Você está na página 1de 137

Técnicas de conservação preventiva em acervos

documentais do patrimônio cultural material

Kathlin Morais e Malu Nagai


Panorama sobre
Cultura e Patrimônio
Cultura
Polissemia da palavra ‘Cultura’

• Cultivo de células em laboratório


• Cultivo de plantas para alimentação
• Criação de animais
Cultura: Modo de realização de algo, de um povo, em um
lugar, em um momento da história
Como isso aconteceu/acontece:
Repetição de determinadas ações para a sobrevivência (plantar, dançar, desenhar,
caçar, fugir, se esconder, procriar, comer, etc)

Uma pessoa faz + tempo = Grupo

Grupo + Repetição das ações + Tempo = Rotina

Grupo + Rotina + Tempo = Cultura (modo de fazer, de um povo, momento, lugar


e com significado)

Cultura (repetição da rotina) + Facilidade = Pensamento


Pensamento + Pensamento + Pensamento = Desenvolvimento do cérebro

Cultura ⇆ Pensamento = Relação simbiótica:

Cada vez que eu penso, eu tenho mais cultura, e porque eu tenho mais
cultura, eu penso mais

Cultura +Tempo + Desenvolvimento do cérebro = HUMANOS ATUAIS


Relação entre Cultura e Humanos atuais?

• Gostamos de aprender

• Tendência a querer compreender o passado


• Olhamos para a Cultura de povo, numa determinada
época, num lugar


Patrimônio
É o conjunto de tudo o que foi produzido em forma de
Cultura que guardamos para compreender épocas passadas
e que precisa ser preservado, pois as gerações futuras tem
direito de acesso a esse material
E você com isso?
Você pensa sobre o Patrimônio, você ajuda a preservá-lo
para as gerações futuras e também produz Cultura (que no
futuro, pode vir a ser tornar Patrimônio)
Os detalhes sobre Patrimônio
Patrimônio
Patrimônio Mundial: Japão, Argentina, Bolívia, China,
França, Brasil

Brasil: Patrimônio Histórico e Artístico Brasileiro =


Patrimônio Cultural Brasileiro (PCB)

PCB: Arqueológico, Material e Imaterial


Categorização
● Arqueológico (evolução do planeta): Sítios (restos de habitação,
sepultamentos) e Objetos (em cerâmica, pedra, ossos)

● Material (que podemos tocar): Paisagístico (Serra da Barriga – AL),


Histórico (MANUSCRITOS, FOTOGRAFIAS, jornais), Belas Artes
(Os Profetas – Aleijadinho) e Etnográfico (Estádio do Maracanã)

● Imaterial (que não podemos tocar): Cênicas, Plásticas, Musicais,


Lúdicos = Técnicas
Órgãos, Leis e Ética
● Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN - 1737) =
NACIONAL
● Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico ( CONDEPHAAT - 1968) =
ESTADUAL
● Conselho Municipal do Patrimônio Cultura (CoMPaC - 2007) = LOCAL
● Lei 7.347/85, a qual rege as ações de responsabilidade por danos morais e
patrimoniais causados
● Cartas: Carta de Atenas (1931), Carta de Atenas (1933), Carta de Nova Delhi
(1956), Carta de Paris (1989)
● Ética: Pesquisa, nada é feito por ‘achismo’
Resuminho:
‘Cultura de uma época, de um povo, num lugar’

Patrimônio Brasileiro

Patrimônio Histórico

Patrimônio Material

Manuscritos e Fotografia (Grande quantidade nos acervos do Brasil)


Manuscritos
Manuscrito: a escrita

A transição para uma cultura escrita traz consigo profundas


transformações, que envolvem – vamos citar apenas algumas – a
organização e a transcrição de conhecimentos, a aproximação em
relação ao conhecimento – fundamentalmente regulada de outra
forma –, a relação do indivíduo com os conhecimentos, com a
realidade da tradição e da história. Resumidamente, nas
sociedades em que ocorreu a transição para a cultura escrita, nada é
como antes. (KOCH, P; OESTERREICHER, 1985)
Materiais usados para escrita

● Parede – Pinturas Rupestres


● Mármore
● Pedra
● Bronze
● Cera
● Osso
● Papiro
● Pergaminho
● Washi
● Papel de Trapo (Brasil)
Papel de trapo - Início

● Incerteza sobre a produção

● Inventado na China – 105 d.C

● Pedido do Imperador

● Casca de árvore, restos de cânhamo, trapos (durante muito tempo foi assim)

● Fervidos, macerados e colocados em moldura de madeira


Papel de Trapo na Europa ~ Brasil

• Batalha entre chineses e árabes – século XII

• Chineses são obrigados a ensinar as técnicas de papel

• Árabes passam a exportar papel para a Europa, via Bizâncio

• Inicialmente, papel era considerado material inferior e desfavorecido, por ser


considerada uma manifestação muçulmana

• Advento da imprensa – XV
• 1151 – Papel chega à Espanha – Moinho de Xativa

• Século XIII – Almafi e Fabriano (Itália)

• Brasil do século XVI em diante

• Processo: Os trapos eram: limpos, separados, lavados, aquecidos em solução alcalina

Maleáveis, formando pasta amarelada, oldes para formar a folha

• A partir do século XVIII, passam a ser clareados com a ajuda de componentes

químicos.
Papel de Trapo
Fonte:
Kathlin Morais e Flavio
Morbach Portella
Tipos de tintas para papel

•Tintas: mistura de um líquido, um corante e um fixador


•Egito, Japão e China – 2500 a.C (fuligem, cartilagem de animal, água, vinho)
•Tinta Ferrogálica
Soluções aquosas de vinagre, água, sulfato ferroso, ácido gálico (pigmento) e
goma arábica (fixados)
Século VII ao XX
Tipos de Encadernação
Como e por que ler esses documentos manuscritos?
Paleografia – Leitura de Manuscritos
•Disciplina responsável pela leitura de manuscritos antigos

•Materiais brandos – pergaminho, papel de trapo, tecidos (Epigrafia, Numismática,


Sigilografia, Papirologia)

•1681 – Primeiro tratado de Paleografia

•Letras, números, abreviaturas, acentos, etc


Outras ciências
Filologia, Codicologia, Diplomática
Processo de Leitura de Manuscritos

● Escolha do tipo de edição: diplomática, semidiplomática, modernizada


● Escolha das normas: “[e disse]”, ‘ e disse e disse’
● Imaginação do que vai se encontrar no documento
● Numeração da linhas
● Leitura geral do manuscrito
TREINO
● Identificação das palavras inteligíveis
● Facção do alfabeto
● Transcrição
● Revisão
Leitura de documento
Por que ler esses documentos?
● Evite a dissociação documental (Princípio Arquivístico)
● Ajuda a organizar o acervo
● Auxilia a elaborar o catálogo de forma correta – Ex. Termo ou
Ata?
● Saber o conteúdo por meio da leitura pode ajudar os estudos dos
pesquisadores
Fotografia
Técnicas e materiais fotográficos
● Técnica de criação de imagens (desenho com carvão, pintura, lápis de cor),
por meio de exposição luminosa (sol, lâmpadas UV), em meio sensível (vidro,
papel fotográfico), com ajuda de elementos químicos (prata)
• Processos de impressão direta (positivo) – Exemplar único - séc. XIX
● Processos de impressão negativo-positivo – (Matriz + Cópias) séc. XIX e XX
● Processos a cores - séc. XIX e XX
● Impressão digital - séc. XX (Tudo digital, inclusive a matriz)
Estrutura – componentes e ordem das camadas

Suporte (Onde vemos a foto)


papel (papel salgado, papel fotográfico), vidro, ferro,
plástico, tecido
Ligante (Que fixa a imagem no suporte)
albumina (clara de ovo), colódio, gelatina
Imagem
prata, corantes, pigmentos
E daí?
E daí que
Quanto mais você entende dos tipos de papel, de
encadernação, tinta, conteúdo, tipo de fotografia,
época em que tudo foi produzido e a
importância histórica desse material, mais capaz
de mantê-los em bom estado de conservação
você é!
Técnicas de Mantenimento do Patrimônio
Passado, Presente, Futuro no Patrimônio
PRESERVAÇÃO

Medidas e estratégias de ordem administrativa, política e operacional que contribuem direta ou indiretamente para a
proteção do patrimônio. Ex.: Leis, Campanhas, Congressos, Instalações, Comissão técnica, etc.

CONSERVAÇÃO

Levantamento, estudo e controle das causas de degradação, permitindo a adoção de medidas de prevenção. É um
procedimento prático aplicado na preservação. Ex.: Diagnóstico, monitoramento ambiental, vistoria, etc.

CONSERVAÇÃO PREVENTIVA

Intervenções diretas, feitas com a finalidade de resguardar o objeto, prevenindo possíveis malefícios. Ex.:
Higienização, pequenos reparos, acondicionamento, etc.

RESTAURAÇÃO

É um conjunto de medidas que objetivam a estabilização ou a reversão de danos físicos ou químicos adquiridos pelo
documento ao longo do tempo e do uso, intervindo de modo a não comprometer sua integridade e seu caráter
histórico. Ex.:
Os acervos
Acervos documentais - materiais

● Os materiais que compõem os acervos documentais (papel, tecido, pergaminho,


madeira, etc.) são orgânicos, ou seja, têm origem animal ou vegetal.

● Apresentam decomposição natural com o passar do tempo e a sua deterioração é


agravada ou acelerada com a ação de fatores/agentes de degradação
Agentes de Degradação
O que são agentes de degradação?

● Elementos que levam o bem material a uma instabilidade física ou química, que induz
mudanças/ameaças na sua composição com efeitos deletérios à sua integridade física e à sua
existência.

● Reduzem a vida útil do material e, consequentemente, da informação.


Quais são os agentes?
Agentes de
deterioração

Internos Externos

Físicos Químicos Biológicos


I. Agentes internos

● São agentes de degradação intrínsecos ao material, ou seja, estão relacionados ao


próprio processo de fabricação e composição dos materiais.

● Os itens dos acervos carregam em si “a semente de destruição”.


Exemplos de agentes internos

tipo de suporte/elementos causa tipo de degradação

papel (lignina*) pH ácido amarelecimento, quebradiço

tintas e colas pH ácido esmaecimento, manchas, ferrugem


(tinta ferrogálica)

metais (grampos) oxidação manchas, ferrugem

*lignina: componente da madeira que


confere rigidez ao tronco

documento
escrito com
tinta
papel jornal com lignina ferrogálica
Como postergar a ações de deterioração dos agentes internos?

- diminuir a acidez com uso de produtos alcalinos (embalagens de acondicionamento


com reserva alcalina, tratamentos aquosos)
- controle ambiental (temperatura, umidade relativa, qualidade do ar)
- higienização manual (para evitar que a poeira depositada e sujidades causem reações
ácidas)
II. Agentes externos

● são fatores existentes no ambiente físico do acervo


● relacionados às condições de armazenamento, exposição, manuseio e segurança
1. Agentes externos FÍSICOS

● Fenômenos de origem física que


danificam a estrutura dos bens
materiais.
a. Radiações de luz visível, ultravioleta UV e infravermelho IR

Emitidas pelo sol, lâmpadas e aquecedores


Problemas:
● causa cisão das moléculas e formação de radicais livres
● possui efeito cumulativo e irreversível
● acelera o envelhecimento do material

Efeitos:
● alteração de cores
● esmaecimento (desbotamento)
● manchas
● aumenta a fragilidade mecânica (quebradiço)
Como resolver os problemas com a radiação luminosa?
Recomendações Como fazer?
Eliminar a radiação não visível (UV Filtros anti-UV em janelas e
e IR) lâmpadas, usar lâmpadas frias

Eliminar a incidência de luz solar


direta Persianas nas janelas

Reduzir a quantidade de luz Instalar sensores de movimento


visível ou intensidade da luz que para ligar a luz e diminuir a
incide nos materiais intensidade

Reduzir o tempo de exposição à mudar constantemente itens de


luz visível exibição e não expor os originais,
fazer cópias.
b. Temperatura

Problema:

A cada 1°C que se eleve a temperatura, a velocidade das reações aumenta em 10 vezes.

Efeitos:

● acelera o envelhecimento dos materiais


● causa contração e expansão na estrutura dos materiais
● proliferação de insetos e fungos

Recomendações: manter o ambiente do acervo entre 18-21°C


c. Umidade Relativa do Ar (UR)

Problema: em condições inadequadas (índices elevados,


baixos e/ou flutuações), afetam a integridade física dos
materiais.

Efeitos:
● perda da resistência, deformações do material
● dissolução de corantes de tintas, emulsões fotográficas
● proliferação de insetos e fungos
● manchas
Recomendação: manter o ambiente entre 40-55%
Como garantir a estabilidade nas condições de temperatura (T) e umidade relativa
do ar (UR) dentro dos acervos?

● A construção do edifício deve prover isolamento das condições externas;


● evitar entrada de radiação solar pelas janelas;
● instalar sistema de ar-condicionado;
● instalar desumidificadores;
● monitorar com termohigrômetros.

Alternativas: ventilação mecânica, sílica-gel


d. Forças físicas

Problemas: relacionados ao armazenamento, transporte e manuseios inadequados que


danificam mecanicamente os documentos.
Causas: caixas ou estantes cheias, acondicionamentos de tamanhos inadequados para os
documentos, transporte sem apoio em carrinhos/suportes, intervenções inapropriadas,
vandalismo
Efeitos: rasgos, deformações, perda do suporte, danos na encadernação, dobras, vincos
Recomendações: Não preencher totalmente caixas e estantes, adoção de protocolos de
armazenamento, transporte e manuseio para acervos documentais, campanhas educativas
e. Acidentes

Fogo:
Problema: incêndio
Efeitos: alteração de cores, manchas, danos nos revestimentos,
perdas parciais e totais.

Água:
Problemas: infiltrações e vazamentos
Efeitos: deformações, fragilidade do suporte (miolo e
revestimento), proliferação de microorganismos, manchas…
Recomendações: gerenciamento de riscos, manutenção
periódica das edificações.
f. Desastres naturais
Problemas: terremotos, enchentes, tsunamis, tornados
Efeitos: perda total ou parcial dos itens e materiais.
Recomendações: conhecer a região, planejamento do local de guarda, manutenção periódica,
elaborar protocolos de ação.
g. Dissociação

Problema: não compromete fisicamente, mas afeta o entendimento e o valor do bem


material

Causas: extravio, roubo, desagregação, negligência, perda da marcação, erros no registro

Efeitos: inacessibilidade, descaracterização, perda de valor

Recomendações: revisão dos sistemas de registro, marcações, etiquetas


2. Agentes externos QUÍMICOS

● são agentes que reagem com os


materiais dos acervos
● afetam a estabilidade química e
causam acidez nos itens
Poluentes

Problemas: a poluição atmosférica e a poeira reagem com os materiais e podem carregar ovos de
insetos e microorganismos que vão contaminar os documentos.

A presença de radicais livres na poeira podem causar a hidrólise (quebra) da molécula H2O e gerar
reações ácidas que irão degradar os materiais dos acervos ->> importante higienizar

Efeitos: manchas, pontos de foxing (oxidação), acidificação do suporte, esmaecimento das tintas,
biodeterioração

Recomendações: é importante providenciar a qualidade do ar do ambiente de armazenamento, com


a manutenção periódica dos filtros de ar-condicionado, por exemplo e higienização dos itens.
3. Agentes externos BIOLÓGICOS

● organismos vivos que se alimentam dos


suportes documentais e objetos de acervos

● animais que encontram abrigo e fonte de


alimentação dentro dos acervos
3.1 Fungos

● espécies mais comuns encontradas em acervos documentais: Acremonium, Aspergillus,


Cladosporium, Eurotium, Fusarium, Penicillium e Trichosporon
● os esporos são unidades de reprodução dos fungos que ficam suspensos pelo ar e ficam
dormentes até encontrarem as condições ideais para germinação, sendo muito resistentes.

Problema: afetam a estrutura e a função dos polímeros naturais, como é o caso da celulose (papel)
que compõe os materiais documentais, são tóxicos à saúde humana.

Efeitos: manchas permanentes, dissolução de aditivos e moléculas, produção de metabólitos (ácidos),


liberam enzimas que danificam os materiais.
Como evitar o ataque de fungos no acervo?

- manter UR até máximo de 60%


- troca periódica dos filtros do ar-condicionado
- higienização dos itens e ambientes
3.2 Insetos
● são mais de 70 espécies que atacam o patrimônio cultural;
● apresentam ciclo de vida de até 4 estágios: ovo (fase mais resistente), larva (fase que mais se
alimenta), pulpa e fase adulta (fase mais sensível);
● alimentam-se de: celulose (madeira, papel, tecido); proteínas (lã, couro, pergaminho); amido (cola)
Problemas: comprometimento do suporte, com perdas de informação e
manchas de excrementos.

Recomendações: manter T entre 19 a 21ºC e UR máximo de 60%, barrar a


entrada

Lepismatidae Blattidae Termitidae Anobiidae


traças baratas cupins brocas
O que fazer se o acervo está contaminado?

● A alta velocidade dos danos decorrentes de ataque de insetos e fungos requer


intervenções imediatas nos materiais afetados.
● Os tratamentos propostos apresentam níveis diferentes de letalidade nos agentes
biológicos e todos apresentam restrições de uso e podem ter efeitos secundários nos
materiais.
Quais são os tratamentos
para eliminar contaminação
por insetos e fungos?
a. Fumigação

● uso produtos químicos tóxicos no estado gasoso (brometo de metila, timol, sais de amônio
quaternário, etc.) como inseticidas e fungicidas.

Desvantagens:

● gera resíduos tóxicos à saúde;


● afeta os materiais do acervo;
● penetrabilidade limitada;
● baixa ação em esporos;
● pode desenvolver resistência nos
insetos;
● tempo de aplicação.
b. Atmosfera modificada (anóxia)
● método não tóxico com a retirada do oxigênio com o uso aplicação de gases inertes (nitrogênio,
argônio, hélio) e absorvedores de oxigênio.
Desvantagens
● tempo de aplicação de vários dias;
● penetrabilidade limitada;
● efeito limitado para fungos e esporos e ineficaz para fungos anaeróbios (que contaminam suportes
proteicos).
c. Congelamento
● método não tóxico que a -4°C ocorre a desidratação e morte de muitas espécies
● algumas espécies de cupins podem sobreviver a -25ºC
● Aspergillus e Penicillium são eliminados a -10ºC
● mais recomendado para materiais encadernados

Restrições: materiais inorgânicos, pinturas em tela, objetos muito deteriorados

Desvantagens
● tempo longo de processamento;
● larvas e ovos são mais resistentes e podem
se adaptar;
● não tem efeito em esporos;
● impactos dimensionais (contração e
dilatação) afetam a integridade física;
● pode ocorrer despolimerização ou quebra
das cadeias moleculares dos materiais.

https://lph.ichs.ufop.br/event/mini-curso-desinfesta%C3%A7%C3%A3o-de-documentos-atrav%C3%A9s-de-m%C3%A9todo-atoxico-por-congelamento-relator
d. Ionização com raios gama
● método não tóxico que causa efeito letal nos insetos e fungos por meio de ações diretas
e indiretas (quebra da molécula de H2O) no DNA.
● a erradicação ocorre em todas as fases do ciclo de vida dos insetos
● elimina fungos e esporos
● útil em casos de contaminação em massa (trata grandes quantidades ao mesmo tempo -
alta penetrabilidade)

Desvantagens
● efeito cumulativo nos
materiais (tem que evitar
novas infestações)
● disponibilidade da técnica
(poucas instalações)
3.3 Outros

Roedores, morcegos, gambás

● buscar abrigo e alimento


● transmitem doenças

O que fazer:

● vedar frestas;
● chamar especialista zoonoses;
● higienização constante.
Resumindo

FATORES DE DEGRADAÇÃO:

● agentes internos (processo de fabricação)


● agentes externos:
○ físicos (luz, T, UR, forças físicas, acidentes, desastres naturais, dissociação);
○ químicos (poluição);
○ biológicos (fungos, insetos e outros).

Tratamentos de descontaminação
Qual a importância desse conhecimento?

O conhecimento das causas e dos processos de deterioração dos materiais é essencial para a
implantação de uma política de gerenciamento de riscos, que visa a prevenção dos danos nos
acervos e, consequentemente, o prolongamento da vida útil dos bens materiais, por meio de
ações de conservação nos acervos.

MONITORAMENTO SISTEMÁTICO E POLÍTICA DE GERENCIAMENTO


Prevenir é melhor que remediar
Contexto

PRESERVAÇÃO
(decisões políticas, administrativas, operacionais)

Conservação
(gestão do controle dos fatores de degradação)

Conservação Conservação
Restauração
Preventiva Curativa

medidas diretas no acervo para estabilização e intervenções individuais em


minimizar deteriorações e perdas tratamentos curativos itens muito deteriorados
Contexto

PRESERVAÇÃO
(decisões políticas, administrativas, operacionais)

Conservação internos
(gestão do controle dos fatores de degradação)
físicos
externos químicos
biológicos

Conservação Conservação
Restauração
Preventiva Curativa

medidas diretas no acervo para estabilização e intervenções individuais em


minimizar deteriorações e perdas tratamentos curativos itens muito deteriorados
Contexto

PRESERVAÇÃO
(decisões políticas, administrativas, operacionais)

Conservação internos
(gestão do controle dos fatores de degradação)
físicos
externos químicos
biológicos

Tratamentos de
Conservação Conservação
descontaminação Restauração
Preventiva A depender: Curativa
- tipo (inseto, fungos ou os 2);
medidas diretas no acervo para - quantidade (pouco, emuito ou
estabilização
caso de desastre) intervenções individuais em
minimizar deteriorações e perdas tratamentos curativos itens muito deteriorados
Os acervos estão em risco (fatores de degradação) -> plano para a conservação
É o ponto de partida para o
1. Diagnóstico planejamento de ações de conservação.
● Um instrumento de avaliação para direcionar as ações da conservação.
● É imprescindível para conhecer o acervo e identificar quais são as vulnerabilidades e
necessidades de tratamentos.
● O processo para elaboração deve investigar todos os elementos que constituem o acervo:
➢ sua estrutura física (desempenho da edificação, reserva técnica);
➢ o ambiente que está instalado (macro e micro);
➢ condições de armazenamento (mobiliário, controle ambiental, pragas,
acondicionamento);
➢ estado de conservação dos itens (vulnerabilidade);
➢ forma de gerenciamento/funcionamento da instituição (políticas e gestão);
➢ riscos ambientais, uso do acervo e edifício.
a. Equipe:

● especialista em conservação;
● arquiteto;
● funcionários que atuam diretamente com as coleções.

b. Ferramentas para elaboração do diagnóstico:

● entrevistas;
● fichas de diagnóstico dos itens do acervo;
● relatório.
c. Resultados:

● definir as prioridades (necessidades urgentes e pontos fortes);


● sugerir soluções;
● estabelecer tratamentos adequados;
● indicações de especialistas para problemas específicos, como o controle de insetos,
por ex.
2. Controle e É a gestão dos agentes físicos e
monitoramento ambiental químicos de deterioração que se
encontram no ambiente de
do acervo salvaguarda
● Os índices de temperatura e umidade relativa, que são monitorados por
termohigrômetros, devem ser registrados em planilhas para controle da estabilidade.
● A qualidade do ar deve ser garantida pela manutenção dos filtros de ar.
● Controlar a incidência de luz (filtros, sensores de presença, persianas).
a. Equipamentos

a.a. termohigrômetros (medidores de temperatura e umidade relativa do ar)


a.b. sistema de ar-condicionado split

Requisitos:

● Capacidade de climatizar os ambientes de guarda nos parâmetros


recomendados de temperatura 18 a 20°C (+/- 1°C), e umidade
relativa do ar entre 45% e 55% (+/- 5%);
● Funcionamento ininterrupto durante 24 horas por dia;
● Capacidade de manter a qualidade do ar com a instalação de filtros
para impedir a entrada de ar externo com umidade, sujidades, poeira
e calor;
● Capacidade de renovação do ar (ventilação) para evitar a ar-condicionado central
concentração de gases provenientes da degradação intrínseca dos
materiais do acervo além de evitar a proliferação dos fungos.
a.b. desumidificadores portáteis

● modelos de capacidades variadas


3. Reserva técnica Cuidados com o ambiente de guarda
dos acervos
a. Local

● limpo e com controle de T, UR, luminosidade;


● cuidado com as paredes com encanamento;
● acesso controlado de pessoas.
b. Limpeza do local

● não pode lavar o piso (pois aumenta a umidade do ambiente);


● passar pano úmido (bem torcido), com água e detergente neutro, no chão;
● não usar produtos como solventes, que volatizam gases;
● passar pano seco ou com álcool nas estantes;
● aspirador com filtro hepa (filtra 99,9% dos ácaros, fungos e bactérias).
c. Mobiliário

● estantes de metal com pintura eletrostática;


● deixar espaço entre a estante e a parede;
● arquivos deslizantes;
● mapotecas
4. Controle de pragas É a prevenção dos agentes biológicos
Como evitar pragas no acervo?

● limpeza constante;
● telas nas janelas;
● fechar frestas e aberturas.

Ao constatar contaminação biológica, evitar o


manuseio e entrar em contato com especialistas
no combate a pragas para optar pelo tratamento
mais adequado
5. Tratamentos para a conservação

● são ações de intervenção direta de estabilização dos itens do acervo;


● minimizam danos e aumentam a longevidade dos materiais.

Higienização

Tratamentos Ficha de tratamento com um


Pequenos relatório dos tratamentos
preventivos e
reparos aplicados
curativos

Confecção de
embalagens
a. Higienização

É a limpeza manual dos itens do acervo, executados em mesas próprias para higienização, com o uso
de instrumentos apropriados para eliminar a sujidade dos suportes
b. Pequenos reparos

● São procedimentos preventivos e de estabilização que visam proteger os itens contra


novos ou maiores danos no futuro;
● pequenas intervenções para interromper processos de deterioração em andamento.
Pequenos reparos: Remoção de fitas adesivas e partes de suporte secundário, união de partes soltas,
limpeza de manchas.

antes do tratamento após o tratamento


Pequenos reparos: reintegração de perdas e cores, reparos de
rasgos, remoção de resíduos de colas de fitas adesivas,
limpeza.
Pequenos reparos: estabilização do suporte com higienização, reparo de
rasgos e enxerto
c. Acondicionamento

Tem como propósito a proteção contra poluentes, luz,


temperatura, umidade relativa, ataques biológicos e o
manuseio.

Devem ser confeccionados com materiais de qualidade


arquivística, isto é, sua composição não produz danos
aos bens materiais.

Tipos: envelopes, pastas e caixas.


Modelos
Modelo: envelope em cruz
Caixa rígida, modelo solander
Jaqueta em poliéster e papel com reserva alcalina
6. Restauro

● intervenção direta para reversão de danos físicos ou químicos para devolver


características mais próximas do estado original por meio de tratamentos
químicos;
● serviço especializado e de alto custo com materiais, equipamentos e profissionais.

quando executar: casos de deterioração avançada e sem condições de manuseio

respeito aos princípios éticos de restauro: mínima intervenção possível, manter a


originalidade do bem material

ideal: conservar para não restaurar


Tratamentos de restauro: banhos de desacidificação,
aplanamento, reintegração com polpa de papel
Restauro: desmonte da encadernação, tratamento
aquoso (banho), aplicação de carcelas (reforço nos
bifólios com papel japonês), enxertos, remonte,
costura, com cadarço de pergaminho

https://jornal.usp.br/cultura/faculdade-de-direito-restaura-obra-rara-do-seculo-17/
7. Gerenciamento de riscos

● Abrange medidas de prevenção e protocolos de ações


nos casos de ameaças dos fatores de deterioração e de
acidentes com água e fogo, por exemplo, nos acervos;
● processo de gestão contínua com envolvimento de todos
os segmentos da instituição, gestão dos edifícios.

Cultura organizacional (hábitos e crenças


que menosprezam o perigo)
Perdas de acervos: 8 incêndios em 10 anos

Instituto Butantan, SP 15.05.2010 superaquecimento terráreo

Museu de Ciências Naturais PUC-MG 22.01.2013 provável curto-circuito

Memorial da América Latina, SP 29.11.2013 curto-circuito

Liceu de Artes e Ofícios, SP 04.02.2014 curto-circuito

Museu da Língua Portuguesa, SP 21.12.2015 defeito holofotes

Cinemateca Brasileira, SP 03.02.2016 indefinida

Museu Nacional, RJ 02.09.2018 sobrecarga elétrica

Museu de História Natural UFMG 15.06.2020 sendo apurado pela PF


Exemplos de riscos culturais e organizacionais:

● hábito de não se obter o AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros) para


funcionamento de instituições culturais;
● transformar prédios históricos em museus com reservas técnicas, acervos
diversos e área administrativa;
● modelo inadequado de valorização e investimento na conservação de artefatos e
coleções históricas para preservação da memória e ensino.

Por isso:
● ações preventivas são fundamentais;
● envolvimento de autoridades competentes (governo, prefeitura, etc.) e gestores;
● a quantidade de perdas em um sinistro vai depender do preparo e investimento
em monitorar e controlar as ameaças.
Recomendações

● manter Reservas Técnicas em prédios adequados;


● separar as atividades em prédios diferentes;
● elaborar plano de recuperação de objetos afetados por sinistro;
● providenciar normatização e legislação para exigir AVCB para o
funcionamento de instituições culturais, com renovação periódica;
● contratar seguro para as coleções;
● fiscalização e testagem periódica dos equipamentos/redes elétricas;
● identificar os conjuntos de acervos mais frágeis e valiosos;
● diretrizes para reação diante de situações de emergência.

Instrução Técnica do CBSP: https://www.lennz.com.br/it/IT_40_2011.pdf


8. Reprodução digital

● É a produção de matrizes digitais (representante digital de alta qualidade) a partir dos exemplares físicos.
● A digitalização promove o acesso às informações e evita o manuseio excessivo dos originais.
● Recomenda-se considerar a duplicação de coleções muito utilizadas e muito deterioradas.
8. Divulgação

● visibilidade das ações de conservação;


● desperta conscientização e interesse;
● interação e envolvimento da
comunidade;
● valorização do acervo;
● é investimento na preservação
9. Parcerias

Importante para adquirir e promover intercâmbio de conhecimento acerca dos materiais,


tratamentos de conservação e questões de gestão de acervos.

● Universidades e pesquisadores
● Redes de colaboração
● Conferências, cursos e oficinas
Portanto:

A salvaguarda dos bens culturais materiais requer:


◦ Administração segura dos acervos (medidas preventivas);
◦ Recursos adequados (financeiros, equipamentos, profissionais);
◦ Respeitar a originalidade dos documentos;
◦ Conhecimentos da ciência, da técnica e dos materiais.
Requisitos para escolha dos materiais
Materiais de usados nos tratamentos de conservação:

conservação para ●

pH neutro ou alcalino
estável
acervos ● durável
● inerte
● reversível
1. Papéis de conservação

Requisitos:

● sem lignina;
● teor de celulose alto;
● pH neutro ou alcalino (sem acidez);
● sem enxofre (presente nos papéis kraft).

gramatura (~espessura): 75, 90, 150, 240, 300 g/m²

caneta medidora de pH
a. Mata-borrão

● pasta química de fibras de algodão;


● muito absorvente;
● apoio para aplanar, secar, higienizar e executar pequenos reparos;
● gramaturas: 80, 170, 250 g/m²
b. Papéis com reserva alcalina

Aplicações: embalagens de acondicionamento


AlcaPlus (Suzano): reserva de carbonato de cálcio (16 a 25%), pH 7.5
a 8.5, livre de ácidos e impurezas. Gramaturas: 63, 75, 90, 120, 180,
240 g/m².
Filifold (Filiperson): reserva carbonato de cálcio (2%), pH 8.5.
Gramaturas: 85, 120, 300 g/m².
Filiset (Filiperson): pH neutro, livre de ácidos. Gramatura 68 g/m².
Atualmente, as linhas de papéis para escrever e imprimir também
contém reserva alcalina.
1996: início do colagem alcalina no processo de fabricação do papel
c. Papel japonês

Aplicações: reparos de rasgos, enxertos, velaturas (laminação, camada de


proteção)
● Fabricado artesanalmente
● possui pH neutro
● plantas de fibras longas
● gramaturas e tons diversos
2. Colas
Uso: encadernações, adesão de reparos, dissolução de colas antigas (cataplasma), velaturas, confecção
de embalagens
Requisitos:
● pH neutro;
● reversibilidade.
Tipos:
● amido modificado: solúvel em água, mais adesão, endurece o papel (não usar em papel jornal,
por ex.)
● carboximetilcelulose (CMC): solúvel em água, menos adesão, mais reversível
● Klucel G (hidroxipropilcelulose): flexível, solúvel em água e álcool, bom para papel vegetal
● Tylose (metil hidroxietil celulose): solúvel em água, mais adesão que o CMC.
● PVA (acetato de polivinil): permanente, mais adesão, usado para embalagens.
3. Plásticos

Usados para acondicionamento e suas


propriedades são:

● transparentes ou opacos
● inertes
● resistentes
● podem ter proteção anti-UV
● confere visibilidade ao objeto

tipos: polipropileno, poliéster, polionda evitar


plásticos coloridos
ethafoam (espuma de
4. Outros materiais para proteção polietileno espandido)

cadarço de algodão TNT (tecido não tecido), feito


de polipropileno

Tyvek (fibras de poletileno)

manta acrílica entretela (poliéster)


Como se proteger
nas atividades com
acervos
Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s)

O uso dos equipamentos de proteção individual é determinado por norma técnica chamada NR 6, que
estabelece que os EPIs sejam fornecidos de forma gratuita ao trabalhador para o desempenho de suas
funções dentro da empresa.

O EPI é importante para proteger os profissionais individualmente, reduzindo qualquer tipo de ameaça ou
risco à saúde, usado também para garantir que o trabalhador não seja exposto a doenças ocupacionais.

Os equipamentos de proteção individual devem ser mantidos em boas condições de uso e precisam ter um
Certificado de Aprovação do órgão competente para garantir que estão em conformidade com as
determinações do Ministério do Trabalho.
Danos causados pela falta de EPI’s
Higienização
Recomendações:
• Usar carrinhos de apoio para transportar as caixas
(evita acidentes com quedas)
• O local deve ser arejado
• Forrar a mesa com papel
Instrumentos para higienização
Escova Juba ou para desenho

Pincéis japoneses (hake)

Pincéis
Trincha
Brochas
Panos: flanelas, microfibra e fralda de algodão

Borrachas plásticas

Pó de borracha

Pet rubber Borracha crepe

Esponjas maquiagem
Espátulas metálicas Pinças

Bisturis Linhas e barbantes de algodão


Higienização de documentos
Sempre TESTE todo e qualquer componente que será submetido à limpeza com todos os instrumentos que
decidir usar.
Higienização de fotografias

● Não passar nada no lado da emulsão (frente), pois pode riscar ou solubilizar
● Só usar o soprador
● Casos específicos, consultar um especialista.
Acondicionamento de
materiais
Objetivos do acondicionamento

❖ Salvaguarda do acervo

❖ Proteção contra agentes físicos e químicos da degradação dos materiais de


acervos: luz, pó, poluição atmosféricas e flutuações da temperatura e
umidade
❖ Facilita e protege contra o manuseio excessivo
❖ Proteção durante o transporte
❖ Proteção quando armazenado nas estantes
Acondicionamento incorreto
Etapas

1. Seleção – Escolha dos materiais (papel, poliéster, cartão neutro) e modelos (pasta, envelopes,
caixas) para as embalagens a serem utilizadas, de acordo com o tipo de suporte a ser
acondicionado.

2. Confecção – Criação e montagem do invólucro, que pode ser manual ou em máquina


específica (corte e vinco). O invólucro produzido deve respeitar as dimensões de cada
documento, possibilitando, preferencialmente, a posição horizontal para guarda.

3. Acondicionamento – utilização de materiais neutros e/ou alcalinos, estáveis, de cores


neutras: pastas e invólucros de proteção, caixas de proteção, encapsulamento e jaquetas com
filme de poliéster
Escalas de proteção

Os acondicionamentos podem ser divididos em:


Primário – permanece em contato direto com a obra.
Secundário – embalagens que envolvem o acondicionamento primário.
Terciário – é o acondicionamento mais externo, que pode ser a pasta e a caixa.
Bifólio
Envelope 4 abas
E, por fim, o último resumo

Técnicas de conservação preventiva


em acervos documentais do
patrimônio cultural material
“Um povo sem memória é um povo sem
história. E um povo sem história está
fadado a cometer, no presente e no
futuro, os mesmos erros do passado.”
Emília Viotti da Costa
Obrigada pela sua participação

Kathlin Morais e Malu Nagai


@archimege

Você também pode gostar