Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Aula 2
Esta aula tem como objetivo apresentar e discutir alguns aspectos relacionados à
formação docente para que atenda aos pressupostos da Educação Inclusiva, modelo
educacional que, como discutido na aula anterior, vem sendo implementado em nosso país,
respaldado por um amplo arcabouço legal.
Embora a legislação brasileira seja bastante avançada para padrões internacionais,
sabemos que a promulgação de leis e diretrizes não significa que os dispositivos propostos
serão, efetivamente, implementados. Pois, a garantia de matrícula de alunos com
deficiências e outras necessidades educacionais especiais no sistema comum de ensino não
é suficiente para “automaticamente” tornar todas as escolas aptas e com condições
adequadas para a promoção de sua aprendizagem. Uma Educação Inclusiva de qualidade
não se restringe ao acesso e permanência desses alunos na turma comum, mesmo que
estejam socialmente integrados com seus colegas, mas, sobretudo, seu desenvolvimento
acadêmico.
Todo estudante, independentemente de suas características pessoais, vai para a
escola para aprender, para adquirir novos conhecimentos. Se isto não acontece, já temos
uma pista para perceber que há algo errado com o processo, e iniciar o trabalho de
1 GLAT, R. Formação de Professores para Educação Inclusiva. Texto elaborado para a disciplina
Educação Inclusiva e Cotidiano Escolar. Curso de Pedagogia. Faculdade de Educação, UERJ, 2019,
revisado em 2022.
identificação e remoção das barreiras que impeçam a sua aprendizagem e inclusão. A
concretização da inclusão escolar exige que se valorize a diversidade dos estilos de
aprendizagem, em vez da homogeneidade. Por isso que Educação Inclusiva também é
chamada de “Educação para Diversidade”. Certamente isto é fácil de dizer, porém muito
difícil de concretizar.
Apesar da política de inclusão escolar estar consolidada há mais de duas décadas
uma das maiores barreiras para sua efetiva implementação, ainda é a falta de capacitação
da maioria dos professores do ensino comum para lidar com alunos com diferenças
significativas de desenvolvimento e aprendizagem. Este é o tema que iremos explorar na
presente aula, na medida em que constitui o desafio pessoal e coletivo de todos nós,
professores.
Não resta dúvida que um grande número de educadores não está preparado para
trabalhar em uma classe inclusiva. Esta situação é, sem dúvida, oriunda da formação
tradicional do professor que privilegia uma concepção estática do processo ensino-
aprendizagem. Assim, por muito tempo acreditou-se que havia um desenvolvimento
“normal” e “saudável” para todos os sujeitos. Aqueles que apresentassem algum tipo de
dificuldade, distúrbio ou deficiência e / ou que não conseguiam acompanhar o ritmo e o
padrão esperado eram considerados anormais (isto é, fora da norma), eufemisticamente
denominados de “alunos especiais”, e alijados do sistema comum de ensino.
Esta concepção dicotômica de ensino-aprendizagem acabou por gerar dois tipos de
práticas pedagógicas distintas e dois sistemas educacionais paralelos: o “normal” ou comum
– para os alunos considerados normais pelo padrão de aprendizagem para o qual o
professor foi preparado durante sua formação; e o “especial” para os alunos que não se
adequam à norma, ou seja, os alunos “especiais”. Essa visão reforça o mito, ainda muito
impregnado na prática pedagógica que existem dois grupos qualitativamente distintos de
alunos: os “normais” e os “especiais”, e consequentemente, duas categorias distintas de
professores: os professores “regulares” e os professores “especializados” (GLAT,
NOGUEIRA, 2002).
Só que com o advento da Educação Inclusiva e da abertura das escolas para
matrícula de todos os alunos, essa organização do sistema entre ensino especial e comum
não se sustenta, já que todos os professores receberão em algum momento de sua trajetória
alunos ditos especiais em suas turmas. Mas, infelizmente, os cursos de formação de
professores, na sua maioria, continuam ainda voltados para o modelo tradicional, mesmo
quando incluem conteúdos ou disciplinas da Educação Especial. E assim, continuam
formando professores que não estão preparados para lidar com um alunado diversificado
agora presente nas nossas escolas.
Como bem colocou Bueno (1999), um sistema educacional inclusivo, que se propõe
a oferecer qualidade educacional a todos os alunos, mesmo aqueles que apresentam
necessidades educacionais especiais, demanda professores com dois tipos de formação
profissional: professores “generalistas” do ensino comum, que tenham um mínimo de
conhecimento e prática sobre alunado diversificado e professores “especialistas” no
atendimento de alunos com diferentes necessidades educacionais especiais. Estes últimos
estariam voltados para apoiar o trabalho realizado pelos professores de classes comuns
bem como para se for o caso, prestar atendimento direto complementar ou suplementar2 a
esse alunado em salas de recursos ou outras modalidades de atendimento educacional
especializado.
Assim, por exemplo, até o 1992 o Curso de Pedagogia da Faculdade de
Educação da UERJ oferecia, entre outras, habilitação em Educação Especial. A partir
da reforma curricular de 2003 a Educação Especial sob a perspectiva inclusiva, como
eixo transversal, passou a ser oferecida na forma de disciplinas obrigatória e eletivas
para todos os alunos, não só do Curso de Pedagogia, mas de todas as licenciaturas,
na concepção de uma formação que inclua um olhar e uma prática pedagógica
inclusiva.
Vale ressaltar que esta formação, que ainda carece de maior aprimoramento
na maioria dos cursos de licenciatura3, capacitará o professor não só para lidar com
estudantes com deficiências, mas com todos que apresentem, mesmo que
temporariamente, necessidades educacionais especiais. Pois, para que a escola
cumpra, de fato, sua função de acolher todos os alunos, as características individuais
que anteriormente eram vistas como sinais de impossibilidade ou dificuldade para
aprendizagem, precisam ser consideradas como dados ou informações relevantes
para que se faça a adequação do ensino ao aluno.
E é neste sentido que o conceito de necessidades educacionais especiais, contempla o
proposto. Vamos nos deter um pouco para aprofundar este ponto, pois consideramos que
ele forma a base para a compreensão do que constitui ou, melhor dizendo, de como se
constrói uma Educação Inclusiva de qualidade.
Segundo Glat e Blanco (2013) necessidades educacionais especiais são aquelas
demandas específicas dos alunos que, para aprender o que é esperado para o seu grupo
referência (ou seja, para acompanhar o currículo e planejamento geral da turma) vão
Referencias bibliográficas:
BEYER, Hugo Otto. Inclusão e avaliação na escola: de alunos com necessidades educacionais
especiais. Porto Alegre:2010.
GLAT, Rosana; BLANCO, Leila. Educação Especial no contexto de uma Educação Inclusiva.
In: GLAT, R. (org.). Educação Inclusiva: cultura e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: 7 Letras,
p. 15- 35, 2015.