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Indicadores de

desenvolvimento humano
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O estado do desenvolvimento humano

«O objectivo básico do desenvolvimento», escreveu mano: viver uma vida longa e saudável (medida pela
Mahbub ul Haq no primeiro Relatório do Desenvol- esperança de vida), ter estudos (medido pela alfabeti-
vimento Humano em 1990, «é criar um ambiente zação de adultos e pelas matrículas nos níveis primá-
favorável em que as pessoas possam gozar vidas lon- rio, secundário e superior) e ter um padrão de vida
gas, saudáveis e criativas.» Dezasseis anos depois, decente (medido pelo rendimento de paridade do
essa visão continua a ter uma forte repercussão. poder de compra, PPC). O índice não é, de forma al-
As pessoas são a verdadeira riqueza das nações. guma, uma medida abrangente do desenvolvimento
Por vezes, esquecemos essa verdade simples. Impres- humano. Por exemplo, não inclui indicadores im-
sionados pelas subidas e descidas dos rendimentos portantes como o respeito pelos direitos humanos,
nacionais (medidas pelo PIB), temos tendência para a democracia e a desigualdade. O que fornece é um
pôr no mesmo prato o bem-estar humano e a riqueza prisma mais amplo para encarar o progresso humano
material. Não se deve subvalorizar a importância da e a relação complexa entre rendimento e bem-estar.
estabilidade e do crescimento do PIB: são ambos es- O IDH deste ano, que se refere a 2004, realça
senciais para o progresso humano sustentado, como as profundas lacunas existentes em termos do bem-
se torna óbvio nos vários países que sofrem com a estar e das oportunidades de vida que continuam a
sua ausência. Mas o último parâmetro para medir o dividir este mundo que está cada vez mais interli-
progresso é a qualidade de vida das pessoas. Como gado. Foi o Presidente John F. Kennedy que cunhou
Aristóteles afirmou, «A riqueza, obviamente, não a expressão «uma maré cheia levanta todos os bar-
é o bem que procuramos; apenas é útil e para bem cos.»3 Mas quando se trata de desenvolvimento hu-
de qualquer outra coisa.»1 Essa «outra coisa» é a mano, a maré cheia da prosperidade global levantou
oportunidade das pessoas realizarem o seu poten- alguns barcos — mas alguns estão a afundar-se ra-
cial como seres humanos. A verdadeira oportuni- pidamente. Os entusiastas que enfatizam os aspec-
dade prende-se com ter verdadeiras escolhas — as tos positivos da globalização deixam-se levar muitas
escolhas que surgem com rendimento suficiente, es- vezes por esse mesmo entusiasmo. Usam cada vez
tudos, boa saúde e com o facto de viver num país que mais a linguagem da aldeia global para descrever a
não é governado pela tirania. Como escreveu Amar- nova ordem. Mas quando visto através da lente do
tya Sen: «O desenvolvimento pode ser visto ... como desenvolvimento humano, a aldeia global parece
um processo de alargar as verdadeiras liberdades que estar profundamente dividida entre as ruas dos ricos
as pessoas gozam.»2 e as dos pobres. A pessoa média na Noruega (no topo
Nas últimas décadas houve aumentos sem pre- da liga do IDH) e a pessoa média em países como
cedentes na riqueza material e na prosperidade em o Níger (na base) vivem, sem dúvida, em distritos
todo o mundo. Ao mesmo tempo, estes aumentos diferentes de desenvolvimento humano da aldeia
têm sido muito irregulares, com imensas pessoas a global. As pessoas na Noruega são mais de 40 vezes
não participarem do progresso. Além disso, o PIB mais ricas do que as pessoas no Níger. Vivem quase
ainda é medido de uma forma que não toma em con- duas vezes mais. E gozam de uma taxa de matrícula
sideração a degradação ambiental e o esgotamento quase universal nos ensinos primário, secundário e
de recursos naturais. superior, em comparação com uma taxa de matrícula
de 21% no Níger. Para os 31 países na categoria de
desenvolvimento humano baixo — um grupo com
Índice de desenvolvimento humano 9% da população mundial — a esperança de vida à
nascença é de 46 anos, ou seja, menos 32 anos do que
Todos os anos, desde 1990, este relatório tem publi- nos países de desenvolvimento humano elevado.
cado um índice de desenvolvimento humano (IDH) O IDH sublinha outro tema central que apa-
que olha para além do PIB para uma definição mais rece no Relatório do Desenvolvimento Humano
ampla de bem-estar. O IDH apresenta uma medida desde o seu início. Em média, os indicadores de
conjunta de três dimensões do desenvolvimento hu- desenvolvimento humano tendem a subir e a des-

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Figura 1 Do rendimento ao IDH cer com o rendimento. Essa descoberta não tem o nível global do IDH. Por exemplo, os Estados
– uns têm melhores nada de surpreendente. Os rendimentos médios Unidos, cujos cidadãos são, em média, os segun-
resultados que outros
muito baixos e os níveis elevados de privação de dos mais ricos do mundo depois do Luxemburgo,
IDH, 2004 PIB per capita, 2004
(PPC em USD)
rendimento contribuem para a falta de liberda- estão seis lugares abaixo no seu nível de IDH do
1,0 22.000 des substantivas no mundo, tirando às pessoas a que no seu nível de rendimento. Uma razão para
Barém
20.000 capacidade de conseguir uma nutrição adequada, isso é que a esperança média de vida é de menos
0,9 de tratar as doenças ou de obter estudos. O IDH três anos do que na Suécia — um país com um
Chile 18.000
Barém reflecte a associação positiva entre rendimento, rendimento médio um quarto inferior. Dentro
0,8 16.000
por um lado, e saúde e educação, por outro: as do grupo de desenvolvimento humano elevado,
14.000
0,7 pessoas nos países mais ricos tendem a ser mais o Chile e Cuba gozam de níveis de IDH muito
12.000 saudáveis e a ter mais oportunidades educativas. superiores aos seus níveis de rendimento.
Chile
0,6 10.000 Também chama a nossa atenção para o facto de Como acontece com qualquer índice que
alguns países serem muito melhores do que ou- agrupe dados transversais em diversas áreas de
tros a converter a riqueza material em oportuni- desempenho, o IDH está sujeito a ajustes cons-
dades de saúde e educação. tantes, à luz das mudanças nos sistemas de relató-
Alguns países têm um nível de IDH muito rios estatísticos. Em certos casos, essas mudanças
0,7 2.400 inferior ao seu nível de rendimentos, enquanto podem afectar a classificação de um país, num
Angola outros invertem esta relação. Por exemplo, o Vie- sentido positivo ou negativo, independentemente
2.000 tname continua a ser muito pobre, mas tem um do seu desempenho subjacente. O IDH deste ano
0,6
nível de IDH muito superior a inúmeros outros demonstra o problema. Vários países viram os
1.600
países com rendimentos per capita superiores. seus níveis de IDH cair, não devido a uma mu-
0,5
1.200
O Barém, pelo contrário, tem um rendimento dança subjacente ao desempenho, mas devido a
Angola
Tanzânia médio quase duas vezes superior ao do Chile uma mudança nos sistemas de relatórios para a
0,4
800 mas, não obstante o progresso recente, tem um educação. Por definição, os dados relativos à taxa
Tanzânia
nível de IDH inferior porque o seu desempenho de escolarização utilizados no IDH não devem in-
0,3 400 é pior em termos da educação e da alfabetização. cluir o ensino de adultos. No entanto, cerca de 32
Na África Subsariana, a Tanzânia tem um ren- países incluíam no passado a educação de adultos
dimento médio de um terço do de Angola, mas quando forneciam os dados das matrículas esco-
um nível de IDH similar — um resultado que lares para os relatórios. Este ano esses países mu-
reflecte os elevados custos humanos do conflito daram o sistema de fornecimento de dados para
1,0 8.000 em Angola (figura 1). os relatórios de forma a corrigir essa anomalia. Os
Namíbia Os governos olham frequentemente para o novos conjuntos de dados estão agora mais uni-
0,9 IDH como um instrumento de avaliação do seu formes e mais correctos. Mas a mudança teve um
7.000

0,8
desempenho, por comparação com o dos países efeito adverso nos níveis de IDH de vários países,
6.000 vizinhos. A competição pelo desenvolvimento incluindo a Argentina, a Bélgica, o Brasil, o Para-
0,7 Egipto humano é uma rivalidade saudável — mais sau- guai, o Peru e o Reino Unido. Para o Brasil, o de-
Namíbia 5.000 dável, poder-se-ia afirmar, do que a competição clínio no nível do IDH — de 63 para 69 — deve-
0,6
relacionada com o PIB. No entanto, tem havido se quase por completo às mudanças nos relatórios
0,5
Egipto
4.000 uma certa tendência para os governos negligen- estatísticos e não à deterioração real no desempe-
ciarem questões mais prementes, incluindo as ra- nho educativo. Resultados semelhantes podem
zões subjacentes às grandes discrepâncias entre a ser observados para outros países do grupo.
posição nacional nas tabelas de rendimento glo-
bal e no IDH. Em determinados casos, como na
1,0 26.000 África Austral, estas discrepâncias prendem-se Tendências em termos de
Emirados com problemas específicos (tais como o VIH/ desenvolvimento humano —
Árabes
Unidos SIDA). Em muitos outros, podem ter a ver com o IDH e outras
0,9 República 22.000
Checa fracassos da política doméstica de promover
Emirados República oportunidades de saúde e educação. As tendências em termos de desenvolvimento hu-
0,8 Árabes Checa 18.000 O IDH é uma medida menos eficaz do de- mano contam uma história importante. Desde
Unidos
sempenho transversal dos diversos países no meados da década de 70 que quase todas as regi-
0,7 14.000
topo da tabela da liga. Uma taxa de matrículas ões têm estado a aumentar progressivamente a sua
no ensino e uma alfabetização quase universais, pontuação no IDH (figura 2). A Ásia Oriental e
aliadas a limites superiores de esperança de vida a Ásia do Sul aceleraram o progresso desde 1990.
0,6 10.000
(consultar Nota técnica 1), tornam o índice uma A Europa Central e Oriental e a Comunidade de
medida imperfeita de desempenho transversal Estados Independentes (CEI), após um declínio
Fonte: Quadro de indicadores 1.
aos diversos países. Mas mesmo a esse nível, re- catastrófico na primeira metade da década de 90,
alça algumas discrepâncias entre o rendimento e também recuperaram bastante e reconquistaram

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o nível que tinham antes deste recuo. A principal Esperança de vida
excepção é a África Subsariana. Desde 1990 que Ao longo das últimas três décadas, os países em
estagnou, em parte devido a recuos económicos desenvolvimento, considerados como um grupo,
mas sobretudo devido ao efeito catastrófico do têm estado a convergir para os países desenvolvi-
VIH/SIDA sobre a esperança de vida. Há dezoito dos em termos da esperança de vida. A sua espe-
países que actualmente têm um nível de IDH mais rança média de vida à nascença aumentou nove
baixo do que em 1990 — a maioria deles na África anos, em comparação com os sete anos que au-
Subsariana. Hoje, 28 dos 31 países com desenvol- mentou nos países de rendimento alto (figura
vimento humano baixo situam-se na África Sub- 3). A excepção é novamente a África Subsariana.
sariana. Isto vem sublinhar a extrema importân- Para a região como um todo, a esperança de vida
cia de alcançar os Objectivos de Desenvolvimento hoje é inferior à de há três décadas atrás — e
do Milénio através de esforços nacionais e parce- mesmo esta história de primeira página subva-
rias globais para ultrapassar a herança de grandes loriza o problema. Vários países na África Aus-
desvantagens que as pessoas enfrentam hoje em tral sofreram recuos catastróficos: 20 anos no
África. Botsuana, 16 na Suazilândia e 13 no Lesoto e na
O progresso em termos de desenvolvimento Zâmbia. Estes recuos demográficos são maiores
humano é por vezes encarado como um sinal da do que o da França após a Primeira Guerra Mun-
convergência entre o mundo desenvolvido e o dial (consultar o Relatório do Desenvolvimento
mundo em desenvolvimento. Em termos gerais, Humano 2005). Também houve um recuo no pa-
esta ideia está correcta: tem havido uma melho- drão de género da esperança de vida. Por toda a
ria constante nos indicadores de desenvolvimento África Subsariana, as mulheres são as responsá-
humano para o mundo em desenvolvimento ao veis por uma parcela crescente de infecções por
longo de várias décadas. Mas a convergência está VIH/SIDA — uma tendência que está a dimi-
a ocorrer a ritmos muito diferentes em regiões di- nuir de forma dramática a esperança de vida das
ferentes — e de pontos de partida diferentes. As mulheres em relação à dos homens. A prevenção
desigualdades em termos do desenvolvimento hu- e o tratamento do VIH/SIDA continuam a estar
mano continuam grandes e, para um grande grupo entre as mais importantes condições para a con-
de países, a divergência está na ordem do dia. Isto tinuação das tendências positivas em termos de
pode ser ilustrado fazendo referência a alguns dos desenvolvimento humano numa grande parte da
indicadores centrais que estão na base do IDH. região (caixa 1).

A tendência de desenvolvimento
Figura 2 humano – para cima mas de
forma irregular
Figura 3 As lacunas em termos de esperança de vida estão a diminuir —
IDH mas existem excepções
1,0 OCDE de
rendimento elevado Esperança de vida à nascença (anos)
80
0,9
Europa Central,
Oriental e a
CEI 70
0,8
América
Latina e 2000-05
Caraíbas
0,7 60

Ásia
Oriental e
0,6 Pacífico Ásia
do Sul 50 1980-85
Países
Árabes
0,5
África 40
Subsariana África Ásia Países Ásia América Europa Central, OCDE de Mundo
0,4 Subsariana do Sul Árabes Oriental e Latina e Oriental e rendimento
Pacífico Caraíbas a CEI elevado
1975 1985 1995 2004
Fonte: Calculado com base no quadro de indicadores 2. Fonte: ONU 2005b.

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Caixa 1 A feminização do VIH/SIDA na África Subsariana

O VIH/SIDA fez recuar o desenvolvimento humano num vasto grupo


Figura 1 África Subsariana — uma crise cada
de países. Mais de 39 milhões de pessoas estão infectadas com o vez mais feminina
VIH, o vírus que causa a SIDA, e 3 milhões de pessoas morreram
desta doença apenas em 2005. O decréscimo da esperança de vida Número de mulheres infectadas Número de homens infectados
com o VIH, 1985-2005 (milhões) com o VIH, 1985-2005 (milhões)
foi um dos impactos mais visíveis do VIH/SIDA no Índice de Desen-
16 Estimativa 16
volvimento Humano (IDH). Menos visível foi a feminização da doença elevada
e as consequências para a igualdade de género.
Na África Subsariana, o epicentro da crise, as taxas de infecção 14 14
têm estado a crescer muito mais rapidamente para as mulheres do que
para os homens (figura 1). As mulheres agora são responsáveis por 57% Estimativa
12 12 elevada
das infecções por VIH na região e as raparigas africanas (com idades
compreendidas entre os 15 e os 24 anos) têm agora uma probabilidade Estimativa
três vezes superior à dos homens de ficarem infectadas. 10 baixa 10
A pandemia está a dar forma à estrutura demográfica de muitos
países africanos. As mulheres têm uma probabilidade maior de contrair
8 8
a infecção — e é mais provável que morram da doença mais cedo. Na
Estimativa
África Austral, isto está a inverter o padrão de esperança de vida para baixa
os homens e para as mulheres (figura 2). Pelas tendências actuais, a 6 6
esperança média de vida no Botsuana, no Lesoto, na África do Sul e na
Suazilândia será de menos dois anos para as mulheres do que para os
4 4
homens em 2005-10, por comparação com mais 7 anos em 1990-95.
Parte do enviesamento de género nas taxas de morte por VIH/SIDA
pode prender-se com casamentos ou uniões sexuais que aumentam 2 2
a exposição das mulheres e das raparigas ao risco por se realizarem
quando estas ainda são muito jovens.
0 0
Ainda assim, os indícios dos 11 países estudados em detalhe pelo 1985 1990 1995 2000 2005 1985 1990 1995 2000 2005
Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/SIDA mostram
um declínio em oito países na proporção de pessoas a ter relações
Nota: Refere-se a adultos com 15 anos e mais.
sexuais antes dos 15 anos e um aumento do uso de preservativos. Os
Fonte: ONUSIDA 2006.
números relativos ao tratamento também estão no caminho certo: a
utilização de medicamentos antiretrovirais na África Subsariana pas-
sou de 100.000 pessoas em 2003 para 810.000 no final de 2005. Mas
apenas cerca de uma pessoa em cada seis dos 4,7 milhões que pre- Figura 2 Esperança de vida — a grande inversão de
cisavam de tratamento o estão a receber actualmente. E as taxas de género na África Austral
cobertura variam bastante — de mais de 80% no Botsuana a 4% em
Angola. A África do Sul, sozinha, é responsável por cerca de um quarto Esperança de vida
(anos)
das pessoas que recebem tratamento. Previsão futura
O enviesamento de género também torna assimétricos a pre- 74 Feminina
venção e o tratamento? As provas são mistas. As relações desiguais 72 Masculina
de poder podem criar desvantagens para as mulheres e para as ra- 70
parigas em termos da prevenção, uma vez que têm menos controlo
68
sobre a tomada de decisões. A desvantagem educativa também é
um factor. Como a escola é um local importante para a educação 66
As mulheres viviam mais
sobre o VIH/SIDA, as disparidades de género em termos da frequên- 64 7 anos do que os
cia da escola também colocam as raparigas em desvantagem. As homens...
62
provas actuais não apontam para um enviesamento sistemático no
tratamento. Na Etiópia e no Gana, as mulheres são responsáveis por 60
uma proporção mais pequena de tratamento do que o previsto com 58
base nas taxas de infecção, mas na África do Sul e na Tanzânia, elas
56
são responsáveis por uma maior proporção. ... mas prevê-se que
Tal como os homens, as mulheres na África Subsariana sofrem do 54 de futuro vivam menos
estigma, do medo, da fraca liderança e da participação política inade- 52 2 anos do que os
quada que tem atrasado o desenvolvimento de uma resposta eficaz homens
50
para o VIH/SIDA em muitos países. Também têm a ganhar se se con-
seguir alcançar o objectivo do Fundo Global da Luta contra a SIDA, 48
a Malária e a Tuberculose de, até 2010, se fornecer tratamento anti- 46
retroviral a 10 milhões de pessoas a nível global. É muito importante
que o compromisso assumido pelo Grupo dos Sete países líderes em 44
termos industriais de fornecer, o mais próximo possível, acesso uni- 42
versal ao tratamento até 2010. Ao mesmo tempo, os governos nacio- 1988 1993 1998 2003 2008 2013 2018 2023
nais deviam pôr o género e o ultrapassar das desigualdades de género
Fonte: ONU 2005b.
no centro das estratégias de prevenção e tratamento.

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Mortalidade infantil Figura 4 Divergência global em termos das mortes de crianças
As taxas de sobrevivência para as crianças estão
entre os determinantes mais importantes do Mortalidade para menores de cinco anos por 1.000 nados vivos (OCDE de rendimento elevado = 1)
bem-estar humano. Também aqui existem algu- 1980 2004
28
mas tendências encorajadoras. As taxas de mor- 24
talidade infantil estão a cair: houve menos 2,1 20
milhões de mortes em 2004 do que em 1990. 16
As perspectivas de sobrevivência estão a melho- 12
rar em todas as regiões (figura 4). No entanto, 8
os 10,8 milhões de mortes infantis em 2004 4
testemunham a desigualdade existente em rela- 0
ção à mais elementar de todas as oportunidades África Ásia do Sul Países Árabes América Ásia Europa Central, Mundo
Subsariana Latina e Oriental e Oriental e
de vida — a oportunidade de permanecer vivo. Fonte: Banco Mundial 2006.
Caraíbas Pacífico a CEI
Nascer na rua errada da aldeia global envolve
um risco elevado em termos das perspectivas de
sobrevivência.
Para as crianças na maior parte do mundo Educação
em desenvolvimento, o diferencial de risco está O progresso em termos de educação é essencial
a aumentar. As taxas de mortalidade infantil em para o desenvolvimento humano por si só e de-
quase todas as regiões em desenvolvimento estão vido às ligações à saúde, à equidade e à legitima-
a aumentar quando expressas como um múltiplo ção. Também aqui o relatório de progresso se tra-
da taxa nos países de rendimento elevado. Para duz por um copo meio vazio e meio cheio. Muito
além disso, o ritmo do progresso na redução da se conseguiu — mas continuam a existir grandes
mortalidade infantil abrandou para um grande lacunas.
número de países. Se se tivesse mantido, desde Os padrões de analfabetismo hoje em dia são
essa altura, o ritmo de progresso registado na dé- um legado das lacunas do passado em termos de
cada de 80, em 2004 teria havido menos 1,5 mi- educação. Desde 1990, as taxas de alfabetização
lhões de mortes de crianças no mundo. O atraso de adultos subiram de 75% para 82%, reduzindo
na redução das taxas de mortalidade infantil em 100 milhões o número de pessoas analfabetas
tem implicações para os Objectivos de Desenvol- no mundo. Em termos de equidade de género tem
vimento do Milénio. De acordo com as actuais havido menos progresso. As mulheres continuam
tendências, a meta de reduzir em dois terços as a ser responsáveis por cerca de dois terços do
taxas gerais de mortalidade até 2015 falhará em analfabetismo entre os adultos — o mesmo que
cerca de 4,4 milhões de mortes nesse ano. Apenas acontecia na década de 90. Os rácios líquidos de
três países da África Subsariana estão no cami- matrículas no ensino primário aumentaram por
nho certo para alcançar o objectivo. todo o mundo em desenvolvimento e a lacuna em
Talvez melhor do que qualquer outro indi- termos de equidade de género nas matrículas está
cador, a mortalidade infantil demonstra que os a diminuir em todas as regiões. Por comparação
aumentos de rendimento não são equivalentes a com estas boas notícias, as más notícias são que
melhorias no desenvolvimento humano. Medido 115 milhões de crianças continuam fora da es-
pela geração de rendimentos, a Índia é uma das cola — e cerca de 62 milhões dessas crianças são
histórias de sucesso da globalização: o PIB per raparigas.
capita cresceu em média 4% por ano desde 1990. As diferenças de matrículas no nível primário
Mas a taxa de tendência para reduzir a morta- captam uma importante dimensão do progresso
lidade infantil abrandou de 2,9% por ano na na educação, mas apenas uma dimensão. Numa
década de 80 para 2,2% desde 1990. Ao passo economia global baseada no conhecimento, um
que a Índia teve um melhor desempenho do que ensino primário de qualidade é apenas o pri-
o Bangladeche em termos de crescimento eco- meiro degrau numa escada e não um destino.
nómico e de rendimento médio, o Bangladeche Nesta perspectiva mais abrangente, as diferen-
teve um melhor desempenho do que a Índia na ças na distribuição das oportunidades globais
redução das taxas de mortalidade infantil, man- de educação continuam a ser assustadoras. Em
tendo uma taxa de declínio de 3,45% desde 1990. média, uma criança no Burquina Faso pode es-
O contraste da sorte das crianças na Índia e no perar ter menos de 4 anos de educação, em com-
Bangladeche, quando avaliadas em termos das paração com os mais de 15 anos na maior parte
perspectivas de sobrevivência, aponta para os dos países de rendimento elevado. Estas profun-
limites da riqueza como a métrica para medir o das desigualdades existentes hoje em termos de
desenvolvimento humano. educação são as diferenças de amanhã em termos

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de rendimento e de saúde. Entre os desafios cen- vantagem, ao restringir as suas escolhas e ao
trais a ser abordados: reduzir as suas oportunidades de rendimento
• A lacuna entre a matrícula e a conclusão. Há e emprego. Devido às ligações entre ensino
quase uma criança em cada cinco, nos países materno e a saúde infantil, a discriminação
em desenvolvimento, a abandonar a escola sexual também impede o progresso na redu-
antes de terminar o ensino primário. Em ção da mortalidade infantil.
certos casos, as elevadas taxas de matrícula
disfarçam o progresso limitado em direcção
à aquisição de alfabetização elementar e de Pobreza e distribuição de rendimento
competências de numeracia. Em países como A pobreza de rendimento caiu em todas as regi-
o Chade, o Malawi e o Ruanda menos de 40% ões desde 1990, excepto na África Subsariana. A
das crianças que se matriculam na escola ter- proporção da população mundial que vive com
minam o ciclo de ensino primário. menos de 1 dólar por dia desceu de 28% para 21%,
• Taxas reduzidas de transição para o ensino se- deixando apenas um pouco mais de mil milhões
cundário e mais (figura 5). Nos países ricos, de pessoas a viver abaixo do limiar de pobreza.
mais de 80% das crianças que chegam ao final O elevado crescimento económico na China e
do ensino primário continuam a estudar no na Índia tem sido o mais forte motor da redução
nível secundário mais baixo. Mais de metade da pobreza de rendimento. A África Subsariana
vão para o ensino superior. A imagem é muito é a única região que testemunhou um aumento
diferente na África Subsariana, onde menos tanto da incidência da pobreza como do número
de metade das crianças fazem a transição do absoluto de pobres. Aí, cerca de 300 milhões de
ensino primário para o secundário. Existem pessoas — quase metade da população da região
37 países com taxas líquidas de matrícula no — vivem com menos de 1 dólar por dia.
ensino secundário inferiores a 40%, 26 dos Ainda que o mundo como um todo esteja no
quais na África Subsariana. caminho certo para alcançar a meta para 2015 de
• Níveis elevados de desigualdade de género no reduzir para metade a privação extrema de ren-
ensino pós-primário. Ainda que as lacunas em dimento, a África Subsariana está no caminho
termos de matrículas entre raparigas e rapa- errado, tal como muitos países noutras regiões.
zes estejam a diminuir, continuam a existir Os dados sobre o nível do país indicam que os
profundas disparidades nos níveis secun- objectivos para 2015 não serão alcançados por
dário e superior (figura 6). As disparidades
ref lectem uma discriminação sexual insti-
Figura 6 A discriminação sexual acompanha
tucionalizada que deixa as mulheres em des- as raparigas na educação em
alguns países

Do ensino primário à universidade — Rácio raparigas/rapazes


Figura 5 a lacuna crescente em termos de 1,0
oportunidades
Taxa de escolarização, 2004 (%) 0,9 Japão
100
0,8
90 Finlândia

0,7
80 Índia

70 0,6
Nigéria
60 0,5
Japão
50
0,4
Iémen
40
0,3 Burquina Faso
30
0,2
20

10 Vietname 0,1
Bangladeche
0 Moçambique
Matrículas Matrículas Matrículas 0
Primário Secundário Superior
líquidas no líquidas no brutas no
ensino primário ensino secundário ensino superior Fonte: Quadro de indicadores 12.
Fonte: quadro de indicadores 12.

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uma diferença de cerca de 380 milhões de pes- milhões de dólares. Esse número parece grande,
soas. Esses níveis tão elevados de pobreza numa mas é menos de 2% do rendimento dos 10% mais
economia global mais próspera ref lectem as ex- ricos do mundo. Alcançar uma maior equidade
tremas disparidades em termos de riqueza e as na distribuição mundial de rendimento através
pequenas proporções de rendimento mundial de estratégias de crescimento nacional inclusivas
que os pobres captam: e amplas — apoiadas por acções internacionais,
• Os 20% mais pobres da população mundial, através de auxílios, da transferência de tecnologia
correspondendo em termos gerais à popula- e de comércio — é uma das chaves para colocar ao
ção que vive com menos de 1 dólar por dia, nosso alcance os objectivos definidos para 2015
são responsáveis por 1,5% do rendimento em termos de privação de rendimentos.
mundial. Os 40% mais pobres, correspon-
dentes ao nível do limiar de pobreza de 2
dólares por dia, são responsáveis por 5% do
rendimento mundial. Desigualdade e desenvolvimento
• Nove em cada 10 pessoas nos países de rendi- humano
mento elevado da Organização para a Coope-
ração e o Desenvolvimento Económico estão O IDH dá-nos uma imagem do desempenho
nos 20% superiores da distribuição global de nacional médio em termos do desenvolvimento
rendimento. Na outra ponta da escala, um humano. No entanto, as médias podem ocultar
em cada dois habitantes da África Subsariana as grandes disparidades existentes nos países. As
está entre os 20% mais pobres — e a propor- desigualdades que têm por base o rendimento, a
ção de pessoas da região nos 20% inferiores riqueza, o género, a raça e outras formas de des-
mais do que duplicou desde 1980 (passando vantagens herdadas, bem como a localização,
para 36% do total). podem tornar as médias nacionais um indicador
• O rendimento médio para o mundo em geral de bem-estar humano ilusório.
é de 5.533 dólares (PPC) — mas 80% do Pode o IDH ser usado para captar as desi-
mundo vive com menos do que esta média. A gualdades de desenvolvimento humano dentro
desigualdade global é apanhada na profunda dos países? A pesquisa levada a cabo para o Re-
lacuna existente entre rendimentos médios e latório do Desenvolvimento Humano deste ano
medianos (1.700 dólares em 2000). abordou esta questão tentando desagregar os ní-
• As 500 pessoas mais ricas do mundo têm veis de IDH por quintis de rendimento. O exercí-
um rendimento de mais de 100 mil milhões cio abrangeu 13 países em desenvolvimento e dois
de dólares, sem tomar em consideração a ri- países desenvolvidos — a Finlândia e os Estados
queza de activos. Isso excede os rendimentos Unidos — com suficientes dados disponíveis.
combinados dos 416 milhões mais pobres. A A construção das classificações do IDH para
acumulação de riqueza no topo da distribui- diferentes grupos de rendimento dentro dos pa-
ção de rendimento global tem sido mais im- íses coloca desafios técnicos (consultar a Nota
pressionante do que a redução de pobreza na técnica 2). Os inquéritos padronizados de ren-
base. O Relatório Mundial sobre Riqueza de dimento do agregado familiar e os Inquéritos
2004, preparado por Merrill Lynch, avança Demográficos e de Saúde permitem gerar dados
que a riqueza de activos financeiros dos 7,7 para o índice em diferentes pontos da distribui-
milhões de «indivíduos de elevado valor lí- ção de rendimentos. Mas os problemas existentes
quido» atingiu os 28 biliões de dólares em na disponibilidade dos dados e na sua compara-
2003, com um crescimento previsto de 41 bi- bilidade tornam difícil construir índices que se
liões de dólares até 2008. possam comparar entre países diferentes. Um
A globalização deu origem a um longo de- problema acrescido é que os dados necessários
bate acerca da direcção precisa e rigorosa das para a construção dos níveis de IDH por grupo
tendências em termos da distribuição global de de rendimento não estão disponíveis para muitos
rendimento. Do que por vezes se perde a noção países de rendimento elevado. Apesar destes pro-
é que existe uma enorme desigualdade — e que blemas, a construção de níveis de IDH passíveis
existe um potencial associado a uma maior igual- de comparação internacional, com base em gru-
dade para acelerar a redução da pobreza. Medida pos nacionais de rendimento, tem o potencial de
pelos termos de paridade de poder de compra fornecer um poderoso instrumento para compre-
de 2000, a lacuna existente entre os rendimen- ender as dimensões da privação de capacidade.
tos dos 20% mais pobres da população mundial O IDH por grupos de rendimento aponta
e os rendimentos de quem vive no limiar de po- para desigualdades extremas no desenvolvimento
breza de 1 dólar por dia chega a cerca de 300 mil humano (figura 7). Para o Burquina Faso, Ma-

R e l at ó r i o d o D e s e n v o lv i m e n t o H u m a n o 2 0 0 6 269
Figura 7 O mesmo país, um mundo diferente — um índice de • Na Indonésia, o desenvolvimento humano
desenvolvimento humano por grupos de rendimento vai desde um nível comparável ao da Repú-
blica Checa para os 20% mais ricos até ao do
IDH, escala global Camboja para os 20% mais pobres.
1,0 20% mais • Enquanto os 20% mais ricos nos Estados
ricos
Noruega
Média Unidos (seguidos da Finlândia) se situariam
0,9
República da
Coreia
no topo da lista de sucesso em termos do de-
Argentina
20% mais 20% mais 20% mais senvolvimento humano, o quintil mais pobre
ricos ricos ricos 20% mais
Cuba
pobres
nos Estados Unidos só conseguiria uma clas-
0,8 Brasil sificação de 50.
Peru
Egipto
0,7 Média Média Média

Índia Por trás das desigualdades do IDH — a


0,6
Camboja 20% mais
20% mais mortalidade infantil e as desigualdades
pobres 20% mais
Paquistão
Congo
pobres pobres de educação
0,5 20% mais O IDH por grupos de rendimento fornece um indi-
Quénia ricos
Senegal cador agregado de algumas dimensões importantes
Tanzânia
0,4 do bem-estar. Por detrás dele encontram-se algu-
Média
mas desigualdades muito profundas em termos das
Níger capacidades e das oportunidades de vida ligadas a
0,3
desigualdades de rendimento. Estas desigualdades
20% mais
pobres podem ser realçadas por referência aos dados dos
0,2 inquéritos a agregados familiares para alguns dos
Mundo Burquina Faso Indonésia África do Sul Bolívia Estados Unidos países abrangidos pelo exercício de investigação.
2003 2000-03 1998-2000 2002-03 2000
As crianças que nasceram nos 20% mais pobres
Fonte: Grimm e outros 2006.
da distribuição de rendimentos em países como a
Bolívia, a Indonésia e a África do Sul correm o risco
de morrer antes do seu quinto aniversário, ou seja,
dagáscar e Zâmbia, o nível de IDH para os 20% um risco quatro vezes mais alto do que aquele das
mais ricos é cerca do dobro dos 20% mais pobres. crianças que nasceram nos 20% mais ricos (figura
As lacunas observadas na Bolívia, na Nicarágua 8). As taxas de conclusão da escola também variam,
e na África do Sul também são muito grandes. com desigualdades de género a interagir com dis-
As disparidades de IDH por rendimento entre paridades que têm por base a riqueza. Também é
os ricos e os pobres nos países de rendimento ele- muito menos provável que tanto as raparigas como
vado são menores, em parte porque os diferen- os rapazes nos 20% mais pobres da distribuição de
ciais de rendimento se traduzem de forma menos rendimentos no Burquina Faso terminem a escola
enfática em diferenças na esperança de vida e nos em comparação com os seus colegas de rendimento
resultados do ensino básico. Ainda assim, os Es- elevado, embora a disparidade entre raparigas e ra-
tados Unidos exibem disparidades significativas pazes seja igualmente marcante (figura 9). Estas
no IDH por grupo de rendimento. grandes variações nas oportunidades de vida, com
Para além das classificações domésticas, as base em marcadores herdados para as vantagens e
comparações transversais entre países realçam a desvantagens apontam para a necessidade de políti-
desigualdade de desenvolvimento humano: cas públicas que proporcionem escolhas e oportuni-
• Os 20% das pessoas mais ricas da Bolívia têm dades iguais, ao alargar as liberdades substantivas.
uma classificação que os colocaria no grupo Para além do imperativo moral de ultrapassar
de desenvolvimento humano elevado, a par as disparidades extremas nestas áreas, as desigual-
da Polónia, enquanto os 20% mais pobres se dades têm implicações importantes para os Objec-
classificariam num nível comparável à média tivos de Desenvolvimento do Milénio. Considere-
do Paquistão. Os dois grupos encontram-se mos o objectivo de reduzir em dois terços as taxas
separados por 97 lugares na classificação glo- de mortalidade infantil. Os agregados familiares
bal do IDH. Para a Nicarágua, a lacuna no pobres, com taxas de mortalidade infantil que são
IDH entre os 20% mais ricos e mais pobres é tipicamente duas ou três vezes a média nacional,
de 87 lugares na liga global. são responsáveis por uma parte desproporcional das
• Na África do Sul, os 20% mais ricos têm uma mortes infantis totais. Na Nicarágua e no Peru, por
classificação no IDH 101 lugares acima dos exemplo, cerca de 40% das mortes infantis ocorrem
20% mais pobres. nos 20% dos agregados familiares mais pobres. As

270 R e l at ó r i o d o D e s e n v o lv i m e n t o H u m a n o 2 0 0 6
Figura 8 Permanecer vivo — Figura 9 As oportunidades de educação são moldadas pelo rendimento
oportunidades ligadas à riqueza e pelo género

Taxa de mortalidade para menores de cinco anos, Conclusão da escola primária (%)
2004 (por 1.000 nados-vivos) 100
250

90
225

80
200

70
175

60
150

20%
50 mais
125 ricos

40
100
20% mais
pobres 30
75
Segundo

Média 20 Média
50 Terceiro
Quarto Quarto
10
Terceiro
25 20% mais Segundo
ricos 20% mais
pobres
0
0 Rapazes Raparigas Rapazes Raparigas Rapazes Raparigas Rapazes Raparigas
Burquina Bolívia Indonésia África Burquina Faso Bolívia Indonésia África do Sul
Faso do Sul
Fonte: Gwatkin e outros 2005. Fonte: Gwatkin e outros 2005.

políticas para reduzir as taxas de mortalidade entre Para alguns países, o IDH revela profun-
os pobres podem acelerar o progresso em direcção das desigualdades que têm por base a pertença
à meta, embora na maior parte dos países as desi- a um grupo. Um exemplo disso é a Guatemala,
gualdades em termos da mortalidade infantil este- onde as oportunidades de desenvolvimento hu-
jam a aumentar: as taxas de mortalidade entre os mano se encontram extremamente enviesadas
pobres estão a cair em média menos de metade da contra os grupos indígenas. Os Q’eqchi têm uma
taxa entre os ricos. classificação no IDH a par dos Camarões e 32
Olhando para além do rendimento doméstico, lugares abaixo da classificação para os ladinos
a desagregação do IDH pode captar as desigual- (aproximadamente equivalentes à Indonésia)
dades em diversos níveis. Em muitos países, revela (figura 12).
grandes diferenças entre as regiões. O Quénia tem
um IDH que varia entre 0,75 em Nairobi (quase
ao mesmo nível da Turquia) e os 0,29 em Turkana, Desigualdade de rendimentos
uma região pastoril no norte do país (figura 10). Se A desigualdade coloca questões importantes en-
Turkana fosse um país, afastar-se-ia da escala actual raizadas nas ideias normativas acerca da justiça so-
do IDH por uma margem considerável, reflectindo cial e da justiça em todas as sociedades. Uma vez
as secas recorrentes da região, o mau acesso à saúde que os padrões de distribuição de rendimentos
e às infra-estruturas de água e as elevadas taxas de afectam directamente as oportunidades em ter-
subnutrição. mos de nutrição, saúde e educação, a desigualdade
As diferenças rural-urbano interagem com as de rendimento também está intimamente relacio-
disparidades regionais. Na China urbana, Xan- nada com maiores desigualdades na capacidade e,
gai classificar-se-ia em 24º na liga global do IDH, em alguns casos, com privação absoluta.
mesmo acima da Grécia, enquanto a Província de As variações regionais em termos de desi-
Guizhou rural ficaria classificada a par do Botsu- gualdade de rendimentos são grandes. O coefi-
ana (figura 11). ciente Gini, uma medida da desigualdade gradu-

R e l at ó r i o d o D e s e n v o lv i m e n t o H u m a n o 2 0 0 6 2 71
Figura 10 Enormes desigualdades no bém ref lectem a lacuna entre rendimento médio
desenvolvimento humano entre e rendimento mediano, que se torna maior com a
os distritos do Quénia desigualdade. Num país de profundas desigual-
dades como o México, o rendimento mediano é
IDH, 2004 de apenas 51% do médio. Para o Vietname, onde
0,8
a distribuição de rendimento é mais justa, o me-
Turquia Nairobi
diano sobe até 77% do médio.
0,7
África Porque motivo é que a distribuição de rendi-
Mombaça
do Sul mentos importa para a redução da pobreza? De
0,6
forma mecânica, a taxa de redução da privação
0,5
Quénia de rendimento num país é função de duas coisas:
da taxa de crescimento económico e da propor-
0,4 ção de qualquer aumento no crescimento con-
seguido pelos pobres. Mantendo-se tudo o resto
Mali Busia
0,3 Níger igual, quanto maior for a proporção de rendi-
Turkana
mento conseguida pelos pobres, mais eficiente é
0,2 o país na conversão do crescimento em redução
da pobreza. Mantendo constantes os padrões de
Fonte: PNUD 2005c. distribuição de rendimentos e projectando as ac-
tuais taxas de crescimento para o futuro, demo-
raria três décadas para o agregado familiar me-
Figura 11 As diferenças rural-urbano diano em termos de pobreza atravessar o limiar
intensificam as disparidades
regionais na China de pobreza no México. Duplicar a parte dos po-
bres no futuro crescimento de rendimento redu-
IDH, 2004
1,0
ziria este horizonte temporal para metade. Para
o Quénia, o horizonte temporal seria reduzido
em 17 anos, de 2030 para 2013 — uma transição
Grécia Urbano
que faria com que o país ficasse a uma distância
0,9 Xangai que lhe permitiria atingir a meta do Objectivo de
Emirados Desenvolvimento do Milénio que de outra forma
Árabes não conseguiria alcançar — reduzir para metade
Unidos
Rural a privação de rendimento.
Urbano
0,8 Urbano Como os exemplos mostram, a distribuição
Urbano
importa porque afecta a taxa em que o cresci-
China mento económico se converte em redução da po-
breza (a elasticidade do crescimento da pobreza).
0,7
Rural Assim, cada aumento de 1% no crescimento reduz
Gansu a pobreza em cerca de 1,5% no Vietname — duas
Guizhou vezes os 0,75% do México. A boa notícia é que
Índia Rural a desigualdade extrema não é um facto da vida
0,6
Camboja
Rural
que não se possa alterar. Ao longo dos últimos
Botsuana
cinco anos, o Brasil, um dos países do mundo
onde existem mais desigualdades, combinou um
0,5 forte desempenho económico com um declínio
na desigualdade de rendimentos (segundo fontes
Fonte: PNUD 2005d. nacionais, o índice de Gini desceu de 56 em 2001
para 54 em 2004) e na pobreza. O crescimento
económico criou emprego e aumentou os salários
reais. E um vasto programa de bem-estar social
ada numa escala de 0 (igualdade perfeita) a 100 — a Bolsa Família — fez transferências finan-
(desigualdade perfeita), varia de 33 na Ásia do ceiras para 7 milhões de famílias que vivem em
Sul a 57 na América Latina e a mais de 70 na pobreza extrema ou moderada para apoiar a nu-
África Subsariana. Ainda que seja necessário cui- trição, a saúde e a educação, criando benefícios
dado nas comparações transversais das diversas hoje e activos para o futuro. 4
regiões, estas diferenças regionais estão associa- A distribuição de rendimentos não é ape-
das a grandes variações nas proporções de rendi- nas uma questão para os países em desenvolvi-
mento dos 20% mais ricos e mais pobres. Tam- mento. Conforme realça o IDH por quintis de

272 R e l at ó r i o d o D e s e n v o lv i m e n t o H u m a n o 2 0 0 6
rendimento para os Estados Unidos, também é Dentro de qualquer país, os níveis elevados Figura 12 Grandes diferenças
importante em alguns dos países mais ricos do de desigualdade de rendimentos e de oportunida- étnicas no IDH da
mundo. Ao longo do último quarto de século, des representam um constrangimento ao desen- Guatemala
a lacuna existente entre a base da distribuição volvimento humano. Para além das implicações
IDH, 2004
de rendimentos dos Estados Unidos e o meio e adversas que têm para o dinamismo económico, 0,8
topo aumentou de forma dramática. Entre 1980 e crescimento e coesão social, limitam a conversão
2004, o rendimento dos 1% dos agregados fami- do crescimento em desenvolvimento humano. O
liares mais ricos (rendimentos médios de mais de mesmo se aplica a nível global, onde as divisões Indonésia Ladino
0,7
721.000 dólares em 2004) subiu 135%. Ao longo cada vez mais visíveis que separam os ricos dos
Guatemala
do mesmo período, os salários reais da manufac- pobres se tornaram um ponto central de descon-
tura desceram 1%. A proporção de rendimento tentamento. Um dos principais desafios em ter- Índia
0,6
nacional dos 1% mais ricos duplicou para 16% ao mos de desenvolvimento humano nas décadas à
Botsuana
longo do mesmo período. Por outras palavras, os nossa frente consiste em diminuir a tolerância Achi
frutos dos ganhos de produtividade que condu- pelas desigualdades extremas que caracterizaram
Camarões Quechua
ziram o crescimento nos Estados Unidos foram a globalização desde o início da década de 90 e 0,5
Zimbabué
fortemente enviesados para as partes mais ricas em garantir que a maré cheia da prosperidade Poqomchi
da sociedade. se estenda a muitos e não apenas a uns quantos
A desigualdade crescente restringe as oportu- privilegiados. 0,4
nidades? Uma forma de abordar esta questão con- Fonte: PNUD 2005b.
siste em medir a influência do poder económico
dos pais sobre os futuros ganhos dos seus filhos.
Em países com desigualdade reduzida — como Notas
a Dinamarca e a Noruega — os rendimentos dos 1 Aristóteles, Nicomachean Ethics, Livro 1, Capítulo 5.
pais explicam cerca de 20% dos ganhos dos filhos. 2 Sen 1999, p.3.
Para os Estados Unidos — e para o Reino Unido 3 Kennedy 1962, p. 626.
— esse número sobe para mais de 50%. 4 IBGE 2005.

R e l at ó r i o d o D e s e n v o lv i m e n t o H u m a n o 2 0 0 6 2 73
Guia do leitor e notas relativas aos quadros

Os quadros de indicadores do desenvolvimento hu- culos efectuados pelo Gabinete do Relatório do


mano oferecem uma avaliação global das realizações Desenvolvimento Humano, de forma a garantir
dos países em diferentes áreas do desenvolvimento que todos os cálculos possam ser facilmente repro-
humano. Os principais quadros estão organizados duzidos. Os indicadores relativamente aos quais
de forma temática, tal como indicado pelos cabeça- possam ser fornecidas definições curtas e signi-
lhos no topo de cada quadro. Os quadros disponi- ficativas estão incluídos na secção Definições de
bilizam dados referentes a 175 países membros da termos estatísticos. Outras informações relevantes
ONU — aqueles para os quais foi possível calcular surgem nas notas no final de cada quadro. Para
o índice de desenvolvimento humano (IDH) — em informações técnicas mais pormenorizadas sobre
conjunto com Hong Kong, China (RAE) e os Terri- estes indicadores, consulte os sites relevantes das
tórios Ocupados da Palestina. Devido à ausência de agências que forneceram dados no site do Relatório
dados, não foi possível calcular o IDH dos restantes do Desenvolvimento Humano em http://hdr.undp.
17 países membros da ONU. Os indicadores básicos org/statistics/.
de desenvolvimento humano destes países são apre-
sentados no quadro 1a.
Nos quadros, os países e áreas são classificados Discrepâncias entre estimativas
pelo valor do seu IDH. Para localizar um país nestes nacionais e internacionais
quadros, consulte a Chave de países na contracapa,
que apresenta os países por ordem alfabética com a Quando recolhem séries de dados internacionais, as
sua respectiva posição no IDH. A maioria dos dados agências internacionais de dados aplicam frequen-
dos quadros refere-se a 2004 e constituem aqueles temente normas e procedimentos de harmonização
que foram disponibilizados ao Gabinete do Relató- internacionais de forma a melhorar a comparabili-
rio do Desenvolvimento Humano até 1 de Agosto de dade entre países. Quando os dados internacionais
2006, salvo indicação em contrário. se baseiam em estatísticas nacionais, como geral-
mente acontece, pode surgir a necessidade de ajustar
os dados nacionais. Quando não existem dados para
Fontes e definições um país, uma agência internacional pode elaborar
uma estimativa, caso possa ser utilizada outra infor-
O Gabinete do Relatório do Desenvolvimento mação relevante. E, devido às dificuldades de coor-
Humano é principalmente um utilizador, e não denação entre agências de dados nacionais e inter-
um produtor, de estatísticas. Conta com as agên- nacionais, as séries de dados internacionais podem
cias internacionais de dados que têm os recursos e não incorporar os dados nacionais mais recentes.
o conhecimento necessários para recolher e com- Todos estes factores podem conduzir a discrepân-
pilar dados sobre indicadores estatísticos especí- cias significativas entre as estimativas nacionais e
ficos. As fontes de todos os dados utilizados na internacionais.
compilação dos quadros de indicadores são apre- Este Relatório tem revelado estas discrepâncias
sentadas em curtas notas no final de cada quadro. com frequência. Quando surgiram discrepâncias de
Estas correspondem às referências completas apre- dados, o Gabinete ajudou a articular as autoridades
sentadas nas Referências estatísticas. Quando uma de dados nacionais e internacionais para estas pode-
agência fornece dados que recolheu junto de outra rem resolver estas discrepâncias. Em muitos casos,
fonte, ambas as fontes são creditadas nas notas tal conduziu à optimização das estatísticas do Rela-
dos quadros. Mas quando uma agência se baseia tório. O Gabinete do Relatório do Desenvolvimento
no trabalho de uma série de outras fontes, apenas Humano defende a melhoria dos dados internacio-
ela é mencionada como fonte. As notas sobre as nais, tem um papel activo no apoio aos esforços para
fontes também apresentam as componentes dos melhorar a qualidade dos dados e trabalha com
dados originais utilizadas em quaisquer dos cál- agências nacionais e organismos internacionais para

274 R e l at ó r i o d o D e s e n v o lv i m e n t o H u m a n o 2 0 0 6
melhorar a consistência dos dados através de uma ganização para a Cooperação e o Desenvolvimento
maior sistematização da notificação e monitoriza- Económico). Estes grupos não são mutuamente ex-
ção dos dados. clusivos. (A substituição do grupo da OCDE pelo
grupo de rendimento elevado da OCDE e a exclusão
da República da Coreia dariam lugar a grupos mutu-
Comparabilidade no tempo amente exclusivos.) Salvo indicação em contrário, a
classificação mundo representa o universo dos 194
As estatísticas apresentadas nas diferentes edições países e áreas cobertos — 192 países membros da
do Relatório podem não ser comparáveis, devido a ONU em conjunto com Hong Kong, China (RAE)
revisões dos dados ou a mudanças na metodologia. e os Territórios Ocupados da Palestina.
Por esta razão, o Gabinete do Relatório do Desen-
volvimento Humano desaconselha firmemente a
análise de tendências com base em dados de diferen- Classificações regionais
tes edições. De igual modo, os valores e classificações Os países em desenvolvimento são ainda classificados
do IDH não são comparáveis entre diferentes edi- nas regiões: Países Árabes, Ásia Oriental e Pacífico,
ções do Relatório. Para uma análise das tendências América Latina e Caraíbas (incluindo o México),
do IDH baseada em dados e metodologia consisten- Ásia do Sul, Europa do Sul e África Subsariana. Estas
tes, consulte o quadro 2 (Tendências do índice de classificações regionais são consistentes com as De-
desenvolvimento humano). legações Regionais do Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento. Existe uma classificação
adicional, a de países menos desenvolvidos, tal como
Classificações de países definida pela ONU (ONU-OHRLLS 2006).

Os países são classificados de quatro formas: por


nível de desenvolvimento humano, por rendimento, Agregados e taxas de crescimento
por principais agregados mundiais e por região (ver
Classificação dos países). Estas designações não expri-
mem necessariamente um julgamento sobre a fase de Agregados
desenvolvimento de um dado país ou área. O termo Os agregados das classificações acima descritas são
país, tal como utilizado no texto e nos quadros, re- apresentados no final dos quadros sempre que se
fere-se, conforme aplicável, a territórios ou áreas. trate de uma informação significativa do ponto de
vista analítico e caso se disponha de dados suficien-
tes. Os agregados que representam o total da classi-
Classificações de desenvolvimento ficação (como no caso da população) são indicados
humano por um T. Todos os outros agregados constituem
Todos os países incluídos no IDH são classificados médias ponderadas.
num dos três grupos atendendo aos seus progres- Em geral, apresenta-se um agregado de um agru-
sos no desenvolvimento humano: desenvolvimento pamento de países apenas quando há disponibili-
humano elevado (com um IDH igual ou superior dade de dados relativamente a metade dos países e
a 0,800), desenvolvimento humano médio (IDH quando estes representam pelo menos dois terços do
entre 0,500 e 0,799) e desenvolvimento humano peso disponível naquela classificação. O Gabinete
baixo (IDH inferior a 0,500). do Relatório do Desenvolvimento Humano não
preenche os dados em falta para efeitos de agrega-
ção. Consequentemente, salvo indicação em con-
Classificações de rendimento trário, os agregados de cada classificação represen-
Todos os países são agrupados por rendimento, de tam apenas os países para os quais existem dados
acordo com as classificações do Banco Mundial: ren- disponíveis, correspondem ao ano ou período es-
dimento elevado (rendimento nacional bruto per pecificado e dizem respeito somente aos dados das
capita igual ou superior a 10.066 dólares em 2004), principais fontes enumeradas. Não são apresentados
rendimento médio (entre 826 e 10.065 dólares) e agregados em caso de indisponibilidade de procedi-
rendimento baixo (825 dólares ou menos). mentos adequados de ponderação.
Os agregados dos índices, taxas de crescimento
e indicadores correspondentes a mais de um ponto
Principais classificações mundiais no tempo baseiam-se apenas em países para os quais
Os três grupos globais são os países em desenvolvi- existem dados disponíveis para todos os pontos ne-
mento, Europa Central e Oriental e a CEI (Comu- cessários no tempo. Quando não se apresenta um
nidade de Estados Independentes) e OCDE (Or- agregado para uma ou mais regiões, nem sempre se

R e l at ó r i o d o D e s e n v o lv i m e n t o H u m a n o 2 0 0 6 2 75
apresentam os agregados da classificação mundial, .. Dados não disponíveis.
que respeita apenas ao universo dos 194 países e (.) Maior (ou menor) do que zero, mas pequeno
áreas. o suficiente para que o número ronde zero
Os agregados que constam deste Relatório nem no número visível de casas decimais.
sempre correspondem aos que são indicados noutras < Menor que.
publicações devido a diferenças nas classificações de — Não aplicável.
países e na metodologia. Quando indicado, os agrega- T Total.
dos são calculados pelo organismo de estatística que
forneceu os dados do indicador.
Quadro 1: sobre o índice de
desenvolvimento humano
Taxas de crescimento
As taxas de crescimento plurianuais são expressas O índice de desenvolvimento humano (IDH) é um
como taxas anuais médias de variação. Nos cálculos índice composto que mede as realizações médias
das taxas de crescimento, o Gabinete do Relatório num país em três dimensões básicas do desenvolvi-
do Desenvolvimento Humano utiliza somente os mento humano: uma vida longa e saudável, medida
pontos inicial e final. As taxas de crescimento de pela esperança de vida à nascença; conhecimento,
ano para ano são expressas como variações percen- medido pela taxa de alfabetização de adultos e pela
tuais anuais. taxa de escolarização bruta combinada dos ensinos
primário, secundário e superior; e um padrão de vida
digno, medido pelo produto interno bruto (PIB) per
Notas sobre países capita em PPC (paridade do poder de compra) em
Salvo indicação em contrário, os dados relativos dólares. O índice é construído com base em indi-
à China não incluem Hong Kong, China (RAE), cadores disponíveis a nível mundial através de uma
Macau ou Taiwan (Província da China). Na maio- metodologia simples e transparente (ver Nota Téc-
ria dos casos, os dados da Eritreia anteriores a 1992 nica 1).
estão incluídos nos dados da Etiópia. Os dados da Se o conceito de desenvolvimento humano é
Alemanha dizem respeito à Alemanha unificada, muito mais vasto do que qualquer resultado que
salvo indicação em contrário. Os dados da Indoné- um índice composto possa oferecer, o IDH oferece
sia incluem Timor-Leste até 1999, salvo indicação uma alternativa poderosa ao rendimento enquanto
em contrário. Os dados da Jordânia dizem respeito medida sumária do bem-estar humano. Oferece um
apenas à Cisjordânia. Os dados económicos da Tan- ponto de partida útil para a riqueza de informa-
zânia contemplam apenas o território continental. ção sobre os diversos aspectos do desenvolvimento
Os dados do Sudão baseiam-se frequentemente em humano que consta dos quadros de indicadores
informações recolhidas na região norte do país. En- subsequentes.
quanto a Sérvia e o Montenegro se tornaram dois Es-
tados independentes em Junho de 2006, os quadros
dos indicadores fornecem geralmente dados apenas A disponibilidade dos dados determina a
para o país Sérvia e Montenegro, uma vez que os cobertura dos países no IDH
dados desagregados ainda não estavam disponíveis O IDH deste Relatório diz respeito a 2004. Cobre
aquando da impressão. Quaisquer dados da Repú- 175 países membros da ONU, em conjunto com
blica do Iémen dizem respeito a este país a partir Hong Kong, China (RAE) e os Territórios Ocupa-
de 1990, ao passo que os dados de anos anteriores dos da Palestina. Devido à ausência de dados compa-
dizem respeito a dados acumulados da antiga Repú- ráveis, não foi possível incluir 17 países membros da
blica Democrática Popular do Iémen e da antiga Re- ONU no IDH deste ano. Os indicadores básicos do
pública Árabe do Iémen. desenvolvimento humano destes países são apresen-
tados no quadro 1a.
De forma a permitir comparações transversais
Símbolos entre países, o IDH é calculado, na medida do pos-
Na ausência das expressões anual, taxa anual ou sível, com base em dados das principais agências de
taxa de crescimento, um hífen entre dois anos, dados internacionais disponíveis no momento em que
como em 1995-2000, indica que os dados foram o Relatório foi preparado (ver abaixo Principais fontes
recolhidos durante um dos anos desse período. de dados internacionais). Mas estas agências não dis-
Uma barra entre dois anos, como em 1998/2001, põem de dados relativos a alguns países no que toca a
indica uma média para os anos apresentados salvo uma ou mais das quatro componentes do IDH.
indicação em contrário. São utilizados os seguin- Em resposta ao desejo expressado pelos países de
tes símbolos: serem incluídos no quadro do IDH, e em conformi-

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dade com o objectivo de incluir o máximo possível Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
de países membros da ONU, o Gabinete do Relató- (UNESCO) (Instituto de Estatística da UNESCO
rio do Desenvolvimento Humano levou a cabo di- 2006c) e a estimativas UIS do Instituto de Estatís-
ligências especiais para obter estimativas de outras tica da UNESCO (2003). As estimativas nacionais,
fontes internacionais, regionais ou nacionais quando disponibilizadas através de esforços concertados do
as principais agências internacionais não dispõem de UIS para recolher dados recentes sobre a alfabeti-
dados relativos a uma ou duas componentes do IDH zação dos países, são obtidas através de censos na-
de um país. Foram poucos os casos em que o Gabi- cionais ou inquéritos realizados entre 2000 e 2005
nete do Relatório do Desenvolvimento Humano (à excepção de alguns casos que dizem respeito ao
elaborou estimativas. Estas estimativas de outras período de 1995-1999). As estimativas do UIS, rea-
fontes que não as principais agências internacionais lizadas em Julho de 2002, basearam-se maioritaria-
encontram-se claramente documentadas nas notas mente em dados nacionais recolhidos antes de 1995.
de rodapé do quadro 1. A sua qualidade e fiabili- Para pormenores sobre estas estimativas de alfabeti-
dade é variável, pelo que não são contempladas nou- zação, ver www.uis.unesco.org.
tros quadros de indicadores que apresentam dados Muitos países de elevado rendimento, tendo
semelhantes. atingido altos níveis de alfabetização, deixaram de
compilar estatísticas sobre alfabetização, pelo que
não foram incluídos nos dados do UIS. Para o cál-
Principais fontes de dados internacionais culo do IDH, aplicou-se a estes países uma taxa de
Esperança de vida à nascença. As estimativas da espe- alfabetização de 99,0%.
rança de vida à nascença são provenientes do World Quando recolhem dados sobre alfabetização,
Population Prospects: the 2004 Revision (ONU muitos países estimam o número de pessoas alfa-
2005b), a fonte oficial de estimativas e projecções betizadas com base em dados fornecidos pelos pró-
sobre a população da ONU. São preparadas bianual- prios. Outros recorrem a informações sobre habilita-
mente pela Divisão da População do Departamento ções literárias como medida de substituição, mas os
dos Assuntos Económicos e Sociais das Nações Uni- dados sobre frequência escolar ou conclusão de graus
das recorrendo a dados de sistemas de estatísticas vi- de ensino podem divergir. Como as definições e mé-
tais, censos da população e inquéritos nacionais. todos de recolha de dados variam de país para país,
Na 2004 Revision, a Divisão da População das as estimativas de alfabetização devem ser analisadas
Nações Unidas incorporou dados nacionais que lhe com precaução.
foram disponibilizados até ao final de 2004. Para O UIS, em colaboração com agências parceiras,
avaliar o impacto do VIH/SIDA, aliaram-se as úl- está activamente empenhado na implementação de
timas estimativas sobre a prevalência do VIH dis- uma metodologia alternativa de medição da alfabeti-
poníveis na altura, preparadas pelo Programa Con- zação, o Programa de Avaliação e Monitorização da
junto das Nações Unidas sobre VIH/SIDA, a uma Alfabetização (LAMP, na sigla em inglês). O LAMP
série de pressupostos sobre tendências demográficas procura ir além das simples categorias de alfabeti-
e mortalidade, tanto da população infectada como zado e analfabeto através do fornecimento contínuo
não infectada de cada um dos 60 países nos quais o de informação sobre competências de alfabetização.
impacto da doença foi explicitamente formulado.
Estas estimativas da esperança de vida são pu-
blicadas pela Divisão da População das Nações Uni- Taxa de escolarização bruta combinada dos ensinos
das com intervalos de cinco anos como ponto de primário, secundário e superior. As taxas de escola-
referência. As estimativas para 2004 apresentadas rização bruta são calculadas pelo UIS com base em
no quadro 1 e as que estão subjacentes ao quadro 2 dados sobre matrículas compilados pelos governos
são interpolações anuais baseadas nestes dados de nacionais (normalmente a partir de fontes adminis-
cinco anos (ONU 2005a). Para pormenores sobre trativas) e em dados da população do World Popula-
o World Population Prospects: the 2004 Revision tion Prospects: the 2004 Revision (ONU 2005), da
(ONU 2005h), ver www.un.org/esa/population/ Divisão da População das Nações Unidas. Os rácios
unpop.htm. são calculados através da divisão do número de es-
tudantes matriculados em todos os níveis de ensino
(excluindo o ensino de adultos) pela população total
Taxa de alfabetização de adultos. Os dados sobre a al- dos grupos etários oficiais para aqueles níveis. O
fabetização de adultos resultam de censos nacionais grupo etário do ensino superior é fixado nas cinco
da população ou inquéritos às famílias. Este Relató- coortes imediatamente seguintes ao fim do último
rio recorre a estimativas nacionais sobre a alfabeti- ciclo do ensino secundário em todos os países.
zação de adultos da Avaliação de Abril de 2006 do Embora se pretenda que funcione como uma
Instituto de Estatística (UIS) da Organização das medida de substituição das habilitações literárias, as

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taxas de escolarização bruta combinada não reflec- Embora as últimas décadas tenham testemu-
tem a qualidade dos resultados educativos. Mesmo nhado um significativo progresso, o conjunto de
quando usadas para captar acesso a oportunidades dados actuais da PPC apresenta várias deficiências,
de educação, as taxas de escolarização bruta com- como a ausência de cobertura universal, de actuali-
binada podem ocultar importantes discrepâncias dade dos dados e de uniformidade na qualidade dos
entre países devido a diferenças na faixa etária cor- resultados de diferentes regiões e países. A impor-
respondente a um nível de educação e na duração dos tância das PPC na análise económica reforça a neces-
programas educativos. As taxas de repetência e aban- sidade de melhoria dos dados PPC. Foi criada uma
dono escolar também podem distorcer os dados. Me- nova Ronda do Milénio do PCI que promete dados
didas como os anos médios de escolaridade de uma PPC bastante mais fiáveis para a análise da política
população ou a esperança de vida escolar poderiam económica, incluindo a avaliação internacional da
representar de forma mais adequada as habilitações pobreza. Para pormenores sobre o PCI e a metodo-
literárias e, idealmente, deveriam substituir a taxa de logia PPC, consultar o site do PCI em www.world-
escolarização bruta no IDH. No entanto, este tipo bank.org/data/icp.
de dados ainda não se encontra disponível com regu-
laridade num número suficiente de países.
Tal como está actualmente definida, a taxa de Comparações no tempo e entre edições
escolarização bruta combinada não contempla os es- do Relatório
tudantes matriculados noutros países. Os dados ac- O IDH é uma importante ferramenta para monito-
tuais referentes a muitos países de pequena dimen- rizar tendências de longo prazo no desenvolvimento
são, onde é comum prosseguir o ensino superior no humano. Para facilitar a análise de tendências entre
estrangeiro, poderão estar a subrepresentar significa- países, o IDH é calculado em intervalos de cinco anos
tivamente o acesso à educação ou as habilitações lite- para o período de 1975-2004. Estas estimativas, apre-
rárias de uma determinada população, produzindo sentadas no quadro 2, baseiam-se numa metodologia
assim um valor inferior no IDH. consistente e em dados de tendências comparáveis,
Em edições anteriores, os dados relativos a alguns disponíveis quando o Relatório é preparado.
países incluíam o ensino de adultos, contrariamente Como as agências internacionais de dados
à definição preferida do indicador de escolarização. aperfeiçoam constantemente as suas séries de
Os dados contidos no Relatório deste ano excluem o dados, inclusivamente através da actualização
ensino de adultos para estes países, fazendo com que periódica de dados históricos, as variações anu-
os seus dados estejam conformes à definição padrão. ais nos valores e classificações do IDH ao longo
Como resultado, as taxas de escolarização e os valo- das edições do Relatório do Desenvolvimento
res do IDH para estes países são mais baixas do que Humano ref lectem frequentemente revisões dos
se o ensino de adultos tivesse sido incluído. dados — tanto relativos a um país específico
como a outros países — e não mudanças reais
num país. Por outro lado, mudanças ocasionais
PIB per capita (PPC em USD). Na comparação na cobertura de países poderão também afectar a
dos padrões de vida entre países, as estatísticas classificação de um país no IDH, mesmo quando
económicas têm que ser convertidas para termos é utilizada metodologia consistente para calcu-
de paridade do poder de compra (PPC) de forma lar o IDH. Como resultado, a classificação de
a eliminar diferenças nos níveis de preços nacio- um país no IDH pode baixar consideravelmente
nais. O IDH contempla dados do PIB per capita entre dois Relatórios consecutivos. Mas quando
(PPC em USD) de 164 países, fornecidos pelo se utilizam dados comparáveis e revistos para re-
Banco Mundial, com base em dados de preços construir o IDH dos últimos anos, a classifica-
dos últimos inquéritos do Programa de Compa- ção e o valor do IDH podem efectivamente apre-
ração Internacional (PCI) e no PIB em moeda sentar melhorias.
local, segundo dados das contas nacionais. A úl- É por todas estas razões que a análise de ten-
tima ronda de inquéritos PCI cobriu 118 países. dências do IDH não deve ser baseada em dados
As PPC para estes países são estimadas directa- de diferentes edições do Relatório. O quadro
mente, por extrapolação dos últimos resultados 2 oferece dados actualizados de tendências do
de referência. Para países não incluídos nos in- IDH baseados em dados e metodologias consis-
quéritos PCI, foram efectuadas estimativas atra- tentes. Para consultar valores e classificações do
vés de regressões econométricas. Para países não IDH recalculados para 2003 (o ano de referência
cobertos pelo Banco Mundial, foram utilizadas do IDH no Relatório do Desenvolvimento Hu-
estimativas da PPC fornecidas pela Penn World mano 2005), com base nas fontes de dados utili-
Tables da Universidade da Pensilvânia (Heston, zadas para o IDH do Relatório deste ano, aceda
Summers e Aten 2001, 2002). a http://hdr.undp.org/statistics.

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IDH para países com desenvolvimento de género. Pelo contrário, trata-se de um método
humano elevado de medição do desenvolvimento humano que ajusta
O IDH neste Relatório foi construído de forma a o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de
comparar o progresso dos países em todos os níveis forma a penalizar as disparidades existentes entre
do desenvolvimento humano. Assim, os indicadores homens e mulheres, nas três dimensões contem-
escolhidos não são necessariamente aqueles que ofe- pladas no IDH: uma vida longa e saudável, conhe-
recem uma melhor diferenciação entre países ricos. cimento e um nível de vida digno (medido em fun-
Os indicadores actualmente utilizados no índice ção do rendimento auferido estimado) (ver Nota
produzem diferenças muito pequenas entre os paí- técnica 1).
ses melhor classificados no IDH, pelo que o topo da A fórmula de cálculo do IDG implica que o
classificação do IDH reflecte frequentemente apenas mesmo irá registar sempre um valor inferior ao do
diferenças mínimas nestes indicadores subjacentes. IDH. Mas um valor de IDG baixo pode ser resultante
Para estes países de elevado rendimento, um índice de disparidades a nível do grau de realizações alcança-
alternativo – o índice de pobreza humana (apresen- das por mulheres e homens, assim como de uma média
tado no quadro 4) – reflecte melhor a extensão da de realizações baixa, em qualquer das dimensões con-
privação humana que ainda persiste nas populações sideradas no índice, ainda que o nível de igualdade
destes países e ajuda a orientar o enfoque das políti- de género seja elevado. Pelo contrário, um país pode
cas públicas. apresentar um valor de IDG relativamente alto, ainda
Para mais informações sobre a utilização e as li- que se registem grandes desigualdades entre homens
mitações do IDH e dos indicadores que o compõem, e mulheres, desde que o seu nível de desenvolvimento
ver http://hdr.undp.org/statistics. humano seja elevado. A forma correcta de se obter
uma medida de desigualdade de género é comparar o
IDG com o IDH, utilizando como indicador para tal,
Quadros 24 e 25: passagem quer a diferença quer o rácio entre os dois, em vez de se
em revista do Índice de utilizar apenas o IDG.
Desenvolvimento ajustado ao As diferenças entre o IDG e o IDH tendem a ser
Género e da Medida de Participação pequenas na generalidade dos casos. O IDG é, em
segundo o Género média, 0,6% inferior ao IDH. Isto poderá transmitir-
nos a ideia, altamente enganadora, de que as dispari-
O Relatório do Desenvolvimento Humano apresen- dades de género são completamente irrelevantes para
tou, pela primeira vez, o Índice de Desenvolvimento o desenvolvimento humano. O problema reside no
ajustado ao Género (IDG) e a Medida de Participa- facto de as disparidades de género apuradas nas três
ção segundo o Género (MPG) em 1995. Estas medi- dimensões em análise serem geralmente pequenas —
das têm sido utilizadas desde então como ferramen- e mais reduzidas ainda por oposição à fórmula de de-
tas de intervenção e de monitorização em análises e sigualdade utilizada no cálculo do IDG. Pela mesma
debates políticos subordinados ao tema do desenvol- razão, grandes desigualdades associadas ao salário e às
vimento humano ajustado ao género. Assinalando o promoções no emprego, bem como ao grau de educa-
décimo aniversário do IDG e da MPG, o Gabinete ção, não são detectadas no IDG.
do Relatório do Desenvolvimento Humano lançou
uma avaliação dos índices para identificar as áreas
susceptíveis de melhoria e ponderar outros instru- MPG — uma medida de níveis de
mentos alternativos de medida por forma a exami- actividade
nar a igualdade de género como um aspecto chave A MPG foi introduzida com o objectivo de medir
do desenvolvimento humano. Esta parte do relatório a capacidade de participação activa na vida po-
pretende fazer um resumo das principais conclusões lítica e económica por parte de mulheres e ho-
deste projecto e sublinhar as possíveis alterações a mens, bem como o seu controlo sobre os recursos
introduzir nos índices. As comunicações elaboradas económicos.
para este projecto, bem como os resultados de um Ao contrário do IDG, que se ocupa do bem-
workshop organizado para as debater, foram publi- estar, a MPG concentra-se na vida activa. A medida
cados numa edição especial do Journal of Human nesta área engloba três dimensões: participação po-
Development.1 lítica e intervenção na tomada de decisão, participa-
ção económica e participação na tomada de decisão,
e poder sobre os recursos económicos. O cálculo da
O IDG tem sido (mal) interpretado MPG, cuja explicação também poderá encontrar na
A reavaliação concluiu que os índices têm sido fre- Nota técnica 1, reflecte o do IDG. As duas primeiras
quentemente mal interpretados, especialmente o componentes são calculadas a partir dos rácios de
IDG. O IDG não pretende medir a desigualdade participação feminina para masculina, a que é apli-

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cada uma penalização por aversão à desigualdade. liar mostram, muitas vezes, que as diferenças de
A componente do rendimento auferido incorpora, padrões de vida dos membros do agregado são
por outro lado, a desigualdade ajustada aos níveis de menores do que aquelas que os rendimentos
rendimentos. reais auferidos poderiam sugerir. Nenhum des-
Isto tem implicações na interpretação do índice. tes problemas tem solução fácil, embora o traba-
Um país pobre não pode alcançar um valor de MPG lho em curso possa vir a aperfeiçoar os meios de
elevado, ainda que o rendimento auferido seja equi- medição das disparidades de género.
tativamente distribuído. Pelo contrário, um país rico • Produzir uma MPG que contemple parcelas de
pode estar bem posicionado em termos de MPG, rendimento. A MPG inclui o nível de rendi-
quer porque a disparidade de género nas três dimen- mento médio absoluto em cada país, o que quer
sões é pequena, quer porque se trata de um país rico dizer que só os países ricos conseguem atingir
(o que por sua vez faz subir o seu valor MPG devido um valor de MPG elevado. A solução deste pro-
à componente dos rendimentos). blema poderia passar por se considerar somente
a parcela de rendimento de homens e mulheres,
em vez dos níveis de rendimento médios.
Questões levantadas na reavaliação do • Ter em atenção novos indicadores. Nos indicado-
IDG e da MPG res actuais, não estão inseridos alguns aspectos
A reavaliação do IDG e da MPG aborda um vasto importantes da discriminação de género no de-
leque de questões analíticas e metodológicas. Entre senvolvimento humano. Um exemplo disto é o
os aspectos chave relativos à medição e as propostas trabalho de assistência, que não consta do IDG
de soluções incluem-se: ou da MPG, porque estes se concentram exclusi-
• Melhorar a apresentação e explicação do IDG e da vamente no mercado de trabalho. Trata-se de uma
MPG. Compreensão dos problemas conceptuais área em que os investigadores e a comunidade es-
e empíricos identificados aqui ajudarão os leito- tatística internacional poderiam ajudar a criar
res a fazer melhor uso dos dois índices. O IDG e a consolidar, progressivamente, uma base de
e a MPG continuarão a ser objecto de aperfeiço- dados mais sólida. A violência contra as mulheres
amento e clarificação em futuros Relatórios do é outra lacuna importante dos índices. Embora
Desenvolvimento Humano. as estatísticas relativas à violência tenham me-
• Criar um IDH separado para homens e mulheres lhorado muito nos últimos anos, continuamos a
em substituição do IDG. Uma forma de tornar mais deparar-nos com enormes dificuldades para fazer
perceptíveis as diferenças relacionadas com o gé- a comparação de dados entre países e avaliar a
nero nos indicadores do desenvolvimento humano evolução nessa área. Como só dispomos de dados
passaria pela criação de IDH para homens e para fiáveis para um número relativamente pequeno de
mulheres. A interpretação das diferenças entre os países, ainda não nos é possível incluir um indi-
dois índices pode ser mais fácil do que no IDG. cador sobre a violência relacionada com o género,
• Resolver os problemas relativos ao rendimento mas o Relatório do Desenvolvimento Humano irá
auferido por homens e mulheres: Dado que os incentivar e monitorizar uma maior recolha deste
valores relativos aos rendimentos desagregados tipo de dados.
não estão normalmente disponíveis, fazer a es- Tanto o IDH como a MPG estimularam um
timativa do rendimento auferido para homens debate público sobre a igualdade de género. O Rela-
e mulheres constitui um dos aspectos mais pro- tório do Desenvolvimento Humano está empenhado
blemáticos do actual método de cálculo do IDG em prosseguir com esse debate. Os problemas levan-
e da MPG. A estimativa do Gabinete do Relató- tados durante a reavaliação do IDG e da MPG, e que
rio do Desenvolvimento Humano para os ren- se encontram sublinhados aqui, serão abordados em
dimentos auferidos masculinos e femininos ba- Relatórios futuros à medida que as investigações
seia-se no rácio de salários do sector não agrícola forem progredindo.
e na taxa de participação de mão-de-obra por
género. Esta abordagem apresenta lacunas gra-
ves. Primeiro, porque os dados essenciais estão, Nota
muitas vezes, indisponíveis. Segundo, porque as
transferências de rendimento no agregado fami- 1 Journal of Human Development 7 (2).

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