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No sentido formal, para fins de uma definição clara, “A política curricular é toda
aquela decisão ou condicionamento dos conteúdos e da prática do desenvolvimento
do currículo a partir das instâncias de decisão política e administrativa, estabelecendo
as regras do jogo do sistema curricular”, sendo a política “um primeiro
condicionamento direto do currículo, enquanto o regula, e indiretamente, través de
sua ação em outros agentes moldadores.” (ibid, p. 108).
Toda nação estabelece os fins, os meios e as formas de controle sobre os
sistemas de ensino de modo a que ele expresse os interesses da sociedade (de
formação cultural propedêutica e de formação profissional, funcional ao trabalho), e
esses elementos de configuração que constitui toda a concepção de escola, o seu
papel social em face das demandas, sociais são concebidos e regulados em
conformidade com o equilíbrio de forças entre os grupos ou classes com interesses
contraditórios. É neste sentido, acrescentamos, que a política curricular não constitui-
se como prática institucional neutra.
Toda prática em torno do currículo é política, uma vez que a política curricular é
resultado das relações sociais em favor de sua reprodução ou de sua contestação e
superação, e sendo o caso de uma sociedade desigual baseada em relações de
exploração, atende aos interesses majoritários da classe dominante (opressores) em
desfavor da classe dominada (oprimidos). Daí que o campo progressista, ou de outro
modo, o campo dos pensadores e educadores da crítica da educação nas suas
diferentes matizes, defendem, por um lado, uma política curricular obedecendo aos
padrões de configuração e de regulação do currículo no sentido de valorizar e garantir
a socialização do conhecimento historicamente construído e sistematizado pela
humanidade, para que estes conhecimentos sejam assimilados pela classe
trabalhadora e funcionar como instrumento de acesso aos bens culturais e ao
trabalho, assim como instrumentalização da classe trabalhadora nas sua luta pela
democratização da sociedade e da educação; por outro lado, considerando a dimensão
cultural em sentido de corresponder aos valores, às experiências, às identidades e
diferenças de grupos historicamente marginalizados, o que inclui questões de classe,
étnicas, raciais, de gênero, de condição social imposta por mecanismos diferenciados
de opressão, este mesmo campo progressista de matiz cultural e popular, defendem
uma política curricular de crítica e de confrontação, ou de problematização da forma
curricular oficial, por esta forma de política curricular ser estruturada e concebida por
grupos ou classes sociais opressores, e em seu lugar defendem que se expresse no
currículo institucionalizado os seus interesses de classes ou grupo social no sentido de
superação da opressão. O ponto de partida desse campo progressista seria muito mais
a cultura popular e as culturas identitárias do que propriamente os conteúdos
sistematizados pela racionalidade moderna e contemporânea, ou pelo menos uma
configuração curricular oficial que incluam os interesses de classe ou grupo social
historicamente marginalizados.
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escolaridade obrigatória de todos os cidadãos. “A ideia do currículo comum na
educação obrigatória é inerente a um projeto unificador de educação nacional”, de
modo que
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currículo mínimo comum para uma pretensa escola comum seria o intento de facilitar
uma escola frequentada por todos os alunos, sem distinção social, seja em nível
fundamental (primário) ou em nível médio (secundário), conforme observa Sacristán.
Ele nota que em um sistema educativo com uma rede privada e uma rede
pública, como temos em nosso país, que recebe diferentes tipos de alunos, “a
existência de mínimos curriculares regulados deve expressar uma cultura que se
considere válida para todos”, supondo “uma política educativa progressista (para que
não seja taxada de igualadora com os menos dotados, desvalorizando assim o sistema
educativo e a qualidade do ensino), a necessidade de acompanhá-la dos meios para
tornar essa cultura comum efetiva, que realmente garanta uma educação de qualidade
aos que têm menos recursos para enfrentá-la com sucesso, buscando a igualdade de
oportunidades” (ibid, p. 112).
Por fim, ele considera que “A definição de mínimos para o ensino obrigatório
não é, pois, um problema puramente técnico ou de regulação burocrática do currículo,
mas sim adquire uma profunda significação cultura e social, expressando uma
importante opção política, da qual é preciso examinar todas as consequências.” (ibid).
Eis então a complexidade da política curricular. Ela envolve questões culturais e
políticas que caracterizam as sociedades marcadamente desiguais em termos de
acesso aos bens materiais e culturais. Numa perspectiva democrática, a política
curricular, quando se quer uma base nacional comum de cultura, precisa estabelecer
efetivamente uma cultura comum e os meios de acesso devem ser assegurados aos
que não dispõem de condições sociais, evitando assim a perpetuação de práticas
curriculares reprodutoras da desigualdade social.
REFERÊNCIA