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DATA: 07/Novembro/2011
HORA: 11:20
SERVIÇO: Serviço de Gastrenterologia, cama nº18
Identificação
Nome: S.M.R.P
Sexo: Feminino
Idade: 23 anos
Raça: Caucasiana
Residência: São Pedro da Cova
Naturalidade: São Pedro da Cova
Estado Civil: Solteira
Profissão: Desempregada (trabalhou como empregada de limpezas)
Queixa Principal
Diarreia sanguinolenta e cólicas abdominais
O quadro teve algum impacto na vida da doente devido à frequência das defecações, refere também astenia e dificuldade em
executar as tarefas habituais.
No internamento fez transfusão de glóbulos rubros, antibioterapia, foi submetida a colonoscopia e raio X. Refere valores analíticos
de hemoglobina de 5,7 g/dl.
No presente já não tem perdas sanguíneas nas fezes, dor ou febre mas ainda tem diarreia.
Doenças da Infância:
Varicela, desconhece idade.
Imunizações:
Plano Nacional de Vacinação actualizado. Desconhece outras vacinas extra-plano.
Cirurgias e Internamentos:
Nega.
Traumatismos/Acidentes:
Nega.
História Ginecológica:
Menarca aos 12 anos de idade. Padrão menstrual irregular com cataménios de aproximadamente 5 dias.
Nega perdas sanguíneas anormais.
Usa contraceptivos orais regularmente.
História Obstétrica
Gestações: 1
Partos: 1
Abortamentos: 0
Gravidez vigiada. Parto eutócico em meio hospitalar; criança aparentemente saudável, sem nada a destacar no puerpério.
Medicação habitual:
Toma ferro p.o; 3 comprimidos por dia (desconhece nome e dosagem)
Centrum ®
História Psico-Social
Vive com o marido e com o filho. Reside em apartamento próprio de 3 assoalhadas com luz eléctrica e com boas condições higieno-
sanitárias.
Tem um cão.
Trabalhou como empregada de limpeza, numa fábrica de estofos de automóveis e numa fábrica de plásticos onde refere exposição a
tintas e diluentes.
Tem boa relação com a família e apoio da parte desta, encontra-se optimista e de bem com a vida.
HISTÓRIA CLÍNICA - GASTRENTEROLOGIA
História familiar
Exame Físico
Aspecto geral
Idade aparente coincidente com a idade cronológica/real.
Pele e mucosas coradas e hidratadas, anictéricas e acianóticas.
Biótipo corporal emagrecido.
Não utiliza os músculos acessórios da respiração.
Sem deformidades óbvias, posições viciosas ou fácies atípica.
Pele sem lesões, com textura, humidade, temperatura, sensibilidade, elasticidade, mobilidade, turgor fisiológicos e compatíveis com
a idade.
Parâmetros antropométricos
Peso: 47 Kg
Altura: 1,56 m
IMC: 19,3 (normoponderal)
Sinais Vitais
Frequência respiratória: 15 ciclos/minuto
Pressão arterial: não avaliada.
Frequência cardíaca: não avaliada.
Pulso amplo, regular, rítmico e simétrico.
Temperatura timpânica: não avaliada.
Saturação de O2 (FiO2): não avaliada.
Cabeça
Configuração normal da cabeça sem alterações aparentes e implantação dos pavilhões auriculares normal. Padrão de distribuição
capilar normal, escalpe sem descamações.
Sem fácies característico, face simétrica, sem movimentos involuntários, edemas ou massas.
Nariz de forma e implantação normais.
HISTÓRIA CLÍNICA - GASTRENTEROLOGIA
Exame Neurológico
Estado mental: Consciente, vigil, colaborante, lúcida, colaborante e comunicativa. Orientada no tempo e no espaço.
Pontuação 15 na escala de Glasgow.
Pescoço
Sem dismorfias, movimentação activa normal, sem sinais de distúrbios a nível de glândulas salivares. Traqueia localizada na linha
média.
Gânglios linfáticos e tiróide não avaliada.
Membros superiores
Simétricos, sem sinal de cianose.
Pulsos radiais, cubitais e braquiais palpáveis, regulares, simétricos e amplos.
Sem equimoses, diferença de temperatura entre os membros, alterações dos leitos ungueais ou adenopatias palpáveis.
Tórax e dorso
Sistema Cardiovascular
Exame do Abdómen
Membros inferiores
Sem edema nem adenopatias palpáveis.
Pulsos palpáveis e simétricos
Pares cranianos
Não avaliados
HISTÓRIA CLÍNICA - GASTRENTEROLOGIA
Cenário Fisiopatológico
Doente do sexo feminino, de 23 anos de idade com anemia recorreu ao Hospital Geral de Santo António por apresentar episódios
iniciados há cerca de um mês de diarreia sanguinolenta de cor escura variando do preto ao esverdeado e de cheiro fétido que
ocorrem predominantemente ao fim das refeições associadas a dor abdominal em cólica, sendo que também acorda várias vezes à
noite para defecar. A frequência de dejecções era de cerca de 8 a 10/dia.
Refere ainda sangramento rectal há cerca de meio ano, foi medicada tendo resolvido as perdas sanguíneas até ao episódio actual.
Tem anorexia desde o início do quadro e teve perda ponderal de 4 Kg no último mês apresentando febre no internamento.
Como primeiro diagnóstico colocar-se-ía retocolite ulcerativa, os principais sintomas desta doença consistem em diarreia,
sangramento rectal, tenesmo, eliminação de muco e dor abdominal em cólica, sendo habitual a manifestação aguda antecedida por
sintomas já presentes durante semanas ou meses. Efectivamente, grande parte destes achados estão presentes na doente. Os
pacientes com proctite eliminam habitualmente sangue vivo ou secreção mucosanguinolenta juntamente com as fezes, o que de
facto começou por ser observado há cerca de meio ano. É de notar também que frequentemente a diarreia é nocturna ou pós
prandial. Dores abdominais intensas para além da cólica abdominal podem ser experimentadas em crises mais graves da doença.
Outro diagnóstico possível seria doença infecciosa quer de origem bacteriana, vírica ou fúngica, uma vez que são passíveis de ser
causadores dos sintomas apresentados pela doente. Infecções por Salmonella, Shigella e Campilobacter normalmente são
autolimitadas, o que diminui a probabilidade do envolvimento de estes agentes. Outros agentes seriam Yersinia Enterocolitica que
afecta principalmente o ileo terminal, ulceração da mucosa e espessamento da parede ileal, o Clostridium difficile com
manifestações de diarreia aquosa, tenesmo, náuseas e vómitos (sendo que estes últimos sintomas não são encontrados, o que baixa
também esta probabilidade) e E. coli, sendo que aqui surge diarreia sanguinolenta e hipersensibilidade abdominal. Infecções por
fungos são mais comuns em doentes imunossuprimidos, embora também possam ocorrer em doentes imunocompetentes.
Apresentam sintomas obstrutivos do intestino delgado e massa abdominal hipersensível. Colite de origem viral é predominante em
doentes imunocomprometidos, sendo uma infecção por citomegalovirus ou herpes mais prováveis num doente imunocompetente.
Doenças parasitárias também serão uma hipótese a considerar, uma vez que revelam sintomas semelhantes aos apresentados pela
doente.
Outra hipótese menos provável seria colite isquémica esta apresenta urgência para defecar e eliminação de sangue vivo pelo recto
mas também início de dor súbito no quadrante inferior esquerdo, o que não se observa. Esta também é mais provável na presença
de um estado hipercoagulável, distúrbio cardíaco ou vascular periférico grave.
Colite associada a AINE’s também apresenta sintomas semelhantes mas a doente não referiu a toma destes fármacos.
Lista de problemas
Lista de problemas
IDENTIFICAÇÃO (Principal/Temporária)
Data execução/ actualização: 07/10/2011
Nome autor: Andreia Vicente
PROBLEMA DATA DATA PROBLEMAS PROBLEMAS DATA
Nº INÍCIO REGISTO ACTIVOS INACTIVOS/RESOLVIDOS RESOLUÇÃO
1 Início de Outubro 07/11/2011 Patologia intestinal
1.1 Início de Outubro 07/11/2011 Hematoquézias 5/11/2011
Diarreia
1.2 Início de Outubro 07/11/2011 Dor abdominal em cólica
1.3 29/10/2011 07/11/2011 Dor abdominal aguda 31/10/2011
1.4 Início de Outubro 07/11/2011 Pirose
1.5 Início de Outubro 07/11/2011 Anorexia
1.6 Início de Outubro 07/11/2011 Perda ponderal
2 Maio 2011 07/11/2011 Anemia
2.1 Maio 2011 07/11/2011 Palpitações
2.2 Maio 2011 07/11/2011 Astenia
3 ? 07/11/2011 Irregularidades menstruais
HISTÓRIA CLÍNICA - GASTRENTEROLOGIA
Tratamento:
Avaliando a doente para colite ulcerosa severa (>6 dejecções/dia)
- Hidratação IV sem ingestão de alimentos (1L de 0,9% salino+2L dextrose salino/24h + 20mmol K+/L)
- Hidrocortisona 100 mg/6h IV
- Esteróides rectais
- Monitorizar temperatura, pulso, pressão arterial e frequência de dejecções
- Considerar a necessidade de transfusão de glóbulos rubros
- Se melhoras ao 5º dia passar para prednisolona p.o. com 5-Aminosalicilato para manter remissão.
- Se ao 3º dia a proteína C reactiva for maior do que 45 ou frequência de dejecções superior a 6/dia considerar
ciclosporina/infliximab/cirurgia.
- A proctite pode responder a supositórios (prednisolona ou mesalazina), 5-ASA são melhores do que esteróides tópicos.
MIM Turma 2