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A Morte de Deus – Friedrich Nietzsche

Adriene Nogueira de Souza1

Resumo
O presente artigo tem como objetivo a discussão a cerca da Morte de Deus na concepção do
filosofo Alemão Friedrich Nietzsche. Fazendo considerações as críticas tecidas pelo filosofo
acerca da modernidade e do cristianismo e de como a modernidade resultou em um
esvaziamento de sentindo da vida.

Palavras-chave: A morte de Deus, Friedrich Nietzsche, modernidade, vazio.

Introdução

Friedrich Nietzsche foi um filosofo, critico cultural do século XIX, nascido na


Alemanha. Escreveu vários textos criticando a religião, a moral, a cultura contemporânea,
filosofia e ciências. Em sua obra A Gaia Ciência, publicada em 1882, o filosofo no aforismo
125 - A Morte de Deus, tece críticas acerca da Europa sem Deus. No século XIX houve um
abandono de Deus por parte da ciência, política e arte que até então seus conhecimentos e
significados de vida eram ocupados por Deus. O filosofo Alemão refere-se a esse processo de
abandono de Deus de a morte de Deus, pois era o sagrado que representava a cultura europeia
(ciências, política, arte) que no passado havia construído caracteres socioculturais que
conectavam a Europa.

Dessa forma a Morte de Deus se refere a algo mais amplo que o mero abandono das
questões religiosas e a adesão do racionalismo, a Morte de Deus refere-se a perda de sentindo
de vida e a realidade do homem moderno que sem Deus ou a ideia de Deus, não soube para
onde voltar seu olhar. “O homem moderno é tudo aquilo que não sabe para o que se voltar. A
modernidade o tornou doente. O progresso é uma ideia moderna, ou seja, uma ideia falsa. Não
representa uma evolução em direção ao melhor, ao mais forte, ao mais elevado.” (Nietzsche,
O Anticristo).

Nessa perspectiva trataremos primeiramente sobre a Morte de Deus e o que podemos


entender com a expressão “Deus está morto”. Em seguida abordaremos a crítica que
Nietzsche tece sobre a filosofia de Platão e como ela contribui-o para o abandono do sagrado,
logo depois concluiremos com a consequência da Morte de Deus que é justamente a perda de
sentido da vida, a perda de significações, trazendo a realidade do homem moderno.

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Adriene Nogueira de Souza – Graduanda de Filosofia Licenciatura - 20190093446
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“Deus está morto”

Friedrich Nietzsche (1844-1900) em sua obra Gaia Ciência, onde pela primeira vez
aparece a Morte de Deus e sua tão célebre frase “Deus está morto”, que muitas vezes é tratado
como mera provocação ao cristianismo, mas que está para além, e trata de uma crítica baseada
na investigação da cultura ocidental desde a Grécia antiga até a Era Moderna. O que para o
filósofo Alemão resume a decadência filosófica, cultural e religiosa da modernidade. “O
homem louco se lançou no meio deles e trespassou-os com seu olhar. “Para onde foi Deus?”,
exclamou, “…vou lhes dizer! Nós o matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas
como fizemos isso? Como conseguimos esvaziar o mar? Quem nos deu a esponja para apagar
o horizonte?” (Nietzsche, Gaia Ciência).

“Deus está morto” é mais um ataque a filosofia de Platão do que as religiões, uma vez
que na concepção do filósofo Alemão, esse assassinato, essa decadência se deram antes
mesmo do surgimento do cristianismo que já nasceu adorando um Deus morto.

Nesta perspectiva Nietzsche quer chamar atenção pra perda de sentindo de vida e da
realidade do homem moderno. Pois essa morte de Deus não é só o abandono das explicações
religiosas e a adesão às explicações científicas ou racionais. “O homem moderno é tudo
aquilo que não sabe para o que se voltar. A modernidade o tornou doente. O progresso é
uma ideia moderna, ou seja, uma ideia falsa. Não representa uma evolução em direção ao
melhor, ao mais forte, ao mais elevado.” (Nietzsche, O Anticristo)

Critica a Platão

Os gregos antigos com sua relação com os deuses (o sagrado) traziam sentindo ao
mundo, plantando no homem o desejo pela vida, pela força e realização. Esses traços
religiosos era o que caracterizava toda a sociedade antiga. Depois com Platão, a realidade
tornou-se sombra imperfeita de um mundo espiritual e ideal.

Essa ideia influenciou na filosofia medieval, mais precisamente na filosofia de Santo


Agostinho, que declarou que o sumo bem de Platão era uma visão do Deus cristão, dessa
forma a filosofia de Platão foi cristianizada por Santo Agostinho que contribuiu para
consolidar o cristianismo.

“A religiosidade dos gregos antigos correspondia à gratidão de homens nobres diante


na natureza e da vida. Mais tarde, quando o populacho preponderou na Grécia, surgiu o medo
da religião. Preparava-se o cristianismo.” (Nietzsche, Além do Bem e do Mal)

Diante disso os homens passaram a desprezar o mundo de “sombras” em Platão ou


esse “vale de lagrimas” de Santo Agostinho. Voltando seu olhar para esse outro mundo ideal
na esperança da vida eterna. Para Nietzsche essa falsa noção de uma realidade de imagens e o
abandono e desprezo ao mundo real, que se propagou feito doença em todos ocidentes
contribui-o para formação de homem fracos, incapazes e invejosos.
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Perda do Sentido de vida

Os homens passaram a assumir religiões que cultuavam um mundo imaginário, o que


na concepção do filósofo levou ao desprezo e abandono da realidade. Perdera-me fé nos
conhecimentos do senso comum, depositando toda sua esperança e crença na ciência e nos
conhecimentos racionais, esquecendo que conquista científicas já foram meras aspirações
caóticas. Para Nietzsche na modernidade, há sempre algo incompleto: os religiosos
desprezam o mundo e os cientistas desprezam o sagrado.

Para o filósofo alemão o homem possui duas dimensões complementares a qual


chamou de apolínea (racional) e a dionisíaca (irracional). Na antiguidade o senso comum, o
saber místico representado pelos mitos e seres sobrenaturais inspiravam o racional do homem
na criação de literatura, artes e da técnica, até mesmo da filosofia.

Meus irmãos, prestai atenção a qualquer um dos momentos em que vosso espírito quer
falar em imagens. “Ali está a fonte de vossa virtude. É então que vosso corpo se eleva e
ressuscita. Com sua alegria arrebata o espírito para que se torne aquele que cria, que avalia,
que ama e benfeitor de todas as coisas”. (Nietzsche, Assim Falava Zaratustra) A Morte de
Deus representa perda desse equilíbrio. Para Friedrich Nietzsche, até mesmo a forma como a
ciência é trabalhada atualmente é reflexo da perda de confiança no lado irracional do homem.
Deus está morto representa também a ascensão dos fracos e medíocres que se escondem atrás
de pecado, revelações divinas ou mesmo verdades científicas.

“E o que faz o santo na floresta?” – perguntou


Zaratustra. O santo respondeu: “Componho canções e
passo a cantá-las. Enquanto faço canções, rio, choro e
murmuro. Essa é minha maneira de louvar a Deus. Mas
como presente, o que me trazes?”. Ao ouvir essas
palavras, Zaratustra cumprimentou o santo e disse:
“Deixa-me partir depressa, por receio de não lhe tirar
coisa alguma!” E assim se separaram, o velho e o homem
feito, rindo como riem dois garotos. Mas, quando
Zaratustra ficou só, falou assim ao seu coração: “Será
possível! Este santo ancião, em sua floresta, ainda não
ouviu dizer que Deus está morto?” (Nietzsche, Assim
Falava Zaratustra”
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Considerações Finais

Desse modo para o Filosofo Alemão Friederich Nietzche, a Morte de Deus seria o
grande problema da modernidade, pois foi o que provocou o desiquilíbrio entre Apolíneo e
Dionisíaco (racional e irracional) Tudo o que surgiu com o homem é ficção. Arte, cultura,
religião, Deus e ciência são invenções nascidas da sua imensa criatividade — hoje
subestimada pelos incapazes de criar, os fracos, sem imaginação ou inspiração, que atribuem
exclusivamente a Deus toda grande criação humana. O homem é o grande criador do mundo,
no momento em que deixa de ser criador, morre tudo o que é sublime; morre o fluxo criativo
que nos levaria a destinos cada vez mais elevados. Concluímos assim, que a Deus está Morte
é a critica fundamental de Nietzsche a modernidade. pois entronou incapazes e adoeceu os
homens; sacralizou regras morais e religiões mortas.

Referências

NIETZSCHE, Friedrich. O Anticristo. São Paulo: Escala, 2008


NIETZSCHE, Friedrich. Gaia Ciência. São Paulo: Martin Claret, 2008

NIETZSCHE, Friedrich. Além do Bem e do Mal. São Paulo: Companhia das Letras, 2005

NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falava Zaratustra. São Paulo: Escala, 2003.

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