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COMUNICAÇÃO NEURONAL:

SINAPSES

Juliana Soares
Lab. Fisiologia da Cognição - IBCCF/UFRJ
REFLEXO MIOTÁTICO
Fluxo da informação no reflexo miotático
Fluxo da informação no reflexo miotático
Os processos de sinalização
neuronal e transmissão sináptica
são a base de todas as operações
do sistema nervoso.

Neurônio hipocampal corado


para proteína dendrítica MAP2
e para a proteína de vesícula
sináptica sinaptotagmina.
Sinapse

Sherrington – Zona especializada de


contato entre dois neurônios.

A sinapse é o ponto de junção entre


um neurônio e o que a ele se segue.
A SINAPSE é a base funcional do sistema nervoso.
Transmissão e PROCESSAMENTO de informação
SINAPSES:

{ Elétricas
Químicas
(mais comuns)
{ Excitatórias
Inibitórias

{ Indiretas
Diretas

{ Transmissoras
Modulatórias
Sinapse Elétrica Sinapse Química

Canais iônicos conectam o citoplasma As células são separadas por


de células pré e pós-sinápticas. uma fenda sináptica.
Sinapse elétrica – continuidade citoplasmática (junções comunicantes)

Fluxo de corrente na sinapse elétrica Fluxo de corrente na sinapse química


SINAPSE ELÉTRICA
Junções comunicantes (gap junction)
-alta condução iônica

Geralmente são bidirecionais.


Rápida velocidade de transmissão.
Importantes para sincronização.
As sinapses elétricas são caracterizadas pela rápida velocidade de transmissão.

Sinapse motora gigante do lagostim


As sinapses elétricas frequentemente
conectam grupos de neurônios,
sincronizando a atividade das células.

Kandel 2000-Fig.10.5
A maioria das sinapses no SN são do tipo química.

Ultra-estrutura de uma terminação pré-sináptica de uma sinapse neuromuscular.


As setas apontam as zonas ativas, sítios de contato para as vesículas.
Sinapse química – mediador químico comunica os neurônios
(provoca abertura de canais iônicos no terminal pós-sináptico)

São unidirecionais e mais lentas (retardo sináptico).


Permitem a integração do sinal.
A transmissão ocorre em etapas:

1- A despolarização produzida pelo PA nos terminais abre os canais de


Ca++ dependentes de voltagem.

2- A entrada de Ca++ causa a fusão das vesículas e a liberação do


transmissor.

3- O transmissor se fixa ao receptor, abrindo os canais de Na + e as


vesículas são recicladas.

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Uma grande variedade de pequenas moléculas podem atuar como transmissores.
Para ser considerada um neurotransmissor uma substância deve atender aos critérios:
- É sintetizada no neurônio.
- É liberada no terminal pré-sináptico em resposta à despolarização.
- Receptores específicos para esta substância estão presentes na celula pós-sináptica.
- Existe um mecanismo para sua remoção do sítio de ação.
Síntese e armazenamento dos neuromediadores
Os diferentes tipos de neuromediadores são armazenados
em diferentes tipos de vesículas.

Vesículas pequenas e claras com Vesículas grandes e densas com


moléculas pequenas de neuropeptídeos
neurotransmissores
Neuromediadores

Neurotransmissor Neuro-modulador
-Mais Lenta
-Rápida -Duradoura
Ação
-Breve (segundos a minutos,
eventualmente horas ou dias)

Natureza Geralmente aminoácidos ou Geralmente grandes peptídeos


Química pequenas moléculas (proteínas)

Sintetizadas no terminal pré- Sintetizados no núcleo, tem que


Síntese sináptico por enzimas ser transportadas aos terminais
específicas. pré-sinápticos.

Grande disponibilidade Disponibilidade limitada


Disponibilidade (praticamente inesgotável em (podem esgotar em condições
condições fisiológicas) fisiológicas)
Neuromediadores:

- Neurotransmissores

Moléculas pequenas formadas


a partir de derivados de
carboidratos do metabolismo
intermediário.

- Neuromoduladores

Moléculas grandes – peptídeos


derivados de proteínas
formadas no corpo celular,
lipídeos (endocabinóides
e anandamida) e gases
(NO e CO)
Síntese de acetilcolina no terminal colinérgico
Síntese de glutamato
Síntese de GABA e glicina
Síntese das catecolaminas

Dopamina

Noradrenalina

Adrenalina
Histamina

Serotonina
A junção Neuro-Muscular
Uma fibra muscular é inervada por um único
axônio motor que conecta a placa motora
através dos botões sinápticos.
Os botões sinápticos situam-se
sobre a região das pregas
subneurais, onde o
neurotransmissor irá atuar.
ETAPAS DA TRANSMISSÃO SINÁPTICA

O potencial de ação, propagado ao


longo do axônio, chega ao terminal
sináptico que é despolarizado.
ETAPAS DA TRANSMISSÃO SINÁPTICA

A despolarização do terminal sináptico


leva à abertura de canais de Ca++
dependentes de voltagem.
ETAPAS DA TRANSMISSÃO SINÁPTICA

O Ca++ entra no terminal sináptico


porque sua concentração no meio
extracelular é muito maior.
ETAPAS DA TRANSMISSÃO SINÁPTICA

O Ca++ promove o deslocamento das


vesículas sinápticas e sua fusão com a
membrana do terminal: EXOCITOSE
DAS VESÍCULAS.

As moléculas de neurotransmissores
(acetilcolina) são liberadas na FENDA
SINÁPTICA.
Receptor Colinérgico Nicotínico

Passa tanto Na+ como K+


resultando numa despolarização
(a entrada de Na+ é maior que a
saída de K+).
ETAPAS DA TRANSMISSÃO SINÁPTICA

O neurotransmissor (acetilcolina) atravessa


a fenda sináptica e se liga a
RECEPTORES da MEMBRANA PÓS-
SINÁPTICA (Canais dependentes de
ligantes).

A abertura do canal/receptor permite a


passagem de cátions.

A entrada de íons Na+ causa a


despolarização do neurônio pós-sináptico
(Potencial de placa motora).
ETAPAS DA TRANSMISSÃO SINÁPTICA

Com a despolarização os Canais de


Na+ dependentes de voltagem se
abrem, provocando um potencial de
ação na célula pós-sináptica.
ETAPAS DA TRANSMISSÃO SINÁPTICA

Mecanismos de término da transmissão:

Difusão
Recaptação
Degradação Enzimática
(acetilcolinesterase)
Várias drogas podem atuar
inibindo os receptores ou
bloqueando a recaptação
e/ou metabolização do
neurotransmissor,
aumentando o seu tempo
de ação.

O curare inibe o receptor de acetilcolina

A toxina do botulismo atua impedindo a liberação do


neurotransmissor
O potencial pós-sináptico excitatório

O curare inibe o receptor de acetilcolina


A miastenia gravis é uma doença da junção
neuromuscular.

Na forma autoimune são produzidos anticorpos


contra os receptores de Ach.

Os pacientes melhoram com a


administração de inibidor de
acetilcolinesterase.
Sinapses do S. N. Central
SINAPSES:

{ Elétricas
Químicas { Excitatórias
Inibitórias

{ Indiretas
Diretas

{ Transmissoras
Modulatórias
A transmissão no SNC

Um neurônio central
pode receber tanto
sinais excitatórios
como inibitórios.

Kandel 2000-Fig.12.1
Sinapses Tipo 1 – Excitatórias, assimétricas, vesículas redondas, PPSE.
Sinapses Tipo 2 – Inibitórias, simétricas, vesículas achatadas, PPSI.
Potenciais Pós-Sinápticos Excitatórios (PPSEs)
O glutamato é o principal neurotransmissor
excitatório do S. N. C.

Três classes de receptores:


- Não NMDA (KAINATO e AMPA),
- NMDA,
-Metabotrópico.

As sinápses glutamatérgicas participam dos


mecanismos de plasticidade sináptica que
são a base para o aprendizado e memória.
Potenciais Pós-Sinápticos Inibitórios (PPSIs)
O PPSI impede ou dificulta que o potencial de membrana do
segmento inicial do axônio atinja o limiar de disparo do PA.
GABA e Glicina são os principais
neurotransmissores Inibitórios do S.N.C.

Estes receptores formam canais permeáveis a Cl-.

A entrada de Cl- hiperpolariza a célula.


O receptor GABAA apresenta sítios de ligação
separados para GABA, barbitúricos e
benzodiazepínicos.

A ligação de qualquer um dos três influencia a


ligação dos outros dois e facilita a ação do
GABA.

O efeito calmante dos benzodiazepínicos,


usados no tratamento das ansiedades, é
explicado pelo aumento do efeito inibitório do
GABA.
O neurotransmissor será excitatório (despolarizante) ou inibitório
(hiperpolarizante) dependendo do receptor ao qual ele se liga!
• No Sistema Motor Somático: • No Sistema Visceral (SNA):
A membrana do músculo estriado esquelético No músculo cardíaco, a membrana plasmática
expressa o receptor nicotínico , que é ionotrópico, expressa o receptor muscarínico, que é
permitindo a passagem de íons Na+. metabotrópico e leva à abertura de canais de K+.
O neurônio pós-sináptico é um
INTEGRADOR espaço temporal

A integração final ocorre no axônio de hillock, região de


alta densidade de canais de Na+.
É o ponto de tomada de decisão - se vai deflagrar ou
não PA (chegar ao limiar) - Álgebra Sináptica.
Álgebra sináptica – excitação (+) e inibição (-)
Tomada de decisão (se passar do limiar ocorre PA)
As centenas de sinais excitatórios e inibitórios para um neurônio
devem ser integrados em uma resposta única pela célula.

A integração das numerosas entradas sinápticas ocorre pela


somação temporal e espacial dos potenciais sinápticos.
Somação
Temporal

O PPSE final resulta da soma algébrica da sequência de PPSEs


provocados na mesma sinapse.
Somação
espacial

O PPSE final resulta da soma de PPSEs de sinapses próximas.


O aumento da intensidade do estímulo leva à excitação de mais fibras
aferentes e a despolarização produzida pelo PPSE vai se tornando
maior até, eventualmente, ultrapassar o limiar e gerar um PA.

Kandel 2000-Fig.12.4
A integração de sinapses excitatórias e
inibitórias produz um potencial pós-
sináptico resultante na zona de disparo,
que representa a soma algébrica dos
PPSEs e PPSIs provocados pelas fibras
aferentes.
O potencial sináptico (eletrotônico) propaga passivamente e decai com a distância.
O PA geralmente se inicia no segmento inicial do axônio, devido a uma alta
densidade de canais de Na+, tendo, portanto, limiar mais baixo.
A localização da sinapse contribui para a sua eficácia.
A proximidade de uma sinápse da zona de disparo aumenta a sua efetividade.

As sinapses glutamatérgicas
tendem a se localizar nos dendritos.

A sinapses inibitórias se encontram


principalmente no corpo celular,
onde podem suplantar os sinais
excitatórios dos dendritos.
SINAPSES:

{ Elétricas
Químicas { Excitatórias
Inibitórias

{ Indiretas
Diretas

{ Transmissoras
Modulatórias
Ionotrópico

DIRETAS
O receptor está no canal.
O transmissor controla
diretamente o canal iônico.

Metabotrópico

INDIRETAS
O receptor e o canal
estão separados.
O transmissor controla
o canal iônico via
segundo mensageiro.
Sinapses diretas – mais rápidas

Sinapses indiretas – um pouco mais lentas


mas permitem AMPLIFICAÇÃO do sinal (uma
molécula de neurotransmissor permite
controlar muitos canais).
SINAPSES:

{ Elétricas
Químicas { Excitatórias
Inibitórias

{ Indiretas
Diretas

{ Transmissoras
Modulatórias
Modulação
Modifica por longo período a sensibilidade do neurônio a transmissores

Transmissão Modulação
Modulação

Receptor Colinérgico
Muscarínico
Neurotransmissores como dopamina, serotonina
e histamina também participam de funções
cognitivas complexas.
A Dopamina está presente em várias regiões do cérebro, principalmente na
substância negra, tendo um papel essencial no controle do movimento.

N
A Dopamina está presente em várias regiões do cérebro, principalmente na
substância negra, tendo um papel essencial no controle do movimento.

N
A Dopamina está envolvida também nos circuitos de recompensa através do
sistema mesolímbico, envolvido com as emoções e a memória.

Kandel 2000-Fig.60.11
Anormalidades da transmissão sináptica dopaminérgica são associadas a
sintomas da esquizofrenia.

Drogas antipsicóticas atuam sobre os receptores de dopamina reduzindo os


sintomas da doença como alucinações e outras desordens do pensamento.
A clorpromazina (amplictil) bloqueia os receptores sem disparar uma resposta.
Neurônios serotoninérgicos são encontrados dentro e em torno dos núcleos
da rafe, implicados na regulação da atenção e de outras funções cognitivas
complexas.
As vias noradrenérgicas se originam do locus ceruleos e tegmento lateral do
tronco cerebral e estão envolvidas com o estado de alerta, medo e motivação.
Vias serotonérgicas Vias noradrenérgicas
Anormalidades na transmissão das aminas biogênicas podem
contribuir para as desordens do humor.

Drogas usadas no tratamento da depressão agem nas vias


serotonérgicas e noradrenérgicas.
Drogas como inibidores da MAO e bloqueadores de receptores
serotoninérgicos, usadas no tratamento de formas de ansiedade
patológicas, como o ataque de pânico, atuam na transmissão aminérgica.
Antidepressivos (tricíclicos, prozac) e estimulantes (anfetamina) também
afetam a transmissão aminérgica.
Sinalização retrógrada via
endocabinóides atua modulando a
transmissão sináptica.

Atuam principalmente nas áreas do


controle motor, córtex cerebral e
vias da dor.

Efeitos da cannabis (maconha ou


haxixe) – euforia, calma e
relaxamento, percepções alteradas,
redução da dor, aumento do riso e
da loquacidade, fome e confusão
mental e redução do desempenho
psicomotor.

O ingrediente ativo da cannabis,


THC, se liga aos receptores
canabinóides.

Bear 2007-Fig.6.17
ED:

1- Sinapse química X elétrica

2- Etapas da transmissão sináptica

3- PPSE X PPSI

4- Receptores ionotrópicos X metabotrópicos

5- Mecanismos de integração sináptica

6- Neurotransmissor X Neuromodulador

7- Mecanismos gerais de ação das drogas na transmissão sináptica.

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