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BEAC0N
HEBREUS
KEVIN L. ANDERSON
CENTRAL
GOSPEL
EDITORA
VICE-PRESIDENTE Hebrews (New Beacon Bible Commentary) / Kevin L. Anderson / © 2013
Talita Malafaia Published by Beacon Hill Press of Kansas City, a division of Nazarene
Publishing House.
CEO CENTRAL GOSPEL Kansas City, Missouri, 64109 USA
EDITORA This edition published by arrangement with Nazarene Publishing House.
Elba Alencar All rights reserved.
Copyright © 2022 por Central Gospel Editora.
CONSULTOR EDITORIAL
D a d o s I n t e r n a c i o n a i s de C a t a l o g a ç ã o na P u b l i c a ç ã o (CIP)
Gilmar Vieira Chaves (Câmara B r a s i l e i r a do Livro, SP, Brasil)
Anderson, Kevin L.
GERENTE DE MARKETING Novo comentário bíblico Beacon Hebreus / Kevin L.
Anderson ; tradução Sonia Ribeiro Alves. -- 1. ed. --
Sarah Lole Rio de Janeiro, RJ : Central Gospel, 2022.
REVISÃO
É proibida a reprodução total ou parcial do texto deste livro por quais
Maria José Marinho
quer m eios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos etc.),
a não ser em citações breves, com indicação da fonte bibliográfica.
PROJETO GRÁFICO
Este livro está de acordo com as m udanças propostas pelo novo
Eduardo Souza
Acordo Ortográfico, que entrou em vigor a partir de janeiro de 2009.
1a edição: outubro/2022
BEACON
HEBREUS
DEDICATÓRIA
Editores gerais
G eorge Lyons
Alex Varughese Ph.D., Em ory University
Ph.D. D rew University Professor do N ovo Testamento
Professor de L iteratura Bíblica N orthw est Nazarene University
M ount Vernon Nazarene University N ampa, Idaho
M ount Vernon, O hio
R oger Hahn
Ph.D., D uke University
R eitor do corpo docente
Professor de Novo Testamento
Nazarene Theological Seminary
Kansas City, Missouri
E ditores secionais
9
PREFÁCIO GERAL DOS EDITORES
12
PREFÁCIO DO AUTOR
14
ABREVIAÇÕES
C om raras exceções, estas abreviações seguem as que estão no livro The SBL Handbook o f
Style (Alexander, 1999).
Geral
-> veja o com entário em
II passagem paralela
a.C. antes de Cristo (após uma data) (equivalente a A EC )
AT A ntigo Testam ento
BDAG BAUER, W.; D A N K E R , F. W.; A R N D T , W. F.; G IN G R IC H ,
F. W. Greek-English Lexicon o f the New Testament and Other
Early Christian Literature. 3. ed. Chicago e Londres: University
o f Chicago Press, 2000.
c. circa, cerca de
EDNT Exegetical Dictionary o f the New Testament. Editado por Η .
Balz e G. Schneider. G rand Rapids: Eerdmans, 1990-1993.
esp. especialmente
fl. floresceu (latim : floruit)
gr- grego
hb. hebraico
ktl. kai ta loipa (“e o restante”) = etc. (do grego)
lat. latim
LCL Loeb Classical Library
lit. literalm ente
L& N Greek-English Lexicon oftheNew Testament: Based on Semantic
Dom ains. Editado p o r J. P. Louw e E. A. N ida. 2. ed. New
York: U nited Bible Societies, 1989.
LSJ L ID D E L L , H . G.; S C O T T , R.; JO N E S . H . S .A Greek-English
Lexicon. 9. ed. C om suplem ento revisado. O xford and New
York: O xford University Press, 1996.
LXX Septuaginta
m. m orto
mg leitura marginal (ex.: N IV mg)
MM M O U L T O N , J. H .; M IL L IG A N , G. Vocabulary o f the Greek
New Testament. L ondon: H odder & Stoughton, 1930. Repr.
Peabody, Mass.: H endrickson, 1997.
MS M anuscrito
MSS M anuscritos
n. nota(s)
N ID B New Interpreter’s Dictionary o f the Bible. Editado p o r Katharine
D oob Sakenfeld. Vol. 5. Nashville: A bingdon, 2006-9.
N ID N T T New International Dictionary o f New Testament Theology.
Editado p o r C. Brown, v. 4. G rand Rapids: Z ondervan,
1975-1985.
NT N ovo Testam ento
P papyrus manuscrito
ABREVIAÇÕES NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Versões bíblicas
ACF Almeida C orrigida e Fiel
ARA Almeida Revista e Atualizada
A RC Almeida Revista e C orrigida
ARIB A lmeida Revisada Imprensa Bíblia
BCAM Bíblia Católica Ave Maria
BKJ Bíblia King James 1611
BSEP Bíblia Sagrada Edição Pastoral (Paulus)
BSC Bíblia Sagrada Católica
CEB C om m on English Bible
CEV C ontem porary English Version
ESV English Standard Version
GNT G ood News Translation (= Today’s English Version)
GW G O D ’S W O R D Translation
H C SB H olm an C hristian Standard Bible
JFA João Ferreira de Almeida Atualizada
KJA K ingjam es Atualizada
KJV King James Version
LEB Lexham English Bible
NAA Nova Almeida Atualizada
NAB N ew American Bible
NASB N ew American Standard Bible (1977 e 1995)
NASB95 N ew American Standard Bible (1995 update)
NCV N ew C entury Version
NEB N ew English Bible
N ET New English Translation
NVI Nova Versão Internacional
N IV New International Version (1984)
N IV11 New International Version (2011)
N IV 1"8 New International Version, leitura marginal
NJB New Jerusalem Bible
N K JV New K ingjam es Version
N LT New Living Translation
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON ABREVIAÇÕES
Por trás do texto: Informações históricas ou literárias preliminares que os leitores medianos
poderão inferir apenas pela leitura do texto bíblico.
No texto: Comentários sobre o texto bíblico, palavras, gramática, e assim por diante.
A partir do texto: O uso do texto por intérpretes posteriores, relevância contemporânea,
implicações teológicas e éticas do texto, com ênfase especial nas questões
wesleyanas.
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ABREVIAÇÕES NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Ob Obadias
Jn Jonas
Mq .Miqueias
Na Naum
Hc H abacuque
Sf Sofonias
Ag Ageu
Zc Zacarias
Ml Malaquias
Apócrifos
Ep.Jr Epístola de Jeremias
1—4 Mac. 1—4 Macabeus
Sl. Aza. Salmo de Azarias
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON ABREVIAÇÕES
Pseudoepígrafos do AT
2 Bar. 2 Baruque (Apocalipse Siríaco)
3 Bar. 3 Baruque (Apocalipse Grego)
4 Ed. 4 Esdras
1 En. 1 Enoque (Apocalipse Etiópico)
2En. 2Enoque (Apocalipse Eslavo)
3En 3 Enoque (Apocalipse Hebraico)
Apoc. Ab. Apocalipse de Abraão
Apoc. El. Apocalipse de Elias
Apoc. Sof. Apocalipse de Sofonias
As. Is. Ascensão de Isaías 6— 11
C. Ari. Carta de Aristeas
Eup. Eupolemus
L.A.B. Liber antiquetatum biblicarum (Pseudofílon)
Od. Sal. Odes de Salomão
P. Ed. Perguntas de Esdras
Ps.F. Pseudofociletos
Sib. Oráculos Sibilinos
S.S. Salmos de Salomão
T. 12 Patr. Testamentos dos doze patriarcas
T. Benj. Testamento de Benjamim
T. Dá Testamento de Dã
T. Jud. Testamento de Judá
T Levi Testamento de Levi
T.Naft. Testamento de Naftali
T. Rub. Testamento de Rúben
T. Sim. Testamento de Simeão
T. 3 Patr. Testamentos dos três patriarcas
T.Ab. Testamento de Abraão
T.Is. Testamento de Isaque
T.Jac. Testamento deJacó
T.JÓ Testamento deJó
V.A.E. Vida de Adão e Eva
Escritos Judaicos
Pergaminhos do Mar Morto
1Q H ’ Hodayota ou Hino de Ação de Graças
1QS Regra da Comunidade
lQ Sb Regra das Bênçãos (Apêndice b á Regra da Comunidade [1QSJ)
4T212 Carta de Enoque
4QFlor Florilegium
1 lQM elch Melquisedeque
CD Cairo Genizah cópia do Documento de Damasco
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ABREVIAÇÕES NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Josefo
CA. Contra Apião
Ant. Antiguidadesjudaicas
C.Ap. Contra Apionem
G.J. Guerra dosJudeus
Fílon
Abraão Da Vida de Abraão
Agricultura Da Agricultura
Confusão Da Confusão de Línguas
Congr. De congressu eruditionis gratia
Criação Da Criação do Mundo
Decálogo Do Decálogo
Deus Sobre Deus
Embriaguez Da Embriaguez
Embaixada Na Embaixada antes de Gaio
Est. Prel. Dos Estudos Preliminares
Leis Esp. Das Leis Especiais
Fuga Da Fuga e Descoberta
Gigantes Dos Gigantes
Herdeiro Quem éo Herdeiro?
Imutável Qiie Deus é Imutável
Int.Al. Interpretação Alegórica
Migração Da migração de Abraão
Moisés 1, 2 Da Vida de Moisés 1, 2
Nomes Da Mudança de Nomes
Pessoa Boa Qiie toda Pessoa Boa é Livre
Pior Que o Pior Ataca o Melhor
Plantar Sobre Plantar
Posteridade Da Posteridade de Caim
PR Perguntas e Respostas sobre o Gênesis
Querubins Dos Querubins
Recompensas Das Recompensas e Punições
Sacrifícios Dos Sacrifícios de Caim e Abel
Sobriedade Da Sobriedade
Sonhos Dos Sonhos
Virtudes Sobre as Virtudes
Obras Rabínicas (precedendo b. = Talmude Babilônico; y. = Talmude de Jerusalém; t. = trata
dos de Tosefta; ex.: b. Sank.)
Hag. Hagigah
Midr. Midrash
Ned. Nedarim
Pesah. Pesahim
Pesiq. Rab. Pesiqta Rabbati
Pirqe R. El. Pirqe Rabbi Eliezer
Rab. Rabbah (+ livro bíblico; ex.: Gn Rab.)
Rosh. Hash. Rosh HaShanah
Sank. Sanhedrin
Shabb. Shabbat
Sipre Nm Sipre Num
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON ABREVIAÇÕES
Textos gnósticos
Ev. Tm. Evangelho de Tomé
CN H Códigos Nag Hammadi
Pais da Igreja
Ambrósio
Paen. De paenitentia
Clemente de Alexandria
Strom. Stromata
Cipriano
Ep. Epístolas
Epifânio
Pan. Panarion (Adversus haereses) = Refutação de todas as Heresias
Eusébio
Hist. Ecl. História Eclesiástica
Prep. Ev. Preparação para o Evangelho
Hipólito
Trad. Ap. A Tradição Apostólica
Jerônimo
Ep. Epístolas
Justino
1 Apol. Primeira Apologia
Dial. Diálogo com Trifão
Orígenes
Cel. Contra Celsus
Pseudo-Justino
Coh. Gr. Cohortatio ad Graecos (Exortação contra os Gregos)
Tertuliano
An. De anima (sobre a alma)
Bat. Batismo
Pud. De pudicitia (sobre Modéstia)
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ABREVIAÇÕES NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
22
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON ABREVIAÇÕES
Transliteração do grego
Grego Letra Transliteração
α alfa a
β beta b
23
ABREVIAÇÕES NOVO COMENTÁRH
y gama g ,
y gama nasal n (antes de γ, κ, ξ,
δ delta d
8 epsilon e
ζ zeta z
η eta ê
θ teta th
1 iota i
Κ capa k
λ lambda 1
μ mn/mi m
V nu/ni n
ξ Csi/Xi X
0 ômicron 0
π pi P
Ρ ro r
Ρ rô (em início de palavra) rh
ς sigma s
τ tau t
υ úpsilon y
υ úpsilon u (em ditondos: í
φ fi ph
λ chi ch
ψ psi Ps
ω omega δ
respiração elaborada h (antes de vogais
Transliteração do hebraico
Hebraico/Aramaico Letra Transliteração
X á le f
3 bêt b; v (fricativa)
Λ guímel g
~l dálet d
Π he h
1 vav v ou w
I zain z
Π hêt h
0 tét t
Ί iode y
3 caf k
'7 âmed l
a mem m
3 nun n
D sâmeq s
V áin
D pê /'//'(fricativa)
3 tsaae s
Ρ cof q
Ί rêsh r
Iff sin s
ιtf shin s
n tau t
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pages. Cited February 2, 2013. Online: http://www.stoa.org/sol-entries/
iota/265.
39
BIBLIOGRAFIA NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
40
ÍNDICE DE ANOTAÇÕES
COMPLEMENTARES
Quadro Localização
Analogia verbal 4.3b-5
Antiga filosofia sobre o medo da morte 2.15
Autores prováveis de Hebreus Introdução, B.
Autor
Brincando com começos e fins 5.9
“Casa” de Deus 3.2
Cinco advertências contra a apostasia Introdução, E
Propósito
Citando as Escrituras em Hebreus 1.5-14
Coisas “superiores” em Hebreus 1.4
Consciência 9.8-10
Contextos literário e histórico de Hebreus 5.7-10 5.7
Contrastes precisos 10.11-14
Corações endurecidos 3.7b-8
Cristologia em rima 1.3
Descanso e salvação em Hebreus 4.1-13
Por trás do texto
Descanso sabático e mundo vindouro 4.1-13
Por trás do texto
INDICE DE ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
42
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON ÍNDICE DE ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES
43
INTRODUÇÃO
A. M istério e p o d er re velado r
James Denney, teólogo escocês do século 19, explicou que, ao interpre
tar os documentos do NT, “a principal tarefa do comentarista é elucidar seu
significado como veículos de revelação” (citado em Marshall, 1966, p. 207).
Essa tarefa é praticamente frustrada em múltiplas frentes quando se trata da
Epístola aos Hebreus. Respostas definitivas a questões fundamentais da análise
literária simplesmente nos escapam. Que tipo de obra é essa? Quem a escre
veu? Para quem ele estava escrevendo? Onde estava o autor? Onde estavam os
seus destinatários? Quando ele escreveu? Quais eram a situação do público e
o propósito do autor ao escrever-lhes? Qual é a estrutura discernível da obra?
Os leitores não vão muito longe antes de perceber que Hebreus é um texto
difícil de compreender. Por exemplo: por que a extensa comparação de Cristo
com os anjos? O que significa ser “perfeito para sempre”? O que é entrar no
descanso de Deus? É realmente impossível arrepender-se novamente depois de
cair? Quem é a figura obscura, Melquisedeque, e por que o autor recorrería a
ele para explicar o papel sacerdotal de Jesus ?
Mesmo declarações que a princípio parecem simples e informativas levan
tam mais perguntas do que respostas. Por exemplo, a menção de Timóteo em
13.23 pressupõe que o público está ciente das informações que gostaríamos de
saber. É esse o Timóteo que foi o colaborador de confiança do apóstolo Pau
INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
46
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON INTRODUÇÃO
Nenhum cristão que lê Hebreus com interesse pode sair dela sem ficar
impressionado com dois aspectos de sua mensagem. Primeiro, ela magnífica
Cristo como a revelação definitiva de Deus e o meio de salvação. Segundo, exor
ta a um compromisso radical com Cristo. Esses pontos são tão inconfundíveis
e importantes que não devem ser perdidos em todos os emaranhados de ques
tões literárias, históricas e teológicas que cercam Hebreus. O autor anônimo
provavelmente ficaria surpreso por sua obra ter gerado tantos quebra-cabeças.
Certamente ele nos exortaria a não nos concentrar muito naqueles assuntos
que, no final, são apenas tangenciais à mensagem vital que ele comunicou.
B. A u to r
47
INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
para determinar se escreve antes ou depois da morte de Paulo. E ele não diz
nada específico sobre a prisão de Timóteo e sua recente libertação.
(3 ) 0 escritor era altamente instruído. Sua facilidade com o grego pode
muito bem ser a melhor do NT. Mesmo em português, Hebreus dá a im
pressão de que estamos lidando com um intelecto imponente. Seu domínio
de vários campos do conhecimento transparece no texto. Ele facilmente
se lembra de termos técnicos de muitas facetas da cultura, como negócios,
educação, direito e medicina (-> 5.11—6.20, anotação complementar:
“Imagens culturais”; e 6.13-20 anotação complementar: “Jargão jurídico
Hebreus”). Metáforas educacionais formam uma parte fundamental de seu
discurso direto para a situação do público (-> 5.11—6.1; 12.4-11; e 5.13
anotação complementar: “Imagens antigas do progresso educacional”). Ele
está familiarizado com conceitos filosóficos do platonismo e do estoicismo.
Lane (1991, p. 1) sugere que nosso autor teve uma educação comparável à
de Fílon.
O autor parece ter atingido o mais alto nível de formação educacional:
retórica (-> 5.12 anotação complementar: “Educação no mundo helenísti-
co”). O rico vocabulário, a disposição, os recursos retóricos e os métodos de
argumentação em hebraico refletem alguém com considerável habilidade
retórica.
(4) O aprendizado excepcional do autor foi aplicado à sua interpretação
das Escrituras de Hebreus. Ele tinha um vasto conhecimento das Escrituras
em grego, embora o Pentateuco e os Salmos fossem as principais fontes para
suas citações (Lane, 1991, p. cxvi). Ele empregou técnicas hermenêuticas
rabínicas em uso nas sinagogas helenísticas do primeiro século.
Dois princípios interpretativos são essenciais para o desenvolvimento
das idéias em Hebreus: a analogia verbal e o argumento do menor para o
maior (G. Guthrie, 2001, p. 51). O autor de Hebreus é capaz de fazer uma
exposição bíblica marcada por atenção cuidadosa ao texto bíblico, insights
criativos e aplicação poderosa para seu público.
(5) As sensibilidades religiosas do autor foram moldadas dentro de ce
nários distintamente judaicos e cristãos. Seu pensamento está saturado com
a linguagem cultuai da LXX. Seus argumentos centrais em 7.1 — 10.18 são
dedicados a assuntos relacionados ao sacerdócio levítico, ao tabernáculo e
à aliança. Seu conhecimento e interesse em relação à contaminação, ao san
gue e à purificação são essenciais para sua interpretação da morte de Cristo.
Ele também está familiarizado com as lavagens cerimoniais judaicas e os
regulamentos alimentares (6.2; 9.10; 13.9). Essa estrutura mental sugere
48
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON INTRODUÇÃO
que ele teve uma séria e longa exposição ao culto e estudo nas sinagogas
judaicas helenísticas.
Ele também era herdeiro das tradições e confissões das igrejas cristãs
primitivas. Central para a compreensão do autor sobre salvação é a confis
são da pessoa e obra de Cristo. Ele repetidamente exorta seus ouvintes a se
comprometerem com Cristo por meio dessa confissão (3.1; 4.14; 10.23;
13.15). A realidade concreta do Jesus histórico fornece a chave hermenêu
tica que abre as Escrituras. O sofrimento de Jesus, que o aperfeiçoou como
Sumo Sacerdote, e Sua exaltação à mão direita de Deus constituem o ponto
de virada na história (2.5-18; 5.7-10; 7.11,14-16; 9.26). O escritor partilha
com as primeiras igrejas a crença de que elas estão vivendo nos “últimos
dias” (1.2), já estão participando das realidades da era vindoura (2.5; 6.4,5;
10.1) e estão aguardando a herança e a salvação definitivas de acordo com
as promessas de Deus (ex.: 1.14; 6.12; 9.15,28; 13.14). Esses compromissos
cristológicos e escatológicos são fundamentais para a fé cristã autêntica.
(6) O autor tem um coração pastoral. Ele ordena seu aprendizado, sua
habilidade interpretativa e sua capacidade de oratória para formar uma
“palavra de exortação” a fim de abordar os medos e as lutas de uma comuni
dade específica. Ele sabe o suficiente sobre eles (10.25,32-34; 13.7-24) para
confrontá-los ousadamente sobre suas falhas (5.11-14), avisá-los sobre as
consequências do fracasso (2.1-4; 3 Jo 10.26-39; 12.14-29) e encorajá-los
a perseverar em seu compromisso com Cristo (10.19— 12.13). Como um
pregador e intérprete talentoso, o autor emprega exposições penetrantes das
Escrituras a serviço de exortações retoricamente poderosas ao seu público.
Quem fo i o autor? Estudiosos repetidamente propõem três prováveis
autores de Hebreus.
Paulo. A versão King James preserva um título para Hebreus que ocor
re na tradição do manuscrito grego: “A Epístola de Paulo, o Apóstolo aos
Hebreus”. Certamente não era original, uma vez que a inscrição anterior
e mais simples “Aos Hebreus” foi adicionada por um compilador antigo.
Todavia, na parte oriental do Império Romano, os cristãos atribuíram H e
breus a Paulo bem cedo (mas não por unanimidade). A aceitação ocidental
de Hebreus foi mais lenta e mais difícil.
A mais antiga coleção existente de cartas de Paulo (o Papiro Beatty
II, J346), datando de cerca de 200 d.C., coloca Hebreus entre Romanos e
1 Coríntios. Por volta da mesma época, alguns eruditos cristãos no Egito
incluíram Hebreus entre as cartas de Paulo, com qualificação. Clemente de
49
INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Alexandria afirmou que seu professor, Panteno, ensinou que Paulo escreveu
Hebreus. Mas dois problemas ficaram imediatamente evidentes.
Primeiro, Hebreus é anônima. Muitos especularam que Paulo omitiu
seu nome por modéstia. O apóstolo dos gentios não queria dar a impressão
de que estava impondo-se aos judeus como um apóstolo no lugar do pró
prio Senhor (Eusébio, Hist. Ecl. 6.14.3,4).
Segundo, o estilo de Hebreus difere marcadamente do de Paulo. Alguns
explicam isso especulando que a obra foi originalmente escrita em hebraico.
Com base em semelhanças estilísticas, Clemente pensou que Lucas a tradu
ziu e publicou para os gregos (Eusébio, Hist. Ecl. 6.14.2).
O sucessor de Clemente, Orígenes, afirmou a autoria paulina, com
reservas. Para Orígenes, a variação de estilo era um grande obstáculo. A
dicção de Hebreus é manifestamente superior à de Paulo, que, por sua pró
pria admissão, é “rude no discurso” (2 Co 11.6 BKJ). Orígenes pensava que
um aluno de Paulo havia escrito Hebreus, mas acatou a tradição de autoria
paulina (Eusébio, Hist. Ecl. 6.25.11-14). Ele consistentemente se referiu
às quatorze epístolas de Paulo e introduziu passagens de Hebreus com “o
apóstolo diz” ou “Paulo diz” (Ellingworth, 1993, p. 5).
Orígenes tinha conhecimento de outras propostas relativas à autoria,
a saber, Clemente de Roma e Lucas. Sua incerteza provavelmente o fez ou
sado o suficiente para pressionar suavemente contra uma forte tradição. O
veredito final de Orígenes é lendário: “Mas quem escreveu a epístola, na
verdade, Deus sabe” (Eusébio, Hist. Ecl. 6.25.14).
No ocidente, Hebreus não foi aceita inicialmente como uma das cartas
de Paulo. Não foi incluída no Canon M uratoriano (datado de 180 d.C.),
uma lista de livros do N T autoritativos aceitos em Roma. De acordo com
Fócio (Bibliotheca, p. 232), tanto Irineu (século dois) quanto H ipólito (iní
cio do terceiro século) afirmaram que Hebreus não foi escrita por Paulo.
Tertuliano (início do terceiro século) atribuiu-a a Barnabé. Eusébio (início
do quarto século) relatou desafios contínuos à autoria paulina em Roma
{Hist. Ecl. 3.3.5; 6.20.3).
Somente no final do quarto século, o ocidente incluiu Hebreus entre
as cartas de Paulo. Isso veio com o estímulo dos pesos pesados, Jerônimo
e Agostinho, e por causa da unidade da Igreja entre o oriente e o ocidente.
Como Hebreus era uma arma valiosa na luta contra o arianismo, ambos
insistiram em sua aceitação, apesar das dúvidas contínuas sobre a autoria
paulina. Jerônimo escreveu {Ep., 129, citado em Lincoln, 2006, p. 4): “Não
50
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON INTRODUÇÃO
51
INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
A u to r p ro v á ve l Ju stificativ a P ro p o n en te(s)
P a u lo A t e s t a d o na p r im e ir a P a n te n o ; C le m e n t e
c o le ç ã o d e c a r t a s d e d e A le x a n d r ia (fin a l
P a u lo (J346); m e n ç ã o d o s é c u lo d o is); a
d e T im ó t e o (1 3 .2 3 ); m a io r ia d o s p a is
a p o ia d a p e lo s p a is d a g r e g o s d e p o is d is so ;
Ig reja O r ie n ta i. c o n s e n s o d a Igreja
a p ó s o s é c u lo q u a tro
a té o s t e m p o s
m o d e rn o s .
C le m e n t e d e R o m a P a ra le lo s v e r b a is e E u s é b io ( H is t . E d .
c o n c e it u a is c o m 1 3 .38 ); E ra s m o ;
C le m e n t e . C a lv in o ( c o m o u m a
p o s s ib ilid a d e ) .
B a rn a b é U m le v ita T e r tu lia n o (fin a l d o
f a m ilia r iz a d o c o m s é c u lo d o is); Jo h n
r it u a is d e c u lto e A.T. R o b in s o n ; P h ilip
s a c r if íc io s ju d a ic o s ; Hughes
ch am ad o de
" e n c o ra ja d o r"
(A t 4 .3 6 ; c o m p a r e
H b 1 3 .2 2 ).
52
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON INTRODUÇÃO
A p o io A d e s c r iç ã o d e le e m M a r t in h o L u te ro ;
A t o s d o s A p ó s t o lo s m u ito s o u tro s
1 8 .2 4 - 2 8 e n a s c a r ta s e s t u d io s o s m o d e rn o s
d e P a u lo s e e n c a ix a d o NT.
a d m ir a v e lm e n t e no
p e rfil d e a u to r ia d e
H e b re u s .
L u c a s (c o m o t r a d u t o r S e m e lh a n ç a s C le m e n t e d e
d a s o b r a s d e P a u lo ) e s t ilís t ic a s e n tre A le x a n d r ia
H e b re u s e L u c a s -A to s .
L u c a s (c o m o a u to r S e m e lh a n ç a s C a lv in o (c o m o u m a
so lo ) e s t ilís t ic a s e n tre p o s s ib ilid a d e ) ; G ró c io ;
H e b re u s e L u c a s -A to s ; D a v id A lle n (2 0 1 0 ).
a f in id a d e s t e o ló g ic a s ;
re c o n stru çã o
h is tó r ic a re la tiv a a o
e n v o lv im e n t o d e
L u c a s c o m P a u lo e m
s e u s ú lt im o s d ia s e
c o m a c o m p o s iç ã o
d a s E p ís t o la s
P a s to ra is .
T im ó t e o (c o m u m P a u lo e n v io u J. D. L e g g ; J. R a m s e y
p ó s - e s c rito d e P a u lo ) e sse se rm ã o por M ic h a e ls ( 2 0 0 9 , p.
T im ó t e o (q u e 3 1 0 -3 1 1 ).
e s t a v a na p ris ã o ),
a c re s c e n ta n d o su a
p ró p ria " c a r t a d e
a p r e s e n t a ç ã o ” no
fin a l.
S ila s / S ilv a n o M e m b ro d o c írc u lo B o e h m e ; T. H e w itt.
p a u lin o ; s e m e lh a n ç a s
lit e r á r ia s c o m 1 Pe dro.
P ris c ila ( a s s is tid a p o r T o q u e s f e m in in o s A d o lf v o n H a rn a c k ;
Á q u ila ) (ex.: m u lh e r e s R u th H o p p in (2 0 0 9 ).
m e n c io n a d a s n o c a p .
11); fo i in s tr u to ra d e
A p o io .
E p a fra s P re o cu p a çõ e s C. P. A n d e r s o n ; R o b e rt
s e m e lh a n t e s s o b re a J e w e tt ( 1 9 8 1 , p. 7-9).
h e re s ia g n ó s t ic a (v e ja
C l 1.7; 4 .1 2 ,1 3 ).
53
INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Barnabé. Essa é uma das poucas propostas alternativas a Paulo que teve
origem nos tempos antigos (além de Lucas e Clemente de Roma). Tertuliano
(ca. 200 d.C.) nomeou Barnabé como o autor de Hebreus. Ele o fez de forma
suficientemente casual, que pode não ter sido uma ideia sua. Mas, se ele depen
dia da tradição, deve ter ficado confinado ao norte da África. Dois séculos mais
tarde, Jerônimo estava ciente da proposta de Tertuliano (veja Ellingworth,
1993, p. 14). Alguns estudiosos modernos defenderam a autoria de Barnabé
(notavelmente Robinson [1976, p. 217-220] e Hughes [1977, p. 24,25,29]).
Três linhas de evidência apoiam esse ponto de vista:
(1) Barnabé era um levita e natural de Chipre (At 4.36). Sua ascendência
levítica explicaria seu interesse pelo sacerdócio e culto sacrificial, como encon
tramos em Hebreus. Como Judeu da diaspora, ele estaria mais familiarizado
com a LXX.
(2 ) 0 nome Barnabé era um apelido (para José), que Atos 4.36 interpreta
como “Filho do Encorajamento [paraklêseõs]” (NVT). Isso se originou com o
seu dom como solucionador de problemas e mediador na Igreja primitiva (At
9.26-30; 11.22-30; 15.22-39; Robinson, 1976, p. 218)? Talvez Barnabé tenha
cumprido esse papel ao enviar Hebreus como uma "palavra de exortação" \pa-
rakleseõs\ (Hb 13.22) para uma igreja problemática em Roma (-» C. Destino).
(3) Barnabé era conhecido por sua abnegação e generosidade exemplares
(At 4.37). Ele patrocinou, com Paulo, uma missão de alívio da fome para as
igrejas na Judeia (At 11.29). Uma preocupação importante em Hebreus é a
liberdade da ganância (13.5,6). Ele elogia a alegre perda de posses (10.34) e
a demonstração de amor e verdadeiro sacrifício por meio da partilha com os
outros (6.10,11; 13.16).
As impressionantes correlações entre Barnabé e Hebreus podem não pas
sar de coincidências. Elas não podem provar nem refutar sua autoria. Outros
motivos argumentam contra Barnabé como autor:
54
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON INTRODUÇÃO
Primeiro, quer Roma seja a origem, quer seja o destino da obra (13.24), é
notável que a identidade de Barnabé como seu autor era desconhecida ali. Não
há evidência de que Barnabé tenha feito quaisquer negócios em Roma, exce
to de acordo com os historicamente pouco confiáveis Clementine Recognitions
(1.7-13; veja Robinson, 1976, p. 217).
Segundo, pode ter existido alguma confusão entre Hebreus e a espúria
Epístola de Barnabé. Tertuliano cita claramente Hebreus (6.4-8), mas chama a
obra que está citando tanto de “uma epístola aos Hebreus” como “a epístola de
Barnabé” (Pud. 20).
Terceiro, a qualidade do estilo de Hebreus supera a de Paulo. Entretan
to, foi Paulo, não Barnabé, que agiu como “o principal portador da palavra”
[NAA] durante a primeira viagem missionária (At 14.12). Isso não prova
que Barnabé não pudesse ter a habilidade oratória para igualar a exibição
retórica em Hebreus. Contudo, Atos toma nota da proeza retórica quando
está presente (ex.: Estêvão [6.10] e Apoio [18.23-28]).
Apoio. Essa é a brilhante sugestão feita por M artinho Lutero. Desde o
século 19, muitos estudiosos têm defendido Apoio como o autor, incluin
do F. Sleek, F. W. Farrar, T. Zahn, T. W. Manson, H . Montefiore, R. C. H.
Lenski e C. Spicq. Muitos estudiosos recentes tiram seu chapéu para essa
visão como a mais viável (ex.: Lane, Ellingworth, Hagner, Pfitzner, L. T.
Johnson; veja D. Guthrie, 1990, p. 679-680; G. Guthrie, 2001, p. 42-49).
Apoio, de acordo com a descrição em Atos dos Apóstolos 18.24-28 e
detalhes adicionais das cartas de Paulo, corresponde ao nosso perfil do autor
de Hebreus (-» Que tipo de homem escreveu Hebreus? em páginas anteriores).
Ele não era um apóstolo, mas podia afirmar que a mensagem que pregava
era confirmada pelos apóstolos. Ele estava em contato com o círculo pauli-
no. Tinha relações com Priscila e Aquila, e com o próprio Paulo em Efeso
(At 18.26; 1 Co 16.12). Alguns estudiosos especulam que “os da Itália” (Hb
13.24) é uma referência oblíqua a Priscila e Aquila. Atos chama Apoio de
“homem culto” [anêr logios\ (At 18.24), uma expressão empregada por Fí-
lon e outros para significar grande aprendizado e eloquência (Lane, 1991,
p. 1; BDAG, p. 598). Sua cidade natal também evidencia seu alto nível de
educação, já que Alexandria era o principal centro de cultura helenística e
ensino superior no m undo romano do primeiro século.
Apoio era “poderoso [dynatos] ” [ACF], isto é, “uma autoridade” nas
Escrituras (At 18.24 NAB). Era capaz de fazer um discurso ousado e uma
argumentação vigorosa com os judeus na sinagoga (18.26,28). Ele ensinou
com precisão a respeito de Jesus e provou pelas Escrituras que Jesus é o Mes
55
INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON INTRODUÇÃO
de Apoio com as igrejas em Roma no final dos anos 50 não é improvável (G.
Guthrie, 2001, p. 53).
Infelizmente, não podemos saber com certeza quem escreveu Hebreus.
Qualquer proposta de autoria é inevitavelmente especulativa, com base nas
poucas informações de que dispomos. Ficamos com o pronunciamento des
gastado de Orígenes: “Mas quem escreveu a epístola, na verdade, Deus sabe”.
C. D estino
Numerosos destinos possíveis foram propostos para a Epístola aos He
breus: Colossos, Éfeso, Galácia, Corinto, Síria (possivelmente Antioquia),
Chipre e até Bereia (veja D. Guthrie, 1990, p. 700-701). Três propostas obtive
ram o maior apoio: Jerusalém, Alexandria e Roma.
Jerusalém. O título “Aos Hebreus [Pros Hebraious]” não é original.
Provavelmente adicionado no segundo século, quando Hebreus foi compilada
em uma coleção de cartas de Paulo (como J346), criada para corresponder a ou
tros títulos indicando destinatários (ex.: “Aos Romanos [Pros Rõmaious]”).
A primeira menção da Epístola aos Hebreus por esse título remonta a Irineu
(observado em Eusébio, Hist. Ecl. 5.26). Esse é o título que encontramos mais
tarde em Tertuliano, Clemente de Alexandria e Orígenes. O título foi pro
vavelmente um palpite, baseado no conteúdo do trabalho. Significava um
público judeu, mais especificamente cristãos judeus. Também estava implíci
to um destino na Terra Santa. João Crisóstomo (final do quarto século) foi o
primeiro a deixar isso explícito, afirmando que os destinatários estavam “em
Jerusalém e na Palestina” (1996, p. 364).
Por volta do século quatro até os tempos modernos, a visão tradicional tem
sido que Hebreus foi escrita para um grupo de cristãos judeus em Jerusalém
ou em seus arredores. Uma variação do século 20 identificou os destinatários
como sacerdotes convertidos na Palestina (veja At 6.7). Entre eles estavam os
essênios, que eram associados ou antigos membros da comunidade de Qumran
(Spicq, 1952, 1:226-231; Hughes, 1977, p. 10-15). Essa teoria surgiu no fer
vor da descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, mas não sobreviveu a uma
investigação acadêmica detalhada.
Existem muitas incongruências em relação ao destino de Jerusalém (veja
Brown, 1997, p. 698-699; Trotter, 1997, p. 37; Koester, 2001, p. 48-49):
(l) É estranho que o autor tenha escrito em grego tão polido para um pú
blico cuja língua nativa era o aramaico. Clemente de Alexandria percebeu esse
57
INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON INTRODUÇÃO
Roma. Desde meados dos anos 1700, a visão de que Hebreus fora diri
gida a uma comunidade cristã em Roma ganhou cada vez mais favor (veja D.
Guthrie, 1983, p. 27; Bruce, 1990, p. 13-14; Hagner, 1990, p. 5; Lane, 1991,
lviii-lx; Ellingworth, 1993, p. 29; Pfitzner, 1997, p. 30-31; G. Guthrie, 1998,
p. 20-21; Koester, 2001, p. 49; France, 2006, p. 22-23; O ’Brien, 2010, p. 15).
O único marcador explícito no texto, “os da Itália”, é ambíguo (-» 13.24). A
interpretação mais provável é que o autor envie saudações de alguns de seus
companheiros italianos para seus companheiros cristãos no seu país de origem.
Uma série de conexões entre evidências externas e internas são coerentes com
um destino romano:
(1) Os primeiros usos de Hebreus foram associados a Roma. Clemente de
Roma citou Hebreus extensivamente em sua carta aos coríntios (7 Clemente-,
ca. 96 d.C.). O Pastor de Hermas, também escrito em Roma (final do primeiro
século), estava em dívida para com os Hebreus (veja tópico 2 a seguir). Irineu
foi o primeiro a mencionar Hebreus por seu título (“Aos Hebreus”). Antes de
tornar-se bispo na Gália, ele residia em Roma. Tanto ele como seu discípulo,
Hipólito de Roma, negaram que Paulo tenha escrito Hebreus.
(2) Em termos de conteúdo, existem várias correlações entre as primeiras
fontes romanas (1 Clemente e Hermas) e Hebreus:
Primeira, o vocabulário usado para descrever os “líderes” cristãos parece ser
distinto de Roma. Os termos não são utilizados como títulos para líderes cris
tãos em nenhuma fonte além daquelas originárias de Roma (hêgonmenoi: Hb
13.7,17,24; / Ciem. 1.3; proêgoumenoi·. 1 Ciem. 21.6; Herm. Vis. 2.2.6; 3,97).
Segunda, o Pastor de Hermas está ciente da doutrina rigorista em Hebreus
(que é impossível arrepender-se novamente após a conversão e subsequente
apostasia). Um mensageiro celestial modifica esse ensinamento, permitindo
uma oportunidade adicional de arrependimento após o batismo {Herm. Mand.
4.3.1-7; veja Herm. Vis. 2.2.4,5). Esse relaxamento da posição de Hebreus
atraiu o fogo de Tertuliano, que apelidou Hermas de “aquele pastor apócrifo
de adúlteros” {Pud. 20).
Terceira, embora menos certa, diz respeito ao motivo da apostasia. Em
Hermas, certos crentes não se “apegavam” aos santos {Herm. Sim. 8.8.1; 8.9.1),
porque eram ricos ou enredados em negócios (9.20.1,2). Robinson (1976, p.
211-212) detecta a mesma razão para alguns leitores de Hebreus se absterem
de “amor e boas obras” e se retirarem da assembléia cristã (10.24,25). Pelo me
nos alguns deles eram ricos. No passado, eles tinham sido generosos (6.10)
e dispostos a abrir mão de suas posses em vez de negar o seu compromisso
com Cristo (10.34). Mas agora eles precisavam ser advertidos contra a ganân
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INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON INTRODUÇÃO
algum tempo se passou desde que a comunidade recebeu pela primeira vez a
mensagem da salvação (2.1-4; 3.14; 5.12; 6.10; 10.32-34; 13.7). Uma vez que
tanto o autor quanto seus leitores estavam familiarizados com o círculo pauli-
no (13.23), Hebreus não pode ser datada antes do final dos anos 50. Sua última
data plausível parece ser 96 d.C., quando Hebreus é citada pela primeira vez
por Clemente de Roma (ex.: 1 Ciem. 36.1-5).
A destruição de Jerusalém e seu templo em 70 d.C. foi para os judeus, de
certa forma, semelhante à queda das Torres Gêmeas na cidade de Nova York,
em 11/09/2001, para os americanos. A conquista romana da Judeia foi notícia
mundial. Foi celebrada e propagada pelos romanos de várias maneiras: uma
procissão triunfal em 71 d.C.; a cunhagem de moedas Judaea Capta por 25
anos sob o imperador Vespasiano e seus filhos, Tito e Domiciano; o alojamen
to dos espólios do templo de Jerusalém no recém-construído Templo da Paz
ao lado do Fórum Romano, dedicado em 75 d.C.; e, no Arco de Tito, erguido
por volta de 81 d.C., após a morte de Tito (Aitken, 2005, p. 137-138,145).
Se Hebreus foi escrita após o saque de Jerusalém, é extraordinário que nunca
mencione a destruição do templo de Jerusalém.
Esse argumento do silêncio de que Hebreus foi escrita antes de 70 d.C.
não convenceu muitos estudiosos. Não apenas seu autor nunca menciona a
destruição do templo, como também não faz nenhuma referência ao templo
em Jerusalém. Hebreus refere-se exclusivamente ao tabernáculo do deserto, ao
sacerdócio levítico e às ofertas descritas no Pentateuco. Claro, isso demonstra
apenas o foco bíblico-exegético do autor. Não diz nada sobre a continuação do
culto do templo em Jerusalém. O autor podería ter ignorado propositalmente
a menção do templo para não o legitimar?
Hebreus regularmente se refere a ações sacerdotais no tempo presente (ex.:
7.27,28; 8.4,5; 9.6,7; 13.11). Isso pode sugerir que o culto do templo ainda es
tava em operação. Os críticos são rápidos em apontar, no entanto, que outros
escritos após 70 d.C. referem-se ao templo ou às ofertas de sacrifício no tempo
presente (Josefo, Ant. 3.224-57; CA. 2.77, 193-198; 1 Ciem. 41.2; Diog. 3.5).
Todavia, várias declarações em Hebreus dificilmente poderíam ter sido ex
pressas da mesma forma se o templo já estivesse em ruínas. O autor fala “para
os nossos dias” quando “as ofertas e os sacrifícios” [estão sendo] “oferecidos”
(9.9). Ele escreve sobre “os mesmos sacrifícios repetidos ano após ano” (10.1) e
que “dia após dia, todo sacerdote apresenta-se e exerce os seus deveres religio
sos” (10.11). Esses sacrifícios nunca poderíam remover pecados ou aperfeiçoar
os adoradores. Se pudessem, “não deixariam de ser oferecidos" (10.2)? Se o
templo já estivesse destruído, a afirmação em 8.13 não seria ainda mais con
61
INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
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INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
E. G ênero
Η. E. Dana disse que Hebreus “começa como um tratado, prossegue como
um sermão e termina como uma epístola” (citado em Brown, 1997, p. 690). O
debate envolve a identificação do gênero de Hebreus. Mas estudiosos recentes
concordam cada vez mais que foi escrita com profunda preocupação pastoral
para uma comunidade real em crise (veja Lane, 1991, p. lxxiv; Lincoln, 2006,
p. 11). Apesar de sua majestosa abertura e rica teologia, Hebreus não é um
tratado teológico.
O autor descreve sua própria composição como uma “palavra de exorta
ção” (-» 13.22). O mesmo rótulo em Atos 13.15 designa um sermão na sinagoga
que Paulo faz após a leitura da Lei e dos Profetas (sobre Hebreus como uma
homília na sinagoga, veja Gelardini, 2005). Várias características em Hebreus
confirmam essa identificação:
(1) Embora Hebreus seja obviamente uma composição escrita, assume
principalmente formas de expressão orais. Antes do pós-escrito (13.22-25), o
autor evita deliberadamente referências à leitura ou à escrita. Em vez disso,
refere-se consistentemente à fala (2.4,5; 5.11; 6.9; 8.1; 9.5; 11.32; 13.6) e à
audição (2.1,3; 3.7,15,16; 4.2,7; 5.11). O falar de Deus é a primordial preocu
pação em Hebreus (ex.: 1.1,2a; 12.25-27).
(2) O autor mantém um tom pessoal por todo o texto. Isso pode ser visto
em sua frequente identificação com seu público por meio do uso da primeira
pessoa do plural (“nós” e “nos”; seu uso do subjuntivo exortativo é ilustrativo;
-> 4.1 anotação complementar: “Vamos...”). Ele também entrelaça habilmente
discurso diretos a seus ouvintes na segunda pessoa (“vocês”; veja 5.11—6.20;
10.19-39). Por exemplo, mesmo em meio a argumentos jurídicos técnicos
no capítulo 7, o autor introduz fragmentos de encorajamento pastoral (v.
19,22,25,26).
(3) A abordagem do autor para interpretar as Escrituras era comum nas
antigas sinagogas judaicas e helenísticas e no judaísmo rabínico posterior. Mi-
64
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON INTRODUÇÃO
drash (-» 3.7-19 Por trás do texto, anotação complementar: “Midrash”), como
é chamado, incorpora várias estratégias interpretativas, como analogia verbal,
tipologia, argumento do silêncio e argumento do menor para o maior (-» 4.3£-
5, “Analogia verbal”; -» 7.1-28 Por trás do texto). A alternância do autor entre
exposições de textos bíblicos e exortações a seus ouvintes é característica de
homílias antigas (veja At 13.16-41; Lincoln, 2006, p. 10-11).
(4) Hebreus é a melhor exibição retórica do NT. O autor utiliza muitas
figuras retóricas elegantes e padrões de argumentação. Uma pequena lista inclui
inclusio, comparação (synkrisis), quiasma, aliteração, anáfora, antítese, exemplos
{exempla), jogo de palavras e o frequente argumento do menor para o maior
(para explicações convenientes, veja Trotter, 1997, p. 66-75,164-180; Lincoln,
2006, p. 19-21). Ao longo do comentário, damos aos leitores insights sobre a
força retórica de tais técnicas, a estruturação retórica da obra, bem como do
domínio estilístico do Grego em Hebreus.
Como Hebreus é um sermão, muitas vezes me refiro ao autor como “o pre
gador”. No entanto, Hebreus também é uma epístola; e seu autor, um escritor
de cartas. O capítulo 13 contém muitos elementos do encerramento de cartas
antigas (-> 13.1-25 Por trás do texto). A urgência da situação do público e a
incapacidade do pregador de entregar sua “palavra de exortação” pessoalmente
exigia um modo epistolar. Ele confiou seu sermão por escrito e enviou-o a eles
por meio de uma carta (13.22b). Assim, podemos, justificadamente, referir-nos
à “Epístola aos Hebreus”, embora o gênero dominante da obra seja o de uma
homília ou sermão.
F. Propósito
O propósito de Hebreus é responder diretamente à situação do público
(-> D. Data e situação do público em páginas anteriores). Hebreus apresenta
“forte encorajamento” (6.18 ESV, RSV, NASB; veja 12.5; 13.22) a um grupo
de cristãos judeus que estão atualmente ou, em breve, serão submetidos a uma
grande prova de sofrimento. A sociedade ao seu redor está marcando-os com
desonra e vergonha por causa de sua confissão de Jesus Cristo. Sentimentos de
vulnerabilidade, insegurança, isolamento e medo estão abalando sua confiança
e certeza na fé cristã.
Um extremo desânimo tomou conta de certos membros da pequena igreja
doméstica. Como resultado, alguns são culpados de um compromisso flagran
te com Cristo. Essa tendência os tornou desatentos ao ensino cristão avançado
(5.11; 6.1-3). Sua clareza moral e sua maturidade espiritual estão em declínio
65
INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
(5.12-14; 12.5-11). O pregador está preocupado que a sua lentidão (5.11; 6.12)
e determinação enfraquecida (12.12,13) levem à descrença e à desobediência
(3.12; 4.11). Isso pode, em última análise, resultar no abandono total de seu
compromisso cristão. Assim, Hebreus contém cinco advertências assustadoras
sobre o perigo da apostasia (2.1-4; 3.7—4.13; 5.11—6.12; 10.19-39; 12.14-
29; veja Bateman, 2007a).
H e b re u s A d v e rtê n c ia
2 .1 -4 A d e s a t e n ç ã o e o a f a s t a m e n to d a m e n s a
g e m d e s a lv a ç ã o a n u n c ia d a p e lo S e n h o r s ã o
m a is p e r ig o s o s d o q u e a t r a n s g r e s s ã o d a lei
s o b a a n tig a a lia n ç a .
3 .7 — 4 .1 3 A s s im c o m o o s is r a e lit a s d e c o r a ç ã o d u ro
fo ra m d e s tr u íd o s n o d e s e r t o p o r c a u s a d e
s u a in c r e d u lid a d e e d e s o b e d iê n c ia , t a m b é m
a q u e le s q u e d e s c r e r e m e d e s o b e d e c e re m
a o e v a n g e lh o s e r ã o im p e d id o s d e e n t r a r no
d e s c a n s o f in a l d e D e u s.
5 .1 1 — 6 .1 2 É im p o s s ív e l s e r re s ta u r a d o a o a r r e p e n d i
m e n to d e p o is d e p a r t ilh a r a s b ê n ç ã o s da
s a lv a ç ã o e r e p u d ia r d e c is iv a m e n t e o Filho
d e D e u s.
1 0 .1 9 - 3 9 A p r o fa n a ç ã o d e lib e r a d a , p e r s is t e n t e e
c o n s c ie n t e d o F ilh o d e D e u s, d o s a c r if íc io d a
a lia n ç a e d o E s p ír ito g r a c io s o d e ix a m a p e s
s o a s e m s a c r if íc io e fe t iv o p e lo s p e c a d o s ou
lib e r ta ç ã o d a t e r r ív e l e x p e c t a t iv a d o ju lg a
m e n to d iv in o .
1 2 .1 4 - 2 9 É im p e r a tiv o p r e fe r ir a s r e a lid a d e s c e le s t ia is
d o R e in o in a b a lá v e l d e D e u s à s p r e o c u p a
ç õ e s te rre n a s . A o d e ix a r d e f a z e r isso , c o rre
o ris c o d e p e r d e r a h e ra n ç a p r o m e tid a d e
D e u s (c o m o E sa ú ) e a e x p o s iç ã o a o fo g o
c o n s u m id o r d o ju lg a m e n t o d e D e u s.
66
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON INTRODUÇÃO
67
INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
G. Teologia
O autor de Hebreus figura entre os evangelistas e Paulo como uma das
mentes teológicas mais criativas do NT. Ele é um teólogo pastoral consumado.
As verdades teológicas que ele transmite são mais bem compreendidas pela
exposição à própria obra. Só assim podemos experimentar a exposição bíblica
magistral, a argumentação sutil e a apropriação das reivindicações cristãs para
a situação do público. Separar o conteúdo da forma nivela a profundidade e a
textura da teologia de Hebreus e enfraquece as suas forças expressiva e persua-
siva. No entanto, é benéfico orientar os leitores na estrutura teológica básica
de Hebreus.
Escatologia: o Antigo e o Novo. Em termos mais simples, escatologia é “o es
tudo dos últimos tempos” (eschata, “últimas coisas” + logos, “discurso, razão”).
Aplicada a Hebreus, a escatologia é a crença de que a revelação e a ação salva
dora de Deus estão culminando no fim dos tempos por intermédio do Filho.
Essa perspectiva escatológica é imediatamente visível na majestosa abertura de
Hebreus (1.1-4). A revelação divina (Deus “falou” [1.2a\) e a salvação foram
decisivamente introduzidas “nestes últimos dias” (1.2a) por meio da provisão
do Filho de purificação dos pecados e em Sua subsequente exaltação (1.3c).
A escatologia está no centro do método teológico de Hebreus. Ela está
subjacente à interpretação do autor dos textos bíblicos e do seu modo de argu
mentação. O autor lê as Escrituras com um olhar voltado para a forma como
elas apontam para um tempo futuro de cumprimento. Por exemplo, os Salmos
110.1 (Hb 1.13) e 8.4-6 (Hb 2.6b-8a) são interpretados como profecias sobre
a sujeição do “mundo que há de vir”, não aos anjos, mas ao Filho (2.5; veja
2.8b-c). Moisés testemunhou “o que havería de ser dito no futuro” (3.5). A lei
mosaica é apenas uma sombra dos “benefícios que hão de vir” (10.1).
O pregador encontra indicações nos textos bíblicos de que uma velha
ordem do passado era imperfeita, fraca e temporária. Ela precisava ser subs
68
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON INTRODUÇÃO
tituída por uma futura “nova ordem” que fosse perfeita, firme e eterna (9.10;
veja4.8; 7.11,17-19; 8.7-8,13; 9.8-10; 10.9; 12.15-26). Um texto fundamental
a esse respeito é a profecia em Jeremias 31.31-34 (Hb 8.8-12; veja 10.16,17)
concernente ao estabelecimento de uma “Nova Aliança” por parte de Deus.
Essa “aliança superior” é garantida por um novo e superior sumo sacerdócio
(7.22). Ela foi inaugurada em um “maior e mais perfeito tabernáculo” (9.11)
pelo sacrifício definitivo de Cristo (“uma vez por todas”) oferecido “no fim dos
tempos” (9.26). Esse método difundido de comparar o antigo com o novo é
confirmado nas referências frequentes do autor aos aspectos da obra de Deus
nesses dias finais como “melhor” ou “superior” (-> 1.4 anotação complementar:
“Coisas superiores’ em Hebreus”; veja Lane, 1991, p. cxxix).
Em consonância com esse ponto de vista escatológico está o importante
tema da perfeição. A linguagem da perfeição (cognatos de telos, “fim, objeti
vo”) indica levar algo ou alguém a um fim ou propósito desejado. O próprio
Jesus foi equipado ou qualificado (“aperfeiçoado”) para Seu papel como Sumo
Sacerdote por meio do sofrimento (2.10; 5.8,9). Ele tornou-se “o autor e con-
sumador da nossa fé” (12.2). Seu sacrifício único “no fim dos tempos” realizou
o que nenhuma das provisões da antiga aliança podería fazer (9.26). Nem o
sacerdócio levítico nem qualquer um dos arranjos legais sob a antiga aliança
podería trazer “perfeição” (7.11,19).
Com relação ao povo de Deus, Hebreus descreve a perfeição em termos
da purificação da consciência do pecado, que os sacrifícios de animais nun
ca poderíam obter (9.9; 10.1). O sacrifício de Cristo removeu decisivamente
(9.26,28; 10.4,11) e purificou os pecados (9.14; 10.2,22) para que os crentes
sejam “aperfeiçoados para sempre” (10.14). Logo, eles são completamente san
tificados e conformados para a adoração na santa presença de Deus.
Embora a vinda de Cristo tenha inaugurado um tempo de cumprimento,
Hebreus está bem ciente de que os propósitos de Deus ainda não estão com
pletos. Todas as coisas estão atualmente sujeitas ao Filho exaltado (2.8). Mas
a plena realização desse domínio não ocorrerá até que todos os Seus inimigos
sejam finalmente vencidos (“postos por escabelo de seus pés” [10.13 ACF]).
Os crentes agora experimentam “os poderes da era que há de vir” (6.5). Mas
a obtenção final da salvação é consistentemente expressa em termos de espe
rança (3.6; 6.11,18; 7.19; 10.23; 11.1). Somente na segunda vinda de Cristo
a salvação se tornará uma realidade para os crentes (9.28), e o julgamento virá
sobre aqueles que se opuseram a Deus (9.27; 10.27,30,37,38). Exploraremos
a dimensão futura da salvação mais detalhadamente a seguir (-» Salvação nas
69
INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
de quem Deus criou e sustenta o universo (1.2c,'ib, 10). Seu governo justo é
eterno (1.8,9), e Seu caráter divino é imutável (1.7,11,12). De fato, o Filho é
diretamente identificado como “Deus” (1.8).
O eterno Filho de Deus também foi designado “herdeiro de todas as coisas”
(1.2b). Mas ao “primogênito” de Deus não foi dado o domínio sobre o “mundo
que há de vir” (1.6; 2.5) apenas por causa de Seu status divino. Deus considerou
apropriado e necessário (2.10,17) que o Filho participasse da humilhação da
mortalidade da humanidade pela carne e pelo sangue. Só então Ele podería
derrotar o poder da morte que exercia seu terrível domínio sobre a humanidade
e trazer muitos filhos com Ele para a glória da herança divina (2.5-18).
Mais explicitamente do que qualquer outro autor do NT, FFebreus de
fende a razão pela qual o Filho teve de tornar-se humano. Ele teve de entrar
completamente na condição humana — “porém, sem pecado” (4.15) — para
que pudesse tornar-se um sumo “sacerdote misericordioso e fiel” (2.17). Quan
to à Sua fidelidade, para tornar-se o autor ou fonte da salvação eterna (2.10;
5.9; veja 7.28), Jesus teve de ser “aperfeiçoado” por meio do sofrimento. Tal
perfeição, paradoxalmente, envolveu o Filho eterno aprendendo a obediên
cia por meio do sofrimento (5.8,9; -> 4.14—5.10 A partir do texto para uma
discussão sobre esse paradoxo). Jesus demonstrou Sua fidelidade como nosso
Sumo Sacerdote fazendo a vontade de Deus (10.5-10; veja 5.7). Isso significava
oferecer-se a si mesmo (9.7,14,25,26; ou Seu corpo: 10.5,10,20) como expia-
ção pelos pecados (2.17).
Passar pela provação final — o sofrimento da morte — também equipou
Jesus para ser um Sumo Sacerdote misericordioso. Ele pode identificar-se com
pletamente com a luta humana contra a tentação e proporcionar ajuda real e
intercessão compassiva para aqueles que são tentados (2.18; 4.15,16; 7.25). Seu
triunfo sobre o pecado e Sua perfeição como Sumo Sacerdote foram assinala
dos por Sua subsequente exaltação ao céu (4.14; 7.26-28; 8.1). A resistência
de Jesus ao sofrimento e à vergonha da cruz o torna crível como o “autor e
consumador” da fé para aqueles que seguem Seu exemplo de perseverança fiel
(12.1-4; veja 13.13).
Filiação é uma identificação cristológica tradicional (ex.: abundante nos
Evangelhos e em Paulo). Também permanece central para a cristologia de
Hebreus, apesar da designação frequente e distinta de Jesus como Sumo Sa
cerdote. O Apóstolo e Sumo Sacerdote de nossa confissão é, afinal, “o Filho”
(3.1,6). Nosso “grande sumo sacerdote que adentrou os céus é Jesus, o Filho de
Deus” (4.14; veja 5,4-6; 7.3,28; 10.21,23,29; Pfitzner, 1997, p. 38). Jesus não é
reconhecido como Sumo Sacerdote em nenhum outro lugar na tradição cristã
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INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
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INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
xe-nos a um novo relacionamento de aliança com Deus por meio dos efeitos
purificadores de Seu sangue da aliança (9.20; 10.29; 12.24; 13.20).
Terceiro, a auto-oferta de Cristo “aperfeiçoou para sempre” aqueles que são
santificados (10.14). Para os hebreus, a preparação para aproximar-se de Deus
envolve mais do que a purificação cerimonial exterior (9.10,13). O problema
do pecado humano é muito mais profundo, exigindo uma profunda transfor
mação moral da pessoa interior. O sacrifício de Cristo é superior aos sacrifícios
ineficazes de animais sob a antiga aliança. Eles foram incapazes de remover os
efeitos do pecado no coração do homem. Ao contrário dos sacerdotes levíticos,
Cristo não tinha pecado e, portanto, não precisava oferecer sacrifícios por si
mesmo. O sacrifício de si mesmo “no fim dos tempos” era, portanto, um sacri
fício definitivo que precisava ser oferecido apenas “uma vez por todas” (9.26;
veja 7.27; 9.12,28; 10.10).
A natureza decisiva do sacrifício significa que Ele realizou algo que sacrifí
cios anteriores e ineficazes não podiam fazer: tornar os adoradores “perfeitos”
com respeito à sua consciência (9.9 NRSV; 10.1,2; veja 9.14; 10.22). A cons
ciência é tão completamente limpa da culpa que as pessoas podem entrar na
presença de Deus com uma sensação de completa liberdade e confiança (4.16;
10.19). Tal purificação conclusiva e renovação moral interior é o cumprimento
das promessas da Nova Aliança (10.15-18). A salvação alcançada por meio da
oferta obediente de Cristo de Seu próprio corpo é apropriadamente chamada
de “um novo e vivo caminho” para o lugar santíssimo (10.19,20; veja 9.8).
A noção de Jesus abrindo um caminho por meio de Sua morte sacrificial
conecta-se com a orientação futura da salvação. Jesus é o poderoso conquistador
sobre a morte que leva “muitos filhos à glória” (2.10,14,15). Ele é o precursor
que ancorou nossa esperança “até o outro lado da cortina” na presença de Deus
(6.19,20). Assim, a salvação é a grande conquista de Cristo em nosso favor,
iniciada e concedida pela graça de Deus. E também uma convocação — um
“chamado celestial” (3.1) — para os crentes embarcarem em uma jornada, uma
peregrinação em direção ao reino celestial. Isso se expressa por meio de quatro
imagens que incluem a ideia de movimento ou viagem:
Primeiro, a linguagem cultuai utilizada nas exortações para “aproximar-se
[proserchõmetha]” de Deus (4.16; 10.22) está em consonância com o padrão da
reentrada de Cristo na presença de Deus (6.19,20; veja 4.14; 8.1; 9.24; 12.2).
Em certo sentido, os adoradores atualmente desfrutam de acesso ao lugar san
tíssimo como resultado da obra de Cristo; já eles “chegaram” (proselélythate) ao
monte Sião celestial (12.22). Em outro sentido crucial, os crentes ainda estão
74
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON INTRODUÇÃO
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INTRODUÇÃO NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
76
COMENTÁRIO
como Aquele que é mais adequado para trazer salvação à humanidade. Ele é o
exaltado Filho de Deus que compartilha a própria natureza de Deus (1.1-14),
no entanto providenciou a purificação dos pecados (1.3c). O autor da salvação
alcançou Sua perfeição adequada e necessária, identificando-se com a humani
dade até o ponto de sofrer a morte (2.5-18).
A extensão do movimento de Cristo de Filho eterno à humilhação, ao
sofrimento na encarnação e à Sua exaltação diante de Deus leva à tese ou
proposição de todo o sermão em 2.17,18. A solidariedade de Jesus com a hu
manidade faz dele um “sumo sacerdote misericordioso e fiel”. Seu sofrimento e
Sua morte proporcionaram expiação pelo pecado. Mas Sua morte fiel e subse
quente exaltação como nosso Sumo Sacerdote nos fornecem, respectivamente,
um exemplo digno de perseverança sob a pressão da tentação, bem como ajuda
oportuna para aqueles que estão atualmente sofrendo tentações (compare com
4.14-16; 7.25).
Hebreus 3.1—4.13 abre o caminho para o restante do sermão, concen
trando-se na necessidade dos leitores de comprometerem-se plenamente com
Cristo. O exemplo positivo da superioridade de Cristo sobre Moisés como o
Filho fiel sobre a casa de Deus (3.1-6) e o exemplo negativo da desobediência
de Israel no deserto (3.7—4.13) servem para esse fim. O público é exortado a
“apegar-se” corajosamente em sua confissão de Cristo (3.1,6,14) e a exercer a
devida diligência para entrar na salvação final (descanso de Deus [4.11]; veja
4.1,6,9). O sofrimento de Cristo, como principal exemplo de perseverança, fé e
sacrifício definitivo pelos pecados, constitui o fundamento para a exaltação do
Filho como Sumo Sacerdote. E também a base para os apelos ao compromisso
radical com Cristo repetidos ao longo do sermão (4.14-16; 10.19-25; 12.1-4;
13.13).
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
tinatários da revelação final de Deus, a saber, ele mesmo e seu público (“nós”
[2.1,3]; “nos” [1.2; 2.3]).
(3) E stru tu ra e m o vim en to . O exordium a Hebreus segue uma estrutu
ra cuidadosa. Sua abertura elegante em 1.1-4 estabelece uma comparação da
revelação de Deus no Filho com a de mensageiros divinos anteriores. Essa com
paração é focalizada na subunidade seguinte por meio de um contraste entre
o Filho e os anjos. A conclusão dessa comparação é declarada de antemão em
1.4 e apoiada (observe o “pois [gar]” em 1.5) por meio de uma cadeia de sete
citações bíblicas (1.5-14). Finalmente, o autor encerra o exordium (2.1-4). Ele
emprega um proeminente “por isso [D ia to u to ]” em 2.1 e traz a dignidade e
majestade do agente supremo da revelação divina para influenciar a resposta de
seus ouvintes à mensagem de salvação.
O movimento dentro do exordium , da exposição cristológica à poderosa
exortação, é auxiliado por um movimento vertical do pensamento do autor em
relação ao Filho. Em 1.1-4, o pregador passa dos vários modos de revelação no
passado para a revelação final de Deus no Filho, que "se assentou à direita da
Majestade nas alturas" (1.3, ecoando o SI 110.1) e recebeu a herança suprema
(1.4).
Em 1.5-14, o movimento se repete. As citações bíblicas demonstram a
preeminência do Filho sobre os anjos, construindo a intensidade em direção
ao texto-chave do Salmo 110.1: “Senta-te à minha direita, até que eu faça dos
teus inimigos um estrado para os teus pés” (Hb 1.13). Os ouvintes também
estão associados à dignidade do Filho, pois, por intermédio dele, são herdeiros
da salvação e servidos pelo exército celestial (1.14).
Essa visão ascendente será significativa na próxima seção (veja 2.9), mas
no exo rd ium é utilizada para impulsionar um objetivo principal de persuasão:
impressionar os ouvintes com a absoluta necessidade de prestar atenção à men
sagem salvadora de Deus no Filho (2.1 -4). Os ouvintes ignorarão essa revelação
apenas por sua própria conta e risco, e essa urgência será enfatizada repetida
mente ao longo do sermão (3.7,15,16; 4.7; 6.1-8; 10.19-39), culminando em
12.25-29 (observe o dramático reaparecimento de Deus como "aquele que fala"
[12.25; compare 1.1,2]).
A exortação final, portanto, fornece ao exordium sua “recompensa” retó
rica adequada. Não basta maravilharmo-nos com a glória do Filho; devemos
responder com a devida atenção a “tão grande salvação” (2.3). A gravidade
da resposta é também indicada pelo “palco cheio” que completa a introdu
ção (Westfall, 2005, p. 98). Todos os atores importantes povoam a primeira
exortação do pregador em 2.1-4: autor, destinatários, anjos, o Senhor Jesus,
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NO TEXTO
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D eus fa lo u ...
T em po D e s t in a t á r io A gente M a n e ir a
1 No p a ssa d o A o s n o sso s P or m eio M u ita s v e z e s e de
a n te p a s s a d o s p ro fe ta s v á ria s m a n e ira s
dos
2a N os últim os A nós P or m eio do [ p o r im p lic a ç ã o :
d ias Filho d e fin itiv a m e n te ]
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
A lé m d is s o , s a ib a q u e n o s s o s p a is e m t e m p o s p a s s a d o s e g e r a ç õ e s
a n te r io r e s t iv e r a m a ju d a n te s , p r o fe ta s ju s t o s e h o m e n s s a n to s ...
M a s a g o ra o s ju s t o s e s t ã o re u n id o s , e o s p r o fe ta s e s t ã o d o r m in d o .
T a m b é m d e ix a m o s n o s s a te rra , e S iã o fo i tir a d a d e n ó s , e n ã o t e m o s
n a d a a g o ra a lé m d o P o d e r o s o e s u a Lei. (2 B a r. 8 5 .1 ,3 )
N ã o é d e a d m ir a r q u e , q u a n d o Je s u s e n tro u e m c e n a , a n u n c ia n d o o
R e in o d e D e u s e re a liz a n d o t o d o tip o d e m ila g r e s , u m a r e s p o s ta foi: "U m
g r a n d e p ro fe ta s e le v a n t o u e n tre n ó s " (Lc 7 .1 6 ). O s a u to r e s d o N T id e n t if i
c a m Je s u s c o m o "o p r o fe ta s e m e lh a n t e a M o is é s " p re d ito p e lo S e n h o r p o r
m e io d o a n tig o le g is la d o r (D t 1 8 .1 5 ,1 8 ; 3 4 .1 0 ; v e ja Lc 2 4 .1 9 ; Jo 6 .1 4 ; 7.40 ;
A t 3 .2 2 ,2 3 ; 7 .3 7 ). P a ra o a u to r d e H e b re u s , o F ilh o é m a is q u e u m p ro fe ta .
E le é a re v e la ç ã o d e f in it iv a d e D e u s.
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vífica conhecida a eles pelo Espírito Santo de forma milagrosa (2.4), por meio
do gosto da comunidade dos “poderes da era que há de vir” (6.5).
Em Eíebreus, o agente supremo da autorrevelação de Deus é o Filho. O u
tras testemunhas do N T mostram a posição de Jesus como Filho — como a
narração dos Evangelhos Sinóticos sobre o batismo de Jesus (Mc 1.9-11 par.),
o Evangelho do “Filho unigênito” de João (1.14,18; 3.16,18; 1 Jo 4.9) e muitas
referências de Paulo ao Filho (Rm 1.3,4,9; 8.3,29,32; Gl 1.15; 2.20; 4.4 etc.).
Eíebreus acrescenta sua voz única ao coro. O pregador retornará repetidamen
te à identidade de Jesus como Filho como um ponto-chave em seu argumento.
Essa identificação é introduzida em \.Ία·. Nestes últimos dias falou-nos
por meio do Filho. A frase simples de duas palavras do autor em grego (en
huio) é mais compacta e perspicaz do que o português pode transmitir, em
bora a NRSY chegue perto de “por um filho” (compare “através de um filho”
[NAB]; “em um filho” [NET]). Pode-se esperar o artigo definido (Deus falou
“pelo Filho”); mas a falta do artigo é deliberada. O pregador enfatiza a impor
tância qualitativa da revelação escatológica de Deus por intermédio “daquele
que é Filho” (Westcott, 1909, p. 7).
O autor de Hebreus se referirá a nosso Senhor (1.10; 2.3b) principalmente
como Filho no exordium, e não por Seu nome pessoal, Jesus, até 2.9. De acordo
com as descrições do Filho no capítulo 1, e ao longo de todo o discurso, a prio
ridade da revelação de Deus no Filho deve ser encontrada não apenas no que
Jesus diz, mas supremamente em quem Ele é e no que Ele realizou como Filho.
Antes de prosseguir com as descrições do Filho em \.2b-A, deve-se notar
que não há paralelo formal em 1.2a para a maneira de revelação encontrada
em 1.1 (“muitas vezes e de várias maneiras”). A implicação da omissão é incon
fundível: a revelação de Deus por meio do Filho é única e decisiva. Mais tarde,
o pregador acentuará a natureza “de uma vez por todas” da obra de Cristo
(hápax: 9.26,28; ephapax: 7.27; 9.12; 10.10). Aqui o contraste entre o antigo e
o novo ocorre de dois modos.
Primeiro, a natureza da comparação em 1.1,2a é típica do exórdio nos dis
cursos e na escrita da história. Neles, por exemplo, uma multiplicidade de obras
passadas pode ser ponderada (geralmente desfavoravelmente) contra a obra
presente do autor (Lc 1.1-4 serve como um possível exemplo bíblico; veja tam
bém Josefo, G.J. Prefácio 1,3,4; C. Ap. Prefácio 1).
Segundo, o pregador demonstrará detalhadamente a primazia e a singula
ridade da majestade do Filho sobre a ordem criada no restante desse capítulo.
H 2b-C Duas cláusulas subordinadas fornecem as duas primeiras descrições
do Filho em termos das ações posteriores de Deus por meio dele. Já apren
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demos que Deus “falou” pelo Filho. Deus ainda é o sujeito dos verbos nessas
cláusulas (constituiu e fez), embora o foco do tópico esteja no Filho por meio
do pronome relativo quem.
A primeira cláusula subordinada modifica “Filho” ao declarar que Ele é
aquele a quem Ele [i.e., Deus] constituiu herdeiro. A herança foi um elemen-
to-chave na aliança de Deus com o antigo Israel, envolvendo bênção contínua
de Deus e posse da terra prometida (veja 11.8; 12.17). No N T houve uma
expansão da herança divina. Agora é verdadeiramente sobrenatural em seu al
cance, como evidenciado pela modificação de Jesus do Salmo 37.11 (“Mas os
humildes receberão a terra por herança”) para “bem-aventurados os humildes,
pois eles receberão a terra por herança” (Mt 5.5).
No Filho cumpre-se a promessa da coroação entregue aos reis de Israel:
“Pede-me, e eu te darei as nações” (SI 2.8 ARA). Talvez o Salmo 2.8 estivesse na
mente do pregador, dada sua citação do Salmo 2.7 em Hebreus 1.5. O Filho é
herdeiro de todas as coisas. Como herdeiro divino, o Filho é “senhor de tudo”
(Gl 4.1 ARA), ou seja, senhor de toda a ordem criada.
E importante ressaltar que o Filho foi constituído, não criado, herdeiro. O
Filho compartilha eternamente a natureza, os atributos e o domínio divinos.
Nunca houve um tempo em que o Filho não fosse o Filho. Nunca houve um
tempo em que Ele não irradiasse a glória divina ou refletisse a imagem divina.
Ele sempre foi a fonte de existência para todas as coisas criadas.
Então, por que ele precisava ser nomeado herdeiro de todas as coisas se já
as possuía? Teodoreto de Cyr respondeu: “Cristo, o Senhor, é herdeiro de to
das as coisas, não como Deus, mas como homem” (Fdeen e Krey, 2005, p. 8). O
Filho eterno não foi designado herdeiro para o seu próprio bem, mas por causa
da humanidade. As pessoas foram criadas para participar da glória divina, mas
carecem dela por causa do pecado (Rm 3.23). O Filho foi designado herdeiro
para que pudéssemos “herdar a salvação” (Fdb 1.14; 9.15). O Filho restaurou a
herança divina para a humanidade, entrando na situação humana de pecado,
sofrimento e morte, e prevalecendo sobre eles por meio de Sua morte expiató
ria e exaltação.
Fdebreus também enfatiza o caráter escatológico da herança. Outros es
critores do N T fazem o mesmo quando mencionam a herança da vida eterna
(Mt 19.29; Tt 3.7) ou o Reino de Deus (Mt 25.34; 1 Co 6.9,10; 15.50; Gl
5.21; El 5.5; Tg 2.5). O Filho apareceu “no fim dos tempos” para acabar com o
pecado por meio do “sacrilício de si mesmo” (Hb 9.26), e Sua nomeação como
herdeiro envolve Sua instalação como rei sobre “o mundo que há de vir” (2.5;
compare 1.6).
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Cristologia em rima
A h a b ilid a d e re tó ric a d o p r e g a d o r é v is ív e l e m s e u u s o d e p a r o m o iõ -
s is , q u e é s e le c io n a r p a la v r a s c o m s o n s s e m e lh a n t e s n o in íc io ou n o fin a l
d a s o r a ç õ e s ( A ris tó te le s , R e t. 3 .9 .9 ; R h e t. A le x . 1 4 3 6 a 5 -1 4 ) . H e b re u s
u sa m a g is t r a lm e n t e e s s a t é c n ic a d e rim a n o in íc io e n o fim d a s q u a tro
c lá u s u la s e m 1.3 p a ra a u m e n t a r o im p a c t o a c ú s tic o d e s s a c o n fis s ã o d a
m a je s ta d e d o Filho:
Q uem sen d o [h o s õn] o r e s p le n d o r d a s u a g ló r ia
e c a r im b o d o s e u s e r [té s h y p o s ta s e õ s a u to u ],
te n d o [p h e rõ n ] t o d a s a s c o is a s
p e la p a la v r a d o s e u p o d e r [ tê s d y n a m e õ s a u to u ],
p u r if ic a ç ã o [ k a t h a r is m o n ]
d e p e c a d o s t e n d o f e it o [ p o iê s a m e n o s ] ,
e le s e n t o u - s e [ e k a t h is e n ] à d ir e it a
d a M a je s t a d e n a s a lt u r a s [ e n h y p s é lo is ] .
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a b o rd a g e m d a s E s c r it u r a s s e r v e d e e x e m p lo p a ra n ó s, p o is , a o le r m o s a s
S a g ra d a s E s c ritu ra s , t a m b é m d e v e m o s o u v ir a v o z d e D e u s f a la n d o n e la s
e p o r m e io d e la s .
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primeira passagem: Ao falar dos anjos por um lado (kai pros men tons ange-
lous legei [1.7]). A contrapartida é expressa em 1.8a\ “Mas [oupor outro lado\
a respeito do Filho, diz [pros de ton huion\\ seguido pela segunda escritura
(1.8£,9). Uma terceira passagem continua a segunda metade do contraste em
1.10-12, introduzida por: “Ele também diz”.
A premissa principal desse argumento era um truísmo no mundo antigo,
especialmente para aqueles influenciados pelo platonismo. Essa filosofia sus
tentava que as coisas que não mudam são superiores às que mudam.
A premissa secundária é que, enquanto os anjos são mutáveis (1.7), o Filho
é imutável (1.8-12). Os anjos são claramente instáveis, seres criados. O Salmo
104.4 (LXX) afirma que Deus os faz {poiõn) tornar-se forças elementares e
fugazes da natureza, como vento ou fogo. Ele faz dos seus anjos ventos, e dos
seus servos, clarões reluzentes (Hb 1.7). Deve-se notar que a palavra para
ventos também pode ser traduzida como “espíritos” (ACF, BKJ), como em
1.14. Assim, os anjos são parte da ordem criada em mudança.
1 8 0 Filho, no entanto, é constante e eterno. O pregador demonstra isso
por citações do Salmo 45.6,7 (LXX) em Hebreus 1.8,9 e do Salmo 102.25-27
(LXX) em Hebreus 1.10-12. A citação do Salmo 45 sublinha a constância do
Filho na soberania e no julgamento justo.
O Filho entronizado é chamado de Deus: O teu trono, ó D eu s, subsiste
para to d o o sempre (Hb 1.8b). Não apenas a soberania do Filho perdurará,
mas será executada em justiça: C etro de equidade é o centro do teu R eino
(1.8c). O cetro é usado figurativamente (por metonímia) para referir-se a tudo
que estava implicado no exercício da soberania de um monarca. Isso é muito
parecido com a nossa associação de reis com coroas, juizes com martelos, po
liciais com distintivos. A autoridade do Filho não é apenas simbolizada, mas
também realizada em Seu estabelecimento de justiça.
H 9 Am as a justiça e odeias a iniquidade (v. 9a). Esperava-se que os reis de Is
rael administrassem a retidão e a justiça (veja 1 Rs 3.28; 10.9; 2 Cr 9.8; SI 71.1;
Pv 16.12,13; 20.8,28; 25.5; 29.4; Jr 22.15). Eles estavam sujeitos à maldição de
Deus quando não o fizeram, pois Deus era o Rei Justo que eles deveriam imitar
(Sl 99.4). Os profetas predisseram um rei vindouro, o “Renovo justo” da casa
de Davi (Jr 23.5). Esse é o Messias, o Justo (Is 53.11; At 3.14; 7.52; 1 Jo 2.1),
cujo Reino é estabelecido em justiça e retidão para sempre (Is 9.7).
O olhar do pregador se move, como sempre, para a exaltação (= unção) do
Filho como rei: Por isso D eu s, o teu D eu s, escolh eu -te dentre os teus com
panheiros, ungin d o-te com óleo de alegria (Hb l.9b-c). Profetas, sacerdotes
e reis foram ungidos no AT. A unção com óleo significava a designação especial
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mente do Filho: Senta-te à m inha direita, até que eu faça dos teus inim igos
um estrado para os teus pés (SI 110.1 em Hb 1.13 Ac). O clímax da entroni-
zação à direita de Deus, que apareceu no final da declaração de abertura (13d),
é repetido aqui no final da cadeia (1.5-14).
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grande salvação sobre a qual o autor está falando e, portanto, pode ser explora
da em um título separado.
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U m a s u g e s t ã o é q u e , c o m o o s c o lo s s e n s e s (v e ja C l 2 .1 8 ), h a v ia um
p r o b le m a c o m a a d o r a ç ã o d e a n jo s (M a n s o n , 1 9 4 9 , p. 1-17; Je w e tt, 1 9 8 1 ,
p. 5 -7 ,3 9 ). N o e n ta n to , u m a v e z q u e n ã o há p o lê m ic a e x p líc it a c o n tra ta l
p r á tic a — e s p e c ia lm e n t e à lu z d a já c la r a t r a d iç ã o d e re c u s a a n g e lic a l d e
a d o r a ç ã o (Tob. 1 2 .1 6 -2 2 ; A p 1 9 .1 0 ; 2 2 .9 ; A p o c . S o f. 6 .1 1 -1 5 ; A s. Is. 7 .1 8 -
23; 8 .5 ) — , e s s a v is ã o n ã o é c o n v in c e n t e .
O u tra s u g e s t ã o é q u e o p r e g a d o r e s tá c o m b a t e n d o u m a c ris to lo g ia
a n g é lic a . V á rio s m o d e lo s d e re fle x ã o ju d a ic a s o b re o s p a p é is e s c a to ló g i-
c o s, s u m o s s a c e r d o t a is ou, à s v e z e s , m e s s iâ n ic o s d o s a n jo s p o d e m t e r
d e s e m p e n h a d o u m p a p e l na e s p e c u la ç ã o s o b re a n a tu r e z a e a fu n ç ã o d e
Je su s, o C r is t o ( p a ra u m a p e s q u is a d e t a lh a d a , v e ja A ttrid g e , 1 9 8 9 , p. 51 -
52 ). E m D a n ie l, p o r e x e m p lo , o a r c a n jo M ig u e l lu ta p e lo s filh o s d e Israel
(D n 1 2 .1 ). E m Q u m ra n , M e lq u is e d e q u e e ra v is t o c o m o u m rei e s a c e r d o t e
m e s s iâ n ic o d o fim d o s t e m p o s , q u e t a m b é m p o d e t e r s id o c o n s id e r a d o
u m a n jo ( l l Q M e l c h ; -> H b 7 .7 ,8 a n o ta ç ã o c o m p le m e n ta r : " M is te r io s o M e l
q u is e d e q u e " ) . F ilo n f r e q u e n t e m e n t e d e s c r e v ia a fig u r a in te rm e d iá r ia , o
L o g o s , c o m o u m a n jo (E m b a ix a d a 3 .1 7 7 .6 2 ; D eus 1 .1 8 2 ; Fuga 1.5; N om es
1 .8 7 ; Sonhos 1 .2 3 9 ).
T a m b é m s a b e m o s q u e t a is m o d e lo s a n g é lic o s ju d a ic o s in fo rm a r a m
f o r m u la ç õ e s c r is t o ló g ic a s e n tre c e r t o s c r is tã o s n o s e g u n d o s é c u lo (ve ja
J u s tin o , D ia l. 3 4 .2 ; H e r m . S im . 8 .3 .3 ; 9 .1 2 .7 -8 ; C o n s t. A p o s . 8 .1 2 .7 , 23; Ev.
Tm . 13 [3 4 ,3 4 ]). T a lv e z H e b re u s q u is e s s e e n f a t iz a r je s u s c o m o n ã o a p e n a s
u m d o s " f ilh o s d e D e u s ” , m e s m o q u e o m a is e x a lt a d o (ou se ja , an jo s; -» N o
te x t o e m 2.7). C r is to é o e te r n o e ú n ic o F ilh o d e D e u s. M a is u m a v e z , na
a u s ê n c ia d e re fu t a ç õ e s e x p líc it a s a u m a c r is to lo g ia a n g é lic a e m F le b re u s ,
e s s a v is ã o p o d e s e r p o u c o m a is q u e e s p e c u la ç ã o .
M a is fir m e m e n t e f u n d a m e n t a d o n o te x t o d e F le b re u s é u m p a n o d e
fu n d o e m q u e o s a n jo s e ra m c o n s id e r a d o s m e d ia d o r e s d a lei d e M o is é s
(2.2) e g o v e r n a d o r e s d a p r e s e n te o rd e m c ó s m ic a (2.5). U m a c re n ç a g e
n e r a liz a d a e n tre o s ju d e u s n o p e r ío d o in t e r t e s t a m e n tá r io , b e m c o m o no
NT, e ra d e q u e a Lei n ã o fo ra d a d a d ir e ta m e n t e a M o is é s p o r Y a h w e h , m a s
p o r m e io d a a ç ã o in t e r m e d iá r ia d e a n jo s (Ju b . 1 .2 7 ,2 9 ; 2.1; Jo s e fo , A n t.
1 5 .1 3 6 ; A t 7 .5 3 ; G l 3 .1 9 ; H b 2.2). E m c o n e x ã o c o m e s s a c a p a c id a d e , o s
a n jo s e ra m líd e r e s d a litu rg ia c e le s t ia l e a d o r a ç ã o d e D e u s d e Isra el (Is
6.3; 1 En. 3 9 .1 0 -1 3 ; Ju b. 2 .2 ,1 8 ; 1 5 .2 7 ; 3 1 .1 4 ; T. L e v i 3.5; l Q S b 4 .2 5 ,2 6 ;
A sc. Is. 7 .3 7 ; 8 .1 7 ; 9 .2 8 -3 3 ; 3 En. 1 .12 ). D e a c o r d o c o m o s J u b ile u s , os
a n jo s o b s e r v a v a m o s á b a d o , a F e sta d a s S e m a n a s e a té fo ra m c r ia d o s
c ir c u n c íd a d o s (Ju b . 2 .1 7 ,1 8 ; 6 .1 8 ; 1 5 .2 6 ,2 7 ).
A lé m d is s o , a c r e d ita v a - s e q u e o s a n jo s e ra m r e s p o n s á v e is p e lo g o
v e r n o d e t o d o o u n iv e rs o , in c lu in d o n a ç õ e s (D t 3 2 .8 LX X ; D n 1 0 .1 3 ,2 0 ,2 2 ;
1 2 .1 ), re in o s c e le s t ia is (T Levi 3; 1 En. 3 - 2 0 ) , e o s p r o c e s s o s f ís ic o s d o
c o s m o s , t a is c o m o c o rp o s c e le s t e s , f e n ô m e n o s c lim á t ic o s e o c r e s c im e n t o
d e p la n t a s e a n im a is (Ju b . 2 .2 ; 1 En. 6 0 .1 6 -2 2 ; 8 2 .9 -2 0 ; 1 En. 19; l Q H a
102
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
1 .1 0 ,1 1 ). P o d e -s e p e r g u n t a r s e P a u lo e m G á la t a s e s t a v a e x p lo r a n d o t a is
t r a d iç õ e s a o a s s o c ia r a Torá c o m a m b o s o s a n jo s (G l 3 .1 9 ) e o s s t o ic h e ia
A PARTIR DO TEXTO
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106
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
107
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
8 .6 1 1 - 7 2 5 ) , e o s ju d e u s e s t a v a m c ie n t e s d e a n jo s a p a r e c e n d o e m fo rm a
h u m a n a (G n 1 8 .1 -1 5 ; Js 5 .1 3 -1 5 ; Jz 1 3 .1 -7 ; Tob. 1 2 .1 9 ; v e ja H b 1 3 .2 ). E n
tre ta n to , a n o ç ã o d e f ig u r a s d iv in a s ou a n g é lic a s t a n t o p a r t ic ip a n d o d a
c o n d iç ã o h u m a n a c o m o a p o n to d e s o fr e r e m o rre r — e s p e c ia lm e n t e a
m o rte d e u m c r im in o s o na c r u z — e ra rid íc u la , r e p u ls iv a e e s c a n d a lo s a
p a ra ju d e u s e g e n t io s ig u a lm e n t e (1 C o 1 .23 ).
A c r u c if ic a ç ã o d e C r is t o s e r v iu d e b a s e p a ra a v a lia ç õ e s n e g a tiv a s
d a fé c ris tã . T á c ito d if ic ilm e n t e p o d e r ía e n c o n t r a r a d je t iv o s d e p r e c ia t iv o s
s u fic ie n t e s p a ra d e s c r e v e r o s c r is t ã o s p e r s e g u id o s s o b N e ro . Q u e C r is
to , s e u f u n d a d o r, " s o fr e u a p e n a e x t r e m a " (ou se ja , a c r u c ific a ç ã o ) s o b
P ô n c io P ila to s d e m o n s t r a n d o s u fic ie n t e m e n t e s e u s c o m e ç o s d e s o n ro s o s
(An. 1 5 .4 4 ). D e a c o r d o c o m J u s tin o M á rtir, o s c r ít ic o s p a g ã o s d o s c r is tã o s
a c r e d ita v a m q u e e ra " lo u c u r a [...] q u e d e m o s a u m h o m e m c r u c ific a d o
u m s e g u n d o lu g a r e m re la ç ã o a o im u tá v e l e e t e r n o D e u s, o C r ia d o r d e
tu d o " (1 A p o l . 1 3 .4 ). J u s tin o t a m b é m re la to u o p r o te s to q u e T rifã o s u s c ito u
108
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
A declaração dos fatos deve ser concisa, clara e confiável (veja Rhet. Alex.
I438a20-bl0; Rhet. Her. 1.9.14-16; Quintiliano, Inst. 4.2.31-60). A declara
ção dos fatos em Hebreus é certamente clara e concisa. Ela detalha a ação de
Deus de colocar todas as coisas sob a autoridade do Filho, trazendo salvação à
humanidade por meio da encarnação e derrotando a morte e o diabo, tudo em
um compasso relativamente curto.
A qualidade mais importante da declaração dos fatos é que ela seja crível
(Quintiliano, Inst. 4.2.32-34; outros retóricos acrescentam plausível, provável
ou convincente [veja Quintiliano, Inst. 4.2.31-32; Rhet. Alex. I438a20]). Isso
é alcançado, “se, em relação a fatos que são improváveis, apresentarmos razões
[aitiai\ que façam com que os eventos que alegamos pareçam prováveis de te
rem ocorrido” {Rhet. Alex. 1438b 1; veja Quintiliano, Inst. 4.2.52).
Tanto a razão quanto o propósito por trás das ações de Deus em Jesus
são privilegiados na narratio de Hebreus. Observe a frequência de conectivos
inferenciais como “por isso [di‘ hên aitian ]” (2.11 b), “visto que [epei oun\ ”
(2.14^), “é claro [gar dêpou]” (2.16) e “por essa razão \hothen\” (2.17a), e cláu
sulas de propósito como “para que [hopõs]” (2.9b), ‘“para que’/ ‘para’ \hina]”
(2.14/ç \7b) e “para \eis to]” (2.17c). Além disso, há referências às ações de
Deus ou de Cristo como graciosas (2.9c), apropriadas (“convinha” [2.10]),
sagradas {2.1\d), honradas (“coroado de glória e honra” [2.9b\ \ “não se enver
gonha” [2.11 b\), e necessárias (“era necessário que ele” [2.17]). Outros sinais
indicadores mostram que 2.5-18 constitui a declaração de fatos e proposição
do sermão:
Primeiro, o pregador abre a declaração negando que o mundo vindouro
tenha sido submetido a anjos (2.5). Os antigos retóricos insistiam (veja Quin
tiliano, Inst. 4.2.132) que a declaração deveria terminar onde a questão a ser
determinada começou. Assim, vemos a declaração começando e terminando
com a negação dos anjos como beneficiários da salvação divina (2.5,16). O tom
de conversação de 2.5 e 16 também contribui para a nossa identificação de
109
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
110
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
NO TEXTO
111
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
37.31). O uso desse verbo antecipa sua aparição na última linha da citação do
salmo em 2.6b-8a, bem como suas recorrências na interpretação do pregador
do Salmo 8.4-6 em Hebreus 2.8b-c.
O objeto dessa sujeição é o m undo que há de vir. O m undo aqui é o
mesmo encontrado em 1.6. Ali, os anjos foram ordenados a adorar o Filho
quando Ele foi introduzido “no mundo”. O m undo (oikoumenê) é aquele reino
de autoridade e dignidade no qual Cristo entrou quando fez a “purificação dos
pecados” e “se assentou à direita da Majestade” nas alturas (1.3). Aqui, em 2.5,
o pregador se refere mais claramente a esse reino como o mundo que há de
vir (mellousan) ou “mundo futuro” (ACF). Esse é o mundo que Jesus herdou
mediante Sua morte e Sua exaltação. E a realidade presente e segura da vinda
do Reino de Deus (veja 1.8; 12.26-28) a respeito do qual estam os falando
(“qual é o nosso tema” [REB]).
Escatologia em Hebreus
A e s c a t o lo g ia d o p r e g a d o r ( c o m p r e e n s ã o d a s ú lt im a s c o is a s ) re fle te
a t e n s ã o d o " já - m a s -a in d a n ã o " e m t o d o o NT. P o r u m la d o , a e x a lt a ç ã o
d e Je s u s d e u in íc io à r e a liz a ç ã o d a s " d a s c o is a s b o a s p o r v ir " (1 0 .1 N VT),
q u e e ra m a p e n a s s o m b r a s na Lei. Je s u s " a p a r e c e u u m a v e z p o r t o d a s no
fim d o s t e m p o s " p a ra lid a r d e c is iv a m e n t e c o m o p e c a d o p o r m e io d e S e u
a u t o s s a c r ifíc io (9 .2 6 ). A s s im , m e s m o a g o ra , o s c r e n t e s p r o v a m "o s p o d e
re s d a e ra q u e há d e v ir " (6.5 ) e e s t ã o no p r o c e s s o d e e n t r a r n o p r o m e tid o
" d e s c a n s o " d o fim d o s t e m p o s (4.3). Je s u s já e n tro u no " m u n d o q u e há d e
v ir " (2.5; v e ja 1.6), d e m o d o q u e a Igreja a t u a lm e n t e p a r t ic ip a c o m E le d a s
r e a lid a d e s d a c id a d e c e le s t ia l d e J e ru s a lé m (1 2 .2 2 -2 4 ).
P o r o u tro la d o , " a g u a r d a m o s a c id a d e p o r v ir " ( 1 3 .1 4 [N V T]). N o s s a
e n t r a d a no d e s c a n s o d iv in o e s tá n o fu tu ro (-» 4 .1 1 ), a s s im c o m o o " ju íz o
e te r n o " d e D e u s (6.2; v e ja 9 .2 7 ; 1 0 .2 7 ,3 0 ; 1 3 .4 ). V is to q u e n o s s a h e ra n ç a
d e s a lv a ç ã o é u m a p e r s p e c t iv a fu tu ra (1 .1 4 ), o p r e g a d o r fa la c o n s is t e n t e
m e n te d e la e m t e r m o s d e " e s p e r a n ç a " (3.6; 6 .1 1 ,1 8 ; 7 .1 9 ; 1 0 .2 3 ; 11 .1 ).
O F ilh o já e s tá in v e s t id o d e a u to r id a d e u n iv e r s a l s o b re o m u n d o v in d o u ro ;
" a in d a n ã o v e m o s q u e t o d a s a s c o is a s lh e e s tã o s u je it a s " (2 .8 c), n ã o a té
q u e o R e in o in a b a lá v e l d e D e u s se ja t o t a lm e n t e re v e la d o (1 2 .2 6 -2 8 ; v e ja
1 0 .1 3 ).
A t e n s ã o e n tre o " já " e o " a in d a n ã o " d e v e - s e a o fa to d e v iv e r m o s
e n tre o s d o is m o m e n t o s c r u c ia is d a a ç ã o s a lv ífic a d e D e u s e m C risto : "A s
s im t a m b é m C r is t o fo i o fe r e c id o e m s a c r if íc io u m a ú n ic a v e z , p a ra t ir a r
o s p e c a d o s d e m u ito s ; e a p a r e c e r á s e g u n d a v e z , n ã o p a ra t ir a r o p e c a d o ,
m a s p a ra t r a z e r s a lv a ç ã o a o s q u e o a g u a r d a m " (9 .2 8 ). D a p e r s p e c t iv a d o
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
te m p o , e n tã o , t e m o s a e sp e ra n ç a d a s a lv a ç ã o ; d a p e r s p e c t iv a d a e t e r n i
d a d e , e s t a m o s re c e b e n d o a r e a lid a d e d a s a lv a ç ã o . O e lo e n tre a s d u a s
é a fé (v e ja 1 1 .1 ), p e la q u a l re c e b e m o s a s p r o m e s s a s d e D e u s (4.1 -3;
6.12; 1 0 .2 2 ,2 3 ,3 6 ; 1 1 .6 ,9 ,1 3 ,1 7 ,3 3 ) . P a ra u m a d is c u s s ã o m a is a p r o f u n d a
da s o b re a e s c a t o lo g ia d e H e b re u s , v e ja C. K. B a r r e tt ( 1 9 5 6 , p. 3 6 3 - 3 9 3 ) e
L in c o ln ( 2 0 0 6 , p. 9 2 -1 0 0 ).
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
das Escrituras. Agora é repetido duas vezes (sujeitaste debaixo [2.8a\ , sujeitar
[2 .8 /7 ]) e juntado pelo adjetivo relacionado não sujeito (anypotakton [2.8c]).
A segunda declaração em 2.8b é uma sinonímia (ou “interpretação”) na
qual um orador reafirma uma ideia para aprofundar seu impacto no público
(Rhet. Her. 4.28.38):
A o sujeitar todas as coisas,
[Deus] não deixou nada que não lhe estivesse sujeito.
Não tão facilmente visto em português é o padrão quiasmático (em forma
de x, ABBA’) em grego:
Sujeitar {hypotaxai) todas as coisas {panta)
X
Nada (ouden) não [...] sujeito (,anypotakton)
Assim, o pregador afirma categoricamente que o Filho tem domínio
sobre tudo. Muitos estudiosos pensam que esse versículo é sobre a humanida
de, como refletido na tradução “para eles” (NIV11, NRSV; veja REB) em vez
de para ele {auto). Outros pensam que o autor está sendo intencionalmente
ambíguo, para que ele possa referir-se tanto à humanidade como a Jesus (deSil-
va 2000a, p. 109-110). Essas interpretações não são impossíveis, especialmente
porque o destino glorioso do povo de Deus se entrelaça com o do Filho em
2.10-18. Entretanto, o impulso cristológico da citação e interpretação do sal
mo parece superior (-> 2.6,7).
Surpreendentemente, o pregador apresenta um aparente desafio à autori
dade universal do Filho: A gora, porém , ainda não vem os que todas as coisas
lhe estejam sujeitas. O autor não contradiz diretamente a afirmação em 2.8h.
Ele não diz que tudo não está sujeito a ele. Em vez disso, ele diz que não vemos
atualmente (grifo nosso) tudo que já foi (como sugere o tempo perfeito em
grego) e, de fato, está sujeito (hypotetagmena) a ele. Outras traduções esclare
cem um detalhe importante em grego: ainda não vem os (oupõ) tudo que está
sujeito a Ele (NVI, ACF, ARA, ARC, ARIB, KJA, NAA, JFA, BKJ).
A preocupação do pregador é escatológica, bem como perceptiva. Con
tudo, atualmente contrasta com “o mundo que há de vir” (2.5), que já foi
submetido ao Filho, mas não foi finalmente manifestado no julgamento e na
salvação divinos. O Salmo 8.6b (em Hb 28a), como já vimos, pode ser correla
cionado com o Salmo 110.1 (em Hb 1.13). O paradoxo, prontamente aparente
na exposição de Paulo de ambos os textos em 1 Coríntios 15.24-28, é que, de
fato, Deus colocou todas as coisas sob os pés de Cristo (l Co 15.27,28; veja Ef
1.20-22), mas “é necessário que Cristo reine até que tenha colocado todos os
seus inimigos debaixo de seus pés” (1 Co 15.25).
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apenas mais meia dúzia de vezes em Hebreus (veja 4.16 [duas vezes]; 10.29;
12.15; 13.9,25), mas permanece não menos como o fundamento (junto à
santidade) das relações de Deus com a humanidade, pois Seu trono é “o trono
da graça” (4.16).
p a r c a m e n t e a t e s t a d a e m m a n u s c r it o s e v e r s õ e s g r e g a s ta r d ia s , fo i a m
p la m e n t e d e fe n d id a p o r m u ito s P a is d a Igreja. O r íg e n e s a e n c o n tr o u e m
a lg u n s m a n u s c r it o s já n o te r c e ir o s é c u lo .
A m b a s a s le it u r a s fig u r a r a m e m c o n t r o v é r s ia s c r is to ló g ic a s . E s c rito re s
o rto d o x o s , c o m o A t a n á s io e A m b ró s io , a r g u m e n t a r a m a p a r t ir d a le itu ra
"à p a rte d e D e u s " q u e a n a tu r e z a d iv in a n ã o p a r t ic ip a v a d o s o f r im e n t o d e
C r is to (a d o u tr in a d a im p a s s ib ilid a d e d iv in a ). O u tro s P a is o rto d o x o s , c o m o
E c u m ê n io e T e o fila to , a c u s a r a m o s n e s t o r ia n o s d e in t r o d u z ir e s s a le itu ra
no te x t o (v e ja o la n ç a m e n t o d e a c u s a ç õ e s p a ra fre n te e p a ra t r á s n a s
s e le ç õ e s d e E c u m ê m io e T e o d o ro d e M o p s u é s tia e m H e e n e K re y , 2 0 0 5 ,
p. 3 8 -3 9 ).
E m b o ra "à p a rte d e D e u s " se ja a le itu ra m a is d ifíc il, s u a a p a r ê n c ia é
f a c ilm e n t e e x p lic a d a : u m e s c r ib a c o n fu n d iu a p a la v r a " p e la g r a ç a [ c h a r i
Segundo, a morte de Jesus foi real. A frase experim entasse a m orte pode
dar a impressão de uma mera amostragem, como alguns a interpretariam (ex.:
Crisóstomo e Lutero). Todavia, esse é um idioma bíblico que indica a experi
119
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
ência real e pessoal de morte (veja Mt 16.28; Mc 9.1; Lc 9.27; Jo 8.52). Jesus
bebeu até a morte; Ele esvaziou a taça amarga até a última gota.
Terceiro, a morte de Jesus foi vicária, isto é, foi vivida em favor de outros.
O alcance da representação de Jesus era universal. Ele provou a morte em fa
vor de todos. Jesus não morreu apenas por alguns escolhidos, mas por todo o
mundo (assim, por exemplo, 1 Jo 2.2; 2 Co 5.14,15; 1 Tm 2.4-6). Ele morreu
até mesmo por aqueles que poderíam afastar-se dele e efetivamente crucifica
do novamente (Hb 6.6), pisoteá-lo e profanar Seu sangue da aliança que os
santificou (Elb 10.29).
b. A id e n tific a ç ã o d e Je su s co m a h u m a n id a d e (2.10-18)
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Jesus, o campeão
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filhos de Deus (Rm 8.15,23; G14.5; Ef 1.5) ou herdeiros do Reino (Rm 8.17; 1
Co 6.9,10; 15.50; Gl 3.29; 4.7; 5.21; Ef 1.14,18; 5.5; Cl 3.24; Tt 3.7; Hb 1.14;
6.17; 9.15; 1 Pe 1.4; 3.9; Ap 21.7). “Pois aqueles que de antemão conheceu”,
escreve Paulo, “também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29).
B 1 2 A demonstração bíblica do relacionamento de irmãos de Jesus com
aqueles que Ele santificou segue em 2.12,13. Três passagens do AT são citadas.
Dois fatores são significativos sobre elas.
Primeiro, elas são citadas como citações do próprio Jesus. A palavra tradu
zida como Ele diz, no início de 2.12, não inicia uma nova sentença em grego.
Em vez disso, completa o pensamento em 2.11 de que Jesus não se envergonha
de chamá-los de irmãos, dizendo [...] (legon). Considerar as escrituras não ape
nas como sobre Cristo, mas como faladas por Ele, é um aspecto único do uso
da Escritura por parte de Hebreus.
Segundo, o autor seleciona passagens bíblicas de contextos que já eram
bem conhecidos por seu testemunho de Cristo, como veremos.
A primeira citação do Salmo 22 foi uma escritura que enriqueceu profun
damente a compreensão da Igreja primitiva sobre a morte de Jesus. O pregador
ouve a voz de Jesus falando no Salmo 22.22: Proclam arei o teu nom e a meus
irmãos; na assem bléia te louvarei. Jesus reconhece Seus “irmãos e irmãs”
(NIV11) na “congregação” [NYT] (ekklêsia, Igreja; veja Hb 12.23). Aquele
que é adorado pelos anjos (1.6) humilbou-se abaixo dos anjos para tornar-se o
líder da comunidade adoradora. Em Hebreus, o ministério de Sumo Sacerdote
de Jesus prepara os crentes para aproximarem-se de Deus na adoração (4.16;
7.19; 10.19-22; 12.22-29 [especialmente os v. 24 e 28]; 13.15).
O S a lm o 2 2 e s tá n o t a v e lm e n t e c o n e c t a d o c o m a p a ix ã o d e C r is t o no
N T (SI 2 2 .7 [M t 2 7 .3 9 e M c 1 5 .2 9 ]; 2 2 .7 ,8 [M t 2 7 .4 3 e Lc 2 3 .3 5 ,3 6 ]; 2 2 .1 5
[Jo 1 9 .2 8 ]; 2 2 .1 8 [M t 2 7 .3 5 ; M c 1 5 .2 4 ; Lc 2 3 .3 4 ; Jo 1 9 .2 4 ]). D e fa to , su a
p r im e ir a lin h a (SI 2 2 .1 a ) s e r v iu c o m o a s ú lt im a s p a la v r a s d e Je s u s na c ru z
e m M a r c o s 1 5 .3 4 e M a te u s 2 7 .4 6 : " M e u D e u s, m e u D e u s, p o r q u e m e
a b a n d o n a s te ? ".
H e b r e u s p r o v a v e lm e n t e c ita e s s e s a lm o p o r q u e já e ra re c o n h e c id o
c o m o u m a ric a fo n te p a ra r e fle x ã o c ris to ló g ic a . E x c e p c io n a lm e n t e , p o ré m ,
H e b re u s c ita a ú lt im a p a rte d o s a lm o , o n d e o ju s t o s o fr e d o r lo u v a a D e u s
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
p o r S u a a ju d a (SI 2 2 .2 2 ). A q u i, e le r e a lm e n t e o u v e a v o z d o p ró p rio Je su s,
c o m o o S u m o S a c e r d o te e x a lta d o , le v a n d o a Igreja à p r e s e n ç a d e D e u s
p a ra ad o ra r.
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Boa 22 ). P lu ta rc o e s c re v e u : " Q u e m p o d e s e r e s c r a v o s e n ã o d á a t e n ç ã o à
m o rte " (M o r. 3 4 b ).
O s a n tig o s filó s o f o s m o ra is fr e q u e n t e m e n t e fa la v a m d o b e m - e s t a r
e m o c io n a l a lc a n ç a d o p e la s u p e r a ç ã o d o m e d o d a m o rte . O s e p ic u r is ta s
p r o c u r a v a m d is s u a d ir s e u s a lu n o s d e t e m e r a m o rte r a c io n a liz a n d o q u e ,
n o fin a l, e la n ã o é n a d a . A m o rte é m e r a m e n te o t é r m in o d a e x is t ê n c ia d e
a lg u é m , e n t ã o n ã o há ra z ã o p a ra t e m e r o c a s tig o e te r n o ( L u c ré c io , N a t.
1 .1 0 2 -1 2 6 ) . O t íp ic o e p it á f io e p ic u r is ta e ra : "E u n ã o e ra , e u e ra , n ã o so u ,
n ã o m e im p o rto " . O s e s t o ic o s a p o n t a v a m p a ra a m o rte c o m o a fu g a d e f i
n itiv a d o s o fr im e n t o o u a p e la v a m p a ra u m s e n s o d e h o n ra , e n c o r a ja n d o
a s p e s s o a s a e n c a r a r a m o rte c o m n o b re z a , c o m o fe z S ó c ra te s . S ê n e c a
e s c r e v e u q u e a ra z ã o h u m a n a " n o s fa z a le g r e s d ia n t e d a m o rte , fo r t e s e
c o ra jo s o s , n ã o im p o rta e m q u e e s t a d o o c o rp o e s t e ja " (E p . 3 0 .3 ).
E m H e b re u s , n o e n ta n to , o p r e g a d o r n ã o e n fr e n ta o m e d o d a m o r
te d im in u in d o s u a re a lid a d e , n e m a p r e s e n t a a v a le n t e b a ta lh a d e Je s u s
c o n tra a m o rte m e r a m e n te c o m o u m n o b re e x e m p lo d e c o m o s u p o r t a r
o s o fr im e n to , e m b o r a o se ja . M a is d o q u e iss o , o p ró p rio tr iu n fo d e Je s u s
s o b re a m o rte s ig n ific a q u e E le p o d e " s a lv a r d e f in it iv a m e n t e " (7 .2 5 ) d a
tir a n ia d a m o rte ( 2 .1 4 ,1 5 ). P o r m e io d e S e u p ró p rio s o fr im e n to , o Filho
fo i a p e r f e iç o a d o c o m o " fo n te d e e te r n a s a lv a ç ã o p a ra t o d o s o s q u e lh e
o b e d e c e m " (5.9 ). O s c r e n t e s tê m a e s p e r a n ç a d e e s t a r n o c a m in h o p a ra a
g ló r ia q u e S e u c a m p e ã o , Je s u s , a b riu p a ra e le s .
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
De acordo com o que já foi observado (veja comentários sobre “os des
cendentes de Abraão” [2.16]), a obra sumo sacerdotal de Cristo é efetuada
especialmente sobre a metade do povo de Deus que Ele representa. Esse povo
está em continuidade histórica com o povo de Israel, mas não apenas genetica
mente. Os laços mais importantes entre os Hebreus abordados pelo pregador
e o antigo povo de Deus de Israel são vistos por meio de exemplos de respos
tas fiéis (6.12-18; 11.1 — 12.2) ou infiéis às promessas de Deus (3.7—4.13;
12.16,17). E para esse tópico que o pregador se voltará nos capítulos 3 e 4.
A capacidade de Jesus de socorrer \boêthêsai\ aqueles que tam bém estão
sendo tentados (2.18) é um exemplo claro de Sua qualificação como um sumo
sacerdote m isericord ioso [...], o que ele m esm o sofreu quando foi tentado.
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
Que Jesus é fiel (pistos) também está associado à Sua obediência fiel a Deus em
face do sofrimento e da morte (-> 2.13λ anteriormente). A fidelidade de Jesus
será destacada na seguinte passagem (3.1-6).
A PARTIR DO TEXTO
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Qual deve ser a nossa resposta a esse poderoso campeão que em uma luta
épica com o diabo nos libertou do medo paralisante da morte? Para os leitores
modernos, a conclusão em 2.17,18 pode quase parecer um anticlímax, já que
não estamos familiarizados com a figura de um sumo sacerdote e não estamos
tão obcecados com os perigos da tentação quanto judeus e cristãos do primeiro
século estavam. A grande conquista de Jesus, o grande Sumo Sacerdote, em
nosso favor, é que, por meio de Sua morte e exaltação Ele nos leva a Deus. Mas
“levar muitos filhos à glória” requer que eles sejam “santificados” (2.10.11). E
por isso que ser purificado do pecado e evitar ceder à tentação é algo tão im
portante.
Em Hebreus, podemos ver os primórdios da doutrina da theosis (“divini-
zação”) formulada por Pais gregos como Irineu e Atanásio. Em Jesus, Deus se
tornou humano, para que pudéssemos tornar-nos como Deus. Na linguagem
de Hebreus, Jesus participou (meteschen [2.14]) em nossa humanidade para
que também pudéssemos ser participantes (m etochoi ) em Seu “chamado ce
lestial” (3.1; veja 3.14; 6.4; 12.8). Isso se torna possível porque partilhamos
a semelhança familiar da fidelidade, coragem, esperança e santidade de Jesus
(2.1 la ; veja 12.14). É por isso que Ele veio, para tornar-nos verdadeiros filhos
de Deus (2.11^,13^; veja 12.4-17).
Normalmente a exposição dos fatos seria seguida por uma série de provas,
ou seja, os principais argumentos de um discurso (-» Por trás do texto para
2.5-18.) Mas não é isso que encontramos nos capítulos 3 e 4 de Hebreus. Pelo
contrário, encontramos uma espécie de “segundo e x o rd iu m ”, como Quinti-
liano podería chamá-lo, que “pode formar uma preparação muito útil para o
exame da questão principal” e ser oferecido “com vistas a excitar ou apaziguar
o juiz ou dispondo-o a dar ouvidos favoráveis às nossas provas” (Inst. 4.3.9).
Tal digressão (gr. parekbasis-, lat. egressus ou eggressio) é “a manipulação de
algum tema, que deve, no entanto, ter alguma relação com o caso, em uma pas
sagem que envolve uma digressão da ordem lógica do discurso” (Quintiliano,
Inst. 4.3.14). Podería ser usada em praticamente qualquer parte de um discur
so. Pode envolver ampliar ou abreviar um tópico, fazer um apelo emocional ou
introduzir tópicos que adicionem charme e elegância à oratória, como “luxo,
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
avareza, religião, dever”. “Mas dificilmente seriam digressões, pois estão tão in
timamente ligadas a argumentos sobre assuntos semelhantes que fazem parte
da textura do discurso” (Inst. 4.3.15).
Hebreus 3—4 é uma espécie de repetição do exordium em 1.1—2.4.
Compara Jesus e Moisés (3.1-6), embora de forma mais sucinta do que a com
paração entre o Filho e os anjos em 1.1-14. Em ambos os casos, Jesus mostra-se
superior, com um nome melhor em 1.4 e “mais honra” em 3.3.
Em 3.7—4.13,o pregador faz um apelo ainda mais direto e expansivo a seu
público do que em 2.1-4. Ele usa a experiência de desobediência de Israel no
deserto como um exemplo negativo de advertência e promessa para entrar no
descanso sabático de Deus. Na prática retórica, um orador usa a digressão para
“exaltar pessoas ou lugares, descrever regiões, registrar exemplos históricos ou
mesmo ocorrências lendárias” (Quintiliano, Inst. 4.3.12). O pregador faz duas
dessas coisas: ele exalta Jesus por meio da comparação com Moisés em 3.1-6;
ele aponta para o precedente histórico da desobediência de Israel (3.7—4.13)
e suas terríveis consequências (3.16-19; 4.1,5,6,11).
O tema de ouvir a palavra de Deus retorna. O que foi falado (laleõ) por
Deus por intermédio do Filho “nestes últimos dias” (1.1,2), a salvação primei
ramente falada “pelo Senhor” (2.3), é agora denominado como;
• “o que havería de ser dito no futuro \tõn lalethêsomenõn]” (3.5; veja
4.8);
• a pregação do evangelho (4.2,4);
• a “espada de dois gumes” da palavra de Deus (4.12; veja 4.2).
A urgência em atender à palavra de Deus dada por intermédio do Filho
em 2.1-4 é ainda mais pronunciada nos capítulos 3 e 4. O pregador destaca a
importância de responder à palavra de Deus “hoje” (3.13; 4.7). Ele faz isso par
ticularmente por meio da repetição do apelo do Salmo 95.7,8: “Hoje, se vocês
ouvirem a sua voz, não endureçam o coração” (3.7,15; 4.7). Prestar atenção à
mensagem (veja 2.1) é ainda identificado como apegar-se à nossa confissão e
confiança em Cristo (3.1,6,14; 4.14) e responder com fé (4.2) como parceiros
do Filho fiel (3.1,2,14). Isso contrasta com a infidelidade (3.12,19; 4.2) e a
desobediência (3.18; 4.6,11) da geração de Israel no deserto.
Seguindo a convenção retórica, o pregador compôs uma digressão que não
é realmente uma digressão. Seus tópicos são tão cuidadosamente associados
ao argumento principal que é integralmente “parte da textura do discurso”
(Quintiliano, Inst. 4.3.15).
Por um lado, o pregador desloca sua atenção mais incisivamente para seu
público, duas vezes se dirigindo a eles diretamente como “irmãos” (3.1,12).
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Pela primeira vez, ele emite ordens (3.1,12,13) e proibições (3.8,15; 4.7).
Ele exorta seus ouvintes repetidamente na primeira pessoa do plural (“tema
mos...” [4.1,11,14,16]). Uma maior concentração de imperativos, proibitivos
c subjuntivos exortativos não reaparecerá até o fim do sermão (-> introdução
a 10.19— 13.25; no subjuntivo exortatório, -> 4.1 anotação complementar:
“Vamos...”). O foco principal nessa seção é sobre os ouvintes e sua resposta à
convocação da palavra de Deus.
Por outro lado, o autor cuidadosamente liga essa seção à tese que ele ar
gumentará longamente no devido tempo — que Jesus é nosso grande Sumo
Sacerdote. Hebreus 3.1-6 baseia-se na seção anterior (observe o “portanto” em
3.1, logo após 2.5-18). Hebreus 3.1 e 6 antecipam fatos-chave que se repetirão
em 4.14-16:
• céu (“chamado celestial” [3.1]; Jesus “adentrou os céus” [4.14]);
• Jesus como “sumo sacerdote” (3.1; 4.14,15);
• Jesus como mensageiro divino (“apóstolo” [3.1]; “Filho de Deus”
[4.14]; veja 1.2,5; 3.6);
• confissão (3.1; 4.14);
• ousadia (3.6; 4.16).
Assim, 3.1 e 6 formam conexões para a seção de transição em 4.14-16,
que, por sua vez, funcionará como uma reafirmação e expansão da proposição
declarada em 2.17,18.
A primeira vista, pode parecer que o tema principal dessa unidade seja
a superioridade de Jesus sobre Moisés. De fato, a maior glória de Jesus como
Filho sobre a casa de Deus é o fato em torno do qual gira a comparação do
pregador. Mas a comparação desses dois números serve a um propósito mais
persuasivo. Essa unidade é enquadrada por referências aos ouvintes como ir
mãos santos e parceiros celestiais com Jesus em 3.1 e membros da família de
Deus em 3.6. Sua própria identidade e fidelidade como povo de Deus são cru
ciais para a mensagem da seção maior (3.1—4.13), que essa unidade apresenta.
O chefe de família da casa de Deus, Jesus, é muito mais honrado do que
Moisés, que era um servo na casa de Deus. Então, quanto mais responsáveis
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
são os crentes presentes à palavra de Deus entregue pelo Filho do que o povo
de Israel que ouviu apenas o testemunho de Moisés (veja 3.16-19; 4.12,13)? A
força retórica de 1.1—2.4 e 3.1—4.13 é bastante similar. O pregador emprega
as exposições da grandeza de Cristo para reforçar exortações a um maior com
promisso.
A comparação entre Jesus e Moisés teria sido significativa para os cris
tãos que tinham uma associação anterior com o judaísmo. O nome “Moisés”
tornou-se uma cifra para toda a fé judaica. Exemplos suficientes disso são a
referência de Paulo aos filhos de Israel sendo “em Moisés [...] batizados” (1 Co
10.2) e a acusação de alguns judeus de que Estêvão havia blasfemado “contra
Moisés e contra Deus” (At 6.11). A estatura de Moisés como o renomado líder
e legislador do antigo Israel era bem merecida. Ele era o profeta e sacerdote
arquetípico que tinha acesso direto a Deus. Assim como Números 12.6-8 dá
testemunho, o SENHOR falou aos profetas por meio de visões, sonhos e enig
mas, mas com Moisés fez isso “face a face” (veja Êx 33.11; D t 34.10; Sir. 45.5).
A c o m p a r a ç ã o (s y n k r is is ) e ra u m e x e r c íc io re tó ric o u s a d o e m d is c u r
s o s d e lo u v o r o u c e n s u r a (ex.: d is c u r s o s e p id ít ic o s , c o m o e lo g io s ; v e ja
A r is t ó t e le s , R h e t. 1 .9 .3 8 ,3 9 ). S y n k r is is pode se r um a c o m p a ra çã o de bom
c o m b o m , ru im c o m ru im ou b o m c o m ru im . S e u o b je tiv o e ra e x a lt a r v ir
t u d e s o u d e n u n c ia r c o m p o r t a m e n t o s in d ig n o s . N ã o e ra p a ra d e n e g r ir o
c a r á t e r d a s p e s s o a s , m e s m o a q u e la s c o m a ç õ e s p e r v e r s a s , m a s p a ra
a m p lia r o u m in im iz a r ( c o n fo rm e o c a s o ) a q u e le s c o m p o r t a m e n t o s q u e d e
v e r ía m s e r im ita d o s ou e v it a d o s (v e ja R h e t. H e r. 1 4 4 1 a 2 7 -1 4 4 1 b 2 8 ).
O s jo v e n s e s t u d a n t e s d e re tó ric a e ra m r o t in e ir a m e n t e o b r ig a d o s a
p r o d u z ir c o m p a r a ç õ e s b io g r á fic a s c h a m a d a s p ro g y m n a s m a ta (v e ja Q u in -
tilia n o , In st. 2 .4 .2 1 ). O s t ó p ic o s u t iliz a d o s p a ra c o m p a r a ç ã o in c lu ía m
n a s c im e n t o , a s c e n d ê n c ia , educação, s a ú d e , fo rç a e b e le z a . P lu ta rc o
a p e rfe iç o o u a s c o m p a r a ç õ e s re t ó r ic a s c o m o u m a fo rm a d e a r te e m s u a s
fa m o s a s P a r a lle l L iv e s (T h o m p s o n , 2 0 0 8 , p. 13).
H e b re u s e m p r e g a s y n k r is is e m m u ito s p o n to s . O a u to r c o m p a r a C r is
to c o m o s a n jo s (ca p . 1 — 2), M o is é s (3 .1 -6 ) e o s a c e r d ó c io d o A T (5 .1 -1 0 ;
7 .1 — 1 0 .1 8 ). E le c o m p a r a o s c r e n t e s a t u a is c o m a g e r a ç ã o in fie l d o d e s e r
to (3 .1 2 ,1 3 ; 4 .2 ,3 ,6 ,1 0 ) . Isso e s tá d e a c o r d o c o m u m in t e r e s s e g e r a l e m
a m p lia r o fa to d e q u e C r is t o e a n o v a a lia n ç a s ã o s u p e r io r e s à a n tig a (-»
1.4 a n o ta ç ã o c o m p le m e n ta r : " C o is a s 's u p e r io r e s ' e m H e b re u s " ) . "A a m
p lia ç ã o " , e s c r e v e u A r is t ó t e le s , " é c o m ra z ã o c la s s if ic a d a c o m o u m a d a s
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
fo r m a s d e lo u v o r, p o is c o n s is te e m s u p e r io r id a d e , e s u p e r io r id a d e é u m a
d a s c o is a s q u e s ã o n o b r e s " (R h e t. 1 .9 .3 9 ).
138
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
em 3.5: Moisés foi fiel (3.1,2); em toda a sua casa (3.3,4); como servo (3.5,6;
Koester, 2001, p. 249).
NO TEXTO
Santidade em Hebreus
A s a n t id a d e é d e s u m a im p o r t â n c ia e m H e b re u s . T e rm o s d o g ru p o
d e p a la v r a s h a g io s ( " s a n to " ) o c o rr e m v in t e e o ito v e z e s e m H e b re u s . S e u
uso , n ã o s u r p r e e n d e n t e m e n t e , é d e v id o à L X X e, p o r s u a v e z , b a s e a d o no
g ru p o d e p a la v r a s qõdes ( " s e p a r a d o " , " s a n to " ) n o A T H e b ra ic o . E m s e u s
c o n t e x to s b íb lic o s , a s a n t id a d e e s tá a s s o c ia d a n ã o a p e n a s a o e n v o lv im e n
to d a a d o r a ç ã o n o t e m p lo , m a s t a m b é m à n a tu r e z a d o e u d e D e u s e à
p r e p a r a ç ã o c e r im o n ia l e m o ra l d a h u m a n id a d e p a ra e n c o n t r a r o S a n to .
E m s e u s e n t id o m a is g e ra l, s a n t id a d e re fe re -s e à s e p a r a ç ã o e n tre o
s a g r a d o e o p ro fa n o . C e r t o s lu g a re s , c o is a s , e v e n t o s e p e s s o a s s ã o s e
p a ra d o s c o m o p r o p r ie d a d e d e D e u s. A s s im , o " s a n t u á r io " , c o m o na L X X
(ve ja N m 3 .2 8 ,3 8 ), é lit e r a lm e n t e " L u g a r S a n to " ou " S a n t o d o s s a n t o s "
e m H e b re u s (8.2; 9 .1 ,2 ,8 ,1 2 ,2 4 ,2 5 ; 1 0 .1 9 ; 1 3 .1 1 ), u m a v e z q u e a c â m a r a
m a is in te rn a d o t e m p lo é c h a m a d a d e "o S a n to d o s S a n to s " (9,3; v e ja Ê x
2 6 .3 3 ; H b 6 .1 9 ).
D e u s é a fo n te d e t o d a a s a n t id a d e (-» 2 .1 1 ). O c a r á t e r d iv in o d a s a n
t id a d e é u m d o m p a ra o s s e r e s h u m a n o s (1 2 .1 0 ), m a s p o r m e io d a o b ra
s a n t ific a d o r a d e C r is to (2 .1 1 ) e d a p a r t ic ip a ç ã o no E s p ír ito S a n to (6.4).
Je s u s é s in g u la r m e n t e q u a lific a d o c o m o o S u m o S a c e r d o te q u e t r a z a
p u r ific a ç ã o d e fin it iv a , p o r q u e E le m e s m o é t o t a lm e n t e " s a n t o [ h o s io s ] , in-
c u lp á v e l, p u ro , s e p a r a d o d o s p e c a d o re s , e x a lt a d o a c im a d o s c é u s " (7 .2 6 ).
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
É p a r t ic u la r m e n t e p o r m e io d o s a c r if íc io d e Je s u s q u e a s p e s s o a s s ã o
" s a n t if ic a d a s " ( 1 0 .1 0 ,1 4 ,2 9 [ou "fe ito s a n ta s " ] ; 1 3 .1 2 ). É m a is e fic a z d o
q u e o s s a c r if íc io s d e a n im a is s o b a a n tig a a lia n ç a , p o r q u e é u m a s a n t if ic a
ç ã o q u e f a z m a is d o q u e p r o p o r c io n a r u m a p u r ific a ç ã o c e r im o n ia l e x te rn a
d o s a d o r a d o r e s (9 .1 3 ). E fe tu a u m a t r a n s f o r m a ç ã o in te rn a d o a d o r a d o r p o r
m e io d a p u r ific a ç ã o d o s p e c a d o s (1.3 ) n o n ív e l m a is p ro fu n d o : a p u r ific a
ç ã o d a c o n s c iê n c ia (9.1 4; 1 0 .2 ,2 2 ; v e ja 9.9).
C o m b a s e n is s o , o p r e g a d o r c h a m a o s c r e n t e s d e " s a n t o s irm ã o s "
(3.1 ) ou " p o v o s a n t o " (6.1 0; 1 3 .2 4 [NVTJ; lit., " s a n t o s " , le m b r a n d o o d is
c u rs o d e P a u lo à s s u a s ig re ja s , p o r e x e m p lo , e m R m 1.7; 1 C o 1.2; 2 C o
1.1; Fp 1.1; C l 1.2). A s a n t ific a ç ã o d o s c r e n t e s é c e r t a m e n t e u m b e n e fíc io
d o s a c r if íc io d e C r is t o d e u m a v e z p o r t o d a s ( " s a n tific a d o " : t e m p o p e r
f e it o e m H b 1 0 .1 0 ; t e m p o a o ris t o e m 1 0 .2 9 ; 1 3 .1 2 ). M a s é t a m b é m um
p r o c e s s o c o n t ín u o d e d is c ip lin a , a d m in is t r a d o s o b e r a n a m e n t e p o r D e u s
Pai e s u p o r t a d o e s u b m e t id o p e lo s filh o s d e D e u s. P e r s e v e r a r na s a n t ifi
c a ç ã o s ig n ific a lu t a r c o n t ra o p e c a d o (1 2 .1 ,3 ,4 ; v e ja 1 0 .1 9 -3 9 ; 1 1 .2 5 ) e
b u s c a r p a z e s a n t id a d e (1 2 .1 4 ). Isso d e v e s e r fe it o t a n t o in d iv id u a lm e n t e
(3 .1 2 ) q u a n t o c o m u n it a r ia m e n t e (3 .1 3 ). D e u s Pai u s a a s d if ic u ld a d e s d a
v id a p a ra e d u c a r - n o s e m u m a v id a s a n ta , p r o d u z in d o u m "fru to d e ju s t iç a
e p a z " (1 2 .1 1 ) e p e r m it in d o - n o s p a r t ic ip a r d a p ró p ria s a n t id a d e d e D e u s
( 1 2 . 1 0 ).
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
ele denota não apenas o ato de confessar (que confessamos, da NVI), mas
também seu conteúdo. Isso não quer dizer que os primeiros cristãos confessa
ram Jesus como Apóstolo e Sumo Sacerdote exatamente nesses termos. Se tais
designações fossem comuns, o autor dificilmente podería “ter muito a dizer”
mais tarde sobre Jesus como Sumo Sacerdote que seus ouvintes achariam difícil
de compreender (5.11).
No entanto, as funções sacerdotais de Jesus de poder salvador por meio da
expiação e intercessão celestial são inerentes às primeiras confissões cristãs. Es
sas foram confissões de Jesus como o Cristo, o Filho de Deus, que veio de Deus
em carne (1 Jo 4.2,3,15; 2 Jo 7; G1 4.4; Fp 2.6-8), morreu para o perdão dos
pecados (1 Co 15.3; Cl 1.20), ressuscitou dos mortos (1 Co 15.4; Rm 10.9) e
foi exaltado ao céu (Fp 2.9-11; 1 Tm 3.16). A confissão cristã concisa e mais
primitiva de todas foi “Jesus é Senhor” (Rm 10.9; 1 Co 12.3; Fp 2.11).
O apóstolo e sumo sacerdote de nossa confissão é Jesus. Como em 2.9, o
nome de Jesus é reservado no final da frase para dar ênfase (veja a KJA de 3.1
para um reflexo da ordem das palavras gregas; -> 2.9 anotação complementar:
“Uso do nome ‘Jesus’ em Flebreus”).
ü 2 O pregador agora introduz uma comparação (synkrisis) entre Jesus e Moi
sés. Tem sua base exegética em Números 12.7, aludido aqui e citado em 3.5.
Que Jesus foi fiel já foi descrito em 2.6-18. A identificação do Filho com a
humanidade por meio do sofrimento é o que o aperfeiçoou (2.10). Isso fez dele
um “sumo sacerdote misericordioso e fiel” que efetuou expiação pelos pecados
(2.17) e libertação do “medo da morte” (2.15,16).
Jesus foi fiel àquele que o havia constituído. A forma do verbo poieõ é
traduzida como “apontado” por praticamente todas as traduções (veja o mes
mo uso em 1 Sm 12.6 LXX; Mc 3.14; At 2.36). O verbo pode ser traduzido
legitimamente como “feito”, com o sentido de “criado”, em contextos apropria
dos (ex.: Gn 1.1 LXX). Recentemente, Luke Timothy Johnson tem favorecido
essa última tradução, uma vez que se encaixa no contexto anterior (2.10-18),
em que o Jesus humano é “certamente uma criatura” (Johnson, 2006, p. 107).
No entanto, a cláusula inicial em 3.2 não é independente, mas conectada
ao comando em 3.1 como segue: “Fixem os seus pensamentos em Jesus [...] que
foi fiel àquele que o havia constituído”. Consequentemente, o verbo (ou mais
precisamente o particípio poiêsantí) não é usado em um sentido absoluto ou
não qualificado (por exemplo, em Is 17.7 LXX). Crisóstomo explica: ‘“Quem
foi fiel’, diz ele, ‘Àquele que O fez’ — [O] fez o quê? ‘A póstolo e Sumo Sacer
dote”’ (Crisóstomo, 1996, p. 390). O Filho é claramente distinguido dos seres
criados em 1.2^,10-12. Ele é tratado como “Deus” em 1.8. Ele está alinhado
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
"Casa" de Deus
143
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
O m u n d o c e le s t ia l, ou t o d o o u n iv e r s o c ria d o , p o d e r ía s e r re fe rid o
c o m o a " c a s a " d e D e u s (F ílo n , P o s t e r id a d e 5; P la n t a r 50; S o b r ie d a d e 62-
64; Sonhos 1 .1 8 5 ; v e ja A ttrid g e , 1 9 8 9 , p. 1 0 9 , n. 5 9 -6 0 ).
H e b re u s e x p lo r a e s s a ric a im a g e m e m 3 .1 -6 .
• E m 3 .2 , p o d e - s e a d iv in h a r q u e a c a s a d e D e u s s e re fe re a o p o v o
d e Isra e l (m a s v e ja a in t e r p r e ta ç ã o ra b ín ic a d e N m 1 2 .7 e m Tg.
S 3 O pregador explica a razão pela qual {para [gar\ \ não traduzido na NVI)
seus ouvintes devem voltar seus pensamentos para o apóstolo e sumo sacerdote
de nossa confissão (veja 3.1,2): Porque Jesus foi considerado digno de maior
glória [doxa; honra] do que M oisés, da m esma form a que o construtor de
uma casa tem m ais honra [timê\ do que a própria casa. Na antiga sociedade
Mediterrânea, a honra era um valor fundamental. Ter um bom nome, ser con
siderado e estimado dentro de sua comunidade, era uma grande preocupação
para os homens e suas famílias. Aqui o autor de Hebreus usa o vocabulário
(como já foi observado) associado a esse valor social.
Que Jesus foi considerado digno (um verbo passivo perfeito, êxiõ ta i )
provavelmente significa um passivo divino. Isso indica que Deus o considerou
digno. O pregador já identificou quando ocorreu essa determinação divina.
E verdade que o Filho irradiou eternamente a “glória [doxa]” de Deus (1.3a).
Mas a exaltação de Cristo marcou o ponto em que Deus o considerou digno de
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
na REB: “Moisés, de fato, foi fiel \k a iM ouses m e n pistos] [...] mas Cristo [Chris
tos de] é fiel” — observe os hom ens [...] de {por um lado [...] por outro lado )
contraste também encontrado em 1.7,8. Hebreus cita livremente Números 12.7,
reordenando a LXX para enfatizar dois pontos-chave no texto bíblico:
H o therapõn m ou M ouses en holõ tõ oikõ m o u pistos estin.
Meu servo Moisés em toda a minha casa éfiel (Nm 12.7 LXX).
K a i M ouses m en pistos en holõ tõ oikõ auto u hõs therapõn.
Moisés, de fato, fo i fie l em toda a sua casa [de D eus] como servo (Hb 3.5).
Primeiro, o pregador antecipa o fato de que Moisés foi fiel. Ele faz isso
porque essa é a virtude comum entre Moisés e Jesus em torno da qual gira sua
comparação (veja 3.2). Segundo, ele adia o papel de Moisés como servo para
o final da cláusula, pois isso estabelece o principal ponto de contraste entre
Moisés e Jesus.
O vocábulo usado para servo (therapõn ) não é a palavra normal para um
“escravo \doulos\ comum”. Difere de doulos porque pode referir-se ao serviço
prestado livremente, em oposição à escravidão forçada ou herdada (Liddell e
Scott, 1995, “therapõn ”, p. 363). Therapõn é frequentemente usado em contex
to religioso ou cultuai (ou seja, de alguém que presta serviço a uma divindade)
e é particularmente aplicável a Moisés na literatura bíblica, pseudepigráfica do
AT e cristã primitiva (BDAG, p. 453). Seu cognato therapeia pode referir-se a
uma “família” ou “servos da casa” (Lc 12.42 NVT). Tais conexões domésticas
são bastante apropriadas em Hebreus 3.5. Embora therapõn assuma diferen
tes tons de significado do que outras palavras para “escravo” ou “servo [doulos,
diakonos, h ypêretésf, e, no caso de Moisés, conote uma forma mais nobre de
serviço, permanece o fato de que therapõn ainda denota um servo.
O papel subordinado de Moisés é expresso como dando testem unho
do que havería de ser d ito no futuro. O testem unho na NVI traduz uma
frase preposicional que significa propósito {eis m a rtyrio n , “para testemunho”
[JFA, ACF, ARA, ARC, ARIB, NAA]). O serviço fiel de Moisés a Deus deu
testemunho das ações futuras de Deus em Cristo. Moisés preferiu “por causa
de Cristo, [...] a desonra” aos tesouros do Egito, “porque contemplava a sua
recompensa” (1 1.26). Então, o que havería de ser d ito n o futuro {tõn lalethê-
som enõn) não pode ser outra coisa senão o fato de que Deus “falou [e la lê se n f
por intermédio do Filho nestes últimos dias (1.2a): a salvação “primeiramente
anunciada \laleisthai\ pelo Senhor” (2 3 b ) . Mais tarde, isso será associado à
pregação da mensagem do evangelho (4.2,6) e ao descanso prometido “falado
porteriormente” {elalei m eta ta u ta [4.8]) por Deus.
146
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
O s le ito re s a n tig o s t e r ia m im e d ia t a m e n t e c o m p r e e n d id o o c o n t r a s t e
d r a m á t ic o e n tre filh o s e e s c r a v o s . O p a p e l e o s ta tu s d o s e s c r a v o s v a r ia
v a m n o m u n d o a n tig o . P o r e x e m p lo , h a v ia u m a g r a n d e d if e r e n ç a e n tre
e s c r a v o s q u e t r a b a lh a v a m e m m in a s n o s p o s to s a v a n ç a d o s d o Im p é rio
R o m a n o e e s c r a v o s q u e s e r v ia m na c a s a im p e ria l. N o e n ta n to , e m t o d a s
a s c a s a s , o s filh o s n a s c id o s liv re s s e m p r e t in h a m u m a p o s iç ã o s u p e r io r
a o s e s c r a v o s , m e s m o q u e e s t e s t iv e s s e m c o n q u is ta d o s u a lib e r d a d e . O s
e s c r a v o s lib e r to s n u n c a p o d e r ía m liv ra r-s e d a m a r c a d a e s c r a v id ã o , s e n d o
c h a m a d o s d e lib e r to s , n ã o d e h o m e n s liv re s.
O c o n t r a s t e fo i o b s e r v a d o p o r Je su s: "O e s c r a v o n ã o te m lu g a r p e r
m a n e n t e na f a m ília , m a s o f ilh o p e r te n c e a e la p a ra s e m p r e . P o rta n to ,
se o F ilh o o s lib e r ta r, v o c ê s d e fa to s e r ã o liv r e s " (Jo 8 .3 5 ,3 6 ). O c o n t r a s t e
t a m b é m o p e r a na p a rá b o la d e Je s u s s o b re o s la v r a d o r e s e m M a r c o s 12.
D e p o is d e e n v ia r s e r v o s p a ra r e c o lh e r s u a p a rte d a c o lh e it a d a v id e ir a
s e m s u c e s s o , o p r o p r ie t á r io f in a lm e n t e e n v io u s e u f ilh o a m a d o , d iz e n d o :
"A m e u filh o re s p e it a r ã o " (M c 1 2 .6 ).
G á la t a s d e p e n d e m u ito d a d is t in ç ã o e n tre o f ilh o n a s c id o liv re e o s e s
c r a v o s (G l 4 .1 -7 ,2 1 -3 1 ) . A a d o ç ã o c o m o filh o s é u m d o s m a io r e s b e n e fíc io s
d a s a lv a ç ã o (R m 4.5; 8 .1 5 ,2 3 ; E f 1.5). D a m e s m a fo rm a , a f ilia ç ã o d e j e s u s
e a p a r t ic ip a ç ã o d o s c r e n t e s na fa m ília e h e ra n ç a d iv in a s ã o t e m a s fo r t e s
e m H e b re u s (v e ja B o y d , 2 0 1 2 ).
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
148
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
A PARTIR DO TEXTO
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Stedman, 1992, p. 50), perde o ponto do desafio do pregador. Ele não reco
nhece a obrigação intensamente pessoal que incumbe aos crentes. Se alguém
fosse admitido como filho adotivo na casa do imperador, então agir de manei
ra desesperada, temerosa e fraca diante da oposição ou da crítica expressaria
deslealdade e traria desonra para toda a família. Seria, portanto, uma afronta
pessoal ao próprio imperador e podería ser motivo legítimo para ser deserdado
como membro da família.
Assim também o pregador descreve a atitude e o comportamento honro
sos para os membros da família divina. Como alguém pode ser um membro
da família de Deus e reivindicar Jesus, o Senhor universal (veja 2.8), como seu
irmão, mas agir com covardia e desespero quando testado? Ainda mais à luz
do próprio exemplo de fidelidade de Jesus. Expresso positivamente, como os
membros da família de Deus podem ser outra coisa senão esperançosos, cora
josos e orgulhosos de sua associação com Cristo, o Senhor? Qualquer coisa a
menos seria um grave insulto à honra de Deus e à do Filho de Deus.
Considerando que Jesus é o Filho de Deus por natureza, os crentes são
filhos de Deus por meio da graça divina e da adoção (Agostinho, Na fé e no
credo 4.6, em Heen e Krey, 2005, p. 44). Nenhum de nós tem o direito ineren
te de fazer parte da família de Deus, especialmente em nosso estado distante,
contaminado e não redimido. Deus comprou nossa herança pela morte de Seu
Filho fiel. O pregador aos Hebreus não conhece nenhuma doutrina de eleição
incondicional que assegure nossa salvação eterna. A salvação final, portanto,
requer fidelidade ao chamado gracioso de Deus. Não há garantia de que os ver
dadeiros cristãos responderão natural e inexoravelmente com lealdade a Deus.
Assim, tal doutrina tornaria desnecessárias a condição em 3.6 e as advertências
em Hebreus.
Os leitores modernos devem entender o que era uma segunda natureza
para uma leitura antiga do desafio do pregador: é impensável e desastroso res
ponder à graça de Deus de uma forma que envergonharia a casa de Deus. É o
mesmo que apostasia, rejeição total de nossa herança. Mesmo se Deus fosse
misericordiosamente reter Seu julgamento sobre a apostasia, respostas vergo
nhosas e não confiáveis à graça de Deus claramente tornam alguém merecedor
do julgamento divino (veja 3.16-19; 6.7,8; 10.26-31,35-39). Mais tarde, Esaú
será apresentado como um exemplo de alguém cujo comportamento imoral
foi a ocasião de sua perda irrevogável da bênção e herança de Deus (12.16,17).
Mas aqui, em 3.6, a ênfase é positiva: “E esta casa somos nós, se é que nos ape
gamos firmemente à confiança e à esperança da qual nos gloriamos”.
150
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
M idrash
O s u b s t a n t iv o h e b r a ic o m id r a s h é d e r iv a d o d o v e r b o d a ra sh , "p ro c u
ra r [p o r u m a re s p o s ta ] " . A s s im , m id r a s h s ig n ific a " in q u é r it o " , " e x a m e " ou
" c o m e n t á r io " . O te rm o , e n tã o , p o d e re fe rir-s e a u m m é t o d o d e p e s q u is a r
a s E s c r it u r a s ou à fo rm a re s u lt a n t e d e ta l e s tu d o . M id r a s h te m s u a s ra íz e s
no p ró p rio A T e é b e m a t e s t a d o n o NT, e m Q u m ra n , e m F ílo n e a b u n d a n
t e m e n t e na lit e r a t u r a r a b ín ic a (v e ja E v a n s , 2 0 0 6 , p. 3 8 1 ).
O m id r a s h r a b ín ic o d is p õ e d e q u a tro c a r a c t e r ís t ic a s p r in c ip a is : (1)
te m s e u p o n to d e p a rtid a n a s E s c ritu ra s ; (2) é c a r a c t e r is t ic a m e n t e h o
m ilé tic o ; (3) é c u id a d o s a m e n t e a t e n t o a o te x to ; (4) é u m a a d a p t a ç ã o a o
151
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
NO TEXTO
153
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Corações endurecidos
( " e n d u re c e r , p e t r if ic a r " ) e m v e z d e s k lê r y n õ , o c o rr e p r in c ip a lm e n t e no
E v a n g e lh o d e M a r c o s (3.5; 6 .5 2 ; 8 .1 7 ; Jo 1 2 .4 0 ), b e m c o m o u m a v e z e m
E fé s io s (4 .1 8 ).
O e n d u r e c im e n t o d o c o r a ç ã o re fe r e -s e a u m a "fa lta d e re c e p t iv id a d e
p e r s is t e n t e " à v o n t a d e d e D e u s ( B e h m , 1 9 6 5 , p. 6 1 4 ). E m a lg u n s c a s o s ,
t a lv e z , e s te ja r e la c io n a d o à in s e n s ib ilid a d e o u f a lt a d e c o m p a ix ã o (M t
19 .8 ; M c 3.5; 1 0 .5 ). M a is f r e q u e n t e m e n t e é u m a re s is t ê n c ia o b s t in a d a a
D e u s. E n v o lv e u m a re c u s a e m o u v ir a v o z d e D e u s e r e b e liã o c o n tra a v o n
t a d e d iv in a (Ê x 7 .2 2 ; 8 .1 9 ; 9 .1 2 ; SI 9 5 .8 ; E z 3.7; H b 3 .8 ,1 5 ; 4 .7 ). Isso le v a
a o a m o r t e c im e n t o d a s s e n s ib ilid a d e s e s p ir it u a is d a p e s s o a , t o rn a n d o im
p o s s ív e l p e r c e b e r o u e n t e n d e r a v e r d a d e (M c 6 .5 2 ; 8 .1 7 ,1 8 ,2 1 ; Jo 1 2 .4 0 ).
D e a c o r d o c o m E fé s io s 4 .1 8 , a d u r e z a d e c o r a ç ã o e x p lic a a ig n o r â n c ia
s o b re a v e r d a d e d o e v a n g e lh o e n tre o s g e n tio s . E le s e s t ã o " o b s c u r e c id o s
n o e n t e n d im e n t o e s e p a r a d o s d a v id a d e D e u s " e, " t e n d o p e r d id o to d a
a s e n s ib ilid a d e " , m a n t id o s c a t iv o s d e p a ix õ e s c a ó t ic a s e in s a c iá v e is (Ef
4 .1 9 ; v e ja F ílo n , L e is E s p . 1 .3 0 5 ). U m " c o r a ç ã o d e p e d r a " e s tá a s s o c ia d o
à id o la t r ia e a im p u r e z a s e é c o n t r a s t a d o c o m u m " c o r a ç ã o d e c a r n e "
q u e o b e d e c e p e r fe it a m e n t e a o s m a n d a m e n t o s d e D e u s (E z 3 6 .2 5 -2 7 ; v e ja
Jr 3 2 .3 9 ,4 0 ) . O s d e c o r a ç ã o d u ro t a m b é m p o d e m s e r c o n t r a s t a d o s c o m
a q u e le s q u e t e m e m a o S e n h o r (P v 2 8 .1 4 ; v e ja H b 4 .1 [KJV, N A S B ]).
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
O s d e c o r a ç ã o d u ro e s t ã o " s e m p r e s e d e s v ia n d o " (H b 3 .1 0 ; Is 6 3 .1 7 ) e
d e s c r e n t e s d a P a la v ra d e D e u s (M c 1 6 .1 4 ; v e ja H b 3 .1 2 ,1 9 ). P r o v a v e lm e n
te a m e lh o r d e s c r iç ã o d a d u r e z a d e c o r a ç ã o e s te ja e m H e b re u s 3 .1 2 : t e r
" c o r a ç ã o p e r v e r s o e in c ré d u lo , q u e s e a fa s t e d o D e u s v iv o " . P e r m a n e c e r
n e s s a c o n d iç ã o é u m a p r o p o s ta a r r is c a d a (v e ja P v 2 8 :1 4 ; S ir 3 :2 6 -2 7 ). Isso
é ilu s tr a d o p e lo d e s a s tr e e m C a d e s - B a rn e ia , r e c o rd a d o e m H e b re u s 3 .1 6 -
18 (v e ja t a m b é m Sir. 1 6 .1 0 ; 4 6 .8 ). D a í a re p e tid a a d v e r t ê n c ia e m H e b re u s
3 e 4: " S e h o je , v o c ê s o u v ir e m a s u a v o z , n ã o e n d u r e ç a m o c o r a ç ã o " !
155
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
foram muito facilmente desviados da vontade revelada de Deus para eles. Isso
ocorreu porque eles não reconheceram os m eus cam inhos. (O emparelha-
mento de ignorância e desvio ocorre em 5.2; contraste as promessas da nova
aliança em 8.10,11; 10.16.) Por não seguirem as instruções de Deus, eles foram
deixados vagando no deserto, uma parábola apropriada da condição espiritual
interior dos israelitas, descrita anteriormente como dureza de coração (3.8).
H 11 O julgamento divino sobre a rebelião de Israel é pronunciado. Deus so
lenemente declarou: Jurei (ACF, ARA, ARC, ARIB, BKJ, JFA, KJA, NAA;
[“declarei sob juramento” NIV]) na m inha ira. Quase se pode ouvir a exas
peração: Jamais entrarão no m eu descanso. As palavras precisas do salmista
são: Se eles entrarem, no meu descanso, correspondendo exatamente a uma
expressão idiomática hebraica que expressa negação enfática. Isso é aposiopesis,
uma figura de linguagem em que a consequência da condição declarada é silen
ciada devido à intensa emoção. A informação que faltava seria: “Que isso ou
aquilo aconteça comigo, se...” (veja Gn 14.23; Nm 14.30; 1 Sm 14.45).
O juramento de Deus efetivamente impediu aquela geração de ter o Seu
descanso, que no AT se referia à terra prometida (veja Êx 33.14; Dt 12.10;
25.19; Js 1.13,15; 21.44; 22.4; 23.1). A compreensão de Hebreus desse des
canso como uma realidade divina e transcendente — a pátria celestial — se
tornará aparente em 4.1-11. O final da citação do salmo (SI 95.11 em Flb 3.11)
lembra os repetidos juramentos divinos em Cades-Barneia, proibindo a entra
da dos desobedientes na terra (Nm 14.20-23,27-30,35; veja 32.10; Dt 1.34;
2.14). Essa cena dramática é um exemplo gráfico do julgamento de Deus em
Hebreus 3.16-18.
■ 12 Um midrash homilético na citação do salmo anterior abrange 3.12—
4.11. Os versículos 12-15 consistem em uma frase bem elaborada que exorta
os ouvintes a cuidarem do bem-estar espiritual uns dos outros. Eles devem
apegar-se coletivamente ao seu compromisso como parceiros de Cristo. Nos
versículos 12-15, o pregador adverte sobre a causa da falta de compromisso.
Nos versículos 16-18, ele fornece um exemplo das consequências da rebelião.
O pregador começa chamando a atenção de seu público: C uidado (blepe-
te\ “vede” [ACF]; “tende muito cuidado” [KJA]). Como em 3.1, ele dirige-se
a eles como irmãos. Também exorta a comunidade a preocupar-se com cada
pessoa entre si, para que não haja ninguém que copie o mau exemplo da gera
ção do deserto. Há uma concentração de pronomes indefinidos em 3.12—4.11
(formas de tis, “alguém, qualquer um, certo”), que se referem a membros indi
viduais da comunidade: nenhum (3.12,13; 4.1), “alguns” (4.6), “um” (4.11;
veja também 10.25; 12.15,16).
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
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HEBRHUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Parceiros de Cristo
S o m e n t e o c o n t e x to p o d e d e t e r m in a r s e m e to c h o i s ã o " c o m p a n h e ir o s "
c o m u n s (A C F , NVI; v e ja H b 1.9), ou a s s o c ia d o s , ou " p a r c e ir o s " (C E B , G N T ,
G W , LEB , N A B , N E T , N R S V ) n o s e n t id o le g a l fo rm a l (c o m o a q u i e m 3 .1 4 ).
N o s p a p ir o s a n tig o s , o te r m o é c o m u m e n t e u s a d o p a ra p a r c e ir o s d e n e
g ó c io s , c o m o a g r ic u lt o r e s , p e s c a d o r e s e e s p e c ia lm e n t e c o b r a d o r e s d e
im p o s to s (v e ja Lc 5.7). O s in ô n im o k o in õ n o i (lit., " p a r t ic ip a n t e s " ) t a m
b é m fo i u s a d o p a ra t a is " p a r c e ir o s " (v e ja L c 5 .1 0 ; v e ja M M , p. 4 0 6 ; S p ic q ,
1 9 9 4 a ).
D e a c o r d o c o m H e b re u s , o s p a rc e iro s d e C r is t o tê m p a r t ic ip a ç ã o n a s
r e a lid a d e s e s p ir it u a is d a e ra v in d o u r a . S o m o s " p a r t ic ip a n t e s [ m e t o c h o i] "
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
comercial até um ser essencial (para este último, o- 1.3a). Assim, “realidade”
(HCSB, NAB; “substância” [TYNDALE]) é uma tradução possível. Presumi
velmente, essa seria a realidade da participação dos crentes na herança do Filho.
No entanto, hypostasis também é usada como termo técnico para uma
obrigação comercial, como a expectativa de aluguel devido ou de compromisso
com os termos de um empreendimento comercial (veja BDAG, p. 1040-1041).
O agrupamento de outros termos de negócios (-» anteriormente e anotação
complementar: “Parceiros de Cristo”) inclina a escala em favor de interpretar
tên archên tês hypostaseõs como compromisso inicial (compare “convicção ori
ginal” [NIV11]). Isso está de acordo com a advertência em 3.12 para evitar uma
disposição má e infiel “que se afasta” de Deus, bem como as exortações para
manter nossa confissão (4.14; 10.23; veja 3.1,6).
A condição para a parceria contínua com Cristo é manter firm em ente
nosso compromisso desde o seu “princípio \archê}” (ACF. ARIB, ARA, ARC,
BKJ, NVI) até o fim (,telos; veja 6.11; para o jogo de palavras aqui, 5.9 anota
ção complementar: “Brincando com começos e fins”).
1 5 Esse versículo serve como conclusão para as exortações em 3.12-14 e
uma transição para as perguntas finais em 3.16-18. Por isso é que se diz intro
duz uma porção repetida do salmo (SI 95.7-11 em Hb 3.7^,8) que foi o foco
das advertências do pregador contra a apostasia. A citação duplicada apresenta,
por sua vez, dois termos (ouvir e rebelião) que serão retomados na pergunta
de abertura em 3.16.
UI 1 6 Em 3.16-18, o pregador usa uma técnica retórica (lat. subiectio; gr. hypo-
phora/anthypophora-, Rhet. Her. 4.23.33-24.34) em que um orador coloca uma
série de perguntas retóricas. Estas fornecem um movimento vigoroso e for
ça cumulativa ao argumento. Aqui há três conjuntos de perguntas e respostas
(dois pares de perguntas retóricas em 3.16,17; uma pergunta retórica de duas
partes em 3.18).
O movimento no questionamento segue o da citação do salmo: da rebe
lião (3.8a || 3.16^) à ira de Deus (3.10a || 3.17a) ao juramento divino (3.11 ||
3.18a). As respostas às perguntas são elaboradas a partir dos trágicos aconteci
mentos em Cades registrados em Números 14. Os personagens envolvidos eram
aqueles que saíram do Egito com Moisés (Hb 3.16b || Nm 14.2,3,13,19,22;
veja 26.4). Seu pecado (veja Nm 14.18,19,34,40) incorreu no julgamento di
vino, com seus cadáveres caindo no deserto (Hb ?>A7b || Nm 14.29,32). Esse
foi o resultado do juramento de Deus para impedi-los de entrar no descanso
de Deus (SI 95.11; ou seja, a terra, Nm 14.30) e enviá-los para peregrinar no
deserto (Nm 14.33) por causa de sua desobediência (Nm 14.43).
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S e u c a r á t e r t r a n s c e n d e n t e é e x p r e s s o e m r e fe r ê n c ia s a c h a m a d o c e le s t ia l
(3.1 ), " d o m c e le s t ia l" (6.4 ), s a n t u á r io c e le s t ia l (8.5 ), " c o is a s q u e e s t ã o n o s
c é u s ” (9 .2 3 ), p á tria c e le s t ia l (1 1 .1 6 ), e " J e ru s a lé m c e le s t ia l” (1 2 .2 2 ).
O d e s c a n s o p o d e s e r c o m p a r a d o c o m "a p r o m e s s a d a h e ra n ç a e te r
n a " (9.1 5; v e ja 6 .1 2 ; 1 0 .3 6 ) o u s a lv a ç ã o (1 .1 4 ; v e ja 9 .2 8 ). É u m a e n tra d a
na g ló r ia (2 .1 0 ) o u n o " s a n t u á r io in te rio r, p o r t r á s d o v é u " (6 .1 9 ), o n d e
Je s u s já e n tro u c o m o n o s s o p r e c u r s o r (6 .2 0 ) e c a m p e ã o (2 .9 ,1 0 ; 1 2 .2 ).
O d e s c a n s o s e c u m p r e no re in o in a b a lá v e l (1 2 .2 8 ), a q u e la " c id a d e p e r
m a n e n t e " (1 3 .1 4 ) c o m fu n d a m e n t o s s ó lid o s , c u jo " a r q u ite t o e e d if ic a d o r
é D e u s " (1 1 .1 0 ). O d e s c a n s o , p o rta n to , é u m a d a s m u ita s im a g e n s q u e
m o s t ra m o c a r á t e r m u ltif a c e t a d o d e n o s s a e s p e r a n ç a e s c a t o ló g ic a (ve ja
L in c o ln , 2 0 0 6 , p. 95; d e S ilv a , 2 0 0 0 a , p .1 6 3 ).
NO TEXTO
1 1 Por meio do uso de uma partícula inferencial (oun, visto que), essa adver
tência está ligada ao exemplo de advertência anterior (3.12-19, esp. v. 16-19).
De maneira retórica clássica, o pregador emprega um argumento de pathos: ele
168
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
apela à forte emoção humana para persuadir seus leitores (Johnson, 2006, p.
124). Aqui essa emoção é o medo, evocado pela primeira palavra desse versí
culo (phobêthõmen). Traduções como v a m o s to m a r c u id a d o (“vamos cuidar”
[NRSV]) ou “devemos ter cuidado” (NVT; “em guarda” [NAB]) são muito
fracas. Temamos (ACF, ARA, ARC, ARIB, BKJ, JFA, KJA, TB; veja NLT)
e “tenhamos cuidado” (NAA) estão no alvo. As consequências da apostasia da
geração do deserto devem servir de advertência. Como Calvino observa (1976,
p. 45), Paulo emite uma advertência semelhante sobre um “endurecimento”
mais recente em Israel (veja Rm 11.25); “Porém, foram cortados devido à in
credulidade, [...] não se orgulhe, mas tema” (Rm 11.20).
O verbo phobêthõmen (temamos) é “mais enérgico” do que blepete (“cuide
disso”) em FFebreus 3.12. O uso da primeira pessoa do plural (va m o s) ressalta
a solidariedade de todos os fiéis em tal temor (veja 3.13; Spicq, 1953, 2.79).
Todos os crentes são libertos do medo da morte (2.15) ou dos poderes hu
manos (11.23,27; 13.6), mas não do temor do Senhor. Flebreus invoca um
senso apropriado de medo diante daquele “a quem havemos de prestar contas”
(4.13), particularmente em passagens exortatórias (ex.: 10.27,31; 12.21; sobre
o tema do medo, veja Gray, 2003; Koester, 2001, p. 90).
Os cristãos devem ter uma preocupação acentuada por cada membro da
Igreja. Isso é semelhante à diretriz de Paulo para que “ponham em ação a sal
vação de vocês [isto é, da comunidade] com temor e tremor” (Fp 2.12). Eles
devem trabalhar para impedir q u a lq u e r u m d e vocês (tis ex hymõn-, algum) de
participar da experiência fatídica daquela geração desobediente que não che
gou além do limite da terra prometida.
"Vamos..."
Q u a n d o o s a u to r e s g r e g o s q u e r ia m e x o r t a r o s le it o re s a ju n ta re m -
-se a e le s e m s u a d e c is ã o d e e m p r e e n d e r u m c u rs o d e a ç ã o , e le s p o d ia m
e m p r e g a r u m a fo rm a g r a m a t ic a l c o n h e c id a c o m o s u b ju n tiv o e x o rta tiv o .
É e s s e n c ia lm e n t e e q u iv a le n t e a u m im p e ra tiv o , m a s na p r im e ir a p e s s o a
d o p lu ra l (W a lla c e , 1 9 9 6 , p. 4 6 4 ). N o r m a lm e n t e a f ó r m u la " v a m o s ..." é
u s a d a p a ra t r a d u z ir t a is e x o r t a ç õ e s p a ra o p o r tu g u ê s . É u m a e x p r e s s ã o
f a v o r it a e m H e b re u s , o c o rr e n d o c o m m a is fr e q u ê n c ia n e s s a c a r ta d o q u e
e m q u a lq u e r o u tro liv ro d o N T ( d o z e v e z e s ).
C o m o u m d is p o s it iv o re tó ric o , é a lt a m e n t e e fic a z . E le p e r m it e q u e
o o r a d o r e m it a u m c o m a n d o v ig o r o s o s e m " r e b a ix a r " o p ú b lic o . A s s im , o
p r e g a d o r e x p r e s s a s o lid a r ie d a d e a o s s e u s le ito re s , c o m o a lg u é m q u e e s tá
ju n to d e le s s o b a a u to r id a d e d a P a la v ra d e D e u s.
169
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
V a m o s... H e b re u s
te m a m o s (i.e., " m e d o " ) 4.1
" e s fo rc e m o -n o s po r e n tra r n e sse d e s c a n so ” 4 .1 1
" a p e g u e m o - n o s c o m to d a a fir m e z a à fé q u e 4 .1 4
p r o fe s s a m o s ”
" a p r o x im e m o - n o s d o tro n o d a g r a ç a c o m t o d a a 4 .1 6
c o n fia n ç a "
" a v a n c e m o s p a ra a m a t u r id a d e " 6.1
" a p r o x im e m o - n o s d e D e u s " 1 0 .2 2
" a p e g u e m o - n o s c o m fir m e z a à e s p e r a n ç a q u e 1 0 .2 3
p r o fe s s a m o s "
" c o n s id e r e m o - n o s u n s a o s o u tro s p a ra 1 0 .2 4
in c e n t iv a r - n o s a o a m o r e à s b o a s o b r a s "
" c o r r a m o s c o m p e r s e v e r a n ç a a c o rr id a q u e n o s é 12 .1
p r o p o s ta "
" s e j a m o s a g r a d e c id o s " 1 2 .2 8
" s a ia m o s a té e le , fo ra d o a c a m p a m e n t o , 1 3 .1 3
s u p o r t a n d o a d e s o n ra q u e e le s u p o rto u "
" o f e r e ç a m o s c o n t in u a m e n t e a D e u s u m s a c r if íc io 1 3 .1 5
d e lo u v o r "
170
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
171
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
173
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
for aceita, ela tem a vantagem de implicar a união do semelhante (pessoas com
pessoas) em vez do diferente (a mensagem de Deus com pessoas; então Ellin-
gworth, 1993, p. 243).
Contudo, isso levanta a dificuldade de ter de distinguir entre eles (ekei-
nous\ observe também eles, kakeinoi) e os que a ouviram (tois akousasin)
— uma distinção não refletida na NVI. O pregador pode estar contrastando
aqueles que não se beneficiaram da mensagem que ouviram com “aqueles que
realmente ouviram” (Koester, 2001, p. 270; compare ESV, NAB, NJB, NLT,
NRSV; “obedeciam” [NIV11]; ou “ouviu na fé” [HCSB, NET]). Os verda
deiros ouvintes foram identificados como Josué e Calebe, os únicos dois que
estavam dispostos a entrar na terra prometida (Nm 14.26-30; assim, Crisós
tomo, 1996, p. 395; Lane, 1991, p. 98). Mas Hebreus não parece ter algum
interesse pelo exemplo positivo de Josué e Calebe. Em 3.16 “os que ouviram
e se rebelaram” são “todos os que Moisés tirou do Egito”. Hebreus 4.8 nega a
conquista de Josué como uma provisão de descanso divino.
Pode-se argumentar que os que a ouviram são os cristãos que estão lendo
Hebreus (tenha em mente traduções como a NRSV e a NVT: “Eles não foram
unidos pela fé com aqueles que ouviram" [ênfase adicionada]). De acordo com
essa interpretação, uma comparação sustentada está sendo feita entre os dois
grupos que foram “evangelizados”. Na primeira metade do versículo, há nós
(cristãos), no presente, e eles (filhos rebeldes de Israel) no passado. Na segunda
metade (em ordem inversa, formando um quiasma), encontramos eles que ou
viram sem benefício (filhos rebeldes de Israel) e “aqueles que ouviram” (NRSV,
NVT; ou seja, nós, cristãos). Então o versículo seguinte (4.3) faz a inferência:
“Pois \gar\ nós, os que cremos, é que entramos naquele descanso”. Attridge
sugere que uma comparação tão ousada explica as muitas variantes na tradição
textual. Além disso, 11.40 traz o ponto semelhante de que Deus previu os fiéis
do AT como não sendo aperfeiçoados à parte de “nós” (Attridge, 1989, p. 126).
■ 3 a Agora, ou melhor, p o is (gar), impulsiona a comparação iniciada no ver
sículo 2. A geração do deserto não recebeu o descanso prometido porque “eles
não compartilhavam a fé” daqueles que ouviram (4.2 N IV 11; veja 3.12,19). Mas
nós, os que crem os, estamos prontos para alcançar a promessa que eles per
deram. N ós, crentes, é que entram os naquele descanso no qual eles jamais
entrarão. A fé como o fator operante — para evitar a destruição e alcançar a
salvação — mais uma vez encontrará ênfase em 10.38,39 (veja 10.22; deSilva,
2000a, p. 164-165). O particípio hoipisteusantes (nós, os que crem os) está no
passado (aoristo), talvez para significar nossa convicção inicial ou conversão
(veja 3.14; D. Guthrie, 1983, p. 112).
174
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
O presente do verbo eiserchometha (nós [...] entram os) tem sido fun
damental para o debate sobre o tempo de entrada no descanso. Alguns
comentaristas consideram o tempo presente como futurista: “Vamos entrar
no descanso” (Ellingworth, 1993, p. 246; Koester, 2001, p. 270). Outros
pensam que o tempo verbal deve ser tomado como um “verdadeiro presente”,
enfatizando que os crentes já estão desfrutando do descanso prometido (Lane,
1991, p. 99; Lincoln, 1982, p. 215; Westcott, 1909, p. 96). Outros ainda estão
conscientes, e com razão, de que um “verdadeiro presente” não indica que já
entramos no descanso, mas que estamos no processo de entrar nele (deSilva,
2000a, p. 155-156; veja Johnson, 2006, p. 123; Montefiore, 1964, p. 83; GW).
Hebreus mantém a mesma tensão entre o “agora” e “ainda não”, o realizado
e o futuro, que é encontrado em todo o N T (-» 2.5 anotação complementar:
“Escatologia em Hebreus”; 4.1-13 Por trás do texto, anotação complementar:
“Descanso e salvação em Hebreus”). O tempo presente (nós [...] entram os)
situa os crentes bem no meio dessa tensão. E uma referência ao “processo
complexo no qual os crentes’... estão agora engajados, embora esse processo
certamente tenha uma consumação escatológica” (Attridge, 1989, p. 126, veja
também p. 128; Isaacs, 2002, p. 62-63). Crucial para entender a tensão é re
conhecer o ponto de comparação entre os dois grupos nessa passagem (veja
deSilva, 2000a, p. 156). Os filhos de Israel estavam prestes a entrar no descanso;
assim também são os crentes presentes. Os primeiros não entraram por causa
de sua incredulidade; os últimos, como crentes, são instados a entrar enquanto
o “dia” da oportunidade — “hoje” (4.7) — ainda não passou (veja 3.13; 4.11).
8 3 b -5 O pregador apoia a proposição de que a promessa de descanso ain
da permanece. Ele argumenta com base em duas passagens das Escrituras (SI
95.11 e Gn 2.2). Tais passagens são selecionadas devido à sua correspondência
verbal.
Analogia verbal
O p r im e ir o c o n ju n t o p a d r ã o d e s e t e " r e g r a s " in t e r p r e t a t iv a s ra b ín i-
c a s (m id d o t ) é a t r ib u íd o a H ille l, o V e lh o ( in íc io d o p r im e ir o s é c u lo d .C .).
E s s a s r e g r a s fo r a m p o s t e r io r m e n t e e x p a n d id a s p a ra t re z e , p o r Is h m a e l
b e n E lis h a (fl. c a . 1 1 0 - 1 3 0 d .C .), e p a ra t r in t a e d o is , p o r E lie z e r b e n Jo s e
h a - G a lil ( f l. c a . 1 3 0 - 1 6 0 d .C .). U m a d a s m a is u t iliz a d a s fo i a s e g u n d a
re g ra d e H ille l, a n a lo g ia v e r b a l ou g e ze ra h shaw ah (lit., " le is s e m e lh a n
t e s " , " v e r e d it o s s e m e lh a n t e s " ) . O p r in c íp io é q u e , s e a m e s m a r e d a ç ã o
175
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
o c o r r e e m d u a s p a s s a g e n s , a p lic a m - s e a s m e s m a s c o n s id e r a ç õ e s e m
a m b o s o s c a s o s (s o b re a s re g ra s d e H ille l, v e ja E v a n s , 2 0 0 6 , p. 3 8 1 -3 8 2 ;
L o n g e n e c k e r, 1 9 7 5 , p. 3 3 -3 8 ).
E s s e p r in c íp io é u s a d o e m A to s 1 3 .3 4 ,3 5 , e m q u e d u a s p a s s a g e n s
q u e c o n t ê m a m e s m a p a la v r a " s a n t o " (Is 5 5 .3 ; SI 1 6 .1 0 ) s ã o m u tu a m e n t e
in t e r p r e ta d a s c o m o p r o m e s s a s b íb lic a s s o b re a r e s s u r re iç ã o d e Je su s. Em
H e b re u s 4.3Ò -5 , o S a lm o 9 5 .1 1 e G ê n e s is 2.2 s ã o re u n id o s p o rq u e s ã o
a s d u a s ú n ic a s p a s s a g e n s d o A T (na L X X ) q u e f a la m d o " d e s c a n s o " d e
D e u s. N o S a lm o 9 5 .1 1 , D e u s re fe re -s e a o S e u " d e s c a n s o [ k a t a p a u s in ] "
176
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
177
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
O s ra b in o s ju d e u s d o p r im e ir o e s e g u n d o s é c u lo s le v a n t a r a m u m a
q u e s tã o p r e o c u p a n t e s o b re o S a lm o 9 5 .1 1 . Q u a n d o D e u s ju ro u e m S u a
ira, " ja m a is e n t r a r ã o n o m e u d e s c a n s o " , E le e s t a v a d e c la r a n d o q u e a g e
ra ç ã o d o d e s e r t o n ã o t e r ia p a rte n o m u n d o v in d o u r o ?
O ra b in o A q ib a c o m p a r o u o S a lm o 9 5 .1 1 c o m N ú m e ro s 1 4 .3 5 e c o n
c lu iu q u e n ã o . O ra b in o E lie z e r b e n H y r c a n u s r e s p o n d e u q u e a ê n fa s e "e u
ju re i na m in h a ira " e ra c ru c ia l, p o r q u e D e u s m u d o u d e id e ia m a is ta rd e ,
d e p o is d e S u a ira t e r d im in u íd o (b . Sanh. 110b; t. S a n h . 1 3 .1 0 ; y. Sanh.
Estes são os dois únicos textos do AT em que Deus fala de Seu próprio
descanso: meu descanso (katapausin mou) no Salmo 95.11 (Hb 3.11; 4.3,5)
e Deus descansou (katepausen ho theos) em Gênesis 2.2 (Hb 4.4; mas veja
também Gn 2.3). Eles são candidatos perfeitos para a interpretação da analo
gia verbal {gezerah shawah). Ao comparar os dois textos, fica claro que ambos
devem estar falando do mesmo descanso: o descanso divino no sétimo dia. Ao
compará-los, fica claro que, embora alguns tenham perdido a promessa por
causa da incredulidade, o descanso de Deus foi estabelecido desde a fundação
do mundo. Portanto, a promessa de descanso tem validade contínua hoje.
fíf 6 -7 Os versículos 6-7 formam uma longa frase em grego. O versículo 6
resume o argumento até agora e faz a transição para mais um passo na exegese
do Salmo 95 em Hebreus 4.7. As palavras iniciais por isso, desde (epei oun\
NIV 11) marcam as funções de transição e causais do versículo 6 (a NVI deixa
178
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
epei [desde] sem tradução e empurra por isso [oun] para o início do v. 7). Dois
pontos resumem o argumento anterior:
Primeiro, resta [apoleipetai\ entrarem [eiselthein eis] alguns [tinas] na
quele descanso repete a proposição apresentada no início (observe a redação
semelhante em 4.1: “permanece [kataleipomenês (N V T )]”, “entrarmos [eisel
thein eis]” e “algum [mêpote... tis]”).
Em segundo lugar, aqueles a quem anteriorm ente as boas novas [euan-
gelisthentes] foram pregadas não entraram reafirma o ponto referido em 4.2
(-» euêngelismenoi). Que eles não entraram por causa da desobediência lem
bra a observação sobre a falta de fé daquela geração em A.2b (veja 3.12,19).
Mas agora o pregador muda para um tom ligeiramente diferente em 4.6 e 11
(desobediência, apeitheia), antecipado em 3.18 (-> anotação complementar a
seguir: “Encadeamento”).
Encadeamento
179
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
P a ra u m e s t u d o m a is a p ro fu n d a d o d a s t r a n s iç õ e s d e e n c a d e a m e n t o ,
v e ja L o n g e n e c k e r, 2 0 0 5 .
Por isso, desde que (N IV 11) a entrada para o descanso de Deus permane
ceu aberta, e os israelitas rebeldes não aproveitaram a oportunidade de entrar
(4.6). Assim, o pregador faz outra inferência do Salmo 95 em Hebreus 4.7. Ele
completou um argumento cronológico de Gênesis 2.2 (“a criação do mundo”
[Hb 4.3]; “o sétimo dia” [4.4]) desenhado em contraste com o final do salmo
(SI 95.11). Agora, em Hebreus 4.7, ele ordena outro argumento cronológico
por meio de uma comparação de Gênesis 2.2 com o início de sua citação do
salmo (Sl 95.7,8).
D eus estabelece outra vez um determ inado dia no salmo (Hb 4.7). O
ato de apontar para o dia pode ter sido sugerido pelo aparecimento da palavra
no Salmo 95.8b (-> Hb 3.7b,8). Mais a propósito é a conexão com Gênesis
2.2. O descanso de Deus foi estabelecido “no sétimo dia” (Hb 4.4 [ênfase
acrescentada]). Ainda, outra vez, Deus “designa” (ESV; estabelece) um dia,
hoje (.sêmeron). Essa declaração ocorreu por m eio de Davi no Salmo 95. Isso, é
claro, foi m uito tem po depois do que o estabelecimento do descanso de Deus
na fundação do mundo (Hb 4.3c).
Uma citação repetida do Salmo 95.7,8 é notada por com o que fora dito
antes. Isso se refere à citação de impulso em Hebreus 3.15 e à citação inicial em
3.7,8. Após os argumentos na segunda metade do midrash e essa citação repe
tida do salmo, agora está claro que, no Salmo 95.7,8, Deus está renovando Sua
oferta de descanso “nestes últimos dias” (Hb 1.2λ). A oportunidade é agora,
mas deve ser aproveitada antes que o “Dia” final se aproxime (10.25). E por
isso que o pregador exortou seus leitores em 3.13 a exortarem uns aos outros
“diariamente \kath ’hekastén hêmeran]” (“todos os dias” [NRSV]), “enquanto
for chamado hoje”, para que o coração de ninguém seja endurecido. A urgência
escatológica é transmitida no refrão do salmo: Se hoje vocês ouvirem a sua
voz, não endureçam o coração.
B 8 O pregador estabelece uma inferência cronológica de apoio (porque
[gar\). Observe suas referências a p osteriorm ente {meta tauta hêmeras-, lit.,
depois desses dias-, compare m uito tem po dep ois em 4.7) e outro dia {allês\
lit., outro; a palavra “dia” está implícita). Ele deve estar ciente da caracteriza
ção do AT do estabelecimento de Israel em Canaã como o cumprimento do
juramento de Deus para dar descanso ao povo (veja D t 25.19; 31.7; Js 1.13,15;
180
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
21.43; 22.4). Entretanto, se Josué lhes tivesse dado descanso [ou seja, o des
canso divino de Gn 2.2], D eu s não teria falado posteriorm ente a respeito
de outro dia (ou seja, o “hoje” de Sl 95.7d). Observe que Hebreus se refere a
Josué, e não a “Jesus” (KJV; os dois nomes têm a mesma forma em grego: Iê-
sous). O descanso sob Josué envolveu a cessação das hostilidades com as nações
circunvizinhas (Js 11.23; 21.44; 22.4; 23.1). Não é o descanso escatológico
que permanece aberto “hoje”, nem a participação no descanso da criação do
próprio Deus.
H 9 Esse versículo conclui os argumentos na segunda metade do midrash.
A declaração começa com ara (assim; “consequentemente” [NET]). Que o
descanso de Deus ainda “permanece \kataleipomenês-, N V T ]” (4.1) ou resta
(.apoleipetai) (4.6,9) agora foi estrategicamente reiterado no início, no meio e
na conclusão dos argumentos em 4.1 -11.
Contudo, em vez dos termos para “descanso” utilizados em 3.7—4.11 (ka-
tapauõ, katapausis), aqui encontramos a rara expressão descanso sabático. A
palavra sabbatismos ocorre nesse versículo pela primeira vez na literatura grega
sobrevivente. A noção de que Hebreus cunhou a palavra é improvável, uma vez
que sua única outra ocorrência na literatura não bíblica provavelmente indica
conhecimento independente do termo do judaísmo (Plutarco, Mor. 166a).
A palavra sabbatismos está relacionada com o verbo sabbatizõ (“guardar
o sábado”) da mesma forma que baptismos (“batismo”) está relacionado com
baptizõ (“batizar”; Johnson, 2006, p. 129). Denota não apenas o descanso sa
bático, mas também a “observância do Shabat” ou a “celebração do Shabat”. A
guarda do Shabat envolvia não apenas descanso do trabalho, mas também lou
vor e agradecimento ao Senhor (veja 2 Mac. 8.27; Jub. 50.8; L.A.B. 11.8; veja
Attridge, 1989, p. 130-131; Lane, 1991, p. 101-102; Koester, 2001, p. 272). O
uso do termo provavelmente foi sugerido por dois aspectos: primeiro, a refe
rência ao “sétimo dia” em Gênesis 2.2; e segundo, a bem conhecida justificação
teológica para a observância do sábado no próprio descanso de Deus da obra
da criação (Ex 20.11; 31.17), como confirma o versículo seguinte (4.10).
Os argumentos anteriores de 4.1-8 demonstram amplamente o caráter es
catológico desse descanso. O descanso sabático pertence à era vindoura, que
já amanheceu na revelação de Deus no Filho (veja 1.2a\ 2.5; 9.26), mas foi es
tabelecido na criação do mundo, com o descanso primordial de Deus (Gn 2.2).
Isso se encaixa bem com as concepções judaicas e cristãs do descanso sabático
antes e depois de Hebreus (-» Hb 4.1-13 Por trás do texto, anotação comple
mentar: “Descanso sabático e mundo vindouro”).
181
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
91 10 Uma clara alusão tanto a Gênesis 2.2 como ao Salmo 95.7,8 expli
ca o significado de “descanso sabático” em 4.9 (observe o p ois [gar]). Duas
questões-chave são importantes para a interpretação deste versículo: (1) O mo
mento da entrada no descanso; e (2) a natureza do descanso.
Mas primeiro deve-se notar que há alguns que tomam “aquele que entrou”
(ACF) como Cristo (Wiley, 1984, p. 134-136; deSilva, 2000a, p. 168; Attrid-
ge, 1989, p. 131-132 — os dois últimos apenas provisoriamente; veja a crítica
de Ellingworth [1993, p. 255-257]). A objeção mais séria a essa interpretação
é que, se “Jesus” fosse realmente o assunto da primeira parte desse versículo, o
autor podería ter tornado isso explícito.
Com relação ao momento, o tempo pretérito (aoristo) “entrou” (ARA,
ACF, ACR, ARIB, JFA, TB; ho eiselthõn, aquele que entra) é frequentemente
considerado um indicador de que os cristãos já experimentam o descanso divi
no, pelo menos em algum sentido (veja D. Guthrie, 1983, p. 115-116; Hagner,
1990, p. 72). Mas, como Bengel afirma (1877, 4:381), “o povo de Deus ainda
não descansou: portanto, eles ainda não entraram”. Isso está de acordo com o
enfoque escatológico dos argumentos anteriores, bem como com as exortações
para temer falhar (4.1), ficar aquém e esforçar-se para entrar no descanso de
Deus (no versículo seguinte, 4.11). E melhor, então, tomar o particípio aoristo
ho eiselthõn como proléptico ou futurista. Isso “envolve uma ‘transferência re
tórica’ de um evento futuro como se fosse passado” (Wallace, 1996, p. 564; veja
Zerwick, 1983, p. 84-85, §257).
Quanto à natureza do descanso, o pregador faz uma última inferência exe-
gética por meio de analogia verbal. Ele explica entrar no descanso de D eus
[lit., seu] do Salmo 95.11 por meio da frase [...] suas obras [...] descanso[«]
em Gênesis 2.2 (-» Hb 4.3b-5 anotação complementar: “Analogia verbal”). Ele
correlaciona qualquer um que, ao entrar no descanso de Deus, descansará das
suas obras, com o descanso de Deus de Suas próprias obras de criação (com o
D eus descansou das suas).
Perguntas cercam o que significa para o crente descansar das suas obras.
Como o texto lê literalmente obras (pl.), muitos concluíram apressadamente
que “nada podería ser mais paulino” (Taylor, 1967, p. 55; veja Jewett, 1981,
p. 64; e, surpreendentemente, Wright, 2004, p. 37). Clarke ainda oferece o
glossário “obras da lei” (1977, 3:711). Mas interpretar o descanso como uma
cessação do esforço próprio ou das “obras de justiça” (Carter, 1966, p. 66; Sted-
man, 1992, p. 58-59; Turner, 1975, p. 84) é totalmente estranho, não apenas
ao contexto imediato, mas também ao todo de Hebreus. Sendo assim, Hebreus
nunca coloca fé contra obras de justiça (Flagner, 1990, p. 72; Hagner, 2002,
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
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qualidade do “Deus vivo” de quem ela fala (3.12; 9.14; 10.31; 12.22). Portanto,
é a tiv a (energês), ou melhor, “poderosa” (BKJ, NVT; Johnson, 2006, p. 133;
compare “poderosa em ação” de Tyndale) ou eficaz (ACF, ARA,ARC,ARIB,
NAA, NVI, JFA, KJA; Lane, 1991, p. 103; “eficaz”, Calvino, 1976, p. 52). A
palavra não deixará de cumprir o propósito de Deus (Is 55.11).
A palavra de Deus é personificada como mais afiada que qualquer espa
da de dois gumes. Da mesma forma, em Sabedoria de Salomão 18.14-16, a
palavra todo-poderosa carrega uma espada afiada e mortífera. Uma espada de
dois gumes é aquela que tem d u a s bocas (distomos). A imagem da “boca da
espada” era muito antiga, como atestam as escavações arqueológicas na região
do norte da Síria ao noroeste do Irã. Espadas e machados de guerra descober
tos ali, datados do segundo e terceiro milênios a.C., têm punhos esculpidos
em forma de leão, de cuja boca sai a lâmina (Berman, 2002, p. 299-300, com
figuras na p. 303). Uma espada é como uma boca que pode lacerar a carne. A
imagem da espada de duas bocas referia-se ao poder da fala (Jz 3.16; Sl 149.6;
Pv 5.4; Sir. 21.3; Hb 4.12; Ap 1.16; 2.12; veja Berman, 2002, p. 301-302).
FFá intérpretes, antigos e modernos, que pensam que o logos nessa pas
sagem é o Verbo encarnado (veja Koester, 2001, p. 273). Mas a maioria dos
comentaristas concorda com Bengel, que contrapõe essa visão com brevidade
característica (1877, p. 382): “Pois Cristo, a Palavra hipostática, não é dito ser
uma espada, mas ter uma espada [...]; nem é chamado kritikos, judicial, mas
kritês,Juiz ’ (veja Ap 1.16; 2.12,16; 19.15,21; At 10.42; 2 Tm 4.8).
É difícil determinar se a palavra de Deus penetra ao ponto de dividir
“alma de espírito, juntas de medulas” (NRSV), ou se divide cada uma dessas
coisas, “a divisão da alma e do espírito, das juntas e medulas” (ACR). E possível
que alma e espírito, juntas e medulas reflitam a psicologia e fisiologia plato-
nistas (Johnson, 2006, p. 134; Proulx e Schõkel, 1973, p. 336-337; -> anotação
complementar a seguir: “Pensadores antigos dissecam a alma”). A divisão da
alma do espírito indicaria então a separação da alma superior, líder (espírito,
a alma racional) na cabeça da alma inferior no peito. Mais provavelmente, Ele-
breus está apontando simplesmente para a divisão do nosso eu interior em suas
partes componentes mais fundamentais.
O filó s o fo H e r á c lito , d o s e x t o s é c u lo , e n t e d ia d o c o m a s in t e r m in á v e is
p e r g u n ta s s o b re a a lm a e m s u a é p o c a , d e c la r o u : " N u n c a e x p lo r a r á os
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Juntas (harmõn) não é a palavra usual para articulações ósseas, mas para
qualquer tipo de conexão ou união. A palavra para m edulas (myelõn) apare
ce em algumas versões no singular. Para os platonistas, a morte é provocada
pela dissolução dos laços invisíveis que mantêm unida a estrutura elementar
da medula. Quando isso acontece, “a raiz da medula” (ou seja, o cérebro; Ti-
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
meu, o Lócrio 3.100) não está mais ancorada ao corpo por meio da medula
espinhal (Platão, Tim. 73d), e a alma voa para longe ( Tim. 8 ld; veja Timeu, o
Lócrio 3.102). É claro que Hebreus pode estar, metaforicamente, referindo-se
ao modo como a palavra de Deus pode penetrar no centro de nossa estrutura
humana, juntas e m edulas.
Independentemente da concepção de psicologia e fisiologia humanas que
está por trás desse versículo, é claro que a espada da palavra de Deus executa
julgamento no núcleo vital mais profundo da pessoa humana. Aqui a divisão
de componentes na pessoa humana não é para análise filosófica, mas para cum
prir a sentença divina.
A execução do julgamento divino atinge o centro da vida intelectual,
emocional e moral humana: o coração. A palavra de Deus julga ou discerne
[veja ACF, ARA, ARC, ARIB, BKJ, JFA, TB] os pensam entos \enthymêseõn\
[...] do coração, que pode ter a conotação emocional de “desejos” (NET) ou
“emoções” (NJB). Também julga intenções (ennoiõn) ou, mais precisamente,
“pensamentos” (NAB, NET, NJB) — isto é, a atividade racional de formular
conceitos ou idéias na mente (Spicq, 1953, 2:89; Proulx e Schõkel, 1973, p.
337). Nenhuma incredulidade, engano do pecado ou endurecimento do cora
ção (3.12,13) pode escapar do escrutínio crítico da palavra de Deus.
B 1 3 O pregador expressa enfaticamente a transparência de toda a criação
diante de Deus por meio de uma dupla negativa: N ada, em toda a criação
(ouk... ktisis·, lit., "não há criatura” [ACF, ARA, ARC, ARIB, BKJ, NAA, KJA,
TB]; “nenhuma coisa criada” [NJB]), está ocu lto (aphanés; lit., “não seja ma
nifesta” [BKJ, TB]; “invisível” [TYNDALE]). Isso é contrastado com uma
referência a tu d o sendo d escoberto [lit., “nu”, gymna] e exposto.
A expressão exposto tem sido objeto de várias interpretações. O particí-
pio grego tetrachêlismena é uma forma do verbo trachêlizein, que, por sua vez,
tem uma gama de significados relacionados ao pescoço (compare nossa palavra
“traqueia”; Johnson, 2006, p. 135). Formas do verbo aparecem no contexto
de luta livre, em que um oponente é colocado em uma chave de braço (Fílon,
Sonhos 2.34; Recompensas 29). No contexto do sacrifício, a palavra é usada para
dobrar o pescoço de um animal para expô-lo à lâmina sacrificial (Teofrasto,
Car. 27.5). Crisóstomo a entende como a imagem de uma vítima sendo cortada
para revelar todas as suas partes internas (1996, p. 398). As imagens sacrificiais
se encaixam melhor no interesse mais amplo de Fdebreus no ministério sacer
dotal, bem como na referência imediata a uma espada (Attridge, 1989, p. 136).
Também é possível que estejamos lidando com uma metáfora morta, já que
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A PARTIR DO TEXTO
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II. SUMO SACERDÓCIO SUPERIOR DEJESUS:
HEBREUS 4.14-10.18
Estes capítulos são fundamentais para a mensagem de Hebreus:
• 4.14—5.10 introduz o assunto do ministério sumo sacerdotal de Cris
to.
• 5.11—6.20 prepara os leitores para serem mais receptivos ao ensino
aprofundado a seguir.
• 7.1 — 10.18 oferece uma série de argumentos que demonstram a su
perioridade do ofício de Sumo Sacerdote de Cristo, Nova Aliança,
santuário celestial e sacrifício de uma vez por todas.
"u m g ra n d e s u m o s a c e rd o te "u m g ra n d e sa c e rd o te
[ a r c h ie r e a m e g a n ] " (v. 14) [ h ie r a m e g a n ] " (v. 21)
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NOVO COiMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
deque” — uma frase que enquadra 5.5-10 (v. 6 e 10) e antecipa a primeira série
de argumentos na seção central (cap. 7).
A segunda qualificação é também aplicada aos sumos sacerdotes comuns e
a Cristo de maneiras contrastantes. O contraste é antecipado em 4.15,16· Há
três questões importantes: (1) solidariedade com a condição humana daqueles
a quem o sumo sacerdote ministra; (2) a relação do sumo sacerdote com o pe
cado; e (3) os benefícios do ministério do sumo sacerdote.
Primeiro, a questão da solidariedade é prevista em 4.15a. A dupla negativa,
“não temos um sumo sacerdote que não possa \mêdynamenon\ compadecer-se
das nossas fraquezas”, sugere um contraste entre Cristo e os sacerdotes leví-
ticos, que é ampliado nos dois parágrafos seguintes. A capacidade de Cristo
de simpatizar-se com a fraqueza humana não é diminuída por Sua exaltação
celestial. Pelo contrário, Sua identificação com a humanidade (em contraste
com os sumos sacerdotes levíticos) é, ao mesmo tempo, mais profunda e total
mente triunfante sobre a fraqueza humana. Notavelmente, Hebreus não chega
a atribuir fraqueza diretamente a Cristo — facilitado pela dupla declaração
negativa em 4.15 e provavelmente para evitar associar Cristo com a falha moral
inerente à humanidade caída. Paradoxalmente, os sumos sacerdotes comuns
não são capazes de simpatizar de forma plena com aqueles que representam,
precisamente porque não podem transcender a fraqueza humana para fornecer
ajuda real. Eles são “assediados pela fraqueza” (5.2 ESV, NAB, NASB, REB;
veja 7.28).
Sendo assim, esse paradoxo se desdobra por meio da linguagem de habili
dade (dynamai) e emoção (cognatos de pathos, “paixão”) encontrada em cada
um dos três parágrafos. Cristo é capaz de compadecer-se (dynamenon sympa-
thêsai) com nossas fraquezas porque Ele foi testado de todas as maneiras como
nós (4.15). O sumo sacerdote comum só é capaz de moderar suas emoções
(metriopathein dynamenos') em relação a outros que têm as mesmas fraque
zas das quais ele mesmo não consegue livrar-se (-> sympatheõ e metriopatheõ
em 4.15 e 5.2). Cristo entrou mais profundamente na experiência humana na
medida em que passou pelo horror da morte. Sua compaixão não foi apenas
um sentimento de companheirismo, mas também uma participação real no
sofrimento humano. Ele “sofreu” a morte (epathen [5.8]; veja 2.9,10,18; 9.26).
Contudo, Ele o fez com a mais completa devoção a Deus, “àquele que o podia
salvar [ton dynamenon sõzein\ da morte” (5.7). A identificação com a mortali
dade humana e a vitória divina sobre ela são o que o qualifica como o supremo
Sumo Sacerdote (veja 2.14-18).
196
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
A segunda questão diz respeito à relação dos sumos sacerdotes com o pe
cado. A relação de Cristo com o pecado é expressa de forma sucinta: chõris
hamartias, “sem pecado” (4.15). Nessa passagem, nenhuma menção é feita à
morte expiatória de Cristo pelo pecado (veja 1.3; 2.17; 9.28; 10.12,18; 13.11).
Em vez disso, é feito um contraste entre os sumos sacerdotes levíticos que
“apresentam ofertas e sacrifícios pelos pecados” (5. \ b) e Cristo, que “oferece
orações e súplicas” (5.7). Uma deficiência crítica dos sumos sacerdotes comuns
é sua obrigação de oferecer sacrifícios pelos pecados, não apenas pelo povo, mas
por si mesmos (5.3). Em contraste, Jesus ofereceu toda a Sua vida em devoção
a Deus (5.7). Seu sofrimento envolvia obediência (5.8), o que torna possível
uma nova obediência entre Seu povo (5.9).
Finalmente, os benefícios do ministério do sumo sacerdote são observa
dos em 4.16. A abordagem confiante diante de Deus por parte de todos os
adoradores era impensável sob a antiga aliança. Nenhum benefício duradouro
é mencionado em relação aos sumos sacerdotes comuns em 5.1-4. Somente o
sumo sacerdote podia entrar no lugar santíssimo, e apenas uma vez por ano,
no Dia da Expiação (9.7,25). Mais tarde, o pregador argumentará que os sa
crifícios levíticos oferecidos dia após dia, ano após ano (9.25; 10.2,11), nunca
poderíam expiar definitivamente os pecados, ao contrário do sacrifício de uma
vez por todas de Cristo (9.12,26,28; 10.10). A “fraqueza” dos sumos sacerdo
tes comuns resultou na contínua ineficácia de seus sacrifícios, mas Cristo foi
“aperfeiçoado” quando se ofereceu como sacrifício definitivo (5.2,3,7-9; veja
7.27,28).
Essa passagem não aborda sobre a ineficácia dos sacrifícios sob a antiga
aliança. O argumento mais completo esboçado em nosso parágrafo anterior
(e desenvolvido posteriormente) está implícito no fato de que a fraqueza do
sumo sacerdote levítico o obrigou a oferecer sacrifícios por seus próprios peca
dos, bem como pelos do povo (5.3; veja 7.27; 9.7). Os benefícios do ministério
de Cristo são claramente superiores. O sumo sacerdócio de Cristo fornece
aos adoradores acesso ininterrupto à graça divina (observe o tempo presente,
“aproximemo-nos”) para ajuda oportuna (4.16) e “salvação eterna” (5.9).
NO TEXTO
197
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
A c o s m o lo g ia g r e c o - r o m a n a a n tig a p r e v ia u m u n iv e r s o g e o c ê n t r ic o
n o q u a l a T erra é c e r c a d a p o r s e t e e s f e r a s c e le s t e s , a lé m d a s q u a is há um
re in o d e e s t r e la s f ix a s (M a rtin , 1 9 8 7 , p. 7-9). O c é le b r e " S o n h o d e C ip iã o " ,
d e C íc e r o , n a rra u m a a s c e n s ã o p o r m e io d a s e s f e r a s a o " c é u " (S o b re a
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
H e k a l o t 4; v e ja A le x a n d e r , 1 9 8 3 , p. 2 3 9 ). M a s t a m b é m há n u m e r a ç õ e s
d ife r e n t e s d o s c é u s : d o is (b . H a g . 12 b ), tr ê s (1 E n . 1 4 .8 -2 5 ; T. L e v i 2 .7 -1 0 ;
M id r. T e h ilim 1 1 4 .2 ), c in c o (3 B a r. 1 1 .1 ), o ito (b. H a g . 1 3 a ), ou d e z (2 E n .
2 0 .3 ; 22 ). U m a t r a d iç ã o re g is tra q u e 9 5 5 c é u s fo ra m c r ia d o s a c im a d o s é
tim o c é u (3 E n . A 4 8 .1 ; M a s s e k e t H e k a l o t 7). E m q u a lq u e r c a s o , o c é u m a is
a lto é a lo c a liz a ç ã o d o t ro n o d e D e u s (2 E n . j la . 4 ; 2 0 .3 ; 4 E d . 8 .2 0 ,2 1 ; P.
E d . A 21; v e ja A p 4 .1 -1 0 ), t a b e r n á c u lo / te m p lo (2 B a r. 4 .5 ,6 ; O r. S ib . 5 .4 2 0 -
4 2 4 ; v e ja A p 7 .1 5 ; 1 1 .1 9 ; 1 5 .5 -8 ), ou o s a n to d o s s a n t o s (T L e v i 3.4).
H e b re u s n ã o te m in t e r e s s e e m d e s c r e v e r c u id a d o s a m e n t e a a s c e n
s ã o d e Je s u s p e lo s c é u s (v e ja A s . Is. 9 .1 3 -1 8 ; 1 1 .2 2 -3 3 ; B ru c e , 1 9 9 0 , p.
11 5; K o e s te r, 2 0 0 1 , p. 28 2 ); n e m fo r n e c e u m e s q u e m a c e le s t ia l d e t a lh a
do. N o e n ta n to , é p o s s ív e l d is c e r n ir tr ê s d is t in ç õ e s a r e s p e it o d o s " c é u s "
e m H e b re u s . (O a u to r p o d e c o m p a r t ilh a r a id e ia d e P a u lo d e trê s c é u s e m
2 C o 1 2 .2 -4 ; o b s e r v e o p a r a le lo e x t r a b íb lic o e m L u c ia n o , Icar. 1.)
P rim e iro , há o s c é u s t e m p o r á r io s q u e fa z e m p a rte d a s " c o is a s c r ia
d a s ” (1 2 .2 7 ; v e ja 1 .1 0 ). E le s s e r ã o " a b a la d o s " (1 2 .2 6 ) ou " p e r e c e r ã o " ,
p o is p o d e m d e s g a s t a r - s e o u s e r t r o c a d o s " c o m o v e s t im e n t a s " (1 .1 1 ,1 2 ).
S e g u n d o , há “ a c id a d e d o D e u s v iv o " , "a J e r u s a lé m c e le s t ia l" (1 2 .2 2 ;
v e ja 1 1 .1 0 ,1 6 ). É u m a " c id a d e p e r m a n e n t e " (1 3 .1 4 ) n o R e in o in a b a lá v e l
d e D e u s (1 2 .2 8 ). A q u i e s tá lo c a liz a d o o v e r d a d e ir o e c e le s t ia l " t a b e r n á c u lo
[s k ê n é ]" (8 .2 ,5 ; v e ja 9 .2 3 ). Q u a n d o Je s u s " a d e n t r o u o s c é u s [ d ie lé ly t h o t a
t o u s o u r a n o u s ] " (4.1 4; v e ja 8 .1 ), E le v e io " c o m o [ d ia ] " o " m a io r e m a is
p e r fe ito t a b e r n á c u lo [ s k ê n é ] , is to é, [...] n ã o p e r te n c e n t e a e s ta c r ia ç ã o
[ k t is is ] " (9 .1 1 ).
T e rce iro , Je su s, c o m o S u m o S a c e rd o te , e n tro u " p o r tr á s d o v é u "
(6 .1 9 ,2 0 ; v e ja 9.3; 1 0 .2 0 ) n o S a n to d o s S a n to s (ta h a g ia [9.1 2; v e ja 9 .2 5 ;
1 0 .1 9 ]). D e s s a fo rm a , " e le e n tro u [no] p ró p rio c é u [e/s a u t o n t o n o u r a -
n o n ] " na p r e s e n ç a d e D e u s (9 .2 4 ).
A s s im , J e s u s a v a n ç o u p o r m e io d o s c é u s d a p r e s e n t e c r ia ç ã o { k tis is ) ,
m e d ia n t e a t e n d a c e le s t ia l { s k ê n é ) , e n o S a n to d o s S a n to s {ta h a g ia ) . E le
fo i " e x a lt a d o a c im a d o s c é u s " (7 .2 6 ), n o " p r ó p r io c é u " (9 .2 4 ), "à d e s tr a
d a [d iv in a ] M a je s t a d e " (1.3; 8.1). (Para u m e s t u d o m a is a p ro fu n d a d o , v e ja
d e S ilv a 1 9 9 7 , p. 4 4 0 ; T ra u b e v o n R a d , 1 9 6 7 , p. 5 2 7 ,5 3 5 .)
199
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
“sentir sua dor”, mas para trazer-lhes apoio e assistência ativos (4 Mac. 4.25;
13.23; T. Sim. 3.6; T. Benj. 4.4; veja Lane, 1991, p. 108, n.c, 114).
Jesus é capaz de identificar-se com a luta humana contra o pecado por
que Ele mesmo foi tentado ou “testado” (ACF, ARA, ACR; “posto à prova”
[NJB]). O particípio pepeirasmenon é causai, como a NLT traduz: “Pois ele
enfrentou todos os mesmos testes” (grifo nosso). O particípio também está
no tempo perfeito. Isso indica que Jesus, tendo triunfado sobre a tentação, é
“tentado e testado” (Zerwick e Grosvenor, 1981, p. 662). O pregador descreve
o caráter do teste de Jesus em três frases nítidas, unidas por preposições gre
gas, começando com consoantes duras e guturais (Koester, 2001, p. 283): Por
todo tip o \katapanta], com o nós \kath ' homoiotêta\ — porém , sem pecado
(ichõris hamartias).
Jesus é qualificado de maneira singular para representar-nos porque par
ticipou das profundezas da experiência humana. A declaração do pregador
sobre a aplicabilidade universal (por to d o tip o) e semelhança (com o nós) do
teste de Jesus não pretende convidar a comparações com todos os estudos de
caso possíveis em tentação. O ponto não é que Jesus possa identificar-se com
qualquer situação particular e distinta (compare com 1 Co 10.13). O foco está
mais no teste que Jesus suportou — o sofrimento da morte — cuja natureza
e intensidade são aplicáveis a todos, sem exceção. A mortalidade é o fato mais
básico e inevitável da existência humana. A obediência de Jesus foi forjada no
crisol do sofrimento (5.8; veja 2.18). Ele “sofreu a morte por todos” (2.9,10).
Repetindo a proposição
H e b re u s 4 .1 4 - 1 6 re p e te c la r a m e n t e o s p o n t o s - c h a v e fe it o s na p r o p o
s iç ã o p a ra t o d o o s e r m ã o e n c o n t r a d o e m 2 .1 7 ,1 8 :
2.17,18 4.14-16
Je s u s " t e v e q u e s e t o r n a r s e m e Je su s, c o m o n ó s [k a t h ’ h o m o io t e -
lh a n te a [ h o m o iõ t h é n a i] " n ó s " e m ta ] , p a sso u p o r to d o tip o [ k a t a
t o d o s o s a s p e c to s [ k a t a p a n t a ] " p a n t a ] d e te n ta ç ã o (v. 15)
(v. 17)
E le " s o fr e u [p e p o n t h e n ] q u a n d o E le p ô d e (d y n a m e n o n ) c o m p a
t e n ta d o [ p e ir a s t h e is ] " , e n t ã o " e le d e c e r-se [s y m p a t h é s a i ] (v. 15 ) e
é c a p a z d e s o c o r r e r [ d y n a t a i. . . f o r n e c e r " a ju d a [b o é t h e i a n ]" (v.
b o é t h ê s a i ] a q u e le s q u e t a m b é m 16) p o r q u e E le fo i " t e n t a d o
e s t ã o s e n d o t e n ta d o s " (v. 18) [p e p e i r a s m e n o n ]" (v. 15)
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
7.25; 10.1,22; 12.18,22; veja 11.6). Aqui está no tempo presente, destacado o
acesso contínuo: A proxim em o-nos repetidamente do trono da graça (Lane,
1991,p. 115).
Tal acesso íntimo, imediato e contínuo a Deus por intermédio de Jesus
nunca foi possível antes, nem mesmo para sumos sacerdotes sob a antiga alian
ça (veja 9.7,8). As primeiras palavras bíblicas de Jesus citadas em Hebreus
(2.12) mostram Jesus conduzindo Seus irmãos e irmãs em louvor a Deus “na
assembléia” (OL, VC; compare “reunir-nos” [10.25]). Os crentes podem
aproximar-se — por intermédio de Jesus (7.25; 13.15) — diante do trono
da graça. O sacrifício de Cristo de si mesmo por nossos pecados proporciona
acesso diante de Deus no lugar santíssimo (10.19,22; veja 9.12) e participação
na adoração celestial (12.22-24,28).
A sede da “majestade divina” (8.1 BSC,VC; veja 1.3; 12.2) e governo justo
(1.8), de onde procede o julgamento de Deus contra o pecado (4.12,13; 6.2;
9.27; 10.27,30; 12.23; 13.4), é para os crentes o trono da graça. A morte sa
crificial de Cristo para remover (9.26,28; 10.4,11) ou purgar (1.3; 9.14,22,23;
10.2,22) pecados e santificar Seu povo (2.11; 10.10,14,29; 13.12) foi iniciada
“pela graça de Deus” (2.9).
Em vez de desviarmo-nos ou nos afastarmo-nos do Deus vivo (3.12;
10.38,39), por intermédio de Cristo, podemos aproximar-nos de Deus com
confiança. “Ousadia \parrêsia\’ (HCSB, NRSV) era o privilégio cívico de to
dos os cidadãos nascidos livres de falar abertamente em assembléia pública. No
judaísmo helenístico, esse direito era apropriado dentro do contexto religioso
de pessoas justas que se dirigiam a Deus em oração (Josefo, Ant. 2.52; 5.38;
Fílon, Herdeiro 5, 91-92; Attridge, 1989, p. 142; Lane, 1991, p. 115-116; veja
Ef 3.12; l j o 5.14,15).
Essa confiança permite que os crentes recebam m isericórdia e encontrem
graça. A terna m isericórdia de Deus (Hb 2.17) e a graça fortalecedora (13.9)
são estendidas a nós em nosso m om en to da necessidade. A frase final diz lite
ralmente “auxílio oportuno” (VC; veja REB). O auxílio divino está disponível
“sempre que precisamos de ajuda” (NTLH). Hebreus 2.18 aponta o momento
certo para Jesus “ajudar”: quando somos “tentados”, porque Ele também “so
freu quando foi tentado” (Attridge, 1989, p. 142).
texto para 1.1-4). Ele é fechado por referências semelhantes ao sumo sacerdó
cio como uma vocação divina:
• T odo sum o sacerdote é escolh id o \lambanomenos\ dentre os h o
m ens e designado [...] em questões relacionadas com D eus (5.1).
• N inguém tom a \lambanei\ esta honra para si; ele [...] [é] chamado
por D eu s (5.4).
1 1 O pregador começa com praticamente uma definição de dicionário de
sum o sacerdote (Hagner, 1990, p. 79). T odo sum o sacerdote é escolh id o ou
designado por Deus como intermediário entre Deus e os seres humanos. Um
sumo sacerdote é escolhido dentre os hom ens para que possa representar os
homens (para representá-los; compare com 5.3). Ele representa as pessoas em
questões relacionadas com D eus, uma frase usada em 2.17 do serviço de um
sacerdote ao oferecer sacrifícios diante de Deus.
Uma cláusula de propósito define a função de um sumo sacerdote: Apre
sentar ofertas e sacrifícios p elos pecados. O verbo apresentar {prospherõ;
[oferecer, ARA]) é frequentemente usado na LXX e no N T em contextos de
sacrifício. A estrutura gramatical dos pares de ofertas e sacrifícios (dõra te kai
thysias, “tanto dons como sacrifícios” [ARA, BKJ, TB]) pode indicar dois ti
pos diferentes de ofertas. O fertas podem ser oferendas de farinha ou cereais,
enquanto sacrifícios são oferendas de sangue (ex.: D. Guthrie, 1983, p. 125;
Lane, 1991, p. 116; Wiley, 1984, p. 155). Fílon fornece uma explicação me
lhor quando distingue entre os “sacrifícios” de Caim e os “presentes” de Abel
em Gênesis 4.4,5. Um sacrifício é quando alguém mata um animal, derrama
0 sangue ao redor do altar e leva a carne para casa. Um presente é oferecido
integralmente a quem o recebe (QG 1.62).
A mesma frase (ofertas e sacrifícios) ocorre mais duas vezes (Hb 8.3; 9.9)
como uma expressão abrangente para os deveres sacrificais do sumo sacerdote.
Se uma distinção é pretendida entre ofertas e sacrifícios em Hebreus, pode
ser uma distinção sem diferença. Hebreus 11.4 usa os dois termos de forma
intercambiável. Ao discutir o ministério sacrificial do sacerdócio levítico, o pre
gador quase exclusivamente tem em mente as ofertas pelo pecado apresentadas
diariamente (7.27; 10.11) ou no Dia da Expiação (9.25; 10.1,3). Quaisquer
que fossem as ofertas e sacrifícios, eles eram oferecidos pelos pecados.
1 2 No versículo 2a, uma qualidade positiva de sumos sacerdotes comuns
é apresentada, mas é fortemente contrabalançada pela consideração de sua
fraqueza nos versículos 2b e 3. Um sumo sacerdote comum é capaz de lidar
gentilmente com as pessoas que representa. Embora essa seja uma qualidade
positiva, há um contraste entre lidar gentilmente aqui e “simpatizar” em 4.15.
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
queza” (v. 2), ele precisa oferecer sacrifícios por seus próprios pecados, bem
com o pelos pecados do povo. Ele precisa ou “é obrigado \opheileí\” (ESV,
LEB, NASB, NET; veja 2.17) a fazê-lo por causa de sua enfermidade inerente,
bem como por necessidade legal (7.27,28).
O texto grego correlaciona estreitamente os pecados do sumo sacerdote e
do povo por meio da repetição da preposição por /assim {pert), bem como por
meio da construção correlativa (lit.): assim como para o povo [peri tou laou\,
assim tam bém para si mesmo [peri autou\, para oferecer sacrifícios pelos p e
cados (peri hamartiõn). Assim, o pregador expressa enfaticamente que tanto o
sumo sacerdote quanto o povo são igualmente suscetíveis à contaminação do
pecado. Que os sumos sacerdotes comuns não podem transcender as deficiên
cias daqueles a quem ministram será explorado mais tarde como uma distinção
fundamental entre seu sumo sacerdócio e o de Cristo sem pecado (7.26; veja
4.15). Eles devem oferecer sacrifícios, mesmo por seus próprios pecados, repe
tidamente; Cristo oferece a si mesmo, sem mácula, de uma vez por todas, para
remover os pecados (7.27,28; 9.7, 12; 10.10-12).
B 4 Esse parágrafo termina onde começou (5.1), com uma afirmação da de
signação divina do sumo sacerdote levítico. N in gu ém tom a esta honra para si
m esm o. O termo honra {time) era comumente utilizado para um cargo ou po
sição de autoridade (veja, Attridge, 1989, p. 144-145). Josefo frequentemente
refere-se ao cargo de sumo sacerdote como uma honra. De fato, é “a mais alta
de todas as honras” {G.J. 4.149; veja 4.164; Koester, 2001, p. 287).
Nenhum homem tom a {lambaneí) essa posição estimada para si mesmo,
pois todo sumo sacerdote “é escolhido \lambanomenos\’ (5.1) por Deus. Mas
[alia] deve ser cham ado por D eu s, com o de fato o foi Arão. A ordenação
divina de A rão e a sucessão hereditária de seu ofício são fatos inquestionáveis
sobre o sumo sacerdócio no AT (Êx 28.1; Lv 8.1; Nm 3.10; 17.1-11; 18.1-8;
veja Sir. 45.6,7a; Josefo, Ant. 3.188,190; 20.224; Hb 7.6,16).
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
lação divina nas Escrituras foi apresentada em uma cadeia de citações bíblicas
em 1.5-13, começando com o Salmo 2.7 (Hb 1.5a) e terminando com Salmo
110.1 (Hb 1.13). Agora, o Deus que falou é citado novamente, a partir do Sal
mo 2.7 (Hb 5.5b) e do Salmo 110.4 (Hb 5.6b).
As duas citações dos salmos reúnem as ênfases gêmeas da cristologia de He-
breus: Jesus como Filho de Deus e Sumo Sacerdote. Embora conceitualmente
presentes anteriormente (1.2,3; 2.6,11; 3.1,6), os dois títulos são emparelhados
explicitamente pela primeira vez no presente contexto (4.14; 5.5,6; veja 7.1-3;
7.26—8.1; 10.29). O Salmo 2.7 é a declaração de Deus sobre Jesus como o
Filho: Tu és m eu Filho; eu hoje te gerei (Hb 5.5b). Esse é um texto messiâ
nico (-» 1.5) que, de acordo com sua função régia no antigo Israel, constitui a
coroação divina de Cristo como o herdeiro real do trono de Deus (daí, 1.3,13;
8 . 1; 10 . 12 ; 12 . 2 ).
O salmo 110.4, ao contrário do primeiro versículo do mesmo salmo citado
em Hebreus 1.13 (veja Mt 22.44; Mc 12.36; Lc 20.42; At 2.34), não era uma
ocorrência comum na formulação cristológica inicial. Mas o Salmo 110.1,4 é,
sem dúvida, a raiz principal da cristologia de Hebreus (-> Hb 1.13 anotação
complementar: “Salmo 110 em Hebreus”). A citação do Salmo 110.4 antecipa
a comparação única entre Cristo e Melquisedeque, que o autor reserva até o
capítulo 7 (veja 5.10,11; 6.20).
Tu és sacerdote para sempre estabelece o sacerdócio de Cristo em perpe-
tuidade, um tema crucial para o argumento do pregador (7.3,16,17,21,24,28).
A frase segundo a ordem de M elquisedeque atua como um inclusio para esse
parágrafo (5.6£,10).
A frase segundo a ordem de podería apontar para uma “sucessão ou or
dem fixa” de sacerdotes (veja Lc 1.8; T. Naf. 2.8; Johnson, 2006, p. 144-145).
Isso é improvável por dois motivos. Em primeiro lugar, Melquisedeque não
é o exemplo do sacerdócio final de Cristo, mas vice-versa. Em 7.3, é Melqui
sedeque que foi feito “semelhante ao Filho de Deus”, e não o contrário. Em
segundo, a natureza perpétua do sacerdócio de Cristo exclui qualquer linha de
sucessores (uma distinção crítica com o sacerdócio levítico [7.23,24]). Em vez
disso, segundo a ordem de transmite a ideia de similaridade ou semelhança:
“Exatamente como Melquisedeque” (BDAG, p. 989; compare “à semelhança
de Melquisedeque” [7.15 ACF]; veja Ellingworth 1993, p. 283-284; Isaacs,
2002, p. 75).
§§ 7 Esse versículo continua a frase periódica que começou em -» 5.5. A NYI
dividiu essa frase para facilitar a leitura. A discussão volta-se para a identifica
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
U m t e m a - c h a v e na in t e r p r e ta ç ã o d e 5 .7 -1 0 é a q u e s tã o d e id e n t i
f ic a r s u a fo n te lit e rá r ia ou h is tó r ic a . Q u a tro p r o p o s t a s p r in c ip a is fo ra m
a p re s e n ta d a s : u m a fo n te g n ó s tic a , u m h in o c r is tã o p r im itiv o , t e x t o s d o AT
( g e r a lm e n t e d o s S a lm o s ) ou a t r a d iç ã o e v a n g é lic a . A s d u a s p r im e ir a s o p
ç õ e s o b t iv e r a m p o u c o a p o io e n tre o s c o m e n t a r is t a s . S e n d o a s s im , n ã o há
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
c o n s e n s o a re s p e ito d o g ra u e m q u e H e b re u s s e a p ro p ria d o m a t e r ia l d o
A T o u d o e v a n g e lh o (v e ja A t t r id g e , 1 9 8 9 , p. 1 4 7 -1 4 8 ; E llin g w o rth , 1 9 9 3 ,
p. 2 8 4 -2 8 5 ).
A m a io r ia d o s c o m e n t a r is t a s ( m e s m o e n tre o s a n tig o s ; v e ja H e e n e
K re y , 2 0 0 5 , p. 7 2 -7 4 ) t e n to u d a r s e n t id o a e s s a p a s s a g e m c o n tra o p a n o
d e fu n d o d o s re la to s s in ó tic o s d a a g o n ia d e C r is to n o G e t s ê m a n i (ex.:
L ü n e m a n n , 1 8 9 0 , p. 5 0 8 ; H u g h e s , 1 9 7 7 , p. 1 8 2; K is te m a k e r, 1 9 8 4 ). No
e n ta n to , há m u ito s e r e c o n h e c e q u e a lin g u a g e m d e H e b re u s é d ifíc il d e
c o n c ilia r c o m o s re la to s s in ó tic o s . C r is ó s to m o , p o r e x e m p lo , o b s e rv o u q u e
o s E v a n g e lh o s , e m p a rte a lg u m a , fa la m d e J e s u s o ra n d o c o m " a lto s c la
m o re s e lá g r im a s " ( H e e n e K re y , 2 0 0 5 , p. 72 ). I n te rp re ta ç õ e s e s t r a n h a s
s u r g ir a m d a s t e n t a t iv a s d e h a r m o n iz a r e s s a p a s s a g e m c o m a s n a r r a t iv a s
d o G e t s ê m a n i (ex.: a v is ã o d e H a rn a c k , -» 5.7). E s ta s g e r a lm e n t e s e re la
c io n a m c o m a fo r m a c o m o a o r a ç ã o d e Je s u s p o r lib e r ta ç ã o (M c 1 4 .3 6 ||)
fo i " o u v id a " (H b 5.7; v e ja B ru c e , 1 9 9 0 , p. 1 2 7 -1 3 0 ; H a g n e r, 1 9 9 0 , p. 84).
P o rta n to , m u ito s in t é r p r e te s a fir m a m q u e e s s a p a s s a g e m é u m a "r e m in is -
c ê n c ia h is tó r ic a " (D. G u th r ie , 1 9 8 3 , p. 1 2 8 ) b a s e a d a na t r a d iç ã o o ra l s o b re
a o r a ç ã o d e J e s u s n o G e t s ê m a n i, d e s a s s o c ia d a d o s E v a n g e lh o s c a n ô n ic o s
( H a g n e r, 1 9 9 0 , p. 81; H a g n e r, 2 0 0 2 , p. 84; Jo h n s o n , 2 0 0 6 , p. 14 5; W h e -
d o n , 1 8 8 0 , 5:73 ; v e ja A t t r id g e , 1 9 8 9 , p. 1 4 9 , n. 1 4 7 ).
V á rio s c o m e n t a r is t a s r e c e n t e s p r e fe re m in t e r p r e ta r e s s a p a s s a g e m
e m a s s o c ia ç ã o c o m a s v o z e s d o s ju s t o s s o fr e d o re s e n c o n t r a d o s n o s S a l
m o s (v e ja A t t r id g e , 1 9 8 9 , p. 14 9 ; Is a a cs , 2 0 0 2 , p. 7 6 -7 7 ; K o e s te r, 2 0 0 1 , p.
1 0 7 -1 0 8 ; L a n e , 1 9 9 1 , p. 1 2 0; T h o m p s o n , 2 0 0 8 , p. 1 1 0 -1 1 1 ). M a s n ã o há
a c o r d o s o b re q u a l s a lm o fo rm a o p a n o d e fu n d o . S a lm o s 22; 3 1 .2 3 ; 3 9 .1 3 ;
1 1 6 , o u u m re tra to c o m p o s t o d o S a lté rio , fo ra m p r o p o s to s c o m o fo n te d e
in s p ir a ç ã o d e H e b re u s .
T a lv e z n ã o se ja n e c e s s á r io e s c o lh e r e n tre u m a o rig e m na t r a d iç ã o d o
G e t s ê m a n i o u n o s S a lm o s . G . G u th r ie s u g e re q u e e s s a p a s s a g e m p o d e s e r
m a is b e m e n t e n d id a c o m o u m a " r e fle x ã o s o b re a e x p e r iê n c ia d e J e s u s no
G e t s ê m a n i [...] à lu z d a a p r o p r ia ç ã o c r is tã p r im it iv a d o m a t e r ia l d o s a lm o
d o ju s t o s o fr e d o r " ( 1 9 9 8 , p. 1 9 0 ). A fin a l, é o p a d r ã o d e H e b re u s a r t ic u la r
o s ig n ific a d o d e J e s u s p o r m e io d e u m a c o n s id e r a ç ã o ta n t o d o k e r ig m a
c r is tã o c o m o d a v o z d iv in a n a s E s c r it u r a s d o AT.
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das orações de libertação da morte, não foi uma oração injusta, mas humana,
como atestam os relatos sinóticos (Mt 26.39,42; Mc 14.36; Lc 22.42). No en
tanto, o foco do pregador não é tanto no conteúdo das orações, mas, sim, na
agonia envolvida em Jesus ao oferecê-las a Deus. O tempo de Jesus na terra
o preparou para relacionar-se emocionalmente com todos os que sofrem por
causa de sua escolha de uma vida de fé e obediência a Deus.
As orações e petições de Jesus não eram demandas desesperadas, mas pe
didos de ajuda oferecidos em completa confiança em Deus (2.13^) e rendição
à vontade de Deus (10.5-10). Encontramos isso na oração de Jesus no Get-
sêmani: “Não seja feita a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42 11Mt 26.42; Mc
14.36; vejajo 12.27; 14.31).
Jesus sendo ouvido, isto é, suas orações foram respondidas (veja Sl 6.9;
18.6; 28.6; 31.22; 40.1; 66.19,20; 116.1; lRs 9.3; 2 Rs 19.20; Lc 1.13; At
10.31; 1 Jo 5.14,15). Porque Jesus claramente morreu, os estudiosos têm lu
tado com a aparente contradição entre o clamor de Jesus por libertação e a
afirmação de que Ele fo i ouvido. Adolf von Harnack ofereceu a conjectura
injustificada de que há uma corrupção textual aqui, sugerindo que a palavra
“não” seja inserida antes de ser ouvido (veja Ellingworth, 1993, p. 289; Gray,
2003, p. 189-190).
A aparente discrepância se dissolve quando reconhecemos a perspectiva
retrospectiva e de longo alcance de Hebreus. Naturalmente, a oferta de ora
ção de Jesus foi aceita por Deus, embora a decisão de Jesus de fazer a vontade
de Deus tenha resultado em Sua própria morte. Sua morte quebrou o poder
daquele “que tem o poder da morte” (Hb 2.14). Ele ressuscitou dos mortos
(13.20). Porque Ele suportou a cruz, Ele recebeu alegria e exaltação à destra de
Deus (12.2; veja 1.3,13) como o grande Sumo Sacerdote (4.14; 5.5,6,10; 6.20;
7.26; 8.1).
Jesus foi ouvido por causa da sua reverente subm issão. A palavra eu-
labeia denota lidar com o transcendente ou divino com extrema cautela ou
respeito — daí, “reverência, temor de Deus” (BDAG, p. 407; “temor piedoso”
[NKJV, RSV; veja KJV]; “reverência” [ARIB, JFA, NAA, TB]). A conotação
adicional de “humilde submissão” (NEB) ou “devoção” (Balz, 1991^, p. 79;
Mundle, 1979, p. 91; NVT, CEB, GW, NET; “piedade” [ARA, VC]) pode ser
reforçada pela declaração do próximo versículo sobre a obediência de Cristo
(5.8). A NVI combina corretamente tanto temor piedoso quanto submissão
humilde em sua tradução reverente subm issão (também KJA). Jesus exibiu a
mesma disposição de “reverência” que Seu povo deveria ter em sua adoração a
Deus (12.28).
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A PARTIR DO TEXTO
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Imagens culturais
A g r ic u lt u r a te r r a q u e p r o d u z b o a s 6 .7 ,8 ; 1 2 .1 1
c o lh e it a s ou e s p in h o s e
c a rd o s ; c o lh e it a
A t le t is m o t r e in a m e n t o 5 .1 4 ; 6 .2 0 ; 1 0 .3 2 ;
(g eg ym nasm ena ); Je su s, 1 2 .1 - 4 ,1 2 ,1 3
o " p r e c u r s o r " (A C F); "u m
g ra n d e c o n cu rso ";
c o r r e n d o u m a c o rr id a
C o n s tr u ç ã o c o n s t r u in d o u m a c a s a ; 3.4; 6.1
" s e m la n ç a r n o v a m e n te o
fu n d a m e n to "
N e g ó c io s / c o m é r c io " p a r c e ir o s " (N R S V ); 3 .1 4 ; 6.6; 1 0 .3 4 ;
"b e n s"; "re c o m p e n sa d o r 1 1 .6 ,2 6 ; 1 3 .1 7
[m is t h a p o d o t é s ]" (KJV;
lit., " p a g a d o r d e s a lá rio ");
"re c o m p e n sa "; "d a r um a
c o n ta " ; " n ã o s e r ia ú til"
(A C F)
220
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
L e is d is c u s s ã o d e ju r a m e n t o s 6 .1 3 -1 7 ; -* 6 .1 3 -
2 0 a n o ta ç ã o
c o m p le m e n t a r
"Ja rg ã o ju r íd ic o e m
H e b re u s "
M e d ic in a lu x a ç ã o / c ic a t r iz a ç ã o d e 1 2 .1 3
u m a a r t ic u la ç ã o
N avegação n a v io s e m o p o rto ; e s p e 2.1; 6 .1 9
ra n ç a c o m o u m a â n c o r a
T e m p lo / s a c e r d o te "o s a n t u á r io in t e r io r 6 .1 9 ,2 0 ;
p o r t r á s d o v é u " ; Je su s, c a p . 7 — 10
o " s u m o s a c e r d o te " ;
t a b e r n á c u lo , s a c e r d ó c io e
s a c r if íc io s
221
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
NO TEXTO
1 1 O pregador reprova seus leitores por sua desatenção. Temos muito que
dizer é uma observação convencional usada por escritores antigos para chamar
222
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
atenção para a importância do que estão dizendo (veja Lane, 1991, p. 299;
Johnson, 2006, p. 154). No final, ele não terá tempo para transmitir tudo o
que tem a dizer (veja 11.32), pois sua “palavra de exortação” teve de ser escrita
“resumidamente” (13.22 ARA).
A expressão quanto a isso é gramaticalmente ambígua. Se for masculino,
isso se refere a Melquisedeque, mencionado em 5.10 (Peshitta; REB; Calvino,
1976, p. 67; Whedon, 1880, 5:74; Bruce, 1990, p. 133), ou a “Cristo”, o assun
to da longa sentença em 5.5-10 (Johnson, 2006, p. 154). Mas, se o pronome
for neutro, a frase refere-se à “concepção total” de Cristo como um sumo sa
cerdote como Melquisedeque (Lünemann, 1890, p. 513-514; por exemplo, “a
esse respeito” [NET]; “sobre este assunto” [NJB]; veja Attridge, 1989, p. 156;
Lane, 1991, p. 135; Ellingworth, 1993, p. 299; Koester, 2001, p. 300).
O assunto que será abordado em 7.1 — 10.18 é difícil de explicar; ou “é
difícil deixar claro” (NIV1'). O adjetivo dysermêneutos foi utilizado para assun
tos difíceis de descrever, como sonhos (Artemidoro, Onir. 3.66), cores exóticas
(Diodoro Sículo, Bib. 2.52.5), a beleza inexprimível das idéias arquetípicas
perceptíveis apenas pela mente (Fílon, Sonhos 1.188), a criação do mundo e o
descanso divino (Orígenes, Cels. 5.59; veja BDAG, p. 265; Koester, 2001, p.
300). Essa escolha de palavras pode ter sido calculada para preparar os ouvin
tes originais (e leitores modernos) para o ensino elevado e complexo na seção
central do sermão. Mas a maior dificuldade não era o assunto, mas a falta de
resposta dos leitores; Porque vocês se tornaram lentos para aprender.
A expressão (lit.) “preguiços em ouvir \nõthroi... tais akoais]” (NAA, OL,
LEB, NAB, NET) era usada por escritores antigos para a falta de alerta mental
(veja Attridge, 1989, n. 25). Fílon escreve sobre pessoas cujas mentes estão tão
distraídas que um falante deve dirigir-se a elas não como seres humanos, mas
como “estátuas sem vida que têm ouvidos, mas nenhuma audição (akoai\ nes
ses ouvidos” (Herdeiro 12; veja Koester, 2001, p. 300-301).
Dados o contexto e a repetição do termo nõthroi em 6.12, o problema
era mais profundo do que a acuidade mental deficiente. Ser “duro de ouvir”
(BDAG, p. 683) não pode ser separado do perigo de um coração endurecido
(veja 3.7,15; 4.7). O público já foi advertido a evitar repetir o exemplo da gera
ção do deserto. A “mensagem que eles ouviram” não os beneficiou, porque eles
não compartilharam a fé “por aqueles que a ouviram” (4.2).
Em notável contraste, em 5.7-9, Jesus “foi ouvido por causa de Sua reveren
te submissão”. Ele aprendeu a “obedecer \hypakoên\” por meio do sofrimento.
Consequentemente, foi aperfeiçoado como “a fonte de eterna salvação para
todos os que lhe obedecem” (tois hypakouousin, “aqueles que atendem a Ele”).
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d a Id a d e M é d ia . A e d u c a ç ã o g e ra l fo i c o n s id e r a d a a b a s e p a ra a e d u c a ç ã o
s u p e r io r e m " q u e s t õ e s m a is d if íc e is " (E p ite to , D ia t r . 1 .2 6 .3 ).
O e n s in o s u p e r io r e n tre o s g r e g o s in c lu ía filo s o fia , h is tó r ia e re tó ric a .
A f ilo s o fia a b r a n g ia u m c u r r íc u lo a m p lo s o b a s r u b r ic a s d e ló g ic a , fís ic a
e é t ic a (Lo n g , 1 9 7 4 , p. 1 1 8 -1 2 1 ). O e n s in o s u p e r io r e ra g e r a lm e n t e re
a liz a d o n o s g r a n d e s c e n t r o s d e e n s in o . A t e n a s , P é rg a m o e R o d e s e ra m
fa m o s a s p e la filo s o f ia e p e la re tó ric a ; C o s , P é rg a m o e É fe so , p e la m e d i
c in a ; e A le x a n d r ia , p e la g a m a d e e s t u d o s a v a n ç a d o s . C o m o o s r o m a n o s
c o n s id e r a v a m a h is tó r ia m a is b á s ic a e a filo s o f ia s u s p e it a , e le s r e s tr in g ia m
o s e s t u d o s s u p e r io r e s à re tó ric a . (Para u m e s t u d o m a is a p ro fu n d a d o , v e ja
M a rro u , 1 9 6 4 , p. 1 3 7 -2 9 5 ; D e w a ld , 1 9 8 8 , p. 1 0 9 7 -1 1 0 2 ; W o o te n , 1 9 8 8 , p.
1 1 0 9 -1 1 2 0 ; B e c k e T h o m a s , 1 9 9 6 ; T h o m p s o n , 2 0 0 8 , p. 1 2 1 .)
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A expressão não tem exp eriên cia (apeiros) é usada para jovens ou
iniciantes que não têm conhecimento ou habilidade por falta de estudo,
experiência ou prática (LSJ, 184; BDAG, p. 100; veja SS 13.18; Fílon,
Agricultura 160; Josefo, Ant. 7.336; 8.374). Eles são (lit.) ‘‘não testados”
(compare Jesus, que foi testado [2.18; 4.15]). Nessa passagem, é melhor
traduzir a palavra como não qualificado (ESV, NRSV; “inábil” [KJV];
“inexperiente” [ARA, ARIB, BKJ, JFA, NAA, TB; veja GW, NAB]; “inex-
perto” [TYNDALE]). Um uso paralelo ao que encontramos aqui está em
Números 14.23 LXX, que se refere aos “jovens inexperientes” que “não co
nhecem bem nem mal”.
A interpretação da frase n o en sin o da ju stiça é muito debatida (veja
Ellingworth, 1993, p. 306-307). E pouco provável que indique a incapa
cidade de uma criança para a fala correta e articulada (Delitzsch e Weiss,
observado em Hughes, 1977, p. 191). E é duvidoso que a frase seja uma
cifra para a doutrina da justificação pela fé — que Cristo é nossa justiça,
em oposição à justiça própria ou das obras (Clarke, 1977, 3:722; Hughes,
1977, p. 191; Wiley, 1984, p. 176). Isso impõe claramente uma interpreta
ção da teologia de Paulo em Hebreus; e é inadequado para o impulso ético
do presente contexto (veja 5.14; 6.10).
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95-96; Lane, 1991, p. 140; France, 2006, p. 86). Contudo, em Hebreus, as pro
visões e os rituais sob a antiga aliança são “fracos e inúteis” (7.18; veja 10.3,4).
Eles estão obsoletos, envelhecendo e logo desaparecerão (8.13). Porém, eles
devem ser descartados porque não são benéficos (13.9), não se arrependem
porque são pecaminosos ou mortíferos em si mesmos.
Outros veem “obras mortas” como uma referência à idolatria, uma vez
que são colocadas em oposição à fé e à adoração a Deus (6.1; 9.14; veja deSil-
va, 2000a, p. 216; Thompson, 2008, p. 133). Mas a única outra ocorrência da
frase “obras mortas” (9.14 [ACF, AR, ARC, ARIB, BKJ, JFA, NAA, NVT,
TB]) não pode ser uma referência a obras da Lei ou atos cúlticos (seja judaico
ou pagão). Paralelamente à purificação da consciência das “obras mortas” está
a purificação da consciência dos “pecados” (10.2). Além disso, a expressão se
encaixa bem dentro da doutrina judaico-cristã “Dois Caminhos” (veja Bruce,
1990, p. 140; Ellingworth, 1993, p. 314). O caminho que leva à morte envol
ve pecados ou atos que conduzem à m orte. O caminho que conduz à vida é
marcado por “boas obras” (10.24 [ACF, ARA, ACr, ARIB, BKJ, JFA, KJA,
NAA, NVT, TB]; veja 13.21), que evidenciam a diligência e a perseverança em
herdar as promessas de Deus (6.9-12; 10.24,25,32-34).
O apelo cristão para que as pessoas tenham fé em D eus dificilmente preci
sa de documentação (mas veja At 14.15; 17.24; 26.20; 1 Ts 1.9). Em Hebreus,
avançar para a maturidade exige uma compreensão mais profunda da fé, perse
guida longamente no capítulo 11. A fé em Deus é mais do que uma confissão
inicial (ex.: a crença de que Deus existe), mas uma completa confiança na fideli
dade de Deus para cumprir as Suas promessas (confiando que Ele “recompensa
aqueles que o buscam” [11.6]).
O segundo par é a instrução a respeito de batism os e im posição de mãos.
A palavra batism os é totalmente intrigante para os comentaristas, tanto anti
gos como modernos, por duas razões. Primeira, a palavra não é o substantivo
usual para “batismo” corrente no N T e nos escritos cristãos primitivos (bap
tismo.), mas uma palavra que mais geralmente designa lavagem ou purificação
(.baptismos; apenas uma vez usada indiscutivelmente para o batismo cristão em
Cl 2.12). Segunda, como em sua única outra ocorrência em Hebreus (9.10), a
palavra aparece no plural (baptismõn). Em 9.10, ela certamente denota “lava
gens cerimoniais”.
Essa expressão incomum levou a muita especulação (pesquisada em H u
ghes, 1977, p. 199-202; Ellingworth, 1993, p. 315). Os Pais da Igreja sugeriram
que o plural se refere ao batismo de muitas pessoas (Teodoreto), batismo repe
tido (Crisóstomo; para Atanásio, especificamente de seitas heréticas), imersão
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gar [para, não traduzida na NVI) liga essa discussão da apostasia final com
a nota sobre a indispensável providência de Deus no versículo anterior (“se
Deus permitir”). Somente Deus pode determinar se um indivíduo não pode
ser renovado ao arrependimento ou se ele está condenado a ser amaldiçoado
(veja v. 6b,8).
Muitos expositores tentam aliviar a severidade dessa advertência (veja
Hughes, 1977, p. 212-214; Attridge, 1989, p. 167; Koester, 2001, p. 312). Al
guns oferecem a tradução inadmissível, “difícil” (Nicholas de Lyra, Erasmo).
Outros postulam uma impossibilidade para os humanos, mas não para Deus
(ex.: Ambrósio, Aquino); traçam uma distinção entre impossibilidade absoluta
(ex.: matemática) e relativa (ou moral) (Whedon, 1880, 5:78-79); ou aplicam
a impossibilidade do segundo batismo (Ambrósio; Crisóstomo [1996, p. 410];
Teodoreto [Heen e Krey, 2005, p. 84]). Contudo, esse im possível é enfático e
inequívoco. Não pode ser qualificado, assim como outros exemplos do impos
sível em Hebreus, como a impossibilidade “de Deus mentir” (6.18; veja 10.4;
11.6). Não há como escapar da terrível conclusão de que, para os hebreus, a
apostasia final é irreversível.
Uma descrição daqueles que entraram nessa situação impossível prosse
gue com uma série de cinco particípios (no tempo aoristo) nos versículos 4-6a.
A série começa com a frase aqueles que uma vez [tous hapax), que modifi
ca todas as cláusulas de particípio subsequentes (aqueles que um a vez foram
ilum inados, provaram [...], “experimentaram” [...], “provaram [...] caíram”
[ênfase acrescentada; NIV 11 para a cláusula final]). Esse uma vez se opõe ao
“de novo” no versículo 6 (e em 5.12 e 6.1). Assim, o pregador acentua o caráter
excepcional, definitivo e privilegiado da experiência da graça de Deus nestes
últimos dias. Virar as costas para isso, ou retroceder propositadamente, seria
indescritivelmente desprezível (veja v. 6). Isso colocaria a pessoa na posição
insustentável de tentar novamente receber o próprio favor divino que havia
rejeitado e desonrado (deSilva, 2000a, p. 225).
A queles que [...] foram ilum inados fornece a ideia principal da série. O
particípio phõtisthentas ocorre novamente em 10.32 (“foram iluminados”).
Aí há uma clara referência à conversão ou iniciação dos ouvintes à fé cristã.
Em outra parte do NT, a mesma metáfora descreve a dissipação da ignorância
(trevas) por meio do conhecimento (luz) de Deus no Evangelho (veja Jo 1.9;
At 26.18; 2 Co 4.6; Ef 1.18; 3.9; 2 Tm 1.10; 1 Pe 2.9; 1 Jo 1.5). A metáfora é
paralela à afirmação de que os leitores “receberam o conhecimento da verdade”
(Hb 10.26).
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Iluminação e batismo
Já e m J u s tin o M á rtir, " ilu m in a r " s ig n ific a v a " b a t iz a r " . P a is g r e g o s s u b
s e q u e n t e s in t e r p r e ta r a m a ilu m in a ç ã o e m H e b re u s 6 .4 c o m o " b a t is m o "
o u " la v a g e m " (ex.: T e o d o re to e T e o fila to ; D o d s, 1 9 6 0 , p. 2 9 6 ). O S iría c o
P e s h itta t r a d u z iu a e x p r e s s ã o " ilu m in a d o s " c o m o " a q u e le s q u e u m a v e z
d e s c e r a m p a ra o b a t is m o " (L a n e , 1 9 9 1 , p. 1 4 1 ). S e o a u to r d e H e b re u s
a s s o c io u a ilu m in a ç ã o c o m o b a t is m o (n ã o im p ro v á v e l, m a s n ã o c o n fir
m a d o ), e le p o d e t e r s id o o p r im e ir o a fa z ê - lo e n tre o s p r im e ir o s e s c r it o r e s
c r is tã o s (v e ja B ru c e , 1 9 9 0 , p. 14 5; Jo h n s o n , 2 0 0 6 , p. 1 6 2 ).
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
H e b re u s 6 .4 -8 te m s id o u m a fo n te d e p r e o c u p a ç ã o e c o n t ro v é r s ia . E m
p a r t ic u la r , s u a p o s tu ra rig o ro s a s o b re a im p o s s ib ilid a d e d e o s a p ó s t a t a s
s e r e m r e n o v a d o s a o a r r e p e n d im e n t o é u m a d a s m a io r e s d if ic u ld a d e s n a s
E s c ritu ra s . O c r is tã o d o in íc io d o s e g u n d o s é c u lo , o P a s to r d e H e rm a s ,
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HF.BREUS
e s t a v a p r e o c u p a d o c o m o e n s in o d e q u e n e n h u m a r r e p e n d im e n t o e s t a
v a d is p o n ív e l p a ra p e c a d o s p ó s - b a tis m a is . M a s u m m e n s a g e ir o c e le s t ia l
re v e lo u a e le q u e o S e n h o r, e m S u a m is e r ic ó r d ia p a ra c o m a fr a q u e z a
h u m a n a e c o n s c iê n c ia d a s a r t im a n h a s d o d ia b o , o fe r e c e u m a — m a s a p e
n a s u m a — o p o r t u n id a d e d e a r r e p e n d im e n t o d o s p e c a d o s a p ó s o b a t is m o
(H e rm . M an d . 4 .3 .1 -7 ). C le m e n t e d e A le x a n d r ia s e g u iu e s s a v is ã o { S tro m .
2 .1 3 ; 4 .2 0 ). M u ito s c r is tã o s p r im it iv o s t a m b é m a c r e d it a v a m q u e o m a r tír io
e ra u m m e io d e e lim in a r t o d o s o s p e c a d o s p ó s - b a tis m a is .
N o in íc io d o te r c e ir o s é c u lo , T e rtu lia n o a s s u m iu u m a p o s iç ã o m o n -
t a n is t a lin h a -d u ra c o n t r a a q u e le " 'P a s t o r ' d e a d ú lt e r o s " . E le in s is tiu q u e
n e n h u m s e g u n d o a r r e p e n d im e n t o e ra p e r m it id o p o r p e c a d o s g r a v e s c o
m e t id o s a p ó s o b a tis m o , c o m o a d u lt é r io ou a p o s t a s ia (P u d . 20 ). A p ó s a
p e r s e g u iç ã o d e c ia n a d e 2 4 9 - 2 5 0 d .C ., o s n o v a c ia n o s e m p r e g a r a m H e b re u s
6 .4 -8 p a ra a f ir m a r q u e a q u e le s q u e h a v ia m n e g a d o s u a fé s o b p e r s e g u i
ç ã o n ã o p o d e r ía m s e r re s ta u r a d o s à c o m u n h ã o na Igreja. C ip r ia n o (m .
2 5 8 ) se o p ô s t a n t o a o s m o n ta n is ta s c o m o a o s n o v a c ia n o s a o a f ir m a r q u e
a q u e le s q u e h a v ia m d e c a íd o p o d e r ía m r e c e b e r a r r e p e n d im e n t o , p e r d ã o e
r e in t e g r a ç ã o (E p . 51 ). E s s a s c o n t r o v é r s ia s s o b re E le b re u s 6 .4 -8 c o n t r ib u
íra m p a ra a d if ic u ld a d e d o O c id e n t e e m a c e it a r H e b re u s c o m o p a rte d o
c â n o n d o NT.
A p a r t ir d o q u a rto s é c u lo , u m a in t e r p r e ta ç ã o p a d r ã o d e 6 .4 -8 p e r
d u r a r ia p e lo s p r ó x im o s m i! a n o s t a n t o n o O r ie n t e c o m o n o O c id e n te .
A m b r ó s io (d. 3 9 7 ) a firm o u q u e H e b re u s n ã o im p e d e q u e o s c a íd o s s e
ja m re s ta u r a d o s a o a r r e p e n d im e n t o . E m v e z d is s o , re je ita a p o s s ib ilid a d e
d e u m s e g u n d o b a tis m o . A m b r ó s io a r g u m e n t o u q u e o b a t is m o é u m a
p a r t ic ip a ç ã o na m o rte d e C ris to , d e m o d o q u e o r e b a t is m o e q u iv a le r ía a
r e c r u c ific a r o F ilh o d e D e u s. E le a r g u m e n t o u a in d a q u e , e m b o ra o a r r e p e n
d im e n t o d o s p e c a d o s p ó s - b a tis m a is p o s s a p a r e c e r im p o s s ív e l d o p o n to d e
v is t a h u m a n o , n ã o é im p o s s ív e l p a ra D e u s (P aen . 2.2). A s p r in c ip a is lin h a s
d e s s a v is ã o fo ra m c o m p a r t ilh a d a s p o r Jo ã o C r is ó s to m o , T e o d o re to , E fré m ,
o S írio , F ó c io e m u ito s o u tro s . (P ara m a is d e ta lh e s , v e ja H e e n e K re y , 2 0 0 5 ,
p. 8 3 -8 7 ; H u g h e s , 1 9 7 7 , p. 2 1 3 -2 1 5 ; A t t r id g e , 1 9 8 9 , p. 1 6 8 -1 6 9 ; K o e ste r,
2 0 0 1 , p. 2 0 -2 5 .)
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Seu crime é tão hediondo que pode ser descrito como crucificar de novo
(,anastaurountas) o Filho de D eus. O verbo anastauroõ era amplamente usa
do simplesmente para significar “crucificar” com o prefixo ana- sugerindo o
movimento ascendente de içar uma vítima na cruz. No entanto, os tradutores
antigos e os Pais gregos entenderam unanimemente que o prefixo significava
“novamente” (veja BDAG, p. 72; Kuhn, 1990, p. 92; Ellingworth, 1993, p.
324), portanto, “recrucificar” (HCSB, NAB).
Essa pode ser uma ação que é para sua própria perda (tomando heautois
como um dativo de desvantagem). Mas crucificar “para si mesmos” (NAA; veja
BKJ, NJB) podería estender a metáfora violenta para significar uma ruptura
decisiva de seu relacionamento com o Filho de D eus. Uma expressão análoga
está no repúdio de Paulo ao mundo: “O mundo está crucificado para mim, e
eu, para o mundo” (G1 6.14; veja Koester, 2001, p. 315).
O segundo particípio, paradeigmatizontas (sujeitando-o à desonra
pública), complementa a ação da crucificação. O verbo foi usado para puni
ções públicas destinadas a fazer de criminosos um exemplo (BDAG, p. 761;
Koester, 2001, p. 315). Os romanos utilizavam a cruz como instrumento não
apenas de dor excruciante, mas também de terrível desgraça (veja 12.2). Des-
tinava-se a impedir que outros cometessem o crime que estava sendo punido.
O apóstata, em vez de identificar-se com a vergonha de Cristo (13.13), está
“sujeitando-o ao desprezo” (ESV, EíCSB, NAB, NET, NRSV). Ele assumiu
a mesma postura zombeteira de um antigo grafiteiro em Roma, que rabiscou
uma foto de um homem levantando a mão em oração para uma figura com
cabeça de burro em uma cruz, com a inscrição abaixo: “Alexamenos adora a
deus” (vemos Decker, 2007).
S I 7 - 8 A conjunção inferencialgar {mas) introduz um exemplo da agricultu
ra. Ilustra a impossibilidade de restauração da apostasia discutida nos versículos
anteriores (4-6). O versículo 7 apresenta o lado positivo desse exemplo; o ver
sículo 8, o negativo.
A terra que absorve a chuva, que cai frequentem ente é paralela aos
favores divinos listados nos versículos 4 e 5. Por meio do uso da rima, o prega
dor conecta a provisão de chuva de Deus com a generosidade que a terra deve
suportar. Terra que encharca de chuva \hyeton\ [...] dá colheita proveitosa
[eutheton] àqueles que a cultivam. Como na parábola do semeador de Jesus,
a semente que cai em boa terra produz uma colheita abundante (Mt 13.8; Mc
4.8; Lc 8.8). Beber na chuva, como provar a bondade da palavra de Deus (v.
5a), deve transformar os dons contínuos de Deus (chuva, que cai frequente
m ente) em uma colheita de benefícios para os outros.
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NOVO COMENTÁRIO BÍBI.ICO BEACON HEBREUS
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
Virtudes
E m H e b re u s 6 .9 -1 2 e 1 0 .1 9 -2 5 , e n c o n t r a m o s a s tr ê s v irtu d e s : a m o r
(6.1 0; 1 0 .2 4 ), e s p e r a n ç a (6.1 1; 1 0 .2 3 ) e fé (6.1 2; 1 0 .2 2 ). E s ta s s ã o m a is
f a m ilia r e s p a ra n ó s p o r m e io d e s e u a g r u p a m e n to e m P a u lo (1 C o 1 3 .1 3 ;
v e ja G l 5 .5,6; Cl 1 .4,5; 1 Ts 1.3; 5.8). O s t e ó lo g o s a s c h a m a m d e v ir t u d e s
" t e o lo g a is " . S e u p a p e l na v id a d e g r a ç a e s u a s in te r- re la ç õ e s fo ra m c u i
d a d o s a m e n te e s t u d a d o s p e lo s e s c o lá s t ic o s , p r in c ip a lm e n t e p o r T o m á s d e
A q u in o .
U m c o n ju n to a d ic io n a l d e q u a tro p e r fe iç õ e s m o r a is fo i t r a n s p o r t a d o
p a ra a te o lo g ia c ris tã d e P la tã o , A r is t ó t e le s e e s to ic o s : s a b e d o r ia (-» 5 .1 4 ),
m o d e ra ç ã o , ju s t iç a e c o ra g e m . O s g ig a n t e s d a te o lo g ia m o ra l c ris tã —
A m b ró s io , A g o s t in h o e T o m á s d e A q u in o — d is t in g u ir a m e s s a s v ir t u d e s
" c a r d e a is " o u " n a t u r a is " d a s v ir t u d e s " t e o lo g a is " . T o m á s d e A q u in o c o r r e
la c io n o u a s v ir t u d e s c a r d e a is c o m v á r ia s f a c u ld a d e s h u m a n a s ( s a b e d o ria
c o m in te le c to ; ju s t iç a c o m v o n ta d e ; e m o d e r a ç ã o e c o r a g e m c o m d u a s
p a ix õ e s d o a p e tit e s e n s ív e l, lu x ú r ia e m e d o , re s p e c t iv a m e n te ) .
Ju n ta s , a s v ir t u d e s t e o lo g a is e c a r d e a is c o m p õ e m a s " S e t e V irt u d e s " .
E s s a s s ã o c o lo c a d a s e m c o n t r a s t e c o m o s " S e t e P e c a d o s C a p it a is " (o rg u
lho, c o b iç a , lu x ú r ia , in v e ja , g u la , ra iv a e p re g u iç a ) . P a ra u m e s t u d o m a is
a p ro fu n d a d o , v e ja R ic k a b y , 1 9 0 8 ; C r o s s e L iv in g s to n e , 1 9 9 7 a e 1 9 9 7 b ;
F itz g e ra ld , 1 9 9 2 .
O amor deles é definido como algo que eles dem onstraram . O verbo en-
deiknymi (“mostrar, demonstrar”, BDAG, p. 331) é utilizado nos papiros de
produção de prova legal (Ellingworth, 1993, p. 331; MM, 211). O amor não é
simplesmente um pensamento ou sentimento, mas é provado de maneiras con
cretas (compare 1 Jo 3.18). Também é realizado para o Seu nome (eis to onoma
autou-, ele). Isso pode significar que o amor demonstrado aos outros é “feito
por amor ao seu nome” (REB) ou “por amor dele [isto é, de Deus]” (NRSV).
Ou pode significar que o amor deles é direcionado ao próprio Deus (Koester,
243
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
2001, p. 317). Não precisamos escolher entre os dois, porque (como atesta 1Jo
4.20,21) um implica o outro.
O trabalho e o amor exibidos dentro da comunidade consistem no serviço
ao seu povo (lit., “os santos” [por exemplo, ACF, ARA, ARC, ARIB, NAA],
ou seja, “o povo santo de Deus” [NJB; veja GW ]). As palavras traduzidas
ajudaram e continuam a ajudar e são formas de diakoneõ, que denota serviço
humilde ou servil (ex.: servir às mesas em At 6.1,2; veja L&N, 35.19). Atos
passados de serviço incluíam ficar lado a lado com aqueles que sofreram abu
so, perda de propriedade ou prisão (10.32-34). Atos atuais de serviço incluem
amor contínuo uns pelos outros, hospitalidade em relação a estranhos, cuidar
dos presos (13.1-3), em suma, não deixar de fazer o bem e compartilhar com
os outros (13.16).
■ 1 1 A convicção profunda no versículo anterior é combinada aqui com
“profundo desejo” (NTLH). Q uerem os traduz um verbo que transmite um
desejo muito forte (“nós queremos apaixonadamente” [NET]; “desejamos
sinceramente” [NAB]). Mais uma vez o pregador expressa sua preocupação
por cada indivíduo da comunidade (cada um de vocês [veja 3.12,13; 4.1,11;
12.15,16]). Havia pelo menos alguns entre eles cujo compromisso estava en
fraquecendo e cuja eventual apostasia podería ter um efeito de envenenamento
sobre os crentes ao seu redor (12.15).
O desejo é que cada pessoa m ostre essa m esm a prontidão. O verbo en-
deiknymi {mostrar), usado no versículo anterior (v 10), é repetido aqui. Eles
devem demonstrar essa m esm a prontidão em amar a Deus por meio do servi
ço amoroso aos outros. A palavra prontidão (spoudên) é um cognato do verbo
traduzido como “fazer todo esforço” em -» 4.11. Em 4.11, eles foram exortados
a estarem desejosos para entrar no descanso de Deus no fim dos tempos. Aqui,
da mesma forma, o desejo é que eles permaneçam diligentes até o fim. Manten
do-se firmes em seu compromisso com Cristo “até o fim” (veja 3.14) garantirá
que eles não atinjam o “fim” final (6.8) daqueles que não estão “produzindo
fruto de justiça e paz” (12.11).
Uma frase preposicional, para que tenham a plena certeza da esperança,
explicita o objetivo da diligência dos ouvintes. Isso é difícil de interpretar por
que o substantivo plêropboria (lit., “plenitude”) podería ter dois significados
nesse contexto.
Primeiro, podería conotar plenitude ou completude no sentido de
“cumprimento” da esperança (NAB, net; “último cumprimento” [NJB]) ou
“realização final” (HCSB; veja NRSV; “completamente realizada” [OL];
244
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
Lane, 1991, p. 130; Johnson, 2006, p. 167). Mas essa nota escatológica pode
criar uma repetição desnecessária da frase até o fim.
Segundo, podería conotar “completa certeza” (ACF, ARA, ACR, ARIB;
“plena certeza” [NAA, N V T), “certeza absoluta” (BDAG, p. 827), ou tornar
sua esperança certa (NRSV e NLT combinam os sentidos de garantia e reali
zação). A palavra tem o mesmo sentido de certeza na expressão “plena certeza
de fé” (10.22, sua única outra ocorrência em Hebreus; veja também Cl 2.2; 1
Ts 1.5). Essa ideia se encaixa com outras exortações para nos apegarmos fir
memente à nossa esperança (Hb 3.6; 10.23), confissão (4.14; 10.23; veja 3.1)
ou compromisso (3.14). Uma ajuda contextual mais próxima é a metáfora em
6.19, que ilustra a frase “plena certeza da esperança”. A esperança é retratada ali
como “uma âncora para a alma, firme e segura”.
Ml 1 2 No texto grego, de m o d o que vocês não se to m em negligentes não
começa uma nova frase. Continuando o pensamento do versículo 11, é uma
cláusula de propósito que comunica a perseverança que o pregador deseja pro
mover: “Para que você não se tornem preguiçosos” (NAA).
N egligen tes (nõthroi) contrasta com “diligentes” no versículo 11. A pa
lavra aparece apenas aqui e em 5.11, formando uma estrutura deliberada em
torno dos primeiros quatro parágrafos dessa seção (5.11-6.18). O efeito é enfa
tizar novamente o risco de cair na apatia espiritual. Não há discrepância entre
as declarações em 5.11 e 6.12. Como Bengel explica, eles “tornaram-se tardios
em ouvir \nõthroi gegonate tais akoais]” (5.11 ARA, ARIB); mas “ele agora
os adverte, para não se tornarem preguiçosos \nothroi genêsthe\ absolutamente”
(6.12; Bengel, 1877, 4:400). Uma tendência a não prestar atenção cuidadosa
(veja 2.1) pode levar a tornar-se totalmente “frouxo” (REB), em vez de engajar-
-se firmemente nos compromissos e nas práticas vitais da fé cristã.
Em vez de serem preguiçosos espirituais, os ouvintes devem ser “imitado
res” (mimêtai; ACF, ARA, ARC, ARIB, JFA, NAA; im item ) daqueles que
são modelos de fé inabalável. O impulso para a imitação reaparece explicita
mente em 13.7, onde a fé dos líderes da comunidade é o que eles devem “imitar
\mimeisthe\ ”. O AT contém exemplos de desobediência a evitar (4.11) e nume
rosos exemplos de fidelidade a seguir (3.5; 11.1-39). Mas Cristo é o exemplo
supremo de fé (3.2; 10.5-10; 12.1-3).
Fé e paciência, ou melhor, “fé e perseverança” (NVT, BSEP) podem muito
bem ser uma hendíadis, traduzida como “perseverança fiel” ou “fé perseveran
te” (Attridge, 1989, p. 176). A segunda palavra (makrothymias) significa mais
do que paciência passiva, longanimidade ou tolerância. Conotaperseverança,
245
HF.BRF.US NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
246
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
Q u in t ilia n o re c o m e n d a o u s o d e v á r io s t ip o s d e a r g u m e n t o s ju r íd ic o s (I n s t .
5 .1 1 .3 2 -3 5 ). H e b re u s , m a is d o q u e q u a lq u e r o u tro liv ro d o NT, e m p r e g a
t e r m o s le g a is e c o m p a r a ç õ e s p a ra e fe it o p e r s u a s iv o . A t e r m in o lo g ia ju r í
d ic a é a m p la m e n t e u s a d a e m H e b re u s , c o m o d e m o n s t r a a t a b e la a s e g u ir
(v e ja L a n e , 1 9 9 1 , p. 14 9 ; T h o m p s o n , 2 0 0 8 , p. 1 3 9 ).
247
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
248
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
h y p o s t a s is um a o b r ig a ç ã o c o m e rc ia l, 3 .1 4 ; 1 1 .1
com o a e x p e c t a t iv a de
a lu g u e l d e v id o ou c o m p r o
m is s o com os te rm o s de
um e m p r e e n d im e n t o co
m e rc ia l; um a g a r a n t ia de
p r o p r ie d a d e , e s c rit u r a
249
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
2 .1 3 5 ; D D 1 5 .1 -6 ) d e f e n d ia m e v it a r o ju ra m e n to . E le s s u g e r ir a m q u e a
250
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
p r á tic a a p e n a s p e d ia a q u e s tã o d a v e r a c id a d e d e a lg u é m (L in k , 1 9 7 9 , p.
73 9 ; T h is e lto n , 2 0 0 9 , p, 3 1 1 ).
D e a c o r d o c o m Fílo n , o m e lh o r c u rs o d e a ç ã o é n ã o ju ra r; a s e g u n d a
m e lh o r c o is a é m a n t e r o ju ra m e n to . Isso p o r q u e o ju r a m e n t o , p o r su a
p ró p ria n a tu r e z a , s u s c ita a s u s p e it a d e q u e a q u e le q u e e s tá ju r a n d o n ã o
é t o t a lm e n t e c o n fiá v e l (D e c á lo g o 8 4 ). J u r a m e n to s c o n v id a m D e u s p a ra
d a r t e s t e m u n h o e m u m a s s u n to q u e e s tá s u je ito à d ú v id a (I n t . A l. 3 .2 0 5 ;
S a c r i f í c i o s 91; P l a n t a r 82; D e c á lo g o 86; L e is E s p . 2 .1 0 ; S o n h o s 1 .1 2 ). Ju
ra m e n t o s s ã o f e it o s p o r a q u e le s q u e q u e r e m t e r c r é d it o p o r q u e o s o u tro s
n ã o a c r e d ita m n e le s ( S a c r if íc io s 93 ). M a s "a p a la v r a d o h o m e m b o m " ,
d iz F ílo n , " d e v e s e r u m ju r a m e n t o , firm e , in a b a lá v e l, t o t a lm e n t e liv re d e
fa ls id a d e , fir m e m e n t e p la n t a d o na v e r d a d e " (L e is E s p . 2.2). "P o is o q u e é
m e lh o r d o q u e p r a t ic a r u m a v e r a c id a d e a o lo n g o d a v id a e t e r D e u s c o m o
n o s s a t e s t e m u n h a d is s o ? " ( L e is E s p . 2 .1 0 ).
Isso le v a n ta d if ic u ld a d e s s o b re D e u s ju r a r p o r si m e s m o e m u m t e x to
c o m o G ê n e s is 2 2 .1 6 ,1 7 , re fe r id o t a n t o p o r H e b re u s (6 .1 3 ,1 4 ) c o m o p o r
F ílo n (Int. A l. 3 .2 0 3 ). P o d e -s e o b je ta r q u e o ju r a m e n t o d e D e u s é in c o n
s is t e n te c o m S e u c a r á t e r f ie l (Int. A l. 3 .2 0 4 ), q u e n ã o c o n t é m n e n h u m
t ra ç o d e in c e r t e z a o u d ú v id a ( S a c r if íc io s 9 1 ), ou q u e é u m a b s u r d o (Int. A l.
3 .2 0 5 ). F ílo n re s p o n d e a e s s a s o b je ç õ e s d e t r ê s m o d o s .
P rim e iro , o ju r a m e n t o d e D e u s n ã o p õ e e m d ú v id a S u a c o n f ia b ilid a
de. D e u s é o ú n ic o s e r fie l, c u ja c a d a p a la v r a é u m ju r a m e n t o s a n t ís s im o
e s a g r a d o (Int. A l. 3 .2 0 4 ; v e ja S a c r i f í c i o s 93 ). T o d a s a s p a la v r a s d e D e u s,
c o m o o s ju r a m e n t o s , s ã o p r o v a s d e S e u p o d e r, p o r q u e t u d o o q u e E le d iz
c e r t a m e n t e a c o n t e c e r á (Int. A l. 3 .2 0 4 ). H e b re u s c o n c o r d a q u e o s p r o p ó
s ito s d e D e u s s ã o im u tá v e is , e “ é im p o s s ív e l q u e D e u s m in ta " (6 .1 7 ,1 8 ).
S e g u n d o , c o m o H e b re u s (6 .1 3 ), F ílo n d iz q u e D e u s n ã o p o d e s e r c u l
p a d o p o r ju r a r p o r si m e s m o , p o is n ã o há n a d a m a io r p e lo q u a l E le ju rar.
D e u s é a m e lh o r d e t o d a s a s c o is a s (Int. A l. 3 .2 0 3 ). N a d a é m e lh o r d o q u e
a C a u s a d e t o d a s a s c o is a s ( S a c r if íc io s 9 2 ). D e u s é p a ra si m e s m o tu d o
q u e é m a is h o n ro s o (Int. A l. 3 .2 0 5 ). P o rta n to , D e u s n ã o s e to rn a c rív e l ao
d e c la r a r u m ju r a m e n t o , m a s a té m e s m o o ju r a m e n t o é c o n fir m a d o p o r
D e u s, q u e é a su a p ró p ria c o n fir m a ç ã o e t e s t e m u n h o in fa lív e l ( S a c r if íc io s
93; Int. A l. 3 .2 0 8 ).
T e rce iro , D e u s n ã o fa z u m ju r a m e n t o p o r si m e s m o , m a s p a ra a c o m o
d a r a f r a q u e z a h u m a n a ( S a c r if íc io s 9 4 ). O ju r a m e n t o d e D e u s a A b r a ã o
fo i c o n c e b id o c o m o u m a p r o m e s s a (p i s t i s ) e m t ro c a d a fé (p i s t i s ) d e
A b r a ã o , p a ra q u e a m e n te d o p a t ria rc a p u d e s s e s e r m a is fir m e e in a b a lá
v e l (A b r a ã o , 2 7 3 ). D a m e s m a fo rm a , e m H e b re u s , D e u s f a z u m ju r a m e n t o
a fim d e d e m o n s t r a r S e u p r o p ó s ito fie l d e fo rm a c o n v in c e n t e e fo r n e c e r
fo rt e e n c o r a ja m e n to p a ra o s h e rd e ir o s d a s p r o m e s s a s d e D e u s (6 .1 7 ,1 8 ).
251
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
253
11EBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
mento [ischyran paraklêsin]” é uma boa descrição para todo o sermão, que o
pregador descreve como uma “palavra de exortação” (-» 13.22). O poderoso
encorajamento é que os ouvintes devem tom ar p osse da esperança a nós p ro
posta. Exortações para manter a esperança (3.6), o compromisso com Cristo
(3.14) ou a nossa confissão (4.14; 10.23) são proeminentes em Hebreus. Por
causa da demonstração de Deus de Sua fidelidade incontestável, a esperança
é proposta a (“oferecido a” [BSEP]) ou “colocada diante” de nós (tés prokei-
menés [BKJ, ESV, HCSB, KJV, LEB, NASB, NET, NIV11, NRSV, REB]).
Paradoxalmente, a esperança é algo ao nosso alcance, pois se baseia na pro
messa e juramento irrevogáveis de Deus. No entanto, também aponta para um
cumprimento futuro que “está diante de nós” (NAB, NLT).
A segunda conquista é uma extensão da primeira. Temos esta esperança
com o âncora da alma (v. 19). Essa é a primeira de três metáforas diferentes
misturadas nos versículos 19,20:
• náutico (esperança como âncora);
• cultuai (santuário interno do tabernáculo);
• atlético/militar (precursor).
A palavra âncora é usada metaforicamente apenas aqui, em toda a Bíblia
(literalmente apenas em At 27.29,30,40). A metáfora foi difundida entre as
populações marítimas ao redor do Mar Mediterrâneo (veja Lane, 1991, p. 153;
Koester, 2001, p. 329). Na filosofia helenística, era um símbolo de estabilidade
com a verdade (Fílon, Herdeiro, p. 95,305; Decálogo 67), a virtude (Fílon, So
nhos 1.124; 2.225; Pitágoras em Estobeu, Flor. 1.29), a ousadia (Plutarco, Mor.
815d) ou a esperança (Epiteto, Diatr. fragmento 30; Heliodoro, Aeth. 7.25.4).
A esperança da salvação é uma âncora da alma. Isso indica a vida interior
e os pensamentos que formam o núcleo de todo o ser (assim, “uma âncora para
nossas vidas” [BSEP, GNT, GW, REB]). Não precisamos incomodar-nos com
a turbulência, o perigo e a incerteza ao nosso redor. Nossas vidas podem ser es
tabilizadas ao olharmos para a esperança que está à frente (veja Hb 11.10,14,26;
13.14) e fixando os nossos pensamentos no nosso chamado celestial em Jesus
(veja 3.1; 12.2).
A esperança cristã, como uma âncora, é firme e segura. Essa era uma ex
pressão padrão usada para descrever qualquer coisa que fosse estável e confiável
(veja Attridge, 1989, p. 183, n. 72; Koester, 2001, p. 329). Fílon usa essa ex
pressão (Herdeiro, p. 314; Est. Prel., p. 141; Confusão, p. 106; Querubins, p.
103), bem como uma semelhante (“inabalável e seguro”, Virtudes, p. 216; Re
compensas, p. 30, 169; Herdeiro, p. 95). O adjetivo segura (bebaian) descreve
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
255
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
H e b re u s o lh a p a ra o s p r in c ip a is t e x t o s d a s E s c r it u r a s ( e s p e c ia lm e n t e
d o s S a lm o s ) c o m o u m a le n te in t e r p r e ta t iv a p o r m e io d a q u a l lê o u tra s
e s c rit u r a s . A q u i e s t ã o a lg u n s e x e m p lo s :
• O S a lm o 1 1 0 .1 e m H e b re u s 1 .1 3 é c ita d o c o m o a d e c la r a ç ã o d iv i
na d a e x a lt a ç ã o d o Filho. C o m o is s o fo i p o s s ív e l, e m c o n e x ã o c o m
a e n c a r n a ç ã o e o s o f r im e n t o d e C ris to , é e x p lic a d o à lu z d o S a lm o
8 .4 -6 e m H e b re u s 2 .5 -1 8 .
• E m 3 .7 — 4 .1 3 , S a lm o 9 5 .7 - 1 1 é o t e x t o - c h a v e (H b 3 .7 -1 1 ) q u e
o rie n ta a le itu ra d o p r e g a d o r d o s t e x t o s d e N ú m e ro s 1 4 e m H e
b re u s 3 (e sp . 3 .1 6 -1 8 ) e G ê n e s is 2.2 e m H e b re u s 4.
• O S a lm o 1 1 0 .4 é c ita d o e m H e b re u s 5 .6 e p a r a fr a s e a d o e m 5 .1 0 e
6 .2 0 e m p r e p a r a ç ã o p a ra u m a in t e r p r e ta ç ã o d e G ê n e s is 1 4 .1 7 -2 0
e m H e b re u s 7. O s a lm o a firm a a c a r a c t e r ís t ic a d is t in t iv a d o s a
c e r d ó c io d o Filho, q u e s e a s s e m e lh a a M e lq u is e d e q u e : d u r a " p a r a
s e m p r e " e, p o rta n to , é s u p e r io r a t o d o o s a c e r d ó c io le v ític o .
• A N o v a A lia n ç a e m J e r e m ia s 3 1 .3 1 - 3 4 (H b 8 .8 -1 2 ) e s tá c o r r e la c io
n a d a c o m s e u c u m p r im e n t o na o fe r ta o b e d ie n t e d e C r is t o d o S e u
p ró p rio c o rp o d e a c o r d o c o m o S a lm o 4 0 .6 -8 (H b 1 0 .5 -7 ). E s s e s
d o is t e x t o s s ã o in t e r p r e ta d o s m u tu a m e n t e e m 1 0 .8 -1 8 , ju n t a
m e n t e a u m a a lu s ã o a o S a lm o 1 1 0 .1 e m H e b re u s 1 0 .1 2 ,1 3 . O
s a c r if íc io " d e u m a v e z p o r t o d a s " d e C r is t o p e lo s p e c a d o s e fe tu a
o p e r d ã o e a s a n t id a d e p r o m e t id o s na N o v a A lia n ç a .
• A ê n fa s e e m v iv e r " p o r f é " e m H a b a c u q u e 2 .4 (H b 1 0 .3 8 ) s u g e re
a e x p r e s s ã o o p e r a t iv a p a ra o e n s a io d e to d a a h is tó r ia b íb lic a d o s
f ié is d e D e u s n o c a p ít u lo 11 ( " p e la f é " o c o rr e n d o d e z o it o v e z e s ).
No texto grego de 6.20b, a frase eis ton aiõna (para sempre) é colocada na
posição final enfática (como é a palavra Jesus no v. 20a). A perpetuidade do
sacerdócio de Cristo será de importância singular para o argumento do prega
dor no próximo capítulo, empregando essa mesma frase tirada do Salmo 110.4
(Hb 7.17,21,24,28; veja 7.3).
A PARTIR DO TEXTO
256
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
ta para essa pergunta. Os cristãos dos primeiros séculos da Igreja fizeram essa
pergunta em relação a outra pergunta: é possível um segundo arrependimen
to ou um segundo batismo? (a>anotação complementar 6.6, “Sem segundo
arrependimento ou sem segundo batismo?”) Especialmente desde a Refor
ma, a advertência em 6.4-8 tem sido interpretada em relação à sua coerência
doutrinária, tanto com outros textos bíblicos relativos à apostasia, como com
sistemas de doutrina sobre salvação (ou seja, calvinismo e arminianismo).
Hebreus 6.4-8 pode assemelhar-se a outros textos que têm relação com
o ensino bíblico sobre a apostasia. Já em Orígenes (d. 254), essa passagem foi
correlacionada com a advertência de Jesus sobre o pecado imperdoável (Mt
12.31,32 || Mc 3.28-30 || Lc 16.10), Sua declaração sobre discípulos que
colocam a mão no arado, mas depois voltam atrás (Lc 9.62), e a recordação te
nebrosa sobre a esposa de Ló (Lc 17.32; veja Koester, 2001, p. 20-21). Outros
viram uma relação com o texto enigmático em 1 João 5.16,17 referente a “um
pecado que leva à morte”. Não está claro, no entanto, se Mateus 12.31,32 (||)
ou 1 João 5.16,17 são diretamente relevantes para o perigo de apostasia previs
to em Hebreus (veja deSilva, 2000a, p. 234-236).
Defensores de sistemas doutrinários referentes à salvação, como calvinis-
tas e arminianos, também lutam com esse texto. Os calvinistas apontam para
outros textos que fornecem garantias aos crentes de que sua salvação é segura
(ex.: Jo 10.27-29; Rm 8.29,30). As advertências em Hebreus 6.4-8 e 10.26-31
parecem ir contra tais passagens. Três abordagens principais para 6.4-8 foram,
portanto, propostas.
(1) A primeira abordagem vê a passagem como forma de descrever aqueles
que têm uma profissão de fé cristã, mas não são crentes genuínos. Eles apenas
“provaram” (como em “amostraram”) os benefícios da salvação sem adotá-los
seriamente. Intérpretes mais recentes chamam essa visão de “o incrédulo fe-
nomenológico”. Os “fenômenos” externos (como em 6.4,5) dão apenas uma
aparência de conversão, mas sem qualquer fé ou compromisso verdadeiros (G.
Guthrie, 1998, p. 230-231; Fanning, 2007, p. 217-218). Essa visão está aberta
a várias críticas:
• Nenhuma leitura justa e direta podería plausivelmente interpretar as
descrições da salvação em 6.4,5 como principalmente aplicáveis a fal
sos professantes da fé.
• Essa visão não pode explicar coerentemente de onde é que esses falsos
professantes “caem”. Dito de outra forma: como alguém, então, po
dería conceber uma renovação do arrependimento para aqueles que
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
259
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
U m a c it a ç ã o is o la d a d e Jo h n W e s le y p o d e r ía d a r a fa ls a im p re s s ã o
(da q u a l G le a s o n [2 0 0 7 a , 3 2 3 ] é v ít im a ) d e q u e W e s le y re je ito u a v is ã o
d e q u e a s a d v e r t ê n c ia s e m H e b re u s 6 .4 -8 e 1 0 .2 6 -3 1 f a la m d e a p o s t a s ia
irr e v e rs ív e l:
S e fo r p e r g u n ta d o : " A lg u m v e r d a d e ir o a p ó s t a t a e n c o n t r a m is e r ic ó r d ia
d e D e u s ? S e rá q u e o s q u e 'n a u f r a g a r a m na fé e na b o a c o n s c iê n c ia '
re c u p e r a m o q u e p e r d e r a m ? V o c ê s a b e , v o c ê já v iu a lg u m e x e m p lo d e
p e s s o a s q u e e n c o n t r a r a m r e d e n ç ã o no s a n g u e d e Je su s, m a s d e p o is
c a ír a m e, a in d a a s s im , fo ra m r e s ta u r a d a s ? 'R e n o v a d a s n o v a m e n te
p a ra a r r e p e n d im e n t o '? " . S im , r e a lm e n t e . E n ã o u m , ou a p e n a s ce m ;
m a s , e s to u c o n v e n c id o , v á r io s m ilh a r e s . (W e s le y , 1 9 8 6 , p. 2 2 4 )
261
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
E n c o n t r a r e is n o v a m e n te 'm is e r ic ó r d ia e g r a ç a p a ra a ju d a r e m t e m p o d e
n e c e s s id a d e '" ( 1 9 8 6 , p. 2 2 1 -2 2 2 ).
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NO TEXTO
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Misterioso Melquisedeque
Po r c a u s a d o re g is tro e s p a r s o s o b re e le n o A T ( s o m e n t e e m G n 1 4 .1 7 -
2 0 e SI 1 1 0 .4 ), m is t é rio e e s p e c u la ç ã o c e r c a r a m M e lq u is e d e q u e . F ílo n
a p e la p a ra u m a a n á lis e e t im o ló g ic a s e m e lh a n t e à e n c o n t r a d a e m H e-
b re u s 7.1. E le id e n t ific a M e lq u is e d e q u e c o m o u m rei ju s to , e n ã o c o m o
u m t ir a n o q u e c o m a n d a v a o s o f r im e n t o v io le n t o e a g u e rra . E le tin h a u m a
m e n te re a l, p ilo ta d a p e la ra z ã o c o rre ta , o g u ia p a ra a p a z (In t. A l. 2 .7 9 -8 1 ).
M e lq u is e d e q u e re c e b e u u m " s a c e r d ó c io a u to in s t r u íd o e a u to d id a ta " , e n
v o lv e n d o a fu n ç ã o a d e q u a d a d e s u a s f a c u ld a d e s d e r a c io c ín io (C o n g r . 99 )
e u m a c o m p r e e n s ã o e x c e p c io n a lm e n t e s u b lim e d e D e u s (In t. A l. 2 .8 2 ).
A n a rra tiv a h is tó r ic a d e J o s e fo s e g u e d e p e r to o re la to d e G ê n e s is (A n t.
1 8 0 -1 8 2 ), a c r e s c e n t a n d o a p e n a s p e d a c in h o s d e t r a d iç ã o e x t r a b íb lic a ou
in fe r ê n c ia h is tó r ic a . N o t a v e lm e n te , M e lq u is e d e q u e fo i "o p r im e ir o s a c e r
d o te d e D e u s " , o p r im e ir o a d e s ig n a r S a lé m c o m o a c id a d e d e J e ru s a lé m ,
e o p r im e ir o a c o n s t r u ir u m t e m p lo lá (G .J . 6 .4 3 8 ).
O u tra fo n te a n tig a o fe r e c e u m a in t e r p r e ta ç ã o d e c id id a m e n t e m a is
e s p e c u la t iv a e e s c a t o ló g ic a . Um fra g m e n to dos M a n u s c r it o s do M ar
M o rto , M e lq u is e d e q u e ( llQ M e lc h ) , a p r e s e n t a M e lq u is e d e q u e c o m o o li
b e r ta d o r d e Isra el n o s ú lt im o s d ia s . S e n d o a s s im , e le p r o c la m a r á u m a
s é r ie d e p e r ío d o s d e J u b ile u , c u lm in a n d o e m u m g r a n d e D ia d e E x p ia ç ã o
p a ra o s ju s to s . E n tã o e le fa r á o ju lg a m e n t o fin a l s o b re B e lia l (o d ia b o ) e
s e u s e s p ír it o s m a lig n o s e lib e r ta rá a q u e le s q u e e s t a v a m c a t iv o s s o b se u
p o d e r. M e lq u is e d e q u e é u m " s e r d iv in o " , t e n d o f u n ç õ e s re a is, s a c e r d o t a is
e e s c a t o ló g ic a s . A s s im , e le s e a s s e m e lh a , s e n ã o f o r id ê n tic o , a o a rc a n jo
M ig u e l d e s c r ito e m o u tra s p a rte s d o s M a n u s c r it o s d o M a r M o rto (H u g h e s ,
1 9 7 7 , p. 2 3 8 ).
T e x to s g n ó s t ic o s d o q u a rto s é c u lo r e tra ta m d e fo rm a s e m e lh a n t e M e l
q u is e d e q u e c o m o u m c o n q u is t a d o r d e p o d e r e s s o b re n a tu r a is . N o e n ta n to ,
e le s o id e n t ific a m c o m o a " im a g e m d o v e r d a d e ir o S u m o S a c e r d o te d o
D e u s A lt ís s im o " , J e s u s C r is t o (N H C IX ,1 M e lc h iz e d e k - , v e ja P is t is S o p h ia
1 .2 5 -2 6 ).
H e b re u s n ã o m o s tra e v id ê n c ia d e in t e r a ç ã o c o m e s p e c u la ç õ e s s o b re
M e lq u is e d e q u e c o m o u m a fig u r a a n g e lic a l ou c e le s t ia l. S u a v is ã o é f u n d a
m e n ta d a na e x e g e s e m id r á s h ic a d o s t e x t o s b íb lic o s (v e ja C o c k e r ill, 2 0 0 8 ).
A le itu ra t ip o ló g ic a d is t in t a d e H e b re u s e s t a v a a b e rta a in t e r p r e ta
ç õ e s e rr ô n e a s n o s p r im e ir o s s é c u lo s c ris tã o s . Isso a té g e ro u m u ita s id é ia s
h e ré tic a s . M e lq u is e d e q u e fo i id e n t if ic a d o d e v á r ia s m a n e ir a s c o m o u m
p o d e r s o b re n a tu r a l, s e r a n g é lic o , m a n if e s t a ç ã o d o E s p ír ito S a n to , D e u s
Pai ou o C r is to p r é -e n c a r n a d o . A o fin a l d o p r im e ir o s é c u lo , ju d e u s e s a m a -
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
r ita n o s p r o c u ra r a m n e u t r a liz a r a in t e r p r e ta ç ã o c r is tã d e M e lq u is e d e q u e
c o m o u m tip o d e C r is to , p r o p o n d o q u e e le e ra re a lm e n t e o f ilh o d e N oé,
S e m . R a b in o s p o s t e r io r e s a f ir m a r a m q u e o s a c e r d ó c io d e M e lq u is e d e q u e
e ra re a lm e n t e le v ític o , e a o m is s ã o d e s e u re g is tro g e n e a ló g ic o e s c o n d ia o
fa to s ó r d id o d e q u e s u a m ã e e ra u m a p ro s titu ta , e s e u p a i, d e s c o n h e c id o
( H u g h e s , 1 9 7 7 , p. 2 4 5 ).
U m g u ia m a is s e g u ro p a ra a e x e g e s e t ip o ló g ic a d e H e b re u s , ju n t a
m e n te a r e fu t a ç õ e s d e in t e r p r e ta ç õ e s e rrô n e a s , p o d e s e r e n c o n t r a d o
e n tre o s P a is d a Igreja d o q u a r t o e q u in to s é c u lo s , a s s o c ia d o s à e s c o la d e
A n t io q u ia . E p ifâ n io d e S a la m in a , e m s e u P a n a r io n , s u b m e t e u u m a s é r ie d e
e rro s s o b re M e lq u is e d e q u e a u m a ló g ic a a fia d a e a t e n ç ã o c u id a d o s a a o s
t e x t o s b íb lic o s . P o r e x e m p lo , e le re b a te u a v is ã o d e q u e M e lq u is e d e q u e
é D e u s Pai, a p o n t a n d o p a ra a im p o s s ib ilid a d e d e e le s e r D e u s A lt ís s im o
e " s a c e r d o t e d o D e u s A lt ís s im o " s im u lt a n e a m e n t e . D a m e s m a fo rm a , e le
n ã o p o d e r ía t e r s id o o F ilh o d e D e u s , m a s " s e a s s e m e lh a r " a si m e s m o (-»
7.3; H e e n e K re y , 2 0 0 5 , p. 1 0 0 -1 0 1 ).
Jo ã o C r is ó s to m o e T e o d o re to d e C y r t r a n s m it e m s u a c o m p r e e n s ã o
d a tip o lo g ia d e H e b re u s c o m c la r e z a in c o m p a r á v e l e r a c io c ín io p e rs u a -
s iv o (H e e n e K re y , 2 0 0 5 , p. 1 0 2 ,1 1 1 - 1 1 3 ) . C a r a c t e r ís t ic a s c o m o fa lta d e
g e n e a lo g ia , s e m e lh a n ç a c o m o F ilh o d e D e u s e s a c e r d ó c io p e r m a n e n t e
s ã o a p lic a d a s a M e lq u is e d e q u e c o m o u m tip o d e C ris to . C o m o u m a fig u ra
h is tó r ic a , e le n ã o tin h a lit e r a lm e n t e t o d a s a s q u a lid a d e s q u e p e r te n c e m
a C r is t o — c o m o n e m o p r in c íp io d o s d ia s n e m o fim d a v id a . A s p ro
p r ie d a d e s d o s a c e r d ó c io e te r n o p e r te n c e m , p o r n a tu r e z a e na re a lid a d e ,
a p e n a s a o a r q u é tip o , C ris to . M e lq u is e d e q u e c o m p a r tilh a d e s s a s q u a lid a
d e s , n ã o c o m o s e r h u m a n o , m a s a p e n a s na m e d id a e m q u e a s E s c ritu ra s
r e p r e s e n t a m s u a s q u a lific a ç õ e s p a ra o s a c e r d ó c io c o m o tip o , im a g e m ou
s e m e lh a n ç a d o F ilh o d e D e u s.
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
ainda mais enfática ao que é óbvio: O que acabam os de dizer fica ainda mais
claro. Podemos traduzir assim: E é ainda mais abundantemente claro (kai
perissoteron eti katadêlon estin). Mas o que se torna tão óbvio quando aparece
outro sacerdote sem elhante a M elquisedeque? E provável que a “mudança”
legal (7.12) ou abolição (7.18) dos antigos regulamentos sacerdotais necessá
rios pelo aparecimento do sacerdócio superior de Cristo (Attridge, 1989, p.
201-202; Johnson, 2006, p. 188; veja Ellingworth, 1993, p. 377-378, para um
tratamento técnico desta questão).
A segunda diferença vai muito além da questão da linhagem. Ao enfatizar
a semelhança com Melquisedeque [kata tên homoiotêta Melchisedk, “à seme
lhança de Melquisedeque” [NAA; veja KJA, ACF]; como M elquisedeque;
compare com 4.15), Hebreus interpreta o texto de Salmo 110.4 {kata tên taxin
Melchisedek, “na ordem de Melquisedeque”). A expressão e o argumento re
sultante ecoam a declaração em Hebreus 7.3 de que Melquisedeque foi feito
“semelhante ao Filho de Deus” no sentido de que “ele permanece sacerdote
para sempre”.
O uso do verbo anistêmi, tanto em 7.1 1 (“vir”) como aqui (aparece), suge
re mais do que o sentido de “chegar à cena da história” (veja Ex 1.8; Dt 18.15;
At 7.18). O verbo descreve a ressurreição de Jesus em outras partes do N T (Mt
17.9; 20.19; Lc 18.33; At 17.3; 1 Ts 4.14). A seguinte declaração sobre a vida
indestrutível de Jesus (Hb 7.16) provoca esse sentido atraente aqui (Johnson,
2006, p. 186-187; Koester, 2001, p. 335).
O versículo 16 contrasta ainda mais o sacerdócio de Cristo com o dos le-
vitas. A lguém que se to m o u sacerdote à semelhança de Melquisedeque não
por regras relativas à linhagem . A frase regras relativas à linhagem (lit., “lei
de um mandamento carnal [isto é, carne]” [BKJ]) denota uma exigência le
gal relativa à descendência física. O adjetivo carne denota a natureza limitada,
corruptível e mortal dos seres humanos caídos. O regulamento legal para a
sucessão hereditária baseia-se na mortalidade da linha sacerdotal.
Isso contrasta com o sacerdócio de Jesus, que tem sua base no poder de
um a vida indestrutível. Essa pode ser uma das três únicas referências à ressur
reição de Jesus em Eíebreus (-» 5.7 e 13.20). No NT, a ressurreição dos mortos
está associada ao p od er (Rm 1.4; 1 Co 6.14; 15.43; 2 Co 13.4; Fp 3.10; Cl 2.12;
Ap 20.6; veja Hagner, 1990, p. 112) e ávida (Lc 24.5,23; Jo 5.25; 11.25,26; At
1.3; 3.15; Rm 6.4; 8.11; Ap 20.5). Talvez, como em Efésios 1.19,20, o poder
divino seja visto não apenas em ressuscitar Jesus dentre os mortos, mas também
em exaltá-lo à destra de Deus (veja Hb 1.3,13; 8.1; 10.12; 12.2; 13.20).
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
S a c e r d ó c io l e v ít ic o S a c e r d ó c io d e J es u s
le i poder
c a rn e in d e s t r u t í v e l
m a n d a m e n to s v id a
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HEBRF.US NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
P o nto de co m paração S a c e r d ó c io l e v it ic o C r is t o ,
nosso sum o sacerdote
N om eação P o r D e u s (5.1), P o r D e u s (5 .5 ,6 ),
m a s p o r m e io d o a p a r e c e n d o c o m o um
n a s c im e n t o s e g u n d o s a c e r d o t e s e m e lh a n t e
a o rd e m d e A rã o a M e lq u is e d e q u e
(5.4; 7 .1 1 ). (7 .1 5 ,1 6 ).
B ase da n o m ea çã o R e g u la m e n t a ç ã o le g a l " 0 p o d e r d e u m a v id a
s o b re a n c e s t r a lid a d e in d e s tr u t ív e l" (7 .1 6 )
n a tu r a l (7 .1 6 ), q u e foi e s o b o ju r a m e n t o
p o s ta d e la d o c o m o d ir e to d e D e u s
" fra c a e in ú til" (7 .1 8 ). ( 7 .2 0 -2 2 ,2 8 ).
N ú m e ro e M a n d a to M u ito s [...] s a c e r S ó Je s u s p e r m a n e c e
d o te s , p o is a m o rte s a c e r d o t e p a ra
im p e d e q u e c a d a u m s e m p r e ; E le te m
d e le s c o n t in u e em um sa ce rd ó cio
seu o fício (7.2 3). p e rm a n e n te (7.2 4).
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NOVO COiMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
S e rv iç o " A p r e s e n t a r o fe r t a s O fe r e c e u - s e e m
e s a c r if íc io s p e lo s o b e d iê n c ia à v o n t a d e
pecad o s" de Deus
(5.1; 8 .3 ,4 ; 9.9). (5 .7 -1 0 ; 1 0 .5 -1 0 ).
D is p o s iç ã o m o ra l "F ra co s", te n d o de C a p a z d e id e n tific a r-
o f e r e c e r s a c r if íc io s se co m a fra q u e z a
p e lo s s e u s p ró p rio s hum ana, m as é
p e c a d o s a n te s d e c o m p le t a m e n t e
f a z e r s a c r if íc io s e m sem p e cad o e
n o m e d e o u tro s s a n to (2.1 8; 4 .1 5 ;
(5 .2 ,3 ; 7 .2 7 ,2 8 ). 7 .2 6 ) e " c o n s t it u íd o
p e r fe ito " p o r m e io da
o b e d iê n c ia .
T ip o d e o fe rta (s ) S a c r ifíc io s d e a n im a is , O fe r e c e u - s e (7.2 7;
c o m o to u r o s e c a b r a s 9 .1 4 ,2 5 ,2 6 ) , ou
(9 .1 2 ,1 3 ; 1 0 .4 ) e se ja , S e u c o rp o
o fe r t a s d e c o m id a (1 0 .5 ,1 0 ,2 0 ) e s a n g u e
e b e b id a ; t a m b é m (9 .1 2 ,1 4 ; 1 0 .1 9 ,2 9 ;
a d m in is t r a r la v a g e n s 1 2 .2 4 ; 1 3 .1 2 ,2 0 )
c e r im o n ia is . q u a n d o s u p o rto u a
c ru z (1 2.2; v e ja 6.6).
F re q u ê n c ia " R e g u la r m e n t e " "U m a v e z p o r to d a s "
(9.6 ), " d ia a p ó s d ia " (7.2 7; 9 .1 2 ,2 6 ,2 8 ;
(7.2 7; 1 0 .1 1 ) e "a n o 1 0 .1 0 ).
a p ó s a n o " (1 0 .1 b ;
e s p e c ia lm e n t e n o D ia
da E x p ia ç ã o a n u a l
[9.2 5]).
E fic á c ia L im p e z a " e x t e r n a " Rem oveu
t e m p o r á r ia ; "fo ra m d e f in it iv a m e n t e o s
im p o s t a s a té a n o v a p e c a d o s (9 .2 6 ,2 8 )
o r d e m ” (9 .1 0 ,1 3 ); n ã o e to rn o u os
p o d e e fe t iv a m e n t e a d o r a d o r e s " p e r fe it o s
r e m o v e r p e c a d o s ou p a ra s e m p r e "
p u r ific a r a c o n s c iê n c ia (1 0 .1 4 ), p u r g a n d o
(1 0 .4 ,1 1 ), p o rta n to , c o m p le t a m e n t e s u a s
n ã o p o d e to r n a r c o n s c iê n c ia s d a c u lp a
o s a d o ra d o r e s dos pecados
" p e r fe it o s " (9.1 4; 1 0 .2 2 ).
(7 .1 1 ,1 9 ; 9.9; 1 0 .1 ,2 ).
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veja 4.14). Isso prepara para um argumento-chave que Hebreus fará para a
superioridade do sacerdócio de Cristo. Jesus tem a distinção de realizar Seu
ministério de sumo sacerdote no santuário celestial, não em um tabernáculo
terrestre construído humanamente (veja 8.1,2,5,6; 9.23,24; 10.1).
B 2 7 A excelência moral de Jesus torna Seu sacrifício sumo sacerdotal insupe
rável. Isso é expresso por meio de três contrastes:
Primeiro, o sacrifício que Ele ofereceu é superior. A o contrário de outros
sum os sacerdotes, ele não tem necessidade de oferecer sacrifícios de ani
mais. Mais tarde, o pregador afirmará com ousadia: “É impossível que o sangue
de touros e bodes tire pecados” (10.4). Mas o Filho a si m esm o se ofereceu
como um sacrifício sem mácula a Deus (veja 9.14,25,26). Jesus não é apenas
o sacerdote perfeito oferecendo o sacrifício, mas também a vítima sacrificial
perfeita. Outras testemunhas do N T (G1 1.4; 2.20; Ef 5.2,25; 1 Tm 2.6; Tt
2.14; 1 Pe 2.24) da mesma forma enfatizam que Jesus se entregou a si m esm o
como sacrifício.
Segundo, por causa de Sua pureza moral, Jesus não precisa ser um dos
objetos de expiação. Em contraste com os outros sumos sacerdotes, não era
necessário que Ele sacrificasse prim eiro por seus próprios pecados e, depois,
pelos pecados do povo. Os sumos sacerdotes levíticos, devido à sua fraqueza
moral (5.2,3; 7.28), tinham de priorizar a expiação de seus próprios pecados
antes que pudessem oferecer sacrifícios pelos outros. Não é assim com Cristo.
Terceiro, portanto, o sacrifício de Jesus foi singular e definitivo. Os sumos
sacerdotes levíticos tinham de oferecer sacrifícios dia após dia, mas o sacrifício
de Jesus de si mesmo foi eficaz de um a vez por todas (efapax). Isso anuncia um
tema proeminente nos capítulos 9 e 10: o sacrifício final e irrepetível de Jesus
pelos pecados (bapax: 9.7,26,28; 10.2; ephapax·. 7.27; 9.12; 10.10).
H 2 8 Outro conjunto de três contrastes completa os argumentos do capítulo 7:
• A regulamentação legal do sumo sacerdócio levítico (a Lei) é coloca
da em oposição ao juram ento confiável de Deus. Que o juramento
de Deus veio dep ois da Lei indica a prerrogativa divina de decretar
mudanças fundamentais na forma como Ele se relaciona com a hu
manidade, estabelecendo uma “aliança superior” (7.22; veja Koester,
2001, p. 373).
• O antigo sacerdócio era composto por homens mortais, enquanto o
novo Sumo Sacerdote é o exaltado Filho de Deus.
• Como meros humanos, que são mortais e sempre sujeitos ao fracasso
moral, os sumos sacerdotes levíticos têm fraquezas, mas o Filho foi
constituído perfeito para sempre.
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
A PARTIR DO TEXTO
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
bre a intercessão de Cristo pode ser feito do que na segunda e terceira estrofes
do hino de Charles Wesley, “Levanta-te, minha alma, levanta-te”:
Ele vive sempre acima
Para por mim interceder;
Seu amor redentor,
Seu precioso sangue a suplicar.
Seu sangue expiou por toda a nossa raça,
Seu sangue expiou por toda a nossa raça,
E asperge agora o trono da graça.
Cincoferidas sangrentas Ele carrega,
Recebidas no Calvário.
Elas derramam orações eficazes;
Elas imploramforte?nentepor mim.
“Perdoe-o, óperdoe”, elas clamam,
“Perdoe-o, ó perdoe", elas clamam,
“Nem deixe aquele pecador resgatado morrer!”
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
NO TEXTO
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
serve]; leitourgia, “ministério” [v. 6]). Esse ministério é superior no que diz
respeito a Seu santuário celestial (v. 1,2,5), sacrifício (v. 3,4) e nova aliança (v.
6). Então, os versículos 7-10 apresentam o oráculo de Jeremias 31.31-34 para
demonstrar que a antiga aliança, defeituosa e obsoleta, exigia o estabelecimen
to da Nova Aliança.
O m ais im portante do que estam os tratando introduz a principal afir
mação da homília. Os oradores usavam o termo kephalaion para referir-se ao
“ponto principal” (ARIB, JFA, TB; “ponto central” [BSEP]) ou a uma sinopse
(“soma” [KJV]; “medula” [TYNDALE]) de seu argumento principal (BDAG,
p. 541; Thompson, 2008, p. 172; veja Quintiliano, Inst. 3.10.27).
O pregador expressa, de forma concisa, tanto o impulso exortativo como o
expositivo de seu sermão. Tem os um sum o sacerdote com ligações a partir de
7.26-28. Lá, ele falou de nossa “necessidade” de “tal \toioutos]”sumo sacerdote.
Aqui ele diz: “A questão é que temos o tipo de [toiouton, tal\ sumo sacerdote
que tenho descrito” (Westfall, 2005, p. 195; veja Ellingworth, 1993, p. 393).
Que Jesus é o nosso Sumo Sacerdote é a proposição essencial de todo o sermão
(2.17,18). Isso é fundamental para as exortações do pregador para um com
promisso cristão mais profundo e esperança inabalável, que encerram as seções
argumentativas centrais do sermão (-> 4.14-16 e 10.19-25; veja também 3.1,6;
6.19,20).
Que o Filho se assentou à direita do trono da M ajestade nos céus é a
confissão cristã fundamental em Hebreus (3.1; 4.14; 10.23; veja 12.2; 13.15).
A frase lembra 1.3. No entanto, a origem da alegação pertence à tradição cristã
mais antiga (vejaMc 12.36 ||; 14.62 ||; 16.19; At 2.34; Rrn 8.34; 1 Co 15.25; Ef
1.20; Cl 3.1). A convicção, em última análise, surge do texto bíblico do Salmo
110.1 (citado em Hb 1.13; -> 1.13 anotação complementar: “Salmo 110 em
Hebreus”).
A representação da entronização do Filho (à direita do trono) lembra os
leitores da sujeição de Deus de todas as coisas a Ele no mundo que há de vir
(2.5-9; veja 10.12,13; 12.2). Majestade Q 1.3) é um circunlóquio para “Deus”.
A expressão nos céus repete um pensamento-chave expresso anteriormente em
4.14 e 7.26. Será crucial para os argumentos restantes do pregador. O minis
tério e santuário do sumo sacerdócio de Cristo são celestiais, e não terrenos.
Portanto, seu serviço é superior ao do culto levítico (veja 8.4,5; 9.11; 9.23,24).
A expansão desse pensamento começa imediatamente em 8.2. O Filho ser
ve, ou melhor, é um ministro (Íeitourgos; ocorrendo na maioria das traduções)
em um santuário divinamente construído. O uso secular de íeitourgos (e seus
cognatos) pertencia a qualquer tipo de serviço público, mas na LXX é restrito
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Mediador
M e d ia d o r (mesités) e ra o in t e r m e d iá r io q u e p o d ia c u m p r ir u m a ou
m a is fu n ç õ e s . E m q u e s tõ e s le g a is , u m m e d ia d o r p o d e s e r v ir c o m o á r b itr o
o u n e g o c ia d o r im p a r c ia l e m u m a d is p u ta , o u c o m o t e s t e m u n h a e f ia d o r
d e u m c o n t r a t o (v e ja 7 .2 2 ). E m u m c o n t e x to s o c ia l, o m e d ia d o r e ra um
c o r r e t o r q u e p o d e r ía u n ir d u a s p a rte s d e s ig u a is : a n g a r ia r o u tro c lie n t e fie l
p a ra u m p a tro n o e g a r a n t ir o s b e n e fíc io s n e c e s s á r io s d o p a tro n o p a ra o
c lie n te . E m u m c o n t e x to re lig io s o , o m e d ia d o r e ra u m in t e r c e s s o r ou a d
v o g a d o q u e re p r e s e n t a v a o s a d o r a d o r e s d ia n t e d e D e u s (B D A G , p. 63 4 ;
M M , p. 3 9 9; S á n g e r, 1 9 9 1 ).
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
procurar lugar para outra. A prim eira aliança não foi “impecável \amemp-
tos\” (a maioria das traduções). Isso exigia outra ou uma segunda aliança. Mas
D eus também achou o povo em falta (memphomenos [8.8λ ]). O pregador
apoia essa dupla avaliação negativa com uma citação de Jeremias 31.31,32 em
Hebreus 8.8L·,9.
Estão chegando os dias provavelmente tem um significado escatológico
para os hebreus. Eles são “estes últimos dias” (1.2), ou seja, a era evangélica
chamada “hoje” (3.15), quando ainda há uma oportunidade de salvação antes
do “dia” final (10.25; Thompson, 2008, p. 170).
O próprio Senhor declara que na era final fará uma nova aliança. Esse
anúncio implica que a primeira aliaúça era defeituosa. Mas a nova não será
com o a aliança que fe z com seus antepassados (v. 9) durante o êxodo. Par
ticularmente, não deixará de garantir compromisso e obediência duradouros
entre as pessoas. V isto que os israelitas não perm aneceram fiéis à Sua alian
ça com eles, Ele se afastou deles. O drama trágico da rebelião da geração do
deserto e o abandono deles por Deus no deserto serviram de advertência ante
riormente em Hebreus (3.7—4.13).
O pregador apresenta positivamente a nova aliança em 8.10-12 citan
do Jeremias 31.33,34. Ele enumera quatro benefícios (“promessas superiores”
[8.6]). Dois deles receberão sua atenção mais tarde, em 10.16,17. Por enquan
to, ele não faz comentários sobre as quatro bênçãos da Nova Aliança listadas na
profecia de Jeremias, mas certamente endossou cada uma delas.
Primeiro, porei m inhas leis em suas m entes e as escreverei em seus co
rações (8.10). Isso envolve mais do que a internalização da vontade de Deus.
Implica uma transformação da pessoa interior em direção à obediência ou con
formidade com a vontade de Deus (veja esp. Koester, 2001, p. 386-387). Isso
é facilitado pela purificação da consciência por meio da auto-oferta de Cristo
(9.14; 10.22; contraste 9.9; 10.2).
Segundo, serei o D eus deles, e eles serão m eu povo. A ação de Deus
no Filho foi projetada para trazer “muitos filhos à glória” (2.10). Jesus veio
para resgatar (2.15) e reunir uma comunidade de adoração de irmãos e irmãs
(2.12,13) que “se aproximam de Deus” (7.19; 10.22; 12.22-24). Ele age como o
Filho fiel e sumo sacerdote sobre a família divina (3.1,2,6; 10.21). O sacrifício
expiatório de Cristo pelo “povo” (13.12; veja 2.17) e a disciplina de Deus sobre
Seus filhos (12.4-17) visam criar um povo santo (2.11; 12.11,14).
Terceiro, a profecia promete conhecimento sem precedentes do Senhor
(todos eles m e conhecerão [8.11]). Hebreus fala da inauguração na fé cristã
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
lestial (6.19). Ele se referirá a esse véu novamente em conexão com o sacrifício
de Jesus (10.20).
O inventário do lugar santíssimo nos versículos 4 e 5 não é isento de di
ficuldades. Um problema perene é Hebreus localizar o altar de ouro para o
incenso no santuário interno em vez do lugar santo. É duvidoso que o prega
dor esteja referindo-se a um “incensário de ouro” (BKJ; “queimador de incenso
de ouro” [GW]). Esse foi um implemento relativamente incidental em com
paração com os outros móveis, e mais provavelmente feito de latão, e não de
ouro. A sugestão de Attridge é atraente (1989, p. 234), de que as referências
no Pentateuco à localização do altar estão abertas à interpretação (Êx 30.6;
37.25-28; 40.5,26). Mas é, afinal, pouco convincente, porque os regulamentos
para o Dia da Expiação claramente colocam o altar de incenso fora do Santo
dos Santos (Lv 16.18). Contemporâneos do autor de Hebreus confirmam essa
localização (Fílon, Moisés 2.94-95, 101-104; Herdeiro 226; Josefo, G. J. 5.216-
18; Ant. 3.139-147; Lc 1.8-11; Lane, 1991, p. 220). É possível que Hebreus
siga uma tradição alternativa quanto à colocação do altar (como em 1 Rs 6.22
MT; 2 Mac. 2.4-8; e 2 Bar. 6.7). Mas mesmo essas passagens não localizam
positivamente o altar no santuário interno (e qualquer menção ao altar ou sua
localização está ausente de 1 Rs 6.22 LXX; Ellingworth, 1993, p. 426).
Talvez Hebreus não possa ser culpado por localizar o altar de incenso no
lugar santíssimo. Queimar incenso no altar era de vital importância para o que
acontecia no Santo dos Santos no Dia da Expiação (para que o sumo sacerdote
“não morra” [Lv 16.13; veja Nm 16.40]). Depois que o sumo sacerdote asper-
gia sangue na tampa da expiação (Lv 16.14,15), ele também aspergia nas pontas
do altar (Lv 16.18,19). Embora o altar de incenso não estivesse localizado no
lugar santíssimo, estava intimamente associado a ele no Dia da Expiação (assim
Hughes, 1977, p. 312-314; Hagner, 1990, p. 128; France, 2006, p. 112-113).
O mobiliário central do santuário interno era a arca da aliança, totalm en
te revestida de ouro. Na LXX, era chamada de “a arca do testemunho” (Êx
25.10), pois continha “os testemunhos” que Deus deu a Moisés (Êx 25.16,21;
40.20). Em Êxodo, eram as tábuas da aliança que Deus instituiu no monte
Sinai (Êx 31.18; 32.15; 34.29; veja Dt 10.5).
Apenas Hebreus lista o vaso de ouro con ten d o o m aná e a vara de Arão
que brotou como conteúdo adicional dentro da arca. De acordo com o AT,
esses itens foram colocados “diante do Senhor” (Êx 16.33) ou “diante do Tes
temunho” (Êx 16.34; Nm 17.10 [ACF]), não na arca. Quando o templo de
Salomão foi mobiliado, a arca não continha nada além das duas tábuas de pe
dra (1 Rs 8.9; 2Cr 5.10). Talvez Hebreus tenha considerado lógico que todos
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
9.6 9.7
E s p a ç o e x t e r io r (= L u g a r Santo) E s p a ç o in t e r io r (= S a n to dos
Santos)
S a c e rd o te s (pl.) S o m e n te o su m o s a ce rd o te
En trav a m re g u la rm e n te E n trav a [...] a p e n a s um a vez
po r ano
E x e rce r o seu m in isté rio N unca sem a p re s e n ta r o s a n
g u e [...] q u e o fe re cia [...] p elos
pecados
304
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
ção na frente dela, expiando seu próprio pecado e os pecados de sua casa (Lv
16.6,14). Então ele sacrificava um bode como oferta pelo pecado pelo povo.
Hebreus especifica que isso era p elos pecados que o povo havia com etido
por ignorância.
O âmbito da expiação de acordo com Levítico 16.16,21 (“todos os seus
pecados”) parece abranger até mesmo os pecados deliberados. Mas Hebreus
corretamente discerne a expiação como limitada a pecados não intencionais
(veja Lv 4.1—5.19; Nm 15.22-29). Aqueles que pecaram desafiadoramente es
tavam sujeitos à pena de morte (Êx 21.14; Nm 35.20,21,30,31; D t 17.12) ou
ao seu equivalente — exclusão do povo de Deus (Nm 15.30,31). Yom Kippur
não podería beneficiá-los. Hebreus mantém a posição rigorosa de que os pe
cados rebeldes ou arbitrários são imperdoáveis (Hb 6.4-8; 10.26-31; 12.17; -»
5.2). Isso não ocorre simplesmente porque tais pecados são deliberados e com
pleno conhecimento (veja 10.26), mas porque eles desafiam a própria aliança e
tratam suas promessas e bênçãos com desprezo.
B 8-10 A disposição do tabernáculo terrestre e os regulamentos para o ser
viço sacerdotal em suas câmaras não eram fins em si mesmos. Sua inadequação
era em si reveladora, apontando para uma perfeição futura. O Espírito Santo
estava m ostrando, com isso, o acesso limitado à presença de Deus sob a antiga
aliança (v. 6,7), e ainda não havia sid o m anifestado o cam inho para o Santo
dos Santos (v. 8). Caracteristicamente, Hebreus atribui a revelação bíblica ao
Espírito Santo (veja 3.7; 10.15) e emprega um argumento da cronologia (veja
1.1,2*; 4.8; 7.11,17,18; 8.7; 10.9).
Enquanto ainda perm anecia o prim eiro tabernáculo funcionou como
uma ilustração ou “parábola” {parabolê; ARA, ARIB, JFA, NAA, TB) para
os nossos dias (v. 9). O nossos dias é o “hoje” em que os leitores vivem (3.13;
4.7), “nestes últimos dias” (1.2*) ou “o fim dos tempos” (9.26) inaugurado pela
vinda de Cristo. Uma vez que Cristo iniciou Seu ministério de Sumo Sacerdote
no verdadeiro tabernáculo celestial (8.1,2; 9.11,23-25), Ele abriu “um novo e
vivo caminho” para o santuário interior (10.19,20; 6.19,20), tornando, as
sim, extinto o tabernáculo antigo e temporário.
A ilustração é elaborada no versículo 9 com respeito à inadequação das
ações levíticas de culto. A apresentação de ofertas e sacrifícios compreende a
definição essencial de Hebreus da função sacerdotal (-> 5.1; 8.3). O valor dos
regulamentos para o culto era severamente limitado. Isso é afirmado na negati
va em 9.9 e na afirmativa no versículo 10.
Negativamente, as ofertas sob a antiga aliança não podiam dar ao adora
dor uma consciência perfeitam ente limpa. Surpreendentemente, a maioria
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
das versões não conseguiram transmitir com sucesso o grego aqui. Algumas
versões (GW, NLT, NIV) efetivamente obscurecem o reaparecimento do im
portante tema da “perfeição” . A tradução “quanto à consciência, não podem
aperfeiçoar aquele que faz o serviço” (ACF, ARA, ACR, ARIB; veja JFA, TB)
é uma ligeira melhoria. Da mesma forma, alguns comentários enfatizam insu
ficientemente a exatidão da frase (ex.: Attridge, 1989, p. 242).
A expressão grega mostra claramente que não é a consciência que é
aperfeiçoada, mas o adorador. Com efeito, significativamente, esse versículo
define como Fdebreus concebe a perfeição dos adoradores, notada em outros
lugares sem qualificação (7.11,19; 10.1,14; 11.40; 12.23). O culto do AT não
podia “aperfeiçoar o adorador \teleiõsai ton latreuonta\ em consciência [kata
syneidésinX (NAB; veja KJV, NASB, NJB, TYNDALE). A REB expressa o
pensamento com mais clareza: “Não pode dar ao adorador uma consciência
limpa e, assim, levá-lo à perfeição”.
Consciência
A c o n s c iê n c ia é a f a c u ld a d e d a c o n s c iê n c ia m o ra l n o s s e r e s h u m a n o s .
N ã o só e s tá c ie n t e d o c a r á t e r d e n o s s o s p e n s a m e n t o s e a ç õ e s (b o n s ou
m a u s , h o n r o s o s o u d e s o n ro s o s ) , c o m o t a m b é m p r o n u n c ia ju íz o s o b re e le s
( a c u s a n d o o u d e fe n d e n d o ; v e ja R m 2 .1 5 ). E m H e b re u s , a to s p e c a m in o s o s
c o n t a m in a m a c o n s c iê n c ia ( c o m p a re c o m 1 C o 8 .7 ), d e m o d o q u e e la
p r e c is a s e r p u r ific a d a (H b 9 .1 4 ; 1 0 .2 ,2 2 ). U m a c o n s c iê n c ia c o n t a m in a d a
é " m a lig n a " o u " m á " ( 1 0 .2 2 A R A e A C F ), p o rta n to , " c u lp a d a ” (NVI). U m a
c o n s c iê n c ia lim p a é " b o a " ( 1 3 .1 8 BKJ, T B ), isto é, " lim p a " (NVI).
U m a m a lig n a c o n s c iê n c ia d e s q u a lif ic a e d e b ilit a a p e s s o a d e t e r liv re
a c e s s o à p r e s e n ç a d e D e u s . A v e r g o n h a e a t im id e z a s s o c ia d a s a u m a
c o n s c iê n c ia c u lp a d a s ã o a s a n t ít e s e s d a o u s a d ia e s e g u r a n ç a n e c e s s á r ia s
p a ra q u e o s a d o r a d o r e s s e a p r o x im e m d o t ro n o d a g r a ç a (4.1 6; 1 0 .1 9 ;
v e ja 3.6; 6 .1 1 ; 1 0 .2 2 ,3 5 ; c o n t r a s t e c o m 1 0 .3 7 -3 9 ).
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON H KBRHUS
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HEBRF.US NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
por Fílon para descrever algo muito mais adequado (Nomes 128; Leis Esp.
2.128). Essa expressão permite ao pregador utilizar mais uma vez a linguagem
da perfeição. O tabernáculo celestial cumpre mais perfeitamente sua função
como o verdadeiro e mais sagrado espaço onde Deus é adorado (veja 9.23,24).
O santuário terrestre meramente prefigurava ou se assemelhava ao celestial
(8.5; 9.9). O antigo tabernáculo foi comissionado por Deus. Mas foi estabe
lecido por mãos humanas (8.2,5). O maior e mais perfeito tabernáculo é “o
artigo genuíno”, não uma réplica feita à mão (9.11; veja 8.2; 9.24). Jesus, as
sim como outras testemunhas do N T (Mc 14.58; Jo 2.19-22; At 7.48; 17.24),
reconheceu a verdade profética: Deus não habita realmente em um templo
construído pelo homem, mas no céu mais elevado (Is 66.1,2; veja 1 Rs 8.27; 2
Cr 2.5,6; 6.18; Bruce, 1990, p. 212).
Hebreus identifica (isto é) a qualidade permanente e transcendente do
tabernáculo celestial: N ão pertencente a esta criação. Pertence a uma ordem
diferente do santuário terrestre: o Reino permanente e inabalável (deSilva,
2000a, p. 304-305). Possivelmente, Hebreus traça os movimentos de nosso
grande Sumo Sacerdote com uma cosmologia em mente. Cristo passou por um
homólogo celestial para a primeira câmara do antigo tabernáculo (o m aior e
m ais perfeito tabernáculo = passando “pelos céus” [Hb 4.14]), então entrou
no Santo dos Santos (= “o santuário interior” [6.19] ou acima “no próprio
céu” [7.26; 9.24]; anotação complementar em 4.14: “O s Céus' na cosmo
logia antiga e em Hebreus”; Attridge, 1989, p. 247-248; Lane, 1991, p. 238).
Ainda assim, a linguagem de Hebreus pode simplesmente ser altamente meta
fórica (Schenck, 2007).
Assim como o tabernáculo celestial é superior (compare 9.11 com os v.
1-5), assim também é a oferta de sacrifício de Cristo (compare o v. 12 com os
v. 6-10). Ele entrou não p or m eio do sangue de b od es e novilhos. Esse era o
meio anual de acesso para os sumos sacerdotes levíticos no Dia da Expiação (Lv
16.3,5-11,15,16,18,19; -» Hb 9.6,7).
Cristo entrou no Santo dos Santos, não com o sangue de vítimas brutas e
involuntárias de sacrifício, mas p elo seu próprio sangue. O pregador não atri
buiu quaisquer qualidades mágicas ao sangue da aliança que o torna eficaz para
a limpeza (-» 9.16-22). O que é eficaz é a morte da vítima sacrificial, a entrega
de sua vida, vida em lugar de vida — “pois a vida da carne está no sangue” (Lv
17.11,14).
A frase pelo seu próprio sangue é uma sinédoque (uma figura de lin
guagem em que a parte representa o todo). A morte de Cristo foi uma oferta
voluntária e obediente. O fluido hemático em si não era a preocupação do
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
pregador. Não foi apenas o “próprio sangue” de Cristo (veja Hb 9.25; 10.19;
12.24; 13.12) que Ele ofereceu. Ele entregou Sua “carne”/ “corpo” (10.5,10,20).
Ele deu “a si mesmo” (7.27; 9.14,25,26), Sua própria vida, para tornar possível
nossa eterna redenção (9.12).
Considerando que os sumos sacerdotes comuns tinham de oferecer ofer
tas pelo pecado uma vez por ano (veja v. 7), Cristo se ofereceu uma vez por
todas (efapax; ->7.27). Seu sacrifício foi conclusivo, não exigindo repetição ou
renovação, tendo obtido a redenção eterna. A menção da redenção (,lytrõsin)
antecipa a referência à morte de Cristo como um “resgate para [as pessoas] [...]
\apolytrõsin\” dos pecados (->9.15; 11.35). A linguagem de resgate se aplica aos
meios de liberação de dívida, prisão ou escravidão (Kertelge, 1991).
Mesmo que o vocabulário de resgate não ocorresse em 2.5-18, conceitual-
mente já estava presente. A morte de Cristo liberta os herdeiros da promessa de
Deus do medo da morte (2.9,14-16). É verdade que a ênfase aqui no capítulo
9 é sobre a redenção dos pecados; mas também, ali (2.11,17), a obra santifica-
dora e expiatória de Jesus estava intimamente ligada ao Seu ato de libertação.
Tão definitiva é essa redenção que pode ser qualificada como eterna. Isso
corresponde às referências do pregador à “eterna salvação” (5.9; veja 2.10; 9.28)
ou “herança eterna” (9.15).
I 1 3 - 1 4 Esses versículos concluem 9.1-14 com um conjunto final de an
títeses paralelas. O contraste no versículo 12 é estendido por meio de uma
comparação de menor para maior (qal wahomer) dos sacrifícios levíticos e au-
to-oferta de Cristo (v. 13,14). Tal como a conclusão de 9.1-10 nos versículos
9,10,o pregador avalia a eficácia limitada das ordenanças da antiga aliança para
a adoração aqui, nos versículos 13 e 14. Ele se baseia nessa conclusão para con
solidar o argumento da superioridade e eficácia da auto-oferta de Cristo.
O sangue de bodes e touros mais uma vez alude ao Dia da Expiação
(10.3,4; -> 9.6,7), embora uma referência mais geral aos sacrifícios possa estar
em vista (Nm 7.15,16,87; 2 Cr 29.21,33; 30.24; Ed 6.17; 8.35; SI 50.13; 66.15;
Is 1.11; Lane, 1991, p. 239). Combinar uma alusão ao Yom Kippur com as cin
zas de uma novilha é incomum. Os dois nunca são explicitamente associados
no AT (veja Nm 19.1-22). No entanto, Hebreus parece ver uma sequência de
ligações importantes entre eles:
Primeiro, ambos são ofertas pelo pecado (Lv 16.6,9,11,15,25; e Nm 19.9).
Segundo, ambos envolvem aspersão: sangue aspergido em ambos os ritos
(Lv 16.14,15,19; Nm 19.4); água aspergida de purificação preparada com as
cinzas da novilha vermelha (Nm 19.13,18,19,20,21).
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Si 18-22 O que é verdade para uma vontade (v. 16,17) também se aplica a
uma aliança (v. 18). Por isso, nem a prim eira aliança foi sancionada sem san
gue. O sangue simboliza vividamente a morte. O derramamento e a aspersão
de sangue em sacrifício consagrava os adoradores ritualmente e os purificava
dos pecados (v. 22,25,26). A morte sacrificial era necessária para sancionar,
isto é, “inaugurar [,enkainizõ]” (VC) a prim eira aliança.
A cerimônia inaugural da primeira aliança está registrada em Êxodo
24. Isso serve de base para a descrição em Hebreus 9.19-21. Mas Hebreus a
complementa com detalhes de outros rituais e eventos do AT. A água, a lã
verm elha e os ram os de h issop o eram usados no ritual da novilha vermelha
(Nm 19.6,18) e na limpeza de doenças da pele (Lv 14.4-7,51,52). O hissopo
pode ter sido usado para aplicar o sangue dos cordeiros da Páscoa nos batentes
das portas dos hebreus (Êx 12.22; veja Lv 4.4; Nm 19.18; Lane, 1991, p. 244).
Êxodo não faz menção de aspergir o próprio livro com sangue (Hb 9.19).
Tampouco Moisés podería ter aspergido o tabernáculo com sangue (9.21),
visto que ainda não havia sido construído; e, uma vez construído, foi dedicado,
não com sangue, mas com óleo de unção (Êx 40.9,16; Lv 8.11). Ao condensar
rituais e eventos, a maioria envolvendo a aspersão de sangue, Hebreus oferece
um comentário sobre todo o sistema sacrificial sob a antiga aliança (Thomp
son, 2008, p. 191).
Hebreus (9.20) destaca apropriadamente a importância do sangue sacrifi
cial para inaugurar a aliança citando Êxodo 24.8: Este é o sangue da aliança
que D eus ordenou que vocês obedeçam . O âmbito abrangente da dedica
ção da aliança é enfatizado por toda parte: to d o s [pasês] os m andam entos (v.
19a); a to d o [panti] o povo (v. 19a); aspergiu o próprio livro e to d o \panta \
o povo (v. 19r); aspergiu [...] o tabernáculo e to d o s \panta] os utensílios das
suas cerim ônias (v. 21).
Essa ênfase leva naturalmente à conclusão no versículo 22: D e fato, segun
do a Lei, quase todas \panta\ as coisas são purificadas com sangue. Hebreus
observa corretamente que quase (schedon; “praticamente” [NJB]) tudo foi pu
rificado com sangue. Claramente a Lei autorizava rituais de purificação com
outros agentes purificadores (ex.: água em Lv 14.4; 15.11,13,16-18).
No entanto, o princípio geral permanece: Sem derram am ento de san
gue não há perdão. Gregos e romanos, assim como judeus, acreditavam que o
sangue possuía um poder misterioso que efetuava a pureza cultuai (veja Koes-
ter, 2001, p. 420). Mas a compreensão dos hebreus concernente à capacidade
do sangue sacrificial de purificar pecados (9.7,13; veja 13.11) e afastar o mal
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
(11.28; veja Bõcher, 1990) está em dívida com o meio cultural judaico e com
o sistema cultuai do AT em particular. O “texto base” do sacrifício de sangue,
Levítico 17.11 (deSilva, 2000a, p. 311), chega mais perto de explicar como o
sangue expia os pecados: “Pois a vida da carne está no sangue”, então “é o san
gue que faz propiciação pela vida”. Tirar a vida de uma vítima sacrificial libera
essa vida em benefício daquele que faz o sacrifício, de alguma forma efetuando
a expiação. Nova vida surge da morte.
Quer Hebreus tenha cunhado ou não a rara frase derram am ento de san
gue (haimatekchysia), ela provavelmente foi abstraída da violenta expressão
“derramar sangue \ekchysis haimatos]” (veja 1 Rs 18.28 LXX; Sir. 27.15). A
imagem do sangue fluindo livremente transmite a tomada da vida; retrata a
morte sacrificial. O perdão resultante pode indicar a purificação do pecado,
uma vez que está emparelhado com a purificação nesse mesmo versículo (9.22;
veja 9.14; 10.2). No entanto, aphesis (perdão; também em 10.18) pode indicar
liberação ou libertação (ex.: Is 61.1 LXX; Lc4.18). A sobreposição com a mor
te de Cristo como um “resgate [apolytrõsis]” (9.15) dos pecados dificilmente
pode ser acidental.
O princípio da expiação do AT se mantém, embora o pregador afirme que
os sacrifícios levíticos nunca poderíam ser realmente eficazes (veja 9.9,13,14;
10.4). A indispensabilidade da morte sacrificial, argumentada nesse parágrafo
(9-15-22), forma o pressuposto para o argumento do próximo parágrafo (9.23-
28): Cristo se ofereceu como o sacrifício definitivo.
B 2 3 -2 4 O versículo 23 tira uma conclusão do argumento anterior. Era
necessário paralelo ao “é necessário” no versículo 16. Sacrifícios foram neces
sários para inaugurar a antiga aliança e consagrar todas as pessoas e objetos
(livro, tabernáculo, utensílios) associados a ela (-» 9.18-21). Assim foi também
com a nova aliança. O argumento vai do menor para o maior (qal wahomer).
Por um lado (homens), as cópias das coisas que estão nos céus precisavam
ser purificadas com esses sacrifícios (ou seja, sacrifícios da aliança, como “o
sangue de bezerros” em 9.19). Por outro lado {de, m as), as próprias coisas
celestiais precisavam ser purificadas com sacrifícios superiores. Isso levanta
duas questões difíceis:
Primeira, por que o pregador se refere a sacrifícios superiores (pl.), espe
cialmente quando ele já caracterizou o sacrifício de Cristo como “uma vez por
todas” (7.27; 9.12)? Apenas levanta a questão para explicar que o plural é ge
nérico e impreciso (Attridge, 1989, p. 261; Hagner, 1990, p. 146; Ellingworth,
1993, p. 476) ou simplesmente que ele corresponde gramaticalmente a esses
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Mas Ele não entrou no céu para se oferecer de novo, mas para se oferecer re
petidas vezes (9.25). O advérbio pollakis, repetidas vezes, recebe prioridade
enfática em sua oração.
Isso é diferente do fato de que somente o sum o sacerdote sob a antiga
aliança entrava no Santo dos Santos to d o s os anos no Dia da Expiação com
sangue alheio (ou seja, o sangue de animais sacrificados [9.7,12,13; 10.4]). A
implicação é que Cristo ofereceu “seu próprio sangue” (9.12; 13.12). Ele mes
mo ofereceu Sua própria vida (7.27; 9.7,14,25,26). O pregador desvendará o
significado da auto-oferta de Cristo em 10.1-10.
O argumento de Hebreus assume a simetria entre os sacrifícios da antiga
aliança e os “sacrifícios superiores” (observe o pl.) da Nova Aliança (-» 9.23).
Mas como o “algo a oferecer” de Cristo (8.3) é Ele mesmo, múltiplos sacrifícios
sob a nova aliança levam a um absurdo. Se não fosse assim, C risto precisaria
sofrer m uitas vezes, desde o com eço do m undo (9.26a). O verbo sofrer (pa-
thein) é usado na tradição cristã da morte dolorosa de Jesus na cruz (Mt 16.21;
17.12; Mc 8.31; 9.12; Lc 9.22; 17.25; 22.15; 24.26,46; At 1.3; 3.18; 17.3; Hb
2.18 [veja 2.9,10]; 5.8; 13.12; 1 Pe 2.21,23; 3.17; 4.1).
O absurdo supõe:
• O Filho de Deus existia antes da “fundação do mundo” (ACF; o co
m eço do m undo; veja 1.2; 4.3).
• Os seres humanos pecaram desde o início dos tempos (Gn 3.1-24; Rm
5.12; veja 2 Bar. 23.4; 54.15; 4 Ed. 3.21,26; Koester, 2001, p. 422).
• O pecado continuou inabalável, exigindo expiação regular — como os
sacrifícios anuais do Yom Kippur (7.27; 9.7,25; 10.1).
O fundamento mais simples para refutar esse absurdo é o fato empírico
de que os seres humanos não morrem repetidamente. No entanto, isso é rebai
xado para uma ilustração em 9.27. A refutação primária é teológica ou, mais
especificamente, escatológica: Cristo apareceu uma vez por todas no fim
dos tem pos (v. 26b). O verbo apareceu (pephanerõtai) conota a finalidade e a
conclusão da revelação ou manifestação escatológica (“manifestado” [TB]). E
encontrado em hinos cristológicos para marcar a aparição do Filho na encar
nação (l Tm 3.16; 1 Pe 1.20; 1 Jo 1.2; veja 1 Pe 5.4). Dois marcos de tempo
qualificam essa aparência:
• Primeiro, um a vez por todas (bapax), como sua antítese repetidas ve
zes (pollakis [9.25,26^]), é colocado enfaticamente na cláusula.
• Segundo, n o fim dos tem pos (que contrasta com desde a com eço do
m undo) traz à tona o caráter escatológico da aparição de Cristo.
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em Isaías 53.12, que teve um efeito profundo na formulação das primeiras de
clarações cristãs sobre a morte de Cristo (Mt 26.28; Mc 10.45; veja 1 Pe 2.24;
Attridge, 1989, p. 266; Lane, 1991, p. 250; Johnson, 2006, p. 45).
O N T reconhece um duplo padrão de movimento na vocação do Messias:
do sofrimento à glória (Lc 24.26; Hb 2.9; 1 Pe 5.1). Seus seguidores também
são atraídos para esse padrão (Rm 8.17,18; Ef 3.13; 1 Pe 4.13; 5.10). O padrão
é discernível aqui também. Na primeira vinda, C risto foi oferecido em sa
crifício, mas aparecerá segunda vez. A palavra aparecer (opbthêsetai) difere
dos dois verbos anteriores nos versículos 24 e 26, também traduzidos como
“aparecer” na NVI. Usado nas aparições pós-ressurreição de Cristo (õpbtbê [Lc
24.34; At 13.31; 1 Co 15.5,6, 7,8]) , esse verbo está em casa em cenários apoca
lípticos (veja lTm 3.16; Ap 11.19; 12.1,3). Aqui está o único uso do N T desse
verbo no futuro passivo. Denota o aparecimento de Cristo em Sua segunda
vinda (os paralelos mais próximos são Mt 24.30; 26.64; Mc 13.26; 14.62; Lc
21.27; Hb 12.14; 1 Jo 3.2; Ap 1.7; 22.4).
O segundo aparecimento de Cristo é “não tratar dos nossos pecados”
(NVT, OL GNT, GW, NRSV, REB; veja NLT) ou não para tirar o pecado
(HCSB, NET; veja NAB). O grego simplesmente lê chõris hamartias: “sem
pecado” (ARIB, BKJ,TB); “sem referência ao pecado” [NASB]) ou ‘aparte do
pecado” (NKJV). Sua morte sacrificial já cancelou efetivamente o pecado (Hb
9.26b,2%a) e purificou decisivamente sua contaminação (9.14,23; 10.4,22).
Então, necessariamente, a segunda vinda de Cristo não exigirá nenhum ato de
expiação pelo pecado.
O propósito da segunda aparição de Cristo será trazer salvação aos que
0 aguardam. Esse é o último uso do termo salvação em seu sentido pleno e es-
catológico em Hebreus (veja 1.14; 2.3,10; 5.9; 6.9; a referência em 11.7 é para
a salvação da família de Noé do dilúvio). Cristo “pode salvar definitivamente
aqueles que, por intermédio dele, aproximam-se Deus” (7.25). Ele trará salva
ção aos que o aguardam. Hebreus não está sozinho em caracterizar os crentes
como aqueles que esperam com expectativa “a bem-aventurada esperança, a
gloriosa aparição de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” (Tt 2.13; veja
1 Co 1.7; Fp 3.20; Jd 21; veja também Mc 15.43; Lc 23.51; Rm 8.19,23,25).
Com esse movimento duplo envolvendo as duas aparições de Cristo, o fim
dessa subunidade (Hb 9.15-28) reflete conceitualmente seu início. Em Sua pri
meira vinda, Cristo foi sacrificado para tirar os pecados de m uitos (v. 28a),
pois Ele “morreu como resgate pelas transgressões cometidas sob a primeira
aliança” (v. 15f). Em Sua segunda vinda, Ele vai trazer salvação (v. 28b), isto é,
“a promessa da herança eterna” disponível sob a Nova Aliança (v. l^a-b).
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10.1-4 10.11-14
" a n o a p ó s a n o [...] dia a p ó s dia [k a t h ’ h ê m e r a n ]
[ k a t ’ e n ia u t o n ] " (v. 1) (v. 11)
"o s m e s m o s s a c r if íc io s o s a c e r d o t e le v ít ic o o fe re c e os
[ t a is t í s i a s ]" (v. 1) m esm o s sa crifício s
[ a u t o ... t ís ia s ] (v. 11)
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Contrastes precisos
10.11 10.12
to d o s a ce rd o te e s te s a c e rd o te (i.e. C ris to )
p o r u m la d o (m en) p o r o u t r o la d o (de)
f ic a e m p é a sse n to u -se
o fe re c e os m esm o s sa crifício s a ca b o u d e o fe re c e r (v e ja v. 14)
re p e tid a m e n te p ara se m p re (= p a ra s e m p r e
[v. 14])
q u e nunca p o d em re m o v e r p e lo s p e c a d o s
pecados
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A PARTIR DO TEXTO
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final de Cristo. Seu sacrifício, ao contrário dos animais, foi totalmente eficaz
porque foi o ato sem precedentes de completa obediência à vontade de Deus
(5.7,8; 10.5-10). Hebreus ainda enfatiza a importância de Cristo em oferecer
Seu próprio corpo (10.10) e sangue (9.12,14,25; 10.19; 13.12). Mas Seu sacri
fício tem um profundo significado espiritual porque foi Sua oferta voluntária
de “si mesmo” em nosso favor (7.27; 9.14,25,26).
As pessoas no mundo ocidental contemporâneo provavelmente recuam
ainda mais ao pensar em sacrifício humano em nosso favor. A ideia parece
primitiva e absolutamente bárbara. Talvez, sem o conhecimento do autor de
Hebreus, isso seja para os modernos sua variante do escândalo da cruz de Paulo
(1 Co 1.23; G1 5.11). Mas as pessoas modernas experimentam uma barreira
maior à mensagem de Hebreus. Em meio à discussão do melhor sacrifício,
aliança e tabernáculo maior e mais perfeito de Cristo, o benefício superior da
obra expiatória de Cristo encontra uma desconexão ainda mais fundamental
com os leitores de hoje.
Mesmo o objeto da morte de Cristo, como Hebreus o apresenta, confunde
as pessoas hoje. O resultado do sacrifício de Cristo, não alcançável por sacrifícios
anteriores, é uma consciência purificada. Assim, os adoradores são aperfeiçoa
dos ou qualificados para comparecer diante de Deus (9.9,14; 10.2,22). Mas as
pessoas modernas têm maneiras curiosas de lidar com a consciência. Em alguns
lugares, a consciência é definida, não em termos de um sentimento de culpa
individual, mas de uma forma coletiva (ou seja, “consciência social”). Outros
procuram métodos terapêuticos para tratar a consciência culpada, incluindo
medicamentos — legais ou não. O “pecado” foi reembalado sob eufemismos
psicológicos para ajudar as pessoas em seus esforços para se libertarem da
responsabilidade por seus próprios problemas e ações — uma tendência ob
servada décadas atrás no livro de Karl Menninger apropriadamente intitulado,
Whatever Became o f Sin ?
Como podemos recuperar o valor da mensagem de Hebreus para hoje?
Em primeiro lugar, deve-se enfatizar que, para os hebreus, o pecado e seus
efeitos sobre a consciência humana têm não apenas implicações morais, mas
também religiosas e cultuais. O pecado “contamina” a consciência, tornando
os adoradores inaptos ao culto. Isso os incapacita emocionalmente de per
manecer confiantes diante de um Deus santo. A consciência acusadora não é
simplesmente uma questão de “sentir-se mal” por coisas que fizemos. Expõe-
-nos ao juízo perscrutador de Deus (4.12,13).
Em segundo lugar, apesar dos esforços para renomear ou ignorar as di
mensões morais de nossa personalidade, o poder da consciência permanece.
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
É claro que a consciência de uma pessoa pode estar tão “cauterizada” que não
é mais um barômetro moral sensível (veja 1 Tm 4.2). Mas, se tivermos uma
consciência ativa, não podemos negar seus impulsos mais do que a realidade de
nossos cinco sentidos.
Recentemente, ouvi um secretário de faculdade aposentado relatar como
em várias ocasiões ele recebeu cartas de graduados atormentados por uma
consciência culpada. Por terem colado em um exame ou trabalho — muitas
vezes, muitas décadas antes —, eles estavam solicitando que seus diplomas uni
versitários fossem revogados. Isso, eles esperavam, aliviaria seu sentimento de
culpa. O escrivão teve o prazer de ser um agente de redenção, concedendo-lhes
a absolvição por causa de sua admissão honesta.
Em um exemplo mais recente, a famosa atriz Keira Knightley declarou
seu desejo de ser católica. “Parece muito melhor do que viver com culpa”, disse
ela. “É absolutamente extraordinário. Se eu não fosse ateia, podería me safar
de qualquer coisa. Você apenas pediria perdão e então seria perdoado” (Cath-
NewsUSA, 2012). Hebreus certamente rejeitaria sua noção de perdão como
um meio de “escapar de qualquer coisa”. Tirando isso, ambas as histórias ilus
tram a força de uma consciência acusadora. A mera passagem do tempo não
pode trazer alívio de seu tormento.
Os argumentos da seção central de Hebreus culminam na promessa da
Nova Aliança da eliminação decisiva dos pecados. O sacrifício final de Cristo
proporciona-nos uma libertação subjetiva de nosso sentimento de culpa (10.2).
Contudo, mais importante é o fundamento objetivo para a expulsão de nossos
pecados da memória de Deus por Ele mesmo (10.17). As promessas de perdão
do AT se concretizam sob a Nova Aliança. Deus pode realmente apagar nossos
pecados (Is 43.25). Ele pode removê-los de nós, “como o oriente está longe do
ocidente” (SI 103.12). Ele pode lançá-los no mar do esquecimento (veja Mq
7.19). Assim, o escritor de hinos Horatio Spafford poderia exclamar: “Tudo
bem com minha alma”:
Meu pecado — ófelicidade deste pensamento glorioso!
Meu pecado — não em parte, mas no todo —
Está pregado em Sua cruz, e eu não o carrego mais!
Louvai ao Senhor, louvai ao Senhor, ó minha alma!
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III. CHAMADO A FE PERSEVERANTE E ADORAÇAO
ACEITÁVEL: HEBREUS 10.19-13.25
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NO TEXTO
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A frase isto é, d o seu corpo (lit. carne) apresenta um dos problemas inter-
pretativos mais difíceis em Hebreus. Alguns comentaristas se opõem à equação
do corpo de Cristo com o véu, como se fosse um véu ou obstáculo à visão de
Deus. Eles afirmam que o corpo está conectado, não com o véu, mas com o
cam inho (Westcott, 1909, p. 322; Spicq, 1952, 2:316; então VC: “o caminho
do seu próprio corpo”). Mas isso não se encaixa com a forma como o autor de
Hebreus usa a expressão isto é. Como um sinal de igual, ele une as duas partes
de uma equação (2.14; 7.5; 9.11; 11.16; 13.15).
O paralelismo em 10.19,20 ajuda a abrir o significado dessa passagem
difícil (veja Lane, 1991, p. 284; Koester, 2001, p. 443-444; Thompson, 2008,
p. 203):
10.19 10.20
" e n t r a r ” (i.e., e n tra d a ) um n o vo e v iv o ca m in h o
"o S a n to d o s S a n to s " p o r m eio d o v é u , isto é
" p e lo s a n g u e d e Je s u s " [p o r m e io ] d o seu co rp o
(lit. " c a r n e " )
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feta Jeremias (8.7-13; 10.15-18). A antiga aliança era defeituosa porque o povo
nunca estava suficientemente preparado para permanecer fiel à aliança (8.9;
veja 8.7,8). A nova e eterna aliança está fundamentada em promessas superio
res (8.6). O pregador destacou duas delas: a transformação interior do coração
e da mente para uma nova obediência (8.10; 10.16) e o perdão definitivo dos
pecados (8.12; 10.17).
Devemos aproximar-nos de Deus em plena convicção de fé. Frases se
melhantes em 6.11 acentuavam a certeza da esperança. A ênfase na certeza da
fé aqui está de acordo com a nota dominante de fidelidade que se segue no
capítulo 11, culminando em 12.2. Plena convicção (plérophoria) indica um
estado de certeza completa (BDAG, p. 827; ^ 6.11). A definição de fé em a
11.1 reforça isso. A frase desajeitada plena convicção de fé é traduzida mais
efetivamente como “confiança absoluta” (NAB), “fé forte/certa” (GW /GNT,
NCV; veja TB) ou “totalmente confiante” (NLT) em Deus.
Duas frases participiais em grego completam a primeira exortação em
10.22A Elas indicam a purificação abrangente dos adoradores para sua apro
ximação a Deus: interiormente (corações) e exteriormente (corpos). Os
particípios aspergidos e lavados estão no tempo perfeito, para indicar puri
ficação decisiva e duradoura (compare os particípios perfeitos anteriores para
purificação e santificação [-» 10.2,10] e o verbo no tempo perfeito “aperfeiçoa
do” [-» 10.14]).
Em Fdebreus, aspersão (9.13,19,21; 10.22; 12.24) sempre se refere à purifi
cação ritual com sangue. Embora o pregador não mencione o sangue de Cristo
aqui, ele certamente o implica como meio de purificação decisiva (9.14; 10.29;
12.24; 13.12; -» 10.4-7). Hebreus 9.14 declara explicitamente que “o sangue de
Cristo [...] purificará” a consciência (-» 9.9, 14 e 10.2, e 9.8-10 anotação com
plementar: “Consciência”). Assim, ten d o os corações aspergidos para nos
purificar de um a consciência culpada [lit., má] refere-se à profunda purifi
cação e perdão dos pecados proporcionados pelo sacrifício final da aliança de
Cristo (7.27; 9.12,15,26,28; 10.2,10,18).
Tendo os nossos corpos lavados com água pura emprega uma linguagem
técnica para purificação ritual (Lane, 1991, p. 287). A referência é provavel
mente ao batismo cristão. Alguns comentaristas curiosamente resistem a essa
conclusão, insistindo que ambas as cláusulas no versículo 22b são metafóricas
(Whedon, 1880, 5:113; Taylor, 1967, p. 125). Embora a purificação dos c o
rações seja obviamente metafórica, a lavagem dos corpos certamente não é.
Nosso autor não denigre as lavagens rituais em si. Elas foram prescritas para
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H e b re u s 1 0 .2 2 b c o n c o r d a c o m o u tro s t e x t o s d o N T q u e r e tra ta m t a n
to u m a la v a g e m fís ic a d o c o rp o c o m á g u a c o m o u m a re n o v a ç ã o e s p ir it u a l
d a p e s s o a in t e r io r (E f 5 .2 6 ; T t 3.5). N a lin g u a g e m d a t e o lo g ia s a c r a m e n t a l,
t e m o s o s in a l e x t e r io r (a á g u a d o b a tis m o ) e a g r a ç a in t e r io r ( lim p e z a d o
c o r a ç ã o o u re g e n e ra ç ã o ) . I n tim a m e n te p a r a le lo a H e b re u s 1 0 .2 2 e s tá 1
P e d ro 3 .2 1 , q u e d e s c r e v e o b a t is m o c o m o "a r e m o ç ã o d a s u je ira d o c o rp o "
(sin a l e x te rn o ) e "o p e n h o r d e u m a b o a c o n s c iê n c ia p a ra c o m D e u s " ( g ra
ç a in te rn a ). O p ro fe ta E z e q u ie l p re v iu o t e m p o e m q u e D e u s p u r ific a r ia e
t r a n s f o r m a r ia S e u p o v o d e fo rm a a b r a n g e n t e , t a n t o p o r d e n tro c o m o p o r
fo ra ; " A s p e rg ire i á g u a p u ra s o b re v o c ê s [...]. D a re i a v o c ê s u m c o r a ç ã o
n o v o " (E z 3 6 .2 5 ,2 6 ) .
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"O dia"
E m H e b re u s 1 0 .2 5 , "o D ia " (c o m o e m 1 C o 3 .1 3 ; 2 Ts 2;3; 2 T m
1 .1 2 ,1 8 ; 4 .8 ) é u m a a b r e v ia ç ã o p a ra "o D ia d o S e n h o r" . O s a n tig o s is r a e li
t a s a n te c ip a r a m u m a lib e r ta ç ã o fu tu ra na q u a l D e u s o s lib e r ta ria , ju lg a r ia
s e u s in im ig o s e o s e s t a b e le c e r ía s o b re a s n a ç õ e s . N o e n ta n to , o s p r o fe ta s
d o A T a le r ta r a m o p o v o re b e ld e d e Isra e l. O D ia d o S e n h o r n ã o s e rá u m
t e m p o d e g r a n d e re g o z ijo . J u n to a t o d a s a s o u tra s n a ç õ e s , Isra el t a m b é m
s e r á ju lg a d o p o r s e u s p e c a d o s (A m 5 .1 8 -2 0 ; Jl 1.15 ; 2 .3 1 ; S f 1 .7 -1 8 ; Z c
14 .1 ). " S e rá d ia d e tre v a s , n ã o d e lu z " (A m 5 :18 ).
N o NT, o D ia d o S e n h o r m a n t é m s e u c a r á t e r d e d u p la f a c e c o m o u m
t e m p o d e lib e r ta ç ã o e c o n d e n a ç ã o . Je s u s id e n t ific a - o c o m a v in d a d o Filho
d o H o m e m c o m o Ju iz (M t 1 6 .2 7 ; 2 5 .1 3 ,3 1 ; M c 1 3 .2 6 ; 1 4 .6 2 ; Lc 1 7 .3 0 ).
P a u lo o c h a m a d e "o d ia d e n o s s o S e n h o r Je s u s C r is t o " (1 C o 1.8), "o d ia
d o S e n h o r " (1 C o 5.5; 2 Ts 2.2), "o d ia d o S e n h o r J e s u s " (2 C o 1 .1 4 ) ou "o
d ia d e C r is t o [Je su s]" (Fp 1 .6 ,1 0 ; 2 .1 6 ).
E m H e b re u s , a g ru p a r - s e e m t o rn o d o " D ia " é a e x p e c t a t iv a d a v in d a
d e C r is t o c o m r e c o m p e n s a (1 0 .3 5 ,3 6 ) e ju íz o (4.1 3; 6.2; 9 .2 7 ; 1 0 .2 7 ,3 0 ,3 1 ;
1 2 .2 3 ; 1 3 .4 ), c o m d e s tr u iç ã o ( 1 0 .2 7 ,3 9 a ) e s a lv a ç ã o (7 .2 5 ; 9 .2 8 ; 1 0 .3 9 b ) .
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Q uão m ais severo castigo, julgam vocês [...] ? (10.29; observe a mudança da
primeira pessoa [“nós” (v. 26)] para a segunda [vocês]). Ele apresenta uma série
de três ações tão desprezíveis que aqueles que as cometem merecem um castigo
pior que a morte. Cada ação demonstra o caráter consciente, persistente e de
liberado da apostasia final (-» v. 26). A primeira retrata graficamente o repúdio
do apóstata ao próprio Filho de Deus; a segunda e a terceira articulam o fla
grante desrespeito pelas graciosas provisões da Nova Aliança.
Primeira, o apóstata é aquele que p iso u aos pés o F ilho de D eus. Não há
metáfora mais vivida para mostrar desprezo do que “pisar sob os pés” (Sl 7.5;
56.2 LXX; Is 10.6; 26.6; Dn 8.10; Mq 7.10; Mt 5.13; 7.6; para usos do grego
clássico, veja Koester, 2001, p. 452-453; Johnson, 2006, p. 264). A traição in-
sidiosa de Jesus é descrita como Judas “levantando o calcanhar” contra Ele (Jo
13.18, citando Sl 41.9).
Essa é a quarta ocorrência do título completo Filho de D eus. Duas instân
cias têm uma qualidade confessional (4.14; 7.3). As outras duas se aplicam aos
apóstatas que desprezam a confissão de Jesus como Filho de Deus (6.6; 10.29).
Quão irônico e fútil é os rebeldes pisarem aos pés o Filho de D eus! Deus já
colocou tudo “debaixo dos pés [do Filho]” (2.8). O Filho é “superior aos anjos”
(1.4-14; 2.5-7) e a Moisés (3.1-6). Ele está sentado à direita de Deus, esperan
do que Seus inimigos sejam feitos “estrado para [Seus] pés” (1.13; 10.13). Os
rebeldes se tornam Seus inimigos.
Segunda, o apóstata é aquele que profanou o sangue da aliança p elo qual
ele foi santificado. O sangue da aliança originalmente se referia ao sangue
animal usado para selar a primeira aliança de Deus com Israel (Ex 24.8, cita
do em Hb 9.20). Agora, porém, foi o sangue de Cristo que inaugurou a nova
aliança (9.15-18; 12.24; 13.20; veja Mt 26.28). O sangue de Cristo é o meio
de santificação completa (santificado \bêgêsamenos\ ele; veja 13.12; compare
com 9.13; 10.10,14) ou purificação dos pecados (9.14,22; 10.2,22). No en
tanto, o que é totalmente santo, torna santo e abre uma entrada na presença
absolutamente santa de Deus os apóstatas consideram “comum” ou “profano
\koinon]”. Eles declaram, com efeito, “que não esperam mais benefício do san
gue de Cristo do que de uma vaca ou de uma ovelha” (Clarke, 1977, 3:758).
Terceira, o apóstata é aquele que insultou o Espírito da graça. A tradução
“ultrajou o Espírito da graça” erra o alvo (ESV, NRSV). O verbo enybrizõ (uma
forma intensiva de hybrizõ) denota agir a partir de hybris (“hubris”) — isto é,
arrogância, insolência, audácia. Manifesta-se no comportamento que degra
da, insulta ou maltrata violentamente o outro. Aristóteles classificou “insulto”
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
pressão idiomática cair nas m ãos de significa estar sob o poder ou controle
de alguém, muitas vezes com repercussões negativas (Jz 15.18; 2 Sm 21.9; Lc
10.36; veja Sir. 8.1; Sus. 1.23). Para os justos, é preferível cair nas mãos de Deus
do que nas mãos de seus adversários (2 Sm 24.14; 1 Cr 21.13; Sir. 2.18). Não é
assim para os inimigos jurados de Deus, como declara o cântico de Moisés (Dt
32.39; veja 2 Cr 32.14,15; Is 43.13; 2 Mac. 6.26). O D eus vivo, que dá vida a
todas as coisas criadas, também pode tirá-las (Dt 32.39; 1 Sm 2.6; 2 Rs 5.7).
Esse pensamento terrível deve servir como uma advertência para aqueles que
estão “se afastando do Deus vivo” (Hb 3.12) e do Seu povo.
c. L o u v o r p e la p e rs e v e ra n ç a p a ss a d a (10.32-34)
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
tados em plena vista do público. Segunda, houve dificuldades que não afetaram
diretamente a todos na comunidade, mas foram suportadas da mesma forma
pela comunidade como um todo. As duas categorias aparecem duas vezes em
10.33,34, em ordem quiástica (-» introdução a 10.32-34).
Algum as vezes, esse grupo primitivo de cristãos sofria insultos e tribu-
lações. Insultos (oneidismois) provavelmente significa “abuso” verbal (NAA,
NVT, NAB, NET, NRSV, REB; portanto, “opróbio” [ARA, ESV, KJV,
NASB]; “ridículo” [NLT]; “provocações” [E1CSB]), tenderam a desgraçar a
comunidade (BDAG, p. 710; “humilhações” [KJA, VC]; “vergonha” [TYN-
DALE]). Levar “desgraça \oneidismos\ ” é uma forma pela qual os crentes se
identificam com o sofrimento de Cristo (11.26; 13.13). Perseguição (thlipse-
siri) é um termo genérico para “tribulações” (ACF, ARA, ARC, ARIB, JFA,
KJA) ou “aflições” (BKJ, ESV, EíCSB, KJV, NAB, NET). Aqui provavelmente
conota “violência” física (NVT; veja Johnson, 2006, p. 269), mas é difícil dizer
se isso significava ser “espancado” (NVT) ou “atormentado” (REB).
Qualquer que seja os abusos físico e verbal, eles foram infligidos para ma
ximizar o impacto da vergonha e da desgraça aos olhos do público. A expressão
grega traduzida como expostos (theatrizomenoi') é um cognato da palavra para
“teatro [theatron\ ’ (veja 1 Co 4.9). O verbo ativo significa “ser ou representar
no palco”; no passivo, “trazer ao palco”. Geralmente tem o sentido negativo de
“tornar-se um espetáculo público” (ACF, ACR; ARIB veja JFA) ou “exposto à
vergonha” (LSJ, 787; BDAG, p. 446).
Em outras ocasiões, quando a comunidade não sofria ataques frontais
da sociedade ao seu redor, ela se solidarizava com os que assim foram trata
dos. A expressão fizeram -se solidários significa “companheiros \koinõnoi\”
ARIB, CEB, ESV, NRSV) ou “participantes” (ACF, ARC). Isso sugere que
eles compartilharam o fardo da vergonha com seus irmãos e irmãs sofredores,
como se fosse deles. O Filho também “participou” da humilhação da existência
humana por meio de Sua encarnação (Eíb 2.14). O s que assim foram tratados
poderíam ter sido certos membros da comunidade escolhidos para maus-tratos
(talvez líderes da igreja [13.7]) ou membros de igrejas vizinhas (-> 13.23-24).
B 3 4 As duas categorias de sofrimento listadas em -> 10.33 são repetidas no
versículo 34, mas em ordem inversa e com maior especificidade. Um exemplo
concreto de solidariedade com outros que estavam sofrendo (v. 33b) é quando
a comunidade se compadeceu [simpatizou; N IV ] dos que estavam na prisão.
A tradução simpatizava é, na melhor das hipóteses, ambígua e, na pior das
hipóteses, potencialmente enganosa Q 4.15). “Teve compaixão” (ESV, KJV,
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s o b re o q u e s ig n ific a v a p a ra o s p r im e ir o s c r is t ã o s s o fr e r ju n to a o s p re s o s .
(P ara u m e s t u d o m a is a p ro fu n d a d o , v e ja R a p s k e , 1 9 9 4 .)
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d. E x o rta ç ã o p a ra p e rs e v e ra r na fé (10.35-39)
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ou “o que vem” (ACF, ARC, VC). Isso não deixa dúvidas de que a profecia em
Habacuque diz respeito à segunda vinda de Cristo.
Segundo, ele transpõe as duas cláusulas em Habacuque 2.4 (LXX) e adi
ciona uma adversativa e (kai, “mas” [GW, KJV, NJB, NLT]) entre elas. Assim,
em Hebreus, o sujeito da frase se retroceder não é o libertador vindouro (como
na LXX), mas é o m eu justo (ou seja, a pessoa de fé). A inversão estabelece
dois cursos de ação contrastantes para os crentes: viver pela fé ou retroceder.
Terceiro, ele altera a LXX anexando o m eu ao justo em vez da fé. Isso (jun
tamente à inversão das cláusulas referidas antes) identifica inequivocamente o
justo como o crente. Também muda o foco da fidelidade de Deus (como na
LXX) para o imperativo para o povo justo de Deus viver pela fé. Hebreus
abraça a certeza encontrada na fidelidade de Deus (Hb 6.13-20; -» 10.23). Mas
aqui a ênfase está na responsabilidade do povo de Deus de viver de acordo com
a fidelidade divina — pela fé.
Um pouco de comentário midráshico no versículo 39 pega dois termos-
-chave de Habacuque 2.4 (Hb 10.38), em ordem inversa, criando um quiasma
(Bengel, 1877, 4:441):
10.38 Mas o m eu justo viverá pela fé (ek E, se retroceder \hypos-
pisteõs). teilêtai\, não m e agradarei
dele.
X
10.39 N ó s, porém , não som os dos que mas dos que creem e são
retrocedem \hypostolês\ e são des- salvos \pisteõs\.
truídos,
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
Com efeito, nosso autor convida seu público a reconhecer com ele que
não som os dos que retrocedem e são destruídos. R etroceder (hypostolês)
é ser tímido (BDAG, p. 1041). É o oposto de ter “confiança” (10.19,35), mas
também joga foneticamente com outro antônimo, perseverança (hypomonês
[10.36] ). A coragem é necessária, porque fugir do povo de Deus (10.25) e
abandonar a confissão (10.23) inevitavelmente leva à destruição (apõleian).
Isso está relacionado com o “juízo eterno” (6.2), descrito como a terrível e
ardente execução da justiça divina (6.8; 10.27,30,31; 12.26-29). É cair sob a
maldição de Deus (6.8) e desagrado (10.38), em vez de fazer o que agrada a
Deus, alinhando suas ações com Sua vontade (10.36; 13.21).
Os leitores devem incluir-se entre aqueles que acreditam (pisteõs) ou “os
que têm fé” (ARA, N A A , N V T , OL, TB, V C ). A fé se opõe a retroceder. A
falta de fé caracterizou a apostasia da geração do deserto (3.12,19; 4.2) e levou
à sua destruição (3.16-18; 4.11). Os leitores devem, antes, seguir o exemplo
daqueles que pela fé e perseverança herdam a promessa de Deus (6.12; 10.36).
A fé aqui é mais do que um consentimento mental à verdade ou uma mera
profissão de fé. Implica aproximar-se de Deus em “confiança absoluta” (10.22
NAB) e “confiança” (10.19,35). Significa manter a confissão de esperança
(10.23) e comprometer-se com a comunidade cristã e suas práticas vitais de
amor e boas obras (10.24,25). Talfidelidade envolve coragem e “perseverança”
(10.32.36) . No capítulo 11, há uma longa lista de pessoas que modelam isso.
O resultado da fidelidade é que somos salvos. A expressão é literalmente
“preservar a alma” (NAA). Na literatura clássica, isso se referia a salvar a vida
da morte (Isócrates, Fil. 7; Xenofonte, Cyr. 4.4.10). No NT, refere-se a alcan
çar a vida eterna (Lc 17.33; compare “receber salvação \peripoiésin sõterias]”
[1 Ts 5.9]; Koester, 2001, p. 463; Thompson, 2008, p. 223). Desde o início, o
pregador advertiu sua audiência a não ignorar “tão grande salvação” (2.3; veja
1.14) ou o grande Sumo Sacerdote que a obteve (2.10; 5.9; 9.28). Agora, como
antes, embora ele deva adverti-los sobre as terríveis consequências da apostasia,
ele está convencido “de coisas melhores” no caso deles — “coisas próprias da
salvação” (6.9).
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
NO TEXTO
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
nos versículos 3-7 desde a criação até a salvação da família de Noé por meio
do dilúvio. O parágrafo se mantém unido pela repetição da ideia de elogio
(nos v. 2,4,5), que será reprisada apenas no final da lista de exemplos (v. 39).
E limitado por aliteração (com p no v. 1; com k no v. 7) e pelas frases seme
lhantes que não vemos (v. 1) e coisas que ain d a n ão se viam (v-7).
S I1 A fé foi trazida à tona em 10.38-39 por meio de citações e breves comen
tários sobre Habacuque 23b,A- Em Hebreus 11.1, o pregador define essa fé.
Ele continua a empregar aliteração comp iniciado em 10.38,39 (-» 10.37-39).
Ele também usa homoioptõton (“inflexão semelhante”) em que as terminações
das palavras têm um som semelhante (sobre essa figura de linguagem, veja
Quintiliano, Inst. 9.3.78-79; Rhet. Her. 4.20.28; veja Cosby, 1988, p. 82; ->
anotação complementar 1.3: “Cristologia em Rima”). Observe essas duas fi
guras de linguagem: O ra, a fé [pistis] é a certeza [hypostasis] daquilo que
esperam os [elpizomenõn\ e a prova \prãçmatõm ] das coisas que não vemos
(iou blepomenõn).
Como era costume dos antigos filósofos e retóricos, o autor apresenta uma
definição concisa antes de elaborar seu assunto (Thompson, 2008, p. 229; veja
Quintiliano, Inst. 7.3.1-35). Ele não pretende ser abrangente. É uma definição
funcional, chamando atenção para os aspectos da fé que o pregador deseja cele
brar nos exemplos a seguir. A definição foi provavelmente clara para os falantes
de grego que a ouviram pela primeira vez. Mas a frase flexível e ricamente or
namentada criou problemas para comentaristas posteriores, cuja língua nativa
não é o grego koiné. Em particular, as palavras gregas por trás de ter certeza e
certeza geraram um debate considerável.
O substantivo hypostasis (ter certeza de) é o mais difícil de traduzir, pois
tem uma gama tão ampla de significados possíveis. Etimologicamente, a pala
vra se refere a “aquilo que está sob”. Esse sentido parece primário para os seus
muitos usos: base, fundação, suporte, garantia, posse, existência, depósito,
penhor (Hollander, 1993; LSJ, 1895; LSJ rev. supp., p. 303; BDAG, p. 1040-
1041; veja Hughes, 1977, p. 439-440, e Johnson, 2006, p. 277-278, para uma
revisão das opções interpretativas).
A prática difundida de traduzir a palavra no sentido subjetivo — ter cer
teza de (ARA, KJA, NAA, N TLH , OL; “garantia” [ESV, NASB, NRSY]; ou
“confiança” [NIV11; veja NLT]) — complica a interpretação. Erasmo primeiro
defendeu essa visão (seguido por Melâncton e Lutero no século 16). Isso inspi
rou a tradução “certa confiança” em certas versões (ex.: Tyndale, Coverdale e a
Grande Bíblia; Attridge, 1989, p. 308; Bruce 1990, 277 n. 6). Vários comen
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
taristas recentes sustentam essa visão (Bruce, 1990, p. 277; Pfitzner, 1997, p.
155; G. Guthrie, 1998, p. 374; Koester, 2001, p. 472; Witherington, 2007, p.
298-300).
Fortes razões contextuais apoiam essa tradução. Há a proximidade de
“confiança” (10.19,35) e “plena convicção de fé” (10.22) no contexto anterior.
Seu oposto, “retroceder [hyposteilêtai, bypostolês]”, em 10.38,39, também pode
ser colocado de forma lúdica em contraste com hypostasis, “certeza”, em 11.1.
Mas o calcanhar de Aquiles dessa interpretação é que a hypostasis não é usada
em nenhum lugar no sentido subjetivo ou psicológico de confiança ou segu
rança (BDAG, p. 1041). No entanto, não se pode ignorar aqueles casos em que
a palavra pode significar “firmeza” ou “perseverança” (veja Koester, 2001, p.
472; Delitzsch, 1872, 2:210).
Os Pais gregos universalmente tomaram a palavra no sentido objetivo e
filosófico de “essência” ou “substância”. Assim, hypostasis é “realidade” em opo
sição ao que é meramente aparente. É “aquilo que dá existência verdadeira” a
um objeto (Westcott, 1909, p. 352-353; veja Crisóstomo, 1996, p. 463; Heen
e Krey, 2005, p. 176). Isso se reflete nas traduções “substância” (BKJ; “dá subs
tância” [REB]) ou “realidade” (NVT, CEB, HCSB). Essa visão foi adotada por
vários comentaristas modernos (veja Attridge, 1989, p. 309-310; Lane, 1991,
p. 328-329; Cosby, 1988, p. 34). Uma variação vê a hypostasis como a “realiza
ção” da fé das coisas esperadas (NAB; Thompson, 2008, p. 230).
O problema com essa visão é que ela introduz uma explicação filosófica
que fica emaranhada em confusão e contradição. Dizer que o Filho é a marca
exata do “ser” de Deus ou “essência [hypostaseõs\ ” (1.3) claramente utiliza o
significado filosófico da palavra e faz todo o sentido. Mas afirmar, no sentido
filosófico, que a fé é a “substância” ou “realidade [hypostasis]” de nossa esperan
ça nega categoricamente o ponto que o autor está fazendo (Johnson, 2006, p.
277). O capítulo inteiro reforça o ponto de que a fé reivindica a promessa de
Deus e aguarda sua realização. Mas os fiéis ainda não alcançaram a realidade da
cidade prometida por Deus e da pátria celestial. Eles só o antecipam de longe.
A analogia de Crisóstomo da ressurreição como agora não substancial (hypos
tasis), mas que a esperança a torna substancial em nossa alma, não esclarece
a interpretação filosófica de 11.1 (1996, p. 463). Ele ilustra quão abstrata e
incoerente é essa visão.
Outros termos-chave nos versículos 1 e 2 — prova [eLenchos] (NVI) e “fo
ram atestados [emartyrêthêsan]” (NAB) — sugerem que nosso autor está se
movendo em uma esfera jurídica, em vez de filosófica. Instâncias em papiros
gregos antigos atestam o uso legal de hypostasis como uma “garantia de proprie
365
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
reza real das coisas, ou o que se alega ser o caso, é uma prova necessária (ex.:
pessoas vivas precisam de alimentos). No que diz respeito às alegações do opo
nente, é uma refutação baseada no que é impossível por natureza (ex.: que um
menino roubou uma quantia de dinheiro maior do que ele podería carregar;
assim, Rbet. Alex. I431a7-21; veja deSilva, 2000a, p. 384). O autor de He-
breus frequentemente argumenta com base na necessidade (,ananké [7.12,27;
8.3; 9.16,23]; dei [9.26]) ou na impossibilidade (adynaton [6.4,18; 10.4]). Em
11.6, o autor apresenta uma prova sobre a fé que incorpora tanto a impossibi
lidade como a necessidade.
Hebreus faz uma afirmação ousada sobre a fé — uma que soava tão absurda
no mundo antigo como hoje. A fé {pistis) era um estado de espírito atribuído
aos incultos que não eram treinados na argumentação racional e nas regras da
evidência (Lane, 1991, p. 316). No entanto, Hebreus fala da fé como garantia
e prova! Garante a posse daquilo que esperam os, ou seja, realidades futuras
ainda não realizadas (na esperança -> 6.11; 7.19; 10.23). E a evidência de reali
dades invisíveis e transcendentes que não vem os.
O que confere à fé uma qualidade tão absoluta de segurança jurídica é a na
tureza do próprio Deus. A promessa de Deus, confirmada por Seu juramento,
expressa claramente seu propósito imutável (6.13-20). Ela “pôe fim a toda dis
cussão” (6.16). A fé é a resposta necessária às promessas divinas, porque aquele
que as fez é totalmente confiável (10.23; 11.11; veja 2.17; 3.2,5,6).
1 2 A definição em 11.1 estabelece a qualidade da fé voltada para o futuro.
O versículo 2 completa a introdução da lista de exemplos apontando para os
antigos cujas vidas de fé receberam a aprovação de Deus. Ela, ou seja, a fé
expectante definida no versículo 1, é aquilo pelo que eles receberam bom tes
tem unho {emartyrêthêsan). Até esse ponto em Hebreus, o verbo martyreõ tem
sido usado para indicar o testemunho de Deus (ou do Espírito Santo) nas Es
crituras (7.8,17; 10.15; veja também 2.4,6). A forma passiva em 11.2,4,5 e 39 é
uma “passiva teológica”, implicando que Deus é aquele que deu testemunho às
pessoas de fé no passado.
Enquanto martyreõ e seus cognatos têm um caráter distintamente legal,
também eram usados para fazer declarações públicas de reconhecimento ou
elogios. Benfeitores ou conselhos municipais empregavam esse vocabulário
para conferir honra a indivíduos considerados dignos de elogios. Seu testemu
nho favorável foi oficialmente comemorado em inscrições (deSilva, 2000a, p.
385). Quão maior é o testemunho de Deus aos fiéis do passado, inscrito na
Sagrada Escritura?
367
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
1 3 A lista de exemplos não começa com um dos dignos fiéis, como o versículo
2 nos levaria a esperar. Começa apropriadamente no início com a criação (Gn
1.1). A natureza do caso não permite observação humana direta ou resposta
aos atos criativos de Deus. Assim, o autor dirige sua atenção para a presente
comunidade de fé — nós (veja Hb 10.39). Ele se dirigirá à comunidade cristã
novamente em seus comentários finais (11.40), tornando óbvia a motivação
pastoral por trás da revisão histórica nesse capítulo.
Pela fé indica a maneira como os crentes sabem o que não pode ser visto
com os olhos naturais. Entendemos (no o u m en ) exprime a função cognitiva da
fé. Dada a escolha da terminologia (que tem a ver com a “mente [ n o u s \j, bem
como o argumento racional anterior para Deus como Criador (3.4), fica claro
que a fé não ignora o intelecto humano. A fé é um meio válido de obter co
nhecimento sobre a atividade divina. Hebreus articula o cerne de uma verdade
teológica posteriormente expandida por Agostinho e Anselmo: “Fé buscando
entendimento” (Koester, 2001, p. 480, n. 377).
Que o universo foi form ado é (lit.) que as eras foram arranjadas (“os
mundos foram colocados em ordem” [NET]). As eras é um “grande plural”
insinuando que todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, estão avan
çando de acordo com os objetivos divinos (Bengel, 1877, 4:447; -> 1.2c). Que
eles foram “ordenados” (NAB) ou “preparados” (NASB) indica mais do que
sua criação. Seu arranjo denota o governo e a providência soberana de Deus
sobre todas as dimensões de tempo e espaço. Pela palavra de Deus (a maioria
das versões em inglês e português). De acordo com \3 b , o Filho sustenta todas
as coisas “por sua palavra poderosa”.
A afirmação de que o que se vê não foi feito do que é visível evoca a
segunda metade da definição de fé em -> 11.1. Essa não é uma formulação da
doutrina da criação ex nihilo (“do nada”) — verdade como essa é. Em vez disso,
reitera um axioma subjacente ao mundo do pensamento de Hebreus: o invi
sível reino transcendente é superior à criação visível (-> 8.2; 9.11,24). O reino
invisível antecede a criação do universo visível (11.3). O transcendente é per
manente, mas Deus vai abalar e remover o mundo temporal das “coisas criadas”
(12.26-28; deSilva, 2000a, p. 387).
O ponto desse versículo não é metafísico, mas religioso. A manei
ra como nos relacionamos com Deus e Seus propósitos é pela fé. Esse tema
será repetido ao longo desse capítulo. Mas, enquanto a fé, no versículo 3, é
o meio de discernimento na grande ação criativa de Deus no passado, a fé
dos antigos foi consistentemente direcionada para um futuro invisível (v.
7,10,16,20,22,26,27,35).
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Estrangeiros e peregrinos
E s t r a n g e ir o s e ra m p r iv a d o s d e d ir e ito s n a s s o c ie d a d e s a n tig a s . E le s
e s t a v a m s e m ru m o e à d e r iv a na te rra e m q u e m o r a v a m t e m p o r a r ia
m e n te . R e le g a d o s a u m s ta tu s in fe rio r, e le s t in h a m u m a p o s iç ã o a p e n a s
lig e ir a m e n t e s u p e r io r à d o s in im ig o s . S e m o s p r iv ilé g io s d e c id a d a n ia ou
c o n e x õ e s s o c ia is , e le s e ra m v u ln e r á v e is a a b u s o s , in s u lto s , p e r d a d e p ro
p r ie d a d e e, e m c a s o s e x tre m o s , a té m e s m o à m o rte (v e ja d e S ilv a , 2 0 0 0 a ,
p. 3 9 4 -3 9 5 ; W ith e rin g to n , 2 0 0 7 , p. 1 0 -1 2 ).
O p ú b lic o d o p r e g a d o r p o d e r ía id e n t ific a r- s e c o m a s it u a ç ã o d o s p a
tria rc a s . E le s t a m b é m e x p e r im e n t a r a m a lie n a ç ã o (H b 6 .1 8 ) e h u m ilh a ç ã o
d e s e u s v iz in h o s ( 1 0 .3 2 -3 4 ). F o ra m t r a t a d o s c o m o e s tra n g e iro s e p e re
g rin o s na terra.
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Ele é ofuscado pela prova de Jesus por meio do sofrimento, o que lhe permitiu
identificar-se com a experiência de prova dos leitores (2.18; 4.15).
A descrição concisa em 11.17 captura claramente o drama do momento
em que Abraão pegou a faca do sacrifício. Duas formas do verboprospherõ con
tam a história. O tempo perfeito (ofereceu [...] como sacrifício) indica que,
em termos da resolução de Abraão, o sacrifício foi feito (compare com Fílon,
Abraão 177). Além disso, o tempo imperfeito (a ponto de sacrificar) retrata
Abraão no processo de oferecer seu filho (Westcott, 1909, p. 367; Hughes,
1977, p. 482).
A fidelidade de Abraão em oferecer Isaque é aguçada por três fatos sobre
postos, indicando como esse teste de obediência exigia que o patriarca agisse
paradoxalmente em conflito com as promessas divinas.
• Primeiro, Abraão é aquele que havia recebido as prom essas (v. 17),
isto é, “aquele que assumiu a responsabilidade” das promessas (MM,
32; Lane, 1991, p. 361; compare 7.6).
• Segundo, Abraão ofereceu seu único filho (monogenê). Isaque era
“único” (NAA, NVT, OL, VC), não apenas como o verdadeiro filho
de Abraão por sua esposa, Sara, mas como o único filho da promessa
(BDAG, p. 658; Fitzmyer, 1991).
• Terceiro, o próprio Deus fez a promessa, que Hebreus cita literalmen
te de Gênesis 21.12 LXX: Por meio de Isaque a sua descendência
será considerada (v. 18).
Hebreus não vê a obediência de Abraão como um simples “salto de fé”
(Kierkegaard). O versículo 19 explica o raciocínio por trás da disposição de
Abraão de cometer um ato tão impensável: Abraão levou em conta que Deus
pode ressuscitar os m ortos. Esse era um princípio de fé para judeus e cristãos
(Dt 32.39; 1 Sm 2.6; Rm 4.17), articulado de forma famosa na segunda das
Dezoito Bênçãos; “Bendito és tu, Senhor, que fazes os mortos viverem” (Koes-
ter, 2001, p. 491). Essa confissão foi comumente integrada em recontagens de
Akedah, um detalhe com o qual os hebreus podem estar familiarizados (Lane,
1991, p. 363).
Abraão recebeu Isaque de volta dentre os mortos. Mas ele fez isso figu-
radamente (ARA, BKJ, KJA, NAA). Parece haver um significado tipológico
na frase en parabolê (“como uma ilustração” [HCSB]; “como um símbolo”
[NAB]; “como um tipo” [NASB]; “em um prenúncio” [Lane, 1991, p. 362]).
Há um significado tipológico no único outro exemplo da palavra parabolê em
Hebreus (9.9). Lá se refere simbolicamente à função limitada do tabernácu-
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lo do deserto, que seria transcendido no final dos tempos (-» 9.26). Aqui, em
11.19, a preservação de Isaque prefigura “a ressurreição dos mortos” (6.2) ou “a
ressurreição superior” (11.35) antecipada pelos fiéis.
20-22 Essa parte da lista de exemplos, relacionada aos descendentes de
Abraão, toca apenas os personagens principais da segunda metade de Gênesis:
Isaque (v. 20), Jacó (v. 21) e José (v. 22). Ele destaca as ações empreendidas por
cada um deles ao enfrentar a morte.
O versículo 20 alude claramente à bênção de Isaque no leito de morte a
seus dois filhos em Gênesis 27 (veja Gn 27 A \b). Não há vestígios da intriga ou
do pathos da cena. A decisão fatal de Esaú só mais tarde servirá de advertência
em Hebreus 12.16,17. Nesse caso, o foco aqui está no fato de que Isaque aben
çoou Jacó e Esaú.
O conteúdo das bênçãos em Gênesis (27.27-29,39,40) era certamente
com respeito ao futuro deles. O texto grego de Hebreus 11.20, no entan
to, indica que a bênção de Isaque — pronunciada pela fé — era muito mais
abrangente (11.1). Isaque falou “até mesmo em relação às coisas por vir” (kai
peri mellontõn, NASB). Isaque foi um dos patriarcas que viu e acolheu de longe
uma pátria melhor (v. 13-16^). Ele antecipou “a cidade que há de vir” (13.14;
veja 11.10, 16b) e todas as bênçãos no “mundo que há de vir” (2.5; compare
com “a era que há de vir” em 6.5 e “os benefícios que hão de vir” em 10.1).
O versículo 21 volta-se para a cena em que Jacó [...] abençoou cada um
dos filhos de Jo sé (Gn 48.8-20). Nada é dito de Jacó favorecer o irmão mais
novo, Efraim, em detrimento do primogênito, Manassés. Mais importante é o
momento da bênção, à beira da morte, e a maneira de seu pronunciamento.
Embora Jacó estivesse prestes a expirar sem desfrutar o cumprimento das pro
messas de Deus, pela fé ele transmitiu a promessa de bênção de Deus a seus
netos. Até o fim, ele adorou a Deus e demonstrou total confiança nele (citando
Gn 47.31; para a conexão de fé e adoração, veja Hb 4.14,16; 10.22; 11.6).
Tal como acontece com Isaque e Jacó, o versículo 22 se concentra nas ações
de morte de José, no fim da vida. Muitos incidentes na vida de José ilustram
sua confiança na providência divina. Mas a cena final em Gênesis (50.22-26)
acentua o aspecto prospectivo de seus últimos atos. Hebreus os descreve como
feitos pela fé, resumindo as duas principais ações de José: Primeiro, ele fez
menção do êxodo dos israelitas do Egito. Segundo, sua fé era tal garantia e
prova das promessas de Deus (veja 11.1) que ele deu instruções para enterrar
seus ossos na “terra prometida” (11.9). Isso demonstra sua fé de que Deus liber
taria os israelitas do Egito (Gn 50.25; Êx 13.19; Js 24.32).
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(Moisés 1.9, 18). Josefo credita a beleza de Moisés pela facilidade de sua adoção
na casa real do Egito {Ant. 2.224-225, p. 231-232).
L a e rt. 3 .1 .8 8 ). E ss a c o n c e p ç ã o p o p u la r n ã o é e x p r e s s a c o m m a is fo rç a d o
q u e p o r u m ric o n o b re , D io n ís io , n o a n tig o ro m a n c e g r e g o d e C h a rito n ,
d e n o m in a d o C a llir r h o e (c. 5 0 d.C .): "É im p o s s ív e l q u e u m a p e s s o a n ã o
n a s c id a liv re se ja b o n ita . V o c ê n ã o a p re n d e u c o m o s p o e ta s q u e a s p e s s o
a s b o n it a s s ã o filh o s d o s d e u s e s e, m u ito p r o v a v e lm e n t e , filh o s d o s n o b re s
n a s c id o s " (2 .1 .5 ).
O a n tig o p ú b lic o d e H e b re u s te r ia c o m p r e e n d id o im e d ia t a m e n t e o
s ig n ific a d o d a b e le z a n a tu r a l d e M o is é s . E le fo i d e s tin a d o p o r D e u s p a ra
u m p a p e l d e t r e m e n d o p r iv ilé g io e r e s p o n s a b ilid a d e . N o e n ta n to , t a m
b é m d e s ta c a o fa to d e q u e M o is é s , q u e p a re c ia b e m - e d u c a d o , na v e r d a d e ,
n a s c e u d e n ô m a d e s d e c la s s e b a ix a q u e e ra m e s c r a v o s d o fa ra ó . M o is é s
m a is t a r d e d e ix a r ia d e la d o s u a s p r e r r o g a t iv a s re a is p a ra ju n ta r- s e a o se u
p ró p rio p o v o m is e r á v e l e o p r im id o , a q u e m D e u s o c h a m o u p a ra lid e ra r,
d e s a f ia n d o a m a io r s u p e r p o t ê n c ia d e s u a é p o c a , o E g ito .
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lugar onde estavam os seus irmãos hebreus e descobriu como era pesado o tra
balho que realizavam” — como seu rompimento com a corte egípcia (Lane,
1991, p. 370-371, seguindo D ’Angelo, 1979, p. 36,42-53).
O fato de ele ser cham ado filho da filha de Faraó pode indicar que Moi
sés foi formalmente adotado na casa real (veja Josefo, Ant. 2.232; Fílon, Moisés
I . 19,32-33; Jub. 47.9). Hebreus não especifica o ato pelo qual Moisés recusou
sua associação com Faraó. Certamente não era o conto fantasioso de Josefo
de Moisés como uma criança pisando em sua coroa {Ant. 2.233). Talvez faça
alusão ao assassinato de Moisés de um capataz egípcio abusivo (Ex 2.11-14;
uma adição em alguns MSS torna isso explícito; veja Metzger, 1994, p. 603).
Tendo em vista Hebreus 11.25,26, uma referência geral à decisão de Moisés de
fazer causa comum com seu próprio povo escravizado é igualmente provável
(Whedon, 1880,5:126).
β 2 5 - 2 6 O elegante quiasma grego nos versículos 25-26^: pode ser represen
tado de forma justa por meio de um ligeiro rearranjo da NVI:
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Isso ocorre quando um falante menciona as mesmas coisas que ele diz estar
ignorando (Rhet. Her. 4.27.37). O pregador escolhe apenas listar mais pessoas
e experiências que exemplificam a fé, sem elaborá-las ad nauseam. Essa técni
ca bem conhecida permitiu que os falantes mostrassem seu domínio de um
assunto, sem serem tediosos (Isócrates, Archid. 47; Crisóstomo, 1996, p. 488;
Koester, 2001, p. 516).
Os seis indivíduos nomeados no versículo 32 não estão em ordem crono
lógica estrita. A lista menciona quatro heróis do período de juizes de Israel:
G ideão, Baraque, Sansão e Jefté (veja 1 Sm 12.11 LXX). Davi é a maior e
única figura representativa da trágica história da monarquia. Samuel, nome
ado por último, era o chefe dos profetas de Israel (veja 1 Sm 19.20; At 3.24).
B 3 3 -3 4 As experiências contadas em Hebreus 11.33-38 aludem a figuras e
eventos da história bíblica e extrabíblica. Eles relatam realizações e sofrimentos
que surgiram pela fé. Alguns são bastante gerais, aplicáveis a várias épocas e
pessoas; outros apontam indubitavelmente para heróis particulares da fé. No
quarto século d.C., os intérpretes tentavam identificar cada alusão com espe
cificidade (Crisóstomo, 1996, p. 488-489,491-492; Efrém, o Sírio, em Heen
e Krey, 2005, p. 204-205; Lane, 1991, p. 385). As nove cláusulas curtas nos
versículos 33 e 34 são organizadas em três trios:
O primeiro destaca conquistas militares e políticas. C onquistaram rei
nos, praticaram a justiça e alcançaram o cum prim ento das prom essas se
aplica a todas as figuras mencionadas no versículo 32 e a muitas outras no AT,
mas especialmente a Samuel e Davi (veja 1 Sm 12.3-5,23; 2 Sm 8.1-3,15; 1 Cr
18.14 LXX; veja Lane, 1991, p. 385-386).
Alcançaram o cum prim ento das prom essas (lit., promessas obtidas)
tem a ver com vencer inimigos, adquirir territórios e desfrutar de outras bên
çãos temporais que Deus havia prometido. Distingue-se da “promessa”, que os
antigos não alcançaram (Hb 11.39).
O segundo trio é dedicado àqueles que escaparam da morte certa. Fecha
ram a boca de leões inequivocamente se refere a Daniel na cova dos leões (Dn
6.1-28). Apagaram o p od er do fogo fala da libertação de três jovens hebreus
da fornalha ardente (Dn 3.1-30). Escaparam do fio da espada podería apli
car-se a muitos dos profetas, como Elias, Eliseu e Jeremias.
O terceiro trio retorna à vitória marcial. D a fraqueza tiraram força pa
rece imediatamente aplicável a Sansão. Tendo sido enfraquecido e humilhado
pelos filisteus, ele recebeu uma última oportunidade de desferir um golpe forte
e mortal em seus inimigos (Jz 16.20-31). As duas cláusulas finais, tornaram-se
p oderosos na batalha e puseram em fuga exércitos estrangeiros, têm uma
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lhe fora proposta era a Sua exaltação, mencionada no final de 12.2. Isso é se
melhante à “esperança posta diante de nós \prokeimenês\” (6.18 NVT).
Suportou a cruz é uma descrição distinta, embora adequada, da crucifi
cação de Jesus. Essa é a única referência em Hebreus ao instrumento da morte
de Jesus: a cruz. Em outro lugar, Hebreus descreve a morte de Jesus em termos
de sofrimento (2.9,10,18; 5.8; 9.26; 13.12). A menção da crucificação acentua
a morte de Jesus como vergonhosa. A cruz era “a árvore da vergonha” (Cí
cero, Rab. Perd. 4 §13), sob a lei judaica exposta a uma maldição divina (Dt
21.22,23; Koester, 2001, p. 524). Jesus suportou o sofrimento da cruz, porém
mais importante foi Sua atitude de desprezar a vergonha. Ele mostrou mais do
que bravura diante do terror e da humilhação (contra Lane, 1991, p. 414). A
morte de Jesus na cruz foi Seu ato final de obediência à vontade de Deus (5.8;
10.5-10), apesar da estimativa cultural disso como um sinal de total desgraça
(deSilva, 2000a, p. 433-434).
A inversão da vergonha ocorreu após a morte de Jesus, quando Ele assen-
tou-se à direita do trono de D eus. Essa é a alusão final de Hebreus ao Salmo
110.1, o texto-chave que apoia a confissão central de Jesus como nosso sumo
sacerdote exaltado (-> Hb 4.14; 7.26; 8.1; 9.24; 10.12,19-21). Anteriormente,
o pregador simplesmente observou que Cristo “assentou-se \ekathisen\” (1.3;
8.1; 10.12). Agora ele enfatiza a finalidade e a permanência de Seu triunfo
usando o tempo perfeito (kekathiken). Ele “tomou seu assento” (NRSV) e per
manece sentado (“está sentado” [ARA, NAA, NVT, VC]).
■ 3 - 4 Esses versículos formam uma transição para a discussão da disciplina
divina nos versículos 5-11. Eles mudam para dirigir-se aos ouvintes na segunda
pessoa do plural (vocês).
O versículo 3 explica o objetivo do pregador ao apontar para a luta de
Cristo. Pensem bem naquele que suportou tal oposição, tal “hostilidade”
(NVT, BSEP), dos pecadores. A nota da perseverança de Jesus é repetida a
partir do versículo 2 e expressada enfaticamente no tempo perfeito (suportou
[,bypomemenékota]), para encorajar a perseverança dos leitores (10.36; 12.1,7).
Para que vocês não se cansem nem se desanim em continua a metáfora atlé
tica. O pregador não quer que seus leitores entrem em colapso e exaustão antes
de alcançar a linha de chegada (Lane, 1991, p. 417). A expressão nem se desa
nim em antecipa a injunção bíblica: “não desanime”, no versículo 5.
O versículo 4 contrasta a extensão da luta dos leitores com aquela em que
Cristo prevaleceu. Jesus suportou a hostilidade (antilogian) dos pecadores
(,tõn hamartõlõn)·, eles estão engajados em uma luta [antagõnizomenoi\ con
tra o pecado (tên hamartian). Novamente, o pecado não é uma variedade de
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vícios, mas a tentação de cometer apostasia (10.26; h> 12.1; Hagner, 1990, p.
215; Witheringon, 2007, p. 329-330; Thompson, 2008, p. 253). Jesus supor
tou até a morte, mas vocês ainda não resistiram \antikatestête\ até o ponto
de derramar [...] sangue.
O vocabulário antagônico (prefixado com anti-) sustenta a metáfora
atlética, mas, talvez, referindo-se a esportes mais violentos como o boxe ou o
pancrácio. Este último foi um evento de artes marciais na antiga Olimpíada
que combinava luta livre e kickboxing (Koester, 2001, p. 525). Mas a menção
de derramamento de sangue só pode sugerir a morte violenta de Jesus por
crucificação (Croy, 1998, p. 194).
Os ouvintes devem julgar seus sofrimentos passados e presentes em pro
porção ao sofrimento de Cristo. Eles podem ter perdido reputações, liberdade
e posses — mas não suas vidas (10.32-34; 13.3). O exemplo de Jesus os enver
gonha por sua inclinação a desistir da luta. Seu sacrifício final deve motivá-los a
suportar provações proporcionalmente menos severas (deSilva, 2000a, p. 446;
Johnson, 2006, p. 319). Talvez com a pequena expressão ainda não (oupõ) o
pregador esteja insinuando que eles também podem ser chamados a dar tudo
de si em devoção a Cristo.
■ 5 - 6 O tema novo, mas relacionado com a educação divina (paideia), é in
troduzido citando Provérbios 3.11,12. E difícil determinar se a introdução à
citação é feita sob forma de uma declaração declarativa (vocês se esqueceram
[...]) ou uma pergunta (“Acaso vocês se esqueceram [...]? [NVT]). A propensão
do autor para o estilo retórico favorece o último (Lane, 1991, p. 420; Johnson,
2006, p. 320). Seja como for, as palavras são uma reprimenda leve (contraste
10.32). A citação é caracterizada como aquela palavra de ânim o ou simples
mente exortação (têsparaklêseõs), que se assemelha à identificação do pregador
de seu sermão (“palavra de exortação” [13.22]).
Que se dirige aos ouvintes com o a filhos é essencial para a mensagem de
toda a passagem (12.5-11). O provérbio começa e termina com uma referência
ao filho (v. 5,6). As palavras “pai[s]” (v. 7,9) e filhos (v. 7,8) são repetidas na
discussão que se segue. A identidade dos ouvintes como filhos foi importante
no início do sermão. Deus, por intermédio de Seu Filho, está “levando muitos
filhos à glória” (2.10), e “Jesus não se envergonha de chamá-los irmãos’’ (2.11).
Eles são membros da família de Deus (3.6; 10.21). Agora o pregador cita um
provérbio para lembrá-los de que a competição que estão enfrentando é uma
forma de disciplina ou treinamento do Senhor {paideia). E uma demonstra
ção de seu status como filhos (sobre filiação em Hebreus, veja Boyd, 2012).
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do dos seres espirituais (veja Attridge, 1989, p. 362-363; Lane, 1991, p. 424).
Hebreus parece incluir seres humanos entre esses espíritos, como a adição da
NVI “nossos espíritos” implica. Isso encontra apoio na referência posterior a
“espíritos dos justos aperfeiçoados” (12.23).
A questão não é se vamos ou não subm eter-nos (hypotagêsometha) a
Deus. Deus já “sujeitou” tudo sob os pés do Filho (2.5,8 — as outras quatro
ocorrências do verbo hypotassõ em Hebreus; veja também 10.13). A questão
diz respeito a como vamos subm eter-nos a Deus e viver. Isso chega ao cerne do
que o pregador tem conduzido até agora naperoratio. A submissão ao treina
mento divino requer fé confiante e persistente.
Habacuque 2.3,4 (“mas o meu justo viverá pela fé [...]” [10.37,38]) foi um
texto-chave citado em preparação para os exemplos de fé (cap. 11) e a exorta
ção aos leitores para perseverarem na fé (12.1-13). Do texto de Habacuque,
o pregador deduziu dois cursos de ação possíveis: recuar para a destruição ou
ter fé que leva à preservação da vida (10.39). Este último é comparável ao que
encontramos aqui: subm eter-nos e vivermos.
A segunda comparação (v. 10) é uma extensão da primeira. Eles (nossos
pais) e mas ele (mas D eus) têm como seus respectivos antecedentes os pais
hum anos e o Pai dos espíritos (v. 9). A disciplina que vem de nossos pais
terrenos tem limitações naturais. É conduzida durante um período restrito de
tempo (por curto p eríodo) com julgamento humano limitado e imperfeito
(segundo lhes parecia m elhor). Em contraste, a paideia de Deus é exercida
para o nosso bem {epi para sympheron). Essa frase é coerente com o objetivo
da instrução ética estoica: buscar o que é objetivamente benéfico ou lucrativo,
um conceito semelhante ao “bem” {to agathon; Croy, 1998, p. 204; veja Koes-
ter, 2001, p. 529).
No entanto, Hebreus vai muito além dos ideais éticos helenísticos. O de
sígnio da disciplina divina é que participem os da sua santidade. Isso implica
mais do que a posse de virtude moral, embora essa não possa ser excluída (veja
v. 11). E a participação na vida santa de Deus, a “bem-aventurança eterna” de
Deus (Spicq, 1953, 2:396; veja 2 Pe 1.4, observado por Bengel, 1877, 4:464).
A partilha da santidade divina é contrastada com a limitação temporal da ins
trução humana (por curto período). Ela transcende qualquer obtenção de
retidão moral nesta vida. Ela compartilha as realidades celestiais da era vindou
ra, em boa medida agora (veja 3.1,4; 6.4), mas em plenitude na segunda vinda
de Cristo (9.28). E o acesso ao Santo dos santos (10.19; veja 6.20), a entrada no
descanso divino (4.1,3,6,9,11) e a habitação na “cidade do Deus vivo” (12.22;
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A a n á lis e d e H e b re u s s o b re a lu ta d a c o m u n id a d e e m 1 2 .1 -1 3 in c lu i
m u ito s c o n c e it o s , im a g e n s e lin g u a g e m q u e s e a s s e m e lh a m a o e n s in o
é t ic o e s to ic o . U m a c o n c e n t r a ç ã o d e s te s e x is t e e n tre H e b re u s e N a P r o v i
d ê n c ia , e s c r it o p e lo filó s o fo e s t o ic o d o p r im e ir o s é c u lo S ê n e c a (v e ja C ra y ,
1 9 9 8 , p. 2 0 5 ).
M a is im p r e s s io n a n t e e m s u a s e m e lh a n ç a c o m H e b re u s 1 2 .6 ,7 é a
d e c la r a ç ã o d e S ê n e c a : "A q u e le s , p o is , a q u e m D e u s a p ro v a , a q u e m a m a ,
e le e n d u r e c e , re v is a e tr e in a " ( N a P r o v id ê n c ia 4.7).
A p e s a r d e t o d a s a s s e m e lh a n ç a s , a m e n s a g e m d e H e b re u s s o b re o s
o b je tiv o s e d u c a t iv o s d o s o fr im e n t o é s e p a r a d a d o e s t o ic is m o d e , p e lo m e
n o s, d u a s m a n e ir a s p r in c ip a is :
P rim e ira , H e b re u s a p o n ta p a ra Je s u s c o m o o e x e m p lo s u p re m o d e
p e r s e v e r a n ç a p o r m e io d o s o f r im e n t o (1 2 .2 -4 ). A in s p ir a ç ã o p a ra p e r s e v e -
ra r v e m , f in a lm e n t e , n ã o d e u m re la to frio e ra c io n a l d e c o m o D e u s u tiliz a
399
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
o s o f r im e n t o p a ra o b e m s u p re m o , m a s d e o lh a r p a ra Je s u s c o m o o " a u t o r
e c o n s u m a d o r d e [...] f é " (1 2 .2 ).
S e g u n d a , o o b je tiv o d a p a id e ia d iv in a n ã o é s im p le s m e n t e p r o d u z ir
p e s s o a s s á b ia s , im p e r t u r b á v e is p e la s c ir c u n s t â n c ia s e a u to s s u fic ie n t e s . A
d is c ip lin a d e D e u s v a i a lé m d o c u ltiv o d a v irtu d e , p a ra p r e p a r a r filh o s q u e
p o s s a m c o m p a r t ilh a r a p ró p ria v id a , a s a n t id a d e e a b e m - a v e n t u r a n ç a d o
p ró p rio D e u s (-> 1 2 .1 0 ).
400
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
do, para que “o membro lesionado não seja mutilado” (NJB) ou “ferido mais
gravemente” (CEB; veja GW).
A metáfora da “medicina esportiva” sugere que o fracasso em seguir o ca
minho da virtude tem efeitos debilitantes. Pode prejudicar irreparavelmente
as chances de perseverança até o fim. Esse pensamento abre o caminho para a
advertência climática contra a apostasia na seção seguinte (12.14-29).
A PARTIR DO TEXTO
401
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
402
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403
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Segundo, Hebreus faz mais do que definir o que é a fé e nos exorta a vi
ver por ela: ele nos mostra como as pessoas viveram pela fé no passado. Um
fio vai da resistência passada da comunidade ao sofrimento (10.32-39) até
os heróis bíblicos do passado que viveram pela fé sem nunca receber a pro
messa de Deus (11.1-39). Ele se estende até a atual “corrida” que devemos
correr, com os homens e as mulheres fiéis da antiguidade como uma multi
dão de testemunhas (12.1), e Jesus, “o autor e consumador” da fé, como o
principal exemplo de perseverança fiel. A fidelidade dos que se foram antes
funciona como motivação para segui-los e não decepcioná-los desistindo
antes de chegar à meta.
Terceiro, ele explica os meios pelos quais nossa perseverança é testada
e fortalecida (a disciplina de Deus) e o fim para o qual ela é direcionada
(a santidade de Deus). Isso é visto no remédio final para aqueles que estão
desanimados e cansados na luta para manter seu compromisso com Cristo.
(3) Hebreus nos convida a interpretar nossas lutas à luz do grande quadro
de Deus para nossas vidas. Nossa resistência ao sofrimento tem o propósito de
educação/treinamento divino.
Antes de prosseguirmos, devemos fazer uma ressalva importante. He
breus não é nem deve ser considerada uma solução para o problema do mal.
Essa questão perene deve ser deixada para outros tomos dedicados ao discurso
filosófico-teológico avançado. O escopo da discussão de Hebreus pertence es
tritamente ao sofrimento e aos desafios que as pessoas de fé enfrentam em sua
determinação de manter a confissão cristã.
Quando passamos por dificuldades por causa de nossa fé em Cristo, de
vemos percebê-las como parte do plano maior de Deus para formar-nos um
povo santo. Hebreus 12.5-29 lembra outras exortações do N T para avaliar as
provações e tentações da fé à luz da glória final a ser revelada (Rm 8.18-39)
ou como oportunidades para a formação do caráter (Tg 1.2-4), comparada a
refinar ouro pelo fogo (1 Pe 1.6,7). A noção de suportar o sofrimento como
disciplina parental de Deus é algo exclusivo de Hebreus (veja 1 Co 11.32; 2
Co 6.9), mas a imagem atlética associada não é (1 Co 9.24-27; Fp 3.12-14; veja
Pfitzner, 1967).
Hebreus apresenta três pontos principais sobre a obra da disciplina divina
em nossas vidas:
Primeiro, devemos ver a resistência ao sofrimento como uma parte neces
sária de nosso treinamento espiritual como filhos de Deus (Hb 12.7,8). O que
seria surpreendente é se nunca encontrássemos nenhuma dificuldade ou dor.
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Hebreus 12.14-29 é unificado pelo tema da herança (v. 17), ou pelo que o
“primogênito” recebe por direito (v. 16,23): a cidade de Deus, o Reino inabalá
vel (v. 22,28). De importância primordial, no entanto, é como devemos receber
a herança. Santidade e gratidão resumem a disposição adequada.
Dada a relativa raridade do vocabulário “graça” em Hebreus (oito vezes), é
notável que a abertura da passagem advirta contra a falta da “graça [charitos]”
de Deus (v. 15), enquanto seu fechamento nos encoraja a “sermos gratos” (lit.,
“tenha graça [echõmen charin]”·, v. 28). A resposta apropriada ao favor divino
é a gratidão. A santidade deve acompanhar a ação de graças, uma vez que a
primeira é necessária para entrar na presença de Deus (v. 14), e a segunda, para
oferecer adoração aceitável a Deus (v. 28).
Um vestígio da metáfora atlética de uma corrida a pé permanece da pas
sagem anterior (12.1-4,12,13; observe os verbos “perseguir” e “ficar aquém”
[v. 14,15 HCSB]). As transições de imagens para a pureza cultuai e moral são
necessárias para uma adoração aceitável. Essas idéias são evidentes em cada um
dos três segmentos da passagem:
Primeiro, nos versículos 14-17, o pregador adverte contra qualquer um
que perturbe a paz e a santidade da comunidade. Ele descreve o perigo de uma
“raiz amarga” que pode “contaminar muitos” (v. 15). Ele aponta para Esaú
como exemplo de alguém cujas ações imorais e profanas o desqualificaram da
herança do primogênito (v. 16,17).
Segundo, os versículos 18-24 descrevem, de forma climática, a aproxima
ção do santuário celestial. O verbo proserchomai (“venha para” [v. 18,22]) na
LXX e Hebreus refere-se a sacerdotes e pessoas que se aproximam do santuário
para adoração (-> 4.16). A visão de Hebreus do monte Sião e da Jerusalém ce
lestial evoca imagens apocalípticas judaicas do céu como o santuário de Deus
(Son, 2005, p. 91-92; -> 12.22^ anotação complementar: "Sião e a Jerusalém
celestial: imagens do templo de Deus").
O pregador contrasta o tumulto e o terror no monte Sinai (v. 18-21) com a
reunião festiva de anjos e santos no monte Sião (v. 22-24). Sob a antiga aliança,
a presença de Deus era totalmente assustadora e inacessível. A Nova Alian
ça estabeleceu um acesso ousado ao trono de Deus. Cristo como mediador e
sacrifício decisivo pelos pecados fornece a pureza necessária e permissão para
aparecer livremente diante de Deus (v. 24; veja 4.14-16; 10.19-22).
Terceiro, o pregador adverte os leitores a não recusarem aquele que fala,
Deus. Eles devem ter em mente o julgamento escatológico que abalará não
apenas a terra (como no Sinai), mas também o céu (12.25-27). Aqueles que
atendem à voz de Deus participarão da realidade permanente do Reino de
408
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
Deus, que “não pode ser abalado”. Assim, Hebreus exorta-nos a ser gratos e
“adorar a Deus de modo aceitável com reverência e temor” (v. 28). A “adora
ção”, nesse caso, está associada a serviços prestados a Deus em um ambiente
religioso ou cultuai.
Hebreus 13 será dedicado a fornecer instruções (parenese) sobre como os
destinatários podem manter seu caráter como adoradores santos.
NO TEXTO
a. B u sq u e a p a z e a s a n tid a d e (12.14-17)
409
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
410
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
rejeição final das bênçãos da nova aliança (10.26-31), perdendo, assim, a graça
de Deus (veja 12.15 REB).
O segundo perigo combina as preocupações com a santidade e a paz: Q ue
ninguém \métis\ como uma raiz de amargura brote e cause perturbação,
contam inando a m uitos (veja NVT, KJA). O pregador cita livremente Deu-
teronômio 29.18. Isso emprega a imagem de uma planta nociva para descrever
alguém que se afasta do Senhor para servir aos ídolos. Os apóstatas perturbam
a paz e a estabilidade da Igreja (cause perturbação). Eles contaminam a comu
nidade com sua incredulidade e pecado (contam inando a m uitos). A noção
de contaminação cultuai e moral (miainõ) antecipa o perigo final em Hebreus
12.16. Contrasta com a excelência moral de nosso grande Sumo Sacerdote
(7.26, “puro/imaculado \amiantos\”) e a pureza do “leito conjugal” (13.4).
A terceira advertência reduz as ameaças moral e religiosa: N ão haja n e
nhum im oral ou profano. Pornos refere-se a alguém que é sexualmente
im oral (OL, CEB, ESV, LEB; “comete pecado sexual” [GW]) ou um “lor-
nicador” (KJV; BDAG, p. 855). O autor literalmente se refere àqueles que se
envolvem em atividade sexual extraconjugal. No entanto, é possível que He
breus empregue o símbolo comum do AT de prostituição para a infidelidade
ou idolatria da aliança (ex.: Nm 14.33; Dt 31.16; Jr 2.20; 5.7; Os 1.2; uma
imagem vividamente explorada em Ap 17, esp. v. 5; veja Attridge, 1989, p. 369;
Johnson, 2006, p. 324). Lane, seguindo essa leitura metafórica, traduz pornos
como “apóstata” (1991, p. 455). Os significados literais e metafóricos não são
mutuamente exclusivos, embora o literal seja mais provável aqui à luz de 13.4
(onde o “sexualmente imoral” [porno] é condenado ao lado do “adúltero”).
A pessoa sexualmente im oral é emparelhada com os ímpios (bebêlos). Os
ímpios referem-se àqueles que são profanos (ACF, ARA, ACR, ARIB, BKJ,
JFA, KJA, NAA, NVT, TB), “seculares” ou “irreligiosos”. Eles estão comple
tamente alheios às exigências de santidade de Deus (Johnson, 2006, p. 324).
Ateísmo é um antônimo para “santo [hagios] ”, paralelo à antítese de limpo e
impuro (Hauck, 1964, p. 604).
Esaú é o protótipo de todos os que são tão movidos por suas paixões que
perdem a realidade celestial em favor de prazeres transitórios e terrenos. Os
leitores devem evitar ser com o Esaú, que por um a única refeição vendeu os
seus direitos de herança com o filho mais velho (prototokia, direito de pri-
mogenitura). O senso de proporção e valor de Esaú era tão distorcido que ele
trocou a porção dobrada da herança devida ao filho primogênito por uma úni
ca refeição (Thompson, 2008, p. 266).
411
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
N o AT, E s a ú e s e u s d e s c e n d e n t e s s ã o o b je to s d e c o n d e n a ç ã o p ro
f é t ic a (Jr 4 9 .8 ,1 0 ; O b 6 ,8 ,1 8 ,1 9 ,2 1 ; Ml 1 .2 ,3 ). A b a s e p a ra e s s a c o n tín u a
r e p r o v a ç ã o é o re la to d e E s a ú tr o c a n d o s u a p r im o g e n itu r a p o r u m p ra to
d e g u is a d o (G n 2 5 .2 7 -3 4 ). A t r a d iç ã o ju d a ic a p o s t e r io r e x p a n d iu o re tra to
b íb lic o d e E s a ú c o m o u m c a ç a d o r h a b ilid o s o e a lg u é m q u e " d e s p r e z o u
s e u d ir e ito d e p r im o g e n itu r a " p r e fe rin d o s a t is f a z e r a s e u p ró p rio a p e tit e
(G n 2 5 .3 4 ). C o n s id e r a v a E s a ú u m d e s v ia n t e s e x u a l, a s s a s s in o , a te u e u m
p a tife e m t o d o s o s s e n tid o s .
A lit e r a t u r a ju d a ic a h a g á d ic a in te rp r e ta o c a s a m e n t o d e E s a ú c o m
m u lh e r e s h it it a s (G n 2 6 .3 4 ,3 5 ) c o m o u m e x e m p lo d e im o r a lid a d e s e x u a l
(v e ja J u b . 2 5 .1 ). E s a ú fo i c u lp a d o d e c o m p o r t a m e n t o h o m o s s e x u a l (G n .
R a b . 6 3 .9 e m G n 2 5 .2 7 ) e d e e s tu p r o d e u m a m u lh e r p r o m e tid a (Gn. R a b .
6 3 .1 2 e m G n 2 5 .2 9 ). C o m o c a ç a d o r, e le n ã o a p e n a s p e r s e g u ia a c a ç a ,
m a s t a m b é m o s h o m e n s . E le a s s a s s in o u o rei N in ro d (T g . P s.), e m G n
2 5 .2 7 ) e c a u s o u a m o rte d e s e u a v ô , A b r a ã o , p o r s u a s a ç õ e s v e r g o n h o s a s
(P e s i q . R a b . 12).
O e n s o p a d o d e le n t ilh a s e ra a r e fe iç ã o t r a d ic io n a l p a ra o s e n lu ta d o s ,
s o b re a q u a l e ra m d it a s p a la v r a s d e c o n fo rto . J a c ó p re p a ro u e s s e p ra to
p a ra s e u p a i, Is a q u e , p a ra la m e n t a r a m o rte d e A b r a ã o (T g . Ps.J. e m G n
2 5 .2 9 ; P ir q e R . E l. 35 ). E s a ú n ã o a p e n a s t ro c o u s e u d ir e ito d e p r im o g e n i
tu ra p o r e la , m a s t a m b é m fe z d is c u r s o s b la s f e m o s (G n . R a b . 43; P e s a h .
2 2 b ). E le n e g o u a im o r t a lid a d e , a r e s s u r re iç ã o e D e u s (T g . P s.-J. e m G n
2 5 :2 9 ). A s s im , a t r a d iç ã o ju d a ic a c la s s if ic o u - o e n tre o s tr ê s g r a n d e s a te u s
(T a n h ., T o le d o t h 24; S a n h . 1 0 1 b ; v e ja B u h l, H irs c h e S c h e c h te r, 1 9 2 5 ).
F ílo n c a r a c t e r iz o u a tro c a d e E s a ú p o r s e u d ir e ito d e p r im o g e n itu r a
c o m o u m e x e m p lo d e a t e n d e r à s p a ix õ e s d e a lg u é m e m v e z d e b u s c a r a
v irtu d e . E s a ú s e e n t r e g o u " s e m re s tr iç õ e s a o s p r a z e r e s d a b a rr ig a e d a s
p a r t e s in fe r io r e s " ( V ir t u d e s 2 0 8 ; v e ja S o b r ie d a d e 2 6 ) e a o s e u " d e s e jo d e
p e r s e g u ir o m a l" ( S a c r if íc io s 12 0 ; v e ja 8 1 ). E s a ú " s e e x e rc ito u n a s c o is a s
m a is v is " ( M ig r a ç ã o 1 5 3 ). E le e ra m a is s u b s e r v ie n t e à s s u a s p a ix õ e s cor-
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
a Sua habitação terrena (Jl 2.1; 4.17,21; SI 9.11; 65.1; 76.2; 87.1-3,5,6; 99.2).
Esta era a cidade do Senhor (SI 48.2; Is 60.14), o local do santuário de Deus
(Sl 20.2). No período pós-exílico, Sião tornou-se o ponto de encontro para a
salvação de Deus (2 Rs 19.31; Is 24.23; 35.10; 52.1,8; 59.20; 62.1; Zc 1.14-16;
2.10; 8.3; 9.9) para o qual todas as nações fluirão (Is 2.2-4; 18.7; Sl 102.22,23;
Balz, 1993^).
No período intertestamentário, Sião tornou-se a contrapartida do Sinai (e
às vezes, do Éden,Jub. 8.19; T. Dan 5.12). A teofania em Sião “na nova cria
ção” (Jub. 1.28; 4.26; 8.19) eclipsaria a manifestação divina no Sinai. O Sinai
era um lugar terreno; Sião, um lugar transcendente e celestial (veja G14.24-27;
Attridge, 1989, p. 374). Importante para Hebreus é o papel de Sião dentro de
um complexo de imagens apocalípticas sobre a nova Jerusalém, o paraíso e o
templo celestial de Deus.
Assim, Sião em Hebreus não é a montanha terrena na Palestina, mas a
Jerusalém celestial, a cidade do D eu s vivo (a NVI inverte a ordem das duas
frases em grego). Esse é o “lugar” da herança dos patriarcas (11.8), a pátria ce
lestial (11.16), o Reino inabalável (12.28) e a “cidade permanente [...] que há
de vir” (13.14).
416
NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
6 6 ,1 ; 1 C r 2 8 .2 ; Lm 2.1; Jo s e fo , A n t. 3 .1 2 3 , 1 8 0 -1 8 1 ; F ílo n , M o is é s 2 .8 8 ;
L e is E s p . 1 .66 ). E m 2 B a ru q u e , "a s e m e lh a n ç a d o t a b e m á c u lo ” n o p a ra ís o
(4.6) t a m b é m é c h a m a d a d e "a s e m e lh a n ç a d e S iã o " , q u e d e v e r ia s e r f e i
ta "à s e m e lh a n ç a d o s a n t u á r io a t u a l" (5 9 .6 ; c o m p a r e H b 8 .2 ,5 ; 9 .1 1 ,2 4 ).
Toda a p a ra fe r n á lia d o t a b e m á c u lo fo i m o s t r a d a a A d ã o , a A b r a ã o e a M o i
s é s n o m o n te S in a i (2 Sar. 4 .3 -6 ). O s a n jo s re s g a t a r a m e s s e s ite n s , a n te s
d a d e s tr u iç ã o d a J e ru s a lé m te rre n a e d e s e u t e m p lo , e o s p r e s e r v a r a m a té
o m o m e n t o e m q u e S iã o s e rá re s ta u r a d a p a ra s e m p r e (2 B a r. 6 .7 -9 ; 8 0 .2 ).
H e b re u s p a re c e e s t a r e m c o n t a t o c o m e s s a s t r a d iç õ e s re la tiv a s à J e
r u s a lé m c e le s t ia l o u S iã o c o m o a m o ra d a d e D e u s — s e u s a n to t e m p lo e
s a la d o tro n o . A m b a s a s m e t á fo r a s c u lt u a is e re a is s ã o u s a d a s e m H e b re u s
s o b re a a p r o x im a ç ã o d o F ilh o d e D e u s (1 .3 ,1 3 ; 4 .1 4 ; 8.1; 9 .2 4 ; 1 0 .1 2 ;
12 .2 ) e o p o v o d e D e u s (4.1 6; 7 .2 5 ; 1 0 .1 ,2 2 ) na p r e s e n ç a d iv in a . A s s im ,
c h e g a r a S iã o é u m a im a g e m p o d e r o s a d e n o s s a e n t r a d a fin a l no " v e r d a
d e ir o t a b e m á c u lo " d e D e u s (8.1 ). É q u a n d o f in a lm e n t e re c e b e r e m o s a "a
p r o m e s s a d a h e r a n ç a " no R e in o d e D e u s (9 .1 5 ; 1 2 .2 8 ). (P ara u m e s tu d o
m a is a p ro fu n d a d o d o s im b o lis m o d o t e m p lo r e la c io n a d o à J e ru s a lé m e
S iã o c e le s t ia is , v e ja S o n , 2 0 0 5 , p. 5 2 - 5 6 ,1 8 9 - 1 9 7 .)
417
HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
são chamados de prim ogên itos (prototokõn) para indicar sua parte legítima
nas promessas divinas de herança e salvação (veja 1.14; 6.12,17; 9.15; 11.7-9;
contraste 12.16,17).
O fato de seus nom es estarem escritos no céu os autoriza como cidadãos
da Jerusalém celestial. As cidades antigas continham registros de cidadãos im
portantes que eram membros da assembléia, o corpo governante (veja Koester,
2001, p. 545,550-551; veja Phil 3.20). Os apocalípticos judaicos muitas vezes
incorporavam a imagem análoga do justo sendo registrado nos livros celestiais,
particularmente no contexto do juízo final de Deus (ex.: o Livro da Vida, Ap
3.5; 13.8; 17.8; 20.12,15,27; vejaÊx 32.32,33; Sl 69.28; Dn 12.1; Lc 10.20; Fp
4.3; Jub. 2.20; 30,22; 1 En. 47,3,4; 104.1; 108.3; Herm. Vis. 1.3.2; Sim. 2.9).
Assim, a terceira descrição dos habitantes da cidade se encaixa neste pon
to: A D eu s, o juiz de to d o s os hom ens (Hb 12.23Q. Deus (ou a palavra de
Deus [4.12]) é frequentemente descrito como um juiz em Hebreus, especial
mente no sentido de aplicar justiça aos ímpios (10.27,30; 13.4; veja 6.8). O
juízo final ou eterno é um princípio fundamental da fé cristã (6.2; 9.27). Aqui
a ênfase pode estar em Deus dando Sua justa recompensa aos justos (10.35;
11.6,26; veja Mt 5.12; 6.1; Lc 6.23), embora o pensamento da rejeição ou des
truição judicial dos ímpios não esteja longe (Hb 12.17,25-27,29).
Quarto, há os espíritos dos justos aperfeiçoados (v. 23c). Espíritos [ou
almas] dos justos é uma frase comum na literatura apocalíptica judaica para
pessoas justas que morreram (Jub. 23.30-31; 1 En. 22.9; 41.8; 102.4; 2 Bar.
30.2; 3 Bar. 10.5; 4 Ed. 4.35; 7.99; Herm. Mand. 11.1.15; veja Or. Aza. 1.64;
Fílon, Moisés 1.279; BDAG, p. 832; Lane, 1991, p. 470). Ao dizer que os es
píritos dos justos são aperfeiçoados [teteleiõmenõn), o pregador se refere aos
fiéis sob ambas as alianças que alcançaram o destino final e a herança para o
povo de Deus.
Esse uso final da linguagem da perfeição em Hebreus é o ápice de usos
anteriores referentes tanto à perfeição do Filho de Deus como daqueles que
o consideram seu grande Sumo Sacerdote. A perfeição do Filho foi o resulta
do de Sua obediência e sofrimento (2.10; 5.8,9). Consistia em ser qualificado
como o Sumo Sacerdote eterno que alcançou a salvação eterna para os cren
tes (5.9; 7,28; veja 7.24,25; 9.15,24-28). Somente o sacrifício definitivo de si
mesmo do Filho alcançou a perfeição necessária (9.9; 10.1,14), a purificação
decisiva (9.14; 10.2,22) exigida para que homens e mulheres se aproximassem
da santa presença de Deus. A auto-oferta de Cristo realiza o que os sacrifícios
levíticos nunca poderíam (7.11,19,28; 9.9; 10.1).
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c. O u ça a v o z c e le s tia l (12.25-29)
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sujeição de todas as coisas debaixo de Seus pés no mundo que há de vir (1.13;
2.6-8; 10.13) ocorre no “maior e mais perfeito tabernáculo” (9.11; veja 8.1,2;
9.24,25).
A frase ainda um a vez, (lit.) ainda uma vez por todas (eti hapax), é para
Hebreus a chave para interpretar o oráculo de Ageu (deSilva, 2000a, p. 470-
471). E uma profecia não apenas de algum terremoto futuro, mas do abalo
de uma vez por todas no juízo final. As palavras ainda de uma vez por todas
indicam [dêloi, uma expressão exegética, veja 9.8; Attridge, 1989, p. 380] a
rem oção do que p od e ser abalado. Hebreus usou remover (metátese), junto a
seu verbo relacionado (metatithêmi), referente à “mudança” na Lei e no sacer
dócio levítico (7.12) e a Enoque ser “tirado” da terra (11.5).
O pregador contrasta a rem oção do que pode ser abalado com o que per
m anecerá (meiné) e não pode ser abalado. Ele também comparou o sacerdócio
mutável sob a antiga aliança com o sacerdócio de Cristo que “permanece” para
sempre (7.3,24). O que p o d e ser abalado é equiparado (isto é) às coisas cria
das. O santuário eterno e celestial contrasta com o santuário terrestre que é
“pertencente a esta criação” (9.11). O santuário terrestre, “feito por homens”
(9.11,24 CEB, GNT, GW ), podia ser “tocado” (12.18). A remoção desse san
tuário presente e transitório marcará o momento em que a nova ordem será
totalmente estabelecida (9.8-10).
No entanto, Hebreus prevê um abalo e dissolução de toda a ordem cria
da, restando apenas o Reino eterno. Ele introduziu esse entendimento em
uma cadeia de citações bíblicas no capítulo 1. Salmos 45.6,7 (em Hb 1.8,9) e
102.25-27 (em Hb 1.10-12) apontam para a permanência do Reino do filho.
Seu trono durará para sempre (1.8). Ele “permanecerá” (1.11) / “permanecerá
o mesmo” (1.12); mas a terra e os céus serão gastos, enrolados ou mudados
como uma roupa (1.11,12).
Essa visão da realidade sustenta os objetivos exortatórios de toda a ho
mília. A fé e a esperança dos leitores devem ser direcionadas para o que não
p od e ser abalado e perm aneça. Eles devem manter a esperança, porque é uma
âncora “firme e segura” no santuário interior do verdadeiro santuário (6.19).
Sua verdadeira esperança não pode ser encontrada na antiga aliança com seu
sacerdócio e sacrifícios, que estão passando (8.7,13; veja 7.18). A nova aliança
oferece “promessas superiores” (8.6) por meio do estabelecimento do sacerdó
cio de Cristo que “permanece” para sempre (7.3,24).
Assim, os leitores devem olhar para Jesus (2.9; 3.1; 12.2) em meio às suas
dificuldades. Eles devem perseverar na fé, em vez de “retroceder” para a des
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NO TEXTO
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particular de agapê (Plümacher, 1993^). Esse é o tipo de “am or” cristão que
Hebreus já recomendou (6.10; 10.24) àqueles identificados como “irmãos”
de Jesus (2.11,12,17; veja 3.1,12; 10.19; 13.22,23) ou a casa/família de
Deus (3.6; 10.21).
A cobrança para ser c o n sta n te o am or fraternal é mais do que simples
mente um pedaço de parênese cristã tradicional. Adapta-se à situação dos
destinatários. O pregador já os instruiu a “incentivar uns aos outros ao amor
e às boas obras” (10.24; veja 6.10-11) e evitar deixar de encontrar-se para
o encorajamento mútuo (10.25). Ele os exortou a viver em paz e santidade
(12.14) e os advertiu sobre qualquer um que pudesse contaminar e romper
sua comunhão (12.15).
Um jogo de palavras característico dá a essa injunção um significado
ainda mais profundo dentro de seu contexto. “Que o amor fraterno con
tinue \menetõ]” (BKJ, HCSB, KJV) expressa o amor mútuo como uma
qualidade da vida cristã que deve perdurar. A linguagem ecoa isso sobre o
Reino inabalável, a saber, que ele “permanecerá [meinê]” (12.27). Os “bens
superiores e permanentes \menousan\" (10.34) e a “cidade permanente
\menousanY (13.14) são realidades futuras esperadas. Contudo, o Reino
eterno já se manifesta entre irmãos e irmãs “participantes do chamado ce
lestial” e reforçam mutuamente seu compromisso com Jesus (3.1,6,12-14;
4.14; 10.19-25,34-36; Attridge, 1989, p. 385-386).
■ 2 A súplica não se esqueçam da hospitalidade estende o amor cristão além
da afeição mútua entre os crentes. O amor fraternal (v. 1) deve florescer na
“hospitalidade aos estranhos \philoxenias]” (TB, ESV, NASB, NLT, NRSV;
entreter estranhos). A hospitalidade era uma obrigação sagrada no mundo an
tigo. Envolvia receber estranhos ou viajantes como convidados e oferecer-lhes
provisões e proteção. A confiança na hospitalidade era vital para o trabalho
missionário cristão primitivo (ex.: Lc 10.1-16; 3 Jo 5-8; Arterbury, 2007).
O pregador oferece uma justificativa para mostrar hospitalidade: Foi
praticando-a que, sem o saber, alguns acolheram anjos. Isso alude à hospi
talidade de Abraão e Sara a três visitantes que se revelaram mensageiros divinos
(Gn 18.1-15). Aqui está um precedente bíblico para o reconhecimento genera
lizado da hospitalidade como um dever religioso. Bondade para com estranhos
é uma demonstração de devoção a Deus. As implicações incluem não apenas a
possibilidade de contato involuntário com emissários divinos, mas também o
reconhecimento de Deus e a justa recompensa pelo amor e boas obras de Seu
povo (veja 6.10-12).
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
N a A n t ig u id a d e , a h o s p it a lid a d e e ra u m a o b r ig a ç ã o s a g r a d a na q u a l
D e u s o u a s p e s s o a s d iv in a s e ra m v is t a s c o m o in t im a m e n t e e n v o lv id a s .
N a t r a d iç ã o ju d a ic o - c r is t ã , A b r a ã o fo i o p a i d a h o s p it a lid a d e . O " m a r s e m
lim ite s " d e h o s p it a lid a d e d o p a t ria rc a (T. Ab. A 17:7; v e ja 1 .1 ,2 ,5 ; 4 .6 ) e ra
" c é le b r e e g lo r io s o " (F ílo n , A b r. 16 7 ; v e ja 1 C ie m . 1 0 .7 ). E s s a s e s t im a t iv a s
d e p e n d ia m d o fa m o s o re la to d a g e n e r o s id a d e d e A b r a ã o p a ra c o m trê s
e s tra n h o s , q u e e ra m re a lm e n t e a n jo s d e D e u s (G n 1 8 .1 -1 5 ). O e x e m p lo
d e h o s p it a lid a d e d e A b r a ã o fo i d ig n o d e im ita ç ã o (T. A b . A 2 0 .1 5 ; T. J a c .
7 .2 2 -2 5 ).
O s le it o re s p a g ã o s s e id e n t if ic a r ia m f a c ilm e n t e c o m a s a n ç ã o d iv i
na d a h o s p it a lid a d e . " E s t r a n h o s e m e n d ig o s v ê m d e Z e u s " (H o m e ro , O d.
6 .2 0 7 -2 0 8 ) ; e H e r m e s e ra o g u a r d iã o e e x e c u t o r d a h o s p it a lid a d e ( A n to
n in u s L ib e ra lis , M e ta m . 21 ). A e x ig ê n c ia d e h o s p it a lid a d e fo i re fo rç a d a
p e la c re n ç a d e q u e o s d e u s e s p o d e r ía m a p a r e c e r d is fa r ç a d o s d e e s t r a n h o s
(H in o H o m é r ic o a D e m é te r 1 1 1 -1 1 2 ; O d. 1 7 .4 8 5 -4 8 7 ). A m a is c o n h e c id a
é a e n c a n t a d o r a h is tó r ia d e F ile m o n e B a u c is na F rig ia. O c a s a l d e id o s o s
re c e b e u d o is v ia ja n t e s ( Z e u s e H e r m e s d is fa rç a d o s ) , e, p o r s u a p ie d a d e ,
fo i c o n c e d id o o d e s e jo d e m o rre r e m ju n to s ( O v íd io , M e ta m . 8 .6 2 6 ; c o m
p a re c o m A t 1 4 .1 1 ,1 2 , e m q u e B a rn a b é e P a u lo fo ra m c o n fu n d id o s c o m
Z e u s e H e rm e s ).
O m a n d a t o d e H e b re u s p a ra m o s t r a r h o s p it a lid a d e — " a lg u n s a c o
lh e ra m a n jo s d e s p r e v e n id o s " (1 3 .2 E S V , KJV, R E B , R S V ) — n ã o p a re c e r ía
n a d a f a n t á s t ic o p a ra a s p e s s o a s d o m u n d o a n tig o ( K o e n ig , 1 9 9 2 ).
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
presos, como presos com eles” (KJV). Alguns cristãos primitivos permanece
ram voluntariamente na prisão com outros crentes presos (Luciano, Peregr. 12;
Tox. 32).
O pregador exorta seu público a identificar-se com os maltratados como
se fossem eles m esm os que o estivessem sofrendo. A linguagem é novamen
te apontada: “Como se vocês mesmos estivessem no corpo [deles]” (Attridge,
1989, p. 386; Koester, 2001, p. 558). O fraseado quase idêntico de Fílon, [Leis
Esp. 3.161; Johnson, 2006, p. 341) esclarece o uso aqui em 13.3: “Como se
você sentisse a dor deles em seus próprios corpos” (NLT). Compartilhar o so
frimento de outros crentes (2 Co 1.6,7; 2 Tm 1.8; 1 Pe 5.9; Ap 1.9; veja Hb
10.25) e participar dos sofrimentos de Cristo (At 5.41; Rm 8.17; 2 Co 1.5; Fp
3.10; 1 Pe 4.13; veja Hb 10.26) são temas comuns do NT.
B 4 Uma quarta exortação volta aos temas articulados à frente da segunda
metade da peroratio. Em 12.14-17, o pregador exortou seus ouvintes a buscar
paz e santidade. Lá, como aqui, ele aborda a santidade em geral e a ética sexual
em particular, em termos de pureza cultuai, status honroso diante de Deus e
juízo divino.
O pregador enfatiza a santidade do casamento em um par de cláusulas sem
verbo (13.4a-b), que podem ser interpretadas como afirmações declarativas
(“o casamento seja honroso entre todos, e a cama sem mácula” [BKJ]) ou co
mandos (com um imperativo implícito, deve ou “deixe... ser”; Bengel, 1877,
4:493). Em ambos os casos, a justificação conclusiva, invocando a justiça divina
(v. 4c), estabelece a pureza sexual como uma obrigação moral.
O casam ento deve ser honrado por to d o s que identificam o casamento
como “uma propriedade honrosa” (como diz o Livro de Oração Comum). Isso
não foi escrito para opor-se a um ideal ascético de santidade que proibia o ca
samento (ao contrário de Hagner, 1990, p. 235; veja Attridge, 1989, p. 387).
Em vez disso, destinava-se a evitar o abuso ou desrespeito do casamento por
parte dos im orais (v 4c). O casamento é “honroso” e deve ser valorizado como
precioso (timios; BDAG, p. 1005-1006).
Assim, a expressão paralela o leito conjugal [deve ser\ conservado puro
refere-se à pureza da união sexual dentro do contexto do casamento. Koitê
[cama) é um eufemismo comum para relações sexuais (veja Rm 9.10; 13.13).
C onservado puro ou “imaculado” (a maioria das traduções; amiantos) é um
termo adequado à pureza do templo. Mas tem um sentido religioso ou moral
mais amplo (-» 7.26 de Jesus; BDAG, p. 54). Seu antônimo cognato “defile
[miainõ]” é usado em 12.15 concernente a comportamento imoral que conta
mina a comunidade.
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samente “imitar \mimêtai]” aqueles que pela fé e paciência herdam o que foi
prometido” (-» 6.12). Paulo também pediu a imitação de outros que estão imi
tando fielmente a Cristo (1 Co 4.6; 11.1; 1 Ts 1.6; 2.14; veja Ef 5.1).
U 8 A aclamação Jesus C risto é o m esm o, ontem , e hoje e para sempre tem
um toque litúrgico. De fato, em Hebreus, o título completo Jesus C risto é usa
do principalmente em contextos confessionais (-» 10.10; 13.21). Essa afirmação
está em consonância com a confissão de Jesus como apóstolo, sumo sacerdote
e Filho de Deus à qual os leitores devem “apegar-se com toda a firmeza” (3.1;
4.14; 10.23; veja 3.14). Ela envolve de Cristo:
• no sofrimento fiel e decisivo no passado, ontem (2.9; 5.8; 9.26; duran
te os dias da vida de Jesus na terra” [5.7]);
• nos fundamentos para a oferta do descanso divino hoje (3.7,13,15;
4.7; veja 4.1,2);
• na salvação completa para sempre (veja 5.9; 7.24; 9.14,15).
Isso confessa novamente a constância eterna do Filho (1.8-12; “você per
manece o mesmo” [1.12]), fidelidade (2.17; 3.2,5) e a permanência de Seu
sacerdócio para sempre (5.6; 6.20; 7.3,17,21,24,28).
Essa confissão da eterna confiabilidade de Cristo pode ter tido uma função
litúrgica fora de Hebreus. Mas desempenha um papel crucial em seu contexto
atual. Olhando para trás, Jesus C risto é o m esm o que o fundamento para o
ensino e o exemplo da liderança do passado (v. 7). Cristo é a fonte da mensa
gem que eles falaram (1.3; 2.3). Sua submissão reverente e autossacrifício foi o
padrão para Seu modo de vida (2.9,10; 5.7,8; 10.5-10). Ele é “o autor e consu-
mador” da “fé” dos líderes (12.2), que os leitores devem imitar.
Olhando para o futuro, a confiabilidade de Cristo apoia as seguintes
exortações para não se deixar levar por “ensinos estranhos” (13.9), mas para
seguir a Cristo, identificando-se com Seu sofrimento e Sua vergonha (v. 13).
Os versículos seguintes mostram a mensagem fundamental do sermão: a morte
sacrificial de Jesus e o sacerdócio eterno são a base para a verdadeira adoração
e esperança duradoura.
■ 9 A admoestação não se deixem levar pelos diversos ensinos estranhos
contrasta com a conhecida e verdadeira “palavra de Deus” falada por líderes
do passado (v. 7) e a confiabilidade de Cristo (v. 8). A continuidade e a cons
tância do evangelho devem ser preferidas à variabilidade (diversos) e à falta
de confiabilidade (estranhos; veja 1.10-12; 7.23,24; deSilva, 2000a, p. 95-96).
Deixar-se levar (parapheresthe) sugere instabilidade, como a deriva (2.1) ou a
queda (4.1,11; 6.6; 12.15) advertida anteriormente.
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De outro modo, é bom que nossos corações sejam fortalecidos pela graça.
O uso repetido do sermão dos cognatos para “estabelecido” (BKJ) ou fortale
cido (bebaiousthai; veja 2.2,3; 3.14; 6.16,19; 9.17; Thompson, 2008, p. 281)
nos lembra da necessidade da comunidade de estabilidade e segurança em sua
esperança e fé (6.11,19; 10.22). A força pode ser encontrada na graça de Deus,
a força motriz por trás da morte salvadora de Cristo (2.9) e um dos benefícios
de Seu ministério sumo sacerdotal (4.16).
O núcleo interior da vida e da personalidade de uma pessoa, o coração,
precisa ser fortalecido (da mesma forma, a esperança é uma “âncora da alma,
firme e segura” [6.19]). O coração é a sede dos “desejos e pensamentos” mais
íntimos (4.12 TB). Mas também pode ser o centro de incredulidade, desobedi
ência e rebelião (3.8,10,12,15; 4.7). Quando purificada de uma má consciência
(10.22) e transformada pelo Senhor (8.10; 10.16), a vida interior do coração
pode tornar-se verdadeira e estabilizada em “plena convicção de fé” (10.22).
A graça do ministério de Cristo é a verdadeira fonte de força espiritu
al, não [...] alim entos cerim oniais. A NVI acrescenta corretamente a palavra
cerim oniais, embora o vocábulo seja simplesmente alim entos ( brõmasin;
compare “refeições rituais” [NET]). Alguns comentaristas pensam que essa é
uma referência geral à comida, abrangendo diversos ensinos estranhos, não
apenas práticas judaicas (Koester, 2001, p. 560-561). No entanto, o pregador
resumiu os “ofertas e sacrifícios” (9.9) sob a antiga aliança como “apenas pres
crições que tratavam de comida e bebida e de várias cerimônias de purificação”
(9.10). A referência aqui, então, é para “regras” (NVT, GW, NLT, REB) ou
“regulamentos” (NRSY) sobre comida, ou seja, “leis dietéticas” judaicas (Jo
hnson, 2006, p. 347).
Isso é confirmado pela expressão aqueles que andam ou “observam”
(NRSV, TNIV; veja REB) tais regras. “Andar” é uma metáfora bíblica comum
para conduta ética e apropriada como um rótulo para decisões legais rabínicas
sobre como viver, conhecidas como halachah (do hebraico halach, “andar”;
veja Attridge, 1989, p. 394; Lane, 1991, p. 535; Johnson, 2006, p. 347).
De uma perspectiva da Nova Aliança, a continuação, ou o restabelecimen
to de tais regulamentos, é, de fato, estranha (.xenais) ao ensino genuíno sobre
como ser aperfeiçoado como adoradores (France, 2006, p. 187). Outros escri
tores do N T assumem uma posição semelhante (veja Cl 2.16,22; 1 Tm 4.1-4).
No início do segundo século, Inácio forneceu um paralelo, se não uma alusão,
à nossa passagem: ele contrastou viver de acordo com o judaísmo com receber
a graça (Ign. Magn. 7.2-8.1; Lane, 1991, p. 536; Pfitzner, 1997, p. 196).
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sangue de bodes e touros nunca foi capaz de purificar as pessoas de seus pe
cados (9.13,14; 10.4). Mas Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote, efetuou a
santificação decisiva por m eio de seu próprio sangue (veja 9.12,25).
H 1 3 - 1 4 0 pregador aplica essa interpretação midráshica do ritual do Dia da
Expiação (v. 11,12) para os leitores emitindo um chamado ousado ao discipu-
lado (v. 13): P ortanto, saiam os até ele, fora do acam pam ento, suportando
a desonra que ele suportou. Exortações anteriores se concentraram em exor
tar os ouvintes a “se aproximar” ou “achegar-se” à presença divina na adoração
(4.16; 10.22) ou a entrar no descanso divino (4.11). Agora, em coerência com
a tipologia do Yom Kippur, a direção do movimento é invertida: Saiam os
[exerchõmetha] até ele, fora do cam po (Attridge, 1989, p. 398). Essa convoca
ção para identificar-se com Cristo se alinha com as exortações anteriores para
que os leitores fixem seus olhos em Jesus como Sumo Sacerdote e considerem
Sua resistência à vergonha e ao solrimento (3.1; 12.2-4; veja 2.9,10). É a versão
de Hebreus do chamado de Cristo ao discipulado: “Se alguém quiser acompa-
nhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8.34).
S u p o rta n d o a d eso n ra \oneidismois\ que ele su p o rto u é algo que a
comunidade já fez no passado, quando perseverou em sua fé apesar de in
sultos (oneidismois) e perseguição (10.33). Moisés foi um precursor dessa fé
cristã, quando “ele considerou a desgraça [oneidismon\ por causa de Cristo”
como maior do que os tesouros do Egito (11.26). O próprio Jesus, o autor
e consumador da fé, “suportou a cruz, desprezando a sua vergonha” (12.2).
A motivação para o compromisso com Cristo e a identificação com
sua reprovação é dada em 13.14: P o is \gar\ n ão te m o s aqui um a cidade
p erm an en te \menousan\, m as b u sca m o s a que há d e vir. Essa é a mes
ma razão repetidamente enfatizada ao longo da peroratio. A comunidade
suportou em seus primeiros dias porque sabia que tinha “bens superiores
e permanentes \menousan]” (10.34). Sua confiança ainda tem uma gran
de recompensa (10.35), e eles devem perseverar para receber o que Deus
prometeu (10.36). Abraão viveu em fidelidade a Deus em uma terra estran
geira, porque ele ansiava pela cid ad e construída por Deus (11.10), a pátria
celestial (11.16). Moisés suportou sofrimento e vergonha “porque esperava
a sua recompensa” (11.26). Jesus suportou a cruz “pela alegria que lhe estava
proposta” — Sua exaltação à destra de Deus (12.2).
O público está aproximando-se da Jerusalém celestial, “a cidade do
Deus vivo” (12.22) que há de vir (veja 2.5). Eles estão recebendo um rei
no inabalável que “permanecerá \meinê]” (12.27,28). Essas verdades devem
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ário terrestre (9.1). Ela ocorre na “casa” ou família de Deus, liderada por Jesus
(veja 2.11-13; 3.6; 10.19-22). Não envolve mais sacrifícios de animais, lavagens
cerimoniais ou a observância das leis alimentares (9.9,10; 13.9).
O fereçam os [...] um sacrifício de louvor (v. 15,16) retoma a linguagem
do sacrifício da seção central (-» 7.27; 8.3; 9.9,23,28). Esse sacrifício com os
quais D eus se agrada são de dois tipos:
O primeiro são os atos de adoração que oferecem os continuam ente a
Deus. A expressão sacrifício de louvor denotava, muitas vezes, não só uma
categoria de sacrifício literal (uma oferta de ação de graças, veja Lv 7.12,13,15;
2 Cr 29.31; 33.16; Jr 17.26), mas também foi usada figurativamente para um
coração grato (Sl 50.14,23; Hagner, 1990, p. 243). O último uso é notado aqui
por uma adição explicativa, introduzida com isto é (um traço [—] em algumas
versões). O fruto de lábios de Oseias 14.2 indica louvor a Deus em resposta ao
perdão dos pecados. Confessar Seu nome na linguagem bíblica (especialmen
te em Salmos) era oferecer louvor/agradecimento a Deus (deSilva, 2000a, p.
505). Confessar a Cristo em Hebreus é sacrificial no sentido de que isso requer
a perseverança no sofrimento (3.1,6; 4.4; 10.23; 11.13; veja 10.32-39; 12.1-4).
O segundo tipo de sacrifício genuíno envolve amor e bondade dirigidos
aos outros. N ão se esqueçam de fazer o bem e de repartir com os outros são
detalhados de maneiras mais particulares em 13.1-6 (“não se esqueça” [v. 2];
“lembre-se” [v. 3]) e 6.10-11 (a comunidade deve permanecer diligente em suas
demonstrações de amor passadas).
A linguagem cultuai, notas de ação de graças e raciocínio (pois de tais
sacrifícios D eus se agrada \euaresteitai]) marcam esses versículos como uma
reformulação da exortação em 12.28: “Sejamos agradecidos e, assim, adoremos
a Deus de modo aceitável [euarestõs].
1 17 Essa seção (v. 7-19) começou com um lembrete sobre os líderes anterio
res da comunidade (v. 7). Ela termina com o encargo de cooperar e apoiar seus
líderes atuais — incluindo o autor (v. 17-19).
O bedeçam [peithesthe\ aos seus líderes pode significar “ter confiança
em” (NIV11) ou “confiar” (CEB) em seus líderes. No entanto, esse imperativo
é acompanhado por uma clara injunção à obediência: Subm etam -se à autori
dade deles.
A comunidade deve entregar-se aos seus líderes porque eles cuidam de
vocês (lit., de suas almas). Os líderes são guardiões do bem-estar espiritual
da comunidade. O verbo vigiar (agrypnousin; “incansável em seus cuidados”
[REB]) nunca é usado para líderes em outras partes do NT, mas para todos os
crentes que permanecem alertas e prontos para a vinda de Cristo (Mc 13.33;
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c. B ê n ç ã o e p o s fá c io (13.20-25)
Hebreus conclui com uma bênção (v. 20,21), apelo final para ser ouvido (v.
22), então um breve relato de viagem (v. 23), saudações (v. 24) e bênção (v. 25).
B 2 0 - 2 1 Tendo pedido as orações de seus ouvintes (v. 18,19), o autor agora
ora por eles. O triunfo passado de Deus em Jesus Cristo (v. 20) é invocado
como o penhor para a capacitação divina para ter uma vida agradável no pre
sente (v 21). A oração pulsa com os principais temas do sermão:
• A exaltação de Cristo como líder sobre o povo de Deus.
• A morte sacrificial de Cristo que inaugurou a nova aliança.
• A perfeição resultante dos crentes como adoradores.
O D eus da paz [...] os aperfeiçoe é o coração da bênção, encerrando com
uma doxologia, a quem seja a glória para to d o o sempre, e a fórmula litúrgica
judaico-cristã padrão, amém.
A invocação de Deus como o D eus da paz é rara na literatura judaica. Mas
Paulo usou muitas vezes como uma fórmula em bênçãos (Rm 15.33; 16.20; Fp
4.9; 1 Ts 5.23; veja Attridge, 1989, p. 405). O título divino é um componente
apropriado daperoratio (Hb 10.19— 13.25). Um inclusio pode ser pretendido
com 12.14, onde os leitores foram exortados a buscar a paz e a santidade. A
disciplina de Deus Pai cultiva a santidade e produz uma colheita de justiça e
paz (12.10,11). O compromisso com a integridade moral e a harmonia comu
nitária são as principais ênfases em 12.14-17 e 13.1-19. Mas, em última análise,
o D eus da paz capacita os crentes a cumprir Sua vontade (13.20-21).
Embora Deus seja o sujeito dos verbos principais (restituir , aperfeiçoar
e operar), a oração é cristocêntrica. Cristo é o meio (por intermédio de Jesus
Cristo) pelo qual Deus realiza Seus propósitos. Cristo é mencionado nada me
nos que três vezes — como nosso Senhor Jesus, o grande Pastor das ovelhas,
o grande Pastor das ovelhas.
Deus é Aquele que trouxe de volta dentre os m ortos o Senhor Jesus. Essa
é a referência mais explícita à ressurreição de Jesus em Hebreus (veja 5.7; 7.16).
No entanto, o pregador varia do fraseado usual para a ressurreição (veja 6.2;
11.35; e possivelmente 7.11,15). Em vez de uma forma de “levantar” (egeirõ
ou anistêmí), Hebreus trouxe de volta (anagõn; “criado” [HCSB, LEB, NAB,
NASB, NKJV, NLT]). Assim, Hebreus mantém sua ênfase na exaltação de
Cristo (1.3,13; 7.26; 8.1; 10.12), não apenas em Sua libertação da morte.
A expressão trouxe de volta dentre os m ortos [...] grande Pastor das
ovelhas ecoa Isaías 63.11-14 LXX (Lane, 1991, p. 561). Ali Moisés é o “pastor
das ovelhas”, a quem o Senhor tirou do Egito, junto ao povo de Israel, no êxo
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
do. Um novo êxodo foi efetuado por meio da exaltação de Cristo, uma vez que
implicou “levar muitos filhos à glória” (Hb 2.10). O título grande Pastor das
ovelhas é uma reminiscência da referência anterior de Hebreus a Jesus como
“grande sacerdote da casa de Deus” (10.21; veja 4.14).
A essência do argumento da seção central (7.1 — 10.18) está contida na
frase p elo sangue da aliança eterna. Um resumo comparável aparece em
12.24: “Jesus, o mediador de uma nova aliança” e “o sangue aspergido”. O san
gue sacrificial foi indispensável na inauguração da primeira aliança. E a oferta
de uma vez por todas do sangue de Cristo estabeleceu a nova aliança (9.15-
28); daí a expressão sangue da aliança (9.20; 10.29; veja Mc 14.24 ||; 1 Co
11.25). Pela Sua morte sacrificial (sangue), Cristo foi qualificado/aperfeiçoa
do como o líder sobre o povo de Deus. Esse é o ponto de Deus trazer de volta
dentre os m ortos [...] o grande Pastor das ovelhas (veja Hb 2.9,10,17,18;
5.7,8; 7.27,28; 10.12,13,19-22).
Somente aqui, Hebreus chama a Nova Aliança de aliança eterna, ecoan
do a promessa de Deus por intermédio dos profetas (Is 55.3; 61.8; Jr 32.40;
50.5; Ez 16.60; 37.26). A designação é apropriada, uma vez que essa “aliança
superior” é garantida pelo sacerdócio permanente de Cristo (Hb 7.22,24; veja
5.6; 6.20; 7.16,17,21,28). Está estabelecida em “promessas superiores” (8.6).
O principal delas é a santificação definitiva por meio do sacrifício de uma vez
por todas de Cristo (10.10-18). Ele fornece uma “esperança superior” (7.19):
salvação eterna, redenção e herança (5.9; 9.12,15).
A petição em 13.21 reitera o principal enfoque da segunda metade dape-
roratio (12.14— 13.25): a adoração autêntica é uma resposta à graça de Deus.
O pedido que Deus os aperfeiçoe \katartisaí\ refere-se à provisão/preparação
divina dos leitores com to d o o bem para que nada lhes falte para fazerem {eis
to poiesai) a vontade de Deus {to thelêma). Está implícito nisso o amadureci
mento ou perfeição de seu caráter moral (“tornar você perfeito” [BSEP, KJV,
REB]; “fazer você completo” [NKJV, NRSV]; Ellingworth [1993, p. 730] de
tecta um aspecto da teleiõsis [“perfeição”] tema). A encarnação de Cristo é o
padrão para essa perfeição: Deus “preparou” (katarisõ) um corpo para Jesus,
que veio “para fazer a vontade [de Deus]” {toupoiesai to thelêma; 10.5,7,9).
A cláusula participativa a seguir descreve ainda a ação anterior como Deus
operando \poiõn\ em n ós o que lhe é agradável. A menção do que lhe é agra
dável completa o tema da adoração aceitável (12.28) e sacrifícios agradáveis
(“fazer o bem” [13.16]) que constituem a resposta apropriada ao dom gracioso
da cidadania de Deus no Reino inabalável (veja 12.28; 13.14).
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
■ 22 0 pregador exorta [s] {parakalõ, p eço-lh es) seu público a prestar aten
ção à sua palavra de exortação it ou logon tês paraklêseõs). Suportem ou tolerem
(.anechesthe) é uma forma educada de pedir aos ouvintes que “prestem atenção”
(NVT) ou “escutem com paciência” (GNT, GW; veja BKJ; BDAG, p. 78).
Isso está de acordo com os repetidos avisos para prestar atenção (2.1,3; 3.7,15;
4;7; 5.11; 12.25; Thompson, 2008, p. 286).
A palavra de exortação é uma descrição adequada de Hebreus. A frase
em Atos 13.15 designa uma homilia/sermão que Paulo faz em uma sinagoga.
Hebreus se encaixa bem nessa identificação. Está repleta de exposições das Es
crituras destinadas a alertar os leitores sobre as consequências da desobediência
e fornecer “forte encorajamento” (6.18 ESV, HCSB, NASB) para confiar nas
promessas de Deus.
N a verdade o que eu lhes escrevi é p ou co não identifica o gênero da obra,
mas o modo de sua entrega: Eu te instruípor meio de carta (epesteila; BDAG,
p. 381). O pregador deu sua palavra de exortação por carta porque ele não
poderia falar com eles, em breve, em pessoa.
Era uma convenção retórica afirmar que o trabalho de alguém não era
pesado em extensão (veja 1 Pe 5.12). Em dois casos, Hebreus se abstém propo
sitalmente de aprofundar-se em pormenores para evitar ser cansativo (Hb 9.5;
11.32). Hebreus não é de forma alguma curta em comparação à maioria das
letras antigas (mesmo a mais curta no NT, 3 João, é maior do que a norma; veja
At 15.23-29). Com quase 5.000 palavras, Hebreus é comparável às cartas mais
longas de Paulo (ex.: Romanos [mais de 7.000]; 2 Coríntios [quase 4.500];
veja Just, 2005). PseudoBarnabé, no entanto, afirma estar enviando uma “carta
breve” {Barn. 1.5), mas é o dobro da extensão de Hebreus (Lane, 1991, p. 569).
Hebreus, no entanto, pode razoavelmente alegar: “Porque de fato escrevi
para você muito brevemente” (NIV11). Está entre as obras antigas mais curtas
(10.000 palavras ou menos). Como discurso escrito, tem entre um terço ou um
quarto da duração dos discursos mais longos de Demóstenes (Burridge, 2004,
p. 114-115). O texto poderia facilmente ter sido ouvido em uma sessão — qua
renta e cinco a cinquenta minutos (Koester, 2001, p. 175). A relativa brevidade
ou extensão dos discursos, em qualquer caso, foi julgada não pelo tipo de dis
curso, mas pelo escopo do assunto em consideração (Quintiliano, Inst. 3.8.67).
ü 2 3 Um breve aviso sobre planos de viagem é comum nos fechamentos de
cartas antigas. Os planos do autor estão um pouco ligados aos movimentos de
nosso irm ão T im óteo. Esse é provavelmente o mesmo Timóteo que foi o co
laborador mais confiável e amado de Paulo (veja 1 Co 4.17; Fp 2.19-23); mas
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
não podemos ter certeza. Hebreus informa aos leitores (quero que saibam)
que Timóteo fo i p o sto em liberdade (“da prisão” [NLT]; menos provável:
“partiu” ou foi “expulso” [BDAG, p. 117-118; Isaacs, 2002, p. 164]). Essa é a
única indicação no N T de que Timóteo foi preso.
O autor está ansioso para se reunir com a comunidade (Hb 13.19). Mas
ele espera que Timóteo seja capaz de ser seu companheiro de viagem até lá: Se
ele chegar lo g o , irei para vê-los com ele. Ele dá a entender que, se Timóteo
não vier a tempo, lamentavelmente terá que partir sem Timóteo. (Só podemos
supor se os horários de envio ou restrições sazonais nas viagens foram fatores.)
8 2 4 - 2 5 Elebreus chega ao fim com saudações e uma bênção final. Existem
duas diferentes saudações. A primeira é um pedido para que a comunidade
envie saudações em nome do autor (v. 24λ). A segunda inclui saudações do
autor à comunidade em nome dos companheiros que estão com ele (v. 2Ab). As
saudações, juntamente à bênção final (v. 25), são abrangentes, como indicado
pela repetição tripla da palavra to d o s nos versículos 24 e 25.
O pedido no versículo 24^ para saudar to d o s os seus líderes e tod os os
santos (lit., “todo o povo de Deus” [KJV, NAB]) pode sugerir que o sermão
anterior foi dirigido a uma determinada comunidade ou igreja doméstica.
Esse grupo menor está agora sendo solicitado a transmitir saudações a uma
rede de igrejas e seus respectivos líderes (Lane, 1991, p. 569). Ou as saudações
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
abrangentes podem implicar que o trabalho foi planejado para ser lido em uma
reunião maior de igrejas domésticas e que as saudações seriam postas em práti
ca nessa leitura pública (deSilva, 2000a, p. 515).
A última sugestão pode ser menos provável, uma vez que o direito romano
proibia grandes associações (Lindars, 1991, p. 18). No entanto, tais saudações
foram projetadas para promover a boa vontade e a solidariedade entre tod os
os santos e fortalecer ainda mais a posição e a influência de tod os os líderes
nas igrejas (veja v. 17,18).
A segunda saudação (v. 24b) é suscetível a duas interpretações diferentes.
A primeira, os da Itália que enviam saudações podem insinuar que o autor
está escrevendo da Itália. Essa é uma interpretação antiga, refletida em vários
manuscritos com notas explicativas seguindo o versículo 25. Eles identificam
a Itália ou Roma como o local de composição (ex.: o Codex Alexandrinus do
quinto século; Brown, 1997, p. 699, n. 42; Isaacs, 2002, p. 9).
Uma segunda interpretação é difundida por muitos intérpretes modernos:
o autor está escrevendo de algum lugar fora da Itália. Seria supérfluo para o
autor mencionar os da Itália se ele estivesse na Itália no momento em que
escrevia. Além disso, é uma referência muito ampla dentro da Itália, mas apro
priadamente estreita fora. Isso não é certo, uma vez que a afirmação é ambígua,
designando ou residência (“povo santo de Deus na Itália” [NJB]) ou extração
(“nossos amigos italianos” [REB]). Mas faz um pouco mais de sentido que al
guns de seus companheiros da Itália, que estavam com ele em algum lugar fora
da Itália, quisessem enviar saudações a seus amigos cristãos em casa, talvez em
Roma ou nos arredores.
A bênção final, a graça [charts] seja com to d o s vocês (v. 25), é comum nas
cartas de Paulo (2 Co 13.14; Ef 6.24; 2 Ts 3.18; Tt 3.15; veja G1 6.18; Fp 4.23;
Cl 4.18; lTm 4.22; Fm 25). Embora essas palavras sejam convencionais, elas
encerram adequadamente a mensagem do pregador. A humilhação e a morte
de Cristo originaram-se na graça de Deus (2.9), e a graça é um dos benefícios
do ministério sumo sacerdotal de Cristo (4.16). A graça não deve ser rejeitada
(10.29; 12.15). E a fonte vital de nossa força espiritual (13.9) e nossa indispen
sável resposta de gratidão (charts) a Deus em adoração (12.28).
A PARTIR DO TEXTO
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
que esse sermão abordou pela primeira vez. Poucos leitores no conforto do
Ocidente sentem a sombra ameaçadora da perseguição. Menos são tentados
a abandonar a fé cristã pela atração ao culto sacrificial e às leis alimentares da
aliança mosaica. No entanto, há quatro pontos (entre outros) da conclusão do
pregador que são igualmente aplicáveis aos seguidores de Jesus hoje.
(1) Hebreus nos exorta a permanecer comprometidos com Jesus Cristo. Em
bora possamos não estar preocupados com uma perseguição oficial contra os
cristãos, há muitos casos e ambientes em nossa sociedade onde proclamar a
fé em Cristo pode ser intimidante (ex.: um campus universitário secular nos
Estados Unidos).
Na medida em que ainda devemos ter coragem e convicção para seguir a
Cristo, não somos tão diferentes desses primeiros cristãos romanos. Como o
grande pregador Dennis Kinlaw observou em um sermão no Asbury College
alguns anos atrás, até mesmo o apóstolo Pedro negou o Senhor em resposta à
“curvatura do lábio” de uma serva. Se formos honestos conosco mesmos, mui
tos de nós podem fazer o mesmo em uma situação semelhante.
Eíebreus nos desafia a examinar nosso compromisso e confiança em Cris
to. O pregador nos adverte sobre o perigo de perder a graça de Deus devido a
outras paixões ou preocupações que, francamente, são mais urgentes para nós
(12.15-17). Ele nos ordena a não recusar a voz que nos adverte do céu. A voz
alta ameaça abalar o mundo temporal que, muitas vezes, podemos considerar
como permanente (12.25-27). Mas, se ouvirmos com mais atenção, ouviremos
“uma palavra que fala melhor do que o sangue de Abel” (12.24). E a voz do gra
cioso mediador da Nova Aliança, Jesus Cristo, suplicando “em alta voz e com
lágrimas àquele que podia salvar da morte” (5.7). Nós finalmente o ouvimos
dizer: “Aqui estou; vim para fazer a tua vontade” (10.9; veja v. 7).
Vemos Seu corpo quebrado abrindo um caminho novo e vivo para nós
na presença de Deus, e o sangue aspergido de Seu sacrifício que purifica nos
sa consciência da culpa dos pecados. Em resposta, Hebreus nos chama para
o mesmo tipo de discipulado de carregar a cruz que Jesus ordenou aos Seus
discípulos (Mc 8.34 ]|). “Portanto saiamos até ele, fora do acampamento, su
portando a desonra que ele suportou” (Hb 13.13). Graças a Deus, é a mesma
graça que levou Cristo à cruz que pode fortalecer nossos corações em devoção
a ele (13.9).
(2) Hebreus nos chama a viver nossas vidas em ação de graças e adoração
a Deus. Somos orientados a fazer isso em resposta ao dom de Deus de Seu
Reino eterno e inabalável (12.28). O que não é imediatamente aparente em
português, como em grego, é que nossa resposta deve ser energizada por “graça
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NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON HEBREUS
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HEBREUS NOVO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON
Esses versículos ilustram o que J. Kenneth Grider quis dizer com o ditado: “O
amor é santidade com seu macacão”.
Hebreus nos diz claramente quem e o que devemos amar e o que não de
vemos amar. Devemos amar nossos irmãos na fé como nossos irmãos e irmãs
(jPhiladelphia, “amor de irmãos”). O pregador falou repetidamente sobre o
cuidado e a preocupação que os crentes devem ter uns pelos outros, nem sem
pre usando a linguagem explícita do amor (-» 6.10; 10.24; 3.12,13; 12.15,16).
Devemos especialmente dar conforto e apoio aos sofredores e maltratados
(10.33,34; 13.3).
Devemos amar os estranhos (philoxenia·, 13.2). Os protocolos de hospita
lidade tornaram-se consideravelmente mais fracos ou inexistentes em muitos
ambientes ocidentais modernos (-» 13.2 e anotação complementar: “Hospi
talidade no mundo antigo”). Portanto, os cristãos de hoje precisam ser muito
mais intencionais em nossa bondade e generosidade para com as pessoas que
podemos ser tentados a considerar como “outras”. Com razão, temos medo
de ser roubados ou explorados. Não é improvável que a hospitalidade que os
hebreus tinham em mente fosse dirigida a “estranhos” que eram seguidores
de Cristo, muitas vezes envolvidos na obra do ministério cristão. Mesmo que
reduzíssemos o escopo do “amor aos estranhos” dessa maneira, ainda poderia
mos avançar para assumir riscos apropriados ao amor e à doação abnegada que
fluem da fé cristã autêntica.
Duas exortações adicionais são especialmente aplicáveis hoje. Primeira, o
pregador defende vigorosamente a pureza sexual e a santidade do casamento
(13.4). Como podemos amar verdadeiramente outros crentes ou estranhos se
não podemos nem manter fidelidade com aquele a quem prometemos amor ao
longo da vida?
O antigo cenário cultural em que os leitores originais de Hebreus viviam
era tão permissivo quanto o nosso (-> 13.4). Não devemos imaginar que as
tentações sexuais sejam mais difíceis ou predominantes hoje — mesmo com
a atração onipresente da pornografia na internet. Mesmo um estudo superfi
cial dos antigos costumes sexuais greco-romanos ou as imagens sexualmente
explícitas das estátuas ou afrescos nas cidades antigas (ex.: Pompeia) devem
desiludir-nos da noção de que, hoje em dia, a sedução é muito pior (veja tam
bém Pv 5). E, se a ameaça de Hebreus do juízo de Deus não for suficiente para
nos impedir de atividades sexualmente imorais, há mais opções terapêuticas do
que nunca para pessoas que estão lutando contra o vício sexual ou a disfunção
relacionai.
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