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Emile Durkheim (1858-1917)

As Regras do Método Sociológico (1895)


Emile Durkheim (1858-1917)
1858: Nascido em Épinal (França), linhagem de oito gerações de
rabinos, mas agnóstico.
Entra na Escola Normal Superior;
1887: Torna-se professor em Bordeaux, aulas de pedagogia e
ciências sociais.
1898: Funda a revista de ciências sociais L’Année Sociologique
1902: nomeado professor da Universidade de Paris, onde
desempenha o papel de consolidar a sociologia como disciplina
universitária.
Foi membro fundador da Liga Francesa para a Defesa dos Direitos
do Homem.
1916: filho morre em combate
1917: morte precoce em 1917.
Emile Durkheim (1858-1917)
Um dos fundadores da Sociologia, buscava saber o
que é especificamente social em certas
coisas que moldam o comportamento dos
indivíduos.

Estudava como as sociedades poderiam manter sua


integridade e coerência na modernidade, onde
perdem-se tradicionais laços sociais e religiosos.

Obras:
Da Divisão do Trabalho Social (1893);
As Regras do Método sociológico (1895);
O Suicídio (1897);
As formas elementares da vida religiosa (1912).
Contexto sociopolítico
• Terceira República: proclamada em 1870 ainda em meio à Guerra Franco-Prussiana;

• Metas da ordem social liberal: ampliar direitos civis e políticos, arquitetar um regime representativo
eficaz, implantar um sistema de educação laico.

• Duas forças sociais opostas: Ordem social conservadora: o domínio cultural da Igreja, um Estado
autoritário e uma hierarquia social rígida e refratária a ideias igualitárias.

• Crítica revolucionária: Comuna de Paris em 1871 e a consolidação do socialismo como uma força política
e social expressavam oposição com a ideia de uma França liberal.

• Para Durkheim, estava em jogo nesta nova ordem liberal a conclusão da obra iniciada com a Revolução
Francesa.
O problema clássico do conhecimento
• Definição do objeto a ser estudado e da relação que o sujeito do
conhecimento deveria manter com esse objeto.
•• Conhecimento é uma relação entre sujeito e objeto

Sujeito Objeto
Influências intelectuais de Durkheim

Positivismo
O positivismo é uma teoria filosófica que sustenta que todo o conhecimento
genuíno é positivo — a posteriori e exclusivamente derivado da experiência de
fenômenos naturais e suas propriedades e relações — ou verdadeiro por
definição.
O conhecimento é derivado da experiência sensorial, interpretada pela razão e
pela lógica.
Os dados verificados (fatos positivos) recebidos dos sentidos são conhecidos como
evidências empíricas; assim, o positivismo é baseado no empirismo. 1798-1857
O positivismo sociológico (desenvolvido por Auguste Comte em meados do século
XIX) sustenta que a sociedade, como o mundo físico, opera de acordo com leis
gerais. O conhecimento introspectivo e intuitivo é rejeitado, assim como a
metafísica e a teologia porque não podem ser verificadas pela experiência do
sentido.
Influências intelectuais de Durkheim
• Evolução Darwinista
Charles Darwin
• Atenção aos processos pelos quais uma 1809-1882
espécie se transforma em outra:
• "Adaptação" como um princípio-chave
para explicar a relação entre uma espécie e
seu ambiente;
• E "seleção natural" como um mecanismo
de mudança.
• Durkheim aplica a noção de evolução para
o estudo da sociedade.
Epistemologia de Durkheim

• Uma vez em sociedade, os seres humanos dão origem a instituições que têm
dinâmicas próprias. Ou seja, a sociedade é uma realidade sui generis.

• Busca de leis sociais e seus mecanismos de funcionamento.

• Holismo metodológico: a sociedade tem precedência lógica sobre o indivíduo.

• A explicação da vida social tem seu fundamento na sociedade e não no indivíduo.

• As estruturas sociais passam a funcionar de modo independente dos atores


sociais, condicionando suas ações.
AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO (1895)

• Na obra sistematiza os instrumentos da pesquisa sociológica:


1) Definição do objeto de estudo
2) Observação
3) Classificação
4) Explicação dos fenômenos sociais
Objeto da Sociologia
Sociologia como “a ciência das instituições, da sua gênese e do seu funcionamento (...)
de toda crença, de todo comportamento instituído pela coletividade”.

Ciência dos “fatos sociais”.

“O devoto, ao nascer, encontra prontas as crenças e as práticas da vida religiosa; existindo antes dele,
é porque existem fora dele. O sistema de sinais de que me sirvo para exprimir meus pensamentos, o
sistema de moedas que emprego para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo nas
minhas relações comerciais, as práticas seguidas na profissão etc. funcionam independentemente do
uso que delas faço.” (p.2)

“É um fato social toda a maneira de agir, fixa ou não, capaz de exercer sobre o indivíduo uma coerção
exterior, ou, ainda, que é geral no conjunto de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma
existência própria, independente de suas manifestações individuais.” (Durkheim, 2003, p.3).
“Os fatos sociais, longe de serem
produto de nossa vontade, eles a
determinam de fora; são como moldes
nos quais somos obrigados a vazar
nossas ações.”
Características: FATO SOCIAL

I. Generalidade: se estende por dada sociedade


II. São exteriores ao indivíduo: possível apenas apreender o objeto
(fatos sociais) por meio de sinais observáveis.
devem ser internalizados por meio da educação (socialização).
I. Coercitivos: impostos pela sociedade; vida social se sustenta na
articulação da obrigação com o desejo; disposição do ser social.
Observação: fato social como coisa
• Não nos basta oferecer uma explicação teórica.
• “A primeira regra e a mais fundamental é a de considerar os fatos sociais como
coisas”. (2003,p.15)
• ”É preciso considerar os fenômenos sociais em si mesmos, separados dos
sujeitos conscientes que os concebem; é preciso estudá-los de fora, como coisas
exteriores, pois é nessa qualidade que eles se apresentam a nós.” p. 28
Observação: fato social como coisa
• “Reconhece-se uma coisa principalmente pelo sinal de que não pode ser
modificada por um simples decreto da vontade. Não que ela seja refratária a
qualquer modificação. Mas, para produzir uma mudança nela, não basta querer,
é preciso além disso um esforço mais ou menos laborioso, devido à resistência
que ela nos opõe e que nem sempre aliás, pode ser vencida”. (p.29)
Regras a serem adotadas na observação dos fatos
sociais:
I. É necessário afastar sistematicamente todas as noções prévias: significa que o
sociólogo deve romper com as representações, ideias e conceitos elaborados pelo
senso comum a respeito da vida social em geral;

II. Tomar sempre como objeto de investigação um grupo de fenômenos previamente


definidos por certas características exteriores que lhes sejam comuns, e incluir na
mesma investigação todos os que correspondem a esta definição.

III. Quando o sociólogo empreende a explicação de uma qualquer ordem de fatos sociais,
deve esforçar-se por considera-los sob um ângulo em que eles se apresentam isolados
de suas manifestações individuais.
Objetividade

∙ Radical separação entre o senso comum e a investigação sociológica.


∙ A sociologia não poderia confundir as representações que os próprios
indivíduos, em seu conhecimento ordinário, realizam da vida social e a análise
científica destes fatos.

• Durkheim exige do sociólogo uma atitude de desconfiança em relação ao saber


anterior de que todos dispomos sobre a realidade social, pelo mero fato de
participarmos dela.
Fato social: “Cultura de cesáreas”

Dor Estruturas
familiares
Médico

Fatores Estruturas
históricos profissionais
Mãe Risco
Redes temáticas

Constrangimento
s sociais

Estrutura de
Cultura de
atendimento ao
cesáreas
parto

Aspectos
psicossociais
Classificação dos fatos sociais: normal e
patológico
• O que distingue um fato social do outro é sua regularidade.
• Quando um fato social é extraordinário e eventual é anormal. Um fato social é
normal quando contribui com a preservação da vida social.
• “Ora, ele seria inexplicável se as formas de organização mais frequentes não
fossem também, pelo menos no conjunto, as mais vantajosas”. Quanto às formas
patológicas, “se são mais raras é porque, na média dos casos, os sujeitos que as
apresentam têm mais dificuldade em sobreviver”.
• Ex. o crime é regular, ocorre em todas as sociedades, portanto, é normal. O crime
evoca a norma.
Regras relativas à explicação

• Sociologia explicativa

• Mais do que descrever e classificar os fatos sociais, a tarefa da sociologia é


explicá-los. Entender suas causas e razões.

• “Quando nos lançamos na explicação de um fato social, temos que investigar


separadamente a causa eficiente que o produz e a função que ele desempenha”
p.97.
Função social

• “Preferimos servir-nos do termo função em vez de fim ou de objetivo,


precisamente porque os fenômenos sociais não existem geralmente com vista
aos resultados úteis que produzem. O que é necessário determinar é se existe
correspondência entre o fato considerado e as necessidades gerais do organismo
social e em que consiste esta correspondência, sem nos preocuparmos em saber
se foi ou não intencional.”

• “Se a utilidade do fato não é aquilo que o faz existir, em geral, é


preciso que ele seja útil para se manter” 99
Explicação Social
• A explicação causal consiste em remontar às origens dos fatos sociais. Mas nem sempre é a
origem do fato social que determina sua função.

• A função social traduz a ligação que existe entre as práticas e as instituições sociais e o conjunto
do tecido social. A que necessidade corresponde qualquer fenômeno ou fato social e de que
forma ele contribui para produzir a harmonia social?

• “Por exemplo, a reação social que constitui a pena é devida à intensidade dos sentimentos
coletivos que o crime ofende; mas, por outro lado, ela tem por função útil manter esses
sentimentos no mesmo grau de intensidade, pois estes não tardariam a se debilitar se as ofensas
que sofrem não fossem castigadas.” p. 98
• “A causa determinante de um fato social deve ser buscada entre os fatos sociais antecedentes, e não entre
os estados da consciência individual” 112
Fato social: monogamia
• A monogamia enquanto modelo de relacionamento idealizado é parte da
cultura de algumas das sociedades mais populosas do mundo. Modelo de
relacionamento recomendado pelas mais diversas doutrinas do
Cristianismo e do Judaísmo.
• Boserup: agricultura com arado, em grande parte o trabalho é dos
homens e está associado com a propriedade privada; o casamento tende
a ser monogâmico para manter a propriedade dentro da família.
• Correlação entre o aumento do tamanho da sociedade, a crença em
deuses para apoiar a moralidade humana e a monogamia.
Fato social: monogamia
• Friederich Engels, (A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado) o
surgimento da Monogamia desenvolveu-se para que o homem pudesse controlar a
reprodução feminina e assegurar que as suas propriedades seriam herdadas para a sua
prole.

• «A monogamia não aparece na história, portanto, como uma reconciliação entre o


homem e a mulher e, menos ainda, como a forma mais elevada de matrimónio. Pelo
contrário, ela surge sob a forma de escravização de um sexo pelo outro, como
proclamação de um conflito entre sexos, ignorado, até então, na pré-história. (...) a
primeira divisão do trabalho é a que se fez entre o homem e a mulher para a procriação
dos filhos”. Hoje posso acrescentar: o primeiro antagonismo de classes que apareceu na
história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher na
monogamia; e a primeira opressão de classes, com a opressão do sexo feminino pelo
masculino» (p. 86)
Exercício
Analisar dois fatos sociais:

• Relações de parentesco;
• Casamento;
• Papel de cada membro em uma família;
• Utilização de vestimentas;
• Rituais religiosos e culturais;

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