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SECCHI - Politicas Publicas CAP1
SECCHI - Politicas Publicas CAP1
Sumário
PrefáciomXIII
XMMMPolíticas públicas
Contextualização histórica,m25
As coalizações em torno da causa,m26
O período pós-homologação,m28
Bibliografia utilizada para a construção do minicaso,m29
Questões do minicaso,m30
2.8 Exercícios de fixação,m30
2.9 Referências do capítulo,m30
SumárioMMMXI
5.1.3 Burocratas,m83
5.1.4 Juízes,m86
5.1.5 Grupos de interesse,m87
5.1.6 Partidos políticos,m88
5.1.7 Meios de comunicação – mídia,m90
5.1.8 Policytakers,m92
5.1.9 Organizações do terceiro setor,m93
5.2 Modelos de relação e de prevalência,m94
5.2.1 Modelo principal-agente,m94
5.2.2 Redes de políticas públicas,m96
5.2.3 Modelos elitistas,m98
5.2.4 Modelo pluralista,m99
5.2.5 Triângulos de ferro,m100
5.3 Minicaso: atores contagiados pelo pânico,m101
Questões do minicaso,m103
5.4 Exercícios de fixação,m103
5.5 Referências do capítulo,m104
Referências,m127
Prefácio
XIVMMMPolíticas públicas
PrefácioMMMXV
Estrutura do livro
Este volume não segue a forma clássica de organização de um livro de polí-
ticas públicas. Na literatura internacional de políticas públicas, o eixo central
de apresentação dos conteúdos é o processo de política pública, mais co-
nhecido como ciclo de política pública (policy cycle). Com o policy cycle dá-
-se ênfase à separação do processo de elaboração de políticas públicas em
fases interdependentes, desde o nascimento até a extinção da política pú-
blica. Várias propostas analíticas foram feitas para o ciclo de políticas públi-
cas, entre as quais se destacam as de Lasswell (1956), Lindblom (1968), May
e Wildavsky (1978) e Jones (1984). O policy cycle é geralmente separado
nas seguintes fases: identificação do problema, formação da agenda, formu-
lação de alternativas, tomada de decisão, implementação, avaliação e extin-
ção da política pública.
Esse esquema clássico, no entanto, tem a limitação de não colocar em evi-
dência as diversas dimensões analíticas disponíveis para um estudo mais
completo sobre os elementos que constituem uma política pública.
O presente livro também considera o ciclo de políticas públicas. No en-
tanto, ele o faz como uma apresentação da dimensão temporal das políticas
públicas (Capítulo 3). As dimensões de análise que pautam este livro são:
XVIMMMPolíticas públicas
Leonardo Secchi
Florianópolis, julho de 2010
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capítulo 1
Introdução: percebendo
as políticas públicas
Países de língua latina como Brasil, Espanha, Itália e França encontram difi-
culdades na distinção de alguns termos essenciais das ciências políticas. Na
língua portuguesa, por exemplo, o termo política pode assumir duas cono-
tações principais, que as comunidades epistêmicas de países de língua inglesa
conseguem diferenciar usando os termos politics e policy.
Politics, na concepção de Bobbio (2002), é a atividade humana ligada a
obtenção e manutenção dos recursos necessários para o exercício do poder
sobre o homem. Esse sentido de “política” talvez seja o mais presente no ima-
ginário das pessoas de língua portuguesa: o de atividade e competição polí-
ticas. Algumas frases que exemplificam o uso desse termo são: “meu cunhado
adora falar sobre política”, “a política é para quem tem estômago”, “a política
de Brasília está distante das necessidades do povo”.
O segundo sentido da palavra “política” é expresso pelo termo policy em
inglês. Essa dimensão de “política” é a mais concreta e a que tem relação com
orientações para a decisão e ação. Em organizações públicas, privadas e do
terceiro setor, o termo “política” está presente em frases do tipo “nossa po-
lítica de compra é consultar ao menos três fornecedores”, “a política de em-
préstimos daquele banco é muito rigorosa”.
O termo política pública (public policy) está vinculado a esse segundo
sentido da palavra “política”. Políticas públicas tratam do conteúdo con-
creto e do conteúdo simbólico de decisões políticas, e do processo de cons-
trução e atuação dessas decisões. Exemplos do uso do termo “política” com
esse sentido estão presentes nas frases “temos de rever a política de educa-
ção superior no Brasil”, “a política ambiental da Amazônia é influenciada por
ONGs nacionais, grupos de interesse locais e a mídia internacional”, “percebe-
-se um recuo nas políticas sociais de países escandinavos nos últimos anos”.
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2MMMPolíticas públicas
A abordagem estatista admite que atores não estatais até têm influência
no processo de elaboração de políticas públicas, mas não confere a eles o pri-
vilégio de estabelecer e liderar um processo de política pública. Já acadêmi-
cos da vertente multicêntrica admitem tal privilégio a atores não estatais.
Por exemplo, uma organização não governamental de proteção à natureza
que lança a seguinte campanha: “plante uma árvore nativa”. Esta é uma orien-
tação à ação, e tem o intuito de enfrentar um problema de relevância coletiva.
No entanto, é uma orientação dada por um ator não estatal. Aqueles que se
filiam à abordagem estatista não a consideram uma política pública, porque o
ator protagonista não é estatal. Por outro lado, autores da abordagem multi-
cêntrica a consideram política pública, pois o problema que se tem em mãos
é público.
Neste livro nos filiamos à abordagem multicêntrica, por vários motivos.
Primeiro, porque essa abordagem adota um enfoque mais interpretativo
e, por consequência, menos positivista, do que seja uma política pública. A
interpretação do que seja um problema público e do que seja a intenção de
enfrentar um problema público aflora nos atores políticos envolvidos com o
tema (os policymakers, os policytakers, os analistas de políticas públicas, a mí-
dia, os cidadãos em geral).
Segundo, porque evitamos uma pré-análise de personalidade jurídica de
uma organização antes de enquadrar suas políticas como sendo públicas. Uma
prefeitura tem personalidade jurídica de direito público e, por isso, elabora
políticas públicas? A Petrobras tem 60% das ações em mãos privadas, então
não elabora políticas públicas? Quem nomeia o presidente da Petrobras é o
presidente da República, então suas políticas são públicas? Uma organização
que tenha 50% de suas ações controladas pelo Estado passaria a elaborar po-
líticas públicas se o Estado comprasse mais uma ação? Consideramos este tipo
de verificação infrutífera.
Terceiro, porque entendemos que essa abordagem tem aplicação em um
espectro amplo de fenômenos, fazendo que o instrumental analítico e con-
ceitual da área de política pública possa ser aproveitado por mais organiza-
ções e indivíduos.
Quarto, porque acreditamos que a distinção entre esfera pública e esfera
privada seja mais útil que a distinção entre esfera estatal e esfera não esta-
tal. O papel do Estado varia em cada país, e muda constantemente dentro de
um mesmo país. Estão cada vez mais evidentes as mudanças no papel do Es-
tado moderno e o rompimento das barreiras entre esferas estatais e não es-
tatais na solução de problemas coletivos, tais como o tráfico internacional de
drogas, a fome, as mudanças climáticas, o combate a doenças infectoconta-
giosas. Uma pluralidade de atores protagoniza o enfrentamento dos proble-
mas públicos.
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4MMMPolíticas públicas
Políticas
públicas
Políticas
governamentais
não fazer nada e “deixar como está para ver como é que fica”. Nesse tipo de
situação, temos a falta de uma política pública voltada para a solução do pro-
blema da seca. Se todas as omissões ou negligências de atores governamen-
tais e não governamentais fossem consideradas políticas públicas, então tudo
seria política pública. Ademais, seria impossível visualizar a implementação da
política pública, bem como seria impossível distinguir entre impactos da po-
lítica pública e o curso natural das coisas, a casualidade.
A decisão de não agir não pode ser confundida com a orientação dissua-
siva. Políticas públicas são operacionalizadas com orientações persuasivas ou
dissuasivas. Exemplos de orientações persuasivas são: plante uma árvore, va-
cine seu filho, aplique multa ao motorista embriagado. Exemplos de orienta-
ções dissuasivas são: não corte as árvores nativas, não sonegue impostos, não
gaste mais do que arrecada. Em todos esses casos, temos uma tentativa de in-
terferência do policymaker, ou seja, aquele que protagoniza o estabelecimento
dessa diretriz, sobre o policytaker, ou seja, aquele que é destinatário da di-
retriz. Já no caso da omissão, o policymaker decide não interferir na realidade
e, por isso, há um vazio de política pública.
6MMMPolíticas públicas
Dentro desse modelo de educação superior, há a exigência de processo seletivo dos estudan-
tes que tem por objetivo fazer uma triagem meritocrática da demanda. No caso das universi-
dades públicas, essa política pública corresponde ao vestibular, e é dirigida para evitar uma so-
brecarga nas salas de aula e para que haja nivelamento cognitivo dos alunos presentes em sala.
Dentro do modelo de vestibular, as universidades têm a possibilidade de escolher o formato de
suas provas de seleção. Algumas universidades passaram a exigir que os vestibulandos redi-
gissem por escrito a resposta das questões, pois acreditavam que provas de múltipla escolha
não eram suficientes para uma boa seleção. Essa política pública é direcionada para a resolu-
ção do problema de incapacidade que as provas de múltipla escolha têm em verificar a con-
sistência argumentativa e o nível de português escrito dos candidatos.
O exemplo anterior mostra que a política pública pode ser composta por
mais políticas públicas que a operacionalizam. Para deixar mais claro esse en-
tendimento, relacionaremos o exemplo do ensino superior à imagem de um
cabo de aço.1 Veja a Figura 1.2 a seguir:
Arame
central
Arame
Perna
Cabo de aço
1
Sempre há limitações no uso de metáforas para sintetizar a realidade. O uso da metáfora
do cabo de aço, composto por “pernas” e arames sistematicamente entrelaçados, pode pas-
sar a falsa impressão de que as políticas públicas são coerentes entre si, organizadas, de
tamanhos padronizados etc. Os próximos capítulos deste livro tentam mostrar que a ir-
racionalidade e o paradoxo são elementos presentes no processo de política pública.
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Problema
Situação ideal
Status quo
possível
2
Apesar dessa tentativa de objetivação do que seja um problema público, a quantidade e
a qualidade das pessoas que ensejam uma política pública também são suscetíveis a in-
terpretações. Um exemplo: a situação de desamparo de 3 mil trabalhadores demitidos de
uma empresa privada é geralmente interpretada como problema público por algumas ver-
tentes políticas, enquanto outras consideram esse mesmo desamparo um problema par-
ticular de cada um dos trabalhadores.
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8MMMPolíticas públicas
40 45 Gulf of Aden 50
DJI
Boosaaso
Shimoins
10 Berbera PUNTLAND 10
SOMALILAND
Hargeysa
Garoowe
ETHIOPIA
ine
Galcaio
L
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Baidoa INDIAN
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KENYA
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