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Curso de Graduação em Direito

ANNE FONSECA SOUSA LEMOS


LÍDIA SOUZA DE JESUS

Código Penal – Parte Especial


Atividade Avaliativa 2 Direito Penal IV

Palmas, TO, 28 de maio de 2021.


PRINCIPAIS ASPECTOS DA NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE
(13.869/2019).

A lei de nº 13.869/19 que proíbe o abuso de autoridade ampliou o entendimento


da lei anterior sobre o comportamento excessivo de funcionários e autoridades
públicas.
Neste relatório iremos abordar os principais aspectos da referida lei, relacionando os
delitos da nova legislação com os crimes do Código Penal, praticados por funcionários
públicos contra a Administração Pública.
Abordaremos ainda os aspectos que diferenciam os crimes da Lei 13.869/19,
dos crimes funcionais do código penal, bem como as revogações sejam expressas ou
tácitas, delimitando assim o âmbito de incidência de crimes que apresentem condutas
parecidas.
Ressaltando que é de extrema necessidade a Lei de Abuso de Autoridade, isso
em função de vários agentes públicos que se valem de seus cargos ou funções e até
de mandados eletivos, para fazer com que os cidadãos passem por constrangimentos,
isso por motivos pessoais ou até mesmo por egoísmo, de maneira que venha
prejudicar terceiros, ou até mesmo para interesse próprio,
Acreditamos que o correlacionamento de exemplos, e a exposição dos crimes
mesmo que de maneira breve, sejam suficientes para a compreensão dos pontos mais
importantes da Lei de Abuso de Autoridade.
Correlacionamento da Lei 13.869/19(Lei contra o Abuso de Autoridade) Com os
Crimes do Código Penal

DOS CRIMES DE PERIGO COMUM


Os crimes de perigo comum são tratados no Capítulo I do Título VIII, os quais buscam
a tutelar a incolumidade pública ao criminalizar condutas que causa perigo comum, ou
seja, risco a um número indeterminado de pessoas.
O referido capítulo prevê os crimes de incêndio; explosão; uso de gás tóxico ou
asfixiante; fabrico, fornecimento, aquisição, posse ou transporte de explosivos ou gás
tóxico, ou asfixiante; inundação; perigo de inundação; desabamento ou
desmoronamento; subtração, ocultação ou inutilização de material de
salvamento e difusão de doença ou de praga.
1.0 - INCÊNDIO
O crime de incêndio está previsto no artigo 250 do Código Penal:
Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o
patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de 3 a 6 anos, e multa.
Vemos no tipo penal que a conduta típica desse art. 250 é causar, provocar incêndio. O
crime se classifica em comum, por não existir nenhuma qualidade específica do sujeito
ativo. É de perigo concreto, por exigir que efetivamente se exponha a perigo a vida, a
integridade física ou o patrimônio de outrem.
§ 1º, I - Essa modalidade majorada do crime de incêndio se configura pelo maior
desvalor da conduta do agente, ao buscar uma recompensa financeira com a sua
consulta criminosa.
II - a), b), c), d), e), f), g), h) - Nesse inciso e alíneas, são as hipóteses dos crimes em
que as circunstâncias do incêndio o tornam mais gravoso, devido os locais em que
ocorreu o incêndio.
§ 2º - Nesse parág. a lei prevê a modalidade culposa do crime de incêndio, envolvendo
negligência, imprudência e imperícia. Caso o elemento subjetivo seja a culpa em
sentido estrito, a pena é de detenção, de 06 meses a 2 anos.
2.0 - EXPLOSÃO
O crime de explosão está tipificado no art. 251 do Código Penal:
Art. 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o património de outrem,
mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de
substância de efeitos análogos: Pena - reclusão, de 3 a 6 anos, e multa.
O núcleo do tipo penal é expor (deixar ou ficar sem proteção) a perigo a vida, a
integridade física ou o património de outrem.
§ 1º - Modalidade privilegiada - Traz uma pena menor, de reclusão, de um a quatro
anos, e multa, para uma forma mais leve do crime. Incide se a substância utilizada não
é dinamite ou explosivo de efeitos análogos, ou seja, se é uma explosão de menor
potência, como no caso de uso de pólvora.
§ 2º - Modalidade majorada - determina a aplicação das causas de aumento de pena
aplicáveis ao crime de incêndio, com a fixação da mesma fração de aumento da pena:
um terço.
§ 3º - Modalidade culposa - A pena se diferencia, sendo de detenção, de seis meses a
dois anos, se a explosão for de dinamite ou substância de efeitos análogos. Nos
demais casos, a pena será de detenção, de três meses a um ano.
3.0 - USO DE GÁS TÓXICO OU ASFIXIANTE
O crime de uso de gás tóxico ou asfixiante está previsto no artigo 252 do Código Penal:
Art. 252 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando
de gás tóxico ou asfixiante: Pena de reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
O tipo penal do crime de uso de gás tóxico ou asfixiante é “expor” (deixar ou ficar sem
proteção) a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem.
Vale ressaltar que não é necessário que o gás seja letal, bastando que seja tóxico, isto
é, que tenha potencial de produzir efeitos nocivos ao organismo, que é venenoso, ou
que seja asfixiante, tenha o efeito de asfixiar, de privar de oxigênio. O tipo penal se
refere apenas ao uso do gás tóxico ou asfixiante para a configuração do crime, o que
pode se dar de diversas maneiras. Exige, entretanto, que haja o efetivo risco à vida, à
integridade física ou ao patrimônio de outrem. Por isso, o crime deve ser classificado
como de perigo concreto.
Parág. Único: Modalidade Culposa - O parágrafo único prevê a punição a título de
culpa em sentido estrito (negligência, imprudência ou imperícia). Em tal caso, a pena é
de detenção, de três meses a um ano.
4.0 - FABRICO, FORNECIMENTO, AQUISIÇÃO POSSO OU TRANSPORTE DE
EXPLOSIVOS OU GÁS TÓXIMO, OU ASFIXIANTE
O crime de fabrico, fornecimento, aquisição, posse ou transporte de explosivos ou gás
tóxico ou asfixiante está tipificado no artigo 253 do CP:
Art. 253 - Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da autoridade,
substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua
fabricação: Pena de detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
O tipo penal exige, ainda, o elemento normativo do tipo consistente na conduta ser
praticada “sem licença da autoridade”. A licença da autoridade, que poderia excluir a
ilicitude em razão da excludente de exercício regular do direito, aqui significa a própria
atipicidade da conduta, dada a sua previsão como elementar. O crime é comum, sendo
que qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. É doloso, não se prevendo modalidade
culposa.
5.0 - INUNDAÇÃO
O artigo 254 do Código Penal traz o crime de inundação, com a seguinte disposição:
Art. 254 - Causar inundação, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o
patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. Este crime prevê a
modalidade culposa, ao mencionar que a pena será de detenção, de seis meses a dois
anos, no caso de culpa.
A ação nuclear típica é causar, que significa provocar, motivar, dar causa a. A conduta
incriminada é dar causa a inundação, que é um grande alagamento ou um grande fluxo
de água.
6.0 - PERIGO DE INUNDAÇÃO
O crime de perigo de inundação tem lugar no artigo 255 do Código:
Art. 255 - Remover, destruir ou inutilizar, em prédio próprio ou alheio, expondo a perigo
a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, obstáculo natural ou obra
destinada a impedir inundação: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
O tipo penal é misto alternativo, ou seja, prevê mais de uma conduta típica, sendo que
basta uma delas para a configuração do crime, ao tempo em que a prática de mais de
uma delas enseja a punição por um único crime.
7.0 - DESABAMENTO OU DESMORONAMENTO
O artigo 256 do Código Penal trata do crime de desabamento ou desmoronamento:
Art. 256 - Causar desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo a vida, a
integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e
multa.
O tipo penal é causar desabamento ou desmoronamento. Exige-se que haja a efetiva
exposição a perigo da vida, da integridade física ou do patrimônio de outrem, o que
leva o crime a ser classificado como de perigo concreto, ou seja, cuja demonstração de
risco ao bem jurídico é necessária para a sua configuração.
Parág. Único - Modalidade culposa - prevê modalidade culposa do crime de
desabamento ou desmoronamento. A pena, se o elemento subjetivo for a imprudência,
negligência ou imperícia, será de detenção, de seis meses a um ano.
8.0 - SUBTRAÇÃO, OCULTAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE MATERIAL DE
SALVAMENTO
O artigo 257 trata de um crime com nomen iuris de subtração, ocultação ou inutilização
de material de salvamento:
Art. 257 - Subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião de incêndio, inundação, naufrágio,
ou outro desastre ou calamidade, aparelho, material ou qualquer meio destinado a
serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento; ou impedir ou dificultar
serviço de tal natureza: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
O crime é comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa. É doloso, sem previsão
de modalidade culposa nem de exigência de elemento subjetivo especial do injusto.
Por ser fracionável a conduta típica, é considerado plurissubsistente e admite a
modalidade tentada.
9.0 - FORMAS “QUALIFICADAS" DE CRIME DE PERIGO COMUM
O artigo 258 do Código Penal trata de formas majoradas dos crimes de perigo comum:
Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza
grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é
aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena
aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio
culposo, aumentada de um terço.
Apesar de a lei trazer o título de formas qualificadas, a Ciência do Direito Penal reserva
referido termo para os casos em que há novos limites mínimo e máximo de penas
abstratamente cominadas.
10.0 - DIFUSÃO DE DOENÇA OU PRAGA
O crime de difusão de doença ou praga está previsto, formalmente, no artigo 259 do
CP:
Art. 259 - Difundir doença ou praga que possa causar dano a floresta, plantação ou
animais de utilidade econômica: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Neste crime, houve sua revogação tácita pela superveniência da Lei 9.605/98, em
razão do disposto no seu artigo 61: "Disseminar doença ou praga ou espécies que
possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas":
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Devido essa revogação, não há mais modalidade culposa do crime.

DOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E


TRANSPORTE E OUTROS SERVIÇOS PÚBLICOS
O Capítulo II do Título VIII da Parte Especial do Código se intitula “Dos Crimes Contra a
Segurança dos Meios de Comunicação e Transporte e Outros Serviços Públicos”, o
que já demonstra que se tutela a segurança de tais serviços de interesse público.
Nele, estão previstos os crimes de perigo de desastre ferroviário; de atentado contra a
segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo; de atentado contra a segurança de
outro meio de transporte; de arremesso de projétil; de atentado contra serviço de
utilidade pública e de Interrupção ou perturbação de serviço telegráfico, telefônico,
informático, telemático ou de informação de utilidade pública.
1.0 - PERIGO DE DESASTRE FERROVIÁRIO
O crime de perigo de desastre ferroviário tem seu tipo penal insculpido no artigo 260 do
Código Penal:
Art. 260 - Impedir ou perturbar serviço de estrada de ferro: Pena - reclusão, de dois a
cinco anos, e multa.
O crime é comum, não havendo exigência de nenhuma qualidade específica do sujeito
ativo. É plurissubsistente, sendo possível a tentativa. A doutrina classifica o delito como
de perigo concreto, entendendo necessária a efetiva situação de perigo para sua
configuração.
Formas qualificadas: O Código Penal, nos parágrafos primeiro e segundo do artigo
260, traz formas qualificadas do crime de perigo de desastre ferroviário, trazendo uma
denominação diversa: desastre ferroviário. O § 1º traz uma figura preterdolosa, no caso
de ocorrer o resultado consistente em desastre, que deve ter sido praticado por
negligência, imprudência ou imperícia. A pena será a de reclusão, de quatro a doze
anos e multa.
2.0 - ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA DE TRANSPORTE MARÍTIMO,
FLUVIAL OU AÉREO
O crime de atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo está
previsto no artigo 261 do Código Penal:
Art. 261 - Expor a perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou praticar
qualquer ato tendente a impedir ou dificultar navegação marítima, fluvial ou aérea:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
Sinistro em transporte marítimo, fluvial ou aéreo
§ 1º - Se do fato resulta naufrágio, submersão ou encalhe de embarcação ou a queda
ou destruição de aeronave:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
A conduta típica é “expor” (deixar ou ficar sem proteção) a perigo embarcação ou
aeronave, própria ou alheia, ou “praticar” (fazer, produzir) qualquer ato tendente a
impedir (obstruir, interromper, tornar impraticável) ou dificultar (tornar difícil ou mais
difícil, estorvar, atrapalhar) navegação marítima, fluvial ou aérea. Também é crime
comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É de perigo concreto,
consumando-se com a criação do perigo, que deve ser efetivo e concreto. É
plurissubsistente, admitindo a tentativa.
§ 2º - Crime Mercenário - Prevê a forma mercenário do delito, ou seja, quando haja a
finalidade específica de obtenção de vantagem econômica, seja para o próprio agente,
seja para outrem. Neste caso, aplica-se, cumulativamente, a pena de multa.
§ 3º - Modalidade Modalidade Culposa - Prevê a punição do delito a título de
negligência, imprudência ou imperícia. Em tal caso, a pena será de detenção, de seis
meses a dois anos.
3.0 - ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA DE OUTRO MEIO DE TRANSPORTE
O delito de atentado contra a segurança de outro meio de transporte está situado no
artigo 262 do Código Penal:
Art. 262 - Expor a perigo outro meio de transporte público, impedir-lhe ou dificultar-lhe o
funcionamento: Pena - detenção, de um a dois anos.
O dispositivo acima prevê como conduta típica a de “expor” (deixar ou ficar sem
proteção) a perigo outro meio de transporte público. Há, ainda, as formas alternativas
de impedir (obstruir, interromper, tornar impraticável) ou dificultar (tornar difícil ou mais
difícil, estorvar, atrapalhar) o funcionamento de outro meio de transporte público.

§ 1º - Modalidade Qualificada - Prevê a forma qualificada pelo resultado desastre.


Cuida-se de figura preterdolosa, cuja pena é de reclusão, de dois a cinco anos.

§ 2º - Modalidade Culposa - Trata também de forma qualificada pelo resultado


consistente em desastre. Entretanto, a previsão é de culpa tanto no fato antecedente
quanto no subsequente. A pena passa a ser de detenção, de três meses a um ano.
4.0 - FORMA QUALIFICADA
O artigo 263 prevê forma qualificada, cabível a vários dos delitos estudados:
Art. 263 - Se de qualquer dos crimes previstos nos arts. 260 a 262, no caso de desastre
ou sinistro, resulta lesão corporal ou morte, aplica-se o disposto no art. 258.
O dispositivo é aplicável aos crimes de perigo de desastre ferroviário; atentado contra a
segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo; sinistro em transporte marítimo,
fluvial ou aéreo e atentado contra a segurança de outro meio de transporte.
5.0 - ARREMESSO DE PROJÉTIL
O delito de arremesso de projétil está previsto no artigo 264 do Código Penal:
Art. 264 - Arremessar projétil contra veículo, em movimento, destinado ao transporte
público por terra, por água ou pelo ar: Pena - detenção, de um a seis meses.
A ação nuclear típica é arremessar, que significa atirar, lançar longe, jogar. A conduta
incriminada é arremessar projétil (objeto sólido lançado por impulsão, que a doutrina
destaca dever ser pesado) contra veículo, em movimento, destinado ao transporte
público por terra, por água ou pelo ar.
Parág único - Prevê modalidade qualificada do delito, consistente em figura
preterdolosa. Sobrevindo resultado consistente em lesão corporal, por culpa do agente,
a pena passa a ser de detenção, de seis meses a dois anos. Se o resultado, decorrente
de imprudência, negligência ou imperícia, for a morte, aplica-se a pena do homicídio
culposa (detenção, de um a três anos), com a causa de aumento de um terço.
5.0 - ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA DE SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA
O artigo 265 do Código Penal trata sobre o crime de atentado contra a segurança de
serviço de utilidade pública:
Art. 265 - Atentar contra a segurança ou o funcionamento de serviço de água, luz, força
ou calor, ou qualquer outro de utilidade pública: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e
multa.
A ação nuclear típica é atentar, que significa cometer ofensa, importunar. Volta-se a
conduta contra a segurança ou o funcionamento de serviço de água, luz, força ou calor,
podendo ainda se voltar contra qualquer outro que seja de utilidade pública
(interpretação analógica).
Parág. Único - Prevê a causa de aumento de pena de um terço até metade se o dano
ocorrer em virtude de subtração de material essencial ao fornecimento de serviço de
água, luz, força, calor ou outro que seja de utilidade pública.
6.0 - INTERRUPÇÃO OU PERTUBAÇÃO DE SERVIÇO TELEGRÁFICO
TELEFÔNICO, INFORMÁTICO, TELEMÁTICO OU DE INFORMAÇÃO DE UTILIDADE
PÚBLICA
O artigo 266 do Código Penal dispõe sobre a infração penal de interrupção ou
perturbação de serviço
telegráfico, telefônico, informático, telemático ou de informação de utilidade pública:
Art. 266 - Interromper ou perturbar serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico,
impedir ou dificultar-lhe o restabelecimento: Pena - detenção, de um a três anos, e
multa.
Os núcleos do tipo são condutas alternativas: “impedir” (fazer cessar, pôr termo a) ou
“perturbar” (estorvar, atrapalhar, abalar). A conduta incriminada é impedir ou perturbar
serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico. Também se tipifica as condutas de
“impedir” (fazer cessar, pôr termo a) ou “dificultar” (estorvar, tornar difícil) o
restabelecimento de serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico.
§ 1º - Forma Equiparada - Incorre na mesma pena quem interrompe serviço
telemático ou de informação de utilidade pública, ou impede ou dificulta-lhe o
restabelecimento. Na forma equiparada, não há previsão da conduta de perturbar.
§ 2º Forma Majorada - Prevê a forma majorada, com aplicação em dobro, se o delito
for
cometido por ocasião de calamidade pública.
DOS CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA
Denomina-se “Dos Crimes Contra a Saúde Pública” o Capítulo III do Título VIII do
Código Penal, que, como se pode deduzir, também busca tutelar a incolumidade
pública, mais especificamente no que se refere à saúde da população.
São crimes contra a saúde pública o de epidemia; de infração de medida sanitária
preventiva; de omissão de notificação de doença; de envenenamento de água potável
ou se substância alimentícia ou medicinal; de corrupção ou poluição de água potável;
de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos
alimentícios; de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado
a fins terapêuticos ou medicinais; de emprego de processo proibido ou de substância
não permitida; de invólucro ou recipiente com falsa indicação; de produto ou substância
nas condições dos dois artigos anteriores; de substância destinada à falsificação; de
outras substâncias nocivas à saúde pública; de medicamento em desacordo com
receita médica; de exercício irregular da medicina, arte dentária ou farmacêutica; de
charlatanismo e de curandeirismo.
1.0 - EPIDEMIA
O crime de epidemia está previsto no artigo 267 do Código Penal:
Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos: Pena -
reclusão, de dez a quinze anos.
O núcleo do tipo é causar, que significa provocar, ser a causa de, motivar. Penaliza-se
a conduta de causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos.
Epidemia é um surto de doença, atacando um grande número de pessoas em uma
determinada região, mas de forma transitória.
§ 1º - Forma Qualificada - Prevê que a pena passa a ser de reclusão, de dez a quinze
anos, se do fato resultar morte. Cuida-se de figura preterdolosa, devendo o resultado
ser provocado por culpa em sentido estrito. Caso contrário, o crime será o de
homicídio.
§ 2º - Modalidades Culposa e culposa qualificada pelo resultado - O presente parág.
por sua vez, trata do crime cometido por imprudência, negligência ou imperícia. Em tal
modalidade, sua pena é a de detenção, de um a dois anos. Havendo resultado morte e
sendo o delito culposo, a pena passa a ser de detenção, de dois a quatro anos.
2.0 - INFRAÇÃO DE MEDIDA SANITÁRIA PREVENTIVA
O crime de infração de medida sanitária preventiva está previsto no artigo 268 do
Código Penal, nos seguintes termos:
Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou
propagação de doença contagiosa: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa.
É crime comum, sendo que a qualidade especial do sujeito ativo pode torná-lo
majorado, nos termos do parágrafo único do artigo 268. É plurissubsistente,
possibilitando a punição da forma tentada. É formal, doloso, de forma livre, comissivo e
de perigo abstrato.
Parág. único - Forma Majorada - Há causa de aumento de pena no parágrafo único do
artigo 268, com estabelecimento da fração de um terço. Incide se o agente possuir uma
das seguintes condições pessoas: se for funcionário da saúde pública ou exercer a
profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.

Exemplo1:

Decretada prisão domiciliar de mulher que testou positivo


para covid-19 e familiares que se recusaram a cumprir
isolamento em São João do Sul

“A mulher dizia que transmitiria o vírus pela cidade inteira se


pudesse e que ninguém iria segurá-la em casa.”
Após manifestação do Ministério Público de Santa Catarina
(MPSC) em representação promovida pela Secretaria de Saúde do
Município de São João do Sul, pertencente à Comarca de Santa
Rosa do Sul, a Justiça decretou a prisão domiciliar de uma mulher
que testou positivo para covid-19 e de seus familiares, devido à
recusa em cumprir as medidas de isolamento determinada pelas
autoridades sanitárias municipais.
Na manifestação constou que, no dia 27 de maio, a mulher havia
testado positivo para covid-19; assim, ela, o marido e o filho foram
notificados pela Secretaria Municipal de Saúde para
permanecerem em casa pelo período de 14 dias
No entanto, no dia seguinte a Secretária de Saúde da cidade de
pouco mais de sete mil habitantes, localizada no sul do estado,
passou a receber ligações de vários cidadãos, apavorados,
reclamando que os três, que deveriam estar isolados, eram vistos
circulando pelas ruas e frequentando estabelecimentos comerciais,
mesmo tendo o município garantido alimentação para a família.
O Ministério Público destacou, ainda, que recebeu
informações de que a mulher contaminada dizia que
transmitiria o vírus pela cidade inteira se pudesse e que
ninguém iria segurá-la em casa. Nesse contexto, no dia 30 de
maio a Secretaria de Saúde ofereceu a representação contra a
mulher e os familiares.
No mesmo dia, um sábado, em regime de plantão, o Ministério
Público se manifestou e o Juízo plantonista decretou a prisão
domiciliar como forma de garantir a efetividade do isolamento
social determinado pelas autoridades públicas, permitida a saída
da residência apenas em eventual emergência médica, sob pena
de crime de desobediência à ordem legal. A decisão é passível de
recurso.

Vemos nesse caso concreto que a autora teve a intenção de propagar a doença
para todos na sua cidade. Como a lei administrativa de medidas de enfrentamento ao
covid no seu Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de
importância internacional de que trata esta Lei, as autoridades poderão adotar, no
âmbito de suas competências, entre outras, as seguintes medidas:

I - isolamento;

Devido o seu descumprimento, a autoridade policial, juntamente com os órgãos


competentes decretaram de forma correta a prisão dos responsáveis. Pode ser
aplicado o crime do art. 268 do CP e por descumprimento ao art. 3º da Lei
13.979/2020.

Exemplo2:

“Paciente confirmado com covid-19 em Rosário do Sul é preso por


não cumprir quarentena Homem foi visto por vizinhos saindo de
casa, mesmo tendo se comprometido a ficar em isolamento

O paciente confirmado com covid-19 em Rosário do Sul, na Região


Central, teve prisão domiciliar decretada pela Justiça. Agora, ele
usa tornozeleira eletrônica. O motivo foi uma denúncia feita contra
ele por descumprir as medidas de isolamento definidas pela
Secretaria de Saúde do município.
O paciente, de 58 anos, mora em Lajeado e tem familiares em
Rosário do Sul. Ele é trabalhador de um frigorífico, que afastou
quase 600 profissionais após ter a confirmação de 16
colaboradores com coronavírus. Depois do afastamento, o homem
viajou para ficar com a família. Foi então que apresentou sintomas
e precisou ser internado no hospital de Rosário, onde houve a
confirmação da covid-19.
Conforme a prefeitura, o homem recebeu alta na última segunda-
feira (27), após pouco mais de uma semana de internação. Ele
assinou um documento, se comprometendo a fazer o restante da
quarentena em casa, sem poder sair. Porém, vizinhos que o viram
saindo de casa fizeram a denúncia à Brigada Militar.
A Secretaria Municipal de Saúde foi acionada e fez um boletim de
ocorrência da situação. Foi então que a Justiça decretou a prisão
preventiva do paciente.”

Devido o seu descumprimento, a autoridade policial, juntamente com os órgãos


competentes decretaram de forma correta a prisão dos responsáveis. Pode ser
aplicado o crime do art. 268 do CP e por descumprimento ao art. 3º da Lei
13.979/2020.

Exemplo3:
Gabigol, do Flamengo, é flagrado pela polícia em evento com
aglomeração dentro de cassino clandestino
Atacante Gabigol, do Flamengo, foi flagrado em cassino
clandestino na madrugada deste domingo, em Vila Olímpia, Zona
Sul de São Paulo. Havia aglomeração no evento, com cerca de
200 pessoas, e o local foi fechado pela Polícia Civil.
No caso concreto, o jogado pode ser punido pelo crime também tipificado no art. 268, e
também na lei 13.979/2020, no seu art. Art. 5º - Toda pessoa colaborará com as
autoridades sanitárias na comunicação imediata de: II - circulação em áreas
consideradas como regiões de contaminação pelo coronavírus.

3.0 - OMISSÃO DE NOTIFICAÇÃO DE DOENÇA


O crime de omissão de notificação de doença está previsto no artigo 269 do Código
Penal:
Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é
compulsória: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
A conduta incriminada é deixar de denunciar à autoridade pública doença cuja
notificação é compulsória. O crime, portanto, é omissivo próprio, pois prevê como ação
típica um não fazer
4.0 - ENVENENAMENTO DE ÁGUA POTÁVEL OU DE SUBSTÂNCIA ALIMENTÍCIA
OU MEDICINAL
O envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal possui
previsão no artigo 270
do Código Penal:
Art. 270 - Envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou substância
alimentícia ou medicinal destinada a consumo: Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
A infração penal apresenta como ação nuclear típica o verbo “envenenar”, que significa
administrar ou colocar veneno. Veneno, por sua vez, é a substância nociva ao
organismo humano, aquela que pode destruir suas funções vitais.
§ 1º - Modalidade Equiparada - Incorre na mesma pena quem entrega a consumo ou
tem em depósito, para o fim de ser distribuída, a água ou a substância envenenada. Na
modalidade de ter em depósito, o crime é permanente, já que sua consumação se
protrai no tempo, enquanto o agente possuir a água ou a substância envenenada em
depósito, desde que a finalidade seja a de sua distribuição.
§ 2º - Modalidade Culposa - Prevê a modalidade culposa, determinando a aplicação da
pena de detenção, de seis meses a dois anos.
5.0 - CORRUPÇÃO OU POLUIÇÃO DE ÁGUA POTÁVEL
Formalmente, há a previsão do crime de corrupção ou poluição de água potável no
artigo 271 do Código Penal:
Art. 271 - Corromper ou poluir água potável, de uso comum ou particular, tornando-a
imprópria para consumo ou nociva à saúde: Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
Parág único - Modalidade culposa - Pena de detenção, de dois meses a um ano.
6.0 - FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE
SUBSTÂNCIA OU PRODUTOS ALIMENTÍCIOS
O crime de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtor
alimentícios está previsto no artigo 272:
Art. 272 - Corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou produto alimentício
destinado a consumo, tornando-o nociva à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutritivo:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1º-A - prevê a primeira modalidade equiparada, ao dispor que submete-se às
mesmas penas quem fabrica (manufatura, produz), vende (aliena, comercializa,
negocia por um preço), expõe à venda (mostre ou exibe para a negociação, a venda),
importa (traz do exterior), tem em depósito (guarda, armazena) para vender ou, de
qualquer forma, distribui (espalha, divide) ou entrega (dá, repassa) a consumo
a substância alimentícia ou o produto falsificado, corrompido ou adulterado.
§ 1º - Modalidade Equiparada - Prevê determinado a sujeição às mesmas penas de
quem pratica as ações previstas no tipo penal do caput em relação a bebidas, com ou
sem teor alcoólico.
§ 2º - Modalidade Culposa - Prevê a responsabilização criminal em caso e
imprudência, negligência ou imperícia. A pena correspondente é a de detenção, de 1
(um) a 2 (dois) anos, e multa.
7.0 - FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE
PRODUTO DESTINADO A FINS TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS
O delito de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins
terapêuticos ou medicinais está previsto no artigo 273 do Código Penal, nos seguintes
termos:
Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins
terapêuticos ou medicinais: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa.
O artigo 273 traz um tipo penal misto alternativo, cujos núcleos do tipo são “falsificar”
(contrafazer, dar como verdadeiro o que não é, fazer passar o falso por verdadeiro);
“corromper” (estragar, deteriorar);
“adulterar” (introduzir modificação para pior, deturpar, defraudar) ou “alterar” (modificar,
mudar,
transformar).
§ 1º - Modalidade Equiparada - Prevê a primeira modalidade equiparada, ao dispor que
submete-se às mesmas penas quem importa (traz do exterior); vende (aliena,
comercializa, negocia por um preço); expõe à venda (mostra ou exibe para a
negociação, a venda); tem em depósito (guarda, armazena) para vender ou, de
qualquer forma, distribui (espalha, divide) ou entrega (dá, repassa) a consumo o
produto falsificado, corrompido ou adulterado.
§ 1º-A - aumenta o objeto material do crime, estendendo-o para os medicamentos
(remédio, substância utilizada para tratamento medicinal), as matérias-primas
(substância usada para a fabricação ou produção de outra), os insumos farmacêuticos
(substância devida de matérias-primas, utilizada para produção de medicamentos), os
cosméticos (produtos que se destinam à limpeza, melhoria e maquiagem da pele, ou
seja, para melhoria da aparência), os saneantes (produtos usados para a limpeza, para
a purificação) e os de uso em diagnóstico (aqueles que se destinam à realização de
exames da área da saúde).
§ 2º - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
8.0 - EMPREGO DE PROCESSO PROIBIDO OU DE SUBSTÂNCIA NÃO PERMITIDA
O crime de emprego de processo proibido ou de substância não permitida está
localizado no artigo 274 do CP:
Art. 274 - Empregar, no fabrico de produto destinado a consumo, revestimento,
gaseificação artificial, matéria corante, substância aromática, anti-séptica,
conservadora ou qualquer outra não expressamente permitida pela legislação sanitária:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Empregar é usar, utilizar. Fabrico é a fabricação, processo de transformação. A
conduta incriminada é empregar, no fabrico de produto destinado a consumo,
revestimento, gaseificação, matéria corante, substância aromática, antisséptica,
conservadora ou qualquer outra não expressamente permitida pela legislação sanitária.
9.0 - INVOLÚCRO OU RECIPIENTE COM FALSA INDICAÇÃO
O crime de invólucro ou recipiente com falsa indicação está previsto no artigo 275 do
CP:
Art. 275 - Inculcar, em invólucro ou recipiente de produtos alimentícios, terapêuticos ou
medicinais, a existência de substância que não se encontra em seu conteúdo ou que
nele existe em quantidade menor que a mencionada: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5
(cinco) anos, e multa.
“Inculcar” é a ação nuclear típica, que significa gravar, imprimir. A conduta incriminada
é inculcar em invólucro (o que envolve o produto, como o rótulo) ou recipiente (a
embalagem do produto, como a caixa ou a lata) de produtos alimentícios, terapêuticos
ou medicinais, a existência de substância que não se encontra em seu conteúdo ou
que nele existe em quantidade menor que a mencionada.
O crime é comum, pois qualquer pessoa pode praticá-lo; é doloso, sem exigência de
elemento subjetivo especial nem previsão de modalidade culposa; e é
Plurissubsistente, sendo possível a tentativa.
10.0 - PRODUTOS OU SUBSTÂNCIA NAS CONDIÇÕES DOS DOIS ARTIGOS
ANTERIORES
O delito de produto ou substância nas condições dos dois artigos anteriores tem
previsão no artigo 276 do Estatuto Repressivo:
Art. 276 - Vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma,
entregar a consumo produto nas condições dos arts. 274 e 275. Pena - reclusão, de 1
(um) a 5 (cinco) anos, e multa.
O crime é comum, sem mencionar a exigência de qualidade específica do sujeito ativo.
Sendo plurissubsistente, admite a tentativa. É doloso, não sendo necessário o
elemento subjetivo especial. Neste ponto, Rogério Sanches Cunha entende-o
necessário na conduta de ter em depósito, defendendo ser imprescindível o intuito de
vender o produto.
11.0 - SUBSTÂNCIA DESTINADA À FALSIFICAÇÃO
O artigo 277 do CP prevê a infração penal de substância destinada à falsificação:
Art. 277 - Vender, expor à venda, ter em depósito ou ceder substância destinada à
falsificação de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais: Pena - reclusão, de 1
(um) a 5 (cinco) anos, e multa.
O tipo penal é misto alternativo, sendo seus núcleos: vender (alienar, comercializar,
negociar por um preço); expor à venda (mostrar ou exibir para a negociação, a venda);
ter em depósito (guardar, armazenar) ou ceder (dar, transferir a posse a alguém).
12.0 - OUTRAS SUBSTÂNCIAS NOCIVAS À SAÚDE PÚBLICA
O artigo 278 do Código Penal prevê o crime chamado de outras substâncias nocivas à
saúde pública:
Art. 278 - Fabricar, vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer
forma, entregar a consumo coisa ou substância nociva à saúde, ainda que não
destinada à alimentação ou a fim medicinal: Pena - detenção, de um a três anos, e
multa.
O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, sendo comum. É doloso na forma do
caput, sem exigência de elemento subjetivo especial do tipo, salvo na modalidade de
ter em depósito, que se liga ao intuito de vender. O parágrafo único prevê modalidade
culposa. É plurissubsistente, admitindo a tentativa. É delito de perigo abstrato.
Parág. Único - Modalidade Culposa - Prevê a punição se a conduta for praticada por
negligência, imprudência ou imperícia, com a atribuição de pena de detenção, de dois
meses a um ano.
13.0 - MEDICAMENTO EM DESACORDO COM A RECEITA MÉDICA
O artigo 280 prevê o crime de medicamento em desacordo com receita médica, nos
seguintes termos:
Art. 280 - Fornecer substância medicinal em desacordo com receita médica: Pena -
detenção, de um a três anos, ou multa.
O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, sendo comum. É de perigo abstrato,
não se exigindo a comprovação do risco ao bem jurídico para sua configuração. O
caput prevê forma dolosa, sem exigência de elemento subjetivo especial do tipo.
Admite a tentativa, por ser plurissubsistente.
Parág. Único - Modalidade Culposa - Prevê que, se o crime for culposo, a pena passa a
ser de detenção, de dois meses a um ano.
14.0 - EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA, ARTE DENTÁRIA OU FARMACÊUTICA
O crime de exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica tem previsão no
artigo 282 do CP:
Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou
farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites: Pena - detenção, de
seis meses a dois anos.
O crime é comum na conduta de exercer, podendo ser praticado por qualquer pessoa,
e próprio na modalidade de exceder os limites da profissão, quando só pode ser
cometido por médico, dentista ou farmacêutico.
Parág. Único - Crime Mercenário: Prevê que, havendo o intuito de lucro, deve haver a
aplicação cumulativa da pena de multa.
15.0 - CHARLATANISMO
O artigo 283 do CP tipifica o charlatanismo:
Art. 283 - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível: Pena - detenção, de
três meses a um ano, e multa.
É crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É formal, por não exigir
resultado naturalístico para a sua consumação. É doloso, sem exigência de elemento
subjetivo especial do injusto.
16.0 - CURANDEIRISMO
O artigo 284 traz o último dos crimes contra a saúde pública do Código, o de
curandeirismo: Art. 284 - Exercer o curandeirismo:
I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;
II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
III - fazendo diagnósticos:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, sem
exigência de elemento subjetivo especial do tipo. É crime formal, não exigindo
resultado naturalístico para a sua consumação.
Parág. Único - Crime Mercenário - prevê que, sendo o crime praticado mediante
remuneração, deve haver a aplicação cumulativa da pena de multa.
17.0 - FORMA QUALIFICADA
O artigo 285 se denomina forma qualificada, fazendo remissão ao artigo 258 para
determinar sua aplicação aos crimes contra a saúde pública:
Art. 285 - Aplica-se o disposto no art. 258 aos crimes previstos neste Capítulo, salvo
quanto ao definido no art. 267.
Entretanto, vale lembrar que o artigo 285 ressalva o disposto no artigo 267 do Código
Penal. Ou seja, não se aplicam as suas disposições ao crime de epidemia, que já
possui causa de aumento de pena e modalidade culposa qualificada.

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