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VALE DO PARAÍBAPAULISTA
FABIO RICCI*
Introdução
A origem social dos industriais no Brasil tem sido objeto de análise de vários
autores.(DEAN, 1971: 25-87; BRESSER PEREIRA, 143-164) O ponto de partida para
a análise está na constatação de que é no vínculo do produto básico de exportação com o
comércio exterior que surgem os efeitos de encadeamento para outras atividades.
Decorre daí que a origem social dos empresários industriais residisse no comércio do
café, pois sendo o comércio exterior o setor dinâmico do sistema, é no seu
comportamento que está a chave do processo de crescimento dessa etapa.(FURTADO,
1981:142). O capital comercial investia em atividades industriais como forma de
diversificação de seus interesses, assim como surgiram explicações que apontam uma
vinculação direta do capital dos cafeicultores às atividades industriais, além daquela dos
imigrantes.
As referências sobre as origens sociais dos empresários no Brasil são aquelas
constituídas de pesquisas cuja base geográfica se concentram em grandes empresários
de São Paulo e proximidades. Recentemente essas pesquisas tem se ampliado
significativamente, com novas pesquisas e estudos.
De fato, a questão não está totalmente respondida. Pesquisas realizadas por estudiosos
de outras regiões e analisando casos específicos tem obtido outros resultados.
Barbosa( 2006) pesquisando o setor calçadista de franca demostra um processo
evolutivo de pequeno artesão para manufatura e grande indústria. Os empresários do
setor são de origem humilde, brasileiros e descendestes de italianos.
Brandão(2012)aponta a origem de imigrantes pobres para os empresários industriais
pioneiros de Ribeirão Preto. Pesquisa recente de Jacques Marcovitch(2003;2008;2009)
*
Doutor história econômicaFFLCH-USP;UNITAU-Universidade de Taubaté-Programa de pós-graduação
em desenvolvimento regional
amplia as pesquisas e traz dados intrigantes que se acrescentam às anteriores. Ele nos
mostra vários empresários cujas origens estão em outros países que não a Itália Por que
nos referimos à Itália? Porque esta é origem da maioria dos empresários imigrantes
indicados pelas pesquisas da região da capital de São Paulo.
Visando contribuir com essa discussão fizemos uma pesquisa documental, tomando por
base atas de fundação das empresas sobre as empresas têxteis pioneiras na região do
Vale do Paraíba no Estado de São Paulo.
Nosso ponto de análise é o de que a lógica do capital, que é a sua reprodução, buscando
otimizar a geração de excedentes e as condições objetivas para a sua aplicação é que
levaram ao investimento em atividades industriais. Portanto, os agentes econômicos
detentores de algum capital buscaram investir nessas atividades.
As indústrias pesquisadas
Conclusão
Após as considerações anteriores, podemos apontar algumas evidências quanto às
origens étnico- sociais dos empresários na região do vale do Paraíba no estado de São
Paulo.
Primeiramente, devemos observar que as indústrias instaladas na região antes da
Primeira Guerra Mundial contaram com a predominância do capital originado nas
atividades urbanas locais e no capital acumulado nas atividades agrícolas, notadamente
o café. A Malharia Nossa Senhora da Conceição, a Sociedade Anônima Jacarehy
Industrial e a Companhia de Tecidos de Malha “Filhinha” S/A, tiveram o capital inicial
investido gerado nas atividades urbanas, mesmo quando das mudanças do controle do
capital acionário, exceto na Malharia, que teve um período, de 1885 a 1898, com
controle acionário de fazendeiros.
Em relação à CTI, a maior parte dos investidores também era de origem urbana. A CFT
Guaratinguetá foi a única empresa organizada antes da Primeira Guerra Mundial e que
continuava em operação em 1930 contando com predominância de capital de origem
agrícola. Porém, algumas observações devem ser feitas. A Companhia não obteve êxito
em sua instalação antes da Primeira Guerra, sendo reorganizada logo após, alterando a
composição acionária, passando assim a ser majoritário o capital vindo de investidores
da cidade de São Paulo.
Outro aspecto a ser observado é a quase totalidade de imigrantes ou descendentes de
imigrantes na direção técnica das fábricas. O diretor-técnico da Companhia de Tecidos
de Malha “Filhinha” e da CTI, como vimos, João Ferraz e Felix Guisard, eram
brasileiros, porém, filhos de imigrantes e tinham experiência e tradição no setor.
Assim, é confirmada no Vale do Paraíba Paulista a afirmação de Warren Dean, de que
os empresários brasileiros veio da elite rural ou dos imigrantes europeus urbanizados.
Embora não controlassem efetivamente as indústrias, os cafeicultores com seus
investimentos legitimavam a opção industrial como alternativa para o processo de
crescimento regional e os imigrantes ou seus descendentes viabilizavam, no
gerenciamento da produção, os empreendimentos.
Quanto a situação dessas indústrias ao final da década de 1920, o controle acionário
mostram investidores originários de São Paulo ou do Rio de Janeiro, cidades que
possuíam maior dinamismo industrial no país, com predomínio de estrangeiros,
demonstrando uma forte ligação com casas comerciais que tinham interesse em manter
uma base de distribuição operacionalmente mais eficiente, utilizando fabricantes no
Brasil. Destacamos a ausência complata de investidores vindos das classes populares,
mostrando uma decadência econômica e de empreendedores na região. O poucoi
dinamismo econômico da região do Vale do paraíba, que convivia com a decadência da
atividade cafeeira explica essa ausência.
Bibliografia
Fontes documentais
Arquivo Diário Oficial do Estado de São Paulo
Ata da Assembléia Constituinte, 16/11/1911, D.O.E., 28/11/1911, p. 4652.
Ata AGO 16/2/1922, D.O.E., 16/3/1922, p. 1925.
Ata AGE 25/10/1911, D.O.E., 7/11/1911, p. 4253-4254..
Ata Assembléia de Constituição 27/3/1914, D.O.E., 16/4/1914, p. 1701.
Ata Assembléia Geral Ordinária 24/4/1911. D.O.E. 22/8/1911, p. 3221.
Ata Assembléia de Constituição 27/3/1914, D.OE., 16/4/1914, p. 1701.
Ata AGE 25/11/1918, D.O.E., 10/12/1918, p. 5819.
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20/7/1920, p. 4406.
Ata AGE 19/6/1920. D.O.E., 20/7/1920, p. 4404.
Translado da Escritura de Constituição da Companhia Industrial Limitada de Caçapava.
D.O.E., 21/12/1912, pp. 5275-5277.
Ata AGO 20/1/1917, D.O.E., 24/1/1917, p. 374;
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Ata AGO 27/1/1920, D.O.E., 5/2/1920, p. 801:
Ata AGO 25/1/1921, D.O.E., 12/2/1921, p. 978.
Lista de Acionistas. D.O.E. 5/5/1909, p. 1557.
Ata AGE 22/5/1918, D.O.E., 25/5/1918, p. 1701.CTI Jornal nº 3, 15/6/1937, p. 3.
Centro de Documentação e Pesquisa Histórica-UNITAU.