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Os Lusíadas

Luís de Camões

Canto VII

Reflexões do Poeta / Lamentos do Poeta


 Reflexão do poeta / Lamentos do poeta pelos infortúnios sofridos e pelo não reconhecimento
do seu mérito, facto inviabilizador do incentivo a novos, a futuros escritores.

 Acontecimento motivador:

- o pedido do Catual a Paulo da Gama para que lhe explique o significado das figuras
desenhadas nas bandeiras.

 Estância 78

Caminho perigoso, navegação difícil, fragilidade do batel são metáforas da construção difícil do
poema, das dificuldades na sua elaboração (daí a Invocação, o pedido de ajuda às Ninfas).

Estas metáforas podem também ser lidas como metáforas da vida complicada do Poeta 
obra e vida intimamente ligadas.

 Estância 79 e seguintes - tom marcadamente autobiográfico

 Estância 79

O Poeta pede às ninfas que não esqueçam que, apesar de há muito cantar o seu Tejo e
os seus Lusitanos, é perseguido pela fortuna com novos perigos e trabalhos, no mar e na guerra.

 Estância 80

O poeta intensifica os seus lamentos  vive desterrado e pobre, por estranhas paragens
(Índia), derrubado pela esperança que o dominava, escapando – por milagre – à morte, nas costas
marítimas.

 Estância 81

Camões acusa aqueles a quem andou cantando / louvando de lhe terem dado como
“prémio” consumições e desgraças (“trabalhos nunca usados”)  ironia da palavra prémio.

Através da apóstrofe (“Ninfas minhas”), o poeta mostra a sua familiaridade com a prática
da poesia épica, com a busca de uma linguagem poética que começou a procurar na Invocação; a
relação de proximidade traduzida, novamente, através do determinante possessivo (“minhas”)
radica / firma essa convivência.

Dois pontos (:) – valor explicativo (explicação do prémio)


 Estância 82

O Poeta reforça a sua queixa.

A ironia intensifica-se quando ele designa os nobres ingratos possuidores de “engenhos”


“valerosos”, que sabem prezar, isto é, recompensar quem os canta  linguagem irónica pois
sugere exatamente o contrário.

 Estância 83

Invoca novamente as ninfas (“vós”), solicita o seu favor e indica para que lhe servirá, como o
utilizará  só cantará os merecedores.

 Estância 84

Apostrofa as ninfas e reforça a ideia de que fará bom uso da ajuda por elas concedida (vv.1-4).

Estâncias 84 a 86 – o Poeta indica quem não merece ser cantado por ele.

 Estância 84

Não cantará os egoístas, os que não respeitam as leis humanas e divinas, os gananciosos, os
corruptos, os gananciosos…

 Estância 85

… os hipócritas e dissimulados, os que governam roubando o povo …

 Estância 86

… os que não pagam devidamente aos que servem o país (e ainda os obrigam a pagar tributo).

 Não merecem ser cantados:

- os egoístas;
- os que não respeitam as leis (humanas ou divinas);
- os ambiciosos;
- os corruptos;
- os hipócritas e dissimulados (fingidos, falsos);
- os que governam roubando o povo;
- os que não pagam devidamente a quem serve o seu país.

 Recordar: Canto IX, estâncias 18 a 29  Cupido prepara uma


expedição à terra para castigar os homens.
 Estância 87

O Poeta indica quem merece ser cantado por ele  aqueles que arriscam a vida na
propagação da Fé e na defesa do seu Rei, aqueles que se colocam ao serviço de deus e do rei,
abdicando dos seus interesses pessoais (só esses são dignos de ser cantados e merecedores de fama e
glória).

Cansado, sem alento, o Poeta refere, mais uma vez, que receberá a ajuda das musas e
de Apolo para que a sua inspiração seja reforçada e para que possa, com nova energia, regressar à sua
empresa de construir e concluir o seu poema (vv. 5-8).

Atenção

 O sofrimento não impede que o poeta reafirme um princípio: importa dar às Letras a
dignidade que elas merecem, em paralelo com a vida militar. O verso “Nũa mão sempre a
espada e noutra a pena” (est.79, v.8) expressa a dualidade da condição do poeta e do
soldado, antes reconhecida a César (est. 96, v. 3)

 A escrita da epopeia não é uma diversão como acontecia com a poesia palaciana. É um
“trabalho” (est. 87, v.8) que implica um compromisso: o poeta compromete-se a
celebrar aqueles que forem dignos disso, não os interesseiros, os ambiciosos, os opressores
ou os injustos (est. 84-87).

in: «Rimas e Os Lusíadas…», de Carlos Reis

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