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Educação financeira

Fazer um planejamento financeiro ajuda os jovens a se tornar cidadãos conscientes

POR:
Anna Rachel Ferreira
01 de Novembro | 2014

Uma pilha de contas sobre a mesa e uma calculadora nas mãos. Cena comum no
cotidiano quando o dinheiro acaba, mas ainda há muito o que pagar. Cálculos precisam ser feitos
e um planejamento se mostra indispensável. Algo tão usual no dia a dia da vida adulta pode ser
explorado também em sala de aula.

A Educação financeira é necessária para capacitar os estudantes a analisar as muitas opções


oferecidas pelo mercado e agir de acordo com seus objetivos. "Mesmo que eles não entendam
precisamente o que são juros, por exemplo, podem desenvolver ideias de bases para um
consumo mais consciente", explica Cileda Coutinho, docente do programa de Pós-Graduação
em Educação Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Pensando
nisso, a professora Márcia Fleury Reale de Paula Campos, do Colégio Magno, na capital paulista,
planejou as aulas do 6º ano.

Para começar, ela propôs um bate-papo sobre consumo, inflação e juros - assuntos dos quais os
jovens costumam ouvir falar nas conversas entre adultos e na mídia. Depois, perguntou: "O que
vocês sabem sobre ações e bolsas de valores?". As respostas foram quase unânimes: a maioria
deles entendia que o dinheiro deveria ser aplicado para, depois de render, ser retirado.

Em seguida, os estudantes assistiram a um vídeo, disponibilizado pelo departamento educativo


da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que conta a importância do planejamento
financeiro por meio de uma história fictícia de dois adolescentes empreendedores.

Nos dias posteriores, a turma visitou a instituição, onde foi acompanhada por técnicos. Lá, todos
ouviram uma palestra, participaram de uma simulação como se fossem corretores e ainda
tiraram dúvidas. "A gente pode investir?" foi uma delas. Os estudantes ficaram surpresos ao
descobrir que, com o documento de identidade em mãos, isso era possível. Outro tema que
despertou a curiosidade foi o modo como as transações são realizadas atualmente - sempre de
forma eletrônica. De volta à escola, a docente explicou que eles executariam, ao longo do ano,
um projeto de Educação financeira em grupos. Veja as etapas a seguir.
1 Planejando gastos A docente iniciou perguntando se os alunos ganhavam algum dinheiro,
levando-os a refletir sobre as despesas deles e a planejá-las. "Alguns recebiam todo mês e outros
a cada semana", lembra. Em grupos, eles escolheram algo que gostariam de adquirir e cujo valor
extrapolava o montante que um dos colegas recebia de mesada. Márcia questionou: "O que
vocês precisam fazer para ter o valor total do produto escolhido?". "Guardar um pouco
mensalmente", responderam. Outra solução comum é usar todo o dinheiro de um mês e
completar o valor no seguinte - desconsiderando as demais despesas. Todas as soluções
precisam ser comparadas, discutidas e problematizadas. "Se você guardar 100% do dinheiro,
como fará para comprar o lanche?", é uma das intervenções possíveis. Para fazer o cálculo, a
garotada dividiu o custo total do produto que desejava ter pelo valor estimado que pouparia
por mês. O mesmo resultado seria alcançado com a soma da quantia, mensalmente, até chegar
ao preço do produto. "O mais importante aqui é desenvolver a lógica do planejamento
financeiro com os meninos", orienta Carlos Mathias, professor do Departamento de Matemática
Aplicada da Universidade Federal Fluminense (UFF). Caso os jovens não recebam mesada, é
possível propor outras situações, como sugerir que pensem em uma importância razoável a ser
trabalhada durante as atividades.

2 Análise de consumo Os gastos no supermercado foram o destaque dessa etapa. Os alunos


apresentaram o tíquete de compra da família e analisaram o que era produto de primeira
necessidade e supérfluo. "Foi interessante observar que eles consideravam itens necessários
tudo o que os pais ensinam que é saudável, como suco e requeijão", lembra a educadora.
Ampliar esse tipo de conversa é fundamental para que os jovens tenham consciência das
diferentes realidades existentes no país. "Eles devem entender que nem todas as famílias vivem
no mesmo cenário", explica Cileda. É importante fazê-los pensar, por exemplo, acerca dos
produtos que compõem uma cesta básica: "Por que eles são considerados essenciais? Se uma
família se alimentar apenas com esses itens, ela terá uma dieta saudável e equilibrada?".

3 Porcentagem Após essa discussão e com o comprovante de compra em mãos, os jovens


construíram uma tabela de Excel. Eles separaram os itens essenciais dos supérfluos em colunas,
somaram o valor total da compra e calcularam a porcentagem gasta correspondente a cada
grupo usando as fórmulas do programa. O resultado foi exportado para um gráfico de pizza.

4 Estudo de impostos A professora introduziu o assunto apresentando a Lei Federal nº


12.741/12, que determina a discriminação de impostos em documentos fiscais. "Assim, a
população consegue saber o que está pagando", afirmaram os alunos. Para essa atividade, cada
grupo escolheu três produtos da cesta básica e dois de interesse pessoal para pesquisar que
impostos e valores incidiam sobre eles. A professora propôs que preenchessem uma tabela de
Excel com o preço total do item, o porcentual de taxas, o valor correspondente em reais (obtido
por meio de uma fórmula do programa) e o custo do produto sem os tributos (que os alunos
também precisavam calcular). Aqui, as contas envolviam algarismos decimais -- o que para a
turma é mais complexo, já que ao trabalhar com os racionais rompem com a lógica de
funcionamento dos naturais, construída desde o início da vida escolar. Ao notar que muitos não
operavam com segurança, Márcia propôs paralelamente uma sequência didática para tratar o
assunto.

5 Jovens empreendedores Depois de estudar sobre gastos, impostos, orçamento e


planejamento, a proposta foi empreender. Para entrar no assunto, os estudantes fizeram um
trabalho de pesquisa. Eles buscaram definições sobre o tema e as compartilharam com os
colegas. "Empreendedorismo é o estudo voltado para o desenvolvimento de competências e
habilidades relacionadas à criação de um projeto", escreveu um dos grupos. Após algumas
discussões, os alunos apontaram o planejamento como um dos itens fundamentais para realizar
tal atividade.

6 A prática de uma empresa Hora de planejar e executar. O objetivo: criar um negócio de venda
de brigadeiros. Com uma receita para a produção de aproximadamente 60 doces, os meninos
foram ao supermercado, pesquisaram preços e anotaram tudo em uma tabela fornecida pela
educadora para, então, somar o gasto total. Na sequência, calcularam o lucro que seria obtido
ao cobrar 1,50 real por unidade. A conta inicial foi simples para eles. "É só somar tudo o que eu
ganhar e diminuir o que eu gastei, não é professora?", questionou um deles. Para chegar ao
rendimento em porcentagem (considerando que obtiveram êxito na venda de 41 brigadeiros),
eles primeiro encontraram o lucro - diminuindo o custo (19,70 reais) do valor total recebido
(61,50 reais). Com essa conta, chegaram a 41,80 reais de lucro. Para calcular a porcentagem de
rendimento, dividiram o valor pelo que foi gasto. Ou seja, 41,80 : 19,70 = 2,12 = 212%. Os alunos
ficaram admirados com todas as contas que tiveram que realizar. "Nunca imaginamos que para
efetuar uma transação tão simples era preciso usar conceitos matemáticos como porcentagem
e cálculos com números decimais", escreveu um deles.

1 Cálculos porcentuais Proponha atividades que envolvam porcentagem e peça que os alunos
usem o Excel.

2 Estudo de conceitos Apresente aos jovens casos de compra e venda de produtos, por
exemplo, e peça que os analisem a fim de entenderem o significado de temas como lucro.

3 A matemática em ação Desenvolva atividades em que os meninos precisem lidar com


cálculos envolvendo representações decimais e fracionárias. Trabalhar o conceito de
proporcionalidade ajudará nessa etapa.

Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/2139/educacao-financeira

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