Você está na página 1de 5

Simulação 3 ‒ Circuito Magnético Não Linear

Allan Bobroski Rodrigo Facenda


Aluno de Engenharia Elétrica Aluno de Engenharia Elétrica
Instituto Federal Sul Rio-Grandense Instituto Federal Sul Rio-Grandense
Pelotas, Brasil Pelotas, Brasil
bobroski96@gmail.com rodrigofacenda@gmail.com

Resumo — Esse artigo descreve as simulações realizadas a característica do material com o qual foi construído o núcleo
partir de um circuito magnético construído com um material do dispositivo mostrado na Figure 1.
não linear e energizado com tensão senoidal.

Keywords— Eletromagnetismo, Conversão de Energia,


Circuito Magnético Não Linear.

I. INTRODUÇÃO
Praticamente todos os transformadores e maquinas
elétricas usam material ferromagnético para direcionar e dar
forma a campos magnéticos, os quais atuam como meio de
transferência e conversão de energia. Sem esses materiais, não
seriam possíveis as implementações praticas da maioria dos
dispositivos eletromecânicos familiares de conversão de
energia. A capacidade de analisar e descrever sistemas que
contenham esses materiais é essencial ao projeto e
entendimento desses dispositivos. Figure 2. Curva BxH característica
No decorrer desse artigo, realizaremos simulações a fim
de observar o funcionamento de um dispositivo magnético III. DESENVOLVIMENTO DAS QUESTÕES PROPOSTAS NA
construído a partir de um material com características não SIMULAÇÃO
lineares e alimentado com uma tensão senoidal, visando Inicialmente, para que seja possível desenvolver
observar o comportamento do fluxo eletromagnético no algoritmos capazes de executar as simulações que desejamos
núcleo do dispositivo, das correntes envolvidas no processo fazer, observa-se que é necessário o equacionamento do
de magnetização, bem como, as tensões envolvidas. comportamento do nosso dispositivo. A seguir, são expostos
de modo detalhado o equacionamento que será posteriormente
II. CARACTERIZANDO O DISPOSITIVO utilizado para o desenvolvimento das simulações.
A. Características construtivas d𝜆
Sabendo que d𝑡 = 𝑒 = 𝐸𝑚𝑎𝑥 . 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡) , sendo 𝐸𝑚𝑎𝑥
O dispositivo utilizado para as simulações a seguir é
composto por um núcleo com um enrolamento de 400 espiras, definido Emax = Nϕmax , bem como, sabendo que 𝜙𝑚𝑎𝑥 é
que representam uma resistência elétrica de 40 Ω. A Figure 1 definido pela tensão eficaz, número de espiras e frequência,
𝑉𝑟𝑚𝑠
ilustra o dispositivo simulado. isto é, ϕ𝑚𝑎𝑥 = 4,44𝑓𝑁 e, além disso, partindo da definição de
que o fluxo apresenta comportamento senoidal, de modo que,
ϕ(𝑡) = ϕ𝑚𝑎𝑥 𝑠𝑒𝑛(ω𝑡).
Partindo das definições acima elencadas, temos a seguinte
equação:
d𝜆 𝑁𝑉𝑟𝑚𝑠 𝜔𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡)
= 𝑒 = 𝑁𝜙𝑚𝑎𝑥 𝜔𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡) =
d𝑡 4,44𝑓𝑁
Equation 1

Partindo da Equation 1 e utilizando o método de


integração de Euler, mais tarde no desenvolvimento do script
Figure 1. Dispositivo eletromagnético
de simulação, chegaremos ao valor para o fluxo concatenado
B. A curva característica do material do núcleo pelo enrolamento no dispositivo (𝜆), bem como, assumindo
que as perdas por efeito joule na bobina são desprezíveis, isto
Tendo em vista que o dispositivo é construído com um dλ
material que apresenta variação não linear na curva B x H, é, 𝑅. 𝑖 ≪ 𝑒, chegamos a seguinte definição 𝑣 = 𝑒 = d𝑡 .
para que se possa realizar as simulações que desejamos, é Sabendo que o valor de B está diretamente relacionado
necessário o conhecimento da curva de magnetização do com a interação do fluxo magnético e a área da seção
material, isto é, é necessário conhecer o comportamento do transversal do núcleo do dispositivo, podemos usar a definição
material quando submetido a interação com diferentes do fluxo para chegarmos no valor instantâneo de B, isto é,
intensidades de campos magnéticos. A Figure 2 ilustra a curva ϕ
ϕ = 𝐵 ∗ 𝐴𝑐 ∴ 𝐵 = 𝐴 . Nesse momento, já somos capazes de
𝑐

Artigo Elaborado para disciplina de Conversão de Energia – Curso de Engenharia Elétrica.


usar o valor instantâneo de B para, através da curva
característica do material, chegarmos ao valor de H. Além
disso, observa-se que uma vez que temos um valor para H,
pode-se facilmente utilizar-se da Lei de Hoppinkson para
chegarmos ao valor da corrente de magnetização do
dispositivo.
A. Desenvolvendo o Script para Simulação
Para simular os resultados que serão expostos a seguir,
utilizou-se o software Scilab, rodando o seguinte script:
R=40;//resistencia da bobina
V=200;//tensao eficaz aplicada
H=0; Figure 3. Corrente de magnetização.
B=0;
N=400;
S=0.005;
fluxo_max=0;
theta=0;//angulo de fase da tensao (em radianos)
f=50;//frequencia
w=2*%pi*f;//frequencia angular
//condição inicial
y=0; //fluxo concatenado inicial
i=0; //fluxo concatenado inicial
passo=1e-5;//passo de integracao
tf=0.35;//tempo final de simulacao
c=0;//contador para armazenar valor em vetor
for t=0:passo:tf
c=c+1;
v=sqrt(2)*V*cos(w*t+theta);
//calculo do fluxo
fluxo_max = (V)/(4.44*N*f); Figure 4 Tensão aplicada e fem induzida
fluxo=fluxo_max*sin(w*t);
//fluxo=B*A, portanto
B=fluxo/S;
ydot= (N*V*w*cos(w*t+theta))/(4.44*f*N);
if (B>-1) & (B<-0.8) then
H= (-400 -600*B)/(-0.1999999);
end
if (B>-0.8) & (B<0.8) then
H= (-800*B)/(-1.6);
end
if (B>0.8) & (B<1) then
H= (400 - 600*B)/(-0.199999999);
end
// corrente de excitacao: N*I=H*lc
I=H/N;
//forca eletromotriz induzida
e=ydot;
//armazenando valores em vetores Figure 5. Densidade de fluxo B(t)
v_t(c)=t;
v_y(c)=y; IV. ANALISANDO OS GRÁFICOS GERADOS NO ITEM ANTERIOR
v_i(c)=I;
v_v(c)=v; Observa-se na Figure 2 que a corrente de magnetização do
v_e(c)=e; dispositivo apresenta-se variando de modo não senoidal, ao
v_B(c)=B; passo que a fem induzida e o fluxo eletromagnético no núcleo
v_H(c)=H; // campo magnético apresentam variação senoidal.
v_flux(c)=fluxo; Através da simulação, observou-se que o valor da indução
//integrador de Euler magnética manteve-se dentro da região de trabalho do
y=y+ydot*passo; material, de modo que não houve saturação, isto é, conforme
end observa-se na Figure 5 a densidade de fluxo varia de modo
senoidal com amplitude de 0,9. Uma vez que não houve
B. Plotando as curvas i(t), v(t) e B(t) com 𝑣(𝑡) = saturação, conforme esperado, o fluxo manteve sua variação
400√2𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡) senoidal, assim como, a fem induzida no enrolamento
manteve-se em fase com a tensão aplicada.
As figuras a seguir foram geradas através do script exibido
no item A. O fato da corrente de magnetização não se manter uma
função senoidal, é causado pela relação não linear de B e H,
pois, deste modo, a corrente de magnetização é composta por manteve-se variando de modo senoidal, entretanto, com
harmônicas ímpares, sendo as principais delas, a harmônica amplitude entre 0,45, conforme pode ser visto na Figure 8.
fundamental e a 3ª harmônica. Logo, uma vez que a amplitude de B manteve dentro do
intervalo onde a relação entre B e H do núcleo do dispositivo
V. REFAZENDO A SIMULAÇÃO COM V(T) = se mostra linear, conforme facilmente identificado na Figure
200√2COS(𝜔T) 2, observa-se na Figure 6 que temos a corrente de
magnetização variando de modo senoidal.
A. Formas de ondas geradas
VI. CONSIDERANDO PERDAS NO NÚCLEO
Na Figure 2 temos uma simplificação da curva
característica do material, de modo que não foram
consideradas as perdas por histerese. Uma maneira de se
representar tais perdas é utilizar um resistor em paralelo com
a indutância representativa do enrolamento, conforme pode
ser visto na Figure 9.

Figure 6. Corrente de Magnetização


Figure 9. Circuito equivalente com perdas no núcleo

Para o desenvolvimento do Script a seguir, serão


desconsideradas a dispersão magnética e também queda de
tensão na resistência do enrolamento, bem como, a corrente
𝑉
de perdas no núcleo foi calculada da seguinte forma: 𝑖𝑐 = 𝑅 ,
𝑐
de modo que a corrente de excitação é definida da seguinte
forma: 𝑖ϕ = 𝑖𝑐 + 𝑖𝑚
A. Desolvimento do Script com 𝑅𝑐 = 1,8𝐾𝛺
R=40;//resistencia da bobina
V=400;//tensao eficaz aplicada
H=0;
B=0;
N=400;
S=0.005;
Figure 7. Tensão e Fem induzida R_c= 1800;
fluxo_max=0;
theta=0;//angulo de fase da tensao (em radianos)
f=50;//frequencia
w=2*%pi*f;//frequencia angular
//condição inicial
y=0; //fluxo concatenado inicial
i=0; //fluxo concatenado inicial
passo=1e-5;//passo de integracao
tf=0.35;//tempo final de simulacao
c=0;//contador para armazenar valor em vetor
for t=0:passo:tf
c=c+1;
v=sqrt(2)*V*cos(w*t+theta);
//calculo do fluxo
fluxo_max = (V)/(4.44*N*f);
fluxo=fluxo_max*sin(w*t);
//fluxo=B*A, portanto
B=fluxo/S;
Figure 8. Densidade de Fluxo
ydot= (N*V*w*cos(w*t+theta))/(4.44*f*N);
if (B>=-1) & (B<-0.8) then
B. Analisando as formas de ondas geradas H= (-400 -600*B)/(-0.1999999);
Observa-se, que ao utilizarmos uma menor tensão de end
alimentação no dispositivo, a densidade de fluxo magnético if (B>=-0.8) & (B<0.8) then
H= (-800*B)/(-1.6);
end
if (B>=0.8) & (B<=1) then
H= (400 - 600*B)/(-0.199999999);
end
// corrente de magnetizacao: N*I=H*lc
I=H/N;
// corrente de perdas no núcleo
i_c = v/R_c;
//forca eletromotriz induzida
e=ydot;
//armazenando valores em vetores
v_t(c)=t;
v_y(c)=y;
v_i(c)=I;
v_i_c(c)=i_c;
v_i_ex(c)=I+i_c;
v_v(c)=v;
v_e(c)=e; Figure 11. Indução Magnética no núcleo
v_B(c)=B; // B(t)????
v_H(c)=H; // campo magnético
v_flux(c)=fluxo;
//integrador de Euler
y=y+ydot*passo;
end

B. Curvas 𝑖𝜙 (𝑡), 𝑖𝑐 (𝑡), 𝑖𝑚 (𝑡), 𝐵(𝑡) 𝑒𝐵(𝑖𝜙 )

Figure 12. Curva de Histerese

C. Análise das formas de ondas geradas.


Analisando a Figure 10 em conjunto com a Figure 11,
observa-se que a corrente de magnetização e, por
consequência, a corrente de excitação do dispositivo apresenta
variação não senoidal, o que era esperado uma vez que
estamos trabalhando na região não linear do material do
núcleo do dispositivo.
Na Figure 12 mostra-se claro que a adição do 𝑅𝑐 = 1,8𝐾Ω
em paralelo com a bobina, conforme visto na Figure 9,
mostrou-se eficiente para aproximar as perdas no núcleo do
dispositivo, uma vez que a curva gerada é extremamente
semelhante as curvas disponibilizadas pelos fabricantes de
materiais ferromagnéticos em seus catálogos. Assim sendo,
observa-se que o método se mostra útil em diversas aplicações
Figure 10. Correntes geradas na simulação, considerando perdas. onde não se necessita de grande precisão.
VII. CONCLUSÃO
A execução da simulação de um dispositivo com núcleo
contendo características não lineares se mostrou
extremamente importante para o entendimento do
funcionamento de dispositivos eletromagnéticos reais, pois,
ainda que tenhamos desconsiderados os efeitos de dispersão e
perdas por correntes parasitas no núcleo do dispositivo, foi
possível observar a importância de buscar trabalhar em uma
região mais linear da curva de magnetização do material Observou-se que o modelo matemático de adicionar um
escolhido. resistor em paralelo com a indutância, no circuito elétrico
equivalente ao dispositivo eletromagnético, se mostra
Ao realizar a simulação com valores diferentes de tensão, eficiente para fins de mensuração das perdas por histerese no
foi possível observar um comportamento semelhante ao de um núcleo do material, facilitando assim a modelagem
dispositivo linear, mesmo usando um material com matemática do dispositivo eletromagnético.
característica não-linear, isto porque, através dos gráficos e
cálculos realizados, foi possível perceber que utilizando uma
tensão de 200 Volts a amplitude do campo magnético se
mantinha dentro da região de trabalho do material onde a REFERENCES
curva de magnetização é linear. Logo, evidencia-se a [1] HSadiku, MNO, Elementos de Eletromagnetismo, vol. ́unico, 3rd
importância de realizar simulações do dispositivo antes de ed.Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2004.
iniciar a construção do mesmo, pois deste modo somos [2] FALCONE, Aurio Gilberto, Eletromecˆanica-volume 1:
capazes de verificar o seu funcionamento e, ainda, em qual Transformadorese transdutores, convers ̃ao eletromecˆanica de
energia,Editora EdgarBl ü cher Ltda. S ̃ao Paulo, 1979.
região da curva de histerese estamos trabalhando, evitando
contratempos futuros que podem até mesmo inviabilizar o
material escolhido para o núcleo do dispositivo.

Você também pode gostar