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Critérios devem ser satisfeitos para que uma substância química seja considerada um

transmissor central: 1) essa substância deve ser sintetizada, armazenada e possuir enzimas
inativadoras no local de liberação; 2) essa substância deve ser encontrada no espaço sináptico
e precisa apresentar ação pós-sináptica quando se ligar a receptores na membrana da célula-
alvo, onde pode produzir efeitos excitatórios ou inibitórios.
Após estarmos convencidos de que um candidato a transmissor é sintetizado por um neurônio
e está localizado no terminal pré-sináptico, devemos demonstrar que ele é realmente liberado
após um estímulo.
Um mesmo neurônio pode realizar tanto sinapses inibitórias quanto excitatórias, e o resultado
das duas influências determinará se o neurônio pós-sináptico sofrerá despolarização ou
hiperpolarização ou mesmo se gerará um potencial de ação (ver temas 1 e 3).
Cada neurotransmissor exerce seus efeitos pós-sinápticos por meio da ligação a receptores
específicos. Como regra, dois neurotransmissores diferentes não se ligam a um mesmo
receptor; entretanto, um neurotransmissor pode ligar-se a diferentes tipos de receptores.
O neurotransmissor, ao ligar-se ao seu receptor, promove mudança na permeabilidade iônica
ao Na+, culminando em uma despolarização, ao passo que o aumento de permeabilidade aos
íons K+, Cl–, ou ambos, provoca hiperpolarização neuronal, o que equivale a uma inibição do
impulso nervoso. É oportuno acrescentar que os neurotransmissores centrais formam um
sistema múltiplo, no qual interagem modulando as funções nervosas de maneira balanceada.
Consequentemente, qualquer manipulação (p. ex., farmacológica) que afete um ou mais
componentes desse sistema modifica o equilíbrio que se manifesta por meio de alterações na
função do SNC.
Nas sinapses a chegada de um potencial de ação causa rápida fusão de vesículas, contendo
moléculas de neurotransmissores com a membrana do axônio. As moléculas se difundem
através da fenda sináptica e agem em receptores específicos na membrana pós-sináptica,
alterando a atividade elétrica do neurônio pós-sináptico.
É importante destacar que as características inibitórias ou excitatórias da transmissão sináptica
são definidas pelos receptores, e não pelos neurotransmissores em si, já que um mesmo
neurotransmissor pode se ligar a receptores diferentes, tanto na membrana pré-sináptica
quanto na pós-sináptica, gerando ou inibindo a formação de potenciais de ação.
Assim, quando um receptor tem papel excitatório, sua interação com o neurotransmissor
provoca uma corrente de entrada gerada pelo aumento da permeabilidade ao íon sódio (Na+)
e saída do íon potássio (K+), que desencadeia um potencial excitatório pós-sináptico (PEPS).
Tipicamente, a amplitude desse PEPS é de apenas alguns milivolts, e muitos desses eventos
devem somar-se para que a membrana celular pós-sináptica alcance o limiar para gerar um PA.
Essa despolarização da membrana se propaga pelo neurônio, resultando na transmissão do
impulso nervoso do neurônio pré-sináptico para o neurônio pós-sináptico.
Para um receptor inibitório, a interação com o neurotransmissor provoca uma corrente gerada
pelo aumento da permeabilidade ao íon cloreto (Cl–), que gera um potencial inibitório pós-
sináptico (PIPS). Da mesma maneira, muito desses PIPS devem somar-se a fim de gerar um
estado de hiperpolarização neuronal. Isso impede a propagação do impulso nervoso da região
pré para a pós-sináptica. Os neurotransmissores e seus receptores não estão distribuídos
aleatoriamente no cérebro; ao contrário, são produzidos (em maior ou menor concentração)
em estruturas específicas. A superposição desses diferentes sistemas neuronais em um circuito
neuronal mais amplo dá ao SNC uma incrível dimensão de modulação e especificidade.
um ligante de um receptor pode ser um agonista, um antagonista ou o próprio
neurotransmissor químico.
divisão dos receptores de neurotransmissores em dois grupos:
canais iônicos ativados por transmissores e receptores acoplados à proteína G (receptores
metabotrópicos)
A ideia de que um neurônio tenha somente um neurotransmissor muitas vezes denominada
princípio de Dale. Muitos neurônios que contêm peptídeos violam o princípio de Dale, pois
essas células normalmente liberam mais do que um neurotransmissor: um aminoácido ou uma
amina e um peptídeo.
Quando dois ou mais transmissores são liberados de um mesmo terminal nervoso, eles são
denominados cotransmissores.
Esses neurônios
contêm enzimas específicas que os sintetizam a partir de vários precursores metabólicos. As
enzimas envolvidas na síntese de ambos os neurotransmissores, aminoácidos e aminas. são
transportadas até o terminal axonal, e, nesse local .• elas rapidamente promovem a síntese de
neurotransmissores. Uma vez sintetizados no citosol do terminal axonal, os neurotransmisso
res
aminoácidos e aminas devem ser captados pelas vesículas sinápticas. Concentrar esses
neurotransmissores dentro da vesícula é o trabalho dos transportadores, proteínas especiais
embutidas na membrana vesicular. A liberação de neurotransmissores é desencadeada pela
chegada de um potencial de ação ao terminal axonal A despolarização da membrana do
terminal
causa a abertura de canais de cálcio dependentes de voltagem nas zonas ativas. Esses canais de
membrana sào muito similares aos canais de sódio
Há uma grande força condutora impulsionando o Ca" para o interior. Lembre-se que a
concentração interna de cálcio - [ Ca'']; - em repouso é muita baixa, apenas 0,0002 mM;
portanto, o Ca'' inundará o citoplasma dos terminais axonais assim que os canais sejam
abertos. A elevação resultante na [Ca' ' [; éo sinal que causa a liberação dos
neurotransmissores da vesícula sináptica.
As vesículas liberam seus conteúdos por um processo denominado exocitose. A membrana da
vesícula sináptica funde-se com a membrana pré-sináptica nas zonas ativas, permitindo que o
conteúdo da vesícula seja derramado na fenda sináptica.
Na presença de aumento da (Ca" ),, essas proteínas alteram suas conformações, de modo que
as bicamadas lipídicas das membranas vesicular e pré-sináptica se fundam, formando um poro
que permite que o neurotransmissor escape para a fenda sináptica. A abertura desse poro de
fusão exocítica continua a se expandir até que a membrana vesicular esteja completamente
incorporada à membrana pré-sináptica. A membrana vesicular é posteriormente recuperada
por um processo de endocitose, e a vesícula reciclada é recarregada com neurotransmissor.
Durante os períodos de estimulação prolongada, as vesículas são mobilizadas a partir de um
estoque de vesículas que está ligado ao citoesqueleto do terminal axonal. A liberação dessas
vesículas do citoesqueleto e seu ancoramento às zonas ativas também são dependentes da
elevação da [Ca2]

Neurotransmissores:
Normalmente, os neurotransmissores são classificados conforme suas características químicas
(aminoácidos, monoaminas, gases difusíveis) e função (excitatória ou inibitória).
1) No terminal sináptico, ocorrem os fenômenos de síntese, armazenamento, liberação e
catabolismo dos neurotransmissores. A síntese, o metabolismo e a função de cada
neurotransmissor variam conforme suas características químicas, bem com de seus
respectivos receptores. Grosso modo, a síntese dos neurotransmissores ocorre no
citoplasma do neurônio, por meio de enzimas especializadas em converter o precursor
químico (p. ex., aminoácidos oriundos da dieta) na estrutura final do neurotransmissor.
2) Depois de sintetizados, os neurotransmissores são armazenados em vesículas lipídicas, com
exceção da norepinefrina e da epinefrina, cujas etapas finais de síntese e armazenamento
acontecem no mesmo compartimento.
3) Durante a transmissão sináptica, as vesículas fundem-se à membrana do terminal axônico,
permitindo a comunicação do interior aquoso da vesícula com o espaço extracelular,
liberando, assim, os neurotransmissores. (Esse processo ocorre após a despolarização do
terminal pré-sináptico por um mecanismo dependente da entrada de cálcio).
4) Após liberados na fenda sináptica, os neurotransmissores ligam-se aos receptores
localizados na membrana pós-sináptica e promovem as alterações elétricas ou bioquímicas
no neurônio pós-sináptico. Transmissões excitatórias promovem a despolarização da
membrana celular por conta do influxo de cargas positivas para a célula, e transmissões
inibitórias promovem a hiperpolarização da membrana, em virtude do influxo de cargas
negativas para a célula ou o efluxo de cargas positivas da célula.
5) Os neurotransmissores devem ser removidos do seu local de ação, pois a estimulação
prolongada dos receptores sinápticos pode ocasionar dessensibilização, que consiste na
redução do número de receptores e na consequente disfunção sináptica. Além disso, uma
deficiência do transmissor pode acarretar aumento do número de receptores e causar
supersensibilidade do sistema. O excesso de neurotransmissores excitatórios na fenda
sináptica também pode gerar excitotoxicidade, comprometendo o funcionamento da
sinapse e gerando inflamação e apoptose celular. Para evitar esses efeitos, são necessários
processos de inativação do neurotransmissor, em que a principal ação consiste na remoção
da fenda sináptica por processos localizados nas membranas pré e pós-sinápticas, assim
como nas membranas das células da glia que circundam a sinapse.

Principais neurotransmissores e sua localização


Grupo das aminas e dos aminoácido
 O GABA é o principal neurotransmissor inibitório presente no SNC de mamíferos,
responsável pelo controle de diversas vias intra e inter-estruturas neurais. e degradado pela
enzima mitocondrial GABA-transaminase (GABA-T) - existe tanto em neurônios pós-sinápticos
quanto em células da glia, onde participa da inativação de GABA após sua liberação, sendo,
portanto, responsável pelo controle da manutenção de concentrações apropriadas de GABA
pré-sináptico. Este neurotransmissor se distribui por todo o SNC (As células de Purkinje
cerebelares, No tecido estriatal, Áreas límbicas).
Existem dois tipos de receptores: 1) Os receptores GABA ionotrópicos (GABAA), formados
por glicoproteínas transmembrana pentaméricas organizadas, que formam um poro iônico de
cinco unidades, com sítios de ligação para o GABA e seus agonistas seletivos (muscimol) e sítio
alostérico para os benzodiazepínicos, que podem potencializar as ações do transmissor; 2) Os
receptores GABA metabotrópicos (GABAB) acoplados à proteína G. O baclofeno é um agonista
de GABA e os benzodiazepínicos não interferem na ligação de GABA. (Já o GABAC é
farmacologicamente distinto dos subtipos A e B, encontrado na retina, na medula espinal e na
hipófise. No momento atual, não existe nenhum fármaco disponível dirigido para os receptores
GABAC.)
 A glicina é o aminoácido inibitório que se encontra em maior concentração na porção
ventral da substância negra da medula espinal.
 O glutamato e o aspartato são aminoácidos excitatórios potentes e encontrados em
altas concentrações no cérebro. Suas ações são muito diversas por conta de sua ampla
distribuição no SNC. Os receptores do glutamato no SNC podem ser classificados em
receptores ionotrópicos e metabotrópicos quando ligados a canais iônicos ou à proteína G,
respectivamente. A ativação dos receptores ionotrópicos pelo N-metil-aspartato pode resultar
em dois tipos de receptores: NMDA e não NMDA.
 A acetilcolina possui funções complexas e diversificadas no organismo, desde a ação na
junção neuromuscular (JNM), no sistema nervoso autônomo (SNA) e no SNC. Talvez por isso as
aplicações terapêuticas de fármacos colinérgicos e anticolinérgicos sejam limitadas, gerando
muitos efeitos adversos.
 A dopamina é gerada a partir de dois precursores encontrados na dieta, os aminoácidos
fenilalanina e tirosina. A utilização de técnicas histológicas, farmacológicas, bioquímicas e
eletrofisiológicas tornou possível determinar a localização de diferentes sistemas
dopaminérgicos: 1) Sistema nigroestriatal: os corpos celulares dos neurônios localizam-se
na zona compacta da substância negra e se projetam até os núcleos caudado e putâmen,
que constituem o neoestriado, continuando, alguns deles, até o córtex motor. Esse sistema
é importante centro regulador do sistema piramidal, relacionando-se, portanto, com a
motricidade somática, em especial com o controle dos movimentos finos e involuntários;
2) Sistema mesolímbico: os corpos celulares localizam-se no mesencéfalo (núcleo
interpeduncular ventral e área tegmental) com projeções até a área septal, tubérculo
olfatório e núcleo accumbens. Esse sistema está associado ao controle da afetividade, e a
atividade antipsicótica dos antipsicóticos (neurolépticos) se deve ao bloqueio de
receptores desse sistema; 3) Sistema túbero-infundibular: origina-se no núcleo
periventricular hipotalâmico e se projeta à eminência média. Acredita-se que a dopamina
liberada dos terminais nervosos seja transportada via sistema porta-hipotalâmico-
hipofisário até a hipófise anterior, onde ativa receptores que inibem a secreção da
prolactina e do hormônio do crescimento (GH).
 A captação neuronal é específica para a norepinefrina, mas pode possibilitar a presença de
agentes neurotóxicos no terminal nervoso. As ações da norepinefrina nos receptores pós-
sinápticos resultam em uma série de respostas diferentes, como ocorre também na
periferia. Dois tipos de receptores adrenérgicos (α e β) e seus subtipos (α1A, α1B, α1D,
α2A, α2B, α2C e β1, β2, β3) foram descritos no SNC. Tem-se demonstrado que a atividade
dos neurônios à norepinefrina está associada a modulação de estados emocionais,
reações de alerta, aprendizagem, reação ao estresse e percepção da dor.
 O primeiro passo na síntese da serotonina (5-hidroxitriptamina, 5-HT) consiste na
passagem do aminoácido triptofano, encontrado na dieta, para o tecido cerebral. Uma vez
no SNC, o triptofano é hidroxilado na posição cinco e forma o 5-hidroxitriptofano (5-HTP)
e, em seguida, é descarboxilado para formar 5-HT. Após ser liberada e atuar em vários
subtipos de receptores pós-sinápticos (5-HT1A-F, 5-HT2A-C, 5-HT3, 5-HT4, 5-HT5A,B, 5-
HT6 e 5-HT7), a 5-HT pode ser recaptada pelo terminal pré-sináptico e sofrer
metabolização pela enzima MAO. O controle da sua síntese parece se dar por três
processos citados inicialmente: intracelular, pré-sináptico e pós-sináptico. Entre as várias
possíveis implicações funcionais da 5-HT no SNC, destaca-se seu papel nos estados
depressivos do humor, na modulação do apetite e nas regulações da temperatura corporal
e do sono.
 A localização inicial dos neurônios histaminérgicos é o hipotálamo ventral posterior; a
partir daí, originam-se tratos ascendentes e descendentes que se propagam por todo o
SNC. As prováveis funções do sistema histaminérgico central, como as modulações da
microcirculação vascular, da temperatura corporal e da atividade motora, baseiam-se nos
efeitos dos anti-histamínicos e na administração intracerebral de histamina. As ações da
histamina no SNC parecem ser mediadas por três subtipos de receptores, H1, H2 e H3
(autorreceptor). O receptor H4 está localizado em células hematopoéticas. Parece não
haver evidências de processo de captação e de liberação de histamina in vivo semelhante
ao das monaminas.
 O ATP excita diretamente alguns neurônios por meio da abertura de canais para cátions.
Nesse sentido, algumas das funções de neurotransmissor do ATP são semelhantes às do
glutamato e da ACh. Após a sua liberação sináptica, o ATP é degradado por enzimas
extracelulares, originando adenosina. A adenosina, por sua vez, não se enquadra na
definição padrão de um neurotransmissor por não ser empacotada em vesículas, mas
ativa diversos receptores seletivos de adenosina.
 A descoberta mais interessante acerca dos neurotransmissores nos últimos anos é que
pequenas moléculas lipídicas, denominadas endocanabinoides (canabinoides endógenos),
podem ser liberadas de neurônios pós-sinápticos e agir no terminal pré-sináptico (Quadro
6.3). A comunicação nesse sentido, de "pós" para "pré~ é chamada de sinalização
retrógrada; dessa forma, os endocanabinoides são considerados mensageiros retrógrados.
Esse tipo de mensageiro serve como um sistema de retroalimentação, para regular as
formas convencionais da transmissão sináptica, as quais, obviamente, direcionam-se do
sentido "pré" para o "pós” Existem várias características incomuns dos endocanabinoides:
1. Eles não são empacotados em vesículas, como a maioria dos neurotransmissores; em
vez disso, eles são fabricados rapidamente e de acordo com a demanda.
2. Eles sào moléculas pequenas e permeáveis à membrana: uma vez sintetizados, eles
podem difundir-se rapidamente através da membrana da sua célula de origem para
contatar células vizinhas.
3. Eles ligam-se seletivamente ao receptor canabinoide tipo CBJ, que se localiza
principalmente em certos terminais pré-sinápticos.

Neuropeptídeos
Atualmente, os neuropeptídeos são alvos de pesquisas sobre as possibilidades de suas funções
no SNC e de suas manipulações por meio de fármacos. Os avanços da biologia molecular
possibilitaram o conhecimento dos neuropeptídeos quanto à sua estrutura gênica, regulação
da expressão gênica e determinação da sequência de peptídeos a partir dos ácidos nucleicos.
Para facilitar o entendimento dos neuropeptídeos, eles podem ser agrupados em grandes
famílias:
•Hormônios hipotalâmicos (ocitocina e vasopressina
•Taquicininas (substância P, neurocinina A, neurocinina B, neuropeptídeo K)
•Peptídeos relacionados ao glucagon (polipeptídeo intestinal vasoativo – VIP, peptídeo ativador
da adenilato ciclase hipofisária – PACAP, peptídeo tipo glucagon – GLP-1, glucagon, secretina,
HPP)
•Peptídeos opioides (β-endorfina, dinorfina, leu-encefalina, met-encefalina)
•Calcitoninas (calcitonina, peptídeo relacionado ao gene da calcitonina – CGRP)
•Liberadores hipotalâmicos e hormônios inibitórios (fator liberador de corticotrofina – CRF,
hormônio liberador de gonadotrofina – GnRH, hormônio liberador do hormônio do
crescimento – GHRH, somatostatina, hormônio liberador de tireotrofina – TRH)
•Neuropeptídeo Y (neuropeptídeo Y – NPY, neuropeptídeo YY – PYY, polipeptídeo pancreático –
PP)
•Hormônios da hipófise (hormônio adrenocorticotrófico – ACTH, hormônio estimulante de α-
melanócito – α-MSH, hormônio de crescimento – GH, hormônio folículo Estimulante – FSH, β-
lipotropina – β-LPH, hormônio luteinizante – LH)
•Outros (grelina, galanina, brodicinina, colecistocinina, neurotencina, fator de crescimento
nervoso – NGF, orexina).
Outras substâncias moduladoras
Além das famílias de neurotransmissores, outras substâncias endógenas participam da
sinalização entre os neurônios. Entre elas, destacam-se as purinas (adenosina, ADP e ATP), que
funcionam como moléculas sinalizadoras extracelulares. Outras substâncias, denominadas
mediadores difusíveis, que exercem funções reguladoras, têm sido estudadas recentemente.
Entre elas constam o óxido nítrico (NO), que pode aumentar a liberação de glutamato na fenda
sinápitca, modulando, assim, a LTP ou levando à excitotoxidade. As citocinas e as quimiocinas,
uma vasta família de polipeptídeos reguladores da inflamação que influenciam a transmissão
sináptica, têm sido alvo de estudo para o tratamento de doenças autoimunes e
neurodegenerativas, por meio do uso de anticorpos monoclonais e proteínas recombinantes. O
principal canabinoide da maconha. Os receptores de canabinoides CB1 são receptores
autoinibitórios pré-sinápticos (ligados à proteína Gi) que reduzem a liberação de
neurotransmissores.

Ações dos fármacos no sistema nervoso central


A ação dos fármacos pode ser definida como específica e inespecífica. A ação de um fármaco é
considerada específica quando resulta diretamente de seu mecanismo molecular, pois se
presume que a ação primária na célula-alvo se deve à interação entre fármaco e receptor.
Entretanto, a ação inespecífica é aquela que resulta primordialmente de propriedades físico-
químicas do fármaco e apresenta diversos mecanismos moleculares em várias células-alvo.
Essa distinção geralmente é função da relação entre dose e efeito do fármaco e da célula-alvo
ou do mecanismo molecular em apreço. Assim, os fármacos considerados altamente seletivos
podem exibir ações inespecíficas quando utilizados em altas doses. Considerando que os
fármacos sejam mais ou menos seletivos, é importante estabelecer as bases prováveis para sua
seletividade com os respectivos mecanismos de ação.

 Psicolépticos: têm a capacidade de diminuir a atividade psíquica normal ou alterada


■Antipsicóticos (neurolépticos): capazes de reduzir sintomas psicóticos (alucinações, delírios,
confusão mental). São exemplos a risperidona e o haloperidol
■Ansiolíticos: utilizados primariamente para aliviar ansiedade e tensão emocional. São
exemplos o diazepam e o aprazolam
■Hipnóticos: utilizados primariamente para induzir ao sono. São exemplos o flurazepam e o
estazolam
■Estabilizadores de humor: são substâncias utilizadas para a manutenção da estabilidade do
humor. São exemplos o lítio e o ácido valpróico
 Psicoanalépticos: aumentam a atividade psíquica normal ou diminuída
■Antidepressivos: eficazes no tratamento de depressão. São exemplos a fluoxetina e a
imipramina
■Psicoestimulantes: utilizados primariamente para estimular a vigília, combater a fadiga ou
aumentar o desempenho. São exemplos as anfetaminas e a cafeína
 Psicodislépticos: promovem o aparecimento de estados psicopatológicos na percepção
sensorial e no pensamento, como alucinações, ideias delirantes e euforia
■Psicotogênicos ou alucinógenos: utilizados primariamente para a produção de alterações da
percepção, frequentemente com perda de contato com a realidade. São exemplos o LSD e a
mescalina
■Euforizantes e desinibidores: utilizados primariamente para produzir euforia e desinibição.
São exemplos o álcool etílico, a cocaína e a heroína.

Vale acrescentar que medicamentos comumente utilizados em neurologia, como os


antiepilépticos (carbamazepina) e os antiparkinsonianos (levodopa), que aliviam sinais e
sintomas de disfunções neuroanatômicas, podem apresentar marcantes ações psicotrópicas.
As interações de fármacos que atuam no SNC são, basicamente, de dois tipos:
•Adição: quando o efeito de um fármaco é aditivo ao de outros fármacos estimulantes ou
depressores. A associação de fármacos depressores costuma ser aditiva (p. ex., associação de
benzodiazepínicos com antagonistas β-adrenérgicos), da mesma forma com os fármacos
estimulantes (p. ex., efeitos estimulantes da morfina, como vômito e convulsões, podem
aumentar pela ação de fármacos estimulantes). O estado emocional dos pacientes pode ser
aditivo aos efeitos de fármacos estimulantes e depressores. Por exemplo, os anestésicos gerais
são menos eficazes em indivíduos hiperexcitados que em pacientes normais. O inverso é
verdadeiro para os fármacos estimulantes
•Antagonismo: ocorre entre fármacos estimulantes e depressores de modo variável. O
antagonismo farmacológico é menos frequente entre os fármacos que atuam no SNC e, em
alguns casos, eles podem ser eficazes, como no tratamento com naloxona (antagonista
opioide) em pacientes intoxicados com opiáceos ou o bloqueio do efeito convulsivante do
pentilenotetrazol pela etossuximida (antiepiléptico).
Os fármacos podem agir em etapas distintas do processo de neurotransmissão sináptica (Figura
30.1). Inicialmente, um determinado fármaco pode interferir na síntese do neurotransmissor,
inibindo a enzima que catalisa a etapa limitante da síntese ou bloqueando transportadores de
um precursor da sua síntese. Como resultado, em ambos os casos, há depleção do
neurotransmissor e, consequentemente, diminuição de sua liberação na fenda sináptica.
Os fármacos que inibem o armazenamento vesicular do transmissor apresentam efeitos
semelhantes aos dos inibidores de síntese, pois, nesses casos, a concentração do
neurotransmissor nos terminais nervosos ou na fenda sináptica está reduzida e, por
conseguinte, declina sua interação com os receptores. Em contrapartida, fármacos que
facilitam sua liberação das vesículas pelo impulso nervoso aumentam sua concentração na
fenda sináptica e sua ligação com os receptores. Pelo tipo de ação indireta no receptor, esses
fármacos são denominados agentes de ação indireta.
As técnicas de imagem continuam evoluindo e contribuindo para o desenvolvimento de novos
fármacos em modelos pré-clínicos. De fato, técnicas de imagem que utilizam radioisótopos
(PET e SPECT) e ressonância magnética estão cada vez mais à disposição como instrumentos de
pesquisa. Elas produzem imagens nítidas do cérebro humano em atividade, o que possibilita o
estudo da anatomia estrutural e funcional, o acesso de fármacos ao sistema nervoso central e
sua interação com o alvo. A farmacogenética, por sua vez, tem contribuído imensamente no
sentido de personalizar o tratamento das doenças psiquiátricas. Com o mapeamento completo
do genoma humano no início do século 21 e o desenvolvimento de técnicas como microarray e
a genotipagem computadorizada, hoje é possível fazer o mapeamento genômico
personalizado. Modificações exógenas e endógenas como dieta, estresse, gênero e função
renal podem contribuir na resposta a diversos tratamentos farmacológicos. Além disso,
polimorfismos gerados em diferentes populações podem modificar a ação de fármacos no SNC.
Por exemplo, polimorfismos no gene da COMT aumentam os efeitos da levodopa em pacientes
com doença de Parkinson.

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