ofereceu nenhuma reciprocidade e a balança comercial estava totalmente a seu
favor.
● Com o tempo, o Brasil começou a ganhar finalmente sua autonomia fiscal e soberania nacional.
Em 1844, o Brasil revogou o tratado comercial com Inglaterra, sendo que essa não apresentou
muita resistência pois já tinha mercado sólido no território visto que metade das importações
brasileiras vinham do comércio com a Inglaterra.
● A Inglaterra além de principal parceira comercial também era a principal fonte de capital do
Império, com enormes investimentos em serviços e ferrovias.
● Os EUA vinham desde sua independência buscando formar um Hemisfério Ocidental longe da
influência européia e sob o ideal republicano. Foram, então, a primeira República americana a
reconhecer a independência do Brasil.
● Apesar de enfrentar o Brasil sobre questões no Amazonas e ter relações comerciais fracas, apesar
de amistosas, houveram grandes tentativas de aproximação. A Doutrina Monroe foi a responsável
por esse movimento e a Conferência Pan-Americana um exemplo dessa tentativa de aproximação.
● O imperador brasileiro foi o primeiro monarca a visitar os EUA.

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