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VENDA PROIBIDA

n p i
APROVADO
A PARTICIPAÇÃO ESSENCIAL
DOS PENTECOSTAIS
NO DEBATE NACIONAL

O ETHOS PENTECOSTAL
NA ESFERA PÚBLICA
Douglas Baptista

A participação na esfera pública de


cidadãos que professam sua fé
é cada vez maior, em especial de
pentecostais. Um direito que não
deve ser cerceado em nome de
visões equivocadas do que seja
Estado Laico.

Com sólida fundamentação ™


acadêmica, o autor apresenta,
à luz da Declaração de Fé das
Assembléias de Deus, a vitalidade
da doutrina teológica institucional
na formação do "ethos", isto
é, da identidade pentecostal e
demonstra sua influência positiva
na esfera pública.
TA M B É M
D IS P O N ÍV E L
N A VERSÃO
Formato: 14,5x22,5cm E -B O O K

Páginas: 288

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iS lIS lIU I

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g ) (021) 2406-7373 o#oo CPAD


CARTA DA CPAD

Os dons do
Espírito, sua
atualidade, uso e
importância
esta última edição de 2023 da revista Obreiro Aprovado,

RONALDO R. DE SOUZA
Diretor-executivo
N nosso tema é Os dons espirituais e sua manifestação. Nosso
objetivo é tratar sobre a atualidade, a importância e
a operação dos dons do Espírito na vida da igreja. O
apóstolo Paulo, escrevendo aos crentes em Corinto, afirmou sobre
esse assunto: "Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que
sejais ignorantes (ICo 12.1). Urge, portanto, abordarmos esse as­
da CPAD sunto, que é de grande importância para a coletividade da igreja,
porque os dons foram dados para a edificação do Corpo de Cristo
(ICo 12.7,11; Ef 4.12)), e também porque, infelizmente, muitos são
os abusos que têm sido cometidos em alguns lugares em relação
a esse assunto.
Nesse propósito, temos nesta edição uma entrevista com o
pastor Álvaro Alén Sanches, líder da Igreja Evangélica Assembléia
Esse tema é de Deus em Uberlândia (MG) e da Convenção dos Ministros das
Assembléias de Deus no Triângulo Mineiro (Comadetrim), tratando
de grande sobre esse importante assunto; e os artigos dos pastores Elinaldo
importância Renovato de Lima (RN), Jonas Mendes (MT), Esdras Bentho (RJ),
Marcos Tedesco (SC) e Abiezer Apolinário (RJ) abordando, respec­
porque os tivamente, os temas da atualidade dos dons, dos dons de elocução,
dons foram dos dons de revelação, dos dons de poder e dos dons ministeriais.
São artigos escritos por mestres que com certeza irão contribuir
dados para para um melhor entendimento sobre os dons do Espírito e a sua
operacionalidade na vida da Igreja.
edificação do Aproveitamos este espaço para também louvar a Deus por
Corpo de Cristo mais um ano que se encerra, em que tivemos o privilégio de mais
uma vez servi-lO com o que Ele, pela Sua graça, tem nos dado, e
e também tem desejar toda sorte de bênçãos da parte de Deus para o seu minis­
havido abusos tério, a sua família e a sua igreja neste final de ano. No mais, uma
boa leitura e até 2024!

RO
SUMARIO

OBH1RO APROVADO
06. CARTA À LIDERANÇA PENTECOSTAL
A MENSAGEM QUE IMPACTA O CORAÇÃO DO PECADOR
O pastor José Wellington Costa Junior, presidente da Convenção Geral dos Minis­
A N O 47 - N° 103 - 4 o TRIMESTRE 2023
tros das Igrejas Evangélicas Assembléia de Deus no Brasil (CGADB), a partir do
Presidente da Convenção Geral texto de Jeremias, ressalta as diferenças de mensagem entre os falsos mensageiros
José Wellington Costa Junior
de Deus e os verdadeiros mensageiros de Deus.
Presidente do Conselho Administrativo
José Wellington Bezerra da Costa
Diretor-executivo
Ronaldo Rodrigues de Souza
É Entrevista: o pastor Álvaro Alen Sanches, lider da Convenção de
Editor-Chefe U»
Silas Daniel Ministros das Assembléias de Deus no Triângulo Mineiro (COMA-
>
Editor UI DETRIM) e da Assembléia de Deus Missão aos Povos (ADMP) fala
a
Eduardo Araújo i- dos propósitos e da importância dos dons espirituais para a igre­
Gerente Financeiro z ja hodierna
Josafá Franklin Santos Bomfim UI
Gerente de Produção e Arte
Jarbas Ramires Silva
Gerente de Publicações 12. ARTIGO
Alexandre Claudino Coelho
OS DONS SÃO PARA HOJE
Gerente Comercial
Cícero da Silva O pastor Elinaldo Renovato de Lima, líder da Assembléia de Deus em Parnami-
Chefe do Setor de Arte e Design rim (RN) e comentarista de Lições Bíblicas da CPAD, fala da atualidade dos dons
Wagner de Almeida espirituiais
Projeto Gráfico
Fábio Longo
Diagramação e Capa
Leonardo Engel 20. ARTIGO
Projeto Digital OS DONS DE ELOCUÇÃO
Alan Valle O pastor Jonas Mendes, professor de Teologia da faculdade teológica da Assem­
Ilustrações bléia de Deus em Cuiabá (MT), trata sobre os dons de profecia, variedade de lín­
Banco de Imagens Shutterstock
Fotografia
guas e interpretação de línguas
Arquivo (CPAD)
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Teologia Sistemátia Pentecostal - Antonio Gilberto, Elienai Cabral, Esequias Soares,
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ASSINATURA IMPRESSA
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ASSINATURA DIGITAL OS DONS DE REVELAÇÃO
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O pastor e professor Esdras Bentho (RJ), da Faculdade das Assembléias de Deus
ATENDIMENTO ASSINATURA (Faecad), analisa os chamados dons de revelação, abordando a sua operacionali-
IMPRESSA dade à luz do texto bíblico
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P A G A M E N T O - A CPAD n ão m an tém nenhu m
t ip o d e p e s s o a , r e p r e s e n ta n t e o u v e n d e d o r d e
O professor, teólogo, pedagogo e pastor Marcos Tedesco (SC) discorre sobre a
assin atu ras a u io r iz a d o a receb er d iretam en te d o
clien te. O pag a m en to d e assin atu ras d ev e se r fe it o operação e o propósito dos chamados dons de poder
p or m eio d e boletos em agên cias bancárias ou através
d e cartão d e crédito.

O B R E IR O - R eiãsta evan gélica trim estral, criada


em ou tu bro d e 1977, editada pela C asa Pu blicadora
das A ssem bléias d e D eus, é d estin ada á lideran ça 44. ARTIGO
p e n te c o s ta l d e m o d o g e r a l. R e g is tr a d a s o b n.°
007.022.328, con form e Lei d e Im prensa. OS DONS MINISTERIAIS
A correspondência para publicação deve ser endereçada ao
Departamento de Jornalismo e as remessas de valor (pa- O pastor Abiezer Apolinário (RJ), presidente da Comissão Jurídica da Convenção
gam en tode assinatura, publicidade etc.) exclusivamente
à CPAD. A direção é responsável perante a Lei por toda Geral dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembléia de Deus no Brasil (CGA­
matéria publicada. Perante a Igreja, os artigos assinados
são d e responsabilidade d e seus autores, não representan­ DB), fala das características dos dons ministeriais à luz do texto bíblico
do necessariamente a opinião da revista. Assegura-se a
publicação, apenas, das colaborações solicitadas.

Casa Publicadora das Assembléias de Deus


Av. Brasil 34.401, Bangu
C ep 21852-002, R io d e Janeiro, RJ
Teís.: (21) 2 4 0 6 -7 3 7 3 / 2406-7413
F ax: 2406.7370
MENSAGENS

Revista proporciona Periódico com


base teológica para seus conteúdo fidedigno
leitores A revista Obreiro Aprovado é o periódi­
O que torna um obreiro preparado para a co mais sólido de nossa denominação no
obra de Deus? O estudo sistemático das Brasil. Nós sabemos que um dos pontos
Escrituras Sagradas a fim de preparar mais difíceis da fé cristã é o equilíbrio,
membros de Cristo e enviá-los como pes­ e a supramencionada revista tem esse
cadores de almas devidamente equipados escopo. Em suas páginas, encontramos
para não aceitar teorias críticas e destru­ erudição e piedade, teologia e vida. Ao
tivas capazes de minar a fé do ministro. lermos seus conteúdos, recebemos "luz
Esse é um dos objetivos que vejo neste pe­ na mente e fogo no coração".
riódico para a vida de seus leitores.
Pr. G eovane Leite,
P rofa. L eon arda Barros, Barreiras (BA)
C am pina Grande (PB)

Fonte imprescindível
A revista Obreiro Aprovado não é uma revista,
Profundidade em mas, sim, um manual prático que traz um es­
tem as espirituais tudo para o dia a dia para aqueles que querem
viver na Palavra de Deus. É um manuel que é
A leitura da revista Obreiro Aprova­
fonte imprescindível para pastores, ministros do
do é indispensável para todo assem-
evangelho, professores; enfim, todos aqueles que
bleiano que deseja uma leitura mais
vivem e ensinam a verdadeira Palavra de Deus.
profunda sobre temas espirituais
sob a ótica de vários autores pente- Ev. E lias de P au la Ferreira,
costais. Por esse motivo, a Obreiro P oços de C aldas (MG)
Aprovado faz parte de minha leitu­
ra teológica, servindo também como
recurso para ministrações e aulas na
Escola Dominical, sempre com con­
teúdo aprofundado sobre os temas
propostos.
Quer também
Prof. G eisel de Paula, mandar sua mensagem?
G uarulhos (SP) Então escreva para a revista Obreiro Aprovado. Pode
enviar sua mensagem para o email obreiro@cpad.com.
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Esperamos o seu contato!
CARTA A LIDERANÇA PENTECOSTAL

A mensagem
que impacta
o coração
do pecador
onvido o prezado leitor a meditar comigo na mensagem

C de Jeremias 29.11, em que o profeta foi um instrumento


nas mãos de Deus. Parece que a voz emitida de seus lábios
foi a do próprio Criador. A mensagem é esta: "Porque eu
bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor;
pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais".
Todos nós sabemos que Jeremias pertencia a uma linhagem sacer­
PR. JOSÉ WELLINCTON dotal, mas foi por Deus escolhido para servir como profeta e ele
COSTA JUNIOR mesmo registrou essa realidade no primeiro capítulo de seu livro, nos
Presidente da versículos 4 e 5: "Assim veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
Convenção Geral dos Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses
Ministros das Igrejas da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta". O Senhor
Evangélicas Assembléias
lhe disse que havia estabelecido um concerto com ele antes de
de Deus no Brasil
seu nascimento, porque Deus nos conhece antes mesmo de nossa
existência neste mundo. Antes mesmo de nosso nascimento, o Se­
nhor colocou as Suas poderosas mãos na vida de cada um de nós!
As profecias de Jeremias manifestavam alguns propósitos,
sendo que um destes era exortar seus compatriotas a abandonar
a apostasia e a idolatria. O que é apostasia? É a renúncia de uma
Reflita sempre na fé professada antes, é ignorar aquela confiança outrora defendida
pelo indivíduo.
palavra que nos Na verdade, existem algumas situações em que o apóstata não
estimula a manter se considera distante de Deus, e esta é a pior situação enfrentada
por ele: o indivíduo imagina não estar afastado da presença divina,
a comunhão com defende as suas idéias erradas e afirma não precisar se justificar
a ninguém, mas "somente a Deus". Para completar, há outros
Deus intacta a profetas que emitem mensagens do tipo "Fique como estás" e "E
fim de evitar o tudo a mesma coisa".
O profeta Jeremias anunciava a seu povo uma mensagem fi­
embaraço com dedigna com o propósito de conscientizar as pessoas distantes do
o pecado Senhor, levando-as ao arrependimento e a refletir a sua condição
diante de Deus. A Bíblia Sagrada revela que "aquele que confessa e
deixa, alcança misericórdia, mas aquele que encobre transgressões,
não prosperará" (Pv 17.9). Reflita sempre na Palavra que estimula
o ser humano a manter a sua comunhão com Deus intacta a fim
de evitar o embaraço com o pecado.

6
OB RO
ENTREVISTA

Pastor A importância
Álvaro e o propósito
dos dons
Alén espirituais
Sanches para a vida
da Igreja

ara falar sobre os dons

P espirituais, nosso en­


trevistado nesta edi­
ção da revista Obrei­
ro Aprovado é o pastor Álvaro
Alén Sanches, líder da Assem­
bléia de Deus Missão aos Povos
(ADMP), em Uberlândia (MG), e
que exerce também, desde 1998,
a presidência da Convenção dos
Ministros das Assembléias de
Deus do Triângulo Mineiro (Co-
madetrim), além de ser 3o secre­
tário da Convenção Geral dos
Ministros das Igrejas Evangéli­
cas Assembléia de Deus no Brasil
(CGADB). Antes de exercer essas
funções, pastor Álvaro admi­
nistrou várias congregações da
ADMP em Uberlândia e nas cida­
des de Santa Helena e Itumbiara
(GO), onde exerceu a presidência.
Em 26 de dezembro de 1993, ele
assumiu a liderança da Assem­
bléia de Deus em Uberlância,
sucedendo o pastor José Braga da
Silva. O pastor Álvaro credita ao
Senhor o sucesso de seu minis­
tério no interior mineiro. Graças
ao seu esforço em disseminar a
Palavra de Deus no Triângulo
Mineiro, o ele adquiriu o respei- A
to e a credibilidade de seu corpo festação dos dons espirituais
ministerial, da membresia e dos em uma igreja?
demais integrantes da comuni­ Vivemos em um mundo onde
dade, inclusive fortalecendo a centenas de igrejas têm sido víti­
relação da igreja uberlandense mas de muitos males, mas diria
Os dons não
com as autoridades do estado e
município. Em sua gestão, pastor
que os principais são o mundanis- são dados para
mo e o materialismo. Em relação a
Álvaro também tem dado ênfase isso, temos um mal que, de forma promoção de
ao trabalho missionário. Nesta
entrevista, o líder assembleiano
sorrateira, está vindo para entrar
de vez nas igrejas. Falo da inteli­
pessoas. Uma
fala dos dons esírituais e também
sobre a importância do batismo
gência artificial. Hoje é só clicar igreja desprovida
em uma tecla e a mensagem está
no Espírito Santo. pronta. "Sendo assim, para que os
dos dons
Como o senhor define o
dons do Espírito Santo?", alguns espirituais não
podem pensar. Na Europa, robôs
propósito e a importância dos já são consultados em assuntos consegue atingir
dons espirituais para a vida eclesiásticos, missões, escatologia,
da igreja? e com isso o Espírito Santo e Seus
sua finalidade,
Biblicamente falando, os dons dons ficam em segundo plano. que é a salvação
espirituais têm um duplo pro­ Quando uma igreja perde sua re­
pósito: a edificação da igreja e a ferência de santidade, permitindo e a edificação de
capacitação para que executemos que práticas estranhas ao evange­ almas
a tarefa específica que Nosso Se­ lho e à doutrina bíblica entrem em
nhor nos confiou em Sua obra. sua membresia, vemos o fracasso
Os dons são dádivas advindas do espiritual e consequentemente a
Espírito Santo para que sejamos diminuição dos dons espirituais.
úteis no serviço a Deus. Pedro Igrejas que têm relativizado o
fala sobre isso em sua primeira pecado, adotado a famigerada te­
carta, no capítulo 4, versículo 10, ologia liberal ou mesmo aceitado sem ser batizado no Espírito
nos exortando a "administrarmos práticas pecaminosas sob o argu­ Santo, é fato que o batismo
nossos dons como bons despen- mento de serem "inclusivas" es­ no Espírito Santo é a grande
seiros da m ultiform e graça de tão se esvaziando da presença do porta de entrada para os dons
Deus". Os dons não são dados Espírito Santo. Já o materialismo espirituais, pois é através dele
para promoção de pessoas. Logo, tem afetado comunidades inteiras que temos um acesso muito
uma igreja desprovida dos dons cujo foco é o ganho terreno, uma maior aos dons do Espírito.
espirituais não consegue atingir vida plena nas riquezas da Terra, Logo, o senhor acredita que,
a sua finalidade, que é a salvação mesmo que para isso renunciem além dos fatores mais co­
e a edificação de almas, e se com­ à pregação do evangelho de Jesus muns para a diminuição dos
porta como a igreja de Sardes: Cristo. Se uma instituição ama
dons espirituais em uma igre­
tem fama de viva, mas está morta o dinheiro e o poder, ela está se
ja, uma das possíveis causas
(Ap 3.1). Sabemos, sem sombra de adequando à realidade daqui e
para essa diminuição - não a
dúvida, que precisamos lembrar ficando mais longe da expectativa
única, mas uma das - possa
que os dons são vitalis para cada do Céu. A consequência natural
ser tam bém a falta da busca
crente. E preciso termos vestes é a extinção dos dons concedidos
pelo batismo no Espírito San­
brancas, mas que também não fal­ pelo Espírito Santo.
te o óleo do Espírito Santo sobre
to e do entendimento quanto
a nossa cabeça (Ec 9.8). Muitos teólogos pentecos- ao seu propósito para a vida
tais frisam que não obstante do crente?
A que fatores o senhor cre­ seja possível um crente m a­ Com certeza! É importante res­
dita a dim inuição da m ani­ nifestar algum dom espiritual saltar que se nós, como membros
do Corpo de Cristo, também não Espírito. Em Êxodo 31.3 e 35.30,35, Santo em nosso meio. Os dons
buscarmos os dons, eles natural­ vemos a demonstração de talentos são obra do Espírito Santo com
mente tendem a diminuir no seio usados por Deus. Há obras mate­ manifestação sobrenatural tendo
da igreja. Muitas denominações riais, mas dons são a manifestação como finalidade o crescimento do
deixaram de buscar o batismo no direta do Espírito Santo, e para Corpo de Cristo.
Espírito Santo, profecias e outros experimentar isso é preciso ser
dons e vivem um esfriamento por batizado nEle. Hoje, presenciamos Em alguns lugares, não
isso. O apóstolo Paulo deixou re­ grandes eventos, congressos, nos se pode dizer que não há a
gistrado em 1 Coríntios 12 que os quais se investe muito dinheiro e m anifestação dos dons do
crentes devem "buscar com zelo não há uma busca pelo batismo no Espírito, mas, por outro lado,
os melhores dons". O Espírito San­ Espírito Santo e nem conversão de às vezes ocorrem muitos ex­
to é uma pessoa rica em dádivas, almas. É claramente uma inversão cessos, ou seja, “meninices”
não só em relação aos dons, mais da finalidade que temos como e até eventuais abusos. Fale
a muitas e muitas outras coisas igreja na Terra. Atos 2 nos revela sobre a melhor forma de evi­
necessárias para a igreja e o mi­ que os discípulos oraram por mui­ tar esses problemas em uma
nistério, porém a manifestação tos dias reunidos no cenáculo até igreja sem deixar de m anter
de dons sem sermos batizados no que o Espírito de Deus veio sobre o cuidado para não apagar a
Espírito é impossível. O talento eles. Precisamos aprender essa li­ chama do Espírito.
pessoal pode ser útil no Reino de ção e mantermos incessantemente A Bíblia claramente receita o
Deus quando dinamizado pelo a busca pelo batismo no Espírito antídoto para não cairmos nessas A

obS I ro
armadilhas e chama-se discerni­ O dom de maravilhas é o mes­ Muitas pessoas con fun­
mento espiritual. Note que quan­ mo dom de milagres, ou seja, é dem dons m inisteriais com
do Paulo exorta a igreja de Corin- o presente de Deus que permite cargos. Gostaria que o se­
to, ele deixa bem claro que a igreja que o servo do Senhor seja usado
nhor fizesse essa distinção
deveria buscar os dons espirituais, na alteração das leis naturais, fa­
e explicasse a finalidade de
mas não renunciar um culto or­ zendo aquilo que, pela capacida­
cada um dos dons m iniste­
deiro. A Assembléia de Deus foi de humana, é impossível. Como
riais.
fundada em 1911 e tem um lastro milagre, ele é aquilo que escapa
relevante como igreja pentecostal. à ordem natural das coisas, que Os dons ministeriais se dife­
Conhecemos o que é o mover de quebra as leis da ciência. O dom renciam dos outros dons porque
Deus e, justamente por isso, ana­ de maravilhas opera intervenções esses não são dados a quem pede,
lisamos todas essas "inovações" à sobrenaturais. Podemos citar tan­ mas, sim, a quem Deus escolhe.
luz da Bíblia. Supostas "unções", tos exemplos! Os milagres realiza­ Não existe hierarquia entre es­
manifestações incomuns de lín­ dos pelos apóstolos, os sinais que ses dons e eles são dados para
guas estranhas, cultos que mais Moisés realizou quando estava o aperfeiçoam ento dos santos.
se assemelham a cerimônias de no Egito e durante a peregrinação A Bíblia cita quais são os dons
religiões afro etc não encontram pelo deserto, os milagres de Cris­
ministeriais: apóstolos, profetas,
base bíblica alguma e, portanto, to, como a ressurreição de mortos.
evangelistas, pastores e doutores,
devem ser rejeitados. Como evitar Tudo isso são manifestações do
também chamados de mestres.
o contágio desse tipo de atitude dom de maravilhas.
São atribuições vindas da parte
na igreja? Levando o rebanho de
de Deus. Quando Paulo escreve
Cristo a estudar a Bíblia, a me­ Qual a distinção entre o
dom de palavra de sabedoria sobre esses dons em Efésios 4.11,
ditar na Palavra de Deus. Nossa
e o dom de palavra de conhe­ repare que ele diz que "Ele mes­
bússola norteadora é a Escritura
Sagrada. Por ela nos protegemos cimento? Cite exemplos bí­ mo deus uns para apóstolos (...)",
daqueles que querem distorcer a blicos da manifestação deles isto é, não foi algo que pedimos,
obra e o mover do Espírito Santo. para aclarar a distinção mas foi um ato discricionário
Tenho visto que essa modalidade A palavra de sabedoria é uma de Deus. Já cargos são atribui­
mística, com apresentações mu­ transmissão do próprio Deus atra­ ções que homens recebem para
sicais com excesso de dança ou vés do homem. Não está ligada à executar atividades técnicas ou
com pregadores com gesticula- quantidade de conhecimento teo­ de apoio na igreja, sem nenhum
ções espalhafatosas pregando nas lógico ou técnico que uma pessoa vínculo ministerial e obedecem a
mídias, não faz parte das igrejas tem, mas à sua capacidade de rece­ uma estrutura hierárquica. Pode­
ligadas à Convenção Geral das ber a sabedoria do Alto para tomar mos citar secretários, tesoureiros,
Igrejas Evangélicas Assembléia de decisões e trazer aconselhamento. líderes de departamentos, regen­
Deus no Brasil (CGADB), porque Um exemplo clássico que temos tes etc. Qualquer pessoa que te­
nossas lideranças se preocupam na Bíblia é o caso de Salomão. No nha as características necessárias
com a ordem na liturgia, promo­ evento em que ele julgava duas
para o bom desempenho dessas
vem sem inários e valorizam a mães que disputavam o filho de
ordenanças pode ser indicada ao
Escola Dominical pensando na uma delas, Salomão age imbuído
cargo. Outra diferença é que os
geração de obreiros novos e, mais da sabedoria do próprio Deus. Já a
dons ministeriais não deixam o
ainda, na apresentação de pastores palavra de conhecimento é aquilo
idôneos, de homens que tenham o que popularmente chamamos de homem porque, sob certa pers­
dom de discernimento. revelação. Quando Deus revela a pectiva, o dom é o homem. A não
um de seus servos algo oculto ou ser, claro, que ele caia em pecado,
Como o senhor descreve o um evento futuro por meio de so­ afastando-se, assim, do propósito
dom de operação de maravi­ nhos, visões ou alguma revelação de Deus para a sua vida. Já cargos
lhas, mencionado por Paulo, especial, vemos o manifestar da possuem um tempo de mandato
e a sua importância? palavra de conhecimento. ou execução. B
TENHAO CONHECIMENTO
PERFEITO DA LÍNGUA
PORTUGUESA PARA
PREGAR E ENSINAR
COM EXCELÊNCIA

Em diversas passagens, a Bíblia ensina que o cristão


deve fa ze r q u a lq u e r ta re fa com zelo e excelência.
Esta ve rd a d e não é m enor ao fa la rm o s do estudo
e tra n sm issã o das E scrituras Sagradas.

MANUAL DE N esta obra, o p ro fe s s o r de Língua P o rtu g u e sa e

LÍNGUA PORTUGUESA Literatura, Mareio Estevan, lhe levará a um mergulho


ao m undo das p a la vra s. F ornecend o conceitos
P A R A OBREIROS CRISTÃOS
b á s ic o s de g ra m á tic a , a b ra n g e n d o fo n o lo g ia ,
m orfologia, sintaxe e sem ântica, além da citação
de diversos versículos, o Manual de Língua Portuguesa para
Obreiros Cristãos a b re um cam inho p a ra um a m a io r
com preensão da P alavra de Deus, e ajuda
na busca d a excelência no e s tu d o e tra n s m is s ã o

d e e n s in a m e n to s b íb lico s.

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E lin a ld o Renovazo de L im a

Os Dons
uando os discípu- caram em orações e súplicas, jun­
i los conviviam com tamente com algumas mulheres
Cristo, tinham a se­ seguidoras de Cristo (At 1.13.14),
E lina ldo R e no vato de Lim a é pastor, até que a "promessa do Pai" se
gurança de Sua pre-
líder da A sse m b lé ia de D eus e m
sença de Seu apoio direto tornou realidade.
P a rn a m irim (RN), c o m e n ta ris ta de
Lições B íb lic a s de Escola D o m in ic a l
e de suas orações poderosas em
seu favor. No entanto, quando Antes do Pentecostes
da CPAD, g ra d u a d o e m T eologia e
m e s tre e m C iência da Religião perceberam que estavam pres­ O judaísmo e as seitas que pro­
tes a ver Sua partida de volta aos liferaram no período interbíblico,
céus, ficaram um tanto atemori­ durante cerca de quatrocentos
zados. Mesmo depois de terem anos, levaram o povo de Israel a
um estado de letargia espiritual.
A manifestação feito o mais completo e perfeito
curso de evangelização e missões Os fariseus, os saduceus, os essê-
divina não tem aos pés do Mestre Jesus, eles se nios e outros grupos religiosos
sentiam inseguros para cumprir daquela época tinham uma men­
data de validade; o mandato de Cristo. sagem vazia, às vezes radicalista,
nenhuma Mas, Jesus, ao se despedir dos cheia de hipocrisia e desfaçatez.
discípulos, antes de Sua ascensão, Além disso, grande parte dos líde­
passagem bíblica lhes determinou que não saíssem res desses grupos, com apoio dos
dá a entender a pregar "em todas as nações" sacerdotes judeus, perseguiam a
antes do recebimento do indispen­ Igreja nascente. Se esta não tivesse
que os dons sável poder do alto: "Eis que sobre poder e não experimentasse o avi-
espirituais foram vós envio a promessa de meu Pai: vamento do Espírito Santo, jamais
Ficai, porém, na cidade de Jerusa­ teria sobrevivido.
destinados lém, até que do alto sejais revestidos Jesus trouxe um novo tempo
apenas à Igreja de poder" (Lc 24.49). Ainda que es­ para o povo de Israel e para o
mundo. Infelizmente, a maioria
tivessem inseguros, os discípulos
do primeiro poderíam começar sua missão a dos homens não compreendeu a
mensagem dEle. Nesse contexto,
século partir de Jerusalém. Jesus assegu­
Jesus determinou que os discí­
rou que eles seriam batizados com
o Espírito Santo: "E, estando com pulos teriam que esperar "a pro­
eles, determinou-lhes que não se messa do Pai", prevista por Joel (J1
ausentassem de Jerusalém, mas 2.28,29), de um derramamento do
que esperassem a promessa do Pai, seu Espírito "sobre toda carne",
que (disse ele) de mim ouvistes. ou seja, sobre toda a humanidade.
Porque, na verdade, João batizou Esse avivamento chegou no Dia
com água, mas vós sereis batizados de Pentecostes, quando o Espíri­
com o Espírito Santo, não muito de­ to Santo desceu sobre os que se
pois destes dias" (At 1.4-5 - grifo achavam no Cenáculo orando
acrescido). a Deus, na expectativa do que
Eles obedeceram a Jesus e se aconteceria à Igreja após a volta
reuniram no Cenáculo, onde fi­ de Jesus aos céus.
são para Hoje
A descida do
Espírito Santo
Se com a presença de Jesus os
discípulos já haviam experimenta­
do as evidências do poder de Deus
em suas vidas, a ponto de verem
curas, milagres e prodígios, e os
demônios expulsos no Nome de
Jesus, depois do batismo com o
Espírito Santo, registrado em Atos
2, houve uma verdadeira revolução
espiritual no meio dos seguidores
de Jesus. Na ocasião, houve sinais
sobrenaturais de que o novo tempo
havia chegado: "Cumprindo-se o
dia de Pentecostes, estavam todos
reunidos no mesmo lugar; e, de
repente, veio do céu um som, como
de um vento veemente e impetu­
oso, e encheu toda a casa em que
estavam assentados. E foram vistas
por eles línguas repartidas, como
que de fogo, as quais pousaram
sobre cada um deles. E todos foram
cheios do Espírito Santo e come­
çaram a falar em outras línguas,
conforme o Espírito Santo lhes
concedia que falassem" (At 2.1-4).
Dali em diante, aquele movi­
mento espiritual, de dimensão
jamais vista, deveria ser a marca
impactante dos que faziam a Igreja
de Jesus. No Novo Testamento,
não existe a palavra "avivamento",
mas vemos que, em todos os dias
da Igreja Primitiva, o que identifi­
cava os cristãos era um viver fiel,
santo e dedicado a Deus, num cli­
ma de avivamento espiritual cons­
tante. Nos Atos dos Apóstolos, o
avivamento teve início, mas não

A
13
parou nos primeiros dias, como sinais manifestados a partir do do batismo com línguas estranhas
entendem irmãos cessassionistas, Dia de Pentecostes, foram “ape­ não era uma mensagem qualquer,
ligados principalmente a igrejas nas para aqueles dias", para os de natureza religiosa, filosófica ou
reformadas. Pelo contrário, pros­ dias apostólicos; e seguindo seus retórica e passageira. Era, na ver­
seguiu na Igreja neotestamentária teólogos e intérpretes da Bíblia, dade, a mensagem de Deus para
e continua até os dias de hoje, no acrescentam ainda que o batismo os judeus, para a Igreja e para o
meio dos crentes que aceitaram a com o Espírito Santo é a própria mundo. Assim, nós, pentecostais,
Cristo como seu Salvador e bus­ conversão. De acordo com a Bíblia, somos continuístas. Aceitamos
cam uma vida de mais íntima tal afirmação não corresponde à que o batism o com o Espírito
comunhão com Ele. Meditemos realidade dos fatos narrados no Santo, com evidência do falar em
nesse importante assunto do avi- Novo Testamento. línguas estranhas, e os dons espi­
vamento na vida da Igreja. “Os que se encontravam no rituais, são para todos os tempos,
Cenáculo, todos os dias, orando desde que a Igreja foi inaugurada
Os dons do Espírito Santo e esperando 'a promessa do Pai', no Dia de Pentecostes" (LIMA,
são para hoje não eram descrentes; muito pelo 2023, p 52).
contrário, eram salvos, fiéis seguido­
1. O engano dos cessassio­res de Jesus. Participaram de seu 2. O Batismo com o Espírito
nistas - Cessacionistas creem e ministério durante cerca de três Santo é para todos os salvos - Os
afirmam que o batismo com o anos e continuaram crendo, en­ primeiros a receberem essa mani­
Espírito Santo, com sinais eviden­ sinando seu evangelho, que eram festação sobrenatural do Espírito
tes de línguas estranhas aos que "boas novas" de poder, de unção Santo, com sinais evidentes, in­
o recebiam, bem como os outros e evidências de que o fenômeno cluindo o falar em línguas estra-

14
OB REI RO
nhas (para eles, os que falavam), e Maria, mãe de Jesus, e com seus tando que essa "promessa do Pai"
foram os discípulos, que se reu­ irmãos" (At 1.13,14). era o batismo com o Espírito Santo.
niam no Cenáculo. Antes dessa Era grande a expectativa da­ Com a descida do Espírito
experiência, eles foram levados até queles irmãos, discípulos de Jesus, Santo sobre os discípulos no Ce­
Betânia, onde Jesus os abençoou sobre o que aconteceria depois da náculo, em Jerusalém, em Atos 2,
e voltou para o Céu (Lc 24.50,51); volta de Jesus aos céus, mas eles houve grande alvoroço, pois era
em seguida, depois da ascensão se lembravam da promessa que o comemorado o Dia de Pentecostes,
de Jesus, eles voltaram de Betânia Senhor lhes fizera, em suas últi­ a segunda maior festa dos judeus,
para Jerusalém, os onze discípulos mas instruções, antes de ir para o depois da Páscoa. Então. Pedro
e também "as mulheres", os quais Calvário, quando lhes prometeu o levantou-se e fez um discurso ex­
foram para o Cenáculo, onde per- envio do Consolador. "E eu rogarei plicando a todos o que significava
severavam em oração, esperando ao Pai, e ele vos dará outro Con­ aquele movimento espiritual, ou
o cumprimento da "promessa do solador, para que fique convosco melhor, aquele avivamento espiri­
Pai": "E, entrando, subiram ao ce­ para sempre" (Jo 14.16). Essa pro­ tual, dizendo: "Mas isto é o que
náculo, onde habitavam Pedro e messa Ele repetiu nos momentos foi dito pelo profeta Joel: E nos
Tiago, João e André, Filipe e Tomé, próximos à Sua ascensão: "E eis últimos dias acontecerá, diz Deus,
Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho que sobre vós envio a promessa que do meu Espírito derramarei
de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, de meu Pai; ficai, porém, na cidade sobre toda a carne; e os vossos
filho de Tiago. Todos estes perse- de Jerusalém, até que do alto sejais filhos e as vossas filhas profetiza­
veravam unanimemente em ora­ revestidos de poder" (Lc 24.49). Ela rão, os vossos jovens terão visões,
ção e súplicas, com as mulheres, foi reiterada em Atos 1.5, explici­ e os vossos velhos sonharão so- Á
nhos; e também do meu Espírito longe: a tantos quantos Deus, nos­ cida dos principados e potestades
derramarei sobre os meus servos so Senhor, chamar" (At 2.38,39). nos céus" (Ef 3.10). Esta é uma das
e minhas servas, naqueles dias, e Nesse trecho do discurso de elevadíssimas missões da igreja
profetizarão" (At 2.16-18). Pedro, ele deixou bem claro que o nos dias atuais, como em todos os
As palavras de Pedro, em seu batismo com o Espírito Santo, com tempos: além de ser portadora da
discurso inflamado sobre o ba­ sinais evidentes do falar línguas, mensagem de salvação na Terra,
tismo com o Espírito Santo, cau­ não seria só para aqueles que se deve ser portadora do conhecimen­
saram grande avivamento entre encontravam no Cenáculo no Dia to e da sabedoria divina até mesmo
os que ali estavam, a ponto de, de Pentecostes. Ele declarou com perante os principados e potesta­
compungidos, indagarem: "Que toda a clareza que a promessa era des espirituais. Essa sabedoria é
faremos, varões irmãos?". Vejamos "para vós", os judeus a quem ele tão profunda que Paulo teve de
a resposta de Pedro, de modo di­ se dirigia"; "a vossos filhos", ou exclamar de modo eloquente: "O
reto, incisivo e contundente, que seja, aos descendentes dos judeus profundidade das riquezas, tanto
não deixa a menor dúvida sobre o convertidos; "e a todos os que es­ da sabedoria, como da ciência de
significado e o alcance do batismo tão longe" (os judeus convertidos Deus! Quão insondáveis são os
com o Espírito Santo, "a promessa e dispersos); e o mais importan­ seus juízos, e quão inescrutáveis,
do Pai", "o dom do Espírito Santo": te: "a tantos quanto Deus, nosso os seus caminhos!" (Rm 11.13).
"E disse-lhes Pedro: Arrependei- Senhor, chamar". Ou seja, é para Diante de tão grande sabedo­
-vos, e cada um de vós seja batiza­ todos os salvos. ria, a ser conhecida na esfera celes­
do em nome de Jesus Cristo para tial e na esfera dos homens, Deus
perdão dos pecados, e recebereis 3. A necessidade premente dosquis propiciar à igreja o acesso a
o dom do Espírito Santo. Porque a dons nos dias atuais - Deus quer recursos espirituais, tanto para
promessa vos diz respeito a vós, a "que, agora, pela igreja, a multifor- conhecer a ciência de Deus quanto
vossos filhos e a todos os que estão me sabedoria de Deus seja conhe­ para demonstrar o Seu poder no
meio dos homens. Se não fossem diversidade de dons espirituais, todos eles". Esse autor acrescenta
os dons espirituais nos dias de para que, de modo equilibrado, os que os diversos m inistérios ou
hoje, a Igreja seria apenas uma crentes pudessem compreender e serviços (gr. diakoniõn) têm sua
instituição meramente humana, atuar na esfera da vida espiritual" fonte no "único Senhor Jesus e os
uma "associação religiosa sem (LIMA, 2014, p. 25). tipos de operações e atividades
fins econômicos", por exigência Dessa forma, Paulo registra (gr. energematõn) vêm do único
legal. Assim, Deus capacitou a que há nove tipos de dons (não Deus, que opera efetivamente em
igreja, como organismo espiritual nove dons). Numa igreja bem edi- todos eles e em todos os crentes".
por excelência, com característi­ ficada, os dons são abundantes. (HORTON, 2003, p. 112).
cas e recursos que transcendem a Há palavra de sabedoria, ciência Os dons esp iritu ais fazem
esfera humana. Diz Paulo, acerca de Deus, existe a fé; há os dons de parte do mais poderoso arsenal à
desses recursos e manifestações curar, que são variados; há opera­ disposição da Igreja nos dias de hoje
espirituais: "Ora, há diversidade ção de maravilhas; há profecia au­ para cumprir sua missão, num
de dons, mas o Espírito é o mesmo. têntica e não "profetadas", porque mundo dominado pela increduli­
E há diversidade de ministérios, há "dom de discernir os espíritos"; dade e pela oposição cerrada con­
mas o Senhor é o mesmo. E há e também há línguas e interpre­ tra os seguidores de Jesus Cristo.
diversidade de operações, mas é tação de línguas (cf. 1 Co 12.7-10). Na realidade, dons, ministérios e
o mesmo Deus que opera tudo Horton diz que "o Espírito operações (1 Co 12.4-6) formam
em todos" (1 Co 12.4-6). "A 'multi- Santo quer honrar Jesus, não só o arsenal espiritual que equipa
forme sabedoria de Deus' nunca chamando-o de Senhor, mas dis­ a igreja para o cumprimento de
poderia ser demonstrada através tribuindo uma 'diversidade' (di­ sua missão ante as forças que se
de um só dom. A mente humana ferentes tipos) de dons espirituais opõem a ela. O que seria da igreja
jamais abarcaria a grandeza e a (gr. charismata, dons da graça li­ se não houvesse esses recursos so­
profundidade do saber divino. As­ vremente dados; cf. charis, 'graça'). brenaturais? Certamente, já teria
sim, quis Deus que houvesse uma O único Espírito Santo é a fonte de desaparecido da face da terra há A

17
OB REIRO
REFERÊNCIAS
NORTON, Stanley M. I e II Coríntios - os problemas da igreja esuas soluções. Rio de Janeiro, CPAD, 2003.
LIMA, Elinaldo Renovato de. Dons Espirituais e Ministeriais. Riode Janeiro, CPAD, 2014.
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ Aviva a Tua Obra. Rio de Janeiro, CPAD 2023.

muito tempo. Mas, como Corpo e Samaria e até aos confins da amor, e procurai com zelo os dons
de Cristo, ela é indestrutível. Per­ terra" (At 1.8). Não há um só ver­ espirituais, mas principalmente o
seguida, sofrida, ameaçada, mas sículo no Novo Testamento que de profetizar" (1 Co 14.1).
vitoriosa! Todos os impérios que indique ou sugira que os dons A luz da Palavra de Deus, não
se levantaram contra ela já su­ espirituais foram "apenas para há dúvidas de que os dons espiri­
cumbiram. E os que ainda existem os dias apostólicos". Já pedimos tuais, demonstrados no Novo Tes­
também hão de ser aniquilados. a alguns cessassionistas que mos­ tamento, são para os dias de hoje.
"As portas do inferno não preva­ trassem uma só referência bíblica A ausência de manifestação dos
lecerão contra ela" (Mt 16.18). sobre essa afirmação equivocada dons espirituais em grande parte
Negar a atualidade dos dons e nenhum deles nos apontou. das igrejas, inclusive em igrejas
espirituais, como consequência Apenas se baseiam nos "evange­ pentecostais, é consequência do
natural do batismo com o Espírito lhos" segundo seus teólogos. comodismo que tem tomado conta
Santo é negar a essência do poder A palavra de Deus exorta: de muitos ministérios pelo Brasil
de Deus, prometido por Cristo à "Assim, também vós, como de­ afora. Pregações modernistas to­
Sua Igreja. Após prometer que sejais dons espirituais, procurai mam o lugar da mensagem cris-
Seus seguidores seriam batiza­ sobejar neles, para a edificação da tocêntrica, na unção do Espírito
dos com o Espírito Santo pouco igreja" (1 Co 14.12). É preciso que Santo. Estamos observando que
tempo depois, Ele proclamou de os crentes desejam e procurem os muitas igrejas pentecostais estão
modo eloquente e claro: "M as dons espirituais. A maioria não se "despentecostalizando". Que
recebereis a virtude do Espírito busca. "Portanto, procurai com Deus nos ajude a entender que
Santo, que há de vir sobre vós; e zelo os melhores dons; e eu vos sem os dons espirituais nos dias
ser-me-eis testemunhas tanto em mostrarei um caminho ainda mais de hoje, igrejas se tornarão apenas
Jerusalém como em toda a Judeia excelente" (1 Co 12.31). "Segui o "museus do pentecostalismo". I

A
i y'

PENTECOSTAL SOBRE
ATOS DOS APÓSTOLOS

Para os historiadores interessados no cristianismo


primitivo depois de Jesus, Atos é a única fonte
0*0 disponível. Fruto de uma pesquisa de mais de vinte
anos e sete de redação, o altamente respeitado
estudioso do Novo Testamento Craig S. Keener
escreveu um dos maiores e mais documentados
comentários de Atos já escrito.

Com forte ênfase no contexto social e histórico,


VOLUME 1 este trabalho coloca Atos sob a perspectiva do
primeiro século, com foco no que o texto bíblico
^>xo VOLUME 1 significava para seus primeiros leitores.

Neste primeiro volume de uma série de quatro, Keener


COMENTÁRIO nos apresenta uma extensa e relevante introdução
0 3 1
EXEGÉTICO bem como os comentários pormenorizados de
Atos 1.1 até 2.47.

55'»' a 2.47 ATOS INTRODUÇÃO


Principais características;
•Leitura sócio-histórica, exegética e teológica de Atos;
•Comentários versículo por versículo;
e C A P S , 1.1 a 2.47 •Se utiliza tanto de estudos mais atuais quanto de
materiais de fonte primária e secundária.

Sobre o autor:

CRAIG s. KEENER Craig S. Keener, um dos maiores teólogos pente-


costais da atualidade, é Ph.D. pela Duke University
é F. M, e Professor de Estudos Bíblicos no Asbury
Theological Seminary.

■K ^ ^ » ^ 1-238

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0800-021-7373 Livrarias CPAD ersiste


0 ® if
g ) (021) 2406-7373 o§oo em
Ler CB4D
Jo n a s J u n io r M en de s

Dons d
uando lemos no ori­ Propósito dos dons

Q
Jo n a s J u n io r M e n d e s é e va n g e lis ta , ginal grego o após­
Os dons são capacidades es­
m e m b ro d o C o n se lh o de E du caçã o tolo Paulo dizendo,
pirituais concedidas por Deus a
e C u ltu ra das A s s e m b lé ia s de Deus na passagem de 1
d e C uiabá e Região; g ra d u a d o em
nós com o propósito de edificar
.1, "acerca dos dons
T eolog ia, c o m p ó s -g ra d u a ç ã o em a igreja para a realização de sua
espirituais", não aparece no texto
T e olog ia d o N ovo T e sta m e n to ; missão evangelizadora no mundo.
grego a expressão "dons". Sendo
lic e n c ia d o e m F ilo so fia e Os dons são "concedidos gratuita­
P e d a g o g ia c o m m e s tra d o em
assim, uma tradução possível mente, pela vontade soberana do
F ilo sofia pela UFMT; e p ro fe sso r de seria; "acerca dos espirituais". Espírito, com o fim de fortalecer
T eolog ia na F a cu ld a d e FEICS e de O plural genitivo TrveupaxiKCÕv a igreja como organismo vivo"
F ilo sofia na F a cu ld a d e FASIPE. (pneumatikon) pode ser neutro (2011, p. 36). Eles são a manifestação
ou masculino. Caso seja mas­ pública de Deus entre o Seu povo
culino, a discussão subsequente (2016, p. 15). Os dons não tomam o
de Paulo se concentra naqueles lugar da Bíblia na igreja (2020, p.
Os dons de que se consideram espirituais, 202), mas são importantes para a
"os espirituais". Caso seja neu­
elocução tro, então a discussão do apósto­
mesma. Rejeitar os dons, é, de certo
modo, dar as costas a Deus.
comunicam os lo Paulo se concentra nas coisas
que dizem respeito ao Espírito,
sentimentos como os dons (2018, p. 161). O Classificação dos
divinos ao Seu adjetivo 7iv£upaxixóç, tradicio­ dons espirituais
nalmente traduzido por "espi­ "Os dons espirituais são vá­
povo enquanto ritual", refere-se à atividade/ rios, e nenhuma lista deles no
este estiver presença do Espírito Santo. A Novo Testamento pretende ser
melhor tradução para o termo exaustiva (...)" (2017, p. 172). Ou
neste mundo talvez seja "as coisas do Espí­ seja, as listas de dons apresenta­
rito", que seria basicamente das são exemplificativas; sendo
"referência às manifestações assim, a classificação pauta-se
do Espírito, da perspectiva da em propósitos didáticos. Os dons
capacitação pelo Espírito; ao apresentados por Paulo podem
mesmo tempo, apontaria para ser classificad o s da segu in te
aqueles que são assim capacita­ maneira:
dos" (2019, p. 719-728). Como a
expressão TtveupaiLKÓç (pneu- a) Aqueles que concedem po­
matikós) indica "aquilo que per­ der para saber sobrenaturalmente:
tence ao espirito", ou até mesmo palavra de sabedoria, palavra de
"dons, coisas espirituais" (1995, conhecimento e discernimento;
p. 316), conclui-se que não há b) Aqueles que concedem po­
nenhum problema na tradução der para agir sobrenaturalmente;
"dons espirituais". fé, milagres e curas;

20
OB REIRO
c) Aqueles que concedem po­
der para falar sobrenaturalmente:
profecia, línguas e interpretação
(2009, p. 320).
Ou podem os classificá-lo s
também como Dons de Revela­
ção, Dons de Poder e Dons de
Elocução/Expressão, conforme
u tilizad o por Severino Pedro
(1996) e Elienai Cabral (2011). Os
dons de revelação expressam os
pensamentos de Deus e também
podem ser chamados de "dons de
sabedoria" ou de "inspiração". Os
dons de poder manifestam Sua
onipotência e grandeza. Os dons
de elocução/expressão comuni­
cam os sentimentos do coração de
Deus (1996, p. 112).
Veremos a seguir os dons co­
nhecidos como "Dons de Elocução".

Profecia
Profecia é uma expressão ver­
bal, espontânea, inteligível, que
normalmente ocorre na assem­
bléia dos crentes (2006, p. 1013).
Profecia não pode ser reduzida
à pregação, como alguns fazem.
Craig S. Keener mostra isso, ao
dizer que "no sentido bíblico, a
profecia com um ente depende
de inspiração momentânea tanto
quanto o dom de línguas. Não é
apenas 'pregação'(...)" (2018, p. 116).
Severino Pedro destaca três aspec­
tos da profecia: sua origem, valor
e finalidade (1996, p. 112). Veremos
brevemente esses três aspectos.
A
21
OB REI RO
1) Origem da profecia - Ao beu, mas não é a fonte da mensa­ dantes aprendidas pelos locutores,
tratar da profecia, o apóstolo Paulo gem, pois ela procede de Deus. e é frequentemente chamado de
diz: "E falem dois ou três profe­ 2) O valor da profecia - A pro­ "glossolália" (2016, p. 1014). Antes de
tas, e os outros julguem. Mas, se fecia é extremamente importante, vermos a posição de Paulo sobre o
a outro, que estiver assentado, for pois foi umas formas escolhidas dom de línguas, é bom termos em
revelada alguma coisa, cale-se o por Deus para se revelar a nós, e mente alguns aspectos da posição
primeiro. (1 Co 14:29,30). Isso mos­ também para falar conosco. Paulo de Lucas sobre o assunto.
tra que a origem da verdadeira disse: "Procurai com zelo os dons 1) Línguas em Atos dos Após­
profecia é divina, pois é "revela­ espirituais, mas principalmente tolos - Em Atos, "o falar em lín­
da". Wayne Grudem destaca que: o de profetizar" (ICo 14.1). Paulo guas é como um tipo especial de
a) A revelação vem espontane­ também orientou a igreja de Tessa- discurso profético" (2019, p. 41).
amente, pois acontecia enquanto lônica a não "extinguir o Espírito", Lucas mostra que a igreja é "a co­
o primeiro profeta ainda falava. a "não desprezar as profecias" e a munidade de profetas dos últimos
Não se trata de um estudo ou um "examinar tudo" e "reter o bem" dias", que foi batizada e empode-
sermão previamente preparado, (lTs 5.19-21). Sobre esta última rada pelo Espírito (2018, 115-142).
mas de algo inspirado pelo Espí­ passagem paulina, Sam Storms A delegação do Espirito Santo
rito Santo de Deus. destaca que a atividade do Espírito de Jesus aos discípulos no Dia de
b) A revelação vem a um in­ de transmitir visão reveladora da Pentecostes espelha a antiga dele­
divíduo específico, a alguém que vontade de Deus é comparada por gação do Espírito Santo de Moisés
está sentado, e não à congregação Paulo a um fogo que não devemos aos anciãos (At 2.15ss; Nm 11.25).
inteira. apagar com a água do ceticismo, da Além disso, do mesmo modo que
c) A revelação (apokalypsis) é de religiosidade ou do medo. Mas, em a profecia é o sinal por excelência
Deus, tem origem divina e não hu­ vez de apagar o Espírito Santo ou da delegação do Espírito no Antigo
mana, pois sempre que a palavra desprezar as profecias, devemos Testamento, no Dia de Pentecostes,
"revelação" é usada no Novo Tes­ examinar tudo (2016, p. 129). são o falar em línguas e o profeti­
tamento, ela se refere à atividade 3) A finalidade da profecia - zar (At 2.4,17) (2020,222). Em Atos,
de Deus, de Cristo ou do Espírito Paulo destaca que a profecia tem as línguas são apresentadas como
Santo (2020, p. 93-94). algum as finalidades: edificar, evidência inicial do batismo no
exortar e consolar (ICo 14.3). A Espírito Santo, pois dos quatro
Fica, portanto, evidente que, profecia é maior que o dom de lín­ relatos da descida do Espírito, três
para Paulo, a origem da profecia guas, quando não há interpretação, explicitamente citam a glossolalia
é divina e que todos podem ser porque "o que profetiza edifica a como seu resultado imediato (At
usados, mas cada um por sua vez, igreja" (ICo 14.4) e o que fala em 2.4; 10.44-46; 19.6), e o outro insinua
respeitando o princípio da ordem línguas sem interpretação edifica isso fortemente (At 8.14-19). Elas re­
no culto. Paulo diz ainda que "os a si próprio. Exatamente por isso, presentam "falas proféticas emiti­
espíritos dos profetas estão su­ o dom de profecia é superior. "E das pelos mensageiros de Deus dos
jeitos aos profetas" (ICo 14.32). eu quero que todos vós faleis em tempos do fim". Na visão de Lucas,
Segundo Gordon Fee, a expressão línguas", diz Paulo, "mas muito todo membro da igreja é chamado
"espírito dos profetas" significa mais que profetizeis; porque o que (Lc 24.45-49; At 1.4-8/ Is 49.6) a rece­
"o Espirito profético" pelo qual profetiza é maior do que o que fala ber poder (At 2.17-21; cf. 4.31) para
cada um deles fala por meio do em línguas, a não ser que também profetizar (2019, p. 42-59), ou seja,
seu espírito. Ou seja, a ideia é que interprete para que a igreja receba todo crente pode manifestar esse
as falas estão sujeitas a quem fala edificação" (ICo 14.5). dom espiritual. Lucas apresenta o
no que diz respeito ao momento falar em línguas (glossolalia) como
em que isso acontece, e o conteúdo um sinal poderoso e edificante:
é entendido como o produto do Dom de línguas um sinal que nos lembra de nosso
Espírito Divino que inspira tais "E a outro a variedade de lín­ chamado como profetas do tempo
falas (2019, p. 880). Sendo assim, guas" (1 Co 12.10). A "variedade de do fim e que testemunha a majes­
o profeta escolhe quando e como línguas" se refere ao dom de falar tade e o status glorificado de Jesus
transmitir a mensagem que rece­ em línguas desconhecidas e nunca (2019, p. 146).

A A
1
1/
1 Ê m ]

2) Línguas em Paulo - Paulo, (ICo 14:18,19). Paulo mostra que de línguas no geral, mas apenas
diferentemente de Lucas, está tra­ "no culto, nem todos são chama­ do seu uso sem interpretação na
tando de um problema específico dos para fazer uma verbalização assembléia pública (2016, p. 159).
na igreja de Corínto. Ao que tudo pública em línguas" (2011, p. 81), Silas Daniel destaca que "o pro­
indica, alguns dos coríntios pare­ quando diz: "Falam todos diversas pósito de Paulo nesses versícu­
cem ter visto as línguas como uma línguas?" (1 Co 12.30). Ele não está los é tratar da ordem no uso das
expressão de um nível superior de proibindo o uso das línguas, pois línguas no culto público e não da
espiritualidade. Assim, valoriza­ ele mesmo disse: "Eu quero que proibição de se falar em línguas
vam as línguas acima de outros todos vós faleis em línguas" (1 Co no culto público" (2020, p. 289).
dons e, no contexto das reuniões 14:5). E "não proibais falar línguas" Obviamente Paulo não está pro­
institucionais, seu elitismo espi­ (ICo 14:39); e até disse que no culto pondo a abolição das línguas na
ritual frequentemente encontrava "tem língua, tem interpretação" reunião, mas apenas mostrando
expressão em explosões ininteligí­ (1 Co 14.26). Portanto, Paulo não que deve haver um predomínio
veis que interrompiam as reuniões estava restringindo todo o uso do discurso inteligível para a edi­
e não edificavam a igreja (2019, p. das línguas, mas apenas um uso ficação de todos na assembléia. A
147). Paulo mostra que as línguas equivocado das línguas no culto preocupação de Paulo não é "com
são importantes, pois o próprio público. Paulo não exclui o falar o falar em línguas em si no culto,
Paulo falava em línguas mais do em línguas em um nível pessoal mas com o espaço exagerado que
que todos (ICo 14.18) e desejava que e discreto no culto ("...fale consigo as línguas estavam ganhando na
todos falassem em línguas (ICo mesmo e com Deus", ICo 14.28), adoração pública, perturbando a
14.5). Mas, no contexto do culto além de se referir à função autoedi- ordem do culto e tomando o lu­
público, onde o objetivo é a edifi­ ficadora do falar em línguas. Pode gar das mensagens inteligíveis:
cação do corpo, ele diz: "Todavia haver línguas no culto, desde que cântico, pregação e orações (1 Co
eu antes quero falar na igreja cinco não interfiram na ordem do culto, 14.6-11,16,19)" (2020, p. 289). Fica
palavras na minha própria inte­ a não ser que haja interpretação. evidente que as línguas, assim
ligência, para que possa também Como podemos ver pelo con­ como a profecia, estão disponíveis
instruir os outros, do que dez mil texto de 1 Coríntios 14, Paulo não a todos da comunidade dos cren­
palavras em língua desconhecida" está falando sobre o papel do dom tes, todos podem falar em línguas, A
e até devem buscar isso (2011, p. orarei com o entendimento", ou não está afirmando que só pode
81), mas de forma a resguardar o seja, as duas coisas. Paulo não abriu ter línguas no culto se houver in­
princípio da ordem no culto. mão da experiência de orar em terpretação. O que ele diz, segun­
Concluindo, Paulo mostra que línguas, mas buscou o equilíbrio do Silas Daniel (2020, p. 290), é que
as línguas são importantes e aju­ para que o entendimento não ficas­ se "uma pessoa fala em línguas na
dam na edificação pessoal. Ele não se sem fruto. "Claramente, Paulo congregação de forma a chamar
permite a proibição das línguas, acreditava que uma experiência a atenção para si, proferindo lín­
e deseja que todos falem em lín­ espiritual além do alcance da sua guas ressonantemente, como uma
guas, mas também deseja que no mente ainda era profundamente intervenção na ordem do culto",
culto público haja interpretação proveitosa. Paulo acreditava não então tem de haver interpretação.
para que todos sejam edificados. ser absolutamente necessária uma Se alguém fala em línguas discre­
Paulo mostra que o "dom de lín­ experiência ser racionalm ente tamente, "em momentos de louvor
guas" está disponível a todos, cognitiva para ser espiritualmente e adoração congregacionais, sem
assim como Lucas, mas, diferen­ benéfica e glorificar a Deus" (2016, perturbar a ordem do culto", e
temente de Lucas, não aborda a p. 154). "sem chamar a atenção para si"
questão da evidência inicial, pois
então não se faz necessário o uso
não era o seu propósito.
Interpretação de línguas de intérpretes. Fica evidente que
3) Oração em línguas - A ora­
Paulo não pretende restringir o
ção em línguas é uma graça espe­ A interpretação de línguas
uso das línguas no culto público,
cial ao crente manifestada através se faz necessário, pois o objetivo
mas direcionar o seu uso de forma
do Espírito Santo, que ensina o nos­ da reunião não é apenas louvar
e orar, mas também instruir, en­ correta para que não haja abusos.
so espírito interior a orar a Deus,
corajar e edificar os membros do Sobre a interpretação de línguas,
independentemente do intelecto.
Corpo. Portanto, tudo que aconte­ "Paulo não considera a possibilidade
"Não é o Espirito Santo que ora. É
o espirito do crente que ora impe­ ce no âmbito do culto público pre­ de alguém com um conhecimento
lido pelo Espírito Santo e fala em cisa ser inteligível. Paulo insiste adquirido da língua falada estar
mistérios com Deus" (2011, p. 26). na interpretação de línguas, para presente e ser capaz de interpretá-
Paulo reconhece o valor da oração que todos possam compreender -la. Pelo contrário, ele insiste que só
em línguas, mas também destacou e sejam edificados (2016, p. 156). se pode interpretar essas línguas se
que enquanto orava em línguas Quando Paulo diz: "se não houver alguém tem um dom especial do
o seu espírito era edificado, mas intérprete, esteja calado na igreja" Espírito para fazê-lo" (2019, p. 167). A
o entendimento ficava sem fruto. (1 Co 14:28), Paulo não está dizen­ interpretação de línguas é uma ca­
"Então, que farei?". Paulo respon­ do "se não houver interpretes não pacitação divina para que possamos
de: "Orarei com o espírito [ou seja, pode haver línguas na igreja em entender, de maneira sobrenatural,
orarei em línguas], mas também hipótese alguma", ou seja, Paulo aquilo que está sendo dito. I

BIBLIOGRAFIA:
ARRINGTON, L. French; STRONSTAD, Roger. Comentário bíblico pentecostal: Novo testamento. - Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
CABRAL, Elienai. Movimento pentecostal: As doutrinas da nossa fé. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
C0DLING, Don. Sola scriptura e os dons de revelação: como lidar com a atual manifestação de profecias? Natal, RN: Carisma, 2020.
DANIEL, Silas. 0 batismo no Espirito e as línguas como sua evidência: A Imersão Plena no Profetismo da Nova Aliança. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2020.
FEE, Gordon D. ICoríntios: comentário exegético. Tradução de Mareio Loureiro Redondo. - São Paulo: Vida Nova, 2019.
H0RT0N, Stanley. 0 que a bíblia diz sobre o Espírito Santo. Rio de janeiro: CPAD, 1993.
KEENER, Craig S. 0 Espírito na igreja: o que a bíblia fala sobre os dons. Tradução de Susana Klassen. - São Paulo: Vida Nova, 2018.
MENZIES, Robert. Glossolalia: Jesus e a igreja apostólica como modelos sobre o dom de línguas. Tradução de Moisés Xavier. - Natal, RN: Carisma, 2019.
MENZIES, William. No poder do Espírito: fundamentos da teologia pentecostal. Tradução de Eduardo Silveira. - Natal, RN: Editora Carisma, 2020.
PALMA, Anthony D. 0 batismo no Espírito Santo e com fogo: os fundamentos bíblicos e a atualidade da doutrina pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da bíblia. Tradução de Lawrence Olson. 3. Ed. - São Paulo: Editora Vida, 2009.
SILVA, Severino Pedro. A existência e a pessoa do Espírito Santo. 1. Ed. - Rio de janeiro: CPAD, 1996.
ST0RMS, Sam. Dons espirituais: uma introdução bíblica, teológica e pastoral. Traduzido por Cláudio Chagas. - São Paulo: Vida Nova, 2016.
STRONSTAD, Roger. Teologia lucana sob análise: experiências e modelos paradigmáticos em Lucas-Atos. Tradução de Celso Roberto. - Natal, RN: Carisma, 2018.
VANG, Preben. ICoríntios.Tradução de Susana Klassen. - São Paulo: Vida Nova, 2018.

RO
OBRAS PARA O
ENRIQUECIMENTO DA
SUA VIDA MINISTERIAL

O Fruto do Espírito
§Antonio O caráter cristão é desenvolvido à medida que o Espírito Santo

Gilberto produz seu fruto no crente. O fruto do Espírito, descrito em


Gálatas 5.22, é resultado da presença e da ação do Espírito
Santo na vida do crente. Este livro é um estudo sobre o caráter
i‘ k a , .l. cristão baseado em Gálatas 5 e textos bíblicos relacionados.
Ele enfatiza o desenvolvimento de qualidades cristãs e sua
m, O Fruto
manifestação nos nos relacionamentos e no serviço do cris­
d° Espírito tão. Aliando em sua escrita o esmero e a clareza didática que
o consagram como um dos mais conhecidos e respeitados
teólogos pentecostais brasileiros, o pastor Antonio Gilberto
lança luz sobre as palavras do apóstolo Paulo em Gálatas 5.22:
"M as o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio pró­
f m m prio". Este livro irá ajudá-lo a entender o desenvolvimento de
um caráter semelhante a Cristo e a descobrir como cultivar
o desenvolvimento do fruto espiritual em sua vida diária,
A Plenitude de Cristo
na Vida do Crente levando-o a alcançar a plenitude de Cristo.

Teologia Sistemática Pentecostal


Depois de lançar no Brasil a Bíblia de Estudo Pentecostal (1995),
a Teologia Sistemática - Uma Perspectiva Pentecostal (1996),
Doutrinas Bíblicas - Uma Perspectiva Pentecostal (1996) e o Co-
mentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento (2003), dentre
T eologia Sistemática Pentecostal outros títulos do tipo, a CPAD lançou em sequência, em 2008,
a Teologia Sistemática Pentecostal, escrita por oito teólogos
destacados das Assembléias de Deus no Brasil: os pastores
Antonio Gilberto, Elienai Cabral, Esequias Soares, Severino
Pedro da Silva, Wagner Tadeu dos Santos Gaby, Ciro Sanches
Zibordi, Claudionor de Andrade e Geremias do Couto. Trata-
-se de uma ótima fonte de aprendizado e conhecimento. Sem
dúvida, é uma obra que não pode faltar na estante do pastor,
professor, superintendente de Escola Dominical e palestran­
tes pentecostais em nosso país. Ainda mais que as doutrinas
da Bíblia Sagrada devem estar constantemente na pauta do
estudante bíblico a fim de reciclar seus conhecimentos e for­
talecer a sua fé na pessoa de Jesus Cristo e na Sua doutrina.

25
Esdras C osta B e n th o

as décadas de 30 e 40 Edwards considerava a Bíblia


Esdras Costa B e n th o é pastor,
p e d a g o g o , m e s tre e d o u to r em
T eologia pela PUC-RJ; c o o rd e n a d o r
da G ra d u a çã o e m T eologia da
F aculda de das A sse m b lé ia s de
D eus (Faecad); c o n fe re n c is ta e
N do século 18, o pro­
fessor da Universi­
dade de Yale e prega­
dor puritano Jonathan Edwards
(1703-1758) preocupou-se com a
o fundamento para discernir os
testemunhos verdadeiros dos fal­
sos, principalmente a partir dos
escritos joaninos (ljo 4). O cristão é
alertado nas Escrituras, pelo Espí­
legitimidade das experiências re­ rito, da existência de "imitações"
a u to r das ob ras H erm en ê u tica
ligiosas durante o período de avi- e "falsificações" da experiência e
Fá cil e D esco m p iica d a (CPAD) e
Introdução ao Estu do do A n tigo
vamento espiritual de seu tempo. carisma do Espírito. E, para isso,
Testam ento (CPAD). Embora o psicólogo da religião a Escritura instrui o crente com
W. James mais tarde não concor­ critérios eficazes para discernir o
dasse com algumas proposições testemunho, a manifestação caris­
de Edwards, próprias de um te­ mática ou a experiência de êxtase
Os dons de ólogo puritano que distingue o de suas falsificações e idealizações
"convertido" como uma espécie mentais.
revelação de homem diferente, cita critica­ Segundo Edwards, com base
manifestam a mente a obra de Edwards, Tratado em 1 João 4, os critérios para
das Afeições Religiosas, mostrando discernir racionalmente os teste­
sabedoria e a o pensamento arguto do autor. munhos de experiência religiosa
mensagem de Edwards afirm ara que "na são: (1) O fato de a ação e o teste­
medida em que as influências do munho produzirem efeitos que
Deus a fim de verdadeiro Espírito abundavam, engrandeçam a estima das pes­
manter a saúde também as falsificações se disse­ soas por Jesus (ljo 4,2-3); (2) Se o
minavam", e, por isso, procura ins­ espírito e o testemunho agirem
espiritual da truir a comunidade para a correta contra os interesses do reino de
Igreja de Cristo distinção entre o verdadeiro e o Satanás (ljo 4.4-5); (3) O espírito e
falso testemunho da revelação do o testemunho geram nos homens
Espírito. Edwards afirmava que a uma profunda consideração pelas
variedade da experiência religiosa Escrituras (ljo 4.6); (4) O espírito
não é critério suficiente para negar e o testemunho revelam caracte­
a experiência, uma vez que Deus rísticas da ação do Espírito Santo
não lim ita sua ação apenas ao em oposição às ações e à natureza
que é revelado na Escritura, pois do espírito do erro (ljo 4.6); (5) Se
age de maneira diversa e nova. o espírito que está em ação opera
Ele ensinou que uma ação divina como "espírito de amor" a Deus e
nunca deve ser julgada por sua aos homens (ljo 4.7).
reação emocional ou física, e que Edwards também apresentou
a popularidade da manifestação as dimensões práticas e positivas
também não afiança sua origem de uma revelação espiritual na
divina. experiência religiosa. Por sua ex-
tensão, cito apenas duas: amor à
Palavra de Deus e consciência de
pecado e salvação. Por fim, afirma:
"As regras das Escrituras servem
para distinguirmos entre as in­
fluências comuns do Espírito de
Deus, como as que são salvíficas,
e a influência de outras causas".
Por fim, solicita aos que afirmam
algum tipo de experiência profun­
da: "Humildade, desconfiança de
si mesmo e uma total dependência
de nosso Senhor Jesus Cristo serão
nossa melhor defesa".

Classificação dos
carismas de revelação
No pentecostalismo clássico,
são chamados de "dons de re­
velação" três dons específicos:
palavra de sabedoria, palavra
da ciência (ICo 12.8) e discernir
os espíritos (ICo 12.10). Todavia,
a classificação desses três como
"revelação" não representa uma
unidade na teologia pentecostal.
Eurico Bergstén classifica-os como
"dons da sabedoria de Deus", mas,
ao comentá-los, segue a ordem do
texto bíblico; inclusive, a classifica­
ção usada por Bergstén é uma das
mais adequadas ao texto bíblico:
dons que manifestam o poder de
Deus; dons que manifestam a sa­
bedoria de Deus e dons que mani­
festam a mensagem de Deus.
David Lim, embora reconheça
a existência da tríplice classifica­
ção (revelação, poder e expressão),
classifica os dois primeiros como
Á

OB01RO
"dons de ensino" e o terceiro como quatro vezes, os termos "julgar" 12.8-10). Contudo, é importante si­
"dons do ministério". Lim segue (biaKQÍvco) e "provar" (ôoiapaCca) nalizar que a profecia é chamada
a ordem dos carismas no texto são mencionados juntamente com de revelação (ICo 14.24-25,30), e
bíblico, enquanto os pentecostais os dons de locução (ICo 14.26, 29; o hermeneuta de línguas, aquele
brasileiros costumam organizar lTs 5.19-21; ljo 4.1). Essa relação que as interpreta, só interpreta-as
pelas funções. significa que uma das proprieda­ mediante uma revelação do Espí­
Todavia, em 1 Corínitos 12.10, des do discernimento de espírito é rito (ICo 12.10-11). De modo geral,
o d isce rn im e n to de esp írito distinguir a glossolalia e a profecia todos os dons revelam (ICo 14.6)
(òiaKQÍüEiç Ttveupáxajv) aparece do ânimo (espírito) do próprio pro­ a ação do Espírito na assembléia,
entre os dons de locução, que são feta e do espírito do anticristo (ljo mas a teologia pentecostal atribui
profecia, variedade de línguas 4.1-6), da profecia revelada pelo o título de "dons de revelação" a
e interpretação de línguas. Pelo Espírito (ICo 14.30,32). três carismas específicos.
que se depreende de 1 Coríntios Por outro lado, é possível, en­
14, a maneira como os três dons tretanto, que a classificação desses Palavra de Sabedoria
de comunicação se manifestavam três carismas como "revelação" (ICo 12.8)
na comunidade distorcia o pro­ seja uma ilação do vocábulo de 1 A palavra de sabedoria (Aóyoç
pósito didático da liturgia (ICo Corínitos 14.6 (àTXOKaÀúipei), uma CTOcjHaç) é uma habilidade sobre­
14.5,12,19,26). Paulo, então, introduz vez que esses dons habilitam o natural que o Espírito Santo con­
o discernimento de espírito entre crente para conhecer (sabedoria, cede a determinados cristãos para
esses carismas como advertência conhecimento e discernimento), declarar uma sabedoria em circuns­
ao profeta e glossolalo de que o falar (profecia, línguas e interpre­ tâncias específicas. Geralmente,
Espírito habilitou alguns para dis­ tação de línguas) e agir (fé, curas, distinguem -se os substantivos
cernir suas falas. Pelo menos, por milagres) sobrenaturalmente (ICo lógos (Àóyoç), isto é, "razão", "ciên-

28
OB RO
cia", "estudo"; eipon (eiTcov), "falar", 28.3) ou à capacidade estratégica to de Cristo (Lc 21.14-21). E assim,
"dizer"; ou ainda rhema (pqpa), de governança (Gn 41.33-40), mas é um dom imprescindível para o
"aquilo que é falado". Contudo, o ao Messias como manifestação da curso de ação da igreja pentecostal
sentido de Aóyoç aqui não quer sabedoria de Deus (Mt 13.54; Mc contemporânea.
dizer tratado, ciência ou estudo 6.2; ICo 1.24,30; Cl 2.3).
meditado e profundo, mas "um A palavra da sabedoria não é a Palavra da Ciência
falar", "fala", "pronunciamento", sabedoria como dom geral (Tg 1.5) {ICo 12.8)
"um a declaração", como ocor­ ou sabedoria humana (ICo 2.4), A palavra da ciência (Aóyoç
re em Mateus 8.8 e 1 Coríntios mas uma centelha da sabedoria yvcócrEcoç) é uma habilidade que
14.9. Palavra de sabedoria é um de Deus manifestada em situações o Espírito concede a determina­
pronunciamento espontâneo de que a exigem. Ela se manifesta em dos cristãos para conhecer além
sabedoria do Espírito com a finali­ várias situações distintas, mas na da capacidade humana. O termo
dade de anunciar uma mensagem Escritura apresenta-se: na defesa gnõsis (yvcÒCTLç) se refere ao "ato de
ou conselho de sabedoria, como do Evangelho (At 6.10;Lc 21.14-15), entender" e daí o sentido de "co­
traduzem a NLH ("mensagem de em conselhos administrativos em nhecimento" ou "ciência". O modo
sabedoria") e a NVT ("conselhos tempo de crise (At 7.10), no dis­ subjetivo no v.8, designa aquilo
sábios"). Palavra de sabedoria cernimento da graça de Deus por que se conhece e, no caso do ca­
pode inserir-se em outras duas ca­ meio de conselhos que designam risma, um conhecimento melhor e
tegorias: carisma de comunicação e promovem o plano salvífico (At mais profundo (ICo 14.6; 2Co 11.6;
e carisma pedagógico. 15), na compreensão dos mistérios 14.26). A razão pela qual se nomi-
A palavra de sabedoria é um de Deus por meio do Espírito (Rm na "palavra da ciência", no qual
conselho do Espírito. Na Primeira 11.33;lCo 2.10-16), na exposição do logos designa uma "declaração" ou
Aliança, o Espírito é chamado de Evangelho (ICo 2.4-9) e no teste­ "fala", talvez esteja relacionada ao
o "Espírito de sabedoria", que re­ munho afiançado pelo Espírito fato de que um cristão iletrado re­
pousaria sobre o Messias (Is 11.2). (At 9.26-27). É uma palavra de ceba tanto a revelação da "ciência"
O termo hokhmãh não se refere sabedoria não premeditada, mas quanto a habilidade para declarar
aqui às habilidades técnicas (Êx espontânea, cuja fonte é o Espíri- (Aóyoç) correta e adequadamente A

A A
o "conhecimento". Algumas ve­ rito de conhecimento". O termo ministério do apóstolo, do mestre
zes, Paulo se referiu à sua inapti- hebraico daath (conhecimento) é e do evangelista. Trata-se assim de
dão retórica em comparação aos usado para descrever o dom do uma declaração de ciência divina
gramáticos (2Co 10.10;11.6; ICo 2.1). conhecim ento técnico (Ex 31.3; não obtida pelo estudo meditado
Contudo, a palavra da sabedoria 35.31), o conhecimento de Deus e profundo, mas como revelação
e da ciência eram as habilidades obtido pela experiência (Nm 24.16; do Espírito para circunstâncias e
que o Espírito lhe concedia para Is 53.11) e a percepção e discerni­ necessidades específicas.
desempenhar com eficácia o mi­ mento que provém da fidelidade
nistério da pregação e do ensino na Palavra de Deus (SI 119.66).
Discernir os espíritos
(ICo 2.13; 2Co 11.6). O Espírito é aquele que revela
(ICo 12.10)
O sentido de gnõsis ou "ciên­ os mistérios de Deus (ICo 2.10),
pois somente Ele conhece-o (ICo O dom de discernir os espíri­
cia" (ARC) não se refere à ciência
como conjunto de conhecimento 2.12). Deste modo, a palavra da tos (ôuxKQLCTeiç Ttveupáxtóv) é uma
sistematizado obtido pela obser­ ciência é uma ação do Espírito habilidade sobrenatural que o
vação e pesquisa, mas à revelação Santo sobre o crente que o habi­ Espírito concede a determinados
imediata do conhecimento da ver­ lita e ensina a falar os mistérios membros do corpo de Cristo para
dade divina. Enquanto a palavra do Evangelho (2Co 2.14). Sua ex­ discernir a origem espiritual de
de sabedoria é um conselho prático, pressão mais contundente é na certa ação, ensino, profecia, línguas
a palavra do conhecimento é a ex­ comunicação de uma revelação e até mesmo motivações. Embora
pressão da verdade dos mistérios da Escritura e dos mistérios da a ARC e a NAA empreguem a ex­
divinos. Em Isaías 11.2, o Espírito salvação (At 10.42-44), daí a razão pressão no singular, "discernir os
do Senhor é chamado de "Espí­ pela qual o carisma é paralelo ao espíritos", e muitos comentaristas

o b EU ro
prefiram o singular, a frase, no ori­ tos que se transfiguram em profe­ pírito. A pessoa que estava nos
ginal, está no plural, o que indica tas e glossolalos verdadeiros (2Co fundos da igreja, que não pode-
que se trata de um carisma que se 11.13). Da parte de Satanás e dos ria ouvir o que disse em segredo
manifesta de muitos modos. Duas demônios, não se pode ignorar os ao pastor, deu um grito, correu e
lições depreendem-se da frase no seus ardis (2Co 2.10-11). O Diabo é tentou se jogar do segundo andar.
plural. A primeira é a de que há capaz de se transfigurar em anjo de Repreendi o espírito imundo e a
variedade de formas em que o Es­ luz e seus demônios, em ministros pessoa foi liberta. Ao dizer-lha
pírito manifesta o discernimento. da justiça (2Co 11.14-15). Por isso, o ocorrido, espantou-se e depois
A segunda lição refere-se ao fato são imitadores fraudulentos dos falou a situação de sua vida es­
de se tratar de “espíritos" - vários carismas. piritual, que incluía participação
espíritos são julgados e discernidos O Espírito Santo concedeu o noutras tradições religiosas.
por meio desse carisma. discernimento de espíritos à Igreja O discernimento de espírito
No contexto de 1 Coríntios para que ela não seja ludibriada é espontâneo, direto, objetivo e
12.10, é uma aptidão espiritual para por qualquer profeta ou glossolalo prático. E uma revelação especial
julgar a inspiração das profecias e que fala em seu próprio nome ou que o Espírito Santo concede ao
das línguas pneumáticas (lTs 5.20- é usado pelos espíritos. Lembro- crente para que os falsos profe­
21). Nesse aspecto, quando a fonte -me de que, em certa ocasião, com tas e glossolalos não enganem a
da profecia ou das variedades de relutância aceitei o convite de Igreja. A profecia e a variedade de
línguas não é o próprio Espírito um pastor para ministrar numa línguas são os dons mais imitados
Santo, então sua origem pode ser vigília após o culto. Apesar de pelos falsos profetas e demônios
humana ou demoníaca. O homem mais de 8 horas de viagem e da nos dias atuais.
é capaz de imitar esses dois caris­ pregação, com relutância aceitei o O dom de discernimento de
mas locutórios, passando como convite. Ao chegar, recebi da parte espíritos manifesta-se: no discer­
profeta e glossolalo verdadeiros até do Espírito o discernimento das nimento entre verdade e mentira,
que o discernimento dos espíritos línguas de um glossolalo. Disse quando há propósitos ocultos mas­
tira-lhe a máscara da hipocrisia e ao dirigente que aquelas línguas, carados sobre a aparência de pieda­
da fraude. São obreiros fraudulen­ sonoras e belas, não eram do Es­ de (At 5.1-11), no discernimento de A
BIBLIOGRAFIA
BERGSTÉN, E. Introdução a Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 1993.
EDWARDS, J. Afeições Religiosas. São Paulo: Vida Nova, 2018.
HORTON, S. M. (ed.) Teologia Sistemática: perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1998.

forças demoníacas e mágicas que 12.22; Mc 9.25); no discernimento e muito menos se trata de leitura
se passam como ação do Espírito de heresias que se mesclam à ver­ de pensamento. E um dom que
e dão lucro aos seus possuintes dade do Evangelho, destituindo procede da bondade de Deus para
(At 8.9-24; 13.8-11; 16.16-19); no sagazmente a natureza do Evan­ que a noiva de Cristo não seja
discernimento de todo e qualquer gelho de Cristo (G11.16-9; Cl 2); no enganada pela operação do erro.
dom, inclusive profecia e varieda­ discernimento de falsos ministros,
de de línguas, que se passa como pregadores, ensinadores e profetas
Conclusão
manifestação do Espírito, quando que se transfiguram como bons
ministros (2Co 11.13; ljo 7-10); e no Os dons de revelação são ne­
na verdade é do espírito humano
discernimento de operações demo­ cessários e indispensáveis à Igreja
ou demoníaco (ICo 12.10); no dis­
cernimento das motivações mais níacas que se passam por ações do hodierna. A comunidade cristã deve
profundas e ocultas daqueles que Espírito (2Co 11.14-15). buscá-los em oração assim como
usam seus talentos naturais como É necessário resaltar que o anseia pela profecia, línguas e varie­
se fossem dons do ministério de dom de discernimento de espí­ dades de línguas. Uma igreja pente­
Cristo (Fp 1.15-21); no discerni­ ritos não é uma habilidade para costal madura é a que apresenta uma
mento de enfermidades causadas id en tificar as faltas alh eias e diversidade de dons, ministérios e
por pertu rbação m aligna (Mt expô-las com propósitos escusos operações (ICo 12,4-7). I
AS ORIGENS TEOLÓGICAS
DO PENTECOSTALISMO
ASSEMBLEIANO

Nesta im portante obra, o pastor e escritor


Jo sé Gonçalves faz um resgate histórico das
pneumatologias e soteriologias americana,
britânica e escandinava do início do movimento
pentecostal. Ao pesquisar essas teologias
carism áticas, G onçalves revela as raízes
teológicas das Assembléias de Deus no Brasil.
Divido em duas partes, onde a primeira trata
da pneumatologia pentecostal e a segunda
aborda a teologia soteriológica, o livro conta
ainda com diversos apêndices, inclusive confissões
de fé de várias denominações, desde o séc.
X V II até os dias de hoje.

Um Resgate Histórico da
Soteriologia e Pneum atologia do Inicio do Form ato: 14,5 x 22,5 cm / Páginas: 544
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M arco s A n d e rs o n Tedesco

Dons
urante os anos em percepção de que estavam pre­

D
M arcos A n d e rs o n Tedesco é pa stor
a u xiliar na A sse m b lé ia de D eus em que Jesus desenvol­ senciando algo totalmente trans­
J o in v ille (SC), m e s tre e m Educação, veu seu ministério formador e sobrenatural.
e sp e cia lista e m A n tig o T estam e nto, terreno, algo se fez Na sequência, ao longo do
p e d a g o g o , h is to ria d o r e te ó lo g o ; constante e marcante na vida de texto neotestamentário, também
pro fe sso r na F aculda de T eológica todos: milagres. Por onde o Fi­ é notável a presença de milagres
R e fid im , c o o rd e n a d o r p e d a g ó g ic o lho de Deus passava, milagres apontando para a ocorrência dos
d o C o lé g io E van gé lico Pastor dons de poder. Em Atos, encontra­
aconteciam, tocando o coração e
M anoel G e rm a n o de M ira n d a em mos diversas referências: cura de
a mente de todos que os presen­
Joinville ; e s c rito r e p a le stra n te ;
ciavam. Esses eventos instiga­ coxos (At 3.1-6, 14.8-10); restaura­
c o m e n ta ris ta de Lições B íblicas da
vam o povo a desejar conhecer ção da visão de Saulo (At 9.17-18);
Escola D o m in ic a l da CPAD para
mais acerca do que estava acon­ ressureição de Dorcas (At 9.36-41)
Jovens.
tecendo naqueles dias. A cada etc. Podemos entender os dons de
vida que era alcançada por um poder como capacitações especiais
milagre, um grupo de pessoas em situações onde há a necessida­
de de uma ação sobrenatural do
Os dons de se reunia curioso em busca de
Espírito Santo na vida dos crentes.
melhor compreensão acerca do
poder estimulam acontecia. Os quatro evangelhos Mediante os dons de poder, po­
demos ver a manifestação divina
as pessoas a se são repletos desses episódios; a
transformação de água em vinho na vida dos crentes de forma im­
interessarem, (Jo 2.1-11); o acalmar da tempesta­ pressionante sobre o mundo físico.
de (Mc 4.37-41); as multiplicações Essa ação não é para a glória hu­
cada vez mais, de pães (Lc 9.12-17 e Mt 15.32-38); mana, mas, sim, para que o nome
acerca do o andar por sobre as águas (Jo de Deus seja glorificado através
6.19-21); a ressurreição da filha de das vidas que protagonizam os
movimento Jairo (Mt 9.18-25), do filho da viú­ episódios milagrosos.
divino na va de Naim (Lc 7.11-15) e de Láza­ A Bíblia Sagrada nos revela
ro (Jo 11.1-44); a cura de leprosos que "...há diversidade de dons,
existência (Mt 8.1-4, Mc 1.40-42, Lc 5.12-13); a mas o Espírito é o mesmo. [...] e a
humana cura da mulher do fluxo de san­ outro, pelo mesmo Espírito, a fé;
gue (Lc 8.43-48); a libertação de e a outro pelo mesmo Espírito, os
endemoniados (Mt 8.24-34; Mt dons de curar; e a outro, a opera­
9.32-33; Lc 11.14); a cura de cegos ção de maravilhas; [...] Mas um só
(Mt 9.27-31, Mc 8.22-26); e mui­ e o mesmo Espírito opera todas
tos outros. Essa pequena lista já essas coisas, repartindo particu­
nos permite uma perfeita noção larmente a cada um como quer"
do quanto esses episódios foram (ICo 12.4,9-11). Diante dessa mag­
importantes no avanço da men­ nífica verdade, vamos conhecer
sagem de salvação, trazendo aos um pouco melhor acerca dos dons
olhares das pessoas uma nítida que manifestam o poder de Deus:

A
de poder
o dom da fé, os dons de curar e o
dom de operação de maravilhas.

O dom da fé
Em Hebreus, lemos que "a fé
é o firme fundamento das coisas
que se esperam e a prova das coi­
sas que se não veem" (Hb 11.1). A
fé implica uma postura de absolu­
ta confiança no - e dependência do
- Senhor, levando-nos a uma vida
onde todas as nossas concepções e
ações estarão sendo direcionadas
por Deus.
A fé como dom (IC o 12.9)
distingue-se da fé salvífica (Rm
10.17, Ef 2.8), da fé observada como
fruto do Espírito (G1 5.22), da fé
apontada no corpo das doutrinas
bíblicas (G1 1.23) e da fé como
aspecto da vida cristã (2Co 13.5).
É uma fé especial usada em um
momento específico (At 3.4-7).
O dom da fé pode ser percebido
como uma capacidade concedida
ao cristão pelo Espírito Santo para
que realize ações que vão além da
esfera natural, com o objetivo de
edificação da Igreja.
O dom da fé é envolto por
uma forte convicção no poder e
na m isericórdia divinos com a
finalidade de, em um momento
específico e em uma determ i­
nada causa, possibilitar algo so­
brenatural em um processo com
características bem particulares.
Exemplos desse dom podem ser
observados em determ inadas
Á
curas de enfermidades, em reso­ também pode se apresentar como fermos e sarar as feridas dos que
luções maravilhosas de situações um "cuidado confortante" para sofrem. Mencionado no plural, "os
naturais e emergenciais, em am­ com um crente que passa por um dons de curar" fazem referência
paro e suporte em momentos de momento difícil. No memorável à concessão segundo a vontade
grande perseguição, dentre tantas livro Heróis da Fé, Orlando Boyer divina, no tempo certo e quando
outras possibilidades. É uma das relata alguns desses testemunhos se faz necessária a ação milagrosa.
formas do Espírito Santo amparar onde o dom de fé foi colocado em Segundo o pastor e teólogo An-
o cristão em momentos especí­ ação. Um exemplo impressionante tonio Gilberto, os "dons de curas"
ficos. De forma muito nítida, é a é o de George Müller, "o apóstolo são operados de diversas formas
fé que sustentou os que sofreram da fé" (1805-1898): certa vez, após diferentes: através da Palavra,
perseguições e enfrentaram gran­ uma noite de oração pedindo ao através de outro dom, através de
des desafios, permanecendo fieis Senhor mantimentos para os orfa­ uma palavra de ordem, um olhar,
até o fim, confiando em Deus de natos que estavam sem provisões, o impor as mãos, entre outras pos­
forma notável, conforme narrado sibilidades. São manifestações de
ao amanhecer, chegaram as doa­
em Hebreus 11. poder para a cura de doenças do
ções que alimentaram 2 mil órfãos
O dom da fé deve ser enten­ corpo, da alma e do espírito, para
por um mês!
dido como algo que ajudará toda crentes e descrentes.
a Igreja, mas que também pode Cada cura necessita de um
Os dons de curar dom distinto, especial. Esse dom
ser considerado um dom especial
para uma necessidade em parti­ Os dons de curar são m ani­ não é dado especificamente ao
cular. Pode ser visto como a "fé festações sobrenaturais do Espí­ que ministra, mas por meio dela
que move montanhas" trazendo rito Santo à disposição da Igreja para a que está enferma. E Deus
m anifestações extraordinárias para que a humanidade perceba quem cura o doente e não a pes­
do poder de Deus (Mt 17.20), mas em Deus o poder de curar os en­ soa que ora impondo as mãos. E

36
OB REI
em nome de Jesus que o milagre são necessários em um tempo de presenciando inúmeras curas di­
acontece, a Ele seja dada a glória crescente incredulidade, onde a vinas, o pioneiro sofreu por anos
(At 4.30). Ao lermos os evange­ medicina tem avançado e a ciên­ de uma insistente enfermidade
lhos, podem os perceber como cia, de forma pretensiosa, insinua que lhe causava fraquezas, dores
o amor de Jesus pelas almas se ter resposta cartesiana para os e febres. As orações de Gunnar pe­
manifestava de forma belíssima mais diversos fenômenos. Esses dindo a cura de sua doença eram
nos relatos de cura. O milagre avanços contem porâneos não constantes, mas o m ilagre não
tão almejado pelo enfermo era podem responder às perguntas acontecia. No entanto, o pioneiro
uma das formas usadas por Jesus mais essenciais do ser humano jam ais sentiu-se desamparado.
para, primeiramente, tocar-lhes o nem saciar as necessidades mais Segundo seu filho Ivar, "até o fim
coração demonstrando o seu cui­ básicas de sua existência. ele cria que Deus ia fazer a obra e
dado e piedade e, posteriormente, Observemos também que nem curá-lo. Mas os caminhos de Deus
abrir-lhes os olhos em uma prévia todos os enfermos foram curados. eram diferentes. O servo fiel havia
aplicação prática da nova vida que Dois casos interessantes no Novo terminado a sua obra terrena". A
lhes era anunciada. A cura, mais Testamento são os de Timóteo vontade do Senhor é soberana.
do que um fim em si mesma, era (lTm 5.23) e Trófimo (2Tm 4.20) Amém!
um convite a uma nova vida. que são alvos da preocupação e
Como cristãos, os exemplos menção do apóstolo Paulo. Há
deixados pelo M estre nos in s­
Operação de maravilhas
casos onde a enfermidade conti­
piram a buscarmos os dons de nua presente na vida do cristão O peração de m aravilhas é
curas para abençoarmos as vidas em um exercício de compreensão um dom que altera a ordem na­
com o alívio de seus sofrimentos da vontade soberana do Senhor. tural, tornando o impossível em
físicos bem como da alma e do Esse fenômeno também mar­ possível e o improvável em real.
espírito. Enfim, essa busca deve­ cou a história de Gunnar Vingren, São ações que vão muito além da
rá também ser uma expressão do um dos pioneiros da Assembléia capacidade humana, encontrando
quanto estamos dispostos a viver de Deus no Brasil. Embora tenha apenas no poder de Deus a expli­
inspirados nos exemplos deixados sido usado de forma intensa pelo cação para as suas ocorrências.
por Jesus Cristo. Os dons de curar Senhor orando pelos enfermos e A expressão "operação de ma- A

37
OB REI RO
ravilhas" indica o plural "obras a despertar a atenção de todos. No o bem comum (ICo 12.7), ou seja,
poderosas", apontando para uma livro de Atos, encontramos uma para o bem do corpo local como
ampla variedade de milagres na Igreja que viveu amplamente a um todo. Dessa forma, os dons
forma de sinais poderosos e ex­ manifestação do dom de operação contribuem para a Igreja atual
traordinários (At 5.12-15; 19.11-12). de maravilhas, apontando para assim como também contribuíram
A operação de maravilhas era uma história que continua a ser nos tempos do livro de Atos.
uma constante no ministério ter­ escrita até os dias atuais. No entanto, observamos dis­
reno de Jesus. Desde o acalmar da Os dias atuais são fortemente torções no uso dos dons de curar
tempestade, à ordem severa a uma m arcados pelo ceticism o, con- e de operação de maravilhas. Mui­
figueira, à libertação de endemo- sumismo, individualismo, nar- tos usam expressões como "de­
niados e à ressureição de mortos, cisismo, perseguição religiosa e terminar" e "decretar" a cura dos
o Mestre teve uma trajetória mar­ fragilidade dos valores humanos. enfermos baseando suas falas em
cada por eventos extraordinários Alguns apontam esse tempo como uma pretensa autoridade sobre
que provocaram nas pessoas uma a "era da desesperança", levando Deus e não na fé. Mas, quem é o
impressão favorável ao avanço das ao descrédito quanto a um futuro homem para que determine algo
boas novas de salvação: afinal, para melhor. Cada vez mais a ansie­ a Deus? O cristão não tem auto­
Deus nada é impossível (Lc 1.37). dade e a depressão, entre tantos ridade para impor algo a Deus,
As multiplicações de pães e outros transtornos e sentimentos, mas, sim, deve sempre viver sob
peixes são exemplos desse dom vão ganhando espaço em vidas a dependência da vontade divina.
(Mt 14.15-21; 15.32-38). Nos dois que perdem o encanto pela ca­ Nossas orações devem ser fru­
eventos, m ilh ares de pessoas minhada. tos de uma atitude movida por
foram saciadas como fruto do Diante dessa realidade, nós amor às almas e ao desejo de que
milagre sobre aquelas poucas uni­ precisamos de um fortalecimento a bênção do Senhor alcance cada
dades de alimento. A operação de de Deus para anunciar o evan­ vida. Como cristãos, devemos
maravilhas permitiu que aquelas gelho de forma firme, ousada e orar buscando a cura dos enfer­
pessoas vissem na prática o poder decisiva. O desafio é grande e a mos (Tg 5.14-15), impondo-lhes as
de Deus sendo derramado sobre busca pelos dons deve ser uma mãos para que sejam curados (Mc
elas em um ato abençoador. Algo constante na vida dos crentes, em 16.18) cientes da nossa dependên­
aparentemente cotidiano, como a uma ação voltada para o anúncio cia da soberana vontade de Deus
alimentação, foi amplificado pela da salvação e a promoção do Reino (ljo 5.14).
graça e pela compaixão divinas. de Deus. Também é preciso um cu i­
Não só o corpo físico foi nutrido, dado para não cairm os na ar­
mas também houve uma imer­ Distorções no uso dos dons m adilha da glam ourização do
são na aplicação prática do que o A manifestação desses dons homem que se nutre da fam a
Mestre havia ensinado no período em nossa cam inhada deve ser em volta da aplicação do dom.
que antecedeu o milagre. A fé foi envolvida em uma grande depen­ No caso dos dons de cura, mui­
colocada em ação, o Deus que ama dência da vontade divina e em tos buscam uma autopromoção,
alimentou e saciou a fome, milha­ um profundo desejo de levar as como se tivessem em si o poder
res de olhares contemplaram o bênçãos de Deus à vida das pes­ sobren atu ral, um engano. Os
cuidado divino sobre as suas vidas. soas. As curas e as operações de dons são manifestações do poder
O dom de operação de mara­ maravilhas devem fazer parte de do Espírito Santo que operam de
vilhas pode ser entendido como uma ação movida pelo amor pelas formas diversas para a cura das
a operação de milagres extraordi­ almas e pela intencionalidade de enfermidades, ou seja, é conce­
nários e surpreendentes para, con­ anunciar o evangelho. dida por Deus à pessoa que irá
forme Antonio Gilberto, despertar O Espírito Santo distribui os ministrá-la (At 4.30).
e converter descrentes, céticos, dons a cada crente, porém não
oponentes e crentes enfraquecidos para benefício do próprio indi­
(At 8.6-13; 19.11; Js 10.12-14). O que víduo ou interesses particulares. Considerações finais
era improvável torna-se uma rea­ Conforme Stanley Horton, o dom Os dons de poder, assim como
lidade impressionante que passa é dado por meio de cada um para os demais, são distribuídos pelo

A
Espírito Santo em Sua soberania em palavras persuasivas de sabe­ Quando somos usados pelo
(ICo 12.11-18). Os cristãos podem doria humana, mas em demons­ Espírito Santo através dos dons,
almejar e pedir os dons (ICo 12.31; tração do Espírito e do poder, para podemos compreender com clare­
14.39), porém é o Espírito quem os que a vossa fé não se apoiasse em za que cada crente no Senhor tem
dá segundo a Sua vontade, a fim sabedoria dos homens, mas no po­ algo a contribuir em sua Igreja.
de que a Igreja possa cumprir o der de Deus" (ICo 2.4-5). Os dons Lawrence Richards afirma que
seu papel e anunciar a salvação, espirituais são imprescindíveis nossas vidas precisam estar dis­
cumprindo a Grande Comissão tanto à Igreja como a cada mem­ postas a serem usadas por Deus
(Mt 28.19-20). Fiquemos com as bro em particular. E importante para o bem dos demais. Ao vi­
palavras de Paulo em sua Carta que os busquem os com zelo e vermos essa realidade, o Espírito
aos Coríntios: "A minha palavra e disciplina para vivermos os pro­ operará através de nós e os outros
a minha pregação não consistiram pósitos de Deus em nossas vidas. serão abençoados. Amém. H

REFERÊNCIAS
BOYER, Orlando. Heróis da Fá: vinte homens extraordinários que incendiaram o mundo. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
GILBERTO, Antonio. Bíblia com comentários de Antonio Gilberto. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.
GILBERTO, Antonio (Ed.). Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.
H0RT0N, Stanley. I e II Coríntios: os problemas da Igreja e suas soluções. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembléias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
RICHARDS, Lawrence. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
VINGREN, Ivar. 0 diário do pioneiro Gunnar Vingren. Rio de Janeiro: CPAD, 1991.

o b EU ro
A b ie ze r A p o lin á rio d a Silva

Os Don
isse o apóstolo Paulo pode dizer: 'Jesus é Senhor', a não
A b ie ze r A p o lin á rio da Silva é
pastor, a d v o g a d o e p re s id e n te da
C om issão Jurídica da C onvenção
Geral dos M in istro s das Igrejas
E vangélicas A sse m b lé ia d e D eus no
Brasil (CGADB).
D aos irmãos de Corin-
to: "Irmãos, não que­
ro que vocês estejam
desinformados a respeito dos
dons espirituais" (1C o12.1, NAA).
ser pelo Espírito Santo" (ICo 12.3,
NVI). Essa verdade é amparada,
por exemplo, pelo que é dito acer­
ca da construção do Tabernáculo,
cujo modelo Deus deu a Moisés
Ou: "Agora, irmãos, quanto à sua com a seguinte recomendação:
pergunta sobre os dons espiri­ "Diga a todos os homens capa­
tuais, não quero que continuem zes, aos quais dei habilidade, que
Os dons confusos" (NVT). Ou: "Irmãos,
quanto aos dons espirituais, não
façam vestes para a consagração
de Arão, para que me sirva como
ministeriais quero que vocês sejam ignoran­ sacerdote" (Êx 28.3, NVI). "Eu es­
habilitam o tes" (NVI). Ora, a "ignorância"
combatida pelo apóstolo acerca
colhí a Bezalel, filho de Uri, filho
de Hur, da tribo de Judá, e o enchi
crente a servir dos "dons espirituais" na igreja do Espírito de Deus, dando-lhes
de Cristo se acentua terrivelmen­
em ministérios te quando muitos obreiros não
destreza, habilidade e plena ca­
pacidade artística para desenhar
específicos sabem distinguir os chamados e executar trabalhos em ouro,
"dons ministeriais" dos "dons prata e bronze..." (Êx 31.2-4, NVI).
espirituais", sendo estabelecida Outro exemplo: na organização
verdadeira confusão que causa do louvor no culto a Deus pro­
graves prejuízos espirituais à movido por Davi, os cantores e
edificação do Corpo de Cristo, instrumentistas tinham que ter
Sua Igreja. capacidade técnica para utilizar
Etimologicamente falando, no os instrumentos e vozes conjun­
contexto bíblico, "dom" ministe­ tamente com a profecia ("...para o
rial ou espiritual é um "presente ministério de profetizar ao som de
oferecido", uma "dádiva", uma harpas, liras e címbalos. [...] que,
"graça que se recebe". No caso por sua vez, profetizavam sob a su­
da igreja, o apóstolo revela que pervisão do rei. [...] que profetizava
"quando ele [Cristo] subiu às ao som da harpa para agradecer
alturas [...] concedeu dons aos e louvar ao Senhor" (lCr 25.1-3,
hom ens" (Ef 4.8), deixando su­ NVI). Portanto, em síntese, em
bentendida a razão da concessão razão da impossibilidade espiri­
dos dons espirituais e m iniste­ tual dos humanos realizarem a
riais aos humanos que fazem a obra de Deus sem a capacitação
obra do Reino de Deus: sem a divina, Ele lhes dá Seus "dons"
capacitação do Espírito de Deus, espirituais e ministeriais, que são
é impossível a realização de Sua instrum entos para edificação e
obra na Terra. Afinal, "ninguém solidificação da Igreja.

A
Ministeriais
O ministro e os dons
ministeriais
De início, convém rememorar
o significado de "m inistro" no
contexto bíblico. Segundo os es­
tudiosos, na língua original das
escrituras gregas cristãs, a palavra
"ministro" era diákonos. Embora
haja diversas idéias sobre a origem
desta palavra, o significado é bem
conhecido. Basicamente, significa
"servo". Nos Evangelhos, diáko­
nos e palavras relacionadas muitas
vezes são usadas com referência
aos que serviam os recostados
para uma refeição. Com tal visão,
todas as vezes que nos avaliamos
como m inistros do evangelho,
devemos estar convencidos de que
somos apenas servos daqueles que
Deus colocou sob nossos cuidados
espirituais (lPe 4.10,11).
O próprio Cristo ensinou a
todos que fazem a obra de Deus
a se distanciar do pensamento de
grandeza e de excelência: "Mas
vocês não serão chamados 'mes­
tre', porque um só é Mestre de vo­
cês, e todos vocês são irmãos" (Mt
23.8, NAA). E acrescentou: "Tal
como o Filho do Homem, que não
veio para ser servido, mas para
servir e dar a sua vida em resgate
por muitos" (Mt 20.28, NAA). Por­
tanto, ser ministro do evangelho
é ser servo. Nessa perspectiva, o
apóstolo Paulo disse aos irmãos de
Corinto, comparando suas ativida­
des apostólicas com as de outros
apóstolos, que era mais ministro
A
41
OB REI RO
(servo) de Cristo que eles. Veja em espirituais distintos: 1) o momento m inistros de Cristo terem que
2 Coríntios 11.23-30 que situações da escolha ("Antes de formá-lo no abundar nos dons ministeriais,
ele apontou como sendo aquelas ventre materno... antes de você pois as ovelhas por eles assistidas
nas quais ele se destacava mais. nascer"; e 2) o momento da reve­ esperam com muita razão que o
Estabeleceu o Senhor por Sua lação ("quando Deus... achou por despenseiro tire da sua despensa
infinita sabedoria que Seu Reino bem revelar seu Filho em mim"). os "mistérios de Deus".
estabelecido entre os seres hu­ O maravilhoso, porém, foi o após­
m anos fosse operacionalizado tolo dizer que sua escolha e sua
Distinção bíblica entre dons
por estes seres frágeis, cheios de capacitação para o exercício do
ministeriais e espirituais
defeitos e sujeitos às tentações e ministério apostólico decorriam
quedas como a ocorrida no Éden. unicamente "pela sua graça". Ou Todos os salvos têm a respon­
Interessante é o salmista afirmar: seja, eu não me escolhi, não me sabilidade de anunciar as novas
"Pois ele conhece a nossa estru­ capacitei, não me disponibilizei, do evangelho, cumprindo a Gran­
tura e sabe que somos pó" (SI porém foi a insondável graça de Comissão dada por Jesus ao
103.14, NAA). Por sua onipotência, de Deus que realizou tudo isso se despedir dos Seus discípulos
Deus poderia ter entregado essas na minha vida; e ele acrescenta quando ascendeu aos céus (Mc
tarefas a seres celestiais, dotados que a ação da graça divina em 16.15; lPe 2.9). Todavia, o próprio
de características absolutamente seu m inistério fez-lhe superar Cristo escolheu, dentre Seus discí­
diferentes dos humanos, algumas em trabalho outros obreiros (ICo pulos, apenas doze para apóstolos.
das quais os tornam superiores. 15.9,10). Como afirma Paulo, "onde Os doze tinham que desempenhar
Porém, o Senhor entregou-nos as abundou o pecado, superabundou tarefas específicas as quais exigi­
Suas santas tarefas, as quais não a graça" (Rm 5.20). Pela graça de ram capacitação e qualificações
podem ser executadas apenas pelo Deus somos salvos (Ef 2.8) e pela também específicas (Mt 10.1).
nosso querer e vontade, pois pre­ graça de Deus fazemos a Sua obra, Na visão do apóstolo Paulo, a
cisamos ser por Ele capacitados tendo a graça como parâmetro es­ Igreja é um corpo composto de
(ICo 15.10). piritual ("Mas pela graça de Deus muitos membros, os quais pre­
Assim sendo, ser "ministro de sou o que sou", ICo 15.10) e de cisam interagir entre si para que
Cristo" não resulta de escolha pes­ suficiência espiritual ("A minha haja harmonia e integração para
soal de qualquer interessado em graça te basta", 2Co 12.9). a saúde corporal (ICo 12.2). Den­
fazer a obra de Deus nem mesmo Segundo os estudiosos, outra tro dessa visão, todos possuem
por qualquer dos salvos por Jesus, palavra grega para ministros ou funções específicas, o que exige
pois é Deus quem escolhe, voca­ servos é U7i£Q£xr|ç (huperetes), que obrigatoriam ente capacitação
ciona e capacita através de Seus significa "auxiliar, alguém que individual para o desempenho
dons ministeriais, resultantes da presta serviços a outra pessoa; eficaz de suas atividades no cor­
onisciência divina. Não é o esco­ ministro, ajudante, assistente, sú­ po (ICo 12.15-21). Assim sendo, é
lhido que se escolhe e se capacita dito, servo ou remador inferior, de bastante nítida a distinção entre
para o exercício do ministério. Foi terceira categoria". Em 1 Coríntios os dons ministeriais e os espiritu­
o que o Senhor disse a respeito de 9.19-23, Paulo se expressou acer­ ais, pois estes não são concedidos
Paulo (At 9.15,16). ca do seu ministério conforme o pelo Espírito acompanhados de
A sobrenaturalidade da vo­ significado aqui transcrito dessa ministérios. Por exemplo: o após­
cação ou a chamada do humano palavra. Ele disse também que tolo Paulo diz que "pelo Espírito,
para a obra divina é algo que vem "assim, pois, importa que os ho­ a um é dada [...] a outro, profecia"
do coração de Deus, sem qualquer mens nos considerem como minis­ (ICo 12.8,10, NVI), acrescentando,
particip ação do vocacionado, tros de Cristo e despenseiros dos porém, que "ele designou alguns
independente da sua opinião ou mistérios de Deus" (ICo 4.1, ARA); para apóstolos, outros para pro­
escolha como, por exemplo, nos ou: "Portanto, devemos ser consi­ fetas, outros para evangelistas, e
casos de Jerem ias e Paulo. Em derados simples servos de Cristo, outros para pastores e mestres"
Jerem ias 1.5 e Gálatas 1.15,16, encarregados de explicar os mis­ (Ef 4.11, NVI). Nestes textos, resta
descobrimos que a vocação mi­ térios de Deus" (NVT). Aqui está clara a visão da ação do Espírito
nisterial obedece a dois momentos a essência da necessidade dos na igreja ao usar alguém para
transmitir uma palavra profética profeta, “exortava todos a que, Os dons ministeriais
ocasionalmente (dom espiritual) com firmeza de coração, perma­
Os dons ministeriais são tam­
enquanto outros são designados necessem no Senhor", enquanto
bém denominados "dons de ser­
para o ministério de profeta, como irmão Ágabo "dava a entender,
viço" e "dons de liderança" ("para
aconteceu na igreja em Antioquia pelo Espírito, que haveria uma
o desempenho do seu serviço", Ef
(At 13.1). Ou seja, tanto o profeta grande fome em todo o mundo".
4.12, NAA), os quais obrigatoria­
quanto o mestre, por exemplo, são Essa edificação, exortação e con­
mente trazem consigo um minis­
ministérios individuais concedi­ solação provêm da Palavra de
tério a ser exercido na e em favor
dos por Cristo à igreja "com o fim Deus, que é a fonte autêntica da
da igreja pelo escolhido e dado a
de preparar os santos para a obra profecia (At 15.32; ICo 14.37).
ela pelo Senhor. Paulo indica que
do ministério, para que o corpo Por outro lado, o dom espiri­ eles resultam da obra redentora
de Cristo seja edificado, até que tual de profecia na igreja, por não de Cristo, incluindo Sua humi­
todos alcancemos a unidade da utilizar a Palavra eterna de Deus lhação e exaltação acima de todas
fé e do conhecimento do Filho de como base, está sujeito a sofrer as coisas criadas (Ef 4.10). A lista
Deus, e cheguemos à maturidade, influência humana na predição clássica dos dons ministeriais é
atingindo a medida da plenitude proferida, pelo que está sujeito a registrada por Paulo em Efé-
de Cristo" (Ef 4.12,13, NVI). à aferição espiritual pelos que sios, na qual menciona apóstolos,
Entretanto, a ignorância de ouvem a mensagem profética, o profetas, evangelistas, pastores e
muitos em relação aos dons mi­ que o torna vulnerável e obriga os mestres (Ef 4.11), complementada
nisteriais e espirituais estabelece ouvintes a serem cautelosos quan­ pelo contido na sua Carta aos Ro­
o pensamento de que só é profe­ to à mensagem ouvida por não manos, na qual diz que "temos
cia se a palavra pronunciada for ser rara a confusão: "Tratando-se diferentes dons, de acordo com a
preditiva, reveladora de algum de profetas, falem apenas dois graça que nos foi dada. Se alguém
evento futuro e desconhecido. ou três, e os outros julguem" (ICo tem o dom de profetizar, use-o na
N esse caso, a m anifestação é 14.29, NAA). Veja também 1 João proporção da sua fé. Se o seu dom
sem pre do dom esp iritu al de 4.1. A advertência do Senhor pelo é servir, sirva; se é ensinar, ensine;
p rofecia. C ontudo, a palavra profeta Ezequiel é atualíssima: se é dar ânimo, que assim faça; se
profética proferida através do "Filho do homem, profetize contra é contribuir, que contribua gene­
m inistério de profeta, que tem os profetas de Israel. A esses que rosamente; se é exercer liderança,
a utilidade de edificar, consolar profetizam o que lhes vem do co­ que a exerça com zelo; se é mos­
e exortar a igreja (ICo 14.3), tem ração, diga que ouçam a palavra trar misericórdia, que o faça com
uma distinção bastante clara. Ve­ do Senhor. Assim diz o Senhor alegria" (Rml2.6-8. NAA).
jamos: "A notícia a respeito deles Deus: A i dos profetas insensatos, Há uma grande informação
chegou aos ouvidos da igreja que que seguem o seu próprio espírito do apóstolo quanto aos dons mi­
estava em Jerusalém; e enviaram sem nada terem visto!'" (Ez 13.2,3, nisteriais, quando diz que Cristo
Barnabé até Antioquia. Quando NAA). "concedeu uns para...". Ou seja, ele
ele chegou e viu a graça de Deus, Paulo deu testemunho de que se refere diretamente às pessoas
ficou muito alegre. E exortava seu discípulo Timóteo era "minis­ escolhidas e não aos dons ou à ca­
todos a que, com firmeza de cora­ tro de Deus no evangelho de Cris­ pacidade outorgados a cada uma
ção, permanecessem no Senhor" to, para fortalecer e animá-los na delas. Tal entendimento é apoia­
(At 11.22,23, NAA); e "naqueles fé" (lTs 3.2, NAA). Ou seja, ele pos­ do em suas outras manifestações
dias, alguns profetas foram de suía dons ministeriais específicos acerca do tema (Cl 4.17; lTm 4.14;
Jeru salém para A ntioquia. E, pelos quais a igreja era fortalecida 2Tm 1.6). Então, Cristo dá a Seu
apresentando-se um deles, cha­ e animada na fé, como ocorreu escolhido o dom ministerial e o dá
mado Ágabo, dava a entender, com Barnabé em Antioquia, que como Sua dádiva à Igreja.
pelo Espírito, que haveria uma "exortava todos a que, com firme­ Com tal consciência, o minis­
grande fome em todo o mundo. za de coração, permanecessem no tro tem que honrar a vocação ce­
Essa fome veio nos dias do im­ Senhor". Como está fazendo falta lestial a si outorgada e tudo fazer
perador Cláudio" (vv. 27,28). Ou à igreja atual ministros com tal para que o exercício de seu minis­
seja, Barnabé, pelo ministério de dom ministerial! tério na igreja resulte em glorifi- A
cação a Cristo, nunca servindo de dons, eles próprios, as suas pes­ e edificação do Corpo de Cristo,
exaltação a si mesmo (Rm 11.13). soas físicas, são e devem sempre pois o Espírito Santo também os
O ministro precisa ter profunda ser dádivas de Cristo à Sua Igreja. qualifica pelos dons espirituais
consciência quanto ao ministério Tendo sido Cristo exaltado após (ICo 12.4-7). Para melhor com­
que recebeu de Cristo, o qual, se ressurreto, dá pessoas especial­ preensão, o apóstolo usa a figura
exercido com glória, esta será toda mente chamadas e vocacionadas do corpo, o qual não é formado
do titular do ministério, Cristo. para os ministérios de apóstolo, apenas por um membro, mas por
Não é sem razão que Paulo sempre pastor, profeta, evangelista e mes­ vários, com todos interagindo
demonstrou saber suas vocações tre, com um santo propósito na harmoniosamente (ICo 12.8). Para
ministeriais (2Tm 1.11,12). concessão desses ministérios (Ef solucionar um problema na Igreja
Paulo não fala em "apostolado, 4.12,13). Portanto, os dons minis­ Primitiva, tal entendimento foi
profecia, evangelismo, pastorado teriais não são dados para atender posto em prática antes mesmo do
e ensino", mas fala em "apóstolos, a desejos e anelos ou ao próprio ensino paulino (At 6.2-4).
profetas, evangelistas, pastores e interesse pessoal de quem os re­ E importante ressaltar que, no
mestres". E antes disso, ele escre­ cebe, mas são dados por Cristo no mesmo ensino sobre os dons espi­
veu que Cristo "concedeu dons interesse da Igreja, para edificação rituais em 1 Coríntios, o apóstolo
aos homens" (Ef 4.8). Aqui vale do Corpo de Cristo. Paulo, ao tratar sobre a distinção
lembrar que a palavra dom signi­ Os demais membros da igreja entre dons ministeriais e espiri­
fica "dádiva" ou "doação". Logo, que não foram escolhidos para tuais, indica a existência de uma
o ensino paulino deixa bem claro funções ministeriais não deixam certa graduação entre eles que, se
que os ministros portadores dos de contribuir para o crescimento corretamente observada, elimina

44
OB REI RO
qualquer risco de disputa pesso­ profetas usados por Deus para b) Os doze escolhidos e envia­
al no exercício, pois o princípio missões equivalentes, como, por dos por Jesus - Com a consciência
é bastante claro: "Mas um só e o exemplo, o que foi enviado por de que o apostolado que recebeu
mesmo Espírito realiza todas es­ Deus para profetizar ao rei Jero- teria começo, meio e fim, logo no
sas coisas, distribuindo-as a cada boão (lRs 13.1,2). início Jesus escolheu, dentre os
um, individualmente, conforme a) Jesu s como "a p ó sto lo "Seus discípulos, doze homens, a
ele quer" (ICo 12.11, NAA). Disse o enviado pelo Pai - Falando de quem instruiu, treinou e prepa­
apóstolo: "A uns Deus estabeleceu si mesmo, assim se manifestou rou para continuarem a implan­
na igreja, primeiramente, apósto­ Jesus: "Então como vocês dizem tação da Sua Igreja na Terra e a
los; em segundo lugar, profetas; que aquele que o Pai santificou consolidarem, cumprindo a meta
em terceiro lugar, mestres; depois, e enviou ao mundo está blasfe­ estabelecida pelo Pai. "E Jesus lhes
operadores de milagres; depois, mando, só porque declarei que disse outra vez: Que a paz esteja
os que têm dons de curar, ou de sou Filho de Deus?" (Jo 10.36, com vocês! Assim como o Pai me
ajudar, ou de administrar, ou de NAA). Hebreus qualifica Cristo enviou, eu também envio vocês"
falar em variedade de línguas. como "apóstolo e sumo sacerdo­ (Jo 20.21, NAA). Ele havia con­
Será que são todos apóstolos? te da nossa confissão" (Hb 3.1; cluído com sucesso as exclusivas
Será que são todos profetas? Será c/c Jo 8.29). Como "apóstolo" do tarefas do Seu apostolado terreno,
que são todos mestres? São todos Pai, Jesus tornou-se padrão para as quais não poderiam ser execu­
operadores de milagres? Todos os demais, ao "aniquilar-se" ao tadas por alguém que não fosse
têm dons de curar? Todos falam ponto de se submeter irrestrita­ Ele. Todavia, anunciar Sua mor­
em línguas? Todos têm o dom de mente à vontade dAquele que O te e ressurreição e os resultados
interpretar essas línguas?" (ICo enviou, tendo como única meta espirituais delas decorrentes, a
12.28-30, NAA). não apenas cumprir, mas fazer, o serem usufruídos pelos que vies­
que envolve a renúncia de direitos sem a crer na Sua Palavra, seria
“Ele mesmo deu uns para...” pessoais inalienáveis e persona­ tarefa daqueles por Ele escolhidos
Em Efésios, Paulo aponta a líssimos, como, por exemplo, não pelo padrão estabelecido pelo Pai:
existência de cinco ministérios, comer embora estivesse faminto "Assim como o Pai me enviou, eu
embora alguns estudiosos falem (Jo 4.31-34). Ele afirmou: "Porque também envio vocês".
de quatro, por entender que pas­ eu desci do céu, não para fazer Os critérios de seleção de Seus
tores e mestres constituem um a minha própria vontade, mas a apóstolos seguiram os mesmos
único. Veremos os cinco, por ser vontade daquele que me enviou" que o Pai empregou ao escolhê-lO,
mais seguro. (Jo 6.38, NAA). como registra Marcos: "Depois,
1) Apóstolo - A palavra "após­ Portanto, a submissão de Jesus Jesus subiu ao monte e chamou
tolo" significa "aquele que é envia­ à vontade do Pai não era simples os que ele quis, e vieram para
do", "mensageiro", "embaixador" empenho para desincumbir-se de junto dele. Então designou doze,
ou "missionário". Na Bíblia, essa uma tarefa que lhe fora imposta, aos quais chamou de apóstolos,
palavra é aplicada a Jesus, como mas o interesse supremo e o de­ para estarem com ele e para os
enviado do Pai; aos doze discí­ sejo ardente de promover a gló­ enviar a pregar e a exercer a au­
pulos, como enviados pelo Filho, ria dAquele que O comissionou toridade de expulsar demônios"
que eram consideradas como e vocacionou (Jo 7.18). Aos que (Mc 3.13-15). Nas expressões (1)
"apóstolos de Jesus"; a Paulo, Bar- duvidavam da autoridade de Seu "chamou os que ele quis" e (2)
nabé e a outros, como enviados apostolado divino, disse Ele: "Mas "vieram para junto dele (...) para
pelo Espírito Santo, através da eu tenho maior testemunho que o estarem com ele" estão todos os
igreja, os quais eram tidos como de João; porque as obras que o Pai requisitos indispensáveis para
representantes de igrejas locais me confiou para que eu as reali­ alguém ser chamado apóstolo de
e designados como "apóstolos da zasse, essas que eu faço testemu­ Jesus. Quanto ao primeiro, veja
Igreja". Embora seja um termo nham a meu respeito de que o Pai como Paulo se identificava: "Pau­
eminentemente neotestamentário, me enviou. O Pai, que me enviou, lo, servo de Cristo Jesus, chamado
no Antigo Testamento encontra­ esse mesmo é que tem dado teste­ para ser apóstolo, separado para
mos alguns paralelos, através dos munho de mim" (Jo 5.36,37, NAA). o evangelho de Deus" (Rm 1.1, A

45
OBH1RO
NAA); "chamado pela vontade de Antioquia (At 11.22). Incontinenti, (G11.19). O credenciamento para o
Deus para ser apóstolo de Cristo "Barnabé foi a Tarso procurar Sau- apostolado dos aqui mencionados
Jesus." (ICo 1.1, NAA); "apóstolo lo. Quando o encontrou, levou-o se dava pelas obras realizadas por
de Cristo Jesus pela vontade de para Antioquia. Ali permanece­ eles, as quais se assemelhavam às
Deus" (2Co 1.1, NAA); "apóstolo, ram com a igreja um ano inteiro, realizadas por Jesus como após­
não da parte de pessoas, nem por ensinando a muitas pessoas. Foi tolo. O próprio Paulo, que está
meio de homem algum, mas por em Antioquia que os discípulos incluído no grupo dos "enviados
Jesus Cristo e por Deus Pai, que foram chamados de cristãos pela pelo Espírito Santo", falou que
o ressuscitou dos mortos" (G11.1, primeira vez. Durante esse tem­ as manifestações e operações do
NAA). Em relação ao segundo re­ po, alguns profetas viajaram de Espírito no seu ministério creden­
quisito, a convivência com Cristo Jerusalém a Antioquia" (At 11.25- ciavam seu apostolado (2Co 12.12).
na fase de treinamento serviu de 27, NVT). 2) Profetas - A Igreja Primitiva
reconhecimento da escolha deles O Espírito Santo mudou o reconhecia a existência do minis­
ao apostolado (At 4.13). centro espiritual do mundo, de tério de profeta, distinto do dom
Na lista de dons ministeriais, Jerusalém para Antioquia da Sí­ de profecia, como vemos em Atos
a maioria dos intérpretes acredita ria, pois a obra que Ele estava por 11.27 e 13.1. O Espírito também
que Paulo aplica a palavra "após­ fazer não poderia ser impedida usava-os pelo dom de profecia (At
tolos" em seu sentido mais estrito. por questões particulares e hu­ 11.28; At 21.11). Conforme já expos­
Isso quer dizer que ele parece ter manas que ainda questionavam to, o dom ministerial de profeta
em mente os apóstolos que foram salvação versus circuncisão ver­ tem como escopo a realização de
os equivalentes neotestamentário sus graça de Deus. É quando, em um trabalho sistemático, em con­
dos profetas; ou seja, os apósto­ uma reunião de oração naquela junto com a operação dos demais
los de Jesus que serviram como igreja, aconteceu o imprevisível: dons ministeriais, que produz a
agentes da revelação de Deus e "Certo dia, enquanto adoravam consolidação e edificação da igreja
produziram a Escritura do Novo o Senhor e jejuavam, o Espírito (Ef 4.12), enquanto que, pelo dom
Testamento. A Bíblia diz que es­ Santo disse: Separem Barnabé e de profecia, o Espírito costuma
ses apóstolos foram escolhidos Saulo para realizarem o trabalho predizer, revelar ou mostrar algo
por Jesus para lançarem os fun­ para o qual os chamei" (At. 13.2, ainda por acontecer e desconhe­
damentos da Igreja: "...edificados NVT). Sem consultar nem pedir cido dos destinatários do anúncio
sobre o fundamento dos apósto­ autorização à igreja-mãe em Je­ profético. Atos 11.28 e 21.11 confir­
los e profetas, sendo ele mesmo, rusalém, "depois de mais jejuns mam o aqui afirmado. No segun­
Cristo Jesus, a pedra angular" (Ef e orações, impuseram as mãos do exemplo (At 21.11), que registra
2.20, NAA). Isso explica por que sobre eles e os enviaram em sua o mensageiro prevendo a prisão
os apóstolos são mencionados em missão. Enviados pelo Espírito de Paulo caso insistisse em viajar
primeiro lugar na lista dos dons Santo, eles desceram ao porto de a Jerusalém na ocasião, é dito que
ministeriais. Sem dúvida, ocupa­ Selêucia, de onde navegaram para o evangelista Filipe "tinha quatro
ram um ministério fundamental a ilha de Chipre" (At 13.3,4. NVT). filhas solteiras que profetizavam"
e singular. A partir de então, passou a existir (At 21.9. NVT), o que não impediu
c) Apóstolos enviados peloo grupo dos apóstolos "enviados que o Espírito usasse Agabo.
Espírito através da igreja - A pelo Espírito Santo", através da O m inistério de profeta no
cidade dos primeiros missioná­ igreja, com Barnabé e Saulo sendo Antigo Testamento tinha peculia­
rios era Antioquia da Síria (At conhecidos como "apóstolos" (At ridades que o fazem semelhante
13.1). O evangelho chegou a ela 14.3,4,13). ao do Novo Testamento, como
como resultado da perseguição Havia também outros servos acontecia quando o profeta Jere­
desencadeada contra a Igreja em de Deus que foram tidos como mias ditava a mensagem e Baru-
Jerusalém após a morte de Estevão apóstolos, embora não tivessem que a redigia (Jr 45), ou quando
(At 11.19-21). Quando o colegiado ligação com o colegiado formado fazia grandes deslocamentos para
apostólico em Jerusalém tomou pelos doze originais, como, por entregar mensagens de Deus até
conhecim ento do alvissareiro exemplo, Adrônico e Júnia (Rm outros povos, reis e autoridades,
acontecimento, enviou Barnabé a 16.7), e "Tiago, irmão do Senhor" convocando ao arrependimento

M
e à conversão a Deus. Também específicas e distintas: Atos 21.8, de sua visão de "evangelista" ou
temos profetas consolando, forta­ em referência a Filipe; Efésios 4.11, "pregador" (ICo 1.17; 9.16). Portan­
lecendo e aconselhando a igreja, na lista dos dons ministeriais; e to, o ministério de "evangelista"
como Judas e Silas (At 15.32). 2 Timóteo 4.5, em referência a é uma verdadeira dádiva divina
3) Evangelistas - Etimologica- Timóteo. A curiosidade quanto à Igreja, pois através dele o Reino
mente falando, "evangelizador" é esse ministério é que o evangelista de Deus se expande, almas são
aquele que evangeliza, que difun­ Filipe fora escolhido pela igreja alcançadas e os céus povoados,
de ou ensina o evangelho. É uma em Jerusalém para diácono (At sendo Jesus Cristo o modelo e
atividade a ser desempenhada 6.5), porém, tendo sido disperso e padrão a ser observado por todos
por todos os salvos, cumprindo chegado em Samaria, foi revelada os que detém consigo a vocação
a determ inação geral de Jesus sua verdadeira vocação ministe­ ministerial de evangelista, sendo
Cristo (Mc 16.15). Não obstante, rial, que era de evangelista (At 8.5), Paulo também um exemplo a ser
o apóstolo Paulo inform a que, confirmada pela ação do Espírito imitado.
dentre todos os evangelizadores, na vida dele (At 8.26,27). A Bíblia diz que, em um dia de
o Senhor escolhe alguns para lhes A força motriz e impulsiona- sábado, como de costume, Jesus foi
outorgar o ministério de "evange­ dora do ministério do evangelista à sinagoga para o culto semanal.
lista", com o qual contribuem para é uma ardente paixão pelas almas Lá estando, "levantou-se para ler.
o Corpo de Cristo (Ef 4.12). O vo­ e um desejo profundo de ganhá- Então lhe deram o livro do profeta
cábulo "evangelista" é encontrado -las para Cristo, como, aliás, tes­ Isaías. E, abrindo o livro, achou o
na Bíblia apenas em três situações temunhou o próprio Paulo acerca lugar onde está escrito" (Lc 4.16,17,

OB01RO
NAA). O texto por Ele lido era deu quando impus minhas mãos sagens bíblicas, no Antigo Tes­
uma mensagem proferida pelo sobre você" (2Tm 1.6, NVT). É tamento e muito mais no Novo
profeta Isaías, a qual, segundo Sua imaginável que o jovem estivesse Testamento, há um vastíssim o
interpretação, falava exatamente sofrendo amargamente com a no­ emprego da ovelha, suas caracte­
acerca de Seu ministério de evan­ tícia da prisão de seu mentor e sua rísticas, limitações e hábitos como
gelista que estava sendo iniciado possível morte. Ao apóstolo não figura de linguagem utilizada
naquele momento. Então, absolu­ restou alternativa senão a de en­ para o povo de Deus (SI 44.11; Is
tamente consciente, proclamou: corajar Timóteo (2Tm 1.7,8; 4.5). Ele 53.6.7; Ez 34.6,11; Mt 10.6,16; 26.31).
"Hoje se cumpriu a Escritura que disse Ele lembrou-lhe que o tema Então, é impossível alguém ser
vocês acabam de ouvir" (Lc 4.21, central do evangelho pregado por ovelha de Cristo fora de Seu reba­
NAA). De igual forma, Paulo sem­ ambos era "que Jesus Cristo, des­ nho e viver sem pastor, por ser este
pre manifestou certeza de que ha­ cendente do rei Davi, ressuscitou indispensável à guarda, proteção
via sido escolhido para o labor de dos mortos", e, porque Cristo res­ e orientação do rebanho, tendo o
pregar o evangelho, independente suscitou, morrer pela pregação da próprio Deus assim estabelecido.
de reconhecimento humano, re­ Palavra era de menor importância. Jesus declarou acerca de si mesmo:
muneração ou recompensas finan­ Portanto, a marca maior do dom "Eu sou o bom pastor", dando em
ceiras, ao ponto de considerar uma m in isterial de evangelista é a seguida a razão de assim se qua­
glória ministerial não receber da cosnciência e a coragem plena de lificar: "O bom pastor dá a vida
igreja de Corinto qualquer valor enfrentar os desafios intrínsecos pelas ovelhas" (Jo 10.11). Com tal
para sua manutenção (ICo 9.18), o ao cumprimento do dom conce­ afirmação, nenhum outro humano
que lhe serviu de testemunho aos dido a esse chamado. poderá usurpar para si a quali­
obreiros de Efeso, quando deles se 4) Pastores - De todas as fun­ ficação de "bom pastor", já que
despediu (At 20.33). ções eclesiásticas da Igreja do Se­ ninguém morre fisicamente como
Para os evangelistas Cristo nhor, a de pastor é a mais conhe­ Ele morreu para salvar um peca­
e Paulo, o valor de uma alma é cida e, infelizmente, cobiçada. Os dor, pelo que todos atuais pastores
único. Aliás, o Senhor determinou que a cobiçam geralmente levam nada mais são que condutores das
a Moisés que o valor recolhido em consideração alguns aspectos ovelhas de Jesus.
de cada pessoa para o Taberná- materiais e circunstâncias que cer­ Interessante destacar o grau de
culo fosse um só, independente cam a função, sem, contudo, aten­ interação entre o "Bom Pastor" e
das condições financeiras dos tar para o ensino bíblico acerca do Suas ovelhas, qualidade ímpar
cultuantes (Êx 30.13-15). Na pa­ tema, que aponta para a existência inalcançada pelos pastores hu­
rábola da ovelha perdida, Jesus de regras divinas disciplinadoras manos, materializado pelo íntimo
demonstra o valor único de uma do pastorado, dentre as quais a conhecimento nutrido pelo rela­
alma (Lc 15.4,5), e O encontramos principal: é Deus quem dá pastor cionamento pessoal íntimo entre
tanto saciando a fome de mais de às Suas ovelhas, segundo Suas Ele e a ovelha: "As ovelhas ou­
5 mil homens quanto pregando regras, prescrições e critérios que vem a sua voz, ele chama as suas
a uma única mulher samaritana, não levam em conta os desejos, as próprias ovelhas pelo nome e as
ou ainda parando a caminhada da aspirações e as características do conduz para fora" (Jo 10.3, NAA).
multidão que lhe seguia para dia­ por Ele escolhido (Ef 4.11; Jr 3.15). Independente da quantidade de­
logar pessoalmente com Zaqueu. Em toda a Bíblia, de Gênesis a las, são chamadas individualmen­
Paulo, no exercício do ministério Apocalipse, o conjunto das pes­ te "pelo nome". Considerando os
de evangelista que possuía (lTm soas que servem a Deus é figu- atuais tamanhos dos rebanhos das
1.11; ICo 1.17), pregava à multidão rativamente tratado como sendo ovelhas do Senhor entregues aos
(At 14.11) ou a uma única alma e pertencendo ao seu rebanho, cuidados dos pastores humanos,
(At 13.7). cuja visão tem um significativo é evidente a impossibilidade deles
A coragem é uma marca distin­ valor espiritual (Nm 27.15-17). O conhecerem nominalmente cada
tiva do ministério do evangelista. salmista afirma que "foi ele quem uma delas. Entretanto, o "Bom
O apóstolo Paulo concita com o nos fez, e dele somos; somos o seu Pastor" as conhece nom inal e
evangelista Timóteo para ele "avi­ povo e rebanho do seu pastoreio" individualmente, por Seu poder
var a chama do dom que Deus lhe (SI 100.3, NAA). Em outras pas­ infinito, que lhe dá a capacidade

o b Eü r o
única de também dar nome a cada ação do Diabo para lhe destruir É inquestionável que nas Sa­
uma das incontáveis estrelas (SI (Lc 22.31,32). Pela experiência gradas Escrituras há temas eiva­
147.4). Por tudo que realiza e faz sofrida, Pedro, reabilitado, pode dos em mistérios; aliás, o próprio
em favor de Suas ovelhas, Cristo recomendar acerca do exercício Pedro disse que "nelas há certas
recebeu do apóstolo Pedro o título do ministério pastoral: "Aos pres­ coisas difíceis de entender", cuja
de "Supremo Pastor" aquele que bíteros que há entre vocês, eu, com preensão não é facilm ente
é superior a todos os demais pas­ presbítero como eles, testemunha alcançada. Quando Filipe per­
tores e aferirá a conduta de todos dos sofrimentos de Cristo e, ainda, guntou ao eunuco se ele estava
os demais, conferindo prêmio aos coparticipante da glória que há de entendendo o que estava lendo
que forem aprovados (lPe 5.4). ser revelada, peço que pastoreiem nas Escrituras, sua resposta foi
O único pastor completo, que o rebanho de Deus que há entre bem objetiva: "Como poderei en­
não recebe qualquer reparo no de­ vocês, não por obrigação, mas es­ tender, se ninguém me explicar?"
sempenho do pastorado, é Jesus, pontaneamente, como Deus quer; (At 8.30,31, NAA). Exatamente
o "Bom Pastor". Todos os demais, não por ganância, mas de boa por conta das "coisas difíceis de
por Ele escolhidos para desempe­ vontade; não como dominadores entender" é que o Espírito Santo
nhar tão honrada e elevada posi­ dos que lhes foram confiados, mas disponibiliza à Igreja o dom de
ção de cuidador das ovelhas por sendo exemplos para o rebanho" "mestre". Nos dias de Jesus, ha­
Ele compradas por Seu próprio (lPe 5.1-3, NAA). via o "mestre", "rabi" ou "doutor
sangue, carecem de capacitação e De todos os requisitos espiri­ da lei", profundo conhecedor da
preparo espiritual, sem os quais é tuais a serem preenchidos pelo Lei e responsável pela explicação
impossível agradá-lO. A começar escolhido de Cristo para portar e interpretação das Escrituras de
pela escolha. Ninguém se escolhe um dom ministerial, um é des­ então, como Nicodemos (Jo 3.10) e
ou é escolhido pelo desejo pessoal, tacado por Pedro no texto acima Gamaliel (At 5.34).
pois é Ele, exclusivamente Ele, que transcrito: "sendo exemplos para o Escrevendo a Timóteo, Paulo
escolhe a quem quer, independen­ rebanho". Sim, porque as ovelhas entendeu que o dom de ensinar na
te até da manifestação de vontade observam atentamente o com­ igreja tem fundamental importân­
do escolhido (Mc 3.13). Creio que portamento daquele que as guia cia no desenvolvimento do Reino
se Jesus convocasse os apóstolos e conduz. Neste quesito, Paulo foi de Deus (2Tm 2.2). Ele também en­
e submetesse a eles a restituição abundante no ensino, ao dizer às tendia que o evangelho de Cristo
do apóstolo Pedro ao ministério ovelhas sob seus cuidados: "Mas era figurativamente uma grande
apostólico, certamente que muitos esmurro o meu corpo e o redu­ semeadura, na qual "um planta
votariam contrários à readmissão. zo à escravidão, para que, tendo e outro rega", donde pregar aos
Entretanto, como a escolha de al­ pregado a outros, não venha eu perdidos a mensagem divina é a
guém para a santa atividade de mesmo a ser desqualificado" (ICo plantação, enquanto que o ensino
pastor não depende da opinião e 9.27). A situação é ainda agravada é o ato de regar, até porque o que é
concordância de quem quer que pela recomendação das ovelhas a plantado, se não for regado, morre.
seja, inclusive das ovelhas que imitarem seus pastores (Hb 13.7). Por outro lado, o Senhor deu à Sua
serão pastoreadas pelo escolhido, 5) Mestres - Embora um gran­ Igreja duas tarefas distintas, a sa­
simplesmente falou com Pedro e de grupo de estudiosos da Bíblia ber: a de pregar o evangelho a toda
o restaurou ao pastoreio de Suas entenda que o dom ministerial de a criatura e a de fazer discípulos, a
ovelhas (Jo 21.15). mestre é operado com o de pastor, qual é cumprida quando é ensina­
A confirmação do apóstolo Pe­ o que se fosse verdade seria mara­ da a Palavra ao convertido; ou seja,
dro somente se deu após todo um vilhoso, na realidade são distintos, é plantar e regar. Como ensinador,
duríssimo processo de preparo, possuindo cada um deles suas Paulo era incansável e não perdia
que incluiu a sua disponibilização próprias características, ao ponto nenhuma oportunidade, como, por
pessoal à ação diabólica podero­ de em três referências bíblicas exemplo, em Trôade, onde "alargou
sa, pela qual torna compreensível aparecerem isolados (Rm 12.7; ICo a prática até à meia-noite"; e depois
ouvir Pedro negar que conhecia 12.28; Ef 4.11). Logo, convém reco­ que resolveu o acidente com Êutico,
Cristo (Jo 18.25-27), embora Je­ nhecer a existência do ministério "ainda lhes falou largamente até à
sus o tenha advertido acerca da de mestre. alvorada" (At 20.7,11). Á
Na igreja de Antioquia, se so­ detentor de todo conhecimento das atualmente: "Se é ensinar, haja
bressaiam os dons m inisteriais Escrituras, pois conhecia "somente dedicação ao ensino" (Rm 12.7).
de "profetas e doutores" (At 13.1), o batismo de João". Recorde-se que Como "examinar as escrituras"
ambos convivendo pacificamente sua capacidade de expor a Pala­ é uma atividade enfadonha e
e contribuindo para o desenvol­ vra era tamanha que, na igreja de cansativa, muitos ministros que
vimento do Reino de Deus, sem Corinto, foi formado o grupo de acessam os púlpitos das igrejas
invasão nem disputas humanas. Apoio (ICo 3.4). Porém, apesar de não ensinam o povo de Deus
Neste aspecto, Pedro dá um exem­ todo seu profundo conhecimento como convém à sã doutrina, ha­
plo lindo e profundo ao reconhecer e capacidade de expor a Palavra, vendo muitos "analfabetos" espi­
que Paulo possuía uma capacidade era humilde, pois aceitou ser ins­ rituais nas igrejas, contrariando
de ministrar certos temas bíblicos truído "mais pontualmente" so­ a recomendação bíblica (Os 6.3).
que ele, com toda sua experiência bre o "caminho de Deus" por um Lembremos: "O meu povo foi
de ter convivido pessoalmente casal, Priscila e Aquila (At 18.26). destruído porque lhe faltou o co­
com Cristo, não possuía, sem que Paulo chegou a pedir-lhe que fosse nhecimento" (Os 4.6). De quem é
se sentisse, com isso, inferiorizado ministrar em Corinto, o que não a culpa e a responsabilidade pela
(2Pe 3.15,16). Outro santo exemplo a aceitou (ICo 16.12). tragédia da falta de conhecimento
considerar sobre a atuação do dom Se em muitos lugares há hoje de Deus por grande parte do Seu
de ensinar na igreja é a atuação a ausência de bons ensinadores, é povo? Com certeza, do Espírito
ministerial de Apoio (At 18.24,25). porque uma exigência bíblica bá­ Santo não é, pois Ele disponibi­
Embora fosse ele "varão eloquente sica aplicável ao dom de ensinar liza para a Sua Igreja o dom de
e poderoso nas Escrituras", não era na igreja não tem sido atendida ensinar. H
UM A INTRODUÇÃO DE TERMOS
TEOLÓGICOS EM LATIM E GREGO
RARA ESTUDANTES DE VÁRIOS NÍVEIS V t -l-r

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de Termos Teológicos

Latinos e
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