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CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Natal-RN
2022
Vinícius de Araújo Madruga Pinheiro
Natal – RN
2022
Vinícius de Araújo Madruga Pinheiro
___________________________________________________________
Prof. Dr. José Airton Cunha Costa – Orientador
___________________________________________________________
Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida – Examinador interno
___________________________________________________________
Me. Eng. Pedro Mitzcun Coutinho – Examinador externo
Natal-RN
2022
RESUMO
Comparative analysis of the conformity of concrete batches of different classes: case study
Compressive strength tests are used as the main method for determining the conformity of a concrete
batch. ABNT NBR 12655:2015, which establishes the parameters for the formation and acceptance
of concrete batches, regulates this procedure, which is part of the technological control. Those
parameters aim to guarantee the quality of reinforced concrete structures. Thus, the present work
carried out the collection of the results of compressive strength of concrete classes C25, C30, C40 and
C50, all of which were used in the same construction and were supplied by the same company, so that
the acceptance criteria recommended in that standard could then be applied. As a result, it was found
that, for concretes of higher characteristic strength classes, the number of rejected concrete batches
was significantly higher, with disapproval percentages of 0.0% for class C25, 17.9% for class C30 ,
24.0% for class C40 and 38.2% for class C50. These results raised the possibility of severe failures in
the technological control procedures related to the concrete production process. And, through the
quantification of the committed concrete volume, it was possible to show the dimension of the impact
that the non-application of rigid quality control processes can have on a project, since 19.5% of the
total volume of concrete used was rejected. Therefore, it is concluded that failures in the control
processes affect more severely concretes of higher strength classes, and that the establishment of
technological control practices are of fundamental importance for the success of a construction, since
they point to failures in production processes, failures that must be promptly corrected.
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 3
2. OBJETIVOS ....................................................................................................................................... 5
2.1 Objetivo Geral .............................................................................................................................. 5
2.2 Objetivos específicos .................................................................................................................... 5
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................................... 6
3.1 Controle tecnológico do concreto ................................................................................................. 6
3.2 Normatização .............................................................................................................................. 10
3.3 Resistência à compressão ............................................................................................................ 13
3.4 Ensaio de resistência à compressão ............................................................................................. 16
3.5 Amostragem, lotes e mapeamento .............................................................................................. 17
3.6 Tipos de controle de resistência .................................................................................................. 19
3.6.1 Controle de resistência por amostragem total ...................................................................... 19
3.6.2 Controle por amostragem parcial ........................................................................................ 20
3.6.3 Casos especiais ................................................................................................................... 21
3.7 Determinação da conformidade dos lotes.................................................................................... 21
4. ESTUDO DE CASO ......................................................................................................................... 23
4.1 Caracterização do estudo de caso e metodologia ........................................................................ 23
4.2 Apresentação de resultados ......................................................................................................... 25
4.2.1 Análise quantitativa da conformidade dos lotes .................................................................. 25
4.2.2 Análise volumétrica da conformidade dos lotes .................................................................. 26
4.2.3 Avaliação temporal das inconformidades observadas ......................................................... 28
4.3 Considerações a respeito das medidas a serem tomadas ............................................................. 28
5. CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 29
APÊNDICE .............................................................................................................................................. 33
Resultados para o concreto C25 ............................................................................................................ 33
Resultados para o concreto C30 ............................................................................................................ 36
Resultados para o concreto C40 ............................................................................................................ 38
Resultados para o concreto C50 ............................................................................................................ 41
6. REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 31
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1. INTRODUÇÃO
Sendo o concreto armado o material mais utilizado nas construções brasileiras, e tendo em
vista o grande número de edificações pelo país que apresentam patologias estruturais, é notória a
necessidade de se ter um olhar mais atento às práticas construtivas empregadas no Brasil, visando
a redução de tais ocorrências e assim, elevando a qualidade das edificações nacionais. Diante disto,
o presente trabalho busca analisar como a ausência de um devido controle tecnológico pode afetar
negativamente uma construção, utilizando para isso, os dados referentes aos resultados dos ensaios
de resistência à compressão.
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2. OBJETIVOS
O presente trabalho tem como objetivo realizar uma análise comparativa entre os resultados
de ensaios de resistência à compressão de diferentes classes de concreto utilizados na obra de um
edifício residencial localizado na cidade de Natal, Rio Grade do Norte, a fim de determinar se a
qualidade do produto entregue, determinado através dos procedimentos de controle estabelecidos
na ABNT BR 12655:2015, está, de alguma forma, relacionada à classe do concreto empregado.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Com esse entendimento, fica claro que além da garantia da qualidade dos materiais
utilizados no concreto e do controle de resistência a compressão, os serviços executivos, que vão
desde a montagem dos sistemas de fôrmas e posicionamento de armaduras, até a desforma do
concreto endurecido também demandam controle, a fim de que os parâmetros de qualidade
estabelecidos sejam atingidos.
Além das propriedades dos materiais que constituem o concreto, características como
módulo de elasticidade, porosidade, e resistência a agentes externos prejudiciais também podem
ser testados. Contudo, a testagem da resistência à compressão do concreto é a mais fácil de ser
realizada em laboratório, além de permitir que, a partir dos dados obtidos, se deduzam os valores
das características citadas acima, levando em conta que essas propriedades são dependentes da
resistência à compressão (MEHTA; MONTEIRO, 2006, p. 50). Sendo assim, segundo os mesmos
autores, os valores dos resultados dos ensaios de resistência à compressão são universalmente
aceitos como indicador geral das propriedades resistivas do concreto.
3.2 Normatização
No que tange os materiais que compõe o concreto, as condições exigíveis para a realização
do controle tecnológico ficam a cargo da ABNT NBR 12654:1992 – Controle tecnológico de
materiais componentes do concreto. Nela, estão contidos os ensaios referentes a cada material
individualmente (água de amassamento, cimento, agregado graúdo, agregado miúdo, aditivos e
adições minerais), bom como as normas específicas para cada um dos ensaios.
A dimensão executiva das estruturas de concreto fica a cargo da ANBT NBR 14931:2004
– Execução de estruturas de concreto - procedimento. Nela, estão estabelecidos, detalhadamente
os requisitos para a execução de estruturas em concreto, em particular aquelas elaboradas segundo
as diretrizes da ANBT NBR 6118.
São abordados também, em seu item 5.2, os critérios referentes as condições de durabilidade
das estruturas em que é exposto que: “As estruturas de concreto devem ser projetadas e construídas
de modo que, sob as condições ambientais previstas na época do projeto e quando utilizadas
conforme preconizado em projeto, de acordo com o que estabelece a ABNT NBR 6118, apresentem
segurança, estabilidade e aptidão em serviço durante o período correspondente à sua vida útil de
projeto”.
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Uma vez classificada a classe de agressividade, a ABNT NBR 12655:2015 traz em um outro
quadro (Quadro 2) a correspondência entre a qualidade do concreto e a classe de agressividade à
qual ele está submetido, ressaltando que a durabilidade é fortemente relacionada as propriedades
do concreto, em especial a resistência à compressão e a relação água cimento, sendo possível então
que, na falta de ensaios comprobatórios do desempenho de durabilidade da estrutura, sejam
adotados os requisitos mínimos apresentados no quadro a seguir.
Uma vez conhecidos os valores de resistência média (𝑓𝑐𝑚 ) e do desvio padrão (𝑆𝑑 ) de um
lote de amostras, o 𝑓𝑐𝑘 (valor de resistência característica) é adotado com como resistência de
referência do lote. Ele corresponde ao quantil de 5% da distribuição de resistências, o que significa
que representa o valor que tem apenas 5% de probabilidade de ser ultrapassado no sentido das
menores resistências (FUSCO, 2008). O cálculo do 𝑓𝑐𝑘 se dá através da formula a seguir:
Legenda:
𝑓𝑐 – resistência à
compressão
𝑓𝑐𝑘 – resistência à
compressão característica
𝑓𝑐𝑚 - resistência à
compressão média
𝑆𝑑 – desvio padrão
𝑓𝑐𝑘
Como pode ser percebido pelo gráfico da figura 2, quanto maior o desvio padrão, maior a
dispersão dos valores dos resultados, o que resulta na necessidade de um maior 𝑓𝑐𝑚 para que seja
15
garantido o 𝑓𝑐𝑘 desejado. A fixação do valor do 𝑓𝑐𝑘 como o quintil de 5% da distribuição normal,
segundo Helene e Terzian (1993), faz com que a resistência considerada no dimensionamento da
estrutura seja independente da variabilidade do processo de produção do concreto o que gera
incentivos para a melhoria desse processo, na busca de reduzir a variabilidade dos resultados e
consequentemente o valor do 𝑓𝑐𝑚 , o que acarreta uma redução de custos na produção.
Para esta situação, o 𝑆𝑑 utilizado pode ser, segundo a ABNT NBR 12655:2015, conhecido
ou desconhecido. Nas situações em que não se conhece o desvio padrão do concreto, o cálculo da
resistência de dosagem deve levar em conta um dos desvios padrão apresentados no quadro 3.
(C), se limita a concretos das classes C10 e C15 e nela, o cimento é medido em massa, os agregados
em volume e a água de amassamento também em volume, com sua quantidade ajustada de acordo
com a estimativa da umidade dos agregados e com a consistência do concreto.
De acordo com a ABNT NBR 12655:2015, as fórmulas utilizadas para o cálculo do desvio
padrão e para o cálculo do 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 são as fórmulas 3 e 4, respectivamente apresentadas a seguir.
𝑛
1 (3)
𝑆𝑑 = √ ∑(𝑓𝑖 − 𝑓𝑐𝑚 )²
1−𝑛
i=1
(4)
𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 = 𝑓𝑐𝑚 − 1,65𝑆𝑑
A realização do ensaio tem início com a moldagem dos corpos de prova, que devem ter a
medida da altura igual ao dobro do diâmetro, sendo admitidas tolerâncias de 2% e 1%
respectivamente. As demais especificações relativas as características dos moldes, tais como
estanqueidade, geometria e material, estão contidas no item 4 da ABNT NBR 5738:2015. A norma
também dispõe sobre como deve proceder a moldagem e adensamento dos corpos de prova, que
pode ser mecânico ou manual, além de variar de acordo com as dimensões dos moldes. Os
procedimentos de cura, transporte e preparação das bases para adequação à realização do ensaio.
Para o cálculo da resistência do corpo de prova utiliza-se o valor da maior força aplicada
pela máquina na fórmula 5 a seguir.
4𝐹 (5)
𝑓𝑐 =
𝜋 × 𝐷²
Nota-se então que de acordo com o quadro 5, são utilizados critérios de volume associados
aos tipos de esforços atuantes nos elementos para a delimitação dos tamanhos dos lotes. Contudo,
um volume de concreto pré-estabelecido não garante a uniformidade dos parâmetros envolvidos no
processo de produção e ensaio do concreto, o que distorce a recomendação inicial substituindo o
critério da constância dos fatores envolvidos na produção e testagem, para o volume.
Em face dessa problemática, Helene e Terzian (1993) apontam que na definição de lotes
devem ser levados em conta a natureza do concreto, isto é, como foi produzido, homogeneidade e
proporção de matérias na mistura, a fim de assegurar a uniformidade das características dos lotes
de concreto. Recomendam ainda que sejam consideradas as características das solicitações ou o
tipo da peça que será composta pelo concreto do lote, a fim de definir lotes diferentes para
elementos de natureza distinta.
De cada lote de concreto devem ser coletadas as amostras de acordo com o estipulado na
NBR NM 33:1998 – Concreto – Amostragem de concreto fresco. Esta, determina que as amostras
sejam coletadas aleatoriamente após a conclusão da mistura, ter um volume mínimo de trinta litros,
ser coletada com suas porções iniciais e finais ditando no máximo quinze minutos entre si e sendo
retiradas entre os 15% e 85% do volume da betonada. Quando a frequência e quantidade das
amostras, estas vão variar em função do tipo de ensaio realizado.
Cada amostra é composta por um número n de exemplares, e cada exemplar, por sua vez, é
composto por dois corpos de prova. Este par de corpos de prova, em princípio deveria resultar em
um mesmo valor de resistência para ambos, contudo a variabilidade oriunda da moldagem, cura,
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transporte e no ensaio propriamente dito, resulta em resistências diferentes para cada um deles.
Sendo assim o emprego de dois corpos de prova por amostra via atenuar essa variabilidade, com o
resultado de maior valor representando o melhor valor potencial da mistura e o resultado de menor
valor representando a variabilidade do processo de preparo e ensaio, devendo, portanto, ser
descartado (FUSCO, 2008).
Além da definição dos lotes é importante que se efetue o mapeamento onde são registrados
os locais da estrutura referentes a cada um dos lotes. Como citado por Fusco (2008): “No controle
por amostragem é indispensável localizar cada lote produzido dentro da estrutura, a fim de que
medidas adequadas possam ser tomadas no caso de serem obtidos resultados inferiores aos
especificados”. Essa medida visa a capacidade de julgar individualmente a conformidade do
concreto para os elementos estruturais individualmente, a fim de possibilitar que intervenções
possam ser aplicadas de maneira localizada.
Para a realização do controle tecnológico do concreto podem ser utilizados dois tipos
diferentes de controle de resistência, no que diz respeito à formação dos lotes e ao controle
estatístico envolvido na avaliação de conformidade. Na ABNT NBR 12655:2015 esses controles
são definidos como controle por amostragem parcial e controle por amostragem total.
É importante considerar que cada exemplar, ou dupla de corpos de prova deverá ser rompido
em uma idade determinada, portanto se deseja-se obter os resultados de resistência para diferentes
idades, o número de exemplares será maior.
Este controle de resistência consiste na amostragem de apenas uma parte dos lotes, com
número de a mostras variando de acordo com a classe do concreto. Para concretos do grupo 1, que
abrangem as classes até C50, devem ser coletadas no mínimo seis exemplares, já para concreto do
grupo 2, o mínimo de doze exemplares é requerido (ABNT NBR 12655:2015)
Lotes com um número de exemplares entre seis e vinte (6 ≤ n < 20), o valor de 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 e
dado pela fórmula 7 a seguir.
𝑓1 + 𝑓2 + ⋯ + 𝑓𝑚−1 (7)
𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 = 2 × − 𝑓𝑚
𝑚−1
Com m igual a n/2, desprezando-se o valor mais alto de n caso este seja ímpar, e 𝑓1 + 𝑓2 +
⋯ + 𝑓𝑚 correspondem aos valores de resistência das amostras em ordem crescente.
A ABNT NBR 12655:2015 ainda define que não se pode adotar um valor de 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 inferior
a ψ6 ·𝑓1, sendo ψ6 obtido através do quadro 5 abaixo, com esse valor variando de acordo com o
número de exemplares e a condição de preparo do concreto
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Quadro 5 - Valores de ψ6
Nos casos que envolvendo lotes com números de exemplares superior a vinte (n ≥ 20) o
cálculo do 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 é realizado pela fórmula 4 já citada, com o desvio padrão calculado de acordo
com a fórmula 3.
A norma ainda preconiza o procedimento para determinação do 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 para casos em que o
concreto é produzido em betonadas de pequeno volume e sempre que se tratar de amostragem
parcial, a estrutura poderá ser dividida em lotes de ate 10m³, com um número de exemplares entre
dois e cinco. Esses casos são denominados de especiais e neles, o 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 é determinado pela
fórmula 8, com ψ6 obtido através do quadro 5.
𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 = ψ6 × 𝑓1 (8)
Segundo estabelecido pela ABNT NBR 12655:2015, um lote de concreto será considerado
conforme quando, em caso de amostragem parcial, o valor da resistência característica à
compressão estimada (𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 ) ou, em caso de amostragem total, o valor da resistência à compressão
do exemplar, for igual ou superior à resistência característica do concreto à compressão
determinada no projeto estrutural. Esta condição pode ser expressa pela equação 9 a seguir.
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Em casos de lotes não conformes, aplicam-se critérios de uma outra norma, a ABNT NBR
7680-1:2015- Concreto - — Extração, preparo, ensaio e análise de testemunhos de estruturas de
concreto Parte 1: Resistência à compressão axial. Sobre esta norma, a ABECE (Associação
Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural), emitiu um documento com recomendação sobre
os procedimentos a serem adotados após a identificação da existência de lotes não conformes
(𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 < 𝑓𝑐𝑘𝑗 ). Nele, é recomendado que a não conformidade de um lote seja sucedida de uma
verificação de projeto, com a finalidade de “determinar se a parte da estrutura executada com esse
lote pode ser considerada aceita, levando-se em consideração os valores obtidos nos ensaios de
rompimento de corpos de prova” (ABECE, 001:2015). Uma vez que esta verificação mostre um
resultado negativo, o próximo passo consiste na realização, com a anuência do engenheiro
responsável pelo projeto da estrutura, de uma nova análise estrutural utilizando-se as resistências
obtidas pela extração de testemunhos extraídos diretamente da estrutura. A finalidade dessa análise
é verificar se o estado limite último e o estado limite de serviço ainda são atendidos.
Uma vez necessária a extração dos testemunhos da estrutura, deve-se proceder de acordo
com a ABNT ABNT NBR 7680-1:2015.
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4. ESTUDO DE CASO
4.1 Metodologia
Este estudo de caso foi desenvolvido a partir da coleta dos resultados dos ensaios de
resistência à compressão do concreto utilizado em uma obra de um edifício residencial
multifamiliar de 42 pavimentos e dois subsolos, localizado na cidade de Natal, Rio Grande do
Norte. Trata-se de uma obra que conta com elementos estruturais distintos não só na função que
exercem, mas também no concreto do qual são compostos. O empreendimento possui concreto da
classe C25 (𝑓𝑐𝑘𝑗 = 25 MPa), para estacas escavadas de contenção e de fundação, concreto da classe
C30 (𝑓𝑐𝑘𝑗 = 30 MPa), para estacas hélice contínua, concreto da classe C40 (𝑓𝑐𝑘𝑗 = 40 MPa), para
vigas e lajes, e concreto da classe C50 (𝑓𝑐𝑘𝑗 = 50 MPa) para blocos de coroamento e pilares.
O estudo acompanhou a execução da estrutura desde seu início até o pavimento térreo
(primeiro nível após os subsolos), o que possibilitou a coleta de dados de resistência da totalidade
dos lotes utilizados, abrangendo todas as quatro classes citadas anteriormente. Durante esse período
foram utilizados um total de 2987,5m³ de concreto usinado, sendo 886,5m³ de concreto C25, 611m³
de concreto C30, 729m³ de concreto C40 e 761m³ de concreto C50.
O tipo de controle de resistência adotado pela construtora foi o método da amostragem total,
com cada caminhão betoneira correspondendo a um lote de concreto, de onde foram coletados três
exemplares, para serem rompidos aos 7, 28 e, em caso de não conformidade do lote aos 63 dias.
Foram então lançados na estrutura 421 lotes, sendo 119 lotes de concreto C25, 95 lotes de concreto
C30, 96 lotes de concreto C40 e 110 lotes de concreto C50, sem haver um volume fixo para os
lotes. Também foi realizado o mapeamento de todas as concretagens, com o registro do local de
aplicação de cada um dos lotes e a data do lançamento.
Os resultados dos ensaios foram então divididos por tipo de concreto, com cada caminhão
betoneira correspondendo a um lote, de acordo com a determinação da ABNT NBR 12655:2015,
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que diz: “todas as betonadas são amostradas e representadas por um exemplar que define a
resistência à compressão daquele concreto naquela betonada”. Ainda segundo a norma, dos dois
valores de resistência à compressão de cada exemplar, o menor deles foi descartado, com o maior
resultado correspondendo ao 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡,28 do lote.
De posse destes valores, os dados foram organizados em planilhas separadas por classe de
concreto, onde constam as informações:
Numeração do lote;
Data da concretagem;
Volume do lote;
Valor de resistência de cada corpo de prova (C.P) do exemplar rompido aos 28 dias;
Valor da resistência da amostra 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡,28 (maior valor obtido pelos corpos de prova);
Indicação da conformidade do lote segundo: 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡,28 ≥ 𝑓𝑐𝑘𝑗,28
Por se tratar de amostragem total, com cada lote sendo avaliado individualmente, a
determinação do valor de resistência à compressão característica estimada 𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 , correspondente
ao quantil de 5% da curva de distribuição normal dos resultados, não foi realizada, uma vez que,
segundo a ANBT NBR 12655:1015, esta abordagem remete ao controle por amostragem parcial.
Ao final, os resultados das análises referentes a cada classe de concreto foram comparados
entre si, com o objetivo de identificar uma possível correlação entre a classe de concreto e qualidade
do produto fornecido, dado que concretos de maiores resistência tendem a ter traços mais
complexos, demandando uma maior rigidez do controle de qualidade do processo produtivo.
Os resultados apresentados a seguir foram obtidos a partir dos dados contidos nas tabelas
apresentadas em anexo ao presente trabalho
A contabilização dos lotes que apresentaram, como resultado dos ensaios de resistência à
compressão, valores satisfatórios estão apresentados na Tabela 1 a seguir.
100,0%
17,9% 24,0%
80,0% 38,2%
60,0%
100,0%
40,0% 82,1% 76,0%
61,8%
20,0%
0,0%
25 MPa 30 MPa 40 MPa 50 MPa
Levando em conta que, segundo os critérios estabelecidos na ABNT NBR 12655:2015 para
amostragem total, cada caminhão betoneira foi considerado como um lote, e que os volumes
relativos a cada lote variam de acordo com as necessidades de cada concretagem, podendo possuir
volumes de 3m³ a 8m³, um mesmo número de lotes possivelmente não corresponderá a um mesmo
volume de concreto. Sendo assim, para a avaliação do impacto que os lotes rejeitados tiveram sobre
a estrutura, é interessante que seja considerado o volume de concreto aceito e o volume de concreto
rejeitado. A Tabela 2 a seguir traz os valores obtidos no estudo.
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Assim como realizado no item anterior, os valores foram plotados em um gráfico de barras
(Figura 4).
100,0%
17,7% 24,4%
80,0% 39,2%
60,0%
100,0%
40,0% 82,3% 75,6%
60,8%
20,0%
0,0%
25 MPa 30 MPa 40 MPa 50 MPa
Como se pode perceber, apesar das variações nos volumes dos lotes, a diferença entre os
percentuais de conformidade unitários e volumétrico não foi grande, com a maior diferença sendo
observada para o concreto C50 (1,1%), contudo estes valores são mais representativos do
percentual do concreto da estrutura que não atende aos critérios de projeto.
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serem rompidos aos 63 dias, com o intuito de fornecer ao calculista mais informações a respeito do
desenvolvimento da resistência do concreto ao longo do tempo. Em muitos casos, os lotes que não
atingiram os valores de resistência de projeto aos 28 dias, superaram esses valores na idade mais
avançada. Sendo assim, estes dados podem se mostrar úteis no processo de determinação da
aceitação dos elementos estruturais.
Se após a adoção destas medidas ainda existirem elementos com valores inaceitáveis de
resistência à compressão do concreto, deve-se adotar medidas de correção para os elementos
estruturais, a fim de garantir a segurança estrutural da construção. Estas medidas podem ser: a
realização de reforço estrutural dos elementos ou a demolição e reconstrução destes elementos.
5. CONCLUSÃO
De posse dos indicadores apresentados anteriormente, pode-se afirmar que, para esta obra
e para esta empresa de serviços de concretagem, existe uma relação direta entre o aumento da
resistência característica do concreto contratado, e o aumento na quantidade de reprovações dos
lotes fornecidos. Como foi mostrado, tanto a quantidade de lotes reprovados quanto o número de
dias contendo esses lotes cresceu seguindo o aumento do valor do 𝑓𝑐𝑘 .
1. REFERÊNCIAS
BAUER, L. A. Falcão. Materiais de construção. 5. ed. rev. Rio de Janeiro: LTC, 2008. 488 p. v.
1. ISBN 978-85-216-1249-0.
FUSCO, Péricles Brasiliense. Tecnologia do concreto estrutural: tópicos aplicados. São Paulo:
Pini, 2008.
32
NEVILLE A.M.; BROOKS J.J. Tecnologia do concreto. Tradução Ruy Alberto Cremoni. 2. ed.
Porto Alegre: Bookman, 2013. 448 p.
APÊNDICE
A seguir estão presentes as tabelas com os dados dos resultados dos ensaios de resistência
a compressão coletados no estudo de caso e utilizados no presente trabalho.
Tabela 3– Resultados dos ensaios de resistência a compressão aos 28 dias para o concreto de 25 MPa
Tabela 4 – Resultados dos ensaios de resistência a compressão aos 28 dias para o concreto de 30 MPa
Tabela 5 - – Resultados dos ensaios de resistência a compressão aos 28 dias para o concreto de 40 MPa
Tabela 6 – Resultados dos ensaios de resistência a compressão aos 28 dias para o concreto de 50 MPa