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A DEFICIÊNCIA E O PSICÓLOGO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Leila Salomão de La lata Cury Tardivo1

Nesse capitulo, trazemos algumas reflexões a respeito das contribuições

que a Psicologia como Ciência e Profissão podem trazer no contexto tão amplo

e que abrange tantas e tão diversas pessoas e situações, que se configura a

Deficiência.

Pensando no papel, e no lugar do psicólogo nesse contexto, iniciamos

discutindo de forma breve as noções de dor e sofrimento psíquicos e as

vivências que a deficiência pode trazer, em especial as consequências da

mesma, na vida e todo seu entorno.

Discutimos resumidamente as noções de prevenção, ás quais cabem ao

psicólogo a participação. Em seguida, trato, nesse texto, das áreas de atuação

do psicólogo, como profissional e pesquisador, e concluo a apresentação com

algumas ilustrações, do trabalho do psicólogo como profissional e pesquisador

nesse contexto.

Conceituando Psicologia, trazemos as concepções que norteiam nossa

visão do papel e do ligar do psicólogo, (Tardivo, 2004; 2007) advindas de

Bleger (1975) que a define como uma ciência que abarca o estudo de todas as

manifestações do ser humano e tais manifestações se dão sempre, no nível

psicológico de integração Dessa forma, a deficiência é uma manifestação do

ser humano que o afeta, bem como a seu grupo, familiar e social, sempre

nesse nível psicológico de integração.

1
Professora Livre Docente do Instituto de Psicologia da USP; coordenadora do Laboratório de Saúde
Mental e Psicologia Clínica Social – Projeto APOIAR do Departamento de Psicologia Clínica.
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Assim já se configura que o campo da deficiência . é um campo de

atuação da Psicologia como Ciência e como profissão. No entanto, muitos

psicólogos mesmo, e estudantes questionam o lugar e o papel do psicólogo

nesse contexto.

Poderíamos, assim iniciar essas reflexões, trazendo as idéias de Fedida

(1984 ) de que a deficiência também afeta ao profissional, em sua própria

subjetividade. Assim, os preconceitos já discutidos por colegas nesse mesmo

livro, podem atingir a qualquer um, incluindo psicólogos e estudantes, que

muitas vezes com defesas como a negação e a racionalização se afastam da

área. Esse afastamento, assim, pode não responder a uma escolha

profissional, mas muitas vezes acaba sendo motivado por esses aspectos

latentes, das dificuldades de encarar a deficiência, como o espelho de todas as

imperfeições e dificuldades que podem acometer a qualquer ser humano. Com

isso iniciamos a reflexão nesse livro que o campo da deficiência é de fato, um

campo de pesquisa e de atuação do psicólogo. E que as possibilidades são

muitas e sobre essas possibilidades, deveremos trazer alguns aspectos.

De acordo com a situação em que o psicólogo esteja inserido, serão

muitas outras as possibilidades, ou seja, na verdade, esse é um campo que se

abre e que os psicólogo precisam e podem se abrir e participar efetivamente..

Dessa maneira, se pode dizer do papel do psicólogo na área da

deficiência, já que a deficiência é m acontecer humano que ocorre num nível

psicológico de integração, maior ou menor., segundo as condições psíquicas ,

históricas e sociais de cada pessoa que tem a deficiência. O mesmo afirmamos

em outro contexto de atuação do psicólogo, no contexto hospitalar (Tardivo,

2008). .
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Retornando à concepção de Psicologia, como ciência, e buscando

apoio nas idéias, já citadas, de Bleger (1975), podemos afirmar que a

Psicologia é uma Ciência Humana, onde se trata de conhecer e ao mesmo

tempo modificar a realidade.

Dessa forma, no contexto da deficiência, trata-se de conhecer e

modificar , considerando sempre o que é possível.

Essa definição de Psicologia vem embasando nossos trabalhos

(Tardivo, 2004. 2007 ), e os trabalhos sob nossa coordenação (Tardivo e Gil,

2003 e 2005) , a partir da qual se pretende não “coisificar” a deficiência ,

tratando a pessoa com essa condição e sua família como um objeto ou coisa a

ser examinado e tratado.

Referimo-nos à forma de encarar a pessoa, com base nessa concepção

de Psicologia, no encontro sujeito-sujeito (Safra,1993; Vaisberg, 1995 ) e

outros. Em nossa atuação, recorremos a abordagem winnicottiana que dá

elementos para esse encontro, (Winnicott,1983), incluindo as possibilidades de

encarar a questão da deficiência sob essa ótica (Amiralian, 2003).

Podemos dizer que a tendência a “coisificar” o deficiente é freqüente, e

pode mesmo ter relações com as dificuldades ás quais já ns referimos do

encontro com as deficiências de cada um de nós. Porém queremos considerar

que independente da natureza da deficiência que comete a alguma pessoa, se

o psicólogo se encontra numa determinada instituição, ou qualquer outro

contexto, o psicólogo pode trazer essa proposta e olhar: compreender,

escutar, e intervir, a partir do encontro sujeito-sujeito, que se estabelece.

.Ainda nessa introdução, queremos trazer para essas considerações,

relevantes na discussão do psicólogo na área da deficiência e seu encontro


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com essas pessoas, são a dor e o sofrimento, que podem estar presentes, em

especial como resposta à reação do grupo em que o deficiente se insere.

Consideramos aqui a questão da conceituação, a qual já foi tema nesse livro.

Assim, a desvantagem possivelmente poderá trazer muito sofrimento psíquico

à pessoa com deficiência, e ao seu grupo.

. Barus-Michel2 (2001) traz em sua obra uma sistematização do conceito

de sofrimento.

Dessa forma, o psicólogo pode encontrar na pessoa com deficiência e

em sua família uma ruptura de equilíbrio, muitas vezes difícil de suportar, ou

que o psicólogo,e ai o psicólogo, junto de toda a equipe pode auxiliar nesse

suporte.

Muitos pais e mães se indagam .porque a deficiência aconteceu com

seu filho; ou ainda uma pessoa que sofre um acidente vem se perguntar

porque ficou com essa deficiência. Essas pessoas estão impedidas de

entender, ou poder atribuir algum sentido àquela experiência. Tentam, assim

algum entendimento ou sentido, muitas vezes carregado de ansiedades

paranóides, sentindo-se perseguidos, injustiçados; ou ainda por ansiedades

depressivas, como se a doença fosse um castigo, ou uma expiação. Ou seja,

qualquer que seja o recurso ao qual a pessoa recorre, esse sempre se constitui

em tentativa de rearticular. Aqui também vai se delineando o papel do

psicólogo no campo que pode favorecer que a pessoa o encontre ou

reencontre o sentido que foi perdido com a deficiência

O psicólogo , ao entrar em contato com o deficiente, em especial se a

deficiência nesse caso for adquirida, ou com os pais, deve considerar que

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Professora da Universidade de Paris V, onde coordena o “Laboratoire de Psychologie Clinique
Social, e que mantém uma parceria com o Laboratório de Saúde Mental e Psicologia Clínica
Social – da Universidade de São Paulo.
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essa pessoa está vivendo necessariamente um processo de perda., e tudo o

que essa experiência mobiliza

O trabalho do psicólogo demanda além das técnicas e metodologia já

consagradas, um dinamismo que é peculiar a essa área.

Vale ainda considerar que muitas vezes ou na maioria delas, o trabalho

do psicólogo está inserido numa instituição.Assim, é muito importante que os

psicólogo saiba trabalhar na equipe e compreenda seu papel dentro da

instituição.

Podemos falar de diversas funções do psicólogo, considerando a

diversidade de situações em que pode star inserido, e também a diversidade

de linhas teóricas que podem sustentar seu trabalho; Porém , o que acima

mencionamos, pensamos , sustenta sempre o papel do psicólogo, que pode,

sim, desempenhar funções distintas num campo tão amplo e que, como

afirmamos, requer essa presença, com seu olhar, seu saber e seu fazer.

Vamos inicialmente levantar alguma possibilidades de atuação do

psicólogo, nas funções que como profissional está habilitado a desempenhar,

sempre considerando a equipe e o contexto.

Poderíamos abordar uma importante função do psicólogo, que diz

respeito à Prevenção. Dessa forma, podemos distinguir, de forma didática, três

níveis de prevenção, a saber:

1 – Nível Primário: que está ligado às condições normais do

desenvolvimento infantil, e podem ser desenvolvido a partir de medidas que

levem a um fortalecimento do processo evolutivo infantil evitando a incidência

dos fatores de risco e seus efeitos.


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Aqui se trata de trabalhar junto á comunidade, á família e aos grupos de risco

de forma a evitar a prevenir o surgimento das condições que levam à

deficiência. Podemos ainda considerar, conforme colegas escreveram nesse

livro, que muitas deficiências poderiam ser evitadas, com medidas desse nível:

cuidados no pré-natal; cuidados com beb~es; medidas que diminuíssem a

violência urbana em suas mais distintas formas, e muitas atividades que podem

se devem ser desenvolvidas com crianças

2 – Nível secundário: nesse nível trata-se de levar em conta as

condições vulneráveis do desenvolvimento visando a eliminação dos efeitos

dos fatores de risco. Assim, o psicólogo dentro da equipe pode atuar de forma

a prevenir quadros clínicos no desenvolvimento de crianças vulneráveis, as

quais já estão sob o impacto dos fatores de risco

3 – Nível Terciário: nesse caso, as ações dirigidas às crianças

portadoras de deficiência, com a finalidade de diminuir ou eliminar os distúrbios

de desenvolvimento, tanto na área cognitiva, visual, auditiva, motora.

Muito do que estamos abordando nesse capítulo se refere ás funções que

podem ser desempenhadas por psicólogos atuando nesse terceiro nível, onde

já ocorreu a deficiência.( Simon, 1989)

De fundamental relevância vem a função da avaliação psicológica, ou no

diagnóstico psicológico,muitas vezes solicitada ao psicólogo pela equipe, sem

perder de vista o que foi acima mencionado.

Podemos nos referir ao sentido compreensivo do diagnóstico

psicológico, que como afirma Trinca (1984) tem a ver com encontrar um

sentido para o conjunto das informações disponíveis.


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O diagnóstico ou avaliação psicológica no contexto da deficiência, se

constitui num campo específico, onde se pode e se deve considerar a

Instituição onde o trabalho é realizado, mantendo a identidade profissional.

Nossos conhecimentos e técnicas são requeridos, porém devem ser

adequados ao contexto.

Nessa são sempre definidos os papéis, de uma lado a pessoa, criança

que será diagnosticada, e o seu grupo familiar, considerando que deficiência é

sempre um assunto de família, (Vash,1988). Tem objetivos definidos,

conseguir a compreensão da personalidade, em seus diversos aspectos da

forma o mais completa possível

Em comunicação oral, Rodrigues (2005), abordou especificamente o

diagnóstico psicológico na área da deficiência mental, com crianças. Porém

muitas dessas colocações podem ser feitas para outras crianças ,e ou pessoas

mais velhas.

Então, o diagnóstico psicológico está sempre inserido num diagnóstico

global, e como já abordamos anteriormente, dentro do trabalho da equipe

multidisciplinar.Vale a pena destacar que deve ser feito um cuidadoso estudo

que permita o conhecimento dos déficits ou dificuldades específicas, ou seja

dos fatores desfavoráveis., e ao mesmo tempo das possibilidades e recursos.

Com crianças se sabe que quanto antes ou mais precoce,, é realizado o

diagnóstico maior possibilidade de prevenção.E ao mesmo tempo, é perigoso e

mesmo pode ser considerado falha técnica e mesmo ética iniciar atendimento

sem diagnóstico prévio.

Bem como técnicas dentro de um diagnóstico psicológico temos sempre

as entrevistas.. No caso de crianças, as entrevistas com os pais (muitas vezes


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nas instituições só conseguimos fazer essas entrevistas com as mães).

(Bleger, 1976 ; Ocampo, 1981 )

Nessas entrevistas, que podem ser livres, semi dirigidas,

(preferencialmente , e se configuram em feramente extremamente interessante.

Costumamos denominar as entrevistas relativas à possibilidade de refazer a

história da criança e também de adultos), da forma como é possível ser

contada e anamnese.

Na anamnese, sempre submetida ao pensamento clínico do psicólogo

(Trinca,1984) é possível ter acesso ás características de personalidade do

informante (mãe ou pai) e as possíveis conseqüências nas relações familiares.

Deve-se também levar em conta o nível de esclarecimento.é como se dá a

percepção e maneira de lidar com a realidade.

É preciso saber conversar com a pessoa que temos á nossa frente.

Muitas vezes nas instituições, em nosso país lidamos com deficiências culturais

e de informação que precisam ser considerada Mesmo considerando que

cultura não quer dizer saúde ; a falta de informações pode prejudicar na

compreensão de orientações que a equipe pode dar à família.

Claro está que muitas pessoas que têm informações também, por

fatores de outra ordem, em especial, os emocionais, poderão ter até mais

dificuldades em lidar e perceber a realidade. Tais fatores também podem se

evidenciar nessas entrevistas.

As entrevistas como técnicas muito relevantes permitem ao psicólogo

observar e abre espaço para que se possa já nesse momento lidar com muitas

dificuldades, no caso de famílias trazendo para diagnóstico um filho com

alguma deficiência. Podem ser percebidas a própria dificuldade der absorver o


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diagnóstico., pelas mais distintas limitações . é importante ainda destacar que

o diagnóstico não é um sinal que marca uma pessoa para sempre. Na verdade,

como se consideram as limitações e as reais possibilidades, o diagnóstico

também varia de acordo com o momento da vida,

Mesmo estando na fase de diagnóstico, hoje se sabe que , em

psicologia, as mesmas não estão divididas de forma estanque, assim se

trabalha segundo um enfoque que denominamos psicodiagnóstico interventivo

(Tardivo,2007).. Nesse sentido, é possível ao serem identificadas dificuldades,

na medida do possível ir abrindo espaço para trabalhá-las, de forma a poder

acolher aos pais, e desenvolver a avaliação, necessária para embasar todo o

trabalho de intervenção e prevenção.

Se o diagnóstico a ser feito é de um bebê a forma de receber os pais

será de uma forma, considerando as dúvidas, expectativas e as esperanças

que trazem, Muitas vezes esses pais chegam em verdadeiro estado de

“choque”, e é preciso saber e poder acolhe-los. Esse estado de choque

também se evidencia em outras pessoas, por exemplo, num jovem que ao

sofrer um acidente, adquire uma deficiência física. Muitos mecanismos de

defesa podem ser empregados,sendo a negação da deficiência o mais comum

e até esperado O psicólogo deverá saber ouvir e dar o apoio necessário, para

que a pessoa, e ou seu grupo familiar possam alcançar o equilíbrio, que muitas

vezes se perdeu.

Aqui vale a pena discutir, sem poder chegar a um aprofundamento, pois

foge á finalidade dessa apresentação, a questão do emprego dos testes para o

diagnóstico. Como prerrogativa do psicólogo, garantida por lei, o emprego dos

testes psicológicos sofre dos próprios psicólogos muita recusa. É possível


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trazer a compreensão desse questionamento e que chegou a ser mesmo

recusa para muitos profissionais. Historicamente muitos testes foram mal

usados e levaram a muitos erros. Testes mal feitos ou mal traduzidos para

nosso meio; com dados de outros países, de fato, podem trazer prejuízos pelos

resultados equivocados que trazem etc. E, de outro lado, muitos psicólogos se

recusaram a assumir o papel de “testólogos”. Na verdade, não se trata disso,

mas de poder de dispor de ferramentas que podem ser úteis ao lado de tantas

outras, como as entrevistas, às quais nos referimos, às observações, etc. . E

não menos importante, vimos observando que diagnósticos feitos sem o

emprego dos instrumentos podem levar a conclusões que podem também

trazer séria conseqüências.

O próprio Conselho Federal de Psicologia (2003) adotou medidas que

garantem a qualidade desses instrumentos padronizados que devem ser

usados com muito critério Aos psicólogos , por essas medidas, é vedado o uso

de testes que não estejam aprovados no momento para a realização de laudos,

sendo, no entanto, o uso desses instrumentos permitido e até incentivado para

a realização de pesquisas.

Muitos cuidados e precauções devem ser tomados por parte do

psicólogo.ao realizar o diagnóstico psicológico. Essas crianças, seus pais, ou

adultos podem e muitas vezes estão vivendo conflitos. Dolorosos, e são, não

se pode esquecer vítimas de muitos preconceitos, sendo assim , marcados

pela sociedade.

No caso de nossa sociedade a inteligência é socialmente muito valorizada,

o que torna ainda mais penoso aos pais terem de enfrentar toda a situação.

Porém qualquer deficiência traz esses prejuízos. A visão a audição, a


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possibilidade de se locomover, enfim todas as limitações impostas pelas

distintas deficiências trazem essas conseqüências e devem ser consideradas

quando se trata de proceder à importante função de realizar um diagnóstico

sério, responsável, considerando todos os benefícios que podem advir para a

criança, sua família.

É preciso saber empregar as entrevistas, os testes necessários e

indicados para a situação, com todos os cuidados, Poder realizar as

comparação das observações e das realizações com o relato dos familiares,

relatórios, parecer de outros membros da equipe, etc

Conforme a necessidade, se pode proceder à avaliação dos aspectos

cognitivos, a qual pode o mais precocemente possível trazer apoios

necessários, e ao mesmo tempo, por essa avaliação é importante destacar os

aspectos favoráveis do funcionamento. Mais do que nunca no que diz respeito

aos aspectos cognitivos o diagnóstico precisa ser encarado não como um

processo estável e imutável, mas dinâmico.. No caso de crianças com

deficiência intelectual, é necessário que se compreenda as dificuldades e

angústias trazidas pelos pais e muitas vezes pela própria criança (de acordo

com a idade e condição). Aqui se destaca a possibilidade de ajuda já nesse

momento da vida.

No que diz respeito á escolha dos instrumentos, dos testes a serem

empregados, são distintos os aspectos serem levados em conta, como já vimos

salientando. Para laudos, vale destacar os estes aprovados pelo Conselho

Federal de Psicologia 3. , sendo que outros podem ser usados desde que o

3
. http://www.pol.org.br/legislacao/resolucoes.cfm ano=2003
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psicólogo os use para a realização de pesquisas, também com todos os

cuidados éticos indispensáveis.

Há escalas e testes que estão padronizados e validados em nosso meio

e podem , ao lado de outros instrumentos trazer benefícios. O mais importante

é que não se usem os instrumentos de forma absoluta e decisiva, como uma

verdadeira sentença, perpetuando ou mesmo aumentando o preconceito que

tanto sofrimento traz ás pessoas com deficiência e aos seus familiares. Ver no

site do CP, os testes de inteligência que estão no momento considerados

favoráveis, como a escala Whecsler de Inteligência para Crianças (ver site do

CFP)

Além dos aspectos cognitivos, outros podem ser avaliados, também

considerando a necessidade e a indicação. Assim há testes que avaliam

aspectos psicomotores e neuropsicológicos, entre outros. Esses instrumentos

podem trazer informações que poderão se de extrema utilidade na condução

de todo o indispensável processo de intervenção a ser desenvolvido.

Nesse caso, estamos nos referindo ao emprego de técnicas

psicométricas e escalas, além de outros como inventários, procedimentos

advindos da estatística, de forma especial. Na verdade, o indispensável é que

não se desconsidere a pessoa com deficiência e seu meio, considerando aí

que essas técnicas tem seu valor e sua relevância. Deixaremos nas referências

sites com as informações referentes a tais instrumentos..

Extremamente relevantes são os fatores emocionais sempre presentes

em toda a situação e que podem e devem ser compreendidos Nesse caso,

além das entrevistas, os psicólogo dispõem das técnicas projetivas, que visam

o estudo da personalidade; sendo que tais recursos valorizam imensamente a


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relação entre o psicólogo e a pessoa (criança ou adulto)e ; recorrem à

instrumentalização dos aspectos transferenciais e contratransferenciais. No

entendimento das pessoas e de seu grupo estão assim presentes aqueles

aspectos referentes à relação e ao sofrimento humano, as quais me referi

anteriormente. Dessa forma, as entrevistas clínicas, e as técnicas projetivas

são instrumentos muito valiosos e eficazes para fornecer ao psicólogo

informações sobre a dinâmica psíquica das pessoas s atendidas, bem como a

possibilidade de oferecer-lhes devolutivas terapêuticas profundas e claras que

lhes proporcionem subsídios para o paciente repensar seu posicionamento no

mundo e a possibilidade de criar novas saídas e soluções que evitem a

paralisação de suas capacidades de elaboração afetivo-emocionais. Trago aqui

a experiência do embasamento psicodinâmico com as contribuições que esse

pode trazer.

Também nesse caso, o Conselho Federal de Psicologia, com uma

equipe de consultores, avalia os instrumentos em suas características, sendo

que muito estão aprovados e muitos outros estão sendo pesquisados deverão

brevemente também receber a aprovação. Podemos citar o teste das Fábulas

de Duss (Düss, 1987. Tardivo, 1998); o Teste do desenho da casa árvore

pessoa (HTP) (Buck, 2001)

Abordamos ainda o emprego dos instrumentos projetivos, em sua

vertente de avaliação, e também como mediadores no contato terapêutico

(Tardivo e Gil, 2005).

Os aspectos emocionais no caso do diagnóstico de crianças merecem

sempre especial atenção, uma vez que na família, a criança deficiente coloca o

sistema de papéis em estado de tensão, por não desempenhar o papel que lhe
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é exigido. São muito intensas as relações afetivas que podem ir desde à

afeição excessiva até a completa rejeição.

Um diagnóstico requer uma conclusão e a possibilidade de intercâmbio

com a equipe e de serem trabalhados esses resultados coma família, e com a

própria pessoa. Assim, se busca considerar diversos aspectos da vida da

criança, por exemplo, sua adaptação social, desempenho escolar habilidades

adaptativas, as dificuldades Específicas, os transtornos associados, bem como

os recursos favoráveis, a em especial a participação efetiva da família e da

comunidade, escola e instituição.

Nessa conclusão do processo diagnóstico, se procede à devolução oral

ao paciente (e/ou aos pais), sendo que essas entrevistas adquirem um caráter

extremamente terapêutico, conforme já mencionamos. E cabe ainda ao

psicólogo realizar o informe escrito o laudo, se for o caso. Na verdade, há todo

um cuidado a ser tomado na elaboração do informa escrito e há

recomendações também feitas pelo conselho Federal de Psicologia. Cabe aos

psicólogos se apropriarem de sues conhecimentos e técnicas e

desempenharem suas funções, sem perder de vista seu papel diante da

pessoa com quem ele se dispõe a trabalhar.

Tendo mencionado avaliação ou diagnóstico psicológico, também cabe

ao psicólogo desenvolver medidas psicoterapêuticas. Podem ser, segundo a

necessidade, e a indicação, psicoterapia breve e de apoio, grupos de

orientação, conforme nossa experiência (Tardivo e cols, 2005) e outras

formas.. Muitos psicólogos vêm desenvolvendo formas tradicionais de

psicoterapia, ou enquadres diferenciados, com pessoas com deficiência e seus


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familiares, trazendo resultados que favorecem enormemente o

desenvolvimento dessas pessoa (Ferreira, Franco e Tardivo, 2005).

Muito relevante nessa discussão da atuação do psicólogo na área da

deficiência é a atenção à família. Muito se tem escrito, e mesmo nesse livro já

foi chamada à atenção para a questão da família. Aqui salientamos o trabalho

junto a essas pessoas, que na verdade devem ser encarados com verdadeiros

clientes e não como inimigos, como bem colocou Vash (1988). A atenção ás

mães, o mais precoce às mães, no caso de bebês, e muitas ouras formas. Se

considerarmos a importância da atitude familiar na promoção do

desenvolvimento da criança com deficiência, poderemos perceber a relevância

da atenção à família, pois essa atitude essas reações estão ligadas às

condições de auxílio da família. E cabe ao psicólogo muitas vezes esse papel

de compreender a dor que a família traz desenvolver alguma forma de

tratamento, para que todos possam se crescer e viver o melhor que seja

possível.

Tendo mencionado algumas das funções que podem ser

desempenhadas pelo psicólogo nesse contexto da deficiência, gostaríamos

ainda de trazer os distintos contextos onde as mesmas podem ocorrer.

Assim referimo-nos à Educação, e às escolas de uma forma geral. Hoje

quando se luta pela inclusão do deficiente na escola, o psicólogo é chamado a

participar para que esse processo de inclusão seja e fato, algo que favoreça o

crescimento das crianças e lhes traga bem estar. Há nesse livro, capítulos

dedicados especialmente á questão da educação e da inclusão escolar da

criança com deficiência.


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O psicólogo pode levar seu saber e fazer, às instituições, conforme

mencionamos, sendo essa uma atuação bastante requerida. Pode também

trabalhar na Clínica, desenvolvendo sua atuação clínica, em diagnóstico e

distintas formas de psicoterapia.

Em outros dispositivos da comunidade, o psicólogo pode trazer sua

contribuição, como foi possível trazer de forma breve nas linhas acima.

É preciso ainda salientar a importância do trabalho do psicólogo em

Recursos Humanos, na verdadeira inclusão do deficiente no mercado de

trabalho, o que lhe é garantido por Lei. Sendo também tema de capitulo desse

livro, configura-se esse mais um fértil campo de atuação do psicólogo, nesse

caso, especializado em recursos humanos. Tantos benefícios podem trazer á

pessoa com deficiência e ao seu grupo familiar esse processo de

desenvolvimento no trabalho, desenvolvimento como pessoa. O psicólogo pode

e deve atuar junto às pessoas com deficiência de um lado, e de outro junto às

pessoas no mercado, de forma que esse encontro seja possível e traga

crescimento.

O psicólogo pode ainda, como membro da equipe, e do interesse da

instituição ou do grupo a que está vinculado participar das pesquisas. Trata-se

de conhecer para poder modificar a realidade.

Concluindo essas reflexões, quero chamar a atenção para o que é o

mais importante, não deixar de lado a posição e o papel do sujeito, da pessoa

com deficiência e de sua família uma pessoas que desejam , pensam e sofrem.

Cada pessoa com deficiência é uma pessoa singular e a relação que se

estabelece com a equipe que o trata tem tonalidades muito específicas, as

quais o psicólogo clínico pode e deve estar atento. O trabalho do psicólogo de


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avaliação e de intervenção (os quais estão inevitavelmente relacionados) nos

mais diversos contextos, pode propiciar que a pessoa com deficiência possa ter

ou retomar autonomia (possível) mesmo considerando que a realidade da

deficiência com as limitações que são impostas.

Tendo afirmado em outro texto (Tardivo, 2008) reiteramos aqui a

concepção de que o lugar do psicólogo, que se constitui em desafio ser

enfrentado e numa imensa possibilidade: olhar e se aproximar da pessoa com

deficiência e seus familiares no lugar de uma pessoa, e não de um objeto.

O psicólogo é assim chamado a trazer seus conhecimentos e

desenvolvê-los, seus recursos e técnicas e, mais ainda, poder dar voz e ouvir à

pessoa que vive a experiência da deficiência e que se constitui numa pessoa

única e total.

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