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O Regulamento de Viena de 1815, ao contrário, adotava o critério da data de notificação oficial da chegada do Chefe da missão, o
qual, conforme a prática, se confundia com a data de apresentação das credenciais.
classe, e, no § 3º, confirma a prática segundo a qual o
representante da Santa Sé tem a precedência sobre os outros
agentes diplomáticos, conforme se verifica em;
2 As modificações nas credenciais de um Chefe de Missão, desde que
não impliquem mudança de classe, não alteram a sua ordem de
precedência.
3 O presente artigo não afeta a prática que exista ou venha a existir no
Estado acreditado com respeito à precedência do representante da
Santa Sé.
Enfim, com o intuito de prevenir qualquer tipo de
discriminação entre os diferentes Chefes de missão presentes
no Estado acreditado, a Convenção de Viena de 1961, no seu
Art. 18, determina que:
O Cerimonial que se observe em cada Estado para a recepção dos
Chefes de Missão deverá ser uniforme a respeito de cada classe.
1.4.1.5 Nomeação de Chefe da Missão perante Diversos
Estados e Representação Múltipla
O comparecimento, no cenário internacional, de novos
Estados devido à descolonização, além da falta de pessoal
diplomático qualificado e de razões econômicas, acarretaram
ao direito diplomático um fenômeno já observado na prática:
a nomeação do mesmo Chefe da missão perante diversos
Estados. De fato, a Convenção de Havana de 1928, no § 1º e
seu Art.5º, já dispunha que;
Todo o Estado pode confiar a sua representação perante um ou mais
Governos a um só funcionário diplomático
Alguns doutrinadores liderados pelo francês Cahier (1962),
preocupados com o bom desempenho das funções
diplomáticas, notaram, justamente, que:
Uma tal situação não é isenta de inconvenientes; por um lado porque o
Chefe da missão, para bem cumprir as suas funções, precisa residir de
modo permanente sobre o território do Estado acreditado, e se uma
divisão pode ainda ser feita em caso de nomeação dupla, esta não é mais
possível em caso de nomeação múltipla. Por outro lado, os diferentes
Estados, perante os quais o Chefe da missão é acreditado, podem não
manter boas relações, ou, se as mantiverem, podem se deteriorar em
seguida, o que não facilitará o desempenho do Chefe da missão. Por
exemplo, a Santa Sé sempre protestou contra as nomeações múltiplas,
porque não queria que os Chefes da missão acreditados perante ela
fossem também perante o governo italiano.
Embora a pessoa nomeada de diversos Estados seja a
mesma, o Chefe da missão recebe tantos agréments quantos
são os países acreditados e, do mesmo modo, independente
será o desempenho da função de representação. O
consentimento que cada Estado, independentemente do
outro, deve dar ao Chefe da missão, era já previsto, com
algumas limitações, pela Comissão de Direito Internacional,
em 1958. Mais tarde, em 1961, na Conferência de Viena, com
algumas modificações relativas ao consentimento expresso
do Estado acreditado, foi adotado o § 1º do Art. 5º, que
determina:
1. O Estado acreditante poderá, depois de haver feito a devida
notificação aos Estados acreditados interessados, nomear um Chefe de
Missão ou designar qualquer membro do pessoal diplomático perante
dois ou mais Estados, a não ser que um dos Estados acreditados a isso
se oponha expressamente.
Ainda, em caso de nomeação múltipla, para evitar que as
diferentes missões do Estado acreditante se encontrem
desprovidas de Chefe de missão, a Conferência de Viena,
acatando uma emenda a Checoslováquia, adotou o § 2º do
Art. 5º:
2. Se um Estado acredita um Chefe de Missão, perante dois ou mais
Estados, poderá estabelecer uma Missão diplomática dirigida por um
Encarregado de Negócios ad ínterim em cada um dos Estados onde o
Chefe da Missão não tenha a sua sede permanente
Enfim, a Conferência de Viena de 1961 acatou a proposta da
Colômbia, qual seja: a inserção, na Convenção, de um
parágrafo sobre a possibilidade de uma missão acreditada
em um Estado sê-lo também perante uma organização
internacional. Tal proposta fundamentou-se na consciência
daquele país em relação à evolução e ao papel que as novas
formas de diplomacia irão desempenhar. Portanto, adotou-se
o § 3º do Art.5º, segundo o qual:
3. O Chefe da Missão ou qualquer membro do pessoal diplomático da
Missão poderá representar o Estado acreditante perante uma
organização internacional.
Um outro fenômeno já previsto na prática foi debatido
durante a Conferência, em Viena, em 1961: a representação
múltipla por parte do Chefe da missão. Na ocasião, a Espanha
e os Países Baixos, relembrando o § 2º do Art. 5º da
Convenção de Havana de 1928, o qual determina que:
Vários Estados podem confiar a um só funcionário diplomático a sua
representação noutro Estado.
sugeriram, a consagração de um artigo com a mesma
previsão na Convenção de Viena de 1961. Portanto,
recebendo o apoio das outras delegações e evidenciando o
consentimento tácito do Estado acreditado, a referida
proposta conjunta se transformou no art. 6º segundo o qual:
Dois ou mais Estados poderão acreditar a mesma pessoa como Chefe de
Missão perante outro Estado, a não ser que o Estado acreditado a isso se
oponha.
Essa hipótese é contrária à nomeação múltipla e tudo indica
que seja possível entre Estados que compartilhem valores
comuns em matéria política, histórica, econômica etc. Tal
forma de nomeação pode representar um primeiro estágio
para o estabelecimento de relações diplomáticas normais.
1.4.2 Os Outros Membros do Pessoal Diplomático
Os outros Membros do pessoal diplomático, assim como o Chefe
da missão, possuem a qualificação de agentes diplomáticos, a
inscrição na Lista Diplomática2 e fazem parte do Corpo
Diplomático. Típicos dessa categoria são: o Ministro conselheiro
ou o Conselheiro, o Primeiro, Segundo e Terceiro Secretário e os
diferentes Adidos. A nomeação dos outros membros do pessoal
diplomático, como a dos Chefes de missão, também releva da
competência interna de cada Estado. Todavia, ao contrário dos
Chefes da missão, a nomeação dos outros membros do pessoal
diplomático, devido à menor importância dos mesmos, não
depende do procedimento de agrément, salvo a exigência
contrária do Estado acreditado. Além disso, para começar as
funções não é necessário à apresentação das credenciais. Esses
princípios estão definidos no Art. 7º da Convenção de Viena que
afirma:
Respeitadas as disposições dos artigos 5º, 8º, 9º e 11º Estado acreditante
poderá nomear os membros do pessoal da Missão. [...]
È importante ressaltar que, devido à função oficial que esses
agentes desempenham, gozam de determinados privilégios e
imunidades; portanto, o Estado acreditato, embora de modo tácito
ou implícito, exercita um certo controle sobre os mesmos. A
Convenção de Viena de 1961 — que nasceu da colaboração e do
esforço contínuo na busca pela igualdade entre os Estados —
garante, por um lado, a liberdade de escolha pelo Estado
acreditante do seu pessoal diplomático e, por outro, a soberania
do Estado acreditado, com a notificação ao Ministro das Relações
Externas. Assim, conforme o texto do art. 10, § 1º, alínea a:
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A lista diplomática é um volume publicado pelo Ministério das Relações Externas onde são enumerados os agentes diplomáticos
que desempenham funções oficiais numa determinada embaixada acreditada. Na lista, encontram-se o nome do Estado
acreditante, o nome do diplomata, sua titulação, sua posição hierárquica, sua data de chegada, seu endereço etc. Em geral, a lista
diplomática tem um valor administrativo e não constitutivo, isto é, não constitui título que possa justificar a qualidade oficial do
agente diplomático. Esta, ao contrário, é dada, segundo a prática dos Estados, por uma declaração expressa do Poder Executivo do
Estado acreditado. O mesmo vale pelo passaporte diplomático.
1. Serão notificados ao Ministério das Relações Exteriores do Estado
acreditado, ou a outro Ministério em que se tenha convindo:
a. nomeação dos membros da Missão, sua chegada e partida
definitiva ou o termo das suas funções na Missão;
Além disso, não se pode deixar de evidenciar que, seja qual for o
abuso por parte do Estado acreditante, a proteção do Estado
acreditado estará sempre garantida pelo meio que por natureza
tem uma eficácia total, que está definitivamente previsto no art. 9º
da referida Convenção de Viena, o qual expressamente prevê:
1. O Estado acreditado poderá a qualquer momento, e sem ser
obrigado a justificar a sua decisão, notificar ao Estado acreditante
que o Chefe da Missão ou qualquer membro do pessoal diplomático
da Missão é persona non grata ou que outro membro do pessoal da
missão não é aceitável. O Estado acreditante, conforme o caso,
retirará a pessoa em questão ou dará por terminadas as suas
funções na Missão. Uma pessoa poderá ser declarada non grata ou
não aceitável mesmo antes de chegar ao território do Estado
acreditado.
2. Se o Estado acreditante se recusar a cumprir, ou não cumprir, dentro
de um prazo razoável, as obrigações que lhe incumbem, nos termos
do parágrafo 1º deste artigo, o Estado acreditado poderá recusar-se
a reconhecer tal pessoa como membro da Missão.
Assim, tendo em vista que um Estado tem direito de conceder ou
não o agrément, ele poderá, uma vez verificado que a pessoa em
questão não preenche os requisitos necessários para o
desempenho das funções diplomáticas, solicitar a sua retirada. O
professor brasileiro Do Nascimento e Silva (1978), preocupado
com a estabilidade das relações diplomáticas, salientava que:
Verificado o procedimento incorreto de membro de uma Missão
Diplomática e solicitada a retirada do mesmo, esta deve ser concedida,
sobretudo se as queixas se revestem de certa gravidade, visto que os
Estados têm todo o interesse em manter relações de cordialidade com os
demais membros da comunidade internacional.
De modo semelhante ao que ocorre com o Chefe da missão, a
declaração de persona non grata — para os demais membros do
pessoal diplomático — também não deve ser motivada pelo
Estado acreditado. Conforme o texto do § 2º do art. 9º, citado
anteriormente, quando o Estado acreditado pede a retirada do
funcionário, o Estado acreditante deve tomar todas as
providências necessárias para que o mesmo deixe o Estado
acreditado ou, no caso de nacional do mesmo, o seu lugar, na
missão diplomática. Em 1961, na Conferência de Viena, embora
descartada, discutiu-se a possibilidade da fixação de um período
mínimo para a retirada dos membros da missão, em face daqueles
casos em que o agente diplomático foi obrigado a deixar o Estado
acreditado em poucos dias ou mesmo horas. Ainda que parte da
doutrina liderada pelo professor Pellet (2002), acertadamente,
admita
Que a Convenção de Viena de 1961 constitui um corpo de normas
coerentes e completas [...]
não se pode deixar de evidenciar, alguns pontos obscuros
deixados pela referida Convenção como, por exemplo, o caso
relativo à declaração de persona non grata. Como afirma o
professor francês Cahier (1962).
Infelizmente ela (a Convenção) deixou na sombra um problema que foi
uma fonte de dificuldades no passado e que poderá sê-lo no futuro. Trata
se da seguinte questão: um agente diplomático é nomeado e sua
nomeação é notificada ao Estado acreditado. Se este envia uma nota
declarando-o pessoa não aceitável antes da sua partida, não tem
problema, mas o que irá acontecer se ele é já instalado? Precisará
considerá-lo como nunca tendo o caráter diplomático, ou admitir-se-á
que ele gozava até o momento que declarado persona non grata. O caso
é muito importante com relação aos privilégios e imunidades. De fato se
se considera como validamente nomeado e encontra-se sob perseguição
judiciária, salvo renuncia a imunidade, o Estado acreditado poderá
somente declará-lo persona non grata, o que lhe permitirá de deixar
livremente o país. Se ao contrario estima-se que ele nunca adquiriu suas
funções, então não será coberto pelos privilégios e imunidades, e,
portanto, simples particular, poderá ser portado perante um tribunal, logo
preso.
Enfim, vista a categoria especial dos Adidos militar, naval ou aéreo,
o Estado acreditado pode exigir o pedido de agrément por parte
do Estado acreditante. Por isso, a Convenção de Viena de 1961,
visando sanear as eventuais dificuldades que essa particular
categoria de agentes diplomáticos poderia criar ao Estado
acreditado, no seu art. 7º, prevê:
[...] No caso dos adidos militar, naval ou aéreo, o Estado
acreditado poderá exigir que seus nomes lhe sejam
previamente submetidos para efeitos de aprovação.
1.4.3 O Pessoal Administrativo e Técnico
O pessoal administrativo e técnico têm características diferentes
das do pessoal diplomático, uma vez que o primeiro não é inscrito
na Lista Diplomática nem faz parte do Corpo Diplomático
possuindo, portanto, um estatuto diferente do segundo. Por isso,
o pessoal administrativo e técnico não goza exatamente dos
mesmos privilégios e imunidades diplomáticos. Em síntese, trata-
se de funcionários executivos que, em virtude de sua limitada
importância, embora possam ser enviados pelo Estado acreditante,
podem igualmente ser recrutados no Estado acreditado. Ainda
que a Convenção de Viena de 1961 não diga nada a respeito de
quem sejam tais funcionários, a doutrina indica como figuras
típicas dessa categoria os secretários, os arquivistas, os
datilógrafos, os intérpretes, entre outros.
A mencionada Convenção prevê, para o pessoal técnico e
administrativo, o mesmo tipo de procedimento adotado para o
pessoal diplomático, no que diz respeito ao início do exercício de
suas respectivas funções. Entretanto, segundo a Convenção de
Viena de 1961, um membro do pessoal técnico e administrativo
poderá ser declarado pelo Estado acreditado pessoa não aceitável,
designação, portanto, diferente da aplicada ao pessoal
diplomático, a saber: persona non grata. Enfim, o art. 8º da
Convenção de Viena não faz nenhuma restrição à nomeação de
nacionais do Estado acreditado para o preenchimento das funções
do pessoal técnico e administrativo, pois, como acertadamente
salientou a Comissão de Direito Internacional, é absolutamente
necessário recrutar indivíduos com um bom conhecimento da
língua e das condições locais para essa categoria de funcionários.
Assim, a recusa de uma tal contratação causaria enormes
problemas ao Estado acreditante.
1.4.4 O Pessoal de Serviço
O pessoal de serviço da missão diplomática é composto por
motoristas, porteiros, jardineiros, cozinheiros, seguranças, entre
outros. Devido à mínima importância dessa categoria para o
desempenho das funções diplomáticas, o Estado acreditado
exercita um controle relativo limitando-se a exigir a notificação
desses funcionários ao Ministro das Relações Externas, somente
nas seguintes situações previstas pela Convenção de Viena de
1961, no seu Art. 10, § 1º, alíneas c e d:
1. Serão notificados ao Ministério das Relações Exteriores do Estado
acreditado, ou a outro Ministério em que se tenha convindo: [...]
c) a chegada e a partida definitiva dos criados particulares a serviço das
pessoas a que se refere a alínea "a" deste parágrafo e, se for o caso, o fato
de terem deixado o serviço de tais pessoas;
d) a admissão e a despedida de pessoas residentes no Estado acreditado
como membros da Missão ou como criados particulares com direito a
privilégios e imunidades.
1.4.5 A Família dos Membros da Missão Diplomática
Permanente
Para garantir a necessária independência no cumprimento das
funções dos agentes diplomáticos, suas respectivas famílias gozam
do mesmo tratamento a eles conferido, embora não sejam
membros da missão diplomática. Na doutrina e na prática, sempre
existiu, no momento da aplicação dos estatutos especiais de que
gozam os agentes diplomáticos, uma certa dificuldade em
determinar a efetiva extensão da família dos mesmos.
Primeiramente, considerava-se membro da família do agente
diplomático somente as mulheres e as crianças. Além disso, exigia-
se que elas vivessem sob o mesmo teto do agente diplomático e
que não exercessem nenhuma profissão lucrativa. A Convenção de
Havana de 1928 sobre Funcionários Diplomáticos no seu Art. 14,
alínea c, quando delimita a extensão das imunidades dos agentes
diplomáticos, determina:
aos membros da respectiva família, que vivem sob o mesmo teto
Essa formulação “ampla” se encontra no comentário ao Projeto
final de 1958, adotado pela Comissão de Direito Internacional e se
explica pela existência de condições particulares das famílias dos
agentes diplomáticos. De fato, notou-se que o membro de uma
missão, seja ele celibatário ou viúvo, pode ser assistido por uma
irmã, uma filha maior ou uma cunhada que assumirá o papel de
dona da casa. Enfim, em relação à presença da família dos
diplomatas no território do Estado acreditado, a Convenção de
Viena de 1961, no seu Art. 10, § 1º, b, prevê:
1. Serão notificados ao Ministério das Relações Exteriores do Estado
acreditado, ou a outro Ministério em que se tenha convindo:
b) a chegada e partida definitiva de pessoas pertencentes à família de um
membro da Missão e, se for o caso, o fato de uma pessoa vir a ser ou
deixar de ser membro da família de um membro da Missão.