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05/12/2022 10:59 Lembrar e esquecer: rastros e restos da pandemia – Lacuna

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LACUNA
U M A R E V I S TA D E P S I C A N Á L I S E – I S S N 2 4 4 7 - 2 6 6 3

Revista Lacuna / 10 de agosto de 2022 / -13, artigo

Lembrar e esquecer: rastros e restos da pandemia


por Patrícia do Prado Ferreira

Esse pequeno texto partiu de inquietações que me atravessam especialmente na clínica


desde do que seria uma espécie de “retorno” à vida antes da pandemia. Escutando
analisandos, experienciando os dias, compartilhando com colegas, há algo que faz ruído
e por essa razão me atrevo nestas linhas. Observo que as pessoas vão trazendo ou se
furtando em suas narrativas de algo em comum que aparece verbalizado como uma
sensação de atraso, de tempo perdido ou escassez produtiva. Algumas “escolhas” feitas
durante a pandemia também são questionadas sem relação ao contexto — como
mudança ou perda de trabalho, planos suspensos, relações que se perderam no caminho.
A cada vez que isso aparece, sem generalizações, há algo que fica de fora da conta e que
compreendo como sendo a não contabilização do período exigente de restrição
pandêmica.

Empresto de Freud, em “Lembranças encobridoras”[1], o exercício de interrogar para


tentar compreender porquê uma temporada tão dura em que passamos enclausurados
tentando nos proteger de um “inimigo invisível” está sendo deixada fora da conta. A
primeira hipótese que me aparece é que esquecer o que se passou e apagar os rastros, tal
como sabemos com a psicanálise, é um mecanismo psíquico próprio ao que poderia ser
compreendido como “traumático”. Afinal, memória, lembrança e esquecimento são
problemas cruciais com os quais se depara Freud e que o permite avançar em sua
elaboração teórica.

Se por um lado isso me parece uma resposta um tanto convincente para que se possa
seguir em frente, por outro, questiono se poderíamos também compreender como um
retorno a um estado de captura de uma lógica social de produtividade que, em certa
medida, teria sido balançada quando pensar sobre “a vida” como efeito da ameaça da
morte tomou conta de nossos dias. Isto é: a volta aos dias sem a escancarada urgência de
sobreviver teria realocado os sujeitos nas “linhas de produção”, forçando o

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esquecimento, (re) alienando-os em torno de seus trabalhos, realinhando um modo de


vida em que o sujeito não participa ativamente, mas responde à lógica que o captura.

Antes, relembro a pesquisa multicêntrica desenvolvida sobre os sonhos na pandemia[2].


Todo material onírico ao qual se teve acesso foi “colhido” voluntariamente de pessoas
que compartilharam seus sonhos, nos deixando ter notícias do árduo trabalho psíquico
que estava em curso nas noites dormidas e sonhadas. Definitivamente, a pandemia
exigiu esse trabalho exaustivo do psíquico em uma tentativa de dar algum contorno ao
real — pois consideramos que em 2020 o real bateu à porta.

Nesse contexto, os sonhos tiveram uma função de buscar elaborar aquilo que às
representações escapava. Foi um momento em que, não por acaso, diversas pesquisas
interessadas em processos oníricos foram desenvolvidas em razão do vasto material que
transbordava. Aos poucos, a produção de sonhos foi reduzida, embora pudesse ainda
aparecer recortes muitíssimo interessantes no estilo próprio aos sonhos, como Freud[3]
afirmava, de realização de desejo, numa viva demonstração da lógica do desejo
inconsciente. Depois do primeiro instante traumático em que nas produções oníricas
apareciam máscaras, medo, morte, monstros disformes, o que a clínica mostrou foi que
nos sonhos vieram festas, encontros, bares, shows. Minha hipótese era de que o trabalho
psíquico via sonhos naquele momento (mais ou menos ao final do ano de 2020),
apontava para a sociabilização. Era uma tentativa de respiro depois de tanto tempo sem
encontrar grupos de amigos, sem colocar o corpo com outros na rua, sem partilhar
coletivamente. Foi o “jeito psíquico” possível que algumas pessoas encontraram para
amaciar a dureza daqueles dias.

A partir de quando se estabeleceu algum tipo de controle da pandemia — certamente


desde doses de vacinas — aquilo que era sem data, sem rumo, começou a encontrar uma
trilha. Aos poucos algumas pessoas voltaram a trabalhar fora de suas casas (embora
outras permaneçam em home office), escolas retomaram aulas, universidades ensaiaram
modelos possíveis e garantiram o sistema híbrido, misturando o ensino remoto ao
presencial. Temos, assim, o tal do “novo normal” ou uma possível volta à normalidade.
Mas essa é uma possibilidade?

Diversos outros autores[4], durante a fase mais aguda da pandemia, apontaram e


apostaram (de forma otimista e também de forma pessimista) em uma possível mudança
coletiva, na necessidade de tomada de consciência, de transformação de formas de estar
no mundo, alertando a impossibilidade, em diferentes termos, de retorno para o que
estava antes. É o que poderia ser compreendido como uma “oportunidade” advinda da
crise sanitária e, com isso, uma insurreição de uma dimensão crítica urgente, a
pandemia crítica, como anunciou esse conjunto de textos aos quais me refiro e que,
oxalá, não deveriam tais reflexões caírem no esquecimento. Como a antropóloga Alana
Moraes formulou:

Enquanto proposição ontológica, a hipótese epidêmica nos abre a possibilidade de


pensar um mundo não como ele “deveria ser”, mas a partir de suas próprias
proposições imanentes, febris. Podemos agora imaginar e experimentar como a
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vida e a política na vida poderiam ser de outra maneira. Reativar essa “Inteligência
coletiva” como trabalho primordial nessa dobra de cumplicidade entre ciência e
luta: ‘cada um aprendendo a pensar pelos outros, graças aos outros e com os
outros’, como vem falando Stengers, como prática de retomar “o tempo e a
liberdade para se colocar problemas que valham a pena”.[5]

Pois, é entre coisa e outra que se situa o exercício de lembrar e esquecer. É claro que,
como a conhecida passagem de Heráclito de Éfeso sugere, não é possível banhar um
mesmo rio duas vezes, o que coloca em imagem que esse “desejo de retorno” é barrado
pela realidade: há pessoas que não estão mais, há escritórios que não existem mais, há
sentidos que se perderam no meio do caminho — para ilustrar com passagens banais a
expressão menor do que poderia ser compreendido como a impossibilidade de retorno
“a um mesmo lugar”, sem cair em sustentações teóricas que há muito são elaboradas por
tantas pessoas a respeito dessa passagem. Não me ocuparei aqui, considerando o que
está dado: não é possível voltar por não existir o mesmo. Cabe ainda o questionamento
do que nomeio de “empuxo ao familiar”, que retomo mais a frente.

Os sonhos, como colocado anteriormente, deram a notícia do trabalho psíquico


convocado pelo aparecimento de um vírus real, ameaçador e ‘castrador’, recurso que,
como Freud nos mostrou, é também saída possível para lidar com experiências
traumáticas, lembrando aqui que há uma distinção entre trauma constitutivo do sujeito e
o trauma contingente. O trauma inconsciente vai pedir ao sujeito uma resposta que é
singular e, em razão disso, cada sujeito respondeu à sua maneira, recorrendo à sua
fantasia particular. Mas, pode-se considerar a pandemia como traumática?

Um primeiro ponto na tentativa de responder a essa questão é fazer um uso livre e


recorrer a etimologia do trauma, lembrando que o significado de τραῦμα é ferida, isto é,
uma abertura, um hiato[6]. Schermann diz que pode se referir “a uma ruptura em um
discurso, seja particular ou social”[7] e que, no caso da pandemia, “a noção de trauma
poderia ser estendida ao social”[8], na medida em que essa ruptura atingiu a todos. Além
disso, a psicanalista afirma que a situação coletiva de pânico, no sentido de se tratar de
algo que assola todo um conjunto, também permite considerar que experienciamos um
trauma social. Enquanto civilização de um mesmo tempo não havíamos atravessado algo
dessa dimensão e, portanto, encontrávamos carentes de registro imaginário e simbólico,
o nos demandou, como mostraram especialmente os sonhos (mas não só) um trabalho
psíquico [Verarbeitung] constante.

Colette Soler[9] diz que um dos maiores “traumas da civilização” — traumas não sexuais e
não constitutivos — que atravessou a psicanálise ainda em Freud foi a Primeira Guerra
Mundial, em 1914. Freud junto aos seus pares elaborou posteriormente sobre a neurose
de guerra e, em 1918, propôs no V Congresso Internacional de Psicanálise em Budapeste
que algo do alcance público psicanalítico fosse revisitado. Isso convocou a um repensar a
prática clínica limitada aos consultórios particulares e como desdobramento surgiram
pela Europa as clínicas públicas[10].

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Uma guerra pode, lembra Soler, ser considerada da ordem de um traumatismo


contingente, pois promove rupturas que tomam tanto sujeitos como civilização, em “um
real que exclui o sujeito, sem relação com o inconsciente ou com o desejo próprio de
cada um, um real com quem ele depara e diante do qual, como se diz, o sujeito “não pode
fazer nada”, exceto sofrer as consequências, como tantos outros rastros que
consideramos inesquecíveis”[11]. É nesse passo que se pode tomar a pandemia e, mais
especialmente, as restrições que dela vieram, como algo da ordem do traumático
contingente e que deixou rastros.

É um acontecimento que também poderia ser relacionado a um entrelaçamento das três


das maiores fontes de sofrimento elencadas por Freud em Mal-estar na civilização[12],
sendo: a fragilidade do próprio corpo, a força da natureza e a relação com as outras
pessoas. Entendo aqui que “coronavírus” pode ser localizado numa espécie de não-
controle possível da “natureza”; força essa que ameaçava os frágeis corpos na iminência
de contaminação, de transmissão do vírus, de não resistir à morte e, para tanto, foi
preciso tocar na terceira fonte de sofrimento freudiana: as relações com os outros
sujeitos, que passaram a ser ameaças (ainda mais) reais. O traumático contingente
encontrando as três maiores fontes de mal-estar do sujeito.

Relembro no intuito de marcar — deixar aqui registrado o rastro — que o período


pandêmico exigiu das pessoas um intenso trabalho psíquico. Tratou-se, sobretudo, de
uma luta travada contra a possibilidade da morte (especialmente antes das vacinas),
colocando todos em um campo de batalha angustiante. Adaptamos nossas vidas,
restringimos nosso espaço, nos privamos. Não tomo aqui um conjunto que inclui “todas
as pessoas”, pois há aquelas que não tiveram opção de não se arriscar por exigências do
trabalho[13], assim como os “negacionistas” tentavam ignorar a realidade.

Longe de ser uma ode ao não-esquecimento, como se devêssemos continuar presos às


lembranças e não colando à operação do recalque, o que poderia cair sobre a lógica da
repetição, o que busco tentar entender como esse mecanismo do esquecimento “pós-
pandêmico” pode ser compreendido, por um lado, como uma saída para seguir adiante
do traumático e por isso atrelado a um trabalho psíquico; mas, por outro, uma demanda
própria ao nosso tempo, em que antes de tudo, precisamos deixar o que se passou para
trás e retornarmos imediatamente à lógica produtiva — sem tempo para elaboração.

Ao cairmos na armadilha de não colocar na conta o período de restrição e o alocarmos


em um passado distante, algo retorna como cobrança superegoica e ideia fantasiosa de
que aquele momento teria sido “improdutivo”. Digo isso, na medida em que a sensação
de “atraso”, de que “ficou parado”, “como se tivesse perdido um tempo” e que agora era
para estar “em outro momento” aparece no divã, seja em referência ao trabalho, seja em
planos afetivos, amorosos. É como se operasse algo de uma lógica de produtividade
própria ao capitalismo que tentasse apagar o registro e os rastros dos dias pandêmicos,
recapturando o sujeito, deixando também para trás as reflexões críticas, singulares ou
coletivas. Chamo isso, nesses termos, de “empuxo ao familiar”, como uma espécie de
recurso psíquico ao qual se pode fazer uso para esquecer, para deixar de lembrar, para

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apagar. Seria uma combinação entre o próprio ao traumático e a lógica que estrutura o
campo social, como se um atuasse em colaboração com o outro.

O escritor Julián Fuks reuniu em um livro textos que escreveu durante a pandemia que
são um testemunho sobre acontecimentos e pensamentos pandêmicos. Destaco aqui um
trecho de Haverá uma história?:

Haverá uma história para contar quando tudo isso acabar? Haverá razão para ouvir
essa história, e paciência para acompanhar as minúcias de tantas vidas
interrompidas, tantas vidas paralisadas em destempo? Será narrável a magnitude
dessa experiência, tão absoluta e insistente, que de um momento para o outro se
apoderou do mundo inteiro e não nos abandona tão cedo? Ou preferiremos não
narrar nada, nos render ao desejo de seguir em frente, de deixar tudo para trás, de
esquecer, recalcar, ocultando de nós mesmos uma vivência desoladora e agônica,
sem redenção possível?[14]

As perguntas que Fuks levanta nesse trecho destacado, assim como o que questiona em
companhia de Walter Benjamin em O narrador[15] comungam com o que aqui busquei
pincelar. Benjamin é evocado por Fuks a partir da observação contida no início do texto
benjaminiano, de que os combatentes retornavam mudos dos campos de batalha, mais
empobrecidos em comunicar. Depois, Fuks considera que “contar uma experiência
particular será correr o risco de só encontrar ouvidos cansados, ouvidos que se
identificam de imediato e então já não querem ouvir, já podem tomar o diálogo por
terminado”[16]. Esta passagem de Fuks remete-se, com intenção ou não, aos sonhos de
Primo Levi[17] em As nossas noites em que ele narra a indiferença dos que escutam. Os
sonhos que sonham nos campos de concentração, que não é somente uma produção
onírica que lhe pertence, mas que é também o sonho de Alberto e “talvez de todos”. A
cena que se repete de uma narrativa que não é escutada.

Essas considerações são relevantes em tudo que abrem de possibilidade para pensar a
questão da importância da narrativa, do testemunho, assim como para a função e o
desejo de esquecer. No entanto, considero que elas se aproximam do que pode estar
implícito em tentar “retornar ao que era antes”. Depois de tudo, isso pode ser uma
artimanha de contorno que envolve satisfação ao sujeito que agora pode (finalmente)
voltar a algo que conhece bem — o que, em certa medida, pode ser considerado
“familiar”, ao contrário do que foi a ruptura do traumático contingente, que demandou
saídas criativas (e exaustivas) aos sujeitos e ao coletivo frente ao desamparo do não-
sabido que se instaurou. Se antes a ideia era de que surgiria “outra vida”, o que talvez
testemunhemos agora é um “alívio” de retorno ao familiar, ao conhecido.

Isso faz com que o esquecimento seja meio para seguir adiante, embora o traumático do
pandêmico esteja registrado e contabilizado na vida. Nós todos estivemos lá, é possível
sentir rastros e os restos, mesmo que psiquicamente tentemos esquecer. ♦

Referências
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BENJAMIN, Walter (1935) “O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”.


Em: Benjamin, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da
cultura. Obras escolhidas – volume 1. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1987. pp. 197-221.

DANTO, Elizabeth Ann (2005) As clínicas públicas de Freud: psicanálise e justiça social,
1918-1938. Trad. Margarida Goldsztajn. São Paulo: Perspectiva, 2019.

DUNKER, Christian. et al. (2021) Sonhos confinados: o que sonham os brasileiros em


tempos de pandemia? Belo Horizonte, MG: Autêntica.

FREUD, Sigmund (1899) Lembranças encobridoras. Em: Volume III das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud. Trad. de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

_____. (1900) A interpretação dos sonhos.. Em: Vol. IV das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud. Trad. de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

_____. (1930) O mal-estar na civilização. Em: Vol. XXI das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud. Trad. de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FUKS, Julián. Lembremos do futuro: crônicas do tempo da morte do tempo. São Paulo:
Companhia das Letras, 2021.

LEVI, Primo. (1947) É isto um homem? Trad. Luigi Del Re. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.

MORAES, Alana. Atravessar como Medusas contra as coordenadas dos Heróis. Disponível
em: <www.n-1edicoes.org/textos/65>. Acessado em: 11 jul. 2021.

PELBART , Peter Pál e FERNANDES, Ricardo Muniz (orgs.). Pandemia crítica – Outono e
Inverno 2020. São Paulo: Edições Sesc/N-1 edições, 2021.

SCHERMANN, Eliane Zimelson (2020) O que uma psicanalista tem a dizer sobre a
pandemia do novo coronavírus? In: Café História – História feita com cliques. Disponível
em: <www.cafehistoria.com.br/uma-psicanalista-fala-sobre-novo-coronavirus>.
Publicado em: 30 abr. 2020. ISSN: 2674-5917. Acesso: 05 jul. 2022.

SOLER, Colette (2009) De um trauma ao outro. Trad. Cícero Alberto de Andrade Oliveira.
São Paulo: Blucher, 2021.

* Patrícia do Prado Ferreira é psicanalista, supervisora clínica, pesquisadora e


professora convidada do curso de pós-graduação em Psicoterapia de Orientação
Psicanalítica na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

[1]
Neste escrito, Freud vai se ater à amnésia dos anos de infância, pensando sobre uma
espécie de seleção da memória. Chama atenção de Freud que o conteúdo das lembranças
infantis se relacione a situações que ele considera indiferentes, sem tanto afeto

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envolvido, enquanto que acontecimentos que teriam afetado veementemente uma


criança, não são necessariamente preservados. Freud formula interroga no sentido de
querer saver o que levaria algo significativo a ser reprimido e o indiferente ser
lembrado.
[2]
Os textos provenientes desse trabalho podem ser consultados no livro: DUNKER,
Christian et al. (2021) Sonhos confinados: o que sonham os brasileiros em tempos de
pandemia? Belo Horizonte, MG: Autêntica.
[3]
FREUD, Sigmund. (1900) A interpretação dos sonhos.. Em: Vol. IV das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Trad. de Jayme Salomão. Rio de Janeiro:
Imago, 1996.
[4] PELBART, Peter Pál e Fernandes, Ricardo Muniz (orgs.). Pandemia crítica – Outono e
Inverno 2020. São Paulo: Edições Sesc/N-1 edições, 2021.
[5]
MORAES, Alana. Atravessar como Medusas contra as coordenadas dos Heróis.
[6]
É também o que designa cicatriz, como se utiliza na Odisseia para se referir a cicatriz
no pé do Ulisses. Cicatriz, de todo modo, refere-se a uma abertura que já esteve, um
rastro.
[7] SCHERMANN, Eliane Zimelson. O que uma psicanalista tem a dizer sobre a pandemia
do novo coronavírus? In: Café História – História feita com cliques.
[8]
SCHERMANN, Eliane Zimelson. O que uma psicanalista tem a dizer sobre a pandemia
do novo coronavírus? In: Café História – História feita com cliques.
[9] SOLER, Colette. (2009) De um trauma ao outro. Trad. Cícero Alberto de Andrade
Oliveira. São Paulo: Blucher, 2021, p. 21.
[10]
DANTO, Elizabeth Ann. (2005) As clínicas públicas de Freud: psicanálise e justiça social,
1918-1938. Trad. Margarida Goldsztajn. São Paulo: Perspectiva, 2019.
[11]
SOLER, Colette. (2009) De um trauma ao outro. Trad. Cícero Alberto de Andrade
Oliveira. São Paulo: Blucher, 2021, pp. 22-23.
[12]FREUD, Sigmund. (1930) O mal-estar na civilização. Em: Vol. XXI das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Trad. de Jayme Salomão. Rio de Janeiro:
Imago, 1996.
[13]
Afinal de contas, milhares de pessoas mantiveram suas rotinas para que outras tantas
“pudessem” manter o ficar em casa – discussão que ultrapassa a dos serviços essenciais
que foram mantidos e abrange também uma separação social. No entanto, não pararem
suas rotinas não os colocavam necessariamente em situação de alienação ou indiferença
frente ao vírus.
[14]
FUKS, Julián. Lembremos do futuro: crônicas do tempo da morte do tempo. São Paulo:
Companhia das Letras, 2021, p. 61.

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[15]
BENJAMIN, Walter. (1935) “O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai
Leskov”. Em: Benjamin, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e
história da cultura. Obras escolhidas – volume 1. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo:
Editora Brasiliense, 1987. pp. 197-221.
[16]
FUKS, Julián. Lembremos do futuro: crônicas do tempo da morte do tempo. São Paulo:
Companhia das Letras, 2021, p. 61.
[17] LEVI, Primo. (1947) É isto um homem? Trad. Luigi Del Re. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.

COMO CITAR ESTE ARTIGO | FERREIRA, Patrícia do Prado (2022) Lembrar e esquecer:
rastros e restos da pandemia. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. -13, p. 02,
2022. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2022/07/27/n-13-02/>.

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